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RESUMO
Neste trabalho, refletimos sobre o estatuto epistemológico da educação e sua
importância para a prática do ensino. Isso permitirá reavaliar o modelo de ciência e ver
como as mudanças afetaram os paradigmas da ciência e da educação. As consequências
da adesão a certos paradigmas têm repercussões sobre o conceito de ciência, educação e
procedimentos, e, claro, em sua pesquisa metodológica. Refletir sobre o estatuto
epistemológico da educação nos levou a observar a confluência da ciência e da estética.
A pesquisa é bibliográfica e apresenta alguns pontos a serem observados na prática de
ensino. O trabalho está dividido em duas partes, a primeira trata da relação entre a
educação, a ciência e a mudança de paradigmas, e, no segundo, a relação entre a ciência,
a estética e a educação. Por fim, fazemos algumas considerações que os professores
devem ter em conta quando se considera suas práticas pedagógicas, incluindo a estética
no estudo da ciência.
PALAVRAS-CHAVE: Epistemologia da educação, ciência/estética, práxis docente,
mudança de paradigmas.
ABSTRACT
In this paper, we reflect on the epistemological status of education and its importance to
the practice of teaching. This allow re-evaluate the model of science and see how the
changes affected the paradigms of science and education. The consequences of
adherence to certain paradigms, they have repercussions on the concept of science,
education and procedures, and of course, on her methodological research. Reflect on the
epistemological status of education led us to observe the confluence of science and
aesthetics. The research is bibliographic and presents some points to note in the
teaching's practice. The work is divided into two parts, the first deals with the
relationship between education, science and changing paradigms, and in the second, the
relationship between science, aesthetics and education. Finally, we make some
considerations that teachers must take into account when considering their pedagogical
practices, including aesthetic in the study of science.
KEYWORDS: Epistemology of education, science/aesthetics, teaching praxis, paradigm
shift.
INTRODUÇÃO
Por outras palavras: trata-se de levar a educação para o campo das grandes
artes já científicas - como a engenharia e a medicina— e de dar aos seus
métodos, processos e materiais a segurança inteligente, a eficácia controlada
e a capacidade de progresso já asseguradas às suas predecessoras
relativamente menos complexas (TEIXEIRA, 1957, p.2).
A preocupação científica da educação é evidente e podemos entender a ciência
como um construto humano que está em desenvolvimento, que tenta fazer uma imagem
da realidade de acordo com determinados paradigmas. Sendo assim, apesar das
dificuldades, erros e revoluções científicas, os pesquisadores procuram uma imagem
próxima da realidade para poder entendê-la e explicá-la (FREIRE-MAYA, 1998), e a
educação acompanha estes avanços.
dificuldades não podem afastar nosso espírito científico, só devem alimentar nosso
cuidado na pesquisa.
[...] será que as certezas que tínhamos, se revelaram falsas, são melhores do
que a incerteza com a qual navegamos atualmente? Perda ou libertação?
Creio que ambas. Perda porque muita esperança se depositou no que se
perdeu. Liberação porque, livres das amarras de um projeto predeterminado
por pressupostos rígidos respaldado em uma legitimidade científica, estamos
abertos a novas aventuras. (GARCIA, 2010, p. 63).
Se a ciência entra com novos paradigmas, a educação também fica permeada
deles. E ambas abandonam a certeza das verdades imutáveis e absolutas e optam por
uma visão mais ampla e aberta. O papel da educação não ficou reduzido a ser
preservadora e multiplicadora da ciência, mesmo sabendo que a ciência é muito
importante para a educação. Na práxis educativa entram em jogo outros fatores além do
científico, como os de ordem econômica e política. Mas além deles queremos destacar
um aspecto pouco pesquisado que é a relação entre ciência e estética.
Por outro lado, há uma ideia generalizada de que existem duas culturas distintas,
isto é, duas áreas do trabalho intelectual que são separáveis e até antagônicas por
motivos estruturais: a área artística (incluindo as artes plásticas, a música, a literatura
etc.) e a científica (englobando todas as ciências). A primeira seria caracterizada por
uma criatividade livre e executada com uma determinada metodologia, enquanto que, a
segunda se exerceria por uma criatividade controlada e por outro tipo de metodologia.
Essa distinção pode ser válida, mas observando as diferenças dentro de cada área e as
semelhanças entre as duas, verificaremos que existe uma característica que as une e que
merece ser ressaltada. Assim entendemos quando Popper diz que existe uma beleza
inerente à ciência:
das teorias por nós elaboradas anteriormente. E não parece haver motivos
para supor que este processo se tenha encerrado (POPPER, 1972, p. 492).
Os novos paradigmas quebraram as fronteiras das disciplinas, de tal maneira que
é possível ver a beleza intrínseca na matemática e nas suas demonstrações. A ciência
tem que ter a modéstia de reconhecer que na regularidade descoberta radica a beleza da
diversidade ainda desconhecida. Ciência e arte são criadoras de formas de beleza.
Felizmente existe ainda uma outra espécie de consideração que pode levar os
cientistas a rejeição de um velho paradigma em favor de um novo. Refiro-me
aos argumentos, raras vezes completamente explicitados, que apelam, no
individuo, ao sentimento do que e apropriado ou estético — a nova teoria e
“mais clara”, “mais adequada” ou “mais simples” que a anterior. (KUHN,
1998, p. 196).
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As primeiras versões da maioria dos paradigmas são grosseiras. Ate que sua
atração estética possa ser plenamente desenvolvida, a maior parte da
comunidade cientifica já terá sido persuadida por outros meios. Não obstante,
a importância das considerações estéticas pode algumas vezes ser decisiva.
(KUHN, 1998, p. 196).
O princípio estético mais influente na ciência foi apresentado por Guilherme de
Occam, filósofo britânico do século XIV. Ele afirmava que a melhor explicação de um
determinado fenômeno é geralmente a mais simples, aquela que tem o menor número de
pressupostos. Esse princípio, chamado “navalha de Occam”, produziu a derrocada do
modelo ptolemaico do sistema solar da Idade Média.
Deve haver algo que pelo menos faca alguns cientistas sentirem que a nova
proposta está no caminho certo e em alguns casos somente considerações
estéticas pessoais e inarticuladas podem realizar isso. Homens foram
convertidos por essas considerações em épocas nas quais a maioria dos
argumentos técnicos apontava noutra direção. Nem a teoria astronômica de
Copérnico, nem a teoria da matéria de De Broglie possuíam muitos outros
atrativos significativos quando foram apresentadas. Mesmo hoje a teoria
geral de Einstein atrai adeptos principalmente por razões estéticas, atração
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está longe de ser uma verdade atual. Como muitos visionários científicos, Bohn
esperava que a ciência e a arte acabassem por se fundir. Ele observava que essa divisão
entre ciência e arte é unicamente temporária, assim como não existia no passado, não a
razão para que exista no futuro. Assim como a arte não consiste apenas em obras de
arte, mas numa atitude, no espírito artístico, a ciência também não consiste na
acumulação de conhecimento, mas na criação de novos modos de percepção
(HORGAN, 1999).
Deste modo, a educação não é uma ciência autônoma, pois não existe um
conhecimento autônomo de educação, mas é autônoma ela própria, como
autônomas são as artes e, sobretudo, as belas-artes, uma delas podendo ser,
ouso dizer e mesmo pretender - a educação. (TEIXEIRA, 1957, p.9).
Pela inquestionável importância da ciência na sociedade, acreditamos que tanto a
ciência como a estética são dimensões humanas que a educação na sua práxis tem que
plasmar. Sendo assim, procurar uma integração científica, estética e ética é um ideal de
formação humana.
formação humana, ela tem que lidar com conhecimento e desenvolvimento. A educação
deve promover o crescimento individual dentro do desenvolvimento do social. É ai que
surge o paradoxo entre o social e o individual, que a educação tem que resolver
mantendo o equilíbrio entre a liberdade e a igualdade de oportunidades. Ambos direitos
devem ser respeitados numa sociedade que pretende ser ética e democrática.
Para finalizar, esperamos que este tema seja mais aprofundado posteriormente,
para esclarecer alguns conceitos de estética e vislumbrar com maior clareza como as
ciências, mesmo as exatas, podem manifestar sua estética.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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