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FILIPA JARDIM DA SILVA

Programa
1. Considerações acerca do diagnóstico e
Epidemiologia dos Distúrbios de Comportamento
Alimentar; Diagnóstico Diferencial

2. Bases Neuropsíquicas e endócrinas do comportamento


alimentar; Neurobiologia do apetite

3. Modelos de conceptualização

4. Entrevista Motivacional, Sessão Inicial e Avaliação

5. Modelos de Intervenção
Objetivos

- Ser capaz de diferenciar e compreender as diferentes


perturbações do comportamento alimentar bem como quadros
sem diagnóstico específico apresentando comportamentos
problemáticos;

- Adquirir conhecimentos sobre os principais fatores etiológicos


bem como as bases neurobiológicas e psicofisiológicas do
mecanismo de apetite e das escolhas alimentares;

- Explorar estratégias de comunicação para potenciar a relação


terapêutica;
Objetivos

- Conhecer alguns instrumentos úteis para avaliação de


distúrbios do comportamento alimentar;

- Compreender diferentes metodologias de intervenção


psicológica no âmbito das perturbações de comportamento
alimentar, diferenciando as indicações e características
inerentes à intervenção individual e à intervenção grupal;

- Adquirir bibliografia científica relevante para a temática em


análise.
O que é a Fome?

Pode definir-se fome como sendo uma resposta fisiológica à


necessidade de comida causada por sinais nervosos e
mensagens químicas originadas no cérebro e com ação no
mesmo, partindo primeiramente do hipotálamo.
A espécie humana desenvolveu um conjunto complexo de
mecanismos que regulam a fome, envolvendo o cruzamento de
mais de 50 sinais químicos e físicos, que continua a ser
investigado.
A Teoria do Ponto de Equilíbrio pressupõe a existência de uma
espécie de balança interna responsável por equilibrar
constantemente as necessidades energéticas do corpo com a
energia ingerida.
O Ciclo Alimentar
Fome crescente
Sinais de fome dão
instrução para
comer
A começar a Vamos
sentir fome comer!

Intervalo Ingestão
alimentar alimentar
Estou cheio

Saciedade é a satisfação entre Sinais de saciação levam a


refeições; determina o tempo parar; determinam a
que se ficará sem comer quantidade de comida ingerida
Quando o comportamento
alimentar adoece…

■ Por confluência de fatores psicológicos, determinantes


biológicos e fatores socioculturais podem surgir alterações
significativas do comportamento alimentar que se passam a
designar doenças ou perturbações do comportamento
alimentar.

■ As DCA’s são o exemplo da necessidade de paradigmas


integrativos de intervenção de forma a dar resposta à
multidimensionalidade presente na origem e desenvolvimento
destas problemáticas, com frequente comorbilidade no Eixo I e
II do DSM-V.
DSM-5 (maio 2013)

■ BED (Binge Eating Disorder) foi reconhecida como um


quadro diagnóstico individualizado pela primeira vez.
■ A anterior categoria EDNOS (Eating Disorder Not Otherwise
Specified) foi removida. Duas novas categorias foram
adicionadas: OSFED (Other Specified Feeding or Eating
Disorder) e UFED (Unspecified Feeding or Eating Disorder).
■ Inclusão de alguns distúrbios alimentares antes listados
noutros capítulos do DSM e agora agrupados juntamente com
as doenças de comportamento alimentar.
Quantas doenças do comportamento alimentar
são descritas no DSM-5?

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8
Feeding and Eating Disorders
Anorexia Bulimia
Nervosa Nervosa

Binge
Eating Pica
Disorder

Avoidant/
Rumination Restrictive
disorder Food Intake
Disorder
(ARFID)

OSFED UFED
1. Anorexia Nervosa
Critérios Diagnósticos

A. Restrição calórica levando a um baixo peso significativo


considerando o género, idade, desenvolvimento e saúde física.
Índice de massa corporal menor ou igual a 17,5 Kg/m2.
B. Medo intenso de ganhar peso ou tornar-se gordo mesmo
quando subnutrido.
C. Distúrbio no modo como o peso ou forma corporal são
vivenciados, indevida influência do peso no auto-conceito ou
denegação da gravidade do baixo peso.
1. Anorexia Nervosa
Tipos de Anorexia

Tipo Restritivo. Durante o episódio atual não ocorrem


comportamentos regulares de ingestão compulsiva ou atitudes
purgativas. Restrição severa da alimentação.
Tipo Ingestão Compulsiva/Purgativo. Durante o episódio atual
ocorrem comportamentos regulares de ingestão alimentar
compulsiva ou atitudes purgativas (vómitos, abuso de laxantes e
diuréticos, ou aumento do exercício físico).

Severidade
Média: IMC ≥ 17 Kg/m2 Peso (Kg)
Moderada: IMC 16-16,99 Kg/m2 -------------------------------
Severa: IMC 15-15,99 Kg/m2 [Altura (m) x Altura (m)]
Extrema: IMC < 15 Kg/m2
2. Bulimia Nervosa
Critérios Diagnósticos

A. Episódios recorrentes de ingestão alimentar compulsiva. Estes


episódios são caracterizados por:
1. Ingestão alimentar num curto espaço de tempo (menos de 2h) de
uma quantidade de comida significativamente maior do que a maioria
dos indivíduos tende a ingerir num período semelhante de tempo e em
condições semelhantes.
2. Sensação de perda de controle alimentar durante o episódio.

B. Recorrente utilização de mecanismos compensatórios para


prevenir o aumento de peso tais como vómito auto-induzido,
abuso de laxantes, diuréticos, enemas, jejum prolongado ou
exercício físico intenso.
2. Bulimia Nervosa
Critérios Diagnósticos

C. A ingestão compulsiva e os comportamento compensatórios


ocorrem em média pelo menos uma vez por semana, durante
três meses.

D. Auto-avaliação dependente do peso e forma corporal.

E. O distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de


Anorexia Nervosa.
2. Bulimia Nervosa
Severidade
Média: 1 a 3 episódios/smn de c. compensatórios inadequados.
Moderada: 4 a 7 episódios
Severa: 8 a 13 episódios
Extrema: Mais de 14 episódios
3. Binge Eating Disorder
Critérios Diagnósticos
A. Episódios recorrentes de ingestão alimentar compulsiva
caracterizados por:
1. Ingestão alimentar num curto espaço de tempo (menos de 2h) de
uma quantidade de comida significativamente maior do que a maioria
dos indivíduos tende a ingerir num período semelhante de tempo e em
condições semelhantes.
2. Sensação de perda de controle alimentar durante o episódio.
B. Os episódios de binge estão associados a três ou mais
variáveis:
1. Ingestão alimentar mais rápida que o normal
2. Ingestão alimentar até a uma sensação de enfartamento
3. Ingestão de grandes quantidades de comida sem fome física
4. Ingestão alimentar solitária por vergonha
5. Sentimentos de nojo de si, culpa e depressão
3. Binge Eating Disorder
Critérios Diagnósticos
C. Acentuado sofrimento em relação ao comportamento de
binge.
D. Os episódios de binge ocorrem, em média, pelo menos uma
vez por semana durante três meses.
E. O comportamento de binge não está associado a
comportamentos compensatórios inadequados como na
bulimia nervosa e não ocorre em exclusivo no decorrer de
quadros de anorexia e bulimia nervosa.

Média: 1 a 3 episódios/smn de compulsão alimentar (binge).


Moderada: 4 a 7 episódios
Severa: 8 a 13 episódios
Extrema: Mais de 14 episódios
4. PICA
Critérios Diagnósticos
A. Persistente ingestão de substâncias não alimentares, não
nutritivas por um período mínimo de 1 mês.
B. Esta ingestão não é apropriada ao estádio de
desenvolvimento.
C. Este comportamento alimentar não integra uma prática
cultural ou socialmente reforçada ou normativa.
D. Caso este comportamento alimentar ocorra no contexto de
outro transtorno mental (défice cognitivo, p. espetro do autismo,
esquizofrenia…) é suficientemente severo para garantir atenção
médica adicional.
5. Transtorno da Ruminação
Critérios Diagnósticos
A. Regurgitação repetida da comida por um período superior a um
mês, que pode constituir em remastigar, re-engolir, ou cuspir.
B. A regurgitação repetida não é atribuída a uma condição
gastrointestinal ou outra questão médica.
C. Este comportamento não ocorre em exclusivo no decorrer de um
quadro de anorexia nervosa, bulimia nervosa, binge eating ou
transtorno do consumo alimentar evitativo/ restritivo.

D. Caso este c. alimentar ocorra no contexto de outro transtorno


mental (défic cognitivo ou p. de desenvolvimento) é
suficientemente severo para garantir atenção médica.
6. Transtorno do Consumo
Alimentar Evitativo / Restritivo
Critérios Diagnósticos
A. Distúrbio alimentar caracterizado por falha persistente em ter
uma nutrição apropriada associada a um ou mais dos fatores:
1. Perda de peso significativa ou incapacidade de alcançar o peso
esperado face à etapa de desenvolvimento.
2. Deficiência nutricional relevante.
3. Dependência de uma alimentação enteral ou suplementos
nutricionais orais.
4. Interferência marcada com o funcionamento psicossocial.

B. O distúrbio não é melhor explicado por falta de comida ou por


uma prática social.
6. Transtorno do Consumo
Alimentar Evitativo / Restritivo
Critérios Diagnósticos

C. Este comportamento não ocorre em exclusivo no decorrer de um


quadro de anorexia ou bulimia nervosa.

D. Este transtorno não é atribuível a uma condição médica


concorrente ou melhor explicada por outro transtorno mental.
Quando este comportamento alimentar ocorre no contexto de outro
transtorno mental ou condição médica, é suficientemente severo
para garantir atenção médica adicional.
7. Other Specified Feeding
or Eating Disorder (OSFED)
Critérios Diagnósticos
Esta categoria aplica-se a quadros sintomatológicos de comp.
alimentar associados a sofrimento ou prejuízo social/ ocupacional
mas que não completam todos os critérios diagnósticos de um
transtorno alimentar. Exemplos:
A. Anorexia nervosa atípica: apesar de perda de peso, o peso atual
está dentro do esperado ou acima do normal.
B. BN ou BE (de baixa frequência ou duração limitada)
C. Síndrome de alimentação noturna
D. Distúrbio do vómito (comportamento utilizado para influenciar o
peso sem a presença de binge)
8. Unspecified Feeding
or Eating Disorder (UFED)
Critérios Diagnósticos

A. Esta categoria aplica-se a comportamentos alimentares que


prejudicam de forma significativa o funcionamento global mas não
cumprem totalmente os critérios diagnósticos de nenhum distúrbio
do comportamento alimentar.
B. Esta categoria pode igualmente ser utilizada num contexto em
que os profissionais de saúde não consigam aceder a informação
suficiente para um diagnóstico mais específico (ex.: urgência
hospitalar).
Nove factos sobre as P.A.

Facto #1: Muitas pessoas com P.A. parecem saudáveis apesar de


poderem estar gravemente doentes.
Facto #2: A culpa não é das famílias, e estas podem ser aliados
importantes no tratamento.
Facto #3: Um diagnóstico de P.A. é uma crise de saúde que perturba
o funcionamento pessoal e familiar.
Facto #4: As P.A. não são escolhas, mas doenças sérias com
influência biológica.
Facto #5: As P.A. afetam pessoas de todos os sexos, idades, raças,
etnias, formas e pesos corporais, orientação sexual e estatuto
socioeconómico.
Nove factos sobre as P.A.

Facto #6: As P.A. acarretam um risco acrescido de suicídio e


complicações médicas.
Facto #7: Os genes e o ambiente desempenham um papel
importante no desenvolvimento das P.A.
Facto #8: Os genes por si só não predizem quem desenvolve uma
P.A.
Facto #9: A recuperação total nas perturbações alimentares é
possível. A deteção e o tratamento precoce são muito importantes.
People have a hard time letting go of their suffering. Out of a
fear of the unknown, they prefer suffering that is familiar.

THICH NHAT HANH*

monge budista, pacifista e escritor vietnamita


Obesidade:
Fora do DSM-5 | Uma epidemia

■ A obesidade é desde o final do século XX um dos maiores


problemas de saúde pública.
Fórmula: grande abundância e variedade de alimentos ricos em
açúcar e gordura, com sabor apelativo e elevada densidade
energética + sedentarismo + alimentos de baixo custo + adição ao
açúcar = epidemia de obesidade.

■ Fator de risco para várias patologias; associada a custos


substanciais para os sistemas de saúde.
Como se regula o
comportamento alimentar?

■ Para além de fatores ambientais, comportamentais e sociais, o


comportamento alimentar humano é modulado também por
mecanismos biológicos internos.

Dois tipos de mecanismos distintos mas relacionados:


□ Mecanismos Homeostáticos
Regulação hormonal da fome, saciedade e dos níveis de
adiposidade
□ Mecanismos não Homeostáticos ou hedónicos
Sistema de recompensa cerebral
Vocabulário útil

■ Apetite: resposta integrada aos sentidos e a pensamentos


relacionados com comida que inicia ou atrasa o ato de comer.
■ Fome: sensação física desconfortável causada pela falta de
alimentos que inicia um comport. de procura de comida.
■ Saciação: o sentimento de satisfação e preenchimento que ocorre
durante uma refeição e que leva à interrupção do ato de comer. A
saciação determina a quantidade de comida consumida durante
uma refeição.
■ Saciedade: o sentimento de preenchimento e satisfação que
ocorre após uma refeição e que inibe a ingestão alimentar durante
um determinado período de tempo.
Para compreendermos o apetite
há que seguir para Norte
■ Cérebro! É no sítio do corpo
com menos gordura que residem
os comandos reguladores do
nosso apetite.
■ Hipotálamo: comando central
para o corpo.
- Hipotálamo Lateral: centro
da fome.
- Núcleo Ventromedial do
Hipotálamo (hipot. médio):
centro da saciedade.
O que estimula estes centros?

■ Principais fatores: Leptina, Grelina, Insulina, Hormona da


tiróide, Corpos mamilares, Amígdala e Sistema Límbico.
■ A Leptina e a Grelina são influenciadas pela falta de sono e pela
sede. A Grelina funciona a curto prazo: envia sinais de fome do
estômago de meia em meia hora. A Leptina funciona a longo prazo
e em condições de equilíbrio consegue superar a grelina.
▪ O NPY e o CART, que
regulam a G e a L, lutam
entre si para controlar a
bioquímica cerebral da
fome.
▪ O NPY faz par com a
G: baixa a temperatura
e o metabolismo do
corpo, + apetite.
▪ O CART faz par com a
L: aumenta o metab. e a
insulina que leva
energia às células
musculares.
■ As dietas com
grande restrição
alimentar provocam o
aumento de produção
de grelina, logo
aumentam os sinais a
pedir comida, que se
sobrepõem à nossa
força de vontade,
gerando reações
químicas que não
deixam alternativa
senão comer.
Químicos e Emoções

Os químicos do cérebro que mais influenciam as nossas emoções


▪ Noradrenalina (ou Norepinefrina) – monoamina, químico da típica
reação “enfrenta ou foge a sete pés” dos homens das cavernas.
▪ Serotonina – determinante de bem-estar
▪ Dopamina – o salão de festas do cérebro, promove a sensação de
prazer e recompensa e é particularmente sensível aos vícios e
dependências. Contribui para não sentirmos dor.
▪ GABA (ácido gama-aminobutírico) – faz-nos sentir como zombies e é
um dos químicos responsáveis pelo modo como a anestesia diminui a
resposta aos estímulos externos. É o principal neurotransmissor
inibidor no sistema nervoso central dos mamíferos.
▪ Óxido Nítrico – o químico da meditação. Ajuda a acalmar, este
potente neuropeptídeo é normalmente um gás de semivida curta, relaxa
os vasos sanguíneos, dilatando o seu calibre.
Químicos e Emoções

Objetivo:
manter o maior
equilíbrio neuro-
químico possível para
alcançarmos uma
sensação de satisfação
que nos impeça de
atingir altos e baixos a
nível hormonal, porque
isso nos levará a comer
alimentos que sabem
bem ao cérebro no
momento mas que
fazem mal à cintura.
Recapitulando…

■ Porque é que a comida funciona como estratégia para lidar com


emoções?
O hipotálamo, onde se encontra o centro de saciedade, é também a
zona do cérebro onde corpo e mente se conectam através de
químicos que comunicam com todo o corpo. Esses químicos
responsáveis pelas nossas emoções também estão na base de alguns
desejos alimentares.

Como grande amiga que é do hipotálamo, a hipófise envia os


químicos mensageiros para falar com o resto do corpo. É neste ponto
que o jogo de emagrecer se ganha ou perde – nesta ligação entre as
necessidades psicológicas e fisiológicas de nos alimentarmos.
Recapitulando…
■ Fatores que regulam a ingestão alimentar
-Regulação nutricional (regulação metabólica) – relativa à
manutenção de quantidades normais de nutrientes no corpo.
- Fatores que controlam o grau de atividade do centro de fome do
hipotálamo são:
a) decréscimo dos níveis de açúcar no sangue > + apetite;
b) o efeito dos níveis de aminoácidos no sangue > aumento reduz
a atividade de fome;
c) efeito do metabolismo da gordura –à medida que a quantidade
de tecido adiposo aumenta o ritmo de ingestão alimentar
diminui;
d) temperatura corporal – quanto menor mais sinais de fome –
deve-se à interligação entre os sistemas de regulação da
temperatura no hipotálamo e o sistema de regulação de comida
no hipotálamo lateral e núcleo ventromedial do hipotálamo.
Na ausência de equilíbrio
surge a Fome Emocional
Fome sem fome

Não surge por sinais


fisiológicos, pelo
contrário, ignora-os

Fome sem ligação à


sustentação da vida

Ataque pessoal
(agressão ao próprio
corpo)

Estratégia para lidar


com as emoções,
com o cansaço e
stress
Fome Física Fome Emocional
Estômago, barriga Onde é que se sente Boca a salivar, necessidade de
mastigar algo, agitação

Previsível, gradual, Frequência Urgente, imprevisível, hormonal,


3-5 h de intervalo, regular sobretudo à noite e sem companhia

Lento, consciente Ritmo Rápido, sem controlo, piloto automático

Abertura a dif comidas Outros Desejo por comidas específicas

Partilha das refeições Refeições feitas de forma isolada


Sensação de bem-estar Culpa, vergonha, mal-estar
É possível controlarmos o centro
de saciedade no nosso cérebro?
SIM! Como? Através dos alimentos que ingerimos.

Para o corpo os alimentos são como medicamentos; são


substâncias estranhas que vão alterar os processo químicos
naturais do corpo humano.
Quando o corpo recebe alimentos, ocorrem diferentes reações
químicas e há mensagens que são enviadas ao longo de todo o
sistema – ativando umas coisas e desativando outras.
Se por um lado é o corpo que internamente dá as ordens, por outro
somos nós que damos o tom dessas ordens através dos alimentos
que ingerimos.
A Era dos Low Fat e o
disparo da obesidade

Diretriz nos anos 70 EUA: gordura devia ser reduzida em 30-40%.


Alimentos Low Fat, 0% Fat invadiram o mercado.

Aumento dos açúcares adicionados e das calorias totais dos


alimentos.
Consumo da frutose, adoçante utilizado em muitos alimentos
processados, passou de 0 gramas por pessoa, nos anos 60, para
mais de 28 Kg/ ano o equivalente a 128.000 calorias.
Frutose não desativa os sinais de fome, HFCS (xarope de milho com
alto teor de frutose) não é encarada pelo cérebro como um
alimento normal.
Podemos confiar no nosso corpo?

Se deixarmos o nosso corpo e cérebro controlarem instintivamente


o que comemos naturalmente chegaremos a um peso saudável.

DESAFIO!
Sabermos ouvir o nosso corpo no ambiente alimentar atual.

O estado motivacional criado pela exposição e consumo repetido


de alimentos de elevada palatibilidade foi denominado como fome
hedónica (Lowe e Butryn):
o prazer obtido através do consumo de alimentos palatáveis, mais
do que as necessidades energéticas per si, determina a ingestão
alimentar em humanos, sobrepondo-se aos sinais homeostáticos e
assim promovendo o aumento de peso.
Para se ser bem sucedido no auto-controlo é necessário saber
como se falha.
A melhor forma de se ganhar auto-controlo é perceber como e
porquê perdemos o controlo.

Kelly McGonigal
Intervenção Pluridisciplinar

■ Aconselhamento Nutricional
■ Acompanhamento Psicoterapêutico Individual
■ Terapia Familiar
■ Acompanhamento Médico (Psiquiatria, Endocrinologia,
Ginecologia)
■ Medicação
■ Acompanhamento desportivo | plano de atividade física
Intervenção Integrada

A conceptualização das DCA’s deve ser encarada num todo muito


mais integrativo que qualquer corrente específica.
Os modelos e teorias que existem podem ser úteis para
compreendermos parte das dinâmicas emocionais e psicológicas
destas problemáticas. Permitem não só compreender a natureza
e dinâmica da mudança comportamental, como auxiliar no
processo de planeamento, implementação e avaliação das
intervenções.
Temos vários modelos de conceptualização CBT, DBT, ACT,
Sistémico, o Modelo das Crenças na Saúde, o Modelo do
Comportamento Planeado, o Modelo Transteórico, o Modelo de
Aprendizagem Social ou a Teoria da Auto-Determinação.
Conceptualização A.N.
Conceptualização B.N.
Conceptualização B.E.
Será a mudança comportamental
nas DCA’s um beco sem saída?

Em termos simplificados podemos colocar três grandes


níveis de desafio no processo de mudança comportamental,
exigindo não só diferentes recursos psicológicos à pessoa
em processo de mudança, como diferentes estratégias de
apoio por parte do profissional de saúde.

As intervenções com vista à mudança e controlo de impulsos


em DCA’s tocam-se com o tipo de intervenções adoptadas
perante estas problemáticas na ausência de alterações do
comportamento alimentar.
Fases da Mudança

Fase de Mudança Alvos da Intervenção Preferenciais

Intenção Conhecimento da doença, risco saúde, benefícios


pessoais, controlo pessoal, norma social,…
(Pré-contemplação/ Quantidades de motivação (+/-)
Contemplação/Preparação)

Ação Planeamento, auto-eficácia, confiança, prós e contras


(Preparação/ Ação) (balanço decisional), apoio social, comp. práticas…
Experimentar, variar, testar-se, conhecer-se

Manutenção Autonomia, significado, valores, auto-imagem,


auto- regulação, motivação intrínseca, objetivos de
(Ação/Manutenção) vida… Qualidade da motivação.
Modelo Transteórico
(ou Modelo das Fases de Mudança)
Entrevista Motivacional
■ Assenta num conjunto de técnicas frequentemente muito úteis
no processo de promoção da motivação em mudança
comportamental, especialmente quando existe ambivalência ou
resistência face ao processo.

■ Os pontos centrais da sua aplicação inspiraram-se em várias


teorias psicológicas, combinando elementos diretivos e não
diretivos dos paradigmas Cognitivo-Comportamental, Sistémica
e Rogeriano.
Entrevista Motivacional
■ O 1º princípio norteador da mudança deve ser o explorar da
ambivalência. O “sim, mas…” é o reflexo deste limbo entre o
manifestar do desejo da mudança e a ligação ao comportamento
atual.
Seis elementos chave podem ser identificados para o
delineamento de intervenções que incluem estratégias de
mudança, com base na entrevista Motivacional - FRAMES:
. (F) Feedback - Informação de retorno
. (R) Responsability - Responsabilidade
. (A) Advice - Aconselhamento
. (M) Menu - Lista de opções
. (E) Empathy - Empatia
. (S) Self-efficacy - Auto-eficácia
O Profissional e a Mudança
A mudança é mais provável de ocorrer se os clientes forem
ajudados a tomar as decisões por si, ao invés de lhes ser prescrito o
que deve ser feito. A decisão de mudar é muitas vezes difícil e pode
suscitar sentimentos contraditórios no cliente.
Falamos então de um especialista consultor, em que há um
modelo de decisão partilhada, ao invés de um especialista diretor
que assume a condução e o sucesso do tratamento com prescrições
a seguir.
O objetivo é a promoção de mudanças sustentadas, informadas,
desencadeadas internamente e refletidas. O papel do terapeuta é o
de promover e facilitar o processo de decisão promovendo na
pessoa o auto-conhecimento dos padrões comportamentais típicos,
nas suas limitações e dificuldades e os prós e contras de cada
decisão.
Da Teoria à Implementação Prática
A importância e utilidade da avaliação
Considerando a importância dos fatores físicos, cognitivos e emocionais
envolvidos no comportamento alimentar, a avaliação inicial deve
contemplar e integrar estas diferentes variáveis:

Consulta de nutrição
. Medições, pesagem – peso, altura, IMC, perímetro de cintura, composição
corporal
. Fatores de risco para doenças metabólicas e cardiovasculares
. Padrão nutricional
. Plano alimentar com ou sem suplementação
Consulta com Médico
. Análises
. Avaliar a necessidade de exames complementares
. Avaliar a necessidade de medicação psiquiátrica
Entrevista inicial feita por psicólogo clínica ou psiquiatra

. Idade, situação familiar e outros dados demográficos


. Peso e altura, história sobre flutuação de peso, peso mínimo e máximo,
estratégias utilizadas para perda de peso, pesquisa entre acontecimentos de
vida vs oscilações de peso, DCA’s na família
. História da infância e puberdade, colocando o foco no padrão alimentar,
auto-estima, diálogo interno, perfeccionismo, segurança
. Estilo de vida (rotina diário, sono, exercício físico)
. Alimentação
. Rede de suporte, socialização, lazer
. Problemas de saúde e medicação, doenças na família
. Objetivos pessoais e motivação presente para a mudança
Instrumentos de avaliação psicológica
. IPEV – Inventário do Peso e Estilo de Vida (tradução do Weight
and Lifestyle Inventory – WALI).
. Escala de Satisfação com a Vida
. SCL-90-R
. MCMI-II (Inventário Clínico Multiaxial de Millon)
. EDI-2 (Inventário de Perturbações do Comportamento Alimentar)
. BES (Escala de Compulsão Alimentar)
. BSQ (Body Shape Questionnaire)
. Escala de Figuras de Stunkard – Figure Rating Scale (FRS)
. EDE-Q Eating Disorders Examination Questionnaire (EDE-Q 6.0)
. Yale Food Addiction Scale
. Body Attitudes Test (BAT)
. Body Attitudes Questionnaire (BAQ)
O Profissional e a Mudança: Sessão inicial
A sessão inicial tem especificidades e questões particulares a abordar,
pelo que lhe deve ser reservado tempo adicional sempre que possível.
Marcar o tom certo desde o início, estabelecer papéis e regras,
estabelecer uma relação de confiança, expressar empatia (diferente de
simpatia) enquadrar o que se vai passar e estabelecer uma relação de
confiança, e explorar a ambivalência face à mudança análise de forças
(pontos fortes e fracos a considerar para implementar um
comportamento) são aspetos fundamentais nas primeiras duas sessões.

Cuidados na expressão de empatia


T: Concordo consigo, isso é difícil T: Percebo o que está a passar
C: Vê, eu bem disse C: Não… não pode perceber, você …
/ não é consigo

T: Acredito que lhe esteja a ser muito difícil lidar com…


T: Percebo que para si não esteja a ser fácil…
Questões que evocam desvantagens em relação a situação presente
. O que o/a preocupa na situação atual?
. O que o/a leva a pensar que precisa de fazer algo acerca de …?
. Que dificuldades/obstáculos lhe levanta a situação…
. O que é que existe na sua situação que pode levar as outras pessoas a
considerarem que há razões para se preocuparem?
. De que forma(s) isto o/a pode preocupar?
. O que pensa que poderia acontecer se não mudasse nada?

Questões que evocam vantagens da mudança


. O que gostaria que acontecesse para que as coisas fossem diferentes?
. Quais seriam os pontos positivos de alterar a sua relação com a comida?
. Se tivesse um génio da lâmpada a conceder-lhe um desejo, o que lhe
pediria?
. O facto de estar aqui significa que, pelo menos uma parte de si, pensa
que é tempo de mudar. O que lhe diz essa parte de si?
. Como gostaria que estivesse a sua vida daqui a cinco anos?
. Quais serão as vantagens de operar essa mudança?
Questões que suscitam optimismo acerca da mudança:
. O que o/a leva a considerar que, se decidir mudar, consegue concretizar
essa mudança?
. Quando na sua vida quis fazer algo e conseguiu, como o fez na altura?
. Que características suas podem funcionar como um apoio nesta
mudança?
. Que apoio sente que precisa dos outros para ser bem sucedido?

Contrato Terapêutico
! Anorexia ! Sigilo – risco de vida
Responsabilização

Definição de objetivos terapêuticos


uma intervenção colaborativa, em que se deve apresentar a
estrutura da intervenção, tempo das sessões, frequência
Estratégias a Implementar

Gestão de Barreiras e Resistências

Ao longo das sessões e na implementação de várias estratégias,


nem sempre o espírito colaborativo se mantém entre terapeuta-
cliente. Dificuldades e barreiras vão muitas vezes surgir e
alguma desmotivação face a insucessos pode emergir.

No sentido de evitar que barreiras normais comprometam o


sucesso da intervenção, o terapeuta deve estar atento aos sinais
de resistência, enquadrando-os e fazendo os ajustes necessários.
Estratégias a Implementar
Gestão de Barreiras e Resistências

Sinais de resistência, oposição, bloqueio do cliente


. Argumentação/contestação: sim mas… não dá porque…
. Agressão/dúvida: nunca tinha ouvido tal opinião… até li o
contrário
. Interrupção: não, eu não faço isso…
. Culpabilização: se a minha família ajudasse mais…
. Minimização: não é nada de especial…
. Relutância: não sei… não me estou a ver …
. Distração: desculpe, estava a dizer que…
. Provocação: eu sou caso perdido não sou?
. Silêncio ostensivo/mudança de assunto: vamos mas é falar de…
Estratégias a Implementar

Gestão de Barreiras e Resistências

Respostas a evitar
. Questão/Resposta (beco sem saída): sim mas, já viu que… já
experimentou fazer…
. Assumir preferências (fazer a escolha por): sim mas, porque
não faz…
. Papel de especialista (estimulando passividade): os meus
conhecimentos/ a minha experiência diz-me que …
. Rotular (estigmatizar): está em negação…
Estratégias a Implementar
Gestão de Barreiras e Resistências

Flexibilidade é a palavra-chave.

Melhores estratégias
. Metacomunicação
. Mudança de foco
. Reformulação (diz-me que é difícil mas já transparece no seu
discurso uma procura de soluções)
. Enfatização da escolha e controlo pessoais
. Dialética (fugir do preto & branco, substituir o mas e ou por e.
. Advogado do diabo – troca de papéis
Modelos de Intervenção
Abordagem Abordagem
CBT DBT
(Individual/Grupo) (Individual/Grupo)

Foca-se na regulação
Foca-se nos padrões emocional disfuncional, como
cognitivos e consequência de uma
comportamentais vulnerabilidade emocional e
desadaptativos. competências emocionais
inadequadas.

Procura substituir esses


comportamentos por
Enfatiza a aceitação para
alternativas mais adaptativas
alcançar a mudança
utilizando princípios do
potenciando a auto-regulação
condicionamento clássico e
operante
Plano de Intervenção CBT

• Auto-monitorização / Pesagem semanal


Passo 1 • Definição de um plano alimentar regular
e2

• Atividades alternativas aos comportamentos disfuncionais


Passo 3 • Praticar o processo de resolução de problemas
e4

• Estratégias para não voltar ao mesmo padrão alimentar


Passo 5 • Prevenir a recaída / Lidar com outros desafios
e6
● Marsha Linehan desenvolveu o modelo DBT para ensinar as
DBT pessoas a lidar com emoções sentidas como muito intensas. Notou
(Dialectical que empurrar as pessoas para a mudança não era tão eficaz como
Behavior ensinar-lhes a aceitar e mudar ao mesmo tempo
Therapy) •Núcleos centrais: Mindfulness, Regulação emocional, Tolerância
ao desconforto e Eficácia Interpessoal.

ACT ● Steven Hayes e os seus colegas Kirk Strosahl e Kelly Wilson


(Acceptance and desenvolveram este modelo, que ensina as pessoas a tornarem-se
Commitment mais flexíveis a nível psicológico, libertando-se de padrões de
Therapy) funcionamento rígido, construindo uma vida baseada em escolhas
ao invés de evitamentos e negações.

● Zindel Segal e os seus colegas Mark Williams and John Teasdale


MBCT desenvolveram este modelo em 2002, muito influenciados pelo
(Mindfulness- programa MBSR – Mindfulness-Based Stress Reduction (1990).
Based
Cognitive •Ensina as pessoas a praticar mindfulness para se libertarem de
loopings mentais desgastantes e de pensamentos distorcidos.
Therapy)
Between stimulus and response there is a space. In that space is
our power to choose our response. In our response lies our
growth and our freedom.
Viktor E. Frankl

Obrigada!

Filipa Jardim da Silva

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