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A compulsão alimentar “eu quero comida”

A Moderação sabia do estomago é uma porta para todas virtudes.Contenha o estomago, e você entrará no paraíso
Mas se você agradar e mimar seu estômago, você lançara a si mesmo sobre o precipício da impureza corporal, no
fogo do castigo e da fúria, você irá vulgarizar e escurecer sua mente, e desta maneira você destruirá seus poderes
de atenção e auto-controle, sua sobriedade e vigilância." Ignatius Brianchaninov (Bispo Russo do séc. XIX)

"A gula não denota, nenhum desejo de comer e beber, mas um desgovernado desejo.... abandonando a ordem e a
razão, na qual consiste o beneficio da virtude moral." Thomas de Aquino (teólogo)

 O que é compulsão alimentar?


 Quais fatores levam alguém a desenvolver compulsão alimentar?

 Fatores desencadeantes

 Medo e compulsão alimentar

O QUE É COMPULSÃO ALIMENTAR ?

Você não tem compulsão alimentar por comer demais na ceia de natal ou na páscoa, nem quando "repete" a sua
sobremesa favorita.

Compulsão alimentar é um transtorno sério que afeta 3 a 5% dos homens e mulheres americanos.

A compulsão alimentar envolve o consumo de uma grande quantidade de comida, de forma incontrolável e de
maneira rápida, até o ponto de sentir-se "cheio" (desconfortavelmente "cheio"). Estes episódios de compulsão são
chamados de binge. Poderíamos traduzir binge como "ataques" de compulsão alimentar. Estes episódio não são
motivados apenas uma fome "física". Embora períodos de restrição alimentar podem levar a ataques de
compulsão. Mesmo que a fome "física" esteja presente, existem outros "gatilhos" de caráter psicológico, que
podem variar desde à ansiedade, como o medo de "falhar" ou de ser rejeitado, sentimentos e/ou idéias de
inadequação, ou expectativas frustradas.

A compulsão pode ocorrer de maneira espontânea ou planejada. Pode se comer tudo que estiver "na frente" e
disponível, sem critério entre paladar (comida fria, misturas de alimentos doces e salgados), nem qualidade (pode-
se buscar alimentos no lixo, ou vencidos).

Os episódios de binge, ocorrem tanto na bulimia, quanto no transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP).
Na TCAP, não existe purgação envolvida, isto significa que não é feita por parte da pessoa qualquer tentativa para
se "livrar" do alimento ingerido, como vômitos, uso de laxantes e/ou diuréticos, e/ou exercícios físicos exagerados.
Porem podem existir episódios esporádicos de restrição alimentar e tentativas repetitivas de se submeter a dietas
de emagrecimento, já que a maioria daqueles que sofrem de TCAP encontram-se acima do peso.

Para que seja estabelecido um diagnostico de compulsão alimentar, alguns critérios devem ser respeitados:

 O comportamento deve ocorrer no mínimo duas vezes por semana, por um período mínimo de seis meses.

A compulsão alimentar tem como resultado uma serie de conseqüências tanto físicas quanto emocionais.
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Imediatamente apos um ataque de compulsão são freqüentes e comuns os sentimentos de vergonha, culpa,
ansiedade, depressão e auto depreciação. A sensação física de desconforto grastrointestinal é freqüente e resulta
do grande volume de alimento ingerido. A pessoa experimenta sensações de letargia e fadiga.

A manutenção deste comportamento por meses ou anos, intensifica os sentimentos de depressão, raiva, tristeza e
solidão. O isolamento social ocorre tanto pela aparência física (TCAP pode levar a casos de obesidade mórbida),
quanto pela quantidade de tempo requerida para executar e se "recuperar" dos ataques de compulsão. Um
sentimento intenso de vergonha acompanha este transtorno, ainda que ele ocorra "escondido". Talvez a
conseqüência mais critica do binge é o ganho de peso. Enquanto alguns como aqueles que tem bulimia mantém
um peso "normal" (se pode ser chamado de "normal" um peso mantido a custa de purgações e /ou medicamentos),
a maioria apresenta sobrepeso e obesidade em graus variados, o que freqüentemente resulta em complicações
médicas. Estas complicações incluem doenças cardiovasculares, hipertensão, aumento nas taxas de colesterol e
triglicérides, diabetes do tipo 2 e gota.

"A boa fome, não há mau pão"

Avalie as suas crenças sobre a finalidade de comer. Existem duas razões básicas para comer: nutrição e prazer. O
alimento fornece o que o organismo necessita e proporciona prazer. Ambos, a nutrição e o prazer devem ser
levados em conta. Na compulsão nenhuma destas duas funções esta presente. Com freqüência o tipo de alimento
ingerido não beneficiará o organismo, e não existe uma satisfação no ato de se alimentar.

Reconheça que existe um problema. Se concentre no seu comportamento e pergunte: "Eu como por outras razões
alem de me alimentar e sentir prazer?" Então, considere quais necessidades você esta tentando satisfazer através
da comida.

Não faça dietas restritivas e sem a orientação de um profissional qualificado (nutricionista). Muitas vezes a
compulsão alimentar é desencadeada por dietas restritivas. Muitas destas dietas sem orientação envolvem
privação que pode levar a compulsão.Ao invés disso, siga as recomendações de um profissional e procure
aprender a reconhecer os sinais de fome e satisfação do seu corpo. Se tiver vontade de comer, pergunte: "Eu
realmente estou com fome?". Embora a fome seja uma sensação física, ela pode ser subjetiva e não objetiva como
a dor. Ninguém fala: "Acho que estou com dor". A dor é uma sensação física real e objetiva. Você tem dor, ou não
tem dor. Porem podemos nos referimos a fome como : "Acho que estou com fome". Você pode ter vontade de
comer, sem necessariamente sentir fome. Por isso tente compreender se o que você sente é fome, ou pode ser
solidão, tédio, frustração, depressão, etc.

O tratamento da compulsão alimentar é multidisciplinar. O psicólogo irá ajuda-lo a descobrir os "por quês" do seu
comportamento frente à alimentação e descobrir novas maneiras de lidar com as emoções que envolvem este tipo
de comportamento. Existem novos medicamentos que são úteis na redução da compulsão e no controle dos
transtornos associados como a depressão e a ansiedade, que podem ser indicados por um médico. O nutricionista
é indicado para a reeducação e planejamento alimentar.

A compulsão alimentar caracteriza-se pela ingestão de grandes quantidades de alimento, mesmo quando
a pessoa não está com fome. come-se pôr ansiedade, stress ou outra emoção negativa, ou não. Esses
ataques de comer apresentam certas características:

 Ingestão de grande quantidade de alimentos num período curto de tempo, algumas pessoas podem chegar
a ingerir 5.000 calorias em um período de 2 horas (no caso das compulsões graves).
 Preferência pôr alimentos mais calóricos como doces e carboidratos gordurosos

 A pessoa come mais rápido do que o normal

 Pode chegar a Comer até se sentir cansada e/ou empanturrada

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 Pôr vergonha poderá comer escondido.

 Existe uma sensação de descontrole, a pessoa não consegue controlar o impulso de comer.

 Após o episódio compulsivo, surgem sentimentos de culpa, falta de autocontrole, além de auto rejeição o
que causa cada vez mais baixa auto-estima.

Quais fatores levam alguém a desenvolver uma compulsão alimentar?

Fatores genéticos hereditários: ainda estão sendo estudados, o que já foi comprovado é que existe a influência
genética.

Estudos já demonstram que a incidência de transtornos alimentares em gêmeos idênticos é maior do que em
gêmeos fraternos.

Fatores Ambientais: Pessoas que convivem em ambientes aonde existe um grande consumo de comida, e/ou onde
as pessoas se utilizam da comida como fator agregador, poderão apresentar uma tendência maior para a
compulsão. ex. Família Italiana.

Fatores Metabólicos: Segundo algumas pesquisas, certas pessoas apresentariam uma espécie de “falha” no
sistema de saciedade. Esse sistema é o responsável pôr pararmos de comer quando nos sentimos satisfeitos. No
caso do compulsivo ele só receberia no cérebro esse estimulo para parar de comer, indicando que o apetite já foi
satisfeito, tardiamente. O que faria com que tivesse que comer mais do que as outras pessoas para se sentir
satisfeito.

Fatores Culturais: Hoje em dia nossa cultura passa uma imagem de valorização do chamado “corpo magro ideal”,
aprendemos que se tivermos o tal “ corpo ideal “ nossa vida será sem problemas, ganharemos o afeto e admiração
de todos. Temos que ser magros. Ao mesmo tempo existe uma quantidade muito maior de alimentos
"engordativos".

Fatores Psicológicos: Os fatores psicológicos representam uma grande influência no desencadeamento da


compulsão. E na dificuldade de emagrecer. Constituindo-se em um fator de resistência ao emagrecimento e ao
controle da compulsão.

O que se passa entre nossos pensamentos e nosso estômago que nos faz comer mais do que o necessário?

1. ALIMENTO = SENSAÇÃO DE PRAZER E RELAXAMENTO

Desde o nascimento o alimento é associado com sensações de prazer,alegria relaxamento e conforto.

Uma criança recém nascida sente uma sensação desagradável, traduzindo-se em dor física quando sente fome.
Esta criança chora, porque essa sensação é expressa através do choro. Quando recebe o alimento a sensação
desagradável, de dor, é eliminado e substituído por uma sensação de prazer e conforto. Associa-se também uma
sensação de aconchego e carinho durante a amamentação, onde existe o contato físico com a mãe.
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A criança vai crescendo e a comida continua a ser associada com outros sentimentos de prazer:

Festinha de aniversario= presentes, alegria, carinhos dos familiares e coleginhas e... comida, muita comida...

2. COMIDA ASSUME PAPEL DE RECOMPENSA E RECONHECIMENTO

Ex: “Se fizer o que a mamãe quer, te levo no Mac Donald's”,

3. INSEGURANÇA E INADEQUAÇÃO

Quando começamos a nos socializar, freqüentar a escola, começam a surgir as comparações com outras pessoas
ou padrões de modelos.

4. AUTO-REJEIÇÃO

Quando nos comparamos a modelos, e queremos ser como eles, estamos negando nosso verdadeiro EU, daí
começamos a nos negar e REJEITAR.

5. "TEM QUE"; "TEM QUE"; "TEM QUE"

A ansiedade aparece como resposta as exigências que impomos a nós mesmos.

São os famosos "TEM QUE", nos impomos uma série de IMPOSIÇÕES: Para ter sucesso tenho que ser magro,
Para ter carinho tem que EMAGRECER. E pôr assim vai...

6. ANSIEDADE

Quando não conseguimos atender as exigências dos "TEM QUÊS" que nos impomos, nos sentimos ansiosos,
estressados, culpados e com raiva. Quando não conseguimos expressar e lidar de maneira adequada com esses
sentimentos, podemos voltar ao nosso estágio primário da infância, quando a ansiedade e o stress eram atenuados
pela COMIDA.

Já que desde a infância associamos COMER = TER PRAZER E RELAXAR.

A comida esta a nossa disposição quando as pessoas que amamos não estão, a comida não se levanta e vai
embora, a comida não nos magoa, a comida não diz não. a comida está sempre presente, a comida dá prazer, pôr
isso a comida torna-se a coisa mais próxima do amor. mas a comida é apenas um substituto do amor, do carinho,
do CONFORTO, do prazer, etc.

Lembre-se que a comida não é, nem nunca SERÁ ESSE SENTIMENTO.

"A mangiare ed a grattare basta solo cominciare":


"Comer e coçar, basta começar"

7. COMPULSÃO

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A comida surge como resposta ao desconforto causado pelas sensações de stress, culpa, ansiedade, raiva, etc.
Quando nos sentimos descontentes com alguma situação temos a tendência de não demonstrar esse
descontentamento com o fato, a situação ou a pessoa, que provocou esse sentimento. Quando “guardamos” esses
sentimentos dentro de nós estamos negando a expressão desses sentimentos, pensamentos e crenças. Guardar
tudo isso é se negar e criar ansiedade que leva ao comportamento compulsivo. Quanto mais eu nego meus
sentimentos, mais compulsivo serei.

A Comida como dissemos anteriormente foi associada a sensações de prazer e conforto desde o nascimento.

COMPULSÃO = CULPA = SE MALTRATAR = SE COBRAR

O comportamento compulsivo leva a sentimentos de culpa e vergonha. Daí começam a vir os maus tratos, você
passa a não se gostar e passa a se cobrar para parar de ser compulsivo e emagrecer. A sua vida vira uma eterna
cobrança. e a auto-estima fica lá embaixo...

8. BAIXA AUTO-ESTIMA

O comportamento compulsivo, nos seus fundamentos, está ligado a falta de amor-próprio, a baixa auto-estima; é a
expressão da crença (ERRADA) de que não somos bons o bastante.

Texto: Valéria Lemos Palazzo Psicóloga CRP 06/35173

FATORES DESENCADEANTES

As crises não são todas parecidas. Uma mesma pessoa pode tanto ter uma crise "clássica" de compulsão,
caracterizada por uma rápida ingestão de uma grande quantidade de comida, particularmente de alimentos ricos
em hidratos de carbono (os quais normalmente a pessoa se priva), como uma crise "subjetiva" , quando a ingestão
de um alimento "normal" desencadeia o mesmo sentimento de perda de controle e vergonha da crise "clássica".

"La faim fait sortir le loup du bois": "A fome faz sair o lobo do mato"
Provérbio Francês

Fatores que podem desencadear uma crise e o comportamento compensatório conseqüente como vômitos, uso de
laxantes e/ou diuréticos, e a pratica exagerada de exercícios físicos:

Fatores relativos a alimentação e comida:

 Exposição a alimentos ricos em calorias


 Sentimento de ter transgredido uma regra alimentar

 O fato de pensar "desesperadamente" em comida

 O "habito" de ter crises

 A sensação de estar "inchado" depois de comer

Fatores relacionados a idéias negativas ou preocupações relacionadas com o peso e/ou imagem:

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 Sentir-se Gordo(a)
 Sentir-se "apertado" nas roupas

 Surpresa por pesar mais do que esperava

Estados de Animo Desfavoráveis:

 Depressão
 Sentimento de vazio, solidão e/ou isolamento

 Estado de ansiedade, tensão, ou de apreensão

 Momentos de irritabilidade, e/ou raiva

 Tensão pré menstrual

MEDO E COMPULSÃO ALIMENTAR

O medo na compulsão alimentar aparece como um elemento resistente. Ao mesmo tempo em que mantém um
realidade (estar acima do peso, ser compulsivo), vamos criando elementos de resistência e de proteção relativos à
aquela realidade. Por exemplo: "Eu quero ser amada, mas tenho muito medo do abandono". Porem quem esta
disposto a amar o outro, e deixar-se amar, corre o risco de ser abandonado. O medo de ser abandonado faz com
que a pessoa comece a criar comportamentos de proteção, que irão isolá-lo do seu medo de ser abandonado. O
abandono é visto como ameaçador, ruim e indesejável. Posso "manter" minha compulsão porque ela tem uma
utilidade: Me manter afastada de relacionamentos amorosos, e assim evitar o abandono.
Na vida profissional pode acontecer o mesmo. Caso eu não esteja tão bem na vida profissional como gostaria,
posso atribuir este fato, não a algum tipo de "falta" minha ( me dedicar mais as minhas tarefas, me aprimorar, ser
mais ousado), mas ao meu "problema" de excesso de peso.Neste caso não posso "me culpar" pelas minhas
falhas.
O problema é que vamos protegendo essa condição em nós mesmos, mesmo que ela pareça desagradável e não
nos proporcione conseguirmos aquilo que queremos.
Uma pessoa com medo de se expor, mas que quer ter sucesso, pode se utilizar do excesso de peso para não se
expor. Porem em qualquer situação de sucesso, você estará exposto. Muitas pessoas perfeccionistas tem medo
de serem "vistas" fora do "seu melhor", porque não se assumem com o realmente são. Acreditam que tem que ser
perfeitas, por isso tem medo dos outros e de que eles possam "ver quem ela é". Neste caso a defesa pode
aparecer na forma de excesso de peso, para que a pessoa não se exponha e se proteja. A crença é que não se
expondo, ela estará protegida das criticas das outras pessoas. Mesmo tentando uma mudança de vida, as defesas
internas podem fazer alguém fracassar. Estas defesas tem que fazer com que você não esteja em evidencia. Estas
defesas foram criadas e treinadas por você. Suas crenças internas serviram como elemento reforçador para cada
uma delas.
Por isso você pode começar uma dieta (reeducação alimentar) e não levar adiante. Começa a fazer exercícios e
larga. Emagrece e engorda tudo novamente. Você pode estar vivenciando tudo isso, para impedir que venha a
passar por coisas que teme. Estas defesas vem e te "pegam".
Por isso você tem que se perguntar que resistências criou ? Quais são os seus medos ? O que existe de perigosos
em emagrecer ?

Texto: Valéria Lemos Palazzo Psicóloga CRP –06/35173-8

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