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PESSOA COM
DEFICIÊNCIA
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID) são um grupo de
transtornos que afetam o desenvolvimento humano em áreas funda-
mentais, como a cognição, a comunicação e a interação social. O termo
“invasivo” significa que esse transtorno afeta profundamente o curso
evolutivo na primeira infância, fase marcada por intensos processos de
desenvolvimento. De acordo com a mais recente classificação do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), os TID passaram
a fazer parte do grupo de transtornos do espectro autista.
Neste capítulo, você vai estudar esses transtornos. Inicialmente, vai
ver as características mais gerais dos TID, para depois conhecer algumas
variações presentes no autismo típico, na síndrome de Asperger e na
síndrome de Rett. Em seguida, você vai ver os transtornos invasivos do
desenvolvimento sem especificação, que, por suas formas variadas de
manifestação, não possuem diagnóstico definido.
2 Definição de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID)
Leia o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) para saber mais
sobre a classificação dos transtornos do neurodesenvolvimento. Esta obra é uma ótima
contribuição para diagnósticos mais precisos dos transtornos do espectro autista.
Estabelecimento de vínculos
Teoria da mente
Linguagem e comunicação
De acordo com Riviere (2004), a comunicação é uma das áreas mais afetadas no
TEA. Fica comprometida a capacidade de usar a linguagem para externar ideias,
sentimentos e desejos, seja por meio de palavras ou de expressões gestuais.
Além disso, o TEA provoca dificuldades para compreender a linguagem “para
além do que é dito”, ou seja, há uma tendência a compreender literalmente o
Definição de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID) 5
que se diz. Assim, os indivíduos com TEA têm dificuldade para interpretar
ironias, frases de duplo sentido e linguagem metafórica.
O desenvolvimento da linguagem oral em crianças com TEA pode estar
comprometido ou não, variando desde o total bloqueio dessa capacidade até o
desenvolvimento sofisticado dela. A ausência da linguagem oral em crianças
com TEA não significa que não sejam capazes de falar. Elas não falam por
serem incapazes de se comunicar. Quando falam, é uma fala fora de contexto
e meramente expressiva, sem a intenção de comunicação.
Em um grau leve de comprometimento da linguagem, a criança pode fazer
uso da fala para se expressar, porém sua fala é pouco ou nada funcional. Ou
seja, ela pode não filtrar o que diz e falar coisas totalmente fora do contexto.
Quando existe a fala funcional (voltada para a comunicação), parece estar
voltada muito mais para a intenção de comunicar seus interesses restritos do
que para compartilhar ideias com seu interlocutor, o que é pouco adequado
às situações interativas. Em um grau profundo, a comunicação é totalmente
ausente. A pessoa com TEA apresenta mutismo total ou funcional. Pode ser
que ela faça pequenas verbalizações não linguísticas, ou seja, sem a intenção
de estabelecer comunicação ou diálogo. O mutismo funcional ocorre em forma
de ecolalias (repetir palavras e frases aleatoriamente e fora de contexto).
As dificuldades de compreensão também são variáveis. Há casos em que
a criança compreende o discurso do interlocutor, mas tem dificuldade para
diferenciar o significado literal da fala e a sua intencionalidade. Também há
situações em que a criança manifesta um tipo de “surdez central”, ou seja,
ignora por completo a linguagem, não respondendo a ordens nem a chamados.
Inflexibilidade e estereotipias
Com o diagnóstico conclusivo, é possível exigir o cumprimento dos direitos das crianças
e adultos com TEA ou outros transtornos invasivos do desenvolvimento. Com a Lei nº.
12.764/2012, a pessoa com transtorno do espectro do autismo passou a ser considerada
pessoa com deficiência para todos os efeitos legais, podendo usufruir de todos os
direitos assegurados a esse grupo.
A Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº. 13.146/2015) foi outro marco legal fundamental
à garantia do direito à educação inclusiva, afirmando o direito das crianças com TEA
que apresentam grau acentuado de comprometimento de serem acompanhadas em
sala de aula por um professor auxiliar. Essa lei garante também o direito de acesso a
tecnologias assistivas para a comunicação alternativa e aumentativa.
A conscientização acerca desse tema também é de suma importância. Por isso, a
ONU definiu o dia 2 de abril como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo.
Transtorno autista
Bosa (2001) descreve que o autista possui uma alteração na forma de captar e
organizar os estímulos que chegam ao cérebro por meio dos órgãos dos sentidos
humanos. Essa desorganização sensorial acaba por alterar e comprometer o
desenvolvimento da criança autista no aspecto simbólico (ausência de imagi-
nação, pensamento concreto), na percepção, na coordenação motora fina, na
coordenação motora global, na integração visomotora, na cognição e na cognição
verbal. Esses fatores compõem um conjunto de características específicas que
formam o quadro autístico, mas não interferem na aparência física.
De acordo com Tuchman e Rapin (2009), o subtipo transtorno autista
corresponde aos seguintes critérios apontados no Quadro 1:
a) total de seis (ou mais) itens dos grupos 1, 2 e 3 — com pelo menos dois
do grupo 1, um do grupo 2 e um do grupo 3;
b) atrasos ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes
áreas, com início antes dos três anos de idade: (1) interação social, (2)
linguagem para fins de comunicação social ou (3) jogos imaginativos
ou simbólicos (TUCHMAN; RAPIN, 2009, p. 21).
Tratamento e intervenção
https://goo.gl/446gDE
Transtorno de Asperger
O transtorno de Asperger é uma síndrome do espectro autista, sendo conhe-
cido também como síndrome de Asperger. Os primeiros indicadores desse
transtorno foram apresentados em 1944 pelo psiquiatra e pediatra austríaco
Hans Asperger, mas ele foi reconhecido em 1994 e se tornou um padrão de
diagnóstico somente na década de 1990.
Para Riviere (2004), a pessoa com transtorno de Asperger reúne um con-
junto de sinais semelhantes aos do autismo típico, com a diferença de que
não apresenta grandes atrasos no desenvolvimento da fala nem sofre com
comprometimento cognitivo grave. É possível até que apresente desempenhos
cognitivos superiores e aptidão para a lógica e a abstração.
O transtorno de Asperger é um subtipo de TEA que, segundo Tuchman
e Rapin (2009), corresponde aos seguintes critérios apontados no Quadro 1:
Síndrome de Rett
A síndrome de Rett é uma desordem rara do desenvolvimento neurológico,
provocada por mutações genéticas. Em 99% dos casos, ocorre em meninas.
A manifestação dessa síndrome costuma ocorrer após os seis meses de idade.
Antes disso, o desenvolvimento acontece dentro da normalidade.
Apesar de ter sido descrita pela primeira vez em 1966 por Andreas Rett,
neurologista pediátrico e professor da Universidade de Viena, ela só foi re-
conhecida e integrada ao grupo de transtornos do desenvolvimento 30 anos
mais tarde (PEREIRA, 2005).
De acordo Pereira (2005), a síndrome de Rett leva à regressão do desen-
volvimento do sistema nervoso, acarretando defasagens no sistema motor, na
linguagem expressiva e no uso das mãos. Com isso, a criança perde habilidades
que já possuía. Se já andava, perde a marcha. Se já falava, deixa gradativamente
de falar. Se já usava as mãos de modo funcional, deixa de fazê-lo.
16 Definição de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID)
Esse grupo de transtornos não possui padrões específicos para a sua classi-
ficação, ou seja, é uma categoria diagnóstica de exclusão, que não se enquadra
nos demais transtornos discutidos neste texto (MERCADANTE, GAAG E
SCHWARTZMAN, 2006). Estudos indicam que esses transtornos, assim
como os demais pertencentes ao grupo do TEA, são causados por fatores
neurobiológicos.
Como apoio aos estudos deste capítulo, você pode assistir a três vídeos esclarecedores
sobre o transtorno do espectro autista.
1. O que é Transtorno do Espectro Autista? — animação produzida pelo Hospital Sabará.
https://goo.gl/MUNLPf
2. TEA — Transtorno do Espectro Autista — animação criada em comemoração ao Dia
Mundial de Conscientização do Autismo.
https://goo.gl/oJzQZ5
3. Um só mundo — documentário que apresenta depoimentos de pessoas impac-
tadas pelo autismo.
https://goo.gl/5o2Thb
Leituras recomendadas
ASSUMPÇÃO JR. F.B. O que é autismo? Artigos Médicos in:
AUTISMO UNIÃO. Um só mundo documentário autismo. Youtube, abr. 2017. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=hRPdQpU7NbA>. Acesso em: 17 jul. 2018.
BAENA, P. TEA - transtorno do espectro autista. Youtube, abr. 2017. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=CQquNHKURas>. Acesso em: 17 jul. 2018.
BAPTISTA, C. R. et al. Autismo e educação: reflexões e propostas de intervenção. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
BOSA, C. A. Autismo: intervenções psicoeducacionais. Revista Brasileira de Psiquiatria,
v. 28, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbp/v28s1/a07v28s1.pdf>.
Acesso em: 17 jul. 2018.
BRASIL. Lei nº. 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção
dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3o do art.
98 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990. 2012. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm>. Acesso em: 17 jul. 2018.
BRASIL. Lei nº. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). 2015. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 17
jul. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes de atenção à reabilitação da pessoa com transtor-
nos do espectro do autismo. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: <http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_pessoa_au-
tismo.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2018.
HOSPITAL SABARA. O que é transtorno do espectro autista? Youtube, nov. 2016. Dispo-
nível em: <https://www.youtube.com/watch?v=y-_Ly5Tqggc>. Acesso em: 17 jul. 2018.
KLIN, A. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. Revista Brasileira de Psi-
quiatria, v. 28, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1516-44462006000500002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 17 jul. 2018.
MELLO, A. M. S. R. Autismo: guia prático. 4. ed. São Paulo: AMA ; Brasília: CORDE, 2004.