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Universidade Rovuma: Lichinga

Nome: Adelino Jairosse Limitede

Licenciatura em Ensino De Matemática

Disciplina: Antropologia cultural de Moçambique

Docente: Geraldo Cebola Lucas

Resumo crítico da obra: “Um Discurso sobre as ciências”

O presente resumo faz parte de uma pesquisa científica da cadeira de antropologia cultural de
Moçambique, aquando o decente jazia abordado. No entanto para o efeito da crítica fora
escolhido o livro “O discurso sobre as ciências” escrito pelo autor Português Boaventura de
Souza Santos, 5ª edição, publicado originalmente em Portugal em 1987, é composto por 92
páginas, revistado, organizado pelo autor e também a sair pela Cortez Editora.

Logo no prefácio, Santos dá enfâse que a obra “ Um discurso sobre as ciências” é


reelaboração de um discurso proferido na abertura solene das aulas da Universidade de
Coimbra, no ano lectivo de 1985/86, com proposta de fazer uma oposição a corrente
positivista, propondo a visão de que o conhecimento científico é uma construção social e
objectividade não implica em neutralidade. Assim, o texto divide-se em três partes principais,
onde primeiro Santo vai apresentar o paradigma dominante e em seguida os motivos de sua
crise e apresentar ou especular sobre um novo paradigma, ou a nova ordem emergente, com
base nas condições teóricas e sociológicas que levaram essas mudanças tanto de crise como
de um novo modelo de pensar a ciência.

O paradigma dominante, segundo Santos, constituiu-se a partir da revolução científica no


século XVI sob o domínio das ciências naturais e apoiado num sistema totalitário onde se
nega toda e qualquer forma de conhecimento que não seguisse seus padrões. Esse modelo de
pensar a ciência tomou como base as leis da física até então estabelecidas, como o
heliocentrismo de Copérnico, as leis das órbitas de Kepler, a queda dos corpos de Galileu e a
ordem cósmica newtoniana, além dos discursos filosóficos de Descartes e Bacon.

A principal característica da ciência moderna é a invalidação sobre as evidências empíricas


imediatas, pois são consideradas ilusórias. Assim, é feito uma cisão entre natureza e homem,
privilegiando a natureza, pois para a ciência a natureza seria passiva de estudo e observação
poderia ser descrita em forma de leis universalizáveis. O método para tanto baseou-se na
observação sistemática e rigorosa dos fenómenos naturais. A matemática se torna a maior
aliada científica e seu instrumento para as análises, que modificou até o conceito de
conhecimento. Para a ciência agora conhecer passa a significar quantificar e aquilo que não
pode ser quantificado se torna irrelevante.

A descoberta de que a natureza poderia ser descrita em leis, propõe a ideia de uma ordem e
estabilidade, assim como a ideia de uma história cíclica em que os fenômenos são os mesmos
em todos os tempos se repetindo continuamente. Baseando-se na mecânica de Newton o
mundo físico é visto como uma máquina que pode ser determinada, que podem ser escritas
por leis físicas e matemáticas, e permanecem assim eternamente.

O mecanicismo acabou impulsionando também a possibilidade dos estudos sociais, e


começou-se a se pensar se seria possível formular leis sociais da mesma forma como foi
possível para a natureza. Bacon, Vico e Montesquieu deram grandes contribuições para esse
debate. Bacon acreditava que a capacidade da natureza humana de se moldar e se aperfeiçoar
conforme as condições sociais, jurídicas e políticas seria possível determinar. Para Vico era
possível prever os resultados das acções da colectividade humana, pois elas já eram
determinadas. E Montesquieu foi um dos grandes revolucionários ao estabelecer uma relação
entre as leis positivas e as leis determinadas pela natureza. Esses postulados são aprofundados
durante o século XVIII, criando as condições para se pensar as ciências sociais no século
XIX.

As formulações sobre as ciências como o racionalismo em Descartes e o empirismo de Bacon


condensou-se no positivismo oitocentista e dele sucedeu-se duas possíveis formas de
conhecimento, as ciências formais com a lógica e a matemática e as ciências empírica
mecanicista com a ciência da natureza e a ciência social. Diferente do seu início, o modelo
mecanicista passou-se a ser abordado de maneira diferente, e também desdobrando-se em
duas vertentes, a primeira vertente buscou aplicar ao estudo da sociedade os princípios
epistemológicos e metodológicos da ciência moderna do século XVI, o segundo modelo
busca reivindicar para as ciências sociais um estatuto próprio, e essa concepção deu início ao
que Santos define como a crise do paradigma dominante e o passo para a transição do
paradigma emergente. Entretanto, a crise também foi resultado de diversas condições sociais e
teóricas.
No campo teórico Einstein foi um dos grandes nomes, pois ele relativizou as leis de Newton
que era um dos pilares do método científico que se assentava. Além disso, Bohr e Heisenberg
demonstraram “que não é possível observar ou medir um objecto sem interferir nele”
(SANTOS, 2008, p.43). Essas questões põem em perspectiva a questão da neutralidade e
distância entre pesquisador e objecto tão defendida e colocadas como condições para se fazer
ciência.

Surge então uma nova forma de pensar a matéria e a natureza, ou seja, o objecto, diferente do
período moderno, fazer ciência agora deve considerar a história e os fenómenos devem ser
entendidos como imprevisíveis e desordenados. Do ponto de vista sociológico, esse novo
modelo traz reflexões sobre os próprios cientistas e suas pesquisas, agora considerando seus
motivos e interesses e a problematização sobre suas práticas. Passou-se a analisar a natureza
através das condições sociais e culturais a partir dos modelos organizacionais da investigação
científica. E o que antes seriam leis universais agora passaram a ser definidas como
possibilidades provisórias passíveis de contestação e mudanças.

Dessas mudanças, o autor propõe uma especulação com base nessa perspectiva da crise, via
um conjunto de teses e suas justificações. A primeira delas é que não tem mais sentido e
utilidade a proposta de uma separação entre ciência e natureza, pois desde Einstein a física e a
biologia já vinham postulando que os fenómenos a serem pesquisados ou como acontecem
sofrem interferência ou precisam da interferência, como provou Heisenberg e Bohr. Outro
ponto defendido é que todo conhecimento é local e total, enquanto o conhecimento procura
uma universalização eles partem de contextos locais específicos, partindo dos cientistas e seus
interesses.

Além disso, todo conhecimento é autoconhecimento, o novo paradigma pressupõe que a


ciência tem um carácter autobibliográfico e auto-referencial, o conhecimento não separa o
cientista do seu objecto, eles coexistem e se correspondem em uma relação íntima. E por fim,
todo conhecimento científico deve constitui-se em senso comum, a ciência moderna de
maneira geral produzia conhecimento e desconhecimento, nesse viés para a ciência pós-
moderna o conhecimento precisa ser traduzido, transformado e acessível, ou seja, servir a
sociedade.

Dado o exposto, a obra de Santos nos leva a uma trajectória histórica dos processos e do
próprio entendimento do fazer científico. Acredito assim como ele que estamos vivendo ainda
nesse paradigma emergente, mas que ainda falta muito tempo para que ocorra essa inversão
completa ou o abandono do paradigma dominante e que talvez nem seja possível essa cisão
completa. Ademais, a obra nos faz pensar sobre o nosso papel como pesquisador na
actualidade e reflectir se queremos apenas produzir por produzir ou se queremos realmente
buscar ou contribuir com nossa realidade

A primeira parte do livro é debativel, embora não concorde com a maioria dos pontos de vista
do autor. A segunda parte, entretanto, pode ser considerada apenas como uma sequência de
afirmações aleatórias, mas um pouco suscitam reflexões interessantes. Há uma quantidade
considerável de usos incorrectos de física, com analogias esdrúxula e mal-fundamentada e
uma série de assertivas vagas, a linguagem não é tão acessível assim (por exemplo pra quem
se deparar com esse livro se noção da gramática o livro fica um tremendo ruído e confusão), e
também o autor traz alguns conceitos e teorias específicas, quem não conhece acaba se
enrolando lendo o que torna um pouco desagradável. Apesar dos apesares, esse livro pode ser
considerado como sendo um livro importante desse tipo de literatura, se não pelas
contribuições (houveram realmente?), então pelo numero de citações em outros trabalhos (não
num sentido pejorativo). A ciência é vista como fechada (exacta: não contem erros), domínio
de poucos e afastada, de modo geral, do conhecimento popular. Santos tenta quebrar esse
paradigma em poucas páginas, trazendo elementos históricos, situação do presente e
alternativas para o futuro.

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