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O que podemos entender por “meio termo”?

A ética prudencial ou ética da decisão prudencial é uma maneira de ser que revela um modo
de vida segundo a moral e a dignidade humana (EN, II, 1-6 apud PEGORARO, 2006, p. 51),
temperado pela experiência de vida e pelo juízo de uma pessoa prudente.

E, para não ficarmos limitados ao discurso, podemos pensar em exemplos no mundo da vida.
Acreditamos que uma pessoa prudente seria aquela que não julga sem antes muito ponderar,
não estaciona em lugar proibido, não aceita troco errado, não pensa em maximizar a
vantagem pessoal em detrimento do outro ou quando seus próprios merecimentos pessoais
não autorizam, dentre outras possibilidades.

Uma pessoa prudente sabe escolher entre um comportamento que poderia ser definido como
excessivo ou aquele que poderia ser visto como muito aquém das expectativas, por isso que
o hábito precisa do conhecimento. Uma pessoa prudente é capaz de definir os meios
adequados para uma boa conduta (EN, II, 2-4). Uma conduta que tem como ponto de partida
a ideia de fazer o bem.

Como a prudência deve orientar a prática, mas não é facilmente alcançada, Aristóteles
sugere a aplicação da equidade, que mostra a equidistância dos excessos como um princípio
de sabedoria, porque podemos errar com frequência e acertar pouco. Numa linguagem atual,
diríamos o provérbio: nem tanto ao mar, nem tanto à terra! O excesso ou a falta, os extremos
denotam deficiência moral, já o meio termo, a excelência moral (EN, II).

A ética da decisão prudencial, em Aristóteles, recomenda-nos aplicar a “régua de Lesbos”,


que nos ajuda a verificar a equidistância entre o excesso e a falta em cada caso particular.
Torna-se, assim, um excelente guia para as decisões de forma mais equilibrada (PEGORARO,
2006).

Em cada situação particular, teremos um meio termo ou justo meio, e isso decorre de uma
avaliação ponderada, segundo as circunstâncias. Aplicar a referida régua, em alusão aos

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arquitetos da ilha de Lesbos, que usavam uma régua flexível para medir pedras, significa
realizar uma ponderação de valores para um bom julgamento. Agir com sabedoria.

Como a finalidade da vida em sociedade é política, o ser humano deverá agir com sabedoria,
de maneira prudente e buscar a justiça, cujo objetivo é o bem comum a todos os cidadãos.
Ser justo significa cumprir a lei, mas também agir com moderação e garantir a igualdade e
a liberdade a todos os cidadãos (EN, V, 5-6).

Para Aristóteles, justiça e vida boa estão interligadas, o que nos oportuniza pensar em “vida
boa” de uma maneira muito diferente do que o senso comum brasileiro entenderia como tal.

E o que isso significa? Significa bem-estar social. Significa que, na cidade, cada um recebe o
que lhe é devido, de acordo com seu mérito, e isso não está vinculado ao poder aquisitivo
ou à suposta beleza física, por exemplo. O mérito dependerá da excelência, uma aptidão. A
esse propósito, Michael Sandel (2011, p. 234) explica:

Imaginemos que estamos distribuindo flautas. Quem deve ficar com as melhores? A resposta
de Aristóteles: os melhores flautistas. A justiça discrimina de acordo com o mérito, de
acordo com a excelência relevante. E, no caso das flautas, o mérito relevante é a aptidão
para tocar bem. Seria injusto basear a discriminação em qualquer outro fator, como riqueza,
berço, beleza física ou sorte (como na loteria).

A ideia de mérito, em Aristóteles, liga-se ao sentido daquele que cumprirá melhor o seu
propósito, pois, no raciocínio teleológico grego, indaga-se “quem merece o quê? ” (SANDEL,
2011), por isso acreditou ter encontrado um critério justo de distribuição de bens numa
sociedade. Com essa ideia aristotélica, podemos refletir sobre as ações afirmativas, por
exemplo.

Recebe o nome de ações afirmativas o conjunto de medidas especiais e temporárias,


tomadas pelo estado e/ou iniciativa privada com o objetivo de eliminar desigualdades
historicamente acumuladas (...) são políticas de correção de desigualdades e efetivação de
direitos. (Fonte: http://www.infoescola.com/sociologia/acoes-afirmativas/)

A política, assim como a ética, configura atividade essencial para o equilíbrio da cidade, da
pólis. Não será possível alcançar o nível de uma sociedade justa sem construir um caminho
para isso, e o caminho passará, necessariamente, pela excelência moral que interliga hábito
e conhecimento.

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A ética e a política em Aristóteles expressam, nesse horizonte, a nossa essência como seres
humanos, seres capazes de linguagem e de escolher entre o justo e o injusto, entre o certo
e o errado (Pol., liv. 1). Intimamente relacionadas, levam-nos a pensar que uma sociedade
só será justa, se seus integrantes forem virtuosos (CHALITA, 2003).

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