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Apontamento: Direito natural na Grécia Antiga

Filosofia na Grécia Antiga


A filosofia nasceu na Grécia, primeiro nas colônias orientais da Ásia Menor
(em Mileto) e logo depois nas colônias ocidentais da Itália meridional, fluindo apenas
mais tarde para a mãe-pátria Atenas. Isso se deu porque tais colônias alcançaram
anteriormente situação de bem estar, podendo construir instituições livres antes do
que a Grécia. Sobretudo, foi em Atenas que gozava de condições sócio-político-
econômicas favoráveis onde o florescimento da filosofia pode alcançar os mais altos
cumes. As Cidades-Estados se tornariam o horizonte ético do homem grego, a ponto
de os cidadãos chegarem a sentir os fins da sociedade como os seus próprios fins:
Direito, justiça, felicidade, virtude.
Direito natural
O direito natural é a ideia universal de justiça. É o conjunto de normas e
direitos que já nascem incorporados ao homem, como o direito à vida. Pode ser
entendido como os princípios do Direito e é também chamado de jus naturalismo. O
Direito Natural tem seus valores estabelecidos por ordem divina, assim como pela
razão.
Arriscamo-nos a uma conclusão simples, posto deva ser a conclusão lógica: o
direito natural origina-se da natureza humana. Mas isso seria a negação do homem,
e, por conseguinte, do direito. O direito só existe porque existe o homem. E porque o
homem é um ser racional.
As principais características do Direito Natural são a estabilidade e
imutabilidade. Ou seja, não sofre alterações ao longo da história e do
desenvolvimento da sociedade, diferente das teorias do direito posterior.
O Direito Natural é importante pois demonstra princípios importantes em
relação a proteção do homem, que devem ser aprovados pela legislação, visando
construir um ordenamento jurídico consideravelmente justo.
A contribuição dos Sofistas
O movimento sofístico aparece na Grécia no século V. Estes possuíam
características particulares, tais como: eram professores ambulantes que iam de
cidades em cidades ensinando os jovens, ensinavam por dinheiro, conquistavam
grande êxito social devido ao estilo oratório e retórico, mas fundamentalmente
pedagogo. Tinham pretensões de que sabiam tudo e tudo ensinavam. A sofística
surgiu dentro de um contexto onde os gregos não mais aceitavam explicações e
apelos ao divino para a normatização das relações sociais. Abandonada a
explicação mítica e o apelo a verdades imutáveis e universais, passaram a
questionar as leis e seu fundamento. Percebendo a antítese nomos-physis,
questionaram quais normas estariam de acordo com o direito natural e a própria
existência do direito natural. Era, ainda, a época da democracia em Atenas, onde
desponta a importância da retórica e da oratória, as quais se propunham a ensinar
os sofistas, ressaltando a importância da argumentação na nova sociedade grega.
Apesar da oposição entre natureza e lei não aparecer nos grandes sofistas, Há
Hipias e Antifontes, o primeiro deles defendia que a natureza une os homens ao
passo que a lei frequentemente os divide, e o último argumenta que a “natureza” é a
“verdade” e que a “lei” positiva é a “opinião”, estando elas, portanto, quase sempre
em antítese uma com a outra.
Direito natural na Grécia Antiga
As primeiras manifestações de jusnaturalismo são encontradas na Antiga
Grécia. Lá haverá o primeiro contexto histórico de desenvolvimento da doutrina do
Direito Natural. O Direito Natural da Antiguidade está presente em Platão e em
Aristóteles, mas também é importante não olvidar que foi elaborado na cultura
grega, principalmente, pelos Estoicos, para quem toda a natureza era governada por
uma lei universal racional e imanente.
Afirma Jacques Leclercq que o Direito Natural é o resultado dos princípios
mais gerais sobre a ordem do mundo, usados para que se oponham aos
governantes injustos. Convém lembrar a esse respeito a tragédia de
Sófocles, “Antígona”, que é um excelente símbolo para demonstrarmos a ideia da
existência de um justo por natureza, que se contrapõe a um justo por lei. Antígona
deseja enterrar seu irmão Polinices, que atentou contra a cidade de Tebas, mas o
tirano da cidade, Creonte, promulgara uma lei, impedindo que os mortos que
atentaram contra as normas da cidade fossem enterrados – o que era uma grande
ofensa para o morto e sua família, pois a alma não faria a transição adequada ao
mundo dos mortos sem um ritual fúnebre adequado (limpeza, purificação e
preservação da integridade do corpo), como poderia Polinices, que morreu
valorosamente em combate, de acordo com a areté aristocrática, reaparecer em seu
corpo de sombra no Hades? Percebe-se que a Lei Positiva da pólis impede que o
Direito Natural de Polinices a um funeral. Então Antígona realiza os ritos fúnebres e
sepulta o irmão, resistindo à Lei Positiva e fazendo valer o Direito Natural, muito
embora conde-se à morte. Interpelada de como pôde transgredir a lei, Antígona
responde: “[...] Essas não são as leis que fixaram para os homens e jamais pensei
que tivesse defesas tão poderosas capazes de permitir a um mortal transgredir as
leis não escritas, as inabaláveis leis divinas”. Antígona, enfurecida, voltou-se contra
o direito positivo. Sozinha reage à norma imposta e enterra o irmão, desafiando
todas as leis da cidade. Antígona é, então, capturada e levada até Creonte, que a
sentencia à morte.
Já Platão, em suas obras constrói uma distinção entre corpo e alma e uma
proposta de justiça bastante ligada a moralidade. É aqui que fala que as leis dos
homens devem observar o engendramento da natureza para serem construídas. Tal
afirmação encontra fundamento na República quando, ao indagar-se sobre o que é
a Justiça, respondem os interlocutores do diálogo que esta, no homem, é o governo
dos apetites e da cólera pela razão e, na cidade, um conjunto hierarquizado de
funções, sendo cada uma dessas funções respeitando seus próprios movimentos e
sua própria retèa.
Em se tratando de Aristóteles, ele afirmava a existência de um direito por
natureza e um direito por definição legal. Para ele, direito natural é aquele que
independentemente do que pareça ou esteja, tem sempre a mesma força. Para ele,
política era a busca da felicidade e o Direito a busca do bem comum. A finalidade do
ser humano então seria a busca do bem comum e que só seria possível através da
razão humana. A finalidade do Direito seria a felicidade e não a justiça. Ele afirmava
que o Direito Natural nos era a garantia de que com ele seremos felizes e é por esta
razão que defendia que o Direito Positivo se ligasse àquele. De qualquer modo,
considerava o Direito como uma virtude dirigida ao outro. Defendia o filósofo que,
certamente há uma lei verdadeira, conforme à natureza, difundida entre todos,
constante, eterna e que comanda e incita ao dever, proibindo e afastando a fraude.
Nessa lei não é lícito fazer alterações, nem é lícito retirar dela qualquer coisa, pois
será lei única, imutável, governada por todos os povos em todos os tempos. Quem
não a obedecer, estará fugindo de si mesmo e, sofrerá as mais graves penas.
Felizmente, Aristóteles acredita que o natural do ser humano é agir corretamente,
pois a razão nos faz agir de maneira correta.

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