Você está na página 1de 4

UNIDADE II – Os primórdios da Filosofia do Direito

Sumário: 2.5 Aristóteles: Sistematização do


Saber Ocidental. Alma humana. Virtude.
Política. Justiça. Equidade.

2.5 ARISTÓTELES

2.5.1 SISTEMATIZAÇÃO DO SABER OCIDENTAL

Aristóteles foi o primeiro a sistematizar o conhecimento ocidental, dividindo-o em:

1 Ciências teoréticas: Estudam fenômenos que existem independentemente dos


homens (Metafísica, Física e Matemática).

2 Ciências práticas: Buscam o saber para alcançar a perfeição moral (Ética e


Política).

3 Ciências poiéticas: Estudam a forma de produzir e criar as coisas (Arte).

Observação: A Lógica não é propriamente uma ciência, mas uma superciência que
serve de instrumento para as outras ciências.

2.5.2 ALMA HUMANA

No seu escrito “De anima”, Aristóteles diz que todos os seres vivos tem alma.

Cada espécie traz em si uma potência que anima o corpo para atingir sua finalidade.

Por isso, classifica os seres com diferentes almas.

1 Alma vegetativa: são os seres com função orgânica de respirar, secretar, sintetizar;
são os vegetais que cumprem sua finalidade no mundo.

2 Alma sensitiva: são os seres com função sensorial como audição, visão, tato,
olfato, paladar; são os animais que cumprem sua finalidade.

3 Alma intelectiva: são os seres dotados de razão, emoção e ética; são os humanos.

Vale lembrar que as espécies vão acumulando funções, ou seja, os animais tem
função vegetativa e sensorial e os humanos possuem as três funções, sendo que o
que os diferencia das outras espécies é o seu intelecto que o capacita ao saber.

Aristóteles chama de thauma a aspiração do ser humano ao saber através da sua


estima pelos sentidos, valendo-se da memória e da experiência para pensar a
ciência e a consciência e fazer arte.

Essa espécie é o que se chama de homo sapiens sapiens.

Professor(a): Paulo Rogério de S. Garcia Disciplina: Filosofia do Direito Página 1


2.5.3 VIRTUDE

No seu escrito sobre “Metafísica”, Aristóteles diz que o homem possui a potência
não só ao saber, mas também à virtude.

Na sua obra Ética à Nicômaco, Aristóteles diz que todas as coisas tendem ao bem
de modo que tudo aquilo se faz está inclinado a um bem universal ou particular.

O bem ético diz respeito a coisas boas, assim não é uma ideia geral como um
elemento genérico ou comum, mas deve ser apreciado dentro do contexto em que
está inserido.

Por exemplo, o médico busca a cura do paciente, portanto, sua conduta deve estar
direcionada à saúde e deve dar o melhor de si para alcançar esse bem.

Sendo assim, a virtude é tudo aquilo que alguém faz de melhor, isto é, uma
qualidade que se conforma com o que é correto e desejável.

Aristóteles divide a virtude em intelectual e morali.

A virtude intelectual é uma sabedoria filosófica que busca respostas a temas de


interesse humano através de argumentos racionais (Theoria).

A virtude moral é a capacidade de fazer boas escolhas. Como ninguém nasce


virtuoso, a virtude moral deve ser um hábito que requer prática razão pela qual a
família e a escola são fundamentais nesse processo de aprendizagem (Práxis).

Tal é a finalidade do ser humano que é desenvolver seu potencial de virtude a fim de
atingir sua perfeição intelectual e moral de modo a encontrar a sua felicidade.

2.5.4 POLÍTICA

No livro “A Política”, Aristóteles afirma que o homem é um animal político porque sua
inclinação é a vida em sociedade.

Ensina que aquele que quer viver só, ou é um deus ou é um bruto. Com esse
preceito o ser humano pode seguir três caminhos. A vida social, a vida espiritual e a
vida selvagem.

A vida social é a vida baseada na virtude da fraternidade em que reina a política


como um conhecimento necessário ao convívio coletivo.

A vida selvagem é o oposto da vida anterior porque reina a barbárie.

A vida espiritual, embora não tenha sido explicada pelo filósofo, é a vida devotada a
Deus em silêncio e na solidão, sem apegos; é uma vida muito difícil porque encara o
vazio existencial, mas é plena de essencialidade.

Professor(a): Paulo Rogério de S. Garcia Disciplina: Filosofia do Direito Página 2


2.5.6 JUSTIÇA

No livro “Ética a Nicômaco”, Aristóteles fala da ética da justiça como principal virtude.
De modo geral, a justiça se expressa com meio-termo e como excelência moral.

Como meio-termo, a justiça sempre vai ser o equilíbrio entre duas possibilidades de
ação na justa medida entre a falta e o excesso. A coragem, por exemplo, é uma
ação moderada porque se situa entre o medo e a temeridade.

Como excelência moral, a justiça é a disposição da alma para desejar o que é justo
e fazer o que é justo. O desejo e a vontade de fazer o que é justo é o elemento
subjetivo da ação e a sua prática a realização da justiça. A justiça atinge a plenitude
quando se deseja e se age justamente.

Nesses termos, a justiça se divide em universal e particular.

A justiça é universal quando está presente em todas as virtudes. Sem ela as outras
virtudes são existem. Por exemplo, a caridade só é virtude se eivada de justiça. Dar
ao necessitado por sentimento de superioridade não é caridade por faltar o
sentimento de justiça; no caso há simplesmente um ato amoral de dar.

Já a justiça particular é uma virtude política, pois se manifesta na vida em


sociedade, se subdividindo da seguinte forma:
1 Distributiva
Justiça Particular 2.1 Voluntária
2 Corretiva
2.2 Involuntária

A justiça distributiva consiste na distribuição de bens e honrarias entre os membros


da comunidade. Como distribuir isso é uma questão de aporia de justiça.

Não significa uma distribuição igualitária entre os concidadãos, isto é, em partes


iguais pelo número de pessoas. Significa distribuir as coisas de acordo com um
critério. Por exemplo, em uma comunidade em que haja 100 pessoas e 100 quilos
de feijão, a justiça não é dar 1 quilo para cada pessoa. A distribuição deve ser feita
com base numa igualdade proporcional por meio de um critério que pode ser o
mérito ou a necessidadeii. Nas sociedades liberais o critério de justiça mais adotado
é o mérito e nas sociedades comunais, a necessidade.

A justiça distributiva é uma questão geométricaiii. Se alguém trabalha 10 horas e


recebe 20 reais, é porque o valor da hora é igual a 2 reais. Assim, 10x está para 20y,
ou seja, 10x.2 = 20y. Então, 11x = 22y porque 11x.2 = 22y.

Segundo Eduardo Garcia Mayneziv, há três realidades políticas na realização da


justiça distributiva: bens a distribuir, critério de repartição, instância superior. Por

Professor(a): Paulo Rogério de S. Garcia Disciplina: Filosofia do Direito Página 3


exemplo, as vagas de Medicina (bem) são distribuídas por mérito (critério) de acordo
com as regras da Instituição (instância superior).

A justiça corretiva é o meio-termo entre perdas e ganhos. Cuida das transações


entre particulares quando esta assume a forma litigiosa devendo um juiz interpor a
relação impondo a correção. Aplica-se nas relações de troca quando uma parte se
enriquece ilicitamente. Por exemplo, não pagar o aluguel no contrato de locação de
imóvel para desfrutar da posse gratuitamente.

A justiça corretiva assume o caráter voluntário quando a relação nasce da vontade


das partes que dispõe sobre algum objeto jurídico, sem ignorar a pessoa, o meio e o
fim a que se dirige a contratação. O que determina se um ato é justo ou injusto é o
caráter voluntário do agente, que deve ter conhecimento da pessoa a quem o ato
está sendo dirigido bem como os meios utilizados para a execução do ato.

Na justiça corretiva involuntária, a relação emana de uma ação danosa causada


por alguém que provoca a perda de outrem, devendo haver reparação pelo ilícito.

Enquanto na justiça corretiva voluntária a questão é de descumprimento contratual,


na involuntária a questão é de ressarcimento.

Do ponto de vista criminal, a retribuição penal envolveria um cálculo entre


particulares inserida na categoria de justiça corretiva involuntária, portanto os delitos
são considerados de natureza privada. Aristóteles separa as ações criminais em
sub-reptícias (furto, adultério) e violentas (roubo, assassinato)v. Embora os crimes de
natureza pública existissem no tempo de Aristóteles, ele não os discute.

2.5.7 EQUIDADE

A equidade é a medida entre a justiça da lei e a justiça do caso, isto é, a adaptação


do aspecto geral da lei à particularidade do caso. Diz respeito a realidade do fato
que é mutável devendo ser adaptada à realidade da lei que é objetiva.

Nesse sentido, a equidade é uma espécie de atualização do Direito, ou seja, uma


adaptação da lei para uma situação concreta não prevista pelo legislador, mas
corrigida ou atualizada pelo juiz.

A equidade é possível porque existe em toda lei um espírito que soluciona o fato.

iAlém da theoria e da práxis, Aristóteles concebeu a poiésis, mas não a reputava importante por
considerá-la uma mera atividade.
ii SILVA, Ivan de Oliveira. Curso moderno de Filosofia do Direito. São Paulo: Atlas, 2012.
iii MASCARO, Alysson Leandro. Filosofia do Direito. São Paulo: Atlas, 2010.
iv apud SILVA, op. cit., p. 51.
v apud MASCARO, op. cit., p. 66.

Professor(a): Paulo Rogério de S. Garcia Disciplina: Filosofia do Direito Página 4

Você também pode gostar