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Para mudar esse quadro o ensino de física não pode prescindir, além de um número
mínimo de aulas, da conceituação teórica, da experimentação, da história da física, da
filosofia da ciência e de sua ligação com a sociedade e com outras áreas da cultura. Um
fator determinante no encaminhamento de um jovem para o encantamento com o
conhecimento, para o estabelecimento de um diálogo inteligente com o mundo, para a
problematização consciente de temas e saberes, é a vivência de um ambiente escolar e
cultural rico e estimulador, que possibilite o desabrochar da curiosidade epistemológica.
Vale a pena fechar esta seção com mais uma lembrança a Einstein que, em 1948, devido
aos armamentos nucleares, escreveu: “Nós cientistas, cujo trágico destino tem sido ajudar
a produzir métodos de aniquilamento cada vez mais horríveis e eficazes, precisamos
considerar que é também nosso solene e transcendente dever fazer tudo que pudermos
para evitar que essas armas sejam usadas no brutal propósito para o qual foram
inventadas.
Embora Kepler tenha um texto publicado postumamente, cm 1634, três décadas antes de
O paraíso perdido, cabe mencioná-lo aqui como o precursor da ficção científica, que
influencia inúmeros escritores após o século XVII, e também porque incorporou ideias
científicas mais avançadas do que aquelas utilizadas por Milton. Pouco posterior ao
período vivido por esses poetas e caminhando numa direção contrária à deles, como que
antecipando a sugestão de Dawkins, o escritor francês Émile Zola, sob a influência do
pensa- mento do médico e filósofo Claude Bernard (1813-1878), pretendia impregnar o
romance e o texto teatral com o determinismo positivista da física clássica desse período.
Em oposição a essa visão de mundo, ancorada no determinismo clássico característico
da física newtoniana, ainda dominante à época de Zola, e numa espécie de antivisão
daquilo que ocorreria a partir de 1905, com o desenvolvimento da física contemporânea,
principalmente devido aos trabalhos de Einstein, outros escritores parecem prever o
desenvolvimento científico que viria.
De todos esses resultados surgiria uma mecânica completamente nova que, antes de
tudo, viria caracterizada pelo seguinte fato: nenhuma velocidade poderia ultrapassar a
velocidade da luz- como nenhuma temperatura pode ultrapassar o zero absoluto, porque
os corpos oporia uma inércia crescente às causas que tendessem acelerar seu
movimento, e essa inércia se faria infinita ao aproximar-se da velocidade da luz. Assim,
em lugar de supor que os corpos em movimento experimentam uma contração no sentido
do movimento e que essa contração é a mesma independentemente da natureza do
corpo e das forças a que, por ventura, está submetido, não poderíamos fazer uma
hipótese mais simples e mais natural? Caberia imaginar, por exemplo, que é o éter o que
se modifica ao fazer-se em movimento relativo com respeito ao meio material que
penetra, e que, uma vez modificado, não transmite as perturbações com a mesma
velocidade em todas as direções.
Outra questão a ser destacada, levantada pelo historiador da ciência Arthur Miller (1996),
é que não é surpreendente o fato de Einstein ter concebido, ainda em 1895, a experiência
de pensamento sobre as consequências de se viajar a velocidade da luz, em termos
visuais, de imaginação, quando era estudante em Aarau na Suíça. Essa passagem faz
parte de um diálogo em que a personagem "Viajante do tempo” está discutindo com
outras o significado do tempo e mostra que as indagações sobre as relações entre espaço
e tempo não eram uma exclusividade da ciência. Enquanto Dostoiévski estava negando
um novo conhecimento advindo da matemática e ao mesmo tempo demonstrando saber o
que se passava em seu tempo, Wells parece prenunciar o que a teoria da relatividade
traria a partir de 1905.
Um caso bastante significativo foi o de Claude Monet, que construiu vários quadros com
que repetia o motivo, mas mudava o instante em que pintava. Aproxima-se, dessa forma,
da concepção de espaço e matéria da relatividade, onde o primeiro não pode ser
concebido como uma caixa vazia que pode ser preenchida. A partir de 1907, com George
Braque e Pablo Picasso, surgiu o cubismo com uma proposta completamente nova de
representação do espaço, incorporando totalmente o tempo à espacialidade.
Cristaliza-se a tese de que a dialética não é somente a vida do pensa- mento, mas a vida
da natureza, a ideia de que a natureza não pode ser concebida sem movimento, que o
movimento é inseparável da matéria, da ideia de totalidade orgânica e de vida, em todos
seus graus de complexidade, e que nada no mundo está isolado é possível dizer que
existe uma estética da vida que na pós-modernidade tem privilegiado os processos
científicos, em detrimento de empreendimentos pluriculturais e ecumênicos. A concepção
transdisciplinar e multidimensional da estética moderna constrói seus pilares com
elementos teóricos centrados em problemas próprios da existência humana, da estrutura
e da dinâmica dos processos socioeconômicos, dos processos psíquicos e de prevalência
do libido, em processos imbricados na essência das coisas, em princípios de contestação
da ordem social e em projeções cósmicas da natureza, conforme linguagens elaboradas,
respectivamente, por Schopenhauer, Marx, Freud, Heidegger, Marcuse e Einstein. Este
quadro-síntese reafirma a concepção na qual o pensamento universal, a cultura e os
sistemas filosóficos que movimentam os processos científicos e tecnológicos ocidentais
estão, definitivamente, cindidos em duas grandes vertentes: os escudos sobre os
fenômenos da natureza, considerando esta entidade como parte isolada do homem, e os
escudos sobre o homem, sobre as comunidades, as sociedades, os processos
civilizatórios, enfim, sobre os processos materiais e culturais que dão suporte aos
elementos organizativos e dinâmicos da sociedade, considerando-os como independentes
da natureza.