Você está na página 1de 28

JUSTIÇA E DIREITO NO

PENSAMENTO ARISTOTÉLICO
Professor: Maicon Lima
• Aristóteles nasceu em Estagira no ano 384 a.C. Aos dezoito anos
entrou na escola de Platão em Atenas. Ali permaneceu por quase 20
anos.
• Depois da morte de Platão Aristóteles abandona a Academia e sai de
Atenas. Foi convidado pelo rei da Macedônia para educar seu filho,
Alexandre. Separaram-se quando Alexandre Magno assumiu o trono
da Macedônia. Por volta de 335 a.C., Aristóteles regressou a Atenas,
fundando sua própria escola filosófica, que passou a ser conhecida
como Liceu.
• Aristóteles legou os seus manuscritos a Teofrasto, seu sucessor na
liderança do Liceu.
• Abordando assuntos dos mais diversos, Aristóteles dedicou-se à
justiça como mais tema a ser desenvolvido, a necessitar de maiores
reflexões. Seu legado foi incomensuravelmente precioso no campo da
ética, à qual, a justiça e o Direito possuem um liame indissolúvel.
• Aristóteles inicia seu livro Ética a Nicômaco referindo-se aos bens, e os
define como sendo “aquilo a que as coisas tendem (ARISTÓTELES,
2002a, p17).
• Segundo o filósofo, dentre os inúmeros bens existe um bem maior,
que é a finalidade de todos os outros, e esse bem maior é a felicidade.
• Considerada “uma atividade da alma conforme a virtude perfeita”
(ARISTÓTELES, 2002a, p36), “a felicidade é, portanto, a melhor, a
mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo” (ARISTÓTELES,
2002).
• Este bem, o qual todos almejam, só é obtido através da prática de
atos virtuosos. O autor afirma que para se alcançar a felicidade é
preciso também bens exteriores, instrumentos, como amigos,
riqueza ou poder político, “de fato, o homem de muito má aparência,
ou mal-nascido, ou solitário e sem filhos não tem muitas
probabilidades de ser feliz” (ARISTÓTELES, 2002a, p30).
• O filósofo afirma a existência de dois tipos de virtudes, a virtude
intelectual e a virtude moral. A primeira se adquire através do
ensino, necessita de tempo e experiência, a segunda somente se
adquire pelo hábito.
• A virtude moral não existe por natureza, apenas a potencialidade,
a possibilidade de se desenvolver através da prática de atos
virtuosos existe naturalmente. Aristóteles sustenta que os
legisladores tornam bons os cidadãos incutindo-lhes
comportamentos e atos conforme a virtude perfeita, e essa é a
função das leis.
• A virtude é uma disposição de caráter que se relaciona com o
meio termo entre dois vícios, um excesso e uma falta. “Os
homens são bons de um modo apenas, porém são maus de
muitos modos” (ARISTÓTELES, 2002a, p.49).
• Em síntese, a virtude é a prática habitual e voluntária de atos
virtuosos (atos que visam o meio termo entre dois vícios), sendo
isenta de sofrimentos e tendo em vista o que é nobre, que tem
por fim maior alcançar a felicidade.
A JUSTIÇA NO PENSAMENTO DE ARISTÓTELES

• A justiça é a disposição de caráter que torna as pessoas


propensas a fazer o que é justo, a desejar o que é justo e a agir
justamente, e injustiça é a disposição que leva as pessoas a
agir injustamente e a desejar o que é injusto. Esse é o conceito
de justiça e injustiça segundo a opinião geral, o qual
Aristóteles adota como base de seu pensamento. A felicidade,
como bem maior que todos os outros e fim destes, é o critério
usado para definir um ato como justo, este ato precisa buscar
a felicidade ou um de seus elementos para a sociedade
política.
A JUSTIÇA COMO VIRTUDE COMPLETA
• O filosofo afirma que existem duas formas distintas de justiça,
uma é a justiça como virtude completa e a outra é a virtude ao
lado das outras.
• A justiça como virtude completa é representada pela lei, pois a
lei bem elaborada é justa e direciona a conduta dos homens à
prática de atos virtuosos, como o filósofo considera
em Política. Sendo assim, o homem que obedece a lei é justo e
virtuoso.
• A lei determina que pratiquemos tanto os atos de um homem
corajoso (isto é, que não desertemos de nosso posto, nem fujamos,
nem abandonemos nossas armas), quanto os atos de um homem
temperante (isto é, que não cometamos adultério nem nos
entreguemos à luxúria), e as de um homem calmo (isto é, não
agridamos nem caluniemos ninguém); e assim por diante com
respeito às outras virtudes, prescrevendo certos atos e condenando
outros” (ARISTÓTELES, 2002a, p105).
• Esse é um conceito jurídico, que identifica a justiça com a legalidade.
Percebe-se que a teoria aristotélica, que a princípio parece positivista e
legalista, não o é de fato. A justiça não está no cego cumprimento da
lei, mas na disposição de caráter interior e permanente do cidadão, que
o leva a cumprir seus deveres legais, tornando-o um homem virtuoso
pela prática de atos voluntários.
• A justiça como virtude completa é a maior de todas, e Aristóteles
referindo-se a ela afirma que “nem Vésper nem a estrela-d’alva são tão
maravilhosas” (ARISTÓTELES, 2002a, p105). Dessa forma a justiça é a
única virtude, e significa de acordo com a lei, ao tempo que o injusto no
sentido amplo significa contrário à lei.
• Nesse sentido a justiça não é uma parte da virtude, mas a virtude
inteira; e a injustiça não é uma parte do vício, mas o vício inteiro.
• Obedecer à lei é ser justo (não cegamente como já foi tratado),
mas o que garante que a lei é justa? E a resposta é: os legisladores.
Estes devem ser grandes estudiosos das virtudes para ter o
conhecimento suficientemente capaz de criar leis que conduzam
os cidadãos à virtude completa.
• Na ética aristotélica, conta mais o cidadão formado nas virtudes e
especialmente na justiça, do que a lei com suas prescrições
objetivas. Isto é, de pouco vale a lei sem cidadãos virtuosos”
(PEGORATO, 1995, p35).
A JUSTIÇA COMO VIRTUDE PARTICULAR

• O filósofo ressalta que o objeto da investigação é a justiça como parte


da virtude, e sustenta que essa justiça existe, como também existe a
injustiça no sentido particular. Dessa forma, a justiça se divide em duas
espécies: justiça distributiva e justiça corretiva, ambas tendo a
igualdade como princípio norteador.
• A justiça distributiva surge quando o Estado deve distribuir dentre os
cidadãos as magistraturas, o dinheiro ou qualquer outra coisa que deva
ser distribuída. Será levado em consideração o mérito de cada um.
Nessa espécie de justiça, o justo é o proporcional, segundo uma
proporção geométrica, na qual os indivíduos recebem de acordo com
seu merecimento ou necessidade.
• A justiça distributiva que se aplica na repartição das honras e dos
bens, e tem em mira que cada um dos consorciados receba,
dessas honras e bens, uma porção adequada a seu mérito. Por
conseguinte, explica Aristóteles, não sendo as pessoas iguais,
tampouco terão coisas iguais. Com isso, é claro, não faz mais do
que reafirmar o princípio da igualdade: principio que seria
precisamente violado, nesta sua função especifica, se méritos
desiguais recebessem igual tratamento. A justiça distributiva
consiste, pois, numa relação proporcional, que Aristóteles, não
sem artifício, define como sendo uma proporção geométrica
(MONTORO, 2000, p205).
• No que concerte à justiça corretiva o aspecto é outro. Aristóteles
acredita em uma justiça retributiva, na qual o objetivo é restabelecer
a igualdade existente antes da ocorrência do fato injusto. Nesse
caso a igualdade aplicada é a proporção aritmética. A justiça é o
meio termo entre o ganho e a perda.
• A justiça é o meio termo entre o ter muito e o ter pouco. Se em uma
relação um sujeito tem muito, este age injustamente, e se outro tem
muito pouco, este sofre a injustiça. Portanto a igualdade é o justo
entre cometer e sofrer injustiça, e estes são os dois extremos.
• Segundo Aristóteles, um homem pode agir injustamente e não
ser injusto, assim como pode roubar e não ser ladrão, ou
cometer adultério e não ser adúltero, pois a justiça é vista sob
a lente da política, e não incondicionalmente. Um homem que
comete um ato injusto buscando ganhar com isso é um
homem injusto, mas o que age injustamente por paixão não é.
A JUSTIÇA POLÍTICA
• Após a definição das duas formas de justiça, Aristóteles discute a justiça política, e
afirma ser ela em parte natural e em parte legal. A primeira é eterna (o que não
significa dizer imutável), enquanto a segunda muda a depender do tempo e local.

• Digo que, de um lado, há a lei particular e, do outro lado, a lei comum: a primeira
varia segundo os povos e define-se em relação a estes, quer seja escrita ou não
escrita; a lei comum é aquela que é segundo a natureza. Pois há uma justiça e uma
injustiça, de que o homem tem, de algum modo, a intuição, e que são comuns a
todos, mesmo fora de toda comunidade e de toda convenção recíproca. É o que
expressamente diz a Antígona de Sófocles, quando, a despeito da proibição que lhe
foi feita, declara haver procedido justamente, enterrando Polinices: era esse seu
direito natural: Não é de hoje, nem de ontem, mas de todos os tempos que estas
leis existem e ninguém sabe qual a origem delas (ARISTÓTELES, 1959, p86).
A EQUIDADE
• A equidade é superior à justiça e deve ser aplicada sempre que o Direito não
tenha a solução para o caso concreto, sempre que não exista uma lei que
regule algum fato novo. Será feita uma interpretação à luz da equidade para
saber de que forma o legislador regularia tal fato jurídico.

• Aristóteles descreve a semelhança entre a equidade e uma régua de chumbo,


que se amolda ao objeto para ser possível sua medição. Desta forma, o filósofo
pretende que se a justiça legal é uma régua dura, que dá a medida dos fatos,
não se encaixará em todos os tipos de acontecimentos da vida prática. Sendo
assim, a equidade surge como corretivo dessa inflexibilidade, fazendo com que
a régua se amolde aos fatos reais e possa também medi-los, servindo para a
realização plena do Direito.
• Interessante notar que na maior parte de seu livro Ética a Nicômaco o
filósofo não fala diretamente do Direito, mas se refere a ele de duas
formas: na primeira, Aristóteles fala em “as leis”, com as quais
claramente expressa “o Direito”, nesse caso o Direito é a justiça legal, é
o Direito legal, complementado pela equidade; na segunda, se refere ao
Direito como superior à justiça legal e critério desta, caracterizando
assim o Direito Natural. Quando se refere à justiça política, Aristóteles
faz bem esta distinção sustentando que a justiça geral muda de lugar
para lugar e de tempos em tempos, é o Direito legal, mas a justiça
particular está em todo lugar e impõe sua força, se identificando ou não
com o Direito legal, é o Direito natural.
• Tão perfeita é sua conceituação, que depois de milênios seus
pensamentos ainda são reverenciados e formam a base do
sistema jurídico ocidental. Direito busca a concretização do justo
aristotélico, orientado pela igualdade (aritmética ou proporcional)
e complementado pela equidade.
FILOSOFIA MEDIEVAL
Professor: Maicon Lima
• O desenvolvimento do conhecimento durante a Idade Média
conta com particularidades diversas que se afasta daquela
errônea perspectiva que a define como a “Idade das trevas”.
Contudo, a predominância dos valores religiosos e as demais
condições específicas fazem do período medieval apenas singular
em relação aos demais períodos históricos. Nesse sentido, o
expressivo monopólio intelectual exercido pela Igreja estabeleceu
uma cultura de traço fortemente teocêntrico.
• Já durante o século III, Tertuliano apontava que o conhecimento não
poderia ser válido se não estivesse atrelado aos valores cristãos. Logo
em seguida, outros clérigos defenderam que as verdades do
pensamento dogmático cristão não poderiam estar subordinadas à
razão.
• Em contrapartida, existiam outros pensadores medievais que não
advogavam a favor dessa completa oposição entre a fé e a razão.
Um dos mais expressivos representantes dessa conciliação foi Santo
Agostinho, que entre os séculos IV e V defendeu a busca de
explicações racionais que justificassem as crenças. Em suas obras
“Confissões” e “Cidade de Deus”, inspiradas em Platão, ele aponta
para o valor onipresente da ação divina. Para ele, o homem não teria
autonomia para alcançar a própria salvação espiritual.
• A ideia de subordinação do homem em relação a Deus e da razão à
fé acabou tendo grande predominância durante vários séculos no
pensamento filosófico medieval. Mais do que refletir interesses que
legitimavam o poder religioso da época, o negativismo impregnado
no ideário de Santo Agostinho deve ser visto como uma
consequência próxima às conturbações, guerras e invasões que
viriam a marcar a formação do mundo medieval.
• Contudo, as transformações experimentadas com a Baixa Idade
Média promoveram uma interessante revisão da teologia agostiniana.
A chamada filosofia escolástica apareceu com o intuito de promover
a harmonização entre os campos da fé e da razão. Entre seus
principais representantes estava São Tomas de Aquino, que durante o
século XIII lecionou na universidade de Paris e publicou “Suma
Teológica”, obra onde dialoga com diversos pontos do pensamento
aristotélico.
• São Tomás, talvez influenciado pelos rigores que organizavam a Igreja,
preocupou-se em criar formas de conhecimento que não se
apequenassem em relação a nenhum tipo de questionamento.
Paralelamente, sua obra teve uma composição mais otimista em
relação à figura do homem. Isso porque acreditava que nem todas as
coisas a serem desvendadas no mundo dependiam única e
exclusivamente da ação divina. Dessa maneira, o homem teria papel
ativo na produção de conhecimento.
• Apesar dessa nova concepção, a filosofia escolástica não foi promotora
de um distanciamento das questões religiosas e, muito menos, afastou-se
das mesmas. Mesmo reconhecendo o valor positivo do livre-arbítrio do
homem, a escolástica defende o papel central que a Igreja teria na
definição dos caminhos e atitudes que poderiam levar o homem à
salvação. Com isso, os escolásticos promoveram o combate às heresias
e preservaram as funções primordiais da Igreja.
VÍDEO
• https://www.youtube.com/watch?v=3hIbDDraUJE
PRINCIPAIS ESTÁGIOS DA FILOSOFIA MEDIEVAL
• 1 - Patrística: a transição para o Mundo Cristão (século V e VI)
• Muitos pensadores deste período defendiam que a fé não deveria ficar
subordinada a razão.
• Porém, um importante filósofo cristão não seguiu este caminho. Santo
Agostinho de Hipona (354 – 430) buscou a razão para justificar as crenças.
Foi ele quem desenvolveu a ideia da interioridade, ou seja, o homem é
dotado da consciência moral e do livre arbítrio.
• 2 - Escolástica (século IX ao XIV)

• Foi um movimento que pretendia usar os conhecimentos greco-romanos para


entender e explicar a revelação religiosa do cristianismo. As ideias dos filósofos
gregos Platão e Aristóteles adquirem grande importância nesta fase.

• Os teólogos e filósofos cristãos começam a se preocupar em provar a existência da


alma humana e de Deus.

• Para os filósofos escolásticos a Igreja possuía um importante papel de conduzir os


seres humanos à salvação.

• No século XII, os conhecimentos passam a ser debatidos, armazenados e


transmitidos de forma mais eficiente com o surgimento de várias universidades na
Europa.

• Principais representantes: Anselmo de Cantuária, Albertus Magnus, São Tomás de


Aquino, John Duns Scotus e Guilherme de Ockham.
FILOSOFIA MODERNA
Professor: Maicon Lima

Você também pode gostar