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NUTRIÇÃO NA

PRÁTICA ESPORTIVA
Sandra Muttoni
Métodos de cálculos das
necessidades de energia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Identificar os nutrientes que fornecem energia ao organismo.


„ Reconhecer a variação dos requerimentos nutricionais conforme as
modalidades esportivas.
„ Demonstrar alguns métodos que podem ser utilizados para estimar
as necessidades de energia dos atletas.

Introdução
A preocupação dos atletas quanto à alimentação, buscando o melhor de-
sempenho em suas atividades, é bastante comum. Uma oferta adequada
de calorias ao dia é fundamental para que o atleta satisfaça plenamente
seus requerimentos, sem falta ou excesso, atinja seus objetivos e melhore
a performance esportiva.
Neste texto, você vai estudar as recomendações de energia para
atletas e os principais métodos de cálculos para identificar tais reque-
rimentos. Além disso, você vai conhecer os nutrientes que fornecem
energia ao organismo.

Os componentes alimentares fornecedores


de energia
Você sabia que a alimentação diária deve oferecer ao organismo todos os
nutrientes necessários para a manutenção das funções vitais e das atividades
de trabalho, lazer e exercício físico? Todo o necessário deve ser em quantidade
e qualidade adequadas. Os alimentos são compostos por macronutrientes e
micronutrientes, além de fibras e água. Cada um desses compostos desem-
penha funções específicas, as quais, muitas vezes, se complementam.
2 Nutrição na prática esportiva

Chamamos de caloria a unidade de energia que se refere à capacidade dos


alimentos em fornecer “calor” ao organismo. Na linguagem mais prática, é a
representação e a abreviatura de quilocaloria (cal). A energia de que precisa-
mos para viver e realizar nossas atividades é fornecida especificamente pelos
macronutrientes, que são representados por carboidratos, proteínas e lipídios.
A Figura 1 mostra as diferentes quantidades necessárias desses elementos.

Figura 1. Os macronutrientes e o fornecimento de calorias.


Fonte: Wardlaw e Smith (2013, p. 36).

Carboidratos
Os carboidratos representam a principal fonte de energia para o organismo,
sobretudo para as células do cérebro e do sistema nervoso, além das hemácias
(glóbulos vermelhos do sangue). Os carboidratos também fornecem energia
para os músculos, de forma constante, com o intuito de manter as atividades
do dia a dia e para o exercício físico.
A quantidade de energia fornecida em cada grama de carboidrato é 4 cal.
Essa energia é prontamente disponibilizada para todas as células do corpo ou
armazenada sob a forma de glicogênio no fígado e nos músculos. Os alimen-
tos que mais fornecem carboidratos são açúcar de mesa, mel, geleia, frutas,
Métodos de cálculos das necessidades de energia 3

doces, arroz, batatas, milho, pães, biscoitos, macarrão, mandioca, feijões e


farináceos em geral. Para ter equilíbrio na qualidade energética proveniente
dos alimentos, os carboidratos devem oferecer de 45 a 65% da energia total
necessária ao dia. Muitas pessoas acreditam que os alimentos fonte de car-
boidrato fornecem apenas calorias, sendo os únicos que provocam ganho de
peso (sobrepeso ou obesidade). Isso não é verdade, pois os alimentos ricos em
carboidratos também fornecem outros nutrientes/compostos muito benéficos
para a saúde, como vitaminas, minerais e fibras.
Na prática esportiva, a alimentação precisa ser composta, em grande parte,
por alimentos fonte de carboidratos, correspondendo a até 65% do total de
calorias da alimentação diária (média de 60%). Para otimizar a recuperação
muscular, o consumo de carboidratos é de 5 a 8 gramas/kg de peso/dia. Em
atividades de longa duração e/ou treinos intensos, há necessidade de até 10
gramas/kg de peso/dia para a adequada recuperação do glicogênio muscular
e/ou o aumento da massa muscular. Para provas longas, os atletas devem
consumir entre 7 e 8 gramas/kg de peso/dia ou 30 a 60 gramas de carboidrato
para cada hora de exercício.

Proteínas
A maioria das estruturas e substâncias do organismo é composta por proteínas,
totalizando 17% do peso corporal. São essenciais à manutenção e regulação
do corpo. As seguintes funções corporais dependem das proteínas:

„ coagulação do sangue;
„ balanço hídrico;
„ produção de hormônios e enzimas;
„ formação e recuperação de tecidos
„ transporte de diversas substâncias na corrente sanguinea.

A quantidade de energia obtida a partir das proteínas é de 4 cal/grama


(mesma quantidade de cada grama de carboidrato). As principais fontes
alimentares de proteína são as carnes em geral e seus derivados, os laticínios
e ovos (proteínas de alto valor biológico), além dos feijões e das oleaginosas
(proteínas de baixo valor biológico). Em relação à qualidade da energia prove-
niente da alimentação, as proteínas devem oferecer 10 a 15% das necessidades
energéticas diárias do indivíduo, e este percentual é fácil de ser atingido.
O principal papel das proteínas é formar e manter os tecidos corporais
(função estrutural). Para que isso ocorra, as necessidades calóricas (de energia)
4 Nutrição na prática esportiva

do indívíduo precisam ser atingidas de maneira adequada. Caso contrário,


as proteínas serão desviadas, provocando desequilíbrio no metabolismo e
podendo desencadear o surgimento de doenças.
Quanto às modalidades esportivas, os exercícios físicos de força exigem
maior consumo de proteínas quando comparados aos exercícios de resistência.
Para os praticantes de atividades de endurance, a ingestão de 1,2 a 1,4 grama
de proteína por quilo de peso corporal é suficiente para contemplar a demanda
metabólica. Quando o objetivo é a hipertrofia muscular (modalidade de força),
atletas ou praticantes teriam suas necessidades atingidas com o consumo entre
1,6 e 1,7 grama de proteína por quilo de peso corpóreo ao dia, o que pode ser
contemplado a partir de uma alimentação equilibrada, na maioria das vezes.

Lipídios
Os lipídios, também conhecidos como gorduras, representam o macronu-
triente que mais oferece calorias ao organismo. Cada grama deste componente
alimentar fornece 9 cal, representando mais que o dobro da energia oferecida
em 1 grama de carboidrato ou de proteína. Esse fato exige atenção quanto
ao consumo, pois a ingestão excessiva de calorias e tem como consequência
o ganho de peso. Assim como os carboidratos e as proteínas, os lipídios são
fundamentais para a manutenção da saúde e, de modo geral, devem contribuir
com 20 a 35% da ingestão total de calorias.
Os principais alimentos fonte de lipídios são óleos vegetais, margarina,
manteiga, creme de leite, banha, toucinho e oleaginosas. O abacate e o coco
são frutas com bastante quantidade de gordura em sua composição. Em geral,
as recomendações para os praticantes de atividade física e esportes devem ser
as mesmas utilizadas para a população sedentária. O percentual de lipídios
em relação ao valor energético total (VET) diário deve ser de cerca de 20 a
30%, quantidade considerada suficiente para proporcionar ácidos graxos e
triglicerídeos para a obtenção de energia durante o exercício físico.
O tipo de gordura deve ser levado em consideração. Evitam-se as fontes
alimentares de gorduras saturadas e colesterol, priorizando-se o consumo
de alimentos fonte de gorduras insaturadas. Quando a prática de atividade
física é feita para reduzir os depósitos de gordura corporal (perda ponderal),
recomenda-se a menor ingestão de lipídios na dieta, pois os resultados plane-
jados serão obtidos mais rapidamente. Neste caso, o percentual de gorduras
em relação ao VET pode situar-se em torno de 20%, valor mais baixo indicado
dentro da faixa de recomendação.
Métodos de cálculos das necessidades de energia 5

O álcool não é considerado um nutriente, mas também fornece calorias ao organismo


e em quantidade muito próxima àquela proveniente dos lipídios. Cada grama de álcool
fornece ao organismo 7 cal. O corpo aproveitará a energia fornecida pelas bebidas
alcoólicas conforme o estado nutricional, a frequência e o modo de consumo. O álcool
pode gerar sobrepeso e obesidade em consumidores moderados e desnutrição em
usuários crônicos.

O atleta e suas demandas de energia


Você sabia que a demanda energética é específica para cada indivíduo? Ela
varia conforme o estágio de vida em que a pessoa se encontra e de acordo com
o seu estado de saúde. O esforço físico desenvolvido é também um fator que
influencia nos requerimentos energéticos, dependendo do tipo, da intensidade
e da duração da atividade esportiva.
O ideal é que a energia consumida seja peculiar às demandas do indivíduo,
caso contrário, ele poderá ter ganho ou perda de peso, além de alterações na
sua composição corporal. Nos atletas, o peso e a composição corporal reper-
cutem diretamente no condicionamento físico, causando impacto importante
no rendimento.

Equilíbrio energético
O equilíbrio energético tem grande importância na eficácia do treinamento
e da competição, pois o aumento ou a redução de peso, por menor que seja,
deve receber controle adequado. A necessidade do atleta é a ingestão de um
número suficiente de calorias, que forneça a energia que o organismo precisa.
Se isso não ocorrer, sua performance pode ficar abaixo do esperado.
Quando é frequente uma reserva baixa de calorias no organismo, o
atleta perde peso conforme utilizando a energia armazenada no seu corpo.
Já quando o atleta consome uma quantidade demasiada de calorias, estas
são armazenadas sob a forma de gordura e afetam negativamente o nível de
rendimento. Perceba, então, que o equilíbrio energético acontecerá quando
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a ingestão calórica for proporcional às necessidades totais do atleta, seja em


dias de treinamento ou de competições.

Necessidades de energia
O componente mais importante para o atleta – no treinamento esportivo e no
desempenho físico bem sucedido – é o fornecimento de quantidades ade-
quadas de calorias. Assim, ele consegue suportar o gasto energético e manter
a força, a resistência, a massa muscular e o estado de saúde. A necessidade de
energia varia conforme diversos fatores, como peso corporal, altura, idade,
gênero, taxa metabólica e tipo, frequência, intensidade e duração da atividade.
Para atletas em geral, considera-se que a atividade física aumente as ne-
cessidades energéticas de 1,5 a 1,7 vez a energia produzida, ou seja, cerca
de 37 a 41 cal/kg de peso corporal por dia, podendo ter variação de 30 a 50
cal/dia, conforme os objetivos propostos para cada atleta. Assim, as calorias
necessárias ao treinamento, ou à competição esportiva, precisam ser somadas
às necessárias no dia a dia, sendo que os requerimentos energéticos totais
podem variar bastante, conforme a especificidade do exercício. A Tabela 1
mostra alguns exemplos de dispêndio energético por atividade.

Tabela 1. Gasto energético aproximado de diferentes atividades e gastos calóricos proje-


tados para um indivíduo com 68 kg (valores referentes ao gasto energético total)

Total Total
cal/ de cal/ de
Atividade kg/h cal/h Atividade kg/h cal/h

Aeróbica – pesada 8 544 Equitação 5,1 346

Aeróbica – média 5 340 Patinação no 5,8 394


gelo (18 km/h)

Aeróbica – leve 3 204 Corrida – média 9 612

Trilha com mochila 9 612 Corrida – lenta 7 476

Basquete 10 680 Ficar deitado 1,3 89


– vigoroso – relaxado

Boliche 3,9 265 Frescobol – social 8 544

(Continua)
Métodos de cálculos das necessidades de energia 7

(Continuação)

Tabela 1. Gasto energético aproximado de diferentes atividades e gastos calóricos proje-


tados para um indivíduo com 68 kg (valores referentes ao gasto energético total)

Total Total
cal/ de cal/ de
Atividade kg/h cal/h Atividade kg/h cal/h

Ginástica 8 544 Patinação 5,1 346


calistênica com rodas
– pesada

Ginástica 4 272 Correr ou marchar 13,2 897


calistênica – leve (18 km/h)

Canoagem 3,3 224 Esqui em 8,8 598


(4 km/h) montanha
(18 km/h)

Limpeza (feminina) 3,7 253 Dormir 1,2 80

Limpeza 3,5 236 Natação (0,4 km/h) 4,4 299


(masculina)

Cozinhar 2,8 190 Tênis 6,1 414

Ciclismo (20 km/h) 9,7 659 Vôlei 5,1 346

Ciclismo (5 km/h) 3 204 Caminhada 4,4 299


(6 km/h)

Vestir/tomar banho 1,6 106 Caminhada 3 204


(4 km/h)

Dirigir 1,7 117 Esqui aquático 7 476

Comer (sentado) 1,4 93 Levantamento de 9 612


peso – pesado

Fazer compras no 3,6 245 Levantamento 4 272


supermercado de peso – leve

Futebol (toque) 7 476 Limpeza de janela 3,5 240

Golfe (usando 3,6 244 Escrever (sentado) 1,7 118


carrinho
motorizado)
8 Nutrição na prática esportiva

As modalidades de resistência – também chamadas de endurance ou


aeróbio – consistem na realização de exercícios que necessitam do oxigênio
para a produção de energia, como corrida, ciclismo e remo. Estes exercícios
são fundamentais para aprimorar as capacidades pulmonar e cardiovascular
e requerem maior quantidade de energia quando comparados às atividades
de força.
O treinamento de força é um conjunto de exercícios cujos objetivo é au-
mentar a força física do praticante. Trata-se de uma modalidade de exercícios
resistidos na qual o indivíduo realiza movimentos musculares contra uma força
de oposição, como os exercícios com pesos, por exemplo. No treinamento de
força, há aumento do dispêndio/gasto energético nos exercícios que envolvem
grandes grupos musculares. Esse tipo de treino envolve também alta inten-
sidade, grande volume de atividades e menores intervalos de recuperação, o
que pode gerar perda de massa corporal gorda. Por isso, sua aplicabilidade é
muito importante em pessoas que estão acima do peso.

O excesso de peso pode influenciar o rendimento esportivo e a performance do atleta


de modo negativo. Na avaliação da composição corporal, verificando-se excesso de
gordura, o indivíduo deve ser orientado a reduzir a ingestão de alimentos, em cerca
de 200 a 500 cal/dia, e associar essa conduta a um programa de exercícios regulares,
até que o percentual de gordura desejável seja alcançado.
O melhor desempenho físico do atleta é influenciado muito mais pelo bom hábito
alimentar do que pela eliminação de alguns alimentos. Não há alimentos ou combinação
destes que compensem a falta de treinamento.

Como estimar as necessidades de energia para


atletas?
O desempenho físico durante o exercício depende de vários fatores. Um
deles, que merece destaque, é o valor energético total (VET), definido como
a quantidade total de calorias que uma pessoa deve consumir. Portanto, o
primeiro alvo a ser atingido é o consumo satisfatório de um nível calórico
adequado. É claro que a necessidade de ganho, perda ou manutenção do peso
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deve ser sempre considerada nesse cálculo, além do volume e da intensidade


do exercício físico.
Estima-se que um programa de exercício físico, durante 30 a 45 minutos
diários três vezes por semana, possa ser cumprido com uma dieta habitual
(1.800 a 2.400 cal/dia ou de 25 a 30 cal/kg de peso/dia). Essa estimativa se dá
porque a demanda oriunda desse tipo de programa, em geral, não ultrapassa
200 a 400 cal por sessão. Entretanto, programas mais intensos, com 2 a 3 horas
por dia, 5 a 6 vezes por semana, podem exigir de 600 a 1.200 cal, ou até mais,
por hora de exercício (50 a 80 cal/kg de peso/dia).
Há duas maneiras muito precisas para definir o gasto energético no exer-
cício: os testes ergoespirométricos – que medem o volume de oxigênio
consumido – e os equivalentes metabólicos gastos (METs). Os METs re-
presentam o consumo de oxigênio do indivíduo da seguinte forma: 1 MET
corresponde a cerca de 3 mL/kg/min de oxigênio consumidos em repouso.
O gasto energético na atividade física pode ser expresso em múltiplos de
MET, ou seja, um exercício pode apresentar dispêndio energético de 3 MET,
significando três vezes a energia gasta em repouso.
No trabalho com atletas profissionais, a acurácia dos testes ergoespiro-
métricos torna-os praticamente indispensáveis. Porém, o custo elevado dos
equipamentos e de operação pode inviabilizar o método. Nesse momento, as
equações que estimam o gasto energético são alternativas viáveis (mesmo que
apresentem resultados menos precisos), ainda mais no atendimento de pessoas
fisicamente ativas. Podem ser utilizadas as equações de predição da Dietary
Reference Intakes (DRI) (IOM, 2000) ou da Organização das Nações Unidas
para Alimentação e Agricultura (FAO/OMS, 1985).
A necessidade de energia total diária deve ser o somatório de: taxa me-
tabólica basal em repouso (TMB), gasto energético nas atividades cotidianas
(ocupacionais, de laser, locomoção), energia para a prática de atividade física
e ajustes necessários para promover modificações na composição corporal,
quando necessário. Para atletas, as tabelas com estimativas do gasto energé-
tico durante determinado período de tempo (em MET ou em calorias, para
diferentes tipos de atividades físicas) podem ser muito úteis na presença de
limitações financeiras ou de tempo para a aplicação de métodos mais precisos.
Veja a seguir uma das maneiras mais utilizadas para definição das neces-
sidades de energia de atletas (AINSWORTH et al., 2000):
10 Nutrição na prática esportiva

Energia gasta com a atividade =

MET x peso (kg) x tempo de atividade (min)


__________________________________
60

Um boxeador de 78 kg, durante uma luta de 45 minutos de duração, teria um acréscimo


de 702 cal em suas necessidades diárias (12 MET x 78 kg x 45 min / 60).

A Tabela 2 mostra a você alguns valores de MET para o cálculo dos re-
querimentos energéticos diários de atletas. Confira!

Tabela 2. Equivalentes metabólicos (MET) conforme o tipo de modalidade esportiva

Atividade física MET

Alongamento 2,5

Arco e flecha 3,5

Atletismo (peso, disco, martelo) 4,0

Atletismo (obstáculo, barreira) 10,0

Balé 4,8

Basquete (competição) 8,0

Boxe (luta) 12,0

Caminhada (marcha) 6,5

Futebol casual 7,0

Futebol (competição) 10,0

(Continua)
Métodos de cálculos das necessidades de energia 11

(Continuação)

Tabela 2. Equivalentes metabólicos (MET) conforme o tipo de modalidade esportiva

Atividade física MET

Ginástica em geral 4,5

Hidroginástica 4,0

Jiu-jitsu 10,0

Judô 10,0

Caratê 10,0

Natação 8,5

Corrida 9,0

Spinning 9,0

Tênis 7,0

A fórmula de Harris-Benedict é outro método muito utilizado para es-


timar as necessidades calóricas diárias para que o organismo mantenha o
peso corporal atual. Este método baseia-se em cinco parâmetros diferentes
para calcular o numero de calorias recomendado: sexo, altura, peso, idade e
atividade física. Se o indivíduo consumir a quantidade de calorias sugeridas
pela fórmula, pode manter o peso e satisfazer as demandas energéticas diárias.

TMB masculino = 66,47 + (13,7 X P) + (5 X A) – (6,7 X I)

TMB feminino = 655,1 + (9,56 X P) + (1,85 X A) – (4,68 X I)


Em que:

„ P: peso corporal (kg)


„ I: idade (anos)
„ A: altura (cm)
12 Nutrição na prática esportiva

Para um homem de 70 kg, altura de 1,80 metro e 30 anos, isso equivale a


1.721 calorias de metabolismo basal. Uma mulher de mesma idade, 55 kg e
altura de 1,60 metro gasta 1.330 calorias em seu metabolismo basal.
Após o cálculo da TMB, multiplica-se o valor encontrado pelo gasto calórico
específico, conforme a modalidade esportiva e o tempo praticado. Assim, para
saber o total de calorias que a pessoa deve ingerir, considera-se o quanto ela
gasta por minuto em determinado esporte, de acordo com seu peso corporal
e intensidade do exercício. Esse é um cálculo estimado, e o gasto por minuto
em corrida pode variar entre os praticantes. Veja alguns exemplos na Tabela 3.

Tabela 3. Calorias gastas por minuto segundo a atividade realizada

Atividade Gasto calórico

Basquete 10 kcal/minuto

Boxe 11 kcal/minuto

Ciclismo 6 kcal/minuto

Corrida 10 kcal/minuto

Futebol 9 kcal/minuto

Ginástica olímpica 6 kcal/minuto

Handebol 12 kcal/minuto

Jiu-Jitsu 12 kcal/minuto

Judô 12 kcal/minuto

Musculação 5 kcal/minuto

Natação 9 kcal/minuto

Tênis 8 kcal/minuto

Vôlei 6 kcal/minuto
Métodos de cálculos das necessidades de energia 13

Um indivíduo de 70 kg, altura de 1,80 e 30 anos, tem metabolismo basal de 1.721 kcal.
Ele pratica corrida de uma hora por dia, gastando 600 cal adicionais (10 cal/min), as
quais serão somadas ao metabolismo basal. A necessidade energética deste corredor
é dada pela soma do resultado da Harris Benedict (1.721 cal) com o fator de atividade
física (600 cal), chegando a 2.321 cal/dia.

Para atletas que adotam uma alimentação fracionada, pode-se acrescentar


também a ação dinâmica específica que, em média, corresponde a 10% do
metabolismo basal e é calculada por meio da fórmula de Harris-Benedict.
Confira a fórmula:

VCT = Harris-Benedict + ADE (10% de Harris-Benedict) + AF


Em que:

„ VCT: valor calórico total


„ ADE: ação dinâmica específica
„ AF: fator atividade física

Então, para este indivíduo, seria: VET = 1.721 cal + 172 cal + 600 kcal =
2.493 cal.
De maneira geral, também podem ser utilizados os seguintes fatores
atividade:

„ atividades leves (1 a 3 vezes por semana): 1.375;


„ atividade moderada (3 a 5 vezes por semana): 1.55;
„ atividade intensa (6 a 7 vezes por semana): 1.725;
„ atividade extremamente alta (atletas profissionais): 1.9

Outro método que pode ser usado para calcular as necessidades de energia
de atletas é a equação da FAO/OMS, desenvolvido em 1985:

„ VET = TMB x FA, em que:


„ VET: valor energético total
14 Nutrição na prática esportiva

„ TMB: taxa metabólica basal


„ FA: fator atividade

A Tabela 4 apresenta as eequações para o cálculo da TMB.

Tabela 4. Equações para o cálculo da TMB.

Idade (anos) Masculino Feminino

0-3 60,9 P – 54 61,0 P – 51

3-10 22,7 P + 495 22,5 P + 499

10-18 17,5 P + 651 12,2 P + 746

18-30 15,3 P + 679 14,7 P + 496

30-60 11,6 P + 879 8,7 P + 829

Maior que 60 13,5 P + 487 10,5 P + 596

Na Tabela 5 você confere os valores para o fator atividade.

Tabela 5. Valores para o fator atividade.

Categoria de
atividade Masculino Feminino

Leve 1,55 1,56

Moderada 1,78 1,64

Pesada 2,10 1,82


Métodos de cálculos das necessidades de energia 15

Tome por base o mesmo indivíduo corredor citado no exemplo anterior. Seu gasto
basal é de 1.750 calorias com atividade física moderada. Pelo método de fator atividade,
ele deveria consumir 3.115 calorias por dia (1.750 cal x 1,78).

Como você viu, essa equação da FAO/OMS utiliza peso, idade e sexo
como base de um cálculo que serve também para estimar as necessidades de
energia de indivíduos não atletas.
Em 2001, uma nova versão dessa fórmula foi publicada. Assim como a de 1985,
ela estima a taxa metabólica basal do paciente, que deverá ser posteriormente
multiplicada pelo fator atividade para oferecer o gasto energético total do indivíduo.
Assim, pelo método FAO/OMS/ONU (2001), podemos estimar as neces-
sidades energéticas de esportistas, com:

GET = GEB × FA

onde:

„ GET = gasto energético total


„ GEB = gasto energético basal
„ FA = fator atividade física

As equações para o cálculo do GEB estão descritas na Tabela 6.

Tabela 6. Equações para cálculo de GEB

Idade (anos) Masculino Feminino

Menor que 3 59,512 × P – 30,4 58,317 × P – 31,1

3–10 22,706 × P + 504,3 20,315 × P + 485,9

10–18 17,686 × P + 658,2 13,384 × P + 692,6

18–30 15,057 × P + 692,2 14,814 × P + 486,6

30–60 11,472 × P + 873,1 8,126 × P + 845,6

Maior que 60 11,711 × P + 587,7 9,082 × P + 658,5


16 Nutrição na prática esportiva

Definido o GEB, seu resultado deverá ser multiplicado pelo fator atividade
correspondente, conforme exposto na Tabela 7, para encontrarmos o valor
do GET.

Tabela 7. Fatores de atividade para definição de GET

Atividade Intervalo de fatores

Sedentário ou atividade leve 1,40–1,69

Ativo ou atividade moderada 1,70–1,99

Vigoroso ou atividade vigorosa 2,00–2,40

Como você aprendeu na leitura deste texto, muitos métodos preditivos


podem ser aplicados para definir as necessidades de energia de atletas. Caberá
a você, profissional nutricionista, estipular qual método é o mais apropriado
para o momento do atleta, visto que nenhum mostra fidedignidade total quando
comparado a métodos “padrão-ouro”, como a calorimetria direta e a calorime-
tria indireta, por exemplo. Uma alternativa é você usar dois ou três métodos
de predição e calcular a média das necessidades de energia encontradas,
tornando o valor mais próximo possível em termos de adequação. Em geral, a
recomendação é que atletas homens que se exercitam por mais de 90 minutos
por dia tenham uma ingestão energética acima de 50 cal/kg; para mulheres
com o mesmo tempo diário de atividade, a ingestão é de 45 a 50 cal/kg.
Caso o atleta apresente fadiga com muita frequência, a primeira medida
a ser tomada é verificar se a ingestão calórica está adequada aos valores
propostos. Assim, a manutenção de um registro cuidadoso sobre o consumo
alimentar diário representa um aspecto fundamental no processo de controle
do equilíbrio energético e da performance esportiva.
Métodos de cálculos das necessidades de energia 17

AINSWORTH, B. E. et al. Compendium of physical activities: na updateof activity


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