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NUTRIÇÃO E BIOENERGÉTICA

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NOSSA HISTÓRIA

A NOSSA HISTÓRIA, inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a INSTITUIÇÃO, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A INSTITUIÇÃO tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Sumário

NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 1

Sumário .................................................................................................................... 2

Princípios de bioenergética, moléculas e reações metabólicas ........................... 4

Introdução ao Metabolismo ...................................................................................... 5

Produção biológica de energia. ............................................................................... 9

Balanço energético e termodinâmica biológica. .................................................. 11

Vias metabólicas ..................................................................................................... 16

Esquema do catabolismo e anabolismo. .............................................................. 17

Digestão, absorção e transporte ............................................................................ 18

Digestão, absorção e transporte ............................................................................ 20

Processos de carboidratos .................................................................................... 22

Glicogênese ............................................................................................................. 25

Metabolismo de Lipídios......................................................................................... 28

Biossíntese de aminoácidos e moléculas derivadas de aminoácidos ............... 33

Vias de degradação de aminoácidos. .................................................................... 36

Patologias relacionadas com a alteração do metabolismo dos aminoácidos e


proteínas .................................................................................................................. 39

Especificidade do metabolismo tecidual em situações de absorção, pós-


absorção e jejum ..................................................................................................... 42

Regulação hormonal sobre a glicemia e o metabolismo de macronutrientes. .. 49

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 51

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Nutrição e Bioenergética

Tanto o estilo de vida quanto os fatores culturais ou geográficos e a posição

socioeconômica de determinada região influem na escolha e na elaboração de uma

região, portanto, no estado nutricional daquela população em estudo. Atualmente, a

pressão social, a vida moderna e os meios de comunicação têm alterado de modo

significativo as características da alimentação da população mundial, uma vez que

muitas pessoas se veem obrigadas a se alimentar fora de casa e, nem sempre,

satisfatoriamente. A má nutrição ou desnutrição está relacionada com a dieta. Ainda

que os alimentos sejam suficientes em quantidade, podem não estar devidamente

equilibrados em nutrientes. Assim, pode haver excesso de calorias com deficiência

proteica, vitamínica e de minerais.

Nesse contexto é o entendimento da Bioquímica e da Fisiologia da Nutrição,

isto é, dos nutrientes que fornecem energia ao homem; as transformações desses

constituintes em nosso organismo são necessárias para a prática profissional. Cabe

a nós, profissionais da saúde, a escolha mais criteriosa de alimentos, assim como a

divulgação na comunidade do papel da nutrição na promoção da saúde, a fim de que

se previnam doenças e se mantenha a qualidade de vida das pessoas. Estudar a

função bioquímica e fisiológica de cada um dos nutrientes dos alimentos, desde a

ingestão até sua excreção, contribui para a escolha correta do alimento de acordo

com as condições culturais, sociais e econômicas de dada população. O presente

caderno de estudos foi desenvolvido com o objetivo de enriquecer seus

conhecimentos relativos aos princípios de bioquímica de macronutrientes, bem como

sobre os processos de interação metabólica. Cada capítulo representa um convite à

reflexão de diferentes aspectos relacionados à digestão, à absorção e ao metabolismo

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de macronutrientes e suas complexidades, sendo de fundamental importância lembrar

que a busca e aprimoramento de conhecimento não termina ao final da leitura destas

paginas. Ao contrário, nosso objetivo é orientá-lo de forma abrangente e despertar o

espírito crítico associado ao interesse pelo aprofundamento dos conhecimentos

relativos às questões aqui apresentadas.

Objetivos:

» Apresentar os principais conceitos relativos ao metabolismo de macronutrientes

(carboidratos, proteínas e lipídios).

» Abordar processos metabólicos em determinadas situações fisiológicas e

patológicas.

» Apresentar a inter-relação entre o metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas.

» Ampliar a compreensão da especificidade do metabolismo em situações de

absorção e pós-absorção, bem como da sua regulação.

» Analisar os mecanismos de funcionamento dos sistemas orgânicos, tendo visão da

importância de cada um deles e do funcionamento integrado do organismo.

Princípios de bioenergética, moléculas e reações metabólicas

Se você só viver 65 anos ou mais, consumirá mais de 70 mil refeições e o seu

notável corpo terá utilizado 50 toneladas de alimento. Os alimentos que você escolhe

têm efeitos acumulativos sobre seu corpo. Aos 65 anos de idade, você verá e sentirá

esses efeitos, se souber o que procurar. Seu corpo renova suas estruturas

continuamente e a cada dia constrói um pouco de músculo, osso, pele e sangue,

substituindo tecidos velhos por novos. Acrescente também um pouco de gordura, se

você consumir energia alimentar em excesso, ou subtraia um pouco, no caso de

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consumir menos do que precisa. Desse modo, o alimento que você ingere hoje, torna-

se parte de “você” amanhã. O melhor alimento, então, é o do tipo que dá suporte ao

crescimento e à manutenção de músculos fortes, ossos firmes, pele sadia e sangue

suficiente para limpar e nutrir todas as partes do seu corpo. Isso significa que você

necessita de alimentos que não somente forneçam energia, mas, também, nutrientes

suficientes, ou seja, quantidades suficientes de água, carboidratos, gordura, proteínas,

vitaminas e sais minerais. E se os alimentos ingeridos fornecem muito pouco, ou

demais, de um ou mais nutrientes todos os dias durante anos, então, quando você

estiver velho, pode vir a sofrer seus efeitos, manifestados em uma doença grave. A

questão é que uma variedade bem escolhida de alimentos supre a energia e a

quantidade necessária de cada nutriente para prevenir má nutrição. Má nutrição inclui

deficiências, desequilíbrios e excessos de nutrientes e qualquer um deles pode cobrar

um tributo da saúde ao longo do tempo. Portanto, é necessário compreender a

fisiologia humana relacionando os sistemas biológicos com a nutrição. Introdução

Uma das características dos seres vivos é a permanente modificação que eles fazem

em virtude de modificações do meio externo, pelo desenvolvimento de uma função

em determinado tempo que é distinto para outro tempo equivalente. Essa variação

funcional, como a própria função, precisa de energia. Isso porque toda função, em si,

é um processo de liberação de energia.

Introdução ao Metabolismo

Quando se analisam as manifestações energéticas de um organismo vivo,

observa-se que podem ser resumidas em quatro tipos principais e básicos:

» Energia mecânica, ou seja, a energia é liberada na execução de um fenômeno físico

de natureza mecânica, como um movimento, uma postura, a movimentação ciliar, ou

o deslocamento de um leucócito.

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» Energia química é o processo pelo qual o organismo forma ou sintetiza corpos

químicos, seja com fins estruturais ou pela formação de secreções, internas ou

externas, ou por simples transformações.

» Energia elétrica é o processo pelo qual a energia que se libera se expressa como

potenciais elétricos gerados, isto é, como potencial de repouso, potencial de ação,

potencial gerador pós-sináptico.

» Energia térmica é a energia, nesse caso, liberada em forma de calor, que pode ser

dissipado ou estocado, determinando pela temperatura corporal. Como o organismo

vivo está permanentemente liberando energia, sob diferentes formas, e, mais ainda,

está continuamente modificando suas atividades físicas ou psíquicas, é preciso

manter equilíbrio dinâmico entre as entradas de energia (alimentos) e as saídas de

energia (transformações energéticas).

Requer-se, então, um estrito steady-state energético. Podem-se estabelecer

duas condições em que há regimes estacionários (steady-state) diferentes. Uma

condição é aquela considerada mínima para manter a vida, e outra é aquela adequada

para uma sobrecarga energética. A primeira é considerada situação basal e sua

necessidade é o metabolismo basal; a segunda é uma situação de sobrecarga e sua

necessidade será variável, de acordo com a magnitude da sobrecarga energética

produzida. O organismo está precisando constantemente do fornecimento de energia

que possa utilizar de acordo com seus programas funcionais. O aporte energético é

exclusivamente químico, de modo que os compostos que contêm energia química,

que pode ser liberada e, logo após, utilizada ou transformada, são chamados

alimentos; mais especificamente, são os nutrientes dos alimentos. Esses nutrientes

são proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas, sais minerais, água e fibras, além das

substâncias como pigmentos, fotoquímicos e antioxidantes. Os únicos nutrientes

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capazes de fornecer energia ao homem são os carboidratos, os lipídios e as proteínas.

Por isso são chamados de nutrientes energéticos. Os carboidratos e os lipídios são

essencialmente energéticos, enquanto as proteínas desempenham papel mais

importante na síntese de novos tecidos, sendo conhecidas como elementos

construtores. Os nutrientes, depois de serem liberados e absorvidos no trato

gastrintestinal, são incorporados ao chamado pool energético disponível, que é a

quantidade total de energia química que pode ser utilizada de imediato, e

transformada em outros tipos de energia. De fato, a energia química disponível é

representada pelo Ácido Adenosina-Trifosfórico (ATP) de todos os tecidos em geral e

pela fosfocreatinina do músculo. Desse modo, após o processo digestivo, a energia

química é estocada nos reservatórios energéticos, mas só quando a utilização de

energia química for menor que o aporte energético da dieta.

Consideram-se como reservatórios de energia aqueles tecidos que têm a

capacidade de armazenar compostos químicos que contêm energia, e que podem

liberá-la de acordo com os requerimentos energéticos. Existem três reservatórios

principais; o primeiro é o glicogênio hepático e muscular, e, em grau menor em outros

tecidos. O glicogênio é formado velozmente, como também é removido rapidamente,

mas, sendo um produto hidrossolúvel, requer grande volume aquoso, motivo pelo qual

a magnitude do reservatório de glicogênio é restrita, embora sua utilização seja

imediata, de acordo com as necessidades. O segundo reservatório é representado

pelas gorduras, basicamente pelos triglicérides do tecido adiposo e de outros tecidos

que os contêm, mas em percentagem baixa. Os lipídios são formados, como também

degradados mais lentamente que o glicogênio, mas apresenta uma característica

muito conveniente: pelo fato de as gorduras serem insolúveis em água, elas podem

ser depositadas sem precisar do solvente aquoso, isto é, o volume de depósito pode

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ser menor que o glicogênio. Além disso, o seu valor calórico é elevado. O terceiro

reservatório é constituído pelas proteínas teciduais e plasmaproteínas, cujo turnover

é bem mais lento que os dos reservatórios já mencionados. Por outro lado, como se

trata de produtos químicos que fazem parte da estrutura dos tecidos, sua utilização

representa a remoção dos próprios tecidos.

Por essas razões, as proteínas representam um reservatório energético que é

utilizado só em condições extremas. Apesar de termos uma gama de recomendações

estabelecidas por diversas organizações de saúde para melhorar a dieta e aumentar

a atividade física, a prevalência da obesidade aumentou dramaticamente nos EUA

nas duas últimas décadas. O aumento do peso nos EUA gerou uma indústria de perda

de peso de bilhões de dólares, com a propaganda de livros sobre dieta, programas de

exercício físico e suplementos que oferecem soluções rápidas para aumentar o

metabolismo e derreter a gordura. Dada a confusão, falta de informação e busca da

“pílula mágica” que caracteriza a indústria de perda de peso nos EUA, é

particularmente importante que os profissionais de saúde reavaliem os princípios

científicos da regulação do peso corporal. Conceitos básicos em bioenergética Uma

breve revisão de princípios bioenergéticos fornecerá a base para a compreensão de

muitos problemas no controle de perda de peso. Os seres humanos precisam de

energia para realizar o trabalho biológico, tais como a contração muscular, a

biossíntese de glicogênio e proteína, transporte de íons e moléculas contra o gradiente

de concentração etc. A “moeda” primária de energia necessária para tal trabalho é

encontrada nas ligações químicas da molécula de adenosina trifosfato (ATP). Essa

energia é liberada pela quebra de ATP em adenosina difosfato (ADP) e fosfato

inorgânico (Pi). A maioria do nosso requerimento diário de ATP é atendida pela

sintetização de ATP a partir do ADP e de Pi na mitocôndria das células, sendo a

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energia necessária para este processo oferecida indiretamente pela oxidação de

macronutrientes (carboidratos, gorduras e proteínas). A Figura 1 mostra que quando

uma molécula de glicose sofre a oxidação para transformar-se em CO2 e H2 O, temos

a oferta de energia para a síntese de ATP. A energia liberada pela quebra do ATP é

então usada para o trabalho biológico. Observe que apenas uma porção da energia

liberada a partir da oxidação de glicose é conservada na molécula recém-sintetizada

de ATP. Na realidade, mais que metade da energia presente dentro da molécula de

glicose é perdida como calor, um fenômeno descrito pela segunda lei da

termodinâmica, que dita que as reações químicas não são necessariamente eficientes.

Se a proporção de energia obtida a partir da glicose conservada como ATP diminuísse

e a produção de calor aumentasse, o processo seria menos eficiente do ponto de vista

energético que o normal.

Produção biológica de energia.

A oxidação completa de uma molécula de glicose resulta na energia necessária

para a síntese de ATP, que por sua vez oferece energia para o trabalho celular. Nesse

processo, mais energia é perdida como calor do que conservada como moléculas de

ATP. A determinação de energia disponível nos alimentos é baseada na sua

combustão em um calorímetro de bomba. A energia não é captada como ATP, mas,

sim, convertida em calor; daí o uso da quilocaloria (unidade de energia calorimétrica)

para quantificar a energia disponível nos alimentos. A correção dos dados da bomba

calorimétrica para avaliar como o organismo consegue usar cada um dos

macronutrientes resulta em valores de energia metabolizáveis iguais a 4 kcal/g para

carboidratos e proteínas e de 9 kcal/g para gorduras. Bebidas alcoólicas (etanol)

fornecem 7 kcal/g. Balanço energético A primeira lei da termodinâmica declara que a

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energia não é criada nem destruída, mas, sim, que se transforma de uma forma para

outra. Como a energia ingerida e a gasta devem ser contabilizadas, essa lei serve

como base para a equação do balanço energético. Colocado de maneira simples, o

excesso da ingestão energética comparada ao gasto promoverá o armazenamento da

energia corporal; por outro lado, o déficit da ingestão energética comparado ao gasto

promoverá a perda dos estoques de energia do organismo.

O número de fatores que regulam a ingestão e gasto de energia em seres

humanos é grande e complexo. Com relação à ingestão, o hipotálamo integra os sinais

relacionados ao trato gastrintestinal, os sinais com origem no metabolismo de

macronutrientes (principalmente no fígado) e os sinais químicos do sistema nervoso

central e do periférico que são anabólicos (estímulo da fome, ex., neuropeptídeo Y)

ou catabólicos (supressão da fome; ex.: leptina) para determinar os fatores biológicos

que estimulam ou não a ingestão de alimentos. Além disso, esses sinais “biológicos”

são associados a fatores psicossociais (ex.: cultura), fatores comportamentais (ex.:

ingestão de salgadinhos durante os comerciais da televisão) e fatores ambientais (ex.:

tamanho das porções, qualidades sensoriais dos alimentos). O comportamento

resultante não é o mero resultado do aumento ou redução do impulso biológico para

comer, mas é derivado da complexa integração de muitos fatores internos e externos.

O gasto energético diário total também é determinado por diversos fatores.

Componentes do gasto energético diário total em um indivíduo que pratica exercícios.

Para indivíduos sedentários e moderadamente ativos, o gasto energético de repouso

é, sem dúvida, o principal componente. Seu principal determinante é o tamanho

corporal, principalmente a massa magra, incluindo os órgãos internos e o músculo

esquelético. A contribuição da gordura corporal para o gasto energético de repouso é

muito menor, mas aumenta com o aumento da massa de gordura. O efeito

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termodinâmico dos alimentos representa o aumento no gasto energético relacionado

à digestão, à absorção e à assimilação de macronutrientes (termogênese obrigatória)

assim como gasto energético adicional resultante da atividade aumentada do sistema

nervoso simpático. O gasto energético da atividade física é responsável pelo restante

do gasto calórico diário e inclui tanto a termogênese de exercícios como a de

atividades não físicas. Entre atividades não físicas temos a manutenção da postura,

as atividades de vida diária e demais movimentos. A quantidade de energia gasta na

atividade física é controlada em grande parte de forma voluntária e varia

consideravelmente entre indivíduos e até para o mesmo indivíduo em dias diferentes.

A equação do balanço energético costuma ser usado no aconselhamento para perda

de peso para prever a magnitude das perdas de gordura corporal em resposta à

redução da ingestão energética e/ou aumento do gasto energético relacionado à

atividade física. Por exemplo, um indivíduo com sobrepeso pode ser aconselhado a

ter um déficit diário de 500 kcal, reduzindo a ingestão de alimentos específicos da

dieta. Como 250 g de gordura equivalem a aproximadamente 3.500 kcal, pode-se

prever que uma pessoa teria um déficit semanal de 3.500 kcal (500 kcal/dia x 7

dias/semana), o que promoveria a perda total de gordura corporal de mais de 25 kg

por ano. Entretanto, como será discutido, essas previsões são vagas, na melhor das

hipóteses, demasiadamente simplistas e cometem um erro ao não considerar o

organismo como um sistema dinâmico, capaz de passar por importantes ajustes

metabólicos e comportamentais no gasto energético em resposta a mudanças na

ingestão energética.

Balanço energético e termodinâmica biológica.

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Apresenta uma visão geral simplificada do balanço energético. A energia

disponível para o organismo é denominada energia metabolizável, e reflete a ingestão

bruta de energia menos as perdas fecais e urinárias. Tanto a ingestão bruta quanto a

ingestão calórica metabólica correspondente sofrem o efeito de uma série de fatores,

inclusive ambientais, efeitos específicos dos macronutrientes na saciedade,

densidade energética e qualidades hedônicas (sensoriais) dos alimentos. Além disso,

os sinais biológicos da fome/saciedade interagem com fatores ambientais e nutrientes

específicos que contribuem para a ingestão energética bruta. Uma vez que a energia

metabolizável é disponível no organismo, há muitas reações metabólicas que

consomem o ATP. Mais ainda, há diversos processos que contribuem para a

termogênese “adaptativa” ou “flexível” (substrato ou ciclos sem propósito,

extravasamento de íons etc.). É importante observar que o metabolismo humano e a

respectiva regulação do balanço energético seguem tanto a primeira quanto a

segunda lei da termodinâmica; nenhuma energia metabolizável é “perdida”. Toda

energia que não for armazenada nem usada como ATP é responsável pela dissipação

de calor. Praticamente, todas as reações de transferência de energia que ocorrem no

metabolismo humano são “ineficientes” (ou seja, nem toda energia potencial é

“captada” como ATP), de acordo com a segunda lei.

Diferenças interindividuais na “eficiência” da transferência e armazenamento

de energia não representam violações das leis da termodinâmica, elas correm devido

às diferenças na termogênese adaptativa, o custo energético das interconversões

metabólicas entre os macronutrientes e outros processos de “desperdício energético”,

tais como ineficiências motoras/mecânicas, termogênese de atividades que não sejam

a atividade física etc. Reações químicas: armazenamento e transferência de energia

na célula A existência de reações químicas é fundamental para o metabolismo celular,

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pois permite a transferência de energia livre de um substrato químico para outro. A

transferência de energia é feita a partir de substratos energéticos mais complexos,

com maior conteúdo de energia livre (carboidratos, lipídeos e proteínas), por meio de

várias etapas (vias metabólicas contendo várias reações químicas em cadeia) para

diferentes substratos com menor energia livre. Nesse caso, dizemos que os substratos

de menor energia livre foram energizados, ou seja, o conteúdo de energia livre foi

aumentado à custa da desorganização de um substrato mais complexo. Em cada

transferência, parte da energia é perdida na forma de calor e parte é conservada nas

ligações químicas dos produtos, ou entregue em algum local específico da célula para

reconstituir a moeda energética, o ATP (substrato de maior conteúdo de energia livre),

a partir da ligação do Pi ao ADP (substrato de menor conteúdo de energia livre), para

finalmente ser utilizado como combustível para realizar algum trabalho biológico

(entrada e hidrólise da molécula de ATP na cabeça da miosina para provocar o

deslizamento dos filamentos finos sobre os grossos no processo de contração).

Considerando o papel central das reações químicas no metabolismo celular,

vamos estender a discussão sobre elas. Definição: uma reação química é um

processo que permite a transformação de uma ou mais formas químicas (moléculas

dos reagentes) em outras (moléculas dos produtos). A reação química depende da

colisão com orientação correta entre as moléculas dos reagentes, transformando-as

em produtos. Energia de ativação: só serão capazes de realizar uma colisão, as

moléculas dos reagentes que tiverem energia livre igual ou superior à energia de

ativação característica da reação (barreira de ativação), ou seja, as moléculas que

alcançarem o estado excitado característico de cada reação química. Apenas as

moléculas de reagentes com energia superior à energia de ativação terão a

capacidade de colidir para formarem o produto. Assim, o tamanho da barreira de

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ativação determina a velocidade da reação química. Quanto maior a barreira de

ativação de uma reação química, menor será a sua velocidade. Armazenamento de

energia: nas ligações químicas que compõem as várias moléculas biológicas, por

exemplo, glicogênio, ácido palmítico, ácido láctico, gordura etc. Ligações de alta

energia: são as ligações químicas do organismo que, ao serem quebradas, liberam

quantidade elevada de energia livre. Exemplo: ligação do grupo fosfato (Pi) na

molécula de creatina, formando o fosfato de creatina. Principais reações químicas do

metabolismo: entre as diversas reações que ocorrem no organismo, destacamos dois

acoplamentos: » reação de fosforilação /desfosforilação : envolve a transferência de

grupo fosfato inorgânico (Pi ou PO42-) entre dois substratos quaisquer. Geralmente,

são catalisadas por enzimas denominadas cinases. Assim, a transferência de energia

livre é feita por meio do grupo fosfato (o elemento em comum das duas reações); »

reações de oxirredução: envolvem a transferência de elétrons entre dois substratos.

Assim, o substrato que sofre redução ou ganho de um par de elétrons representa a

reação endergônica do acoplamento, enquanto o substrato que doou o par de elétrons

sofre oxidação e é a reação exergônica do acoplamento. O elemento em comum

nesse caso é o par de elétrons. Na Biologia é muito importante também a velocidade

com que as reações químicas ocorrem de modo a permitir a adaptação do

metabolismo às necessidades energéticas da célula. Estas se alteram

constantemente, dependendo do estado energético em que a célula se encontra.

Apesar de a bioenergética permitir identificar o sentido natural das reações químicas

e o acoplamento entre reações exergônicas e endergônicas, ela não permite dizer

absolutamente nada a respeito da velocidade das reações.

De modo geral, todas as reações químicas presentes no organismo ou nas

células ocorrem com velocidade inferior àquela necessária para atender à demanda

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energética celular. Daí, a necessidade de catalisadores biológicos, representadas

pelas enzimas. Definição: enzimas são catalisadores biológicos (proteínas) que

regulam a velocidade das reações químicas, sem interferir no mecanismo delas. São

as principais controladoras das velocidades das vias metabólicas. Mecanismo: diminui

a energia de ativação de uma reação química, aumentando, portanto, a sua

velocidade, sem interferir com o mecanismo dela. Sítio de afinidade pelo substrato

(chave-fechadura): toda enzima possui um sítio de ligação ou reconhecimento do seu

substrato. Uma enzima possui maior afinidade pelo substrato quanto menor for o seu

Km, isto é, quanto menor a constante de dissociação da enzima pelo substrato. Este

parâmetro representa a concentração de substrato na qual a velocidade de reação é

igual à metade da velocidade máxima. A velocidade da reação é proporcional à

concentração de enzima para qualquer concentração de substrato. Sítio ativo ou

catalítico: uma enzima contém uma região especializada em sua molécula, chamada

sítio ativo, o qual possui uma superfície tridimensional complementar ao substrato.

Este sítio ativo liga o substrato (portanto, contém o sítio de afinidade pelo substrato),

formando o complexo enzimasubstrato (ES), que é convertido em complexo enzima-

produto (EP), pelo processo de catálise, que posteriormente se dissocia em enzima e

produtos.

As principais propriedades das enzimas: especificidade, saturação, competição

e alosteria. Enzimas usuais no metabolismo: » quinases: acrescentam o grupo fosfato

ao substrato, e, portanto são responsáveis pelas reações de fosforilação. » fosfatases:

removem grupos fosfatos dos substratos, e, portanto responsáveis pelas reações de

desfosforilação. » desidrogenases: removem hidrogênios (elétrons) do substrato, e,

portanto, responsáveis por reações de oxidação/redução. » ATP-ases: hidrolisam o

ATP, transformando-o em ADP e fosfato inorgânico (Pi), pela adição de uma molécula

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de água. Os fatores que interferem na atividade enzimática: pH: -log[H+], parâmetro

que mede a acidez de uma solução, ou seja, a concentração de íons de hidrogênio

livres na solução. As enzimas possuem um pH ótimo, onde apresentam atividade

máxima; e temperatura: as enzimas têm temperatura ótima, onde a atividade é

máxima, ou seja, a estrutura tridimensional correta para ligar-se ao substrato.

Vias metabólicas

As características dos organismos vivos, sua organização complexa e sua

capacidade de crescimento e reprodução são resultantes de processos bioquímicos

coordenados. O metabolismo é a soma de todas as transformações químicas que

ocorrem nos organismos vivos. São milhares de reações bioquímicas catalisadas por

enzimas. As funções básicas do metabolismo celular são:

1) obtenção e utilização de energia;

2) síntese de moléculas estruturais e funcionais;

3) crescimento e desenvolvimento celular, e

4) remoção de produtos de excreção.

Conforme os princípios termodinâmicos, o metabolismo é dividido em duas

partes:

» Anabolismo: são os processos biossintéticos a partir de moléculas precursoras

simples e pequenas. As vias anabólicas são processos endergônicos e redutivos que

necessitam de fornecimento de energia.

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» Catabolismo: são os processos de degradação das moléculas orgânicas nutrientes

e dos constituintes celulares que são convertidos em produtos mais simples com a

liberação de energia. As vias catabólicas são processos exergônicos e oxidativos.

Esquema do catabolismo e anabolismo.

O catabolismo ocorre em três estágios:

» Primeiro estágio: as moléculas nutrientes complexas (proteínas, carboidratos e

lipídios não esteroides) são quebradas em unidades menores: aminoácidos,

monossacarídeos e ácidos graxos mais glicerol, respectivamente.

» Segundo estágio: os produtos do primeiro estágio são transformados em unidades

simples como a acetil CoA (acetil coenzima A) que exerce papel central no

metabolismo.

» Terceiro estágio: a acetil CoA é oxidada no ciclo do ácido cítrico a CO2 enquanto as

coenzimas NAD+ e FAD são reduzidas por quatro pares de elétrons para formar três

NADH e um FADH2 .

As coenzimas reduzidas transferem seus elétrons para o O2 por meio da cadeia

mitocondrial transportadora de elétrons, produzindo H2 O e ATP em um processo

denominado fosforilação oxidativa. A energia livre liberada nas reações catabólicas

(exergônicas) é utilizada para realizar processos anabólicos (endergônicos). O

catabolismo e o anabolismo estão frequentemente acoplados por do ATP (trifosfato

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de adenosina) e NADPH (nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato, forma reduzida).

O ATP é o doador de energia livre para os processos endergônicos. O NADPH é o

principal doador de elétrons nas biossínteses redutoras. A capacidade dos

organismos vivos em regular os processos metabólicos, apesar da variabilidade do

meio interno e externo, é chamada homeostase. Relação entre a produção de energia

e a utilização de energia. ATP (trifosfato de adenosina), NADPH (nicotinamida adenina

dinucleotídeo fosfato, forma reduzida).

Digestão, absorção e transporte

Os carboidratos constituem a principal fonte de energia para o homem na maior

parte das regiões do mundo. Nas regiões menos desenvolvidas predomina o consumo

de amido como alimento, enquanto nos países mais industrializados há mais consumo

de açúcar. Os carboidratos têm função de reserva de energia, como o amido e o

glicogênio; ou estrutural, como a celulose; ou de fonte de energia, como a glicose.

São encontrados nas folhas, no trigo e na batata, o carboidrato presente é o amido, e

em outros alimentos, como maçãs, laranjas e uvas está presente o açúcar. Os

carboidratos compreendem um grupo grande de compostos, todos eles contendo os

elementos químicos carbono, hidrogênio e oxigênio, podendo ainda existir em sua

estrutura elementos como enxofre, o fósforo e o nitrogênio. Sua representação

química é (CH2 O)n. Os carboidratos dividem-se em três grupos principais:

monossacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos. Atualmente, são conhecidos

aproximadamente 70 monossacarídeos, sendo 20 deles naturais, e o restante,

sintético. Dentre os naturais, os mais importantes são a glicose, a frutose, a galactose

e a manose.

Os monossacarídeos são açúcares simples que não podem ser hidrolisados a

unidades menores. A glicose está amplamente distribuída na natureza, aparecendo

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em frutas, nos vegetais e no mel. Constitui produto final da digestão da maltose, do

amido, da dextrina e é um dos produtos finais da digestão de sacarose e lactose. Os

oligossacarídeos são carboidratos que, mediante hidrólise, produzem de duas a 20

moléculas de monossacarídeos. Entre eles, há a maltose, a sacarose, a lactose, a

rafinose e a estaquinose. A sacarose é encontrada principalmente na cana-de-açúcar

e na beterraba; a lactose é encontrada no leite; a maltose não é muito abundante na

natureza, sendo obtida a partir da fermentação do amido, e a rafinose é encontrada

na beterraba. Os polissacarídeos são formados pela combinação de um grande

número de unidades de açúcares. Os três polissacarídeos mais importantes na

nutrição são: amido, glicogênio e celulose. O amido é a principal forma de

armazenamento de carboidrato no vegetal, tendo função nutritiva na planta.

As dextrinas são produtos resultantes da degradação parcial do amido,

formadas tanto no processo de preparação de alimentos como, também, durante a

digestão do amido. Se a hidrólise continua, as dextrinas produzem maltose e,

finalmente, glicose. A molécula do glicogênio é um polímero de cadeia ramificada com

6.000 a 30.000 unidades de glicose. Sob hidrólise produz moléculas de glicose. Tem

função nutritiva nos animais. A celulose é um polímero de cadeia reta constituída de

unidades de glicose, não sendo absorvida pelo organismo humano porque não há

enzimas capazes de digeri-la. É absorvida pelos ruminantes por ser degradada por

bactérias. Para o homem, é importante para formar o bolo fecal. As melhores fontes

alimentares de celulose são as frutas secas, os cereais de grão integral, as castanhas

e as hortaliças frescas.

A principal função dos carboidratos consiste em fornecer energia para o

organismo na forma de glicose. Parte dessa glicose é usada para preencher as

necessidades energéticas. Outra parte é depositada na forma de glicogênio no fígado

19
e nos músculos como reserva de energia, e o restante é convertido em gordura e

armazenada no tecido adiposo. Os carboidratos são necessários para o metabolismo

normal das gorduras, pois serão utilizados na oxidação energética, poupando as

gorduras para esse fim e diminuindo os riscos de produção de corpos cetônicos.

Certos carboidratos desempenham algumas funções específicas no organismo,

como: a celulose, que auxilia na eliminação do trato intestinal; a lactose, que facilita a

absorção do cálcio e tem ação laxativa por servir como fonte de fermentação de

bactérias no intestino; a ribose, que é um constituinte importante para a síntese de

RNA; a desoxirribose que participa da síntese do DNA; o ácido glicurônico, que

combina com toxinas a fim de excretá-las.

Digestão, absorção e transporte

Os sistemas digestório e absortivo do corpo humano incluem o trato digestório

e os órgãos acessórios que fornecem os produtos químicos necessários para a sua

ação e controle. Esses produtos químicos incluem as enzimas sintetizadas pelas

glândulas salivares, estômago, pâncreas e fígado, o ácido gástrico que promove o pH

adequado para a desnaturação de proteínas no estômago e o bicarbonato de sódio

que neutraliza o pH requerido para ação das enzimas do intestino delgado. Algumas

enzimas são secretadas na forma ativa, outros como zimogênios que são ativados no

estômago ou no intestino delgado. A secreção é estimulada pelos hormônios que

circulam na corrente sanguínea ou por sinais do encéfalo que são transmitidos por

meio do nervo vago. Outra classe de produtos químicos, os sais biliares, sintetizados

pelo fígado, é necessário para transporte e absorção de nutrientes insolúveis. As

macromoléculas de carboidratos provenientes dos alimentos são degradadas

20
especialmente em glicose. Na boca, as secreções salivares contêm a enzima alfa-

amilase salivar, que inicia a hidrólise das moléculas de amido, quebrando

parcialmente as longas cadeias polissacarídicas. A alfa-amilase salivar hidrolisa as

ligações internas alfa-1,4 do amido, gerando maltose, maltotriose e dextrina. No

estômago, a acidez estomacal inativa a alfa-amilase salivar. No intestino, a secreção

de bicarbonato de sódio neutraliza o quimo ácido proveniente do estômago e favorece

a ação da alfa-amilase pancreática que hidrolisa as ligações alfa-1,6 do amido. A

liberação da alfa-amilase pancreática é controlada pela influência da colecistoquinina

(CCK) sobre o pâncreas exócrino. Ainda no intestino delgado, os enterócitos

sintetizam glicosidases (lactase, sacarase-isomaltase, maltase-glicoamilase) que

participam da digestão dos carboidratos.

Há uma proximidade muito grande entre as glicosidases e o sistema de

transportadores. Este último é composto por proteínas sintetizadas nos enterócitos de

acordo com a disponibilidade de monossacarídeos específicos. Durante a passagem

da luz do intestino e para a corrente sanguínea, os monossacarídeos devem

atravessar duas membranas. A glicose atravessa a membrana apical do enterócito

por um tipo de transportador. Uma vez dentro do enterócito, a glicose passa pelo

citosol e sai pela da membrana basolateral por meio de um transportador diferente, e

é transportada através da veia portal para o fígado. Estes dois transportadores são

chamados respectivamente de SGLT 1 (sodium glicose transporter 1) e GLUT-2. A

glicose e a galactose compartilham um transportador comum, o SGLT 1, responsável

pelo transporte ativo desses monossacarídeos contra um gradiente de concentração

e consequente gasto de energia. A frutose é absorvida por transporte facilitado pelo

transportador GLUT 5 sem gasto de energia. O GLUT-5 ocorre na membrana apical

do enterócito, e também ocorre no músculo esquelético, adipócitos e células de

21
esperma. Uma vez absorvida pelo enterócito, a frutose desloca-se para a corrente

sanguínea através do GLUT -2.

Algumas pessoas portadoras de doença congênita não sintetizam glicosidases

e não digerem os respectivos carboidratos. A intolerância à lactose é uma condição

permanente, que ocorre com o avançar da idade, quando muitas crianças perdem a

capacidade de digerir grandes quantidades de lactose. A enzima lactase catalisa a

hidrólise da lactose no lúmen do intestino. Geralmente, a atividade da lactase intestinal

ocorre em um nível máximo do nascimento até a primeira infância. Em seguida, a

atividade da lactase diminui e pode levar à intolerância à lactose, cujos sintomas são

diarreia e flatulência após o consumo de leite. O monossacarídeo galactose

geralmente não é encontrado na dieta, mas pode ser liberado a partir da lactose pelas

enzimas bacterianas presentes no iogurte. A hidrólise da lactose em glicose e

galactose provavelmente não ocorre no iogurte, mas no intestino humano após o seu

consumo. Esta hidrólise pode explicar a menor incidência de intolerância à lactose

com o consumo de iogurte (derivados do leite) do que com o leite em si.

Processos de carboidratos

Vários processos envolvem a utilização de glicose pelo organismo. Nos seres

humanos, a glicose é armazenada na forma de glicogênio, enquanto, nas plantas, a

glicose é armazenada na forma de amido. Glicólise é a oxidação da glicose para

produção de energia. Glicogenólise é o catabolismo do glicogênio para produção de

glicose. Glicogênese é a síntese de glicogênio a partir de glicose. Gliconeogênese é

a síntese de glicogênio a partir de ácidos graxos e proteínas. A glicólise ocorre no

22
citoplasma, à molécula de glicose (6 carbonos) e oxidada (ou degradada) em duas

moléculas de piruvato (3 carbonos/ cada) numa série de dez reações, na ausência de

oxigênio (anaeróbico). Durante esse processo, duas moléculas de NADH2 e duas

moléculas de ATP são produzidas Nos organismos anaeróbicos, o piruvato pode ser

transformado na ausência de oxigênio em etanol, como no caso das leveduras, ou em

lactato, como no caso das bactérias, das hemácias e do músculo. Na fermentação

alcoólica, a glicose é degradada anaerobicamente a etanol. Os produtos da

fermentação alcoólica são: álcool etílico, gás carbônico e energia. Na fermentação

láctica, a glicose é degradada anaerobicamente a lactato. Os produtos da fermentação

lática são ácidos lácticos e energia. Etanol e lactato são os produtos mais comuns

obtidos por meio da fermentação, mas outros produtos também podem ser obtidos

como ácido acético, butírico e propiônico. Nos organismos aeróbicos, o piruvato e

oxidado a acetil-CoA, CO2 e H2 O.

Cada ácido pirúvico propicia o início de uma série de reações em fase aeróbica

na mitocôndria da célula conhecida como ciclo dos ácidos tricarboxílicos ou ciclo do

ácido cítrico, ou ainda, ciclo de Krebs, que gera grandes quantidades de NADH + H+,

FADH2 e ATP. O ciclo de Krebs é uma via anfibólica, ou seja, utilizada nos sentidos

catabólico e anabólico. Ao final de uma volta no ciclo de Krebs, uma molécula de

glicose gera quatro moléculas de ATP: dois na glicólise e dois no ciclo de Krebs.

Quase todos os carbonos dos carboidratos e lipídios entram no ciclo de Krebs na

forma de uma unidade de dois carbonos. Outros nutrientes como o citrato e malato,

podem entrar no ciclo de Krebs intacto para a oxidação e degradação.

A cadeia transportadora de elétrons, cadeia respiratória ou fosforilação

oxidativa é a convergência final de todas as vias de degradação oxidativa. A oxidação

dos mais variados combustíveis metabólicos libera elétrons que são entregues pelas

23
desidrogenases a transportadores específicos, reduzindo-os (de NAD+ e FAD a

NADH+ e FADH). Os elétrons são transferidos numa série de reações de

óxidoredução na membrana interna da mitocôndria. A cada passo, os elétrons caem

para um estado energético menor até serem transferidos ao oxigênio e formar água.

Quando os elétrons de um hidrogênio deixam uma molécula para serem captados por

outra molécula, ocorre transferência de energia. Os elétrons são transferidos a

aceptores de hidrogênio chamados citocromos. Os citocromos podem ser reduzidos

(ao receberem elétrons) ou oxidados (ao doarem elétrons), com perda ou ganho de

energia acompanhado pela transferência de elétrons. O transporte de elétrons entre

citocromos leva à ligação de ADP e fosfato inorgânico (PI) para gerar ATP. O aceptor

final de hidrogênio e o oxigênio e quando o oxigênio recebe dois átomos de hidrogênio

ocorre formação de água. A energia livre disponibilizada pelo fluxo de elétrons criado

e acoplada ao transporte contracorrente de prótons pela da membrana interna da

mitocôndria (impermeável a estes prótons), conservando parte desta energia como

potencial eletroquímico transmembrana. O fluxo transmembrana dos prótons “de

volta”, a favor de seu gradiente de concentração através de poros proteicos

específicos fornece energia livre para a síntese de ATP. A maioria dos elétrons

removidos a partir de combustíveis durante o metabolismo energético e transferida

por meio de Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo (NAD). NAD coleta elétrons de

muitos combustíveis energéticos diferentes em reações catalisadas por enzimas

específicas. O NAD reduzido, por sua vez, lança os elétrons para a cadeia respiratória.

Flavina Adenina Desidrogenase (FAD) também atua como transportador de elétrons.

Em cada reação envolvendo NAD (ou FAD), dois elétrons são transferidos, ou seja,

dois elétrons são transportados ou lançados. NAD e FAD são pequenas moléculas

sintetizadas a partir da niacina e riboflavina, respectivamente. NAD, FAD e citocromos

24
fazem o transporte de hidrogênios liberados na glicólise e no ciclo de Krebs para a

cadeia respiratória. Os hidrogênios removidos são entregues ao oxigênio nas cristas

da mitocôndria para resultar em água e liberar energia na forma de ATP ou calor. Na

cadeia respiratória são formados três ATPs e o resto da energia liberada se dissipa

na forma de calor. As ligações fosfato do ATP equivalem a 8 kcal/mol.

Glicogênese

A glicose que não é imediatamente utilizada pelo organismo e removida do

sangue e armazenada no fígado e músculo esquelético na forma de glicogênio.

Glicogênese é a conversão de glicose em glicogênio por meio da polimerização de

moléculas de glicose. A glicogênese é estimulada pela insulina pancreática. O

excesso de glicose que não pode ser armazenada como glicogênio é convertido em

ácidos graxos e armazenado no tecido adiposo. Glicogenólise: quando o organismo

necessita de energia extra, o glicogênio estocado no fígado pode ser reconvertido em

glicose é liberado no sangue. Esse processo ocorre sob o controle endócrino do

glucagon pancreático e da epinefrina da medula adrenal. Gliconeogênese: é a

produção de glicose a partir de fontes que não o carboidrato como o ácido láctico,

glicerol, e alguns aminoácidos. Ocorre essencialmente no fígado, mas, também, nas

células ósseas e córtex renal. Quando o nível de glicose está baixo e não há

carboidrato prontamente disponível, o hormônio glicocorticoide do córtex da adrenal

desvia alguns aminoácidos para o fígado onde eles são convertidos em glicose. A

tiroxina também pode desviar lipídios do tecido adiposo para o fígado onde estes são

convertidos em glicose. O ácido láctico originado no músculo esquelético também

25
pode ser convertido em glicose no fígado. Quando há deficiência de glicose, o corpo

ajusta o seu metabolismo para fornecer corpos cetônicos, nutrientes derivados de

lipídios, que pode ser utilizado pelo encéfalo e outras partes do sistema nervoso

central. No entanto, a produção excessiva de corpos cetônicos pode resultar em

acidose, uma diminuição do pH do sangue, que e potencialmente tóxica.

Patologias relacionadas com a alteração do metabolismo dos carboidratos

Alguns grupos populacionais apresentam carência de lactase na idade adulta.

A deficiência dessa enzima impede a hidrólise da lactose que se acumula no lúmen

intestinal. A grande pressão osmótica exercida pela lactose não absorvida promove

um influxo de água para o intestino. A lactose degradada pela ação bacteriana, forma

vários ácidos com a liberação de dióxido de carbono. A combinação desses efeitos

provoca distensão abdominal, cólicas, náusea e diarreia. Essa condição é conhecida

como intolerância à lactose.

O diabete melito (DM) é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta

de insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer adequadamente seus efeitos.

Caracteriza-se por hiperglicemia crônica com distúrbios do metabolismo dos

carboidratos, lipídios e proteínas. Pacientes portadores de episódios hiperglicêmicos,

quando não tratados, desenvolvem cetoacidose ou coma hiperosmolar. Com o

progresso da doença aumenta o risco de desenvolver complicações crônicas, tais

como: retinopatia, angiopatia, doença renal, neuropatia, proteinúria, infecção,

hiperlipemia e doença aterosclerótica.

26
Diabetes melito tipo 1 (imuno-mediado). Resulta primariamente da destruição

das células pancreáticas e tem tendência à cetoacidose. Inclui casos decorrentes de

doença autoimune e aqueles nos quais a causa da destruição das células não é

conhecida. O tipo 1 compreende 5-10% de todos os casos de diabetes melito.

Acredita-se que pacientes com DM tipo 1 têm suscetibilidade genética no

desenvolvimento do diabetes. A exposição a um desencadeador (viral, ambiental,

toxina) estimula a destruição imunologicamente mediada das células. A hiperglicemia

está presente quando 80-90% das células estão destruídas. Diabetes melito tipo 2.

Resulta, em geral, de graus variáveis de resistência à insulina e deficiência relativa de

secreção de insulina. A maioria dos pacientes tem excesso de peso e a cetoacidose

ocorre apenas em situações especiais, como durante infecções graves. Ao redor de

80-90% de todos os casos de diabetes correspondem a esse tipo. Ocorre, em geral,

em indivíduos obesos com mais de 40 anos, de forma lenta e com história familiar de

diabetes. Os pacientes apresentam sintomas moderados e não são dependentes de

insulina para prevenir cetonúria. Nesses casos, os níveis de insulina podem ser:

normais, diminuídos ou aumentados. O álcool é sintetizado por leveduras por meio da

fermentação alcoólica. É um processo em duas etapas em que a piruvato-

descarboxilase remove o grupo carboxilato do piruvato para produzir acetaldeído. A

enzima requer Mg2+ e a pirofosfato de tiamina (TPP). A álcool-desidrogenase catalisa

a transformação do acetaldeído em etanol. O etanol é considerado um produto de

excreção do metabolismo da glicose; seu acúmulo é tóxico aos organismos que o

produzem.

Existem vários distúrbios hereditários que afetam o metabolismo do glicogênio.

São causadas por deficiências de enzimas envolvidas na síntese e degradação do

glicogênio, produzindo glicogênio anormal em quantidade ou qualidade. Elas são

27
coletivamente chamadas de doenças de armazenamento de glicogênio e a condição

é conhecida como glicogenose. Essas condições são divididas em tipos distintos

descritos. São conhecidos três defeitos hereditários do metabolismo da frutose. A

frutosúria essencial é uma desordem metabólica benigna causada pela deficiência de

frutocinase que está normalmente presente no fígado, ilhotas do pâncreas e no córtex

renal. Os sintomas são: aumento no teor de frutose no sangue e aparecimento de

frutosúria após ingestão de frutose; mesmo assim, 80% a 90% da frutose são

metabolizadas e podes permanecer sem diagnóstico. Outro defeito mais sério é a

intolerância hereditária à frutose, que consiste de deficiência da frutose-1-fosfato

aldolase (também chamada aldolase do Tipo B), provocando hipoglicemia severa

após a ingestão de frutose. Em crianças o consumo prolongado de frutose pode levar

a uma condição crônica ou morte. Nessa desordem, a frutose 1-fosfato acumula

intracelularmente no fígado e rins, resultando em lesão renal com distúrbios funcionais.

Outros sintomas são: dor abdominal e vômitos. O tratamento consiste na remoção de

frutose e sacarose da dieta. A hipoglicemia presente nesses distúrbios é provocada

pela inibição da glicogenólise por interferência com a glicogênio-fosforilase pela

frutose 1-fosfato. A deficiência hereditária da frutose-1,6-bifosfatase resulta em severa

redução da gliconeogênese hepática, provocando episódios de hipoglicemia, apneia,

hiperventilação, cetose e acidose láctica. Em neonatos, a deficiência pode ser letal.

Em outras idades os episódios podem ser desencadeados pelo jejum e infecções

febris.

Metabolismo de Lipídios

28
Os lipídios incluem todas as substâncias insolúveis em água, que podem ser

extraídas de um material biológico com solventes usuais de gordura, como éter,

clorofórmio, acetona e benzeno. Os triglicerídeos são considerados gorduras neutras,

por serem constituídos por um mol de glicerol e três de ácidos graxos, e formam 95%

da gordura corporal. O organismo possui grande capacidade de armazenar gordura

em seu tecido adiposo, que funciona como reserva energética. O homem tem 15% de

gordura corpórea, enquanto que a mulher tem 25%. Certos lipídios são utilizados pelo

organismo como fonte de energia para as células, fornecendo 9 kcl/g; outros são

componentes estruturais, como os fosfolipídios, que fazem parte da estrutura das

fibras nervosas e coagulação sanguínea; outros funcionam como coenzimas na forma

de vitaminas A e K, coenzimas Q e plastoquinonas; outros funcionam como hormônios

na forma de vitamina D e prostaglandina, participando da regulação da pressão

sanguínea, dos batimentos cardíacos, da dilatação vascular, da lipólise e do sistema

nervoso central; outros, ainda, têm função de transporte, como as lipoproteínas. Os

hormônios são derivados de esteróis (colesterol); lipídios (prostaglandinas);

glicoproteínas (eritropoína, que atua na secreção de hemácias).

A estocagem de gorduras é vantajosa para a manutenção da temperatura

corporal, uma vez que a camada de gordura na pele atua como isolante térmico,

protegendo o organismo de mudanças bruscas de temperatura do meio ambiente.

Essa característica é importante nos recém-nascidos, que não dispõem de todos os

mecanismos de regulação térmica suficientemente desenvolvida. Durante a atividade

física, os indivíduos mais gordos podem produzir calor corporal de 10 a 20 vezes

acima do normal. A gordura também tem função de proteger o corpo de injúrias

mecânicas. As gorduras ingeridas provocam a liberação de enterogastrona do

duodeno, inibindo o esvaziamento gástrico e proporcionando uma sensação de maior

29
saturação e plenitude gástrica devido a sua permanência mais prolongada no trato

digestivo. Os lipídios também têm a função de suporte às vísceras, de transporte de

elétrons na atividade enzimática, na reprodução, no funcionamento renal, no

desenvolvimento do cérebro, além serem responsáveis pelas características de gosto,

odor e aroma dos alimentos. Os ácidos graxos da camada fosfolipídica da membrana

associados a proteínas específicas determinam a seletividade da membrana,

controlando a passagem de substância para dentro e para fora das células. Os

fosfolipídios, sintetizados no fígado têm função estrutural da membrana plasmática,

lisossomos, mitocôndria, retículo endoplasmático e nervos; participam da coagulação

sanguínea. Outra função dos lipídios é a de funcionar como solvente de vitaminas

lipossolúveis (A, D, E, K), que tem papel importante de proteção da saúde por meio

da participação da síntese de anticorpos. Durante a refinação do óleo bruto ocorre

perda dessas vitaminas e, portanto, a sua função de proteção à saúde fica diminuída.

Por isso, é necessário adição de vitaminas aos óleos e margarinas depois do processo

de refinação.

Por definição, lipídio é a classe geral que engloba as gorduras e os óleos. As

gorduras são triglicerídeos, de cadeia média a longa, sólidas à temperatura ambiente

e contêm mais ácido graxo saturado que os óleos. Os óleos são triglicerídeos, de

ácidos graxos de peso molecular médio (12 a 20 carbonos); são líquidos à temperatura

ambiente e contêm mais ácido graxo insaturado que as gorduras. Ácidos graxos

formados por cadeia de 4 a 8 carbonos são encontrados, preferencialmente, em

gorduras de laticínios. Os de cadeia entre 8 e 12 carbonos são encontrados em óleos

de coco e palmeira, e os de cadeia com número maior que 12 carbonos estão

presentes na gordura animal. Os ácidos graxos poli-insaturados ω-3 (linolênico,

formado por 18 carbonos e 3 duplas; eicosapentanoico, formado por 20 carbonos e 5

30
duplas; docosapentanoico, formado por 22 carbonos e 6 duplas) são encontrados em

óleos de peixe do Atlântico Norte. Os ácidos graxos ω-3 são considerados alimentos

funcionais, pois evitam a formação de coágulos sanguíneos na parede arterial,

diminuem a pressão sanguínea, aumentam HDL e reduzem LDL.

Os ácidos graxos ω-6 (linoleico e araquidônico) são responsáveis pela

integridade da pele e pelo funcionamento renal. Digestão, absorção e transporte de

lipídios A digestão dos lipídios inicia-se no estômago, catalisada pela lipase gástrica.

Esta lipase é secretada pelas glândulas no fundo do estômago e resiste à atividade

proteolítica da pepsina, bem como aos efeitos de desnaturação do ácido gástrico.

Acredita-se que esta enzima seja responsável pela hidrólise de 10-30% dos TG. A

lipase gástrica é especialmente importante para a nutrição infantil, porque os níveis

de lipase pancreática são baixos nos recém-nascidos, enquanto a lipase gástrica

ocorre nas mesmas concentrações encontradas em adultos. A lipase pancreática é

secretada em conjunto com outros zimogênios e enzimas pancreáticas. A atividade

da enzima é estimulada por uma pequena proteína chamada colipase, secretada no

suco pancreático em concentração similar à da enzima. A colipase aumenta a

capacidade de aderência da lipase pancreática às gotículas lipídicas e impede que os

sais biliares inibam a atividade máxima da lipase e altere o pH necessário para a

atividade máxima da lipase. Para serem absorvidos, os TG ingeridos precisam ser

convertidos de partículas gordurosas macroscópicas insolúveis em micelas

microscópicas finalmente dispersas. Os sais biliares, como o ácido taurocólico,

sintetizados no fígado a partir do colesterol, são estocados na vesícula biliar e depois

da ingestão de refeição gordurosa são liberados no intestino delgado. Esses

compostos anfipáticos agem como detergentes biológicos, convertendo as gorduras

alimentares em micelas mistas de sais biliares e TG. A formação de micelas aumenta

31
enormemente a fração de moléculas lipídicas acessíveis à ação das lipases

lipossolúveis no intestino e à ação dessas lipases converte os TG em

monoacilgliceróis (monoglicerídios), diacilgliceróis (diglicerídios), ácidos graxos livres

e glicerol. Após a absorção no lúmen, os produtos de hidrólise são reesterificados a

TG, fosfolipídios e ésteres de colesterol.

Como os lipídios são insolúveis na fase aquosa, eles são transportados no

sangue por meio das lipoproteínas. As lipoproteínas são moléculas anfipáticas, isto e,

hidrofóbicas e hidrofílicas. A monocamada das lipoproteínas é constituída por

fosfolipídios, colesterol livre e proteínas, que envolvem as moléculas hidrofóbicas, os

TG e os ésteres de colesterol. As várias combinações possíveis de lipídios e proteínas

produzem partículas de densidades diferentes, variando dos quilomícrons e das

lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL, do inglês: Very Low Density

Lipoprotein) até lipoproteínas de alta densidade (VHDL, do inglês: Very High Density

Lipoprotein).

As primeiras lipoproteínas formadas são os quilomícrons (QM), sintetizados

pelas células epiteliais do intestino delgado e têm a função de transportar TG e

colesterol provenientes da dieta para os tecidos. Os QM possuem diâmetro grande, o

que os impossibilita de atravessar as membranas dos capilares endoteliais. Nos

capilares do fígado, do músculo e do tecido adiposo, a enzima extracelular lipase

lipoproteica hidrolisa os TG em AG e glicerol, que são captados pelas células dos

tecidosalvo. Nos músculos, os AG são oxidados para obtenção de energia; no tecido

adiposo, eles são reesterificados e armazenados como TG. Os remanescentes dos

QM desprovidos da maior parte dos seus TG viajam pelo sangue ate o fígado, onde

eles são captados por endocitose. Os TG que entram no fígado por esta via podem

ser oxidados para fornecer energia ou servirem de precursores para a síntese de

32
corpos cetônicos. Os QM trocam TG por éster de colesterol com os HDL. Esta troca é

catalisada pela proteína transferidora de éster de colesterol (CETP). O HDL é

sintetizado no fígado e no intestino e captura o colesterol livre dos tecidos periféricos.

O colesterol capturado é esterificado pela ação da enzima colesterol acil-transferase

e retorna ao fígado ou é transferido a outras lipoproteínas. Parte do colesterol é

utilizada na síntese de hormônios esteroides, síntese de membranas, ou excretado

pelo fígado na bile e, por último, nas fezes. Os hepatócitos secretam VLDL rica em

TG que, ao distribuir TG aos tecidos periféricos, forma a LDL.

Biossíntese de aminoácidos e moléculas derivadas de aminoácidos

Os aminoácidos captados pelo fígado podem seguir diferentes vias metabólicas:

» serem utilizados por órgãos na síntese de proteínas teciduais;

» serem utilizados pelo fígado para renovar as proteínas hepáticas ou para sintetizar

proteínas plasmáticas;

» serem degradados e convertidos em glicose para gerar ATP via ciclo de Krebs ou

serem convertidos em lipídios e serem estocados;

» serem utilizados para síntese de nucleotídeos dos ácidos nucleicos, anticorpos,

hormônios ou outros compostos que contem nitrogênio.

Cerca de 20% dos aminoácidos que entram no fígado são liberados para a

circulação, cerca de 50% são transformados em ureia e cerca de 6% em proteínas

plasmáticas. Os aminoácidos liberados na circulação são metabolizados pelo músculo

esquelético, pelos rins e por outros tecidos. Conforme comentado anteriormente, o

33
anabolismo e o catabolismo proteico são processos dinâmicos específicos de cada

tecido e caracteriza o turnover proteico. Aminoácidos livres são encontrados tanto nos

tecidos como na circulação sanguínea. O pool de aminoácidos livres e proteínas é

constantemente utilizado e reposto. A quantidade de aminoácidos livre reflete diversos

processos: absorção intestinal, degradação de proteínas e perda por incorporação de

aminoácidos em proteínas, oxidação e conversão em outros metabolitos.

Duas reações estão envolvidas no metabolismo dos aminoácidos: desaminarão

oxidativa e transaminação.

» Desaminação oxidativa: ocorre no citoplasma dos hepatócitos, o grupo NH2 é

retirado do aminoácido por meio da desaminases e cadeia carbônica livre de NH2

segue para o ciclo de Krebs como será apresentado mais adiante.

» Transaminação: ocorre no citoplasma e mitocôndria por ação de enzimas chamadas

transaminases ou aminotransferases. O nitrogênio é transferido de um alfa-

aminoácido para um alfacetoácido. Cada aminoácido possui um cetoácido

correspondente. Pela transaminacao, pares de aminoácidos podem ser

interconvertidos por transferência de grupo amino.

Um aminoácido cujo grupo amino foi retirado é chamado de 2-oxoacido ou

cetoácido e é um precursor de aminoácidos. Por ser facilmente permeável à

membrana mitocondrial, o ácido glutâmico e muito utilizado nas reações de laminação

e transaminação, saindo da mitocôndria para buscar NH2 e levá-lo de volta à

mitocôndria para. Resumidamente, o efeito das reações de transaminação é coletar

os grupos amino de muitos aminoácidos diferentes na forma de glutamato. O

glutamato conduz os grupos amino para serem utilizados em vias biossintéticas ou

para uma sequência de reações pela qual os produtos nitrogenados serão excretados.

34
O anabolismo proteico ocorre na maioria das células corporais. A reação pela

qual os aminoácidos não essenciais são sintetizados e a transaminação. A síntese

proteica é controlada em cada célula pelo DNA (ácido desoxirribonucleico), o material

genético do núcleo celular. O DNA funciona como um molde para o RNA (ácido

ribonucleico), que participa da síntese proteica. O controle da síntese de proteína

depende das necessidades do organismo e não da quantidade de proteína da dieta.

A síntese proteica é regulada por diversos hormônios: hormônio do crescimento, que

aumenta a síntese proteica; a insulina, que intensifica o transporte de aminoácidos

para as células e aumenta a disponibilidade de glicose; os glicocorticoides, que

promovem catabolismo proteico, aumentando a quantidade de aminoácidos nos

fluidos corporais, os glicocorticoides também agem nos ribossomos, aumentado à

eficiência da tradução, e melhorando, assim, a taxa de síntese proteica; a tiroxina que

aumenta a taxa de síntese proteica quando carboidratos e lipídios estão disponíveis

como fonte energética, e que também degrada proteína para ser utilizada como fonte

energética quando outros nutrientes não estão disponíveis. Cada aminoácido possui

uma via metabólica especifica em diferentes tecidos. Os aminoácidos de cadeia

ramificada (leucina, isoleucina e valina) são preferencialmente captados pelo músculo

esquelético após a refeição e são transanimados e oxidados, promovendo fonte

energética para o músculo. Alanina e glutamina são aminoácidos glicogênios, isto é,

podem ser convertidos em glicose e promovem um link entre o metabolismo dos

aminoácidos e dos carboidratos. A alanina é captada avidamente pelo fígado,

particularmente sob condições de gliconeogênese, estimulada pelo glucagon. No

fígado, que possui transaminases bastante ativas, a alanina transfere seu grupo amino

para o 2-oxoglutarato, deixando o seu esqueleto carbônico como piruvato, um

substrato da gliconeogênese.

35
O ciclo da alanina é importante fonte de glicose e um método de transportar

nitrogênio do músculo esquelético para o fígado sem a formação de amônia. Assim, o

ciclo glicose-alanina funciona com dupla finalidade: fornecer ao músculo glicose

sintetizada no fígado a partir do esqueleto carbônico da alanina e transportar grupos

amino do músculo esquelético para o fígado para ser convertido em ureia. A glutamina

é removida principalmente pelos rins e pelas células da mucosa intestinal. Nos rins, a

ação da glutaminase remove o grupo amino, formando amônia e liberando glutamato,

o qual pode ser convertido a 2-oxoglutarato. A glutamina é importante fonte energética

para células de divisão rápida como os enterócitos. Os enterócitos utilizam cerca de

20 g/dia de glutamina e o sistema imune 5 g/dia. A avaliação bioquímica da glutamina

circulante é um bom parâmetro em nutrição clínica. Sua redução está relacionada à

diminuição da síntese endógena, o que significa perda de massa muscular. A leucina

é considerada um sensor nutricional, informando as células sobre o estado nutricional

do organismo. O excesso de leucina nas células é indicação de anabolismo.

Ciclo da alanina.

A alanina funciona como transportadora de amônia e do esqueleto carbonado

do piruvato desde o músculo até o fígado. A amônia é excretada e o piruvato é

utilizado para produzir glicose, que é devolvida ao músculo.

Vias de degradação de aminoácidos.

Excreção de nitrogênio e ciclo da ureia

36
Os aminoácidos podem ser oxidados assim como a glicose e os ácidos graxos.

Os aminoácidos podem sofrer degradação oxidativa em três circunstâncias

metabólicas específicas:

» Durante a síntese e degradação proteica, alguns aminoácidos liberados durante a

quebra de proteínas podem sofrer degradação oxidativa caso eles não sejam

necessários para a síntese de novas proteínas.

» Quando os aminoácidos são ingeridos em excesso em relação às necessidades

corporais, o excedente é catabolizado.

» Durante o jejum severo ou o diabetes mellitus, quando os carboidratos são

inacessíveis ou não utilizados adequadamente, as proteínas corporais são utilizadas

como fonte energética.

Nestas circunstâncias, os aminoácidos perdem seu grupo amino e os

alfacetoglutarato podem sofrer oxidação até CO2 e H2 O. A oxidação de aminoácidos

contribui com 10-20% do metabolismo oxidativo total do organismo sob condições

normais. Com relação ao catabolismo de proteínas e aminoácidos, antes da oxidação

do esqueleto carbônico do aminoácido, o grupo amino deve ser removido numa

reação chamada desaminação oxidativa, descrita anteriormente, com consequente

formação de cetoácidos.

Os cetoácidos podem ser:

1. utilizados para produzir CO2 e ATP;

2. intermediários na síntese de glicose.

3. convertidos a acetil-CoA para sintetizar ácidos graxos e que por sobrecarregar o

ciclo de Krebs formam corpos cetônicos que são posteriormente eliminados.

37
Uma vez que as proteínas não podem ser armazenadas, estas utilizações

alternativas ocorrem à custa da função de construção da proteína. O grupo amino é

desviado para uma via metabólica especializada e é liberado como amônia. Parte da

amônia é reciclada e empregada em uma grande variedade de processos

biossintéticos, enquanto a amônia em excesso, gerada em tecidos extra-hepáticos e

transportada ao fígado na forma de grupo amino para conversão na forma apropriada

de excreção, isto é, em ureia e desta forma eliminada pela urina.

Representação geral do catabolismo de aminoácidos.

Em muitos animais, a amônia em excesso é convertida em um composto não

tóxico antes de ser transportada dos tecidos extra-hepáticos para o fígado e os rins.

Os aminoácidos glutamato e glutamina desempenham papel importante nesta via. Os

grupos amino dos aminoácidos são transferidos ao alfacetoglutarato no citosol dos

hepatócitos para formar glutamato. O glutamato é, então, transportado para o interior

da mitocôndria, onde o grupo amino é removido para formar amônia. Nos músculos,

os grupos amino em excesso são transferidos para o piruvato, com a respectiva

formação de alanina que transporta grupos amino dos músculos para o fígado. A

síntese de ureia ocorre pelo ciclo da ureia nas mitocôndrias dos hepatócitos. O CO2

e a amônia unem-se à ornitina por uma série de reações para produzir arginina que é

hidrolisada para produzir ureia e ornitina. A molécula de ornitina é repetidamente

utilizada para formar arginina e ureia. Quanto mais hiperproteica a dieta, maior é a

disponibilidade de aminoácidos no sangue e a atividade das enzimas do ciclo da ureia

para excretar o nitrogênio.

Algumas consequências clínicas do catabolismo proteico:

» prejuízo do processo de cicatrização;

38
» prejuízo da resposta imune para infecções;

» hipoalbuminemia;

» aumento das proteínas de fase aguda (proteína é reativa, fibrinogênio etc.);

» diminuição da capacidade de coagulação;

» translocação bacteriana intestinal;

» degradação muscular;

» diminuição da função da musculatura respiratória.

Algumas proteínas utilizadas para avaliação do estado catabólico:

imunoglobulina, albumina, IGF1, proteína total plasmática, RBP, ferritina, aminograma.

A creatinina urinária está relacionada ao catabolismo proteico muscular. Conforme

descrito anteriormente, o excesso de proteína é tratado como fonte energética. Os

aminoácidos glucogênicos (alanina, glutamina) podem ser convertidos em glicose e

os aminoácidos cetogênicos (leucina) podem ser convertidos em ácidos graxos e

cetoácidos. Ambos os tipos de aminoácidos são convertidos em triacilglicerol no tecido

adiposo. Os aminoácidos glucogênicos são metabolizados a piruvato, 3-fosfoglicerato,

alfacetoglutarato, oxaloacetato, fumarato ou succinilCoA e os aminoácidos

cetogênicos produzem acetil-CoA ou acetoacetato.

Patologias relacionadas com a alteração do metabolismo dos aminoácidos e


proteínas

A doença celíaca (DC) é autoimune, sendo causada pela intolerância

permanente ao glúten, principal fração proteica presente no trigo, no centeio, na

39
cevada e na aveia, e se expressa por enteropatia mediada por linfócitos T em

indivíduos geneticamente predispostos. Estudos de prevalência da DC têm

demonstrado que ela é mais frequente do que se pensava, mas continua sendo

subestimada. A falta de informação sobre a DC e a dificuldade para o diagnóstico

prejudicam a adesão ao tratamento e limitam as possibilidades de melhora do quadro

clínico. Outra particularidade é o fato de a DC predominar em indivíduos faiodérmicos,

embora existam relatos de sua ocorrência em indivíduos melanodérmicos. Pesquisas

revelam que a doença atinge pessoas de todas as idades, mas compromete

principalmente crianças de seis meses a cinco anos de idade. Foi também observada

frequência maior em pacientes do sexo feminino, na proporção de duas mulheres para

cada homem. O caráter hereditário da doença torna imprescindível que parentes em

primeiro grau de celíacos submetamse ao teste para sua detecção. Três formas de

apresentação clínica da DC são reconhecidas: clássica ou típica, não clássica ou

atípica e assintomática ou silenciosa.

Forma clássica ou típica

Caracteriza-se pela presença de diarreia crônica, em geral acompanhada de

distensão abdominal e perda de peso. Os pacientes também podem apresentar

diminuição do tecido celular subcutâneo, atrofia da musculatura glútea, falta de apetite,

alteração de humor (irritabilidade ou apatia), vômitos e anemia. Essa forma clínica

pode ter evolução grave, conhecida como crise celíaca, que ocorre quando há retardo

no diagnóstico e na instituição de tratamento adequado, particularmente entre o

primeiro e o segundo anos de vida, sendo frequentemente desencadeada por infecção.

Essa complicação potencialmente fatal caracteriza-se pela presença de diarreia com

desidratação hipotônica grave, distensão abdominal por hipopotassemia e

desnutrição grave, além de outras manifestações, como hemorragia e tetania.

40
Forma não clássica ou atípica

Caracteriza-se por quadro mono ou oligossintomático, em que as

manifestações digestivas estão ausentes ou, quando presentes, ocupam um segundo

plano. Os pacientes podem apresentar manifestações isoladas, como, por exemplo,

baixa estatura, anemia por deficiência de ferro refratária à reposição de ferro por via

oral, anemia por deficiência de folato e vitamina B12, osteoporose, hipoplasia do

esmalte dentário, artralgias ou artrites, constipação intestinal refratária ao tratamento,

atraso puberal, irregularidade do ciclo menstrual, esterilidade, abortos de repetição,

ataxia, epilepsia (isolada ou associada à calcificação cerebral), neuropatia periférica,

miopatia, manifestações psiquiátricas (depressão, autismo, esquizofrenia), úlcera

aftosa recorrente, elevação das enzimas hepáticas sem causa aparente, adinamia,

perda de peso sem causa aparente, edema de surgimento abrupto após infecção ou

cirurgia e dispepsia não ulcerosa.

Forma assintomática ou silenciosa

Caracteriza-se por alterações sorológicas e histológicas da mucosa do intestino

delgado compatíveis com DC, na ausência de manifestações clínicas. Essa situação

pode ser comprovada especialmente entre grupos de risco para a DC, como, por

exemplo, parentes em primeiro grau de pacientes celíacos, e vem sendo reconhecida

com maior frequência nas últimas duas décadas, após o desenvolvimento dos

marcadores sorológicos para a doença.

A dermatite herpetiforme, considerada DC da pele, que se apresenta com

lesões cutâneas do tipo bolhoso e intensamente pruriginoso, relaciona-se também

com intolerância permanente ao glúten. A cistinúria é uma doença hereditária do

transporte renal de aminoácidos, caracterizada pelo aumento da excreção urinária de

41
cistina e de aminoácidos básicos (lisina, arginina e ornitina). A patologia é causada

por um defeito no mecanismo de transporte luminal partilhado por estes aminoácidos

nas células epiteliais dos túbulos renais e do trato gastrintestinal. A expressão do

déficit em nível intestinal não tem consequências clínicas (uma vez que é compensada

pela absorção de oligopeptídeos), mas em nível renal verifica-se fraca reabsorção

destes aminoácidos, o que conduz à sua hipersecreção urinária. Dada a elevada

concentração e a baixa solubilidade da cistina na urina a pH fisiológico, esta precipita

nos túbulos renais, levando à formação de cálculos. Algumas outras patologias

relacionadas ao metabolismo de proteínas e aminoácidos incluem:

» Poliúria: intestino não absorve prolina e os rins não a reabsorvem;

» Doença de HartNup: intestino não absorve aminoácidos neutros e os rins não os

reabsorvem.

Especificidade do metabolismo tecidual em situações de absorção, pós-


absorção e jejum

O equilíbrio das nossas reações químicas é dinâmico, ou seja, adapta-se às

variações do meio externo dentro de um intervalo, de modo a que as células

funcionem bem, ainda que as concentrações não sejam sempre exatamente as

mesmas. O objetivo final das células é produzir energia e manterem-se vivas, havendo

várias vias metabólicas responsáveis por esta finalidade, para além da preferencial. A

integração metabólica é a integração das várias vias metabólicas e o seu

funcionamento conjunto para o funcionamento da célula em questão.

42
As inter-relações entre os diferentes tipos de compostos são numerosas e deve

considerar-se todo o metabolismo celular como um conjunto de reações

harmoniosamente integradas. No estado alimentado, altas concentrações de glicose

e aminoácidos advindos da dieta chegam ao fígado. As moléculas de glicose são

internalizadas pelos hepatócitos com ajuda do transportador de glicose tipo 2 (GLUT-

2), que eficientemente permite que a concentração de glicose na célula hepática seja

semelhante à encontrada no sangue. No entanto, a utilização de glicose pela célula

só é possível após a fosforilação desta molécula. No hepatócito, a enzima que catalisa

esta reação, a glicoquinase, tem baixa afinidade pela glicose, sendo necessárias altas

concentrações de glicose para sua fosforilação. Isso é possível devido à capacidade

do fígado de utilizar preferencialmente ácidos graxos e aminoácidos como fonte

energética. Ainda que a insulina não influencie a captura de glicose pelos hepatócitos,

ela possui papel importante no uso deste substrato pelas células hepáticas. Uma

grande concentração de glicose aliada à presença significativa de insulina estimulará

a glicogênese, que será importante no fornecimento de substrato energético durante

períodos iniciais de jejum. Após ser internalizada pelo fígado, a glicose pode seguir a

via glicolítica e, posteriormente, o ciclo de Krebs, onde ocorrerá a oxidação e formação

da maior parte de ATP; pode seguir a via das pentoses, ou a via da glicogênese, que

formará um polissacarídeo de reserva energética (glicogênio), liberado durante

períodos de restrição alimentar. A produção desse carboidrato ocorre em quantidade

relativamente pequena e, após saturação e estímulo insulínico, o excesso é convertido

em AG após formação de um composto intermediário chamado acetil-CoA.

Durante a alimentação, boa parte dos aminoácidos que chegam ao fígado são

retidos e não alcançam a circulação sistêmica. No período pós-prandial, a alta

concentração de aminoácidos permite que o fígado extraia quantidade significativa de

43
energia por meio de sua oxidação, além de poder metabolizá-los da seguinte maneira:

entram na via das proteínas, para a síntese proteica; os aminoácidos sofrem

desaminação, entram na via metabólica dos carboidratos para formação de glicose ou

glicogênio; e lipídios, para a síntese de ácidos graxos e corpos cetônicos. Os AG são

esterificados juntos a uma molécula de glicerol para a formação de TG. Por sua vez,

estes são liberados na corrente sanguínea como VLDL, que sofrerão hidrólise pela

lipase lipoproteica (LPL) presente nos capilares do tecido adiposo, liberando AG e

glicerol para posterior armazenamento neste tecido. Além do fígado, o músculo

esquelético e o tecido adiposo também contribuem para a regulação do metabolismo

energético. Esses tecidos, principalmente o tecido adiposo, são capazes de

armazenar grandes quantidades de substrato energético, que serão utilizados no

período pós-absortivo. O transporte de glicose no músculo esquelético é realizado

pelo transportador de glicose tipo 4 (GLUT-4), que são dependentes de insulina. A

glicose pode sofrer oxidação para produção de energia ou ser armazenada como

glicogênio. Já os aminoácidos que o fígado não capturou são usados para a síntese

proteica no músculo esquelético. As proteínas são degradadas de forma contínua e

os aminoácidos provenientes desse processo são acrescentados a um pool

intracelular. Ao mesmo tempo, novas proteínas são sintetizadas, apanhando

aminoácidos desse mesmo pool. Durante a alimentação, a quantidade de

aminoácidos armazenados é grande devido a sua absorção. Adicionalmente, a

quantidade de aminoácidos que saem dos depósitos para o metabolismo oxidativo é

pequena, devido à alta disponibilidade de glicose para a oxidação. Por isso, grande

quantidade de aminoácidos é direcionada à produção de novas proteínas. Desse

modo, a taxa de síntese sobrepõe-se à taxa de degradação e os aminoácidos são

estocados como proteína muscular. No tecido adiposo, durante o período absortivo, a

44
glicose pode ser transformada em glicerol que se unirá à AG para formar TG,

armazenados temporariamente nesse tecido. Os AG constituintes dos TG podem ser

oriundos de duas fontes: da lipogênese a partir da glicose no próprio tecido adiposo

ou da captação de quilomícrons e VLDL. A grande quantidade de glicose sanguínea

originada da absorção intestinal durante o estado absortivo é a fonte energética

imediata para a maioria dos tecidos, inclusive o sistema nervoso central. A glicose é

usada pela via da glicólise. Essa é a primeira etapa de oxidação, seguida pelo ciclo

de Krebs, de onde se completa a oxidação, sendo a principal via metabólica de

geração energética no organismo. Concomitantemente, no fígado e no músculo

esquelético há a formação de estoques de glicogênio e, no tecido adiposo há síntese

de TG. Sendo assim, o estado absortivo tem como característica o armazenamento

de substrato energético, que será utilizado durante a restrição alimentar. Ao mesmo

tempo, existe elevado uso imediato de glicose como fonte energética. Desse modo, a

alta concentração sérica de glicose observada logo após a alimentação é

momentânea, atingindo seus valores basais conforme sua captação tecidual.

Durante o estado pós-absortivo, o fígado é a primeira fonte de glicose. Nessa

fase, quando houver preponderância do glucagon sobre a insulina, glicogênio

estocado nesse órgão é degradado para liberar glicose no sangue, processo chamado

de glicogenólise O glicogênio é capaz de suprir a necessidade energética do

organismo por cerca de 4-5 horas apenas. Por isso, o fígado tem a capacidade de

produzir glicose por meio de um processo chamado gliconeogênese. A

gliconeogênese acontece com primazia no fígado por meio do estímulo pelo glucagon

e ocorre simultaneamente à glicogenólise hepática. Enquanto existir glicogênio, a

gliconeogênese ocorre com baixa velocidade, entretanto, quando exaurir o glicogênio

hepático, este processo acontecerá em velocidade máxima. Em vista disso, se

45
durante o jejum prolongado a manutenção glicêmica fosse feita apenas pela

gliconeogênese, resultaria em um alto custo metabólico, devido ao fato de esta via

causar significativa perda de massa muscular que segue o jejum. O substrato

precursor utilizado para a gliconeogênese são aminoácidos provenientes do músculo

esquelético (principalmente a alanina), glicerol oriundo da lipólise no tecido adiposo,

e lactato originado dos eritrócitos. O músculo sintetiza e libera em maior quantidade

os aminoácidos alanina e glutamina. A glutamina é utilizada pelo epitélio intestinal,

linfócitos e macrófagos. Nesse processo, ocorre a conversão de glutamina em

glutamato, que forma α-cetoglutarato e alanina, a partir da transaminação com

piruvato. O α-cetoglutarato será convertido em piruvato e entrará na gliconeogênese

juntamente com a alanina. Ausência de mitocôndria nos eritrócitos faz com que essas

células extraiam energia a partir da glicólise anaeróbica, tendo como um dos produtos

finais o lactato. Este, por sua vez, participa do ciclo de Cori (também conhecido como

ciclo glicose-lactato), que ocorre com a gliconeogênese hepática, transformando o

lactato em glicose, disponibilizando-a para tecidos dependentes de glicose Nesse

período, o fígado obtém energia a partir da oxidação de AG à acetil-CoA, processo

denominado beta-oxidação. Estes AGs são mobilizados na lipólise juntamente com o

glicerol. Mesmo com a alimentação, a gliconeogênese a partir de aminoácidos

originados da dieta pode acontecer no tecido hepático por algum tempo. Isso se

chama gliconeogênese pós-prandial, sendo feito para fornecer o armazenamento

adequado de glicogênio hepático. A redução da concentração de insulina acarreta

diminuição da esterificação de AG captados pelo fígado, provenientes do tecido

adiposo, sendo estes levados à mitocôndria. Nesta organela, a minimização da

insulina sérica causa a repressão da enzima acetil-CoA carboxilase e consequente

redução da concentração de malonil-CoA. Isso ativa a Carnitina Palmitoil Transferase

46
(CPT-1), enzima que participa da oxidação dos AG, aumentando, assim, a produção

de acetil-CoA, que será usado para a síntese dos corpos cetônicos. Nesse grupo estão

inseridos a acetona, o acetoacetato e o beta-hidroxibutirato, que são compostos

solúveis em água advindos da oxidação lipídica, sintetizados nas mitocôndrias

hepáticas e renais durante o jejum prolongado. Neste caso, o acetil-CoA originado da

beta-oxidação de AG no tecido hepático está desviado para a gliconeogênese,

juntamente com o oxaloacetato, reduzindo a atividade do ciclo de Krebs. Os corpos

cetônicos produzidos têm como função fornecer substrato energético alternativo à

glicose e aos tecidos extra-hepáticos. O sistema nervoso central adapta-se

lentamente à mudança de disponibilidade de substrato energético e, dentro de alguns

dias, começa a utilizar preferencialmente corpos cetônicos ao invés de glicose. A

capacidade adaptativa do sistema nervoso central quanto ao uso de diferentes

substratos como fonte de energia é um mecanismo de preservação das proteínas do

músculo esquelético, pois no jejum a continuidade da gliconeogênese implicaria a

degradação proteica. Contudo, a síntese contínua de corpos cetônicos causa uma

importante diminuição de lipídios, um estoque muito maior do que o proteico, e assim,

disponível em maior quantidade. Devido à manutenção da gliconeogênese moderada

e o aumento na produção de corpos cetônicos, o organismo é capaz de manter o jejum

prolongando. A função do fígado como liberador de glicose e corpos cetônicos durante

o período pós-absortivo é essencial para o funcionamento do sistema nervoso central

e outros tecidos.

Os adipócitos são as únicas células do organismo especializadas em estocar

TG, com capacidade de mobilizá-los (lipólise) de acordo com a necessidade

energética do indivíduo. O acúmulo lipídico em outros tipos celulares pode causar

lipotoxicidade e indução da apoptose. Para fornecer energia a partir de lipídios a

47
outras células do corpo, é necessário que ocorra a hidrólise dos TG presentes no

tecido adiposo e, consequentemente, liberação de AG e glicerol na corrente

sanguínea, processo denominado de lipólise. A lipólise é regulada por vários

hormônios, tendo que a noradrenalina papel extremamente importante nesse

processo. A liberação de noradrenalina, pela ativação do sistema nervoso simpático,

estimula os adipócitos, desencadeando uma cascata de sinalização que resulta na

fosforilação da lipase hormônio sensível (HSL), ativando-a e descolando-a do

citoplasma para a gotícula lipídica, fosforilando também as perilipinas, proteínas que

envolvem a gotícula de lipídios, dificultando a ação das lipases. As perilipinas, quando

fosforiladas dissociam-se da gotícula de lipídeos, permitindo a ação dessas enzimas.

Ao mesmo tempo, a presença de hormônios glicocorticoides estimula a ativação de

uma lipase chamada desnutrina, que catalisa a hidrólise dos triacilgliceróis em

diacilglicerol (DAG). O HSL ativado então hidrolisa DAG em monoacilglicerol (MAG),

que posteriormente sofrerão a ação da MAG lipase. O resultado dessa sequência de

eventos é a geração de uma molécula de glicerol e 3 AG, sendo liberados na corrente

sanguínea e utilizados para a síntese de glicose no fígado, no caso do glicerol; e os

AG serão usados por muitos tecidos ou para a produção de corpos cetônicos no fígado.

Os hormônios tireoideanos também exercem influência sobre o metabolismo. Um dos

efeitos da diminuição da triiodotironina (T3) é causar a redução geral do metabolismo

basal em até 25%, minimizando também a proteólise. No decorrer da primeira semana

de jejum, ocorre o favorecimento da liberação de epinefrina, contudo, as alterações

esperadas relacionadas ao aumento do metabolismo não acontecem, devido a esta

elevação estar associada à redução das concentrações de T3. As mudanças assim

ocorridas contribuem para a redução da taxa metabólica, que ocorre visando reduzir

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o consumo das reservas energéticas. Além da insulina e do glucagon, outros

hormônios atuam sobre a glicemia e o metabolismo de macronutrientes.

Regulação hormonal sobre a glicemia e o metabolismo de macronutrientes.

O estado bem-alimentado: o fígado lipogênico. Imediatamente após uma

refeição rica em calorias, a glicose, os ácidos graxos e os aminoácidos entram no

fígado. A insulina, liberada em respota à alta concentração sanguínea de glicose,

estimula a captação do açúcar pelos tecidos. Parte da glicose é exportada para o

encéfalo para suas necessidades energéticas e parte para os tecidos adiposo e

muscular. No fígado, o excesso de glicose é oxidado a acetil -CoA, que é usada na

síntese de ácidos graxos que são exportados como triacilgliceróis em VLDLs para os

tecidos adiposo e muscular. O NADPH necessário para a síntese de lipídios é obtido

pela oxidação da glicose na via das pentoses-fosfato. O excesso de aminoácidos é

convertido em piruvato e acetil-CoA, que também são usados para a síntese de

lipídios. As gorduras da dieta de deslocam na forma de quilomicra, via sistema linfático,

do intestino para o músculo e o tecido adiposo. O estado de jejum: o fígado glicogênico.

Após algumas horas sem alimento, o fígado torna-se a principal fonte de glicose para

o encáfalo. O glicogênio hepático é degradado, e a glicosoe 1. fósfato produzida é

convertida em glicose-6. fosfato e, a seguir, em glicose livre, que é liberada para a

corrente sanguínea. Os aminoácidos procedentes da degradação das proteínas no

fígado e no músculo e o glicerol oriundo da degradação dos TAGs no tecido adiposo

são utilizados para a gliconeogênese. O fígado usa os ácidos graxos como seu

combustível principal, e o excesso de acetilCoA é convertido em corpos cetônicos que

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são exportados para outros tecidos; o encéfalo é particularmente dependente deste

combustível quando há deficiência de fornecimento de glicose.

A importância da bioquímica na nutrição deve-se ao fato de ela abordar o

metabolismo dos alimentos como um todo, desde o tipo de alimento ingerido até a

atuação dos hormônios envolvidos na digestão e absorção, lembrando que a

bioquímica e a fisiologia assim como outras disciplinas, devem andar juntas para

nosso maior aproveitamento no curso. Importante lembrar que a bioquímica também

está envolvida no metabolismo de patologias diversas que atingem a população e

trazem alterações na fisiologia e na bioquímica do indivíduo, refletindo em seu estado

nutricional.

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REFERÊNCIAS

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GIBNEY, M. J.(Ed.); MACDONALD, I. A.(Ed.); Roche, Helen M. Nutrição &

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