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Lúdico - Jogos e Brincadeiras
Lúdico - Jogos e Brincadeiras
Autoria: Georgina Lopes da Mota
Como citar este documento: MOTA, Georgina Lopes da. Lúdico - Jogos e Brincadeiras. Valinhos: 2017.

Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: As principais teorias sobre o lúdico 04
Unidade 2: A importância do brincar na infância 34
Unidade 3: Conceituando jogos e brincadeiras 64
Unidade 4: O Lúdico na educação 93
Unidade 5: Os jogos e as brincadeiras na escola 121
Unidade 6: O lúdico nos documentos nacionais 146
Unidade 7: Técnicas para aplicação de jogos 176
Unidade 8: Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental 206

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Apresentação da Disciplina
O lúdico está presente em nosso cotidiano e O tema que será abordado oferecerá supor-
discorrer sobre esse tema remete às diferen- tes para atender a diferentes profissionais
tes fases da vida que vai da infância até a fase que cuidam e educam através do lúdico, no
adulta. Nesse processo o indivíduo desenvol- exercício de sua atividade, e também aju-
ve diferentes atividades lúdicas no contexto dará a ressignificar as relações e interações
cultural em que está inserido, permitindo a entre os indivíduos. Abordaremos diferentes
construção de uma relação prazerosa e o re- conceitos sobre o lúdico ao longo da história
conhecimento de sua formação emocional, assim como o reconhecimento da dimensão
física, afetiva, cognitiva e social. educacional.
Entende-se que uma das maneiras de se pro-
pagar a cultura lúdica é através das brinca-
deiras que ocorre desde o nascimento com
o contato materno até as diferentes etapas
de desenvolvimento humano. A brincadeira
exerce um papel significativo e determinan-
te na infância, principalmente, na aquisição
e na capacidade simbólica que ocorre me-
diante as interações sociais.

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Unidade 1
As principais teorias sobre o lúdico

Objetivos

1. Entender a construção histórica do


conceito de Lúdico.
2. Reconhecer a cultura lúdica como
uma dimensão da cultura infantil.
3. Compreender o lúdico como moti-
vação para o desenvolvimento da
criança.

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Introdução

O lúdico faz parte da existência humana Grego) e atlética que ocorriam na cidade de
desde os povos primitivos. Para entender o Olímpia (região sudoeste da Grécia).
conceito de lúdico torna-se necessário re- Castro (2010, p.33) descreve diferentes ter-
meter à sua etimologia, que vem do latim mos que na Grécia antiga denominavam as
“ludos”, que significa jogos e diversão. O lú- práticas lúdicas, tais como: “athlos seriam
dico está relacionado às atividades de en- os concursos, luta e combate; agon, os jo-
tretenimento, brincadeiras e jogos que pro- gos públicos, competições, instalações dos
porcionam prazer (Significados, 2017). Em jogos públicos, assembleia para as compe-
grego as atividades lúdicas estavam ligadas tições públicas e a paidéia refere-se à infân-
à palavra criança, contudo a partir de novas cia, brincadeiras infantis, diversão, compe-
traduções entenderam-se como brinque- tições de luta, de flauta”. O ócio não era in-
dos das crianças (MASSON, 2002). terpretado como ausência de trabalho, mas
entendido como o caminho para a contem-
A atividade lúdica entre os primitivos tinha
plação e para a sabedoria, o belo, a verdade
o caráter de sobrevivência, tais como a dan-
para alcançar o bem supremo. Essa capaci-
ça, caça, pesca e as lutas, enquanto que na
dade de contemplação exigia habilidades
Antiga Grécia nos anos 776 AC, os jogos e que se adquiriam através da educação por
as atividades eram voltados à festa religio- meio da literatura, ginástica, música e con-
sa (oferecidas a Zeus, o grande rei divino versação.
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Na Antiga Roma também se usava o ludus, tos morais na formação de valores. Platão
ludere, ludius para designar atividades de aconselha utilizar a brincadeira na educa-
exercícios, preparação e treinamento. Havia ção das crianças e não a violência, incenti-
a figura do escravo que era treinado para lu- vando e descobrindo a tendência natural da
tar até a morte. Nesse caso, o lúdico se refe- criança (ALMEIDA, 1994).
re ao espectador e não o indivíduo envolvido
na luta. Para melhor entender o conceito de
ludicidade recorremos aos clássicos: Platão,
Aristóteles e Rousseau.

1. A filosofia e o lúdico

1.1 Platão (427-348 A.C), discípulo de Só-


crates e mestre de Aristóteles, afirmava que
toda a educação da criança deveria ser de-
senvolvida por meio de jogos educativos
e brincadeiras. Sua ênfase nas atividades
lúdicas era ampliada a partir dos concei-

6/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico


1.2 Aristóteles (384-322 a.C), filósofo gre-
go, aluno de Platão, considerava o homem
Para saber mais como ser social e valorizava a inteligência
humana como caminho para se chegar à
A filosofia de Platão é baseada na teoria de que verdade. Quanto à ludicidade da criança,
o mundo que percebemos com nossos sentidos Aristóteles afirmava que quando a criança
é um mundo ilusório, confuso. Sua filosofia in- brinca, ela entra em um processo de purifi-
clui também a “teoria das ideias”, que são obje- cação da alma por meio de uma descarga de
tos imutáveis e eternos do pensamento, e servem sentimentos (catarse). Os jogos e as brinca-
para explicar a aquisição de conceitos, a possibi- deiras, segundo Aristóteles não se tornam
lidade de conhecimento e o significado das pala- apenas um passa tempo, mas atividades
vras. Platão é também famoso por sua “teoria da importantes para a preparação das crianças
anamnese” (reminiscência), de acordo com a qual viverem em sociedades (LIMA, 2015).
muitos de nossos conhecimentos não são adqui-
ridos através da experiência, mas já conhecidos As atividades lúdicas, tanto na visão grega
pela alma na ocasião do nascimento, uma vez que como na romana, são exemplos que descre-
a experiência serve apenas para ativar a memória. vem a percepção do lúdico de acordo com
época da sociedade, o espaço e o tempo em
que ocorrem suas práticas.
7/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico
Link Para saber mais
A história do lúdico entre os clássicos: Platão, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), também
Aristóteles e Rousseau natural de Genebra, Suíça. Nasceu no dia 28 de ju-
nho de 1712 filho de um relojoeiro ficou órfão de
Disponível em: <http://www.editorarealize. mãe logo ao nascer. O pensamento de Rousseau
com.br/revistas/conedu/trabalhos>. Acesso: influenciou as ideias da Revolução Francesa. Pre-
27 mar. 2017. gava que a liberdade era o valor supremo do ho-
mem. Anti-racionalista, foi favorável ao preceito
1.3. Rousseau Jean Jacques Rousseau (1712- de que os homens nasciam bons, a sociedade é
1778) natural de Genebra, Suíca. Suas prin- que os corrompiam. Criticava a civilização, acu-
cipais obras foram: Contrato Social e Emí- sando-a de dissimulada e hipócrita. Alguns livros
lio ou Educação. Segundo Almeida (2014), trouxeram problemas para Rousseau: “Emílio, ou
ao se referir a ludicidade infantil,Rousseau da Educação”, obra pedagógica, e “O Contrato
enfatiza que a criança precisa de atividades Social” renderam-lhe uma prisão por serem obras
físicas, liberdade de movimento e liberdade consideradas subversivas. Foi perseguido pelos
para aprender. protestantes, mas a convite do filósofo Inglês Da-
vid Hume refugiou-se na Inglaterra.

8/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico


No período medieval, ao pregar o sacrifício e a renúncia como caminho para se buscar Deus, o
prazer e o lúdico seriam ações da carne ou o pecado, sendo aceito apenas como descanso das
atividades (WERNECK, 1996, p. 333 apud CASTRO, 2010, p. 38) assim descreve o significado des-
se momento de descanso.

[...] seus momentos de repouso deveriam ser orientados para a busca da


paz e da purificação do espírito, evitando todo o tipo de tentação causada
pelos prazeres da carne. Somente dessa forma seria possível alcançar um
lugar entre os eleitos de Deus. [...].
O significado do lazer e o ludismo nesse contexto referem-se ao período de descanso necessário
para recompor as energias no retorno das atividades posteriores em condições melhores.
O lúdico é um bem-estar físico e psicológico que por meio de atividades conduz as pessoas à
interação, à convivência em grupo e à troca de experiências. Quando utilizamos o lúdico nas
atividades como jogos ou as brincadeiras, estas se tornam ferramentas para ações educativas,
principalmente na construção de regras e no relacionamento entre os participantes (FRIEND-
MANN, 1998).

9/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico


Dantas (1998, p. 111) faz uma distinção entre jogar e brincar:

na tradução francesa (jouer) e na inglesa (play). Brincar é a forma mais livre


e individual e anterior a jogar que é uma conduta social que supõe regras.
Brincar é a forma mais livre e individual que designa as formas mais primi-
tivas de exercício funcional como a lalação [...]. O termo lúdico abrange os
dois: a atividade individual e livre e a coletiva e regrada.
A autora chama atenção para ao conceituar o termo “lúdico”, percebe-se dois aspectos da ativi-
dade: prazer e liberdade. Quando a atividade é livre o resultado é o prazer de participar de forma
espontânea e gratuita. Mas alerta para não transformar a brincadeira em compromisso e traba-
lho na medida em que ao impor “atividades lúdicas” o organizador impõe suas atividades que
avalia ser prazerosa.
No mundo capitalista, a Revolução Industrial apresentou outro cenário sociopolítico e econômi-
co que foi a produção e a aquisição de bens e serviços, transformando o lúdico em produto de
consumo. Castro (2010, p. 43) descreve uma vivência lúdica no contexto de mercado publicitário
em duas perspectivas que se tornam antagônicas:

10/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico


• como mercadorias de consumo, de caráter hedonista, incentivadas por
meio de algumas prestações de serviço e de oferta de produtos da in-
dústria cultural.

• como vivências de caráter estético que podem desenvolver e enriquecer


as capacidades das pessoas, numa posição de resistência à perspectiva
predominante.
A política voltada para o mercado da indústria cultural e lúdica pode caminhar em duas verten-
tes, uma comprometida com a aquisição dos instrumentos na aquisição dos signos e a outra
baseada apenas pelo prazer sem objetivos claros e específicos. Brougère (1998) (apud CASTRO
2010, p. 46) alerta para “organizações de campos ordenadores paralelos”, que personificado em
prestação de serviços bifurca a intencionalidade na elaboração de políticas e gestão de lazer e na
indústria cultural. Nesse sentido, a educação poderá exercer um papel importante na desmistifi-
cação da “falsa equivalência entre a capacidade simbólica do sujeito e a sua adesão ao conjunto
de representações sociais, ou seja, a tentativa de sequestro da propriedade humana de brincar”
(CASTRO 2010, p.46).

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A educação pode desenvolver nessa relação, ciações, de dar sentido a vida (HERSKOVITS,
natureza e social, as práticas lúdicas como 1963).
instrumento na aquisição e acesso a cultura. Segundo Bosi (2008), cultura derivada de
A cultura lúdica está presente no cotidiano colo, significa aquilo que deve ser cultivado.
infantil e permeia diferentes ações sociais As palavras verbais terminadas em ura e uro
mediante a brincadeira. designam aquilo que vai acontecer, indicam
um projeto, algo para o futuro. A cultura seria
2. A Cultura Lúdica o campo que ia ser arado na perspectiva de
quem vai trabalhar no campo. Quando os ro-
Etimologicamente, a palavra cultura vem
manos conquistam os gregos, recebem uma
dos termos “cultivo” que significa cultivar,
nova palavra para desenvolvimento humano,
preparar, proteger a terra e de “culto”, ou
que era paidéia. Paidéia significava o conjun-
seja, cultura da terra, educação civilização,
to de conhecimentos que se devia transmi-
adoração, respeito. A cultura numa concep-
tir às crianças – paidós (criança é paidós), daí
ção antropológica pode ser o modo comum
Pedagogia, que é a maneira de levar a criança
de garantir a sobrevivência de cada grupo
ao conhecimento, que é paidéia.
humano, a formulação das estruturas de
parentesco, às maneiras de formar as asso- Os gregos passaram a usar traduzir paidéia
como cultura. A palavra cultura passou do
12/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico
significado puramente material que tinha A cultura se faz presente nas brincadeiras
em relação à vida agrária para um significa- como expressão dos sujeitos nas ativida-
do intelectual, moral, que significa conjunto des. “Brincar não é uma dinâmica interna
de ideias e valores. do indivíduo, mas uma atividade dotada de
significação social, precisa e necessita de
aprendizagem” (BROUGÈRE, 1998, p 20).
Link O indivíduo não nasce sabendo brincar, ele
aprende por meio das relações sociais.
A origem da palavra Cultura. Apresenta a etimo-
logia e a influência da cultura grega nessa cons-
trução.

Disponível em: <https://pandugiha.wordpress.


com/2008/11/24/alfredo-bosi-a-origem-
-da-palavra-cultura>. Acesso: 18 maio 2017.

13/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico


Brougère (1998, p. 24), assim, define a cultura lúdica:

é, então composta de um certo número de esquemas que permitem iniciar


uma brincadeira, já que se trata de produzir uma realidade diferente da-
quela da vida quotidiana [...]. A cultura lúdica compreende evidentemente
estruturas de jogo que não se limitam às de jogos com regras. O conjunto
das regras de jogo disponíveis para os participantes numa determinada
sociedade compõe a cultura lúdica dessa sociedade e as regras que um
indivíduo conhece compõem sua própria cultura lúdica.
A cultura lúdica será determinada de acordo com o grupo social em que está inserida a brinca-
deira, portanto, os critérios do jogo serão determinados a partir da cultura local. Mas, é por meio
da interação entre os indivíduos que a cultura diversifica, tornando os participantes construtores
de novas significações dadas às brincadeiras. O ambiente em que a cultura lúdica está inserida
influencia na realização e na modificação das atividades lúdicas.

14/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico


lúdica a produção de significados (BROU-
Link GÈRE, 1998).

A criança e a cultura lúdica.


2.1 A importância do lúdico no
Disponível em: <http://www.scielo. desenvolvimento da criança
br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0102-25551998000200007>. Acesso: 18 A filosofia do alemão Friedrich Froebel
maio 2017. (1782-1852), ao instituir uma pedagogia
como uma representação simbólica como
A sociedade também estimula a brincadei- eixo do seu trabalho educativo, foi conside-
ra lúdica entre os adultos, não limitando rada o pai da psicologia da infância. Pesqui-
apenas às crianças. Os produtos que são sas sobre o relato da prática pedagógica re-
propostos para esse mercado são produzi- velam uma coerção comandando a conduta
dos pelos adultos, que reproduzem para as infantil; existe uma discussão ainda hoje na
crianças, podendo condicioná-las ou adap- educação pré-escolar, sobre a natureza do
tá-las. Contudo, mesmo o jogo sendo con- jogo infantil enquanto um ato de expressão
trolado pelo adulto, a criança, por diferentes livre ou um recurso pedagógico.
maneiras reorganiza por meio da interação

15/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico


Froebel assim conceitua brincadeira:

A brincadeira é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio e,


ao mesmo tempo, típica da vida humana enquanto um todo – da vida na-
tural interna do homem e de todas as coisas. Ela dá alegria, liberdade, con-
tentamento, descanso externo e interno, paz com o mundo. A criança que
brinca sempre, com determinação auto-ativa, perseverando, esquecendo
sua fadiga física, pode certamente tornar-se um homem determinado, ca-
paz de auto sacrifício para a promoção do seu bem e de outros... Como
sempre indicamos, o brincar em qualquer tempo não é trivial, é altamente
sério e de profunda significação. (FROEBEL, 1912c, p.55 apud KISHIMOTO,
1998, p.68).
Froebel baseia sua teoria na metafísica, pressuposto romântico que entende como atividade
inata da criança, concebendo a brincadeira como ação metafórica, livre e espontânea da crian-
ça. Considerado o fundador dos Jardins de Infâncias aos menores de oito anos, a brincadeira
tornou-se o norteador para o desenvolvimento da criança, principalmente nos primeiros anos
(KISHIMOTO, 1998)
16/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico
Outro teórico que trabalha a brincadeira é
Para saber mais Jerome Seymour Bruner, que em seus estu-
dos afirmou que o sujeito consegue violar a
Froebel defendia a educação sem imposições às
rigidez dos padrões de comportamentos so-
crianças porque, segundo sua teoria, elas passam
ciais por meio do jogo. A conduta lúdica, ao
por diferentes estágios de capacidade de apren-
proporcionar uma atmosfera sem pressão e
dizado, com características específicas, anteci-
tensão, oferece oportunidade para experi-
pando as ideias do suíço Jean Piaget (1896-1980).
mentar comportamentos que em situações
Detectou, ainda, três estágios: primeira infância,
normais jamais conseguiria. Ele investigou
infância e idade escolar.
nos anos de 1970, a brincadeira dentro dos
paradigmas da linguagem, no desenvolvi-
A ludicidade pode ser bem explorada com
mento da criança. Considera importante
a ideia do prazer e a liberdade na criação
a brincadeira como descoberta das regras
como no jogo simbólico no qual a criança se
para aquisição da linguagem e para a solu-
apropria no seu imaginário infantil. A ativi-
ção de problemas. Kishimoto (1998) apre-
dade lúdica, gratuita e espontânea atende senta os três elementos que participam da
também às necessidades do desenvolvi- aprendizagem: aquisição de nova informa-
mento ao longo prazo. ção, sua transformação ou recriação e ava-
liação.
17/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico
Segundo Bruner (1996), uma aprendizagem A cultura se faz presente nas brincadeiras
centrada na criança resulta em compreen- como expressão dos sujeitos nas ativida-
são significativa da “informação, transfor- des. “Brincar não é uma dinâmica interna
mação e recriação”. É por meio do prazer e do indivíduo, mas uma atividade dotada de
a da motivação que se inicia o processo de significação social precisa e necessita de
construção do conhecimento, o que o autor aprendizagem” (BROUGÈRE, 1998, p. 20).
denomina de “o nível do pensamento intui- O indivíduo não nasce sabendo brincar, ele
tivo, ainda nebuloso” ou raciocínio narrati- adquire por meio das relações sociais.
vo e lógico-científico. (BRUNER, 1996 apud
KISHIMOTO, 2016 p.144).
A brincadeira é muito importante no desen-
volvimento das competências das crianças,
em que exploram as diferentes oportuni-
dades para a solução de problemas. Esse
processo de trocas interativas necessita de
uma mediação do adulto que possibilita a
aquisição de signos, como a linguagem nas
tomadas decisões (KISHIMOTO, 1998).
18/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico
Brougère (1998, p. 24) assim define a cultura lúdica:

é, então composta de um certo número de esquemas que permitem iniciar


uma brincadeira, já que se trata de produzir uma realidade diferente da-
quela da vida quotidiana [...]. A cultura lúdica compreende evidentemente
estruturas de jogo que não se limitam às de jogos com regras. O conjunto
das regras de jogo disponíveis para os participantes numa determinada
sociedade compõe a cultura lúdica dessa sociedade e as regras que um
indivíduo conhece compõem sua própria cultura lúdica.
Na realidade, a cultura lúdica não se restringe a um grupo fechado, mas um conjunto diversi-
ficado de indivíduos em função dos costumes lúdicos. São os esquemas de brincadeiras, que
podem ser desenvolvidas através de regras simples como jogos de imitação, em que resulta de
observação da realidade social até conteúdos mais gerais como personagens de super-heróis ou
desenhos.
A cultura lúdica varia de acordo com o país em que está inserida, diversificam de acordo com o
meio social, a cidade e também a faixa etária da criança. A criança adquire e constrói sua cul-

19/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico


tura lúdica brincando, adquirindo novas ex-
periências desde o nascimento com a ob-
servação e participação em jogos e na in-
teração com outras crianças.

20/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico


Glossário
Paideia: significava o conjunto de conhecimentos que se devia transmitir às crianças – paidós
(criança é paidós). Daí pedagogia, que é a maneira de levar a criança ao conhecimento. Os roma-
nos sabiam o que era Paideia, pois os seus pedagogos eram escravos gregos que iam para a Itá-
lia; alguns contratados e outros como escravos deveriam trabalhar para os seus donos e tinham
a função de ensinar grego e retórica para os meninos das famílias patríciais.
Lalação: ato ou efeito de lalar, de cantar para adormecer a criança. Fase do desenvolvimento
pré-linguístico da criança que se caracteriza pela emissão de sons mais ou menos articulados e
sem significado; balbucio. (Dicionário Infopédia).

21/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico


Glossário
Catarse: o termo catarse é de origem grega, κάθαρσις (kátharsis), sendo usado com o sentido
etimológico de purificar, purgar ou limpar. Do mesmo radical grego origina-se a palavra καθαρό
(katharó; em português, cátaro), que significa puro. Cátaro (katharó) é alguém que passou por
uma catarse (kátharsis), isto é, um processo de purificação significa purgação ou purificação. Na
antiga medicina, essa purificação poderia ser feita por vômito, evacuação de fezes, urina e suor,
bem como através de sangria. É daí que deriva o vocábulo purgante, medicamento utilizado para
limpeza interior ou desintoxicação do organismo – purgante = aquilo que purga, purifica, limpa
(Queiroz, 2013).
Na psicologia, significa o método que visa a eliminar perturbações psíquicas, excitações nervo-
sas, tensões, angústia, através da provocação de uma explosão emocional ou de outras formas,
e baseando-se na rememorização da cena e de fatos passados que estejam ligados àquelas per-
turbações. Ajuda o indivíduo a obter controle emocional e a enfrentar os problemas da vida. De
acordo com Aristóteles, a palavra catarsis significa “limpeza da alma”.
Veja no link a seguir: Disponível em: <http://www.portaldapsique.com.br>. Acesso em: 23 maio 2017.

22/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico


?
Questão
para
reflexão

Como foi abordado neste estudo, o lúdico produz um


bem-estar físico e psicológico. O jogo é uma das ma-
neiras de expressar essa ludicidade. Como você analisa
a relação entre o lúdico enquanto prática cultural e ao
mesmo tempo um bem de consumo? Enquanto profis-
sional qual é a sua orientação?

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Considerações Finais

O conceito lúdico ao longo da história designou diferentes termos que vai da


sobrevivência na antiguidade, práticas lúdicas na Grécia antiga como concur-
sos, lutas, combates, jogos públicos e assembleia para as competições até a
Paidéia relativa à infância e as brincadeiras.
• As atividades lúdicas são influenciadas pela cultura, tornando-se diversifi-
cada a partir das interações entre os indivíduos.
• A cultura lúdica está relacionada ao prazer, liberdade a ao imaginário infantil.

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Referências

ALMEIDA, Anne. Ludicidade como instrumento pedagógico, 2006. Disponível em: <http://www.
cdof.com.br>. Acesso em: 28 mar. 2017.

ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica: Técnicas e Jogos Pedagógicos. 8.ed. São Paulo:
Loyola, 1994.
BOSI, Alfredo. Origem da palavra cultura. Liter & Art Brasil. Disponível em: <https://pandugiha.
wordpress.com/2008/11/24/alfredo-bosi-a-origem-da-palavra-cultura/>. Acesso em: 18 maio
2017.
BROUGÈRE, Gilles. Jogo e Educação. Trad: Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médi-
cas,1998.
___________. A criança e a cultura lúdica. In: KISHIMOTO, Tizuco Morchida (Org.) O brincar e
suas teorias. São Paulo: Pioneira, 1998.
CASTRO, Norida Teotônio. A função reguladora do lúdico: representação, afeto, laço social.
São Paulo: LCTE, 2010.
DANTAS, Heloysa. Brincar e trabalhar. In: KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.) O brincar e suas
teorias. São Paulo: Pioneira, 1998.

25/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico


FRIEDMANN, Adriana. Brincar, crescer e aprender: o resgate do jogo infantil. São Paulo: Mo-
derna, 1998.
HERSKOVITS, Melville. O Problema do Relativismo Cultural. In: Antropologia Cultural: Man and
his Works. São Paulo: Mestre Jou, tomo I, 1963.
LIMA, A. J. A. O lúdico em clássicos da filosofia: uma análise em Platão, Aristóteles e Rousseau.
In: II Congresso nacional de educação-CONEDU, 2015, Campina Grande: Anais II CONEDU, v. 1,
2015. Disponível em: <http://coral.ufsm.br>. Acesso em: 18 maio 2017.
MANSON, Michael. História dos Brinquedos e dos Jogos. Brincar através dos tempos. Lisboa:
Teorema, 2002.
Portal Significados. Dicionário on-line. Disponível em: <https://www.significados.com.br>. Aces-
so em: 28 mar. 2017
SANTOS, Santa Marli Pires. Brinquedo e infância: um guia para pais educadores. Rio de Janeiro:
Vozes, 1999.
VYGOTSKY. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
WERNECK, Chistianne L. Gomes. A relação lazer/trabalho e seu processo de constituição históri-
ca no mundo ocidental. In: Coletânea do IV Encontro Nacional de História do Esporte, Lazer e
Educação Física. Belo Horizonte:1996.
26/245 Unidade 1 • As principais teorias sobre o lúdico
Questão 1
1. A cultura se faz presente nas brincadeiras como uma expressão dos sujei-
tos nas atividades.

a) Brincar faz parte do ser humano, é uma dinâmica interna.


b) A cultura lúdica faz parte da estrutura do jogo.
c) A brincadeira com regras é que define a cultura lúdica.
d) O indivíduo já nasce sabendo brincar.
e) A brincadeira faz parte da cultura infantil, não precisa de aprendizagem.

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Questão 2
2. A brincadeira é muito importante no desenvolvimento das competên-
cias das crianças.

a) Porque o nível de construção do conhecimento é nebuloso.


b) Oferece condições para a exploração e solução de problemas.
c) Em alguns momentos dificulta a aquisição de signos, como a aquisição da linguagem.
d) Enquanto brinca a criança não necessita da interação do adulto, porque pode gerar depen-
dência emocional.
e) A ludicidade ao proporcionar prazer e motivação dificulta a “informação, transformação e
recriação”

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Questão 3
3. Froebel baseia sua teoria na metafísica, pressuposto romântico que en-
tende como atividade inata da criança, concebendo a brincadeira como
ação metafórica, livre, espontânea da criança.

a) A representação simbólica ajuda a criança no seu desenvolvimento por ser um comporta-


mento coercitivo.
b) Froebel defendia uma educação romântica porque considerava a criança muito infantil.
c) A filosofia de Froebel entende a criança com capacidade autoeducativa.
d) A brincadeira enquanto ação espontânea pode inibir o desenvolvimento da criança.
e) A criança, segundo Froebel passa por diferentes estágios: primeira, segunda e terceira in-
fância.

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Questão 4
4. Segundo Aristóteles, o homem é um ser social e com capacidades para o
conhecimento ético da verdade. Defende que os jogos e a brincadeira ajuda
na preparação para a vida adulta:

a) A brincadeira é para a criança um processo ético.


b) A brincadeira é um processo de purificação do corpo físico.
c) A criança quando brinca entra em processo de descarga de sentimentos (catarse).
d) O lúdico para os gregos constitui a forma de sobrevivência, como a caça e a pesca.
e) O lúdico se perpetua com a época, diferindo apenas a relação da criança com aos adultos.

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Questão 5
5. A concepção de lúdico na idade média apresenta um contexto diferente
em relação atualidade. Podemos afirmar que:

a) Na idade média o lúdico deveria ser a leitura da bíblia.


b) As brincadeiras deveriam ser apenas para o adulto
c) O lazer está relacionado ao bem-estar e o homem precisa se purificar.
d) Na idade média o lúdico está relacionado ao descanso.
e) A educação lúdica fazia parte do currículo da igreja.

31/245
Gabarito
1. Resposta: B. 3. Resposta: C.

A cultura define a estrutura das atividades Froebel em seus estudos defende que o ato
lúdicas. O jogo, ao se estruturar no campo de brincar, por ser uma ação espontânea, li-
do imaginário infantil constrói linguagens e, vre e prazerosa na criança, favorece o de-
portanto a cultura. senvolvimento interno caracterizado por
autodeterminação e seriedade nas ações.
2. Resposta: B.
4. Resposta: C.
A brincadeira é uma forma de exploração de
estratégia de resolução de problemas. Ao Quando a criança brinca, sente-se livre sem
brincar, a criança não está preocupada com opressão. Esse processo facilita a purifica-
os resultados, e sim com a satisfação im- ção da alma por meio da descarga emocio-
pulsionada pela atividade livre. É por meio nal. Esse processo denominado catarse tem
do ato lúdico que se inicia o processo de o sentindo de uma desintoxicação ou lim-
construção do conhecimento. peza da alma.

32/245
Gabarito
5. Resposta: D.

No período medieval a igreja como espaço


para a divulgação do cristianismo prega-
va o sacrifício e a renúncia como caminho
do homem se aproximar de Deus. Qualquer
manifestação contrária, como diversãoe
brincadeiras,distanciava o homem dos pro-
pósitos de Deus. O homem deveria acei-
tar sua condição de pecador dedicando-se
ao trabalho. O lazer era concebido apenas
como descanso e repouso para a purifica-
ção do espírito.

33/245
Unidade 2
A importância do brincar na infância

Objetivos

1. Relacionar as diferentes teorias sobre


a construção da concepção de infân-
cia.
2. Conhecer as concepções de infância
e a relação existente entre a criança e
as brincadeiras.
3. Reconhecer a importância da brinca-
deira no desenvolvimento cognitivo,
social e emocional da criança.

34/245
Introdução

A concepção de infância vem sofrendo mu- tras crianças, porém a infância precisa ser
danças de acordo com a transformação so- reconhecida como uma categoria social e
cial em que a criança está inserida. Pesqui- não período de preparação para o futuro
sas envolvendo diferentes áreas do conhe- (ABRAMOWICZ, 2011).
cimento, como as ciências humanas e so- Philippe Ariès (1981), em seu livro “História
ciais, têm influenciando nas investigações social da criança e da família”, afirma que o
sobre a relação da sociedade no processo sentimento de família e a visibilidade da in-
de reconhecimento da criança enquanto fância ocorrem entre os séculos XVII e XVIII.
sujeito social. Se analisarmos a infância eti- A criança até o período medieval era conce-
mologicamente, encontraremos no latim bida como um adulto em miniatura, desen-
infantia que significa “não falante”, logo o volvendo atividades e participando da vida
indivíduo que não fala. Portanto a infância social e econômica como um adulto. Por
durante muito tempo foi concebida como a muito tempo a infância não era representa-
etapa da vida como vir a ser, a preparação da no meio familiar, assim com o sentimen-
para o futuro. Entende-se que a criança ne- to afetivo que também não era percebido.
cessita do adulto para sua aprendizagem
e seu desenvolvimento, esse processo se Na atual contemporaneidade, a infância
constitui na interação com o adulto e ou- tem sido foco de pesquisas e abordagens
no contexto educacional, e com a Lei de Di-
35/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância
retrizes e Bases, a infância foi reconhecida O direito à brincar está registrado também
como primeira etapa da educação básica e na Declaração Universal dos Direitos da
a criança como sujeito de direito. O Estatu- Criança aprovado em 20 de novembro de
to da Criança e do Adolescente define a ida- 1959 pelo Fundo das Nações Unidas para a
de de criança até doze anos incompletos e Infância (UNICEF) em seus artigos 4º e 7º:
adolescentes de 13 aos 18 anos. No artigo
16, inciso IV e descreve “O direito a liberda-
de compreende os seguintes aspectos: di-
reito a brincar, praticar esportes e divertir-
-se” (BRASIL, 2010, p. 24).

Link
Texto na íntegra do Estatuto da Criança e do Ado-
lescente

Disponível em: <http://www.planalto.gov.


br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: 20
maio 2017.

36/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


Art. 4º: A criança terá direito à alimentação, à recreação e à assistência mé-
dica adequadas [...]
Art. 7º: A criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se, visan-
do os propósitos mesmos da sua educação; a sociedade e autoridades pú-
blicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito. (UNICEF, 1990)

Link
Declaração dos Direitos da Criança em 1959.

Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Crian%C3%A7a/declaracao-


-dos-direitos-da-crianca.html>. Acesso em: 27 jun. 2017.

A legislação internacional e nacional assegura o direito de a criança ter momentos de brinca-


deiras porque entende que o brincar além de proporcionar momentos de lazer é constitutivo
da infância. A brincadeira oferece possibilidades de investigações que ajuda na exploração das
aprendizagens das diferentes linguagens da criança.

37/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


Portanto, a brincadeira exerce um papel im-
portante nas diferentes experiências do co- Link
tidiano infantil, podendo ser de caráter livre Brinquedos e brincadeiras de creches. Documen-
e espontâneo ou direcionado a uma ativi- to elaborado pelo Ministério de Educação visando
dade lúdica com objetivos pedagógicos. atender as normatizações da Emenda Constitu-
A brincadeira pode ser caracterizada como cional nº 59 que determinou o atendimento ao
livre quando desenvolvida sem obrigação e educando em todas as etapas da educação básica
possui ato simbólico ou imaginário atuando por meio de programas suplementares de orien-
como atividade cultural, ajuda na organi- tação didática.
zação, sequência de ações e no desenvolvi- Disponível em: <http://agendaprimeirainfan-
mento ético. cia.org.br/arquivos/publicacao_brinque-
do_e_brincadeiras_completa.pdf>. Acesso
em: 20 maio 2017.

38/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


1. A brincadeira e a infância conta” existe a presença de situações ima-
ginárias em que as brincadeiras se tornam
Ao definir os critérios para atendimento das o instrumento para a criança desenvolver
crianças de zero a seis anos, as pesquisado- sua autoestima, identidade, regras na con-
ras, Rosemberg & Malta (2009) em seu livro vivência social e situações problemas. É por
“Critérios para um atendimento em creches meio do brinquedo que a criança interage,
que respeite os direitos fundamentais das cria situação imaginária, domina conheci-
crianças”, estabeleceram como ponto cen- mentos e se integra na cultura. “No brin-
tral do respeito aos direitos da criança enfa- quedo a criança comporta-se de forma mais
tizando a brincadeira como primeiro crité- avançada do que nas atividades da vida real
rio (ROSEMBERG & MALTA, 2009). A brinca- e também aprende a separar objeto e signi-
deira faz parte da cultura lúdica da criança, ficado” (OLIVEIRA,1993, p. 67).
contribui nas diferentes vivências e repre-
sentações, uma delas refere-se aos signifi-
cados que os objetos assumem no processo
do brincar. Diferentes papéis poderão ser
desenvolvidos no contexto das brincadeiras
entre as crianças. Por exemplo, “no faz de

39/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


A criança no faz de conta ou jogo simbólico
apropria-se e transmite atitudes de seu co-
tidiano e seus desejos. Ao assumir a repre-
sentação, apropria-se de papéis de pesso-
as que convivem no seu dia a dia, como pai,
Para saber mais mãe, tios, irmãos, primos e professores.
O brinquedo é a atividade principal da criança,
aquela em conexão com a qual ocorrem as mais
significativas mudanças no desenvolvimento psí-
quico do sujeito e na qual se desenvolvem os pro-
cessos psicológicos que preparam o caminho da
transição da criança em direção a um novo e mais
elevado nível de desenvolvimento. (LEONTIEV,
1998 b).

40/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


Segundo Vygotsky (2002, p. 122 e 123):

“[...] toda função da consciência surge originalmente na ação, sendo que as ações
internas e externas são inseparáveis: a imaginação, a interpretação e a vontade
são processos internos conduzidos pela ação externa [...] Esse processo na ativi-
dade lúdica ocorre por meio da brincadeira ou brinquedo. A brincadeira propor-
ciona o deslocamento da ação para o pensamento.
Quando a criança brinca, transporta os sentimentos, suas atitudes expressam experiências mo-
tivadas muita das vezes por regras já implícitas. Fromberg (1987 apud Kishimoto 2006, p. 27)
caracteriza o jogo como:

• simbolismo: representa a realidade e atitudes; significação: permite relacionar


ou expressar experiências;
• atividade: a criança faz coisas;
• voluntário ou intrinsecamente motivado: incorporar motivos e interesses;
• regrado: sujeito a regras implícitas ou explícitas,
• episódicas: metas desenvolvidas espontaneamente.
41/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância
As representações que a criança constrói
enquanto brinca apresentam significados Para saber mais
que são assumidos em diferentes papéis, A cultura lúdica não está isolada da cultura glo-
como: a menina torna-se mãe, tia, irmã, balizada. Hoje, a criança recebe informações de
professora ou o menino que tornar-se pai, diferentes meios de comunicação oferecida pela
índio, polícia, ladrão. Enquanto simula os mídia. A internet, a televisão e o rádio contribuem
diferentes papéis nesse processo de “faz de na transmissão de diferentes conteúdos que
conta”, promove seu desenvolvimento cog- exercerão interferências nos modelos de cultura
nitivo e afetivo social. (BOMTEMPO 2006). infantis existentes (BROUGÈRE, 1998).
Atualmente, a criança pode se apropriar de
outros personagens divulgados na mídia
como a televisão, cinema, vídeo games e 2. A importância da brincadeira
brincadeiras que são produzidos por meio na infância
de brinquedos industrializados podendo
Alguns teóricos apresentam suas interpre-
modificar a cultura lúdica na introdução de
tações sobre o Jogo Simbólico ou o “faz de
novos personagens (BROUGÈRE, 1998).
conta” no imaginário infantil.

42/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


2.1 Piaget Quando a criança se apropria do jogo sim-
bólico, ela constrói um mundo livre sem
Para Piaget (1975) quando a criança brin- sanções e regras projetados pelos adultos,
ca, ela assimila de forma espontânea sem facilitando sua criatividade em transformar
a preocupação com a realidade. A função sua realidade de acordo com os interesses
simbólica consiste na capacidade que a infantis.
criança adquire ao diferenciar significantes
e significados. Por meio de suas manifesta-
ções, a criança torna-se capaz de represen-
tar um significado (objeto-acontecimento)
por meio de um significante diferenciado
e apropriado para essa representação. O
apogeu do jogo simbólico ocorre entre 2 e 4
anos de idade (PIAGET, 1975 apud FREITAS,
2010, p. 148).

43/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


Para Piaget (1975), o jogo simbólico ou a
Para saber mais brincadeira do “faz de conta” consiste na
assimilação egocêntrica do real. O pen-
Jean Piaget nasceu em Neuchâtel na Suíça no dia
samento lúdico assumirá o processo que
9 de agosto de 1896. Em 1918 obtém seu douto-
mistura entre a realidade e a fantasia, dis-
rado em Ciências Naturais. Em Zurique busca for-
torcendo a percepção da realidade. A fun-
mação em psicologia para a elaboração de uma
ção simbólica é a capacidade que a criança
epistemologia biológica. Muda-se para Paris,
adquire de diferenciar os significantes (sig-
onde segue seus cursos de psicologia, lógica e fi-
nos e símbolos) dos significados (objetos ou
losofia das ciências. Autor dos livros: A linguagem
acontecimentos, uns e outros esquemáti-
e o pensamento da criança, Introdução à episte-
cos ou conceitualizados). A partir do segun-
mologia genética e outras obras. Em seus estudos
do ano de idade, a criança já consegue, por
sobre a Teoria do Conhecimento identificou qua-
meio de símbolos, representar ações, utili-
tro estágios de evolução mental da criança: sen-
zando a imitação, imagem mental, lingua-
sório motor, pré-operatório, operatório concreto,
gem e desenho. O jogo imaginativo pode
operatório formal. Suas pesquisas revelaram que
acontecer em pares ou grupos de crianças
a lógica de raciocínio das crianças difere do adul-
que em alguns momentos introduz objetos
to. Em 1980 morre em Genebra.
inanimados, pessoas e animais ausentes.

44/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


Enquanto assume o jogo simbólico, a criança constrói um mundo sem regras, sanções e normas
estabelecidas pelo adulto, facilitando a transformação da realidade em fantasia para satisfazer
seus desejos e conflitos.

2.2 Vygotsky

Ele discute o papel do brinquedo enfatizando a brincadeira do “faz de conta” como uma ação
privilegiada no papel do desenvolvimento. Nesse processo imaginário, como a brincadeira, a
criança adquire um comportamento determinado pela situação concreta em que se encontra.

Além de uma situação imaginária, o brinquedo é também uma atividade


regida por regras. Mesmo no universo do “faz de conta” há regras que de-
vem ser seguidas. Numa brincadeira de escolinha, por exemplo, tem que
haver alunos e uma professora, e as atividades a serem desenvolvidas têm
uma correspondência pré-estabelecida com uma escola real (OLIVEIRA,
1993, p.67).

45/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


Para Vygotsky (1993) o que na realidade muitas ações passam despercebidas, na brincadeira de
“faz de conta” torna-se regra e a criança compreende os diferentes papéis que representa. “No
brinquedo a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida real e
também aprende a separar objeto e significado” (OLIVEIRA, 1993, p.67).

Para saber mais


O russo Lev Semenovich Vygotsky, nasceu em 17 de novembro de 1896, na cidade de Orsha e morreu aos
37 anos de tuberculose. Estudou Direito, Filosofia e História e durante os anos de 1924-1934 cria sua te-
oria histórico-cultural dos fenômenos psicológicos. Sua abordagem busca uma síntese para a psicologia
que integra o homem enquanto corpo e mente, enquanto ser biológico e ser social, enquanto membro da
espécie humana e participante de um processo histórico. Dedicou-se aos estudos denominados “funções
psicológicas superiores” ou processos mentais superiores. O ser humano tem a possibilidade de pensar
em objetos ausentes, imaginar eventos nunca vividos, planejar ações a serem realizadas em momentos
posteriores (Oliveira, 1993, p. 26).

A brincadeira de “faz de conta” na teoria de Vygotsky corresponde ao jogo simbólico descrito por
Piaget. O papel do brinquedo no desenvolvimento da criança favorece a promoção de diferentes
atividades que se apropriando de situações imaginárias pode ser utilizada na função pedagógica.
46/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância
Para Vygotsky (2002) o desenvolvimento é 2.3 Wallon
um processo que ocorre de fora para dentro
por meio da apropriação da cultura. O adul- Para Wallon (1995), o meio social é o fator
to e os colegas formam o grupo de media- preponderante na formação da persona-
dores da cultura que possibilita o desenvol- lidade da criança. A relação social estabe-
vimento da criança. Portanto, a aprendiza- lecida na brincadeira favorece o desenvol-
gem se dará pela mediação do adulto com vimento e a exploração dos sentidos. É por
a criança. Vygotsky construiu o conceito meio da brincadeira que a criança estabele-
de Zona de Desenvolvimento Proximal, re- ce a primeira relação de comunicação com
ferindo-se às possibilidades da criança que o meio através do corpo. Para Wallon o ato
podem ser desenvolvidas a partir do ensino de brincar está relacionado à satisfação e ao
sistemático (BOCK, 2002). prazer de quem está envolvido, se for uma
imposição, deixa de ser brincadeira.
A aprendizagem é, portanto, um processo
essencialmente social, que ocorre na inte- A criança reage aos estímulos exteriores
ração com os adultos e os colegas. adotando posturas e expressões que “no faz
de conta” é possível compreender com mais
clareza a origem corporal da representação.

47/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


Por exemplo, a criança que arruma os braços como se estivesse carregan-
do uma boneca e balança-o como se estivesse ninando. Ou a criança que
faz o gesto de pegar o sabão, de abrir a torneira, de esfregar e enxugar
como se estivesse dando banho em um bichinho de estimação (GALVÃO,
1995, p. 73).
Nesse processo em que o objeto é substituído em gestos simbólicos é denominado de simulacro
como representação.
Na infância torna-se evidente o papel do movimento, a criança reage aos estímulos externos
através da postura e expressões. A partir dessa impregnação perceptiva ela consegue reproduzir
cenas através da imitação, que segundo Wallon “é uma forma de atividade que revela, de manei-
ra incontestável, as origens motoras do ato mental” (WALLON, 1995, p. 72).

48/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


tura adquiridos pela comunicação e inter-
Para saber mais ação social. Para Piaget o brincar representa
uma fase de desenvolvimento da inteligên-
Henri Wallon nasceu na França em 15 de junho
cia evidenciado pelo desenvolvimento da
de 1879 e morreu em 01 de dezembro de 1962.
inteligência representado pelo domínio da
Foi médico, psicólogo e filósofo e desenvolveu te-
assimilação e acomodação. Na concepção
orias pedagógicas. Ele vê o desenvolvimento da
de Wallon, infantil é sinônimo de lúdico, por
pessoa como uma construção progressiva em que
ser uma atividade voluntária da criança.
sucedem fases alternando afetivo e cognitivo. Em
sua teoria, Wallon descreve cinco estágios: im- É por meio da brincadeira e dos brinquedos
pulsivo-emocional, sensório-motor e projetivo, que a criança desenvolve canal de comuni-
personalismo, categorial e adolescência (Galvão, cação, uma forma de diálogo com o mundo
1995). adulto.

A brincadeira para Vygotsky valoriza o fator


social, abordando que no jogo de papéis a
criança cria uma situação de faz de conta,
incorporando diferentes elementos da cul-

49/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


Glossário
UNICEF: o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) foi criado em 11 de dezembro de
1946, pela Organização das Nações Unidas (ONU), para atender, na Europa e na China, às ne-
cessidades emergenciais das crianças durante o período pós-guerra. Disponível em: <https://
www.unicef.org/brazil/pt/faq.html>. Acesso em: 18 abr. 2017.

Simulacro: é um procedimento relativo à produção de sentidos. Quanto mais próximo estiver da


realidade, do objeto, menos deixará de ser uma representação. O distanciamento colabora para
o surgimento das manifestações de simulacros. Quanto mais distante, mais se tem uma ideia do
real, mais se imagina o que é o real, menos clareza se tem do que é a realidade. É como se hou-
vesse uma transformação das coisas em algo parecido com sua forma original (BAUDRLLARD,
1992). Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj.br>. Acesso em: 19 abr. 2017.
Zona de Desenvolvimento Proximal ou Potencial: é a distância entre o nível de desenvolvimen-
to real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas e o nível de
desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação do
adulto ou em colaboração com outros companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 1993).

50/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


?
Questão
para
reflexão

A brincadeira faz parte do universo infantil. Qual a con-


tribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon no desenvolvi-
mento da criança?

51/245
Considerações Finais (1/2)

• O lúdico torna-se o canal de comunicação de grande importância no


mundo infantil, porque auxilia a criança, em seu imaginário, a cons-
truir uma ponte entre a fantasia e a realidade.
• Quando a criança se apropria do jogo simbólico consegue vivenciar
diferentes situações de seu cotidiano, abrindo espaço para um diálo-
go com os adultos e seus parceiros infantis.
• A relação entre a criança e o objeto torna-se visível nas diferentes
situações vivenciadas pelas crianças na reprodução das ações dos
adultos quanto às representações de papéis.
• A relação entre o lúdico e a infância nos remete a uma reflexão quanto
ao direito de a criança brincar. É necessário construir espaços lúdicos,
como parques, brinquedotecas, espaços públicos voltados à infância
para vivências e interações sociais.

52/245
Considerações Finais (2/2)
• É por meio da interação social que a criança se apropria da cultura,
resolve conflitos, negocia sentimentos, constrói novas ideias e solu-
ciona problemas.

53/245
Referências

ABRAMOWICZ, Anete. A pesquisa com crianças em infâncias e a sociologia da infância. In: FARIA,
Ana Lúcia Goulart e FINCO, Daniela (Org.). Sociologia da Infância no Brasil. São Paulo: Cortez,
2011.
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
BECKER, Fernando (coord.). Função simbólica e aprendizagem. Porto Alegre: Educat, 2002. Bi-
blioteca Virtual da USP. Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br>. Acesso em: 18 abr.
2017.
BOCK, Ana Merces Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias, uma
introdução ao estudo de psicologia. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
BOMTEMPO, Edda. A brincadeira de faz de conta: lugar do simbolismo, da representação, do
imaginário. In: KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São
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BRASIL, Secretaria dos Direitos Humanos. Conselho Nacional dos Direitos da criança e do Ado-
lescente. CONANDA. Estatuto da criança e do adolescente. Brasília: SDH, 2010.
BROUGÈRE, Gilles. A cultura lúdica. São Paulo: Revista da faculdade de Educação, Vol. 24, nº 2.
Jul Dez, 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 20 maio 2017.

54/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


FREITAS, Maria Luiza de Lara Uzun. A evolução do jogo simbólico na criança. Ciências e Cog-
nição. V. 15 (3), p. 145-163, 2010. Disponível em: <http://www.cienciasecognicao.org>.> Acesso
em: 19 abr. 2017.
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópo-
lis: Vozes, 1995.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cor-
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LEONTIEV, A.N. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psique infantil. In: VY-
GOTSKY, L.S. et al. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1998.
LUIZ, Jessica Martins marques et al. As concepções de jogos para Piaget, Wallon e Wygotsky.
Buenos Aires: Revista digital EFDeportes.com Ano 19, nº 195, Agosto de 2014. Disponível em:
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MUDADO, Tereza Harmendani. A brincadeira como educação da vontade: cumprir as regras
é a fonte de satisfação. Revista Virtual de gestão de Iniciativas sociais. Publicada em junho de
2008. Disponível em: <http://www.ltds.ufrj.br/>. Acesso em: 18 abr. 2017.

55/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


PIAGET, J. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e represen-
tações. 3ª ed. Rio de Janeiro: editora Guanabara, 1978.
___________ Seis estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
OLIVEIRA, Elisangela Modesto Rodrigues de. O Faz de Conta e o Desenvolvimento Infantil. Re-
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br>. Acesso em: 18 abr. 2017.

OLIVEIRA, Marta Kohl. VYGOTSKY. Aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-históri-


co. São Paulo: Scipione, 1993.
ROSEMBERG, Fúlvia e MALTA, Maria. Critérios para um atendimento em creches que respeite
os direitos fundamentais das crianças. Brasília: MEC/SEB, 2009.
VIGOTSKI, L.S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2002.
_____________ A brincadeira e o seu papel no desenvolvimento psíquico da criança. Revista
Virtual de Gestão de Iniciativas Sociais, Junho de 2008. Disponível em: <http://www.ltds.ufrj.br>.
Acesso em: 21 maio 2017.

56/245 Unidade 2 • A importância do brincar na infância


Questão 1
1. Ariès, pesquisador francês, utilizando-se de documentos e da iconografia
religiosa no período medieval trouxe uma contribuição importante sobre a
concepção de infância:

a) A criança é um adulto em miniatura a partir do século XX.


b) O sentimento de infância surgiu após o século XIX com a psicologia da infância.
c) A participação da criança nas atividades do adulto, na idade média, reconheceu a criança
como sujeito de direito.
d) O sentimento de infância só foi reconhecida com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação em
1996.
e) A família e o sentimento de infância adquiriram visibilidade após o século XVII.

57/245
Questão 2
2. Segundo a Declaração dos Direitos da Criança em seu art. 7 “a criança
terá ampla oportunidade para brincar” (UNICEF, 1990).

a) Porque a brincadeira ajuda no desenvolvimento social da criança.


b) Por meio da brincadeira a criança se socializa.
c) A família precisa levar os filhos aos parques para cumprir a lei.
d) A criança como cidadão tem o direito ao lazer e a brincadeiras.
e) O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) em seu artigo 1º considera-se criança, a pessoa
até doze anos incompletos, e adolescente aquele entre doze e dezoito anos de idade.

58/245
Questão 3
3. Algumas características da brincadeira se tornam evidentes entre as crian-
ças:

a) Na brincadeira as crianças desempenham sempre o mesmo papel no mundo simbólico.


b) Quando as crianças brincam simulam diferentes papéis no seu imaginário.
c) A mídia impede que as crianças brinquem de faz de conta porque modifica a cultura lúdica.
d) Quando a criança brinca no jogo simbólico ou faz de conta, as regras são impostas pelo
adulto.
e) A criança só brinca de faz de conta quando está no coletivo.

59/245
Questão 4
4. Para Vygotsky, a criança no faz de conta, não vê o objeto como ele é, mas
confere um novo significado. Exemplo: cabo de vassoura pode ser um cavalo.

a) Na brincadeira quem estabelece a regra é o adulto e não a criança.


b) Na brincadeira, o jogo simbólico é a relação entre assimilação e acomodação.
c) Na brincadeira a criança cria novas relações entre as situações no pensamento e situações
reais.
d) A criança enquanto brinca nomeia os objetos de acordo com o significado real.
e) É por meio da brincadeira imaginária que a criança brinca sem se importar com as regras e
os papéis dos personagens.

60/245
Questão 5
5. Considerando os teóricos que estudam sobre a brincadeira, podemos afir-
mar que:

a) A brincadeira favorece um diálogo entre a criança e o adulto porque é resultado de ativida-


des pedagógicas com regras.
b) A interação entre a criança e o adulto dificulta o mundo simbólico porque a criança reproduz
as ações dos adultos.
c) A relação entre a brincadeira e a infância, remete ao direito de toda a criança ter acesso aos
meios de comunicação para ampliar sua cultura lúdica.
d) O jogo simbólico implica na representação de um objeto por outro cujo significado seja idên-
tico.
e) A relação entre a criança e o faz de conta torna-se visível na reprodução das ações do adulto
nas representações de papéis.

61/245
Gabarito
1. Resposta: E. mento obrigatório para os Estados mem-
bros. Em 1979 é celebrado o Dia Internacio-
O francês Àriès, em seus estudos sobre a nal da Criança e em 1990 no Brasil foi apro-
história social da criança e da família, con- vado o Estatuto da Criança e Adolescente
cluiu que por volta do século XII, a arte me- que também ratifica o direito da criança
dieval desconhecia a infância ou não tenta- brincar.
va apresentá-la. O autor afirma que não ha-
via lugar para a infância nesse período. Só 3. Resposta: B.
a partir do século XVII com o surgimento do
sentimento de apego, afeto, a criança passa A criança quando brinca desempenha dife-
reconhecida. rentes papéis em seu imaginário. Por meio
do faz de conta ela é estimulada na área
2. Resposta: D. cognitiva a desenvolver situações proble-
mas; no físico a coordenação motora; no
A criança, enquanto cidadã, tem o direito social compartilhar diferentes papéis e no
que lhe foi outorgada pela Convenção dos emocional a autoestima e independência.
Direitos da Criança em 1959. É adotado por
unanimidade, porém não era de cumpri-

62/245
Gabarito
4. Resposta: C.

Vygotsky, em seus estudos, afirma que o


brinquedo para a criança é coisa séria. Nes-
sa perspectiva, quando a criança ressigni-
fica o objeto em situações imaginárias, na
realidade cria novas relações entre situa-
ções no pensamento e situações reais.

5. Resposta: E.

Para Piaget, o jogo simbólico se apresenta


inicialmente solitário, evoluindo para o es-
tágio que ele denomina de jogo sociodra-
mático que é a representação de papéis,
como brincar de médico, de casinha, de
mãe, pai, etc.

63/245
Unidade 3
Conceituando jogos e brincadeiras

Objetivos

1. Estudar o significado de jogo, brin-


quedo e brincadeira no contexto edu-
cativo.
2. Reconhecer a diferença entre jogo e
brincadeira.
3. Entender a importância dos jogos no
desenvolvimento humano.

64/245
Introdução

Entender o significado de brincar e jogar 1. Conceituando Jogo e Brinca-


ajudará a contextualizar e reconhecer a di- deira
ferença etimológica dessas palavras na lín-
gua portuguesa. Para melhor dialogar, ana- Para saber mais: nas brincadeiras, as crian-
lisaremos a partir de um contexto lúdico. ças transformam os conhecimentos que já
Será que os termos têm o mesmo sentido possuíam anteriormente em conceitos ge-
em nossa cultura? A tradução do brincar rais com as quais brinca. Brincar contribui
em francês é (jouer), na língua inglesa (play) para a interiorização de determinados mo-
e na língua portuguesa os termos “brincar” delos dos adultos, no âmbito de grupos so-
e “jogar” têm significados distintos. Dantas ciais diversos (Brasil, 1998).
(1998, p. 111) oferece a seguinte explica-
Os jogos são constituídos de regras, estra-
ção: “brincar é anterior a jogar, uma condu-
tégias e motivação para brincar. Os jogos
ta social que supõe regras. Brincar é forma
também servem para competições, entre-
mais livre e individual, que designa as for-
tenimento, lazer e disputa entre profissio-
mas mais primitivas de exercício funcional”.
nais da área.

65/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras


Segundo o dicionário infopédica (2017):

Jogo: atividade lúdica ou competitiva em que há regras estabelecidas e em


que os praticantes se opõem, pretendendo cada um ganhar ou conseguir
melhor resultado que o outro.

Brincar: divertir-se com jogos; entreter-se com brincadeiras infantis; grace-


jar; zombar; proceder com leviandade em relação a algo (INFOPEDIA, 2017).
Kishimoto (2006) afirma que o jogo pode receber diversas interpretações, por exemplo, jogo de
adulto, criança, animais, dominó, quebra-cabeça, xadrez, futebol, construir barquinhos, entre
outros. A autora faz uma distinção entre os jogos de “faz de conta” e o jogo de xadrez. No pri-
meiro, a criança usa sua capacidade imaginativa ou simbólica e no segundo utiliza-se de regras
padronizadas que direcionam os movimentos das peças. Exemplifica que brincar na areia pro-
porciona o prazer de encher e esvaziar os copinhos na manipulação dos objetos enquanto que a
construção de um barquinho vai exigir tanto a representação mental do objeto como a habilida-
de manual na construção.

66/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras


Enfatiza que o jogo de xadrez necessita de quedo que pode ter a finalidade de lazer ou
estratégias e regras para com o adversário, estratégia para a aprendizagem de núme-
contudo, quando se joga pelo entreteni- ros. Nesse caso, é brincadeira ou recurso
mento e o prazer, o resultado é lúdico. Mas pedagógico? E a boneca? Kishimoto (2006)
se for uma disputa profissional em que os faz uma análise considerando o aspecto
participantes jogam para competir e não cultural da boneca. É um brinquedo para a
apenas pelo prazer? O jogo deixa de ser es- criança reproduzir a relação entre “mãe e a
pontâneo e passa configurar como trabalho filhinha”, mas em outras culturas, segundo
e obrigação. Nesse caso pode-se afirmar as pesquisas etnográficas, pode representar
que é jogo? divindades. Ela conclui diante dessa multi-
A diferença se concentra na linguagem de plicidade de manifestações culturais que se
cada contexto social e no uso de regras. A torna difícil definir o jogo sem avaliar suas
noção de jogo remete-se ao uso no cotidia- peculiaridades.
no de acordo com as interpretações e proje- Kishimoto (2006) citando as pesquisas de
ções sociais (KISHIMOTO, 2006, p. 16). Brougère (1981, 1993) e Herinot (1983,
A partir da reflexão da autora, podem-se 1989) apresenta três aspectos sobre o jogo:
questionar outras atividades lúdicas como, a linguagem e o contexto social, um sistema
por exemplo, o jogo de tabuleiro. É um brin- de regras e um objeto.
67/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras
A noção de jogo não está condicionada ape- O brinquedo é diferente do jogo, o brinque-
nas à língua particular de uma ciência, mas do representa uma relação mais próxima da
ao uso cotidiano da linguagem que pressu- criança com a ausência de regras. Quando
põe interpretações e projeções sociais. O a criança se apropria de um brinquedo, é
jogo enquanto fato social assume a cultura estimulada a reproduzir a natureza e o seu
que a sociedade lhe atribui. cotidiano, segundo Kishimoto “pode-se di-
Os jogos que obedecem a um sistema de zer que um dos objetivos do brinquedo é dar
regras permitem ser identificado em qual- à criança um substituto dos objetos reais,
quer modalidade, como por exemplo, o jogo para que possa manipulá-la” (KISHIMOTO,
de xadrez que difere do jogo de damas e do 2006, p.18).
baralho.
1.2 Características do Jogo
O terceiro aspecto refere-se ao material
que é confeccionado o jogo, o objeto. O pião Alguns estudiosos afirmam que uma das
pode ser confeccionado com a madeira e o características do jogo ao ser considerado
xadrez pode ser confeccionado com plásti- um elemento da cultura, tem relação com
co ou outro material. o prazer e também o desprazer. Kishimoto
(2006), citando Vygotsky, afirma que no es-

68/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras


forço de atingir seus objetivos, o jogo pode
provocar desprazer. A relação da brinca- Link
deira está associada ao riso e o prazer, mas A concepção do jogo no desenvolvimento motor.
em determinada situação em que a criança Disponível em: <http://www.pucpr.br/eventos/
está envolvida no processo de atingir seus educere/educere2006/anaisEvento/docs/CI-
desafios pode gerar momentos de descon- 060-TC.pdf>. Acesso em: 21 maio 2017.
forto, afinal, “brincadeira de criança é coisa
séria”. Huizinga (1951) esclarece que en-
Uma das características marcantes no jogo
quanto brinca, a criança está concentrada
são as regras internas e externas, conside-
diante do processo no ato de brincar. A au-
rando sua intencionalidade não produtiva
tora reafirma que o ato de brincar deve ser
de associar o jogo à bens ou riqueza. Outro
espontâneo e focado no prazer, o contrário,
fato importante no ato de brincar infantil é a
deixa de ser uma brincadeira e passa ser um
não preocupação com “aquisição de conhe-
jogo.
cimentos ou habilidade mental ou física”
(Kishimoto, 2006, p. 24). A característica
do jogo infantil segundo alguns estudiosos
pode ser assim classificada:

69/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras


• A não literalidade quando a realidade interna sobrepõe à realidade ex-
terna (ato simbólico).
• Efeito positivo quando demonstra sentimento através do sorriso, etc.
• Flexibilidade, a ausência de pressão cria um ambiente favorável a explo-
ração e investigação.
• Prioridade no processo de brincar. Sua atenção e
• concentração está no processo e não no produto.
• Livre escolha, quando o jogo não é escolhido pela criança, torna-se tra-
balho e não brincadeira.
• Controle interno, quando o jogo recebe o direcionamento pela criança
sem a coerção do adulto (CHRISTIE, 1991 apud KISHIMOTO, 2006, p. 25).
O resultado dessas pesquisas aponta alguns elementos que se relacionam com os jogos: a liber-
dade, as regras, a relevância do brincar, a imaginação ou a não literalidade, o contexto tempo e
espaço.

70/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras


A brincadeira no período do “Romantismo” senvolvimento”. A brincadeira e a imitação
defendia como conduta espontânea e livre precisam fazer parte do desenvolvimento
como instrumento de educação na pequena da criança.
infância, seus representantes são Jean-Paul
Richter, Hoffmann e Fröebel. 2. Piaget e o jogo
No século XVIII a infância estava no perío-
Piaget (1993), em suas pesquisas, se pre-
do conhecido como “Romantismo” em que
ocupou com o sujeito epistêmico e com os
se constrói um novo lugar para a criança.
estudos dos processos de pensamento pre-
Muitos teóricos consideravam o jogo uma
sentes desde a infância inicial até a idade
atitude espontânea. Os representantes da-
adulta. Enfatizou em seus estudos a relação
quela época eram os filósofos e educado-
entre a criança e o adulto em processo ativo
res: Jean-Paul Richeter, Hoffmann e Fröebel
de interação nas diferentes etapas da vida.
(KISHIMOTO, 2006).
Com a entrada da psicologia da criança no
século XIX, as pesquisas voltadas à criança
recebem forte influência da biologia. Para
Claparède (1956), o jogo infantil desem-
penha uma ação como “motor do autode-
71/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras
O segundo é a fase simbólica de 2 a 4 anos.
Link A criança amplia os movimentos físicos,
utiliza-se das mãos para pegar objetos,
Apresenta as concepções sobre a epistemologia rasgar, desmontar. São ações intencionais,
genética segundo Piaget. Disponível em: <http:// psicomotoras e simbólicas. Nessa fase do
www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/ “faz de conta”, enquanto a criança desen-
scheme/article/viewFile/3183/2494>. Acesso volve sua imaginação através da imitação,
em: 23 2017. também estimula o desenvolvimento inte-
lectual. “A função simbólica é a linguagem
Almeida (1994) descreve o desenvolvimen- por um lado e o sistema de sinais sociais em
to psicogenético de Piaget que se classifica oposição aos símbolos individuais. Mas ao
por estágios. O primeiro é o sensório-motor mesmo tempo em que existe essa lingua-
(1 a 2 anos) em que a criança desenvolve os gem existem outras manifestações da fun-
sentidos, seus movimentos, seus músculos ção simbólica” (PIAGET, 1993, p. 218).
e seu cérebro. O bebê utilizando-se do ato
Na fase intuitiva (4 a 7) a criança está pro-
de brincar movimenta as diferentes par-
pensa à imitação e a questionamentos, é a
tes do corpo. É no contato afetuoso com o
fase da busca em saber os porquês. O jogo
adulto que a criança manifesta o primeiro
nesta fase estimula e enriquece os “esque-
sinal que demonstra uma educação lúdica.
72/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras
mas perceptivos (visuais, auditivos e cines- intencional. Tem o objetivo de romper os
tésicos) e os operativos (memória, imagi- esquemas por conta das perguntas e solu-
nação, lateralidade, representação, análise, cionar problemas. Adquire consciência da
síntese, causa, efeito)” (ALMEIDA, 1994, p. vida social e gosta de participar da práti-
34). Nessa fase as crianças brincam com ou- ca esportiva. “O jogo não é uma atividade
tras crianças, ainda não conseguem enten- isolada de um grupo de pessoas, ela reflete
der as regras e por isso em algum momento experiências, valores da própria comunida-
ocorrem brigas. O adulto exerce papel muito de em que são inseridas” (ALMEIDA, 1994,
importante nessa fase do desenvolvimento p.37). As regras vão se incorporando de ma-
físico, mental e afetivo. É nesse período que neira democrática, contudo diante de uma
a família precisa oferecer um ambiente rico competição, a criança pode desobedecer ao
em informações e possa estimular o desen- regulamento ou regras.
volvimento, nunca obrigando a assimilar Fase da operação abstrata, a partir dos 12
isso ou aquilo. As crianças devem participar anos, os jogos são realizados com objeti-
de uma pré-escola e escola com objetivo de vo do equilíbrio físico. A prática de espor-
auxiliar no desenvolvimento infantil. te constitui para o adolescente uma forma
Na fase da operação Concreta de (7 a 12 de ajudar no equilíbrio emocional ou social
anos) a criatividade da criança torna-se e a construção de princípios de vida. O que
73/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras
chama atenção é que no jogo os adolescen- 3. Vygotsky e o brinquedo
tes têm comportamentos diferentes por ser
uma atividade livre.
Os jogos através de suas regras podem con- Link
tribuir para uma visão de mundo, uma pos- A brincadeira de faz de conta e a infância segun-
tura e muitas vezes o rompimento do senso do Vygotsky.
comum. Disponível em: <http://editorarevistas.
m a c ke n z i e . b r / i n d e x . p h p / t i n t / a r t i c l e /

Para saber mais view/9807/6068>. Acesso em: 27 jun. 2017.

“a obra de Piaget sobre a epistemologia genética


Segundo Vygotsky, a brincadeira exerce in-
apresenta como o conhecimento se desenvolve
fluência no desenvolvimento infantil. Na
desde as rudimentares estruturas mentais do re-
realidade, ele discute o papel do brinquedo
cém-nascido até o pensamento lógico do adoles-
e em especial refere-se ao “faz de conta”
cente” (RAPPAPORT, 1991, p.51-52).
como “brincar de casinha, brincar de esco-
linha, brincar com cabo de vassoura” (OLI-
VEIRA, 1993, p.66).

74/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras


Quando a criança brinca com tijolinho de “No decorrer do desenvolvimento do jogo, a
madeira imitando um carrinho, na realidade motivação separa-se da percepção, ou seja,
ela está relacionando com o significado de a criança é livre para agir diferentemente
carro e não ao objeto tijolo. O tijolo de ma- do que os órgãos dos sentidos indicam. Em
deira que representa o carrinho serve como situação de jogo, a criança vê, pega, ouve,
representação de uma realidade ausente e manipula um objeto, fazendo de conta que
contribui para separar objeto e significado. é outro, existente somente no simbolismo”
O brinquedo, mesmo em situação de “faz (PIMENTEL, 2007, p.229).
de conta”, exige regras. Estas precisam ser A organização de atividades contribui para
seguidas, por exemplo: numa escolinha pre- a criação de situações imaginárias e pode
cisa ter os professores e alunos, na brinca- ser explorada como função pedagógica no
deira de ônibus, necessita de um motorista. processo de desenvolvimento infantil.
“No brinquedo a criança comporta-se de
forma mais avançada do que nas atividades
da vida real e também aprende a separar
objeto e significado” (op. cit. P. 67).

75/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras


pel do educador como mediador do proces-
Para saber mais so educativo, são eles:
O projeto principal do trabalho de Vygotsky foi à 1. Atribuição de significado ao apren-
tentativa de estudar os processos de transforma- dido: ao brincar, a criança tem cons-
ção do desenvolvimento na sua dimensão filoge- ciência da diferença entre a fantasia
nética, histórico social e ontogenética. Sua preo- “no faz de conta” e a realidade. Com-
cupação principal não era elaborar uma teoria de pete o professor apropriar-se da ludi-
desenvolvimento infantil e sim explicar o compor- cidade infantil dos jogos e brinquedos
tamento, para isso necessitou estudar a criança, em seus planejamentos, refletindo os
porque está no centro da pré-história do desenvol- seus objetivos nas possibilidades de
vimento da cultura (REGO, 1995, p.24-25). análise de cada atividade.
2. Participação das crianças: é notório
Pimentel (2007) baseando-se no referen- que ao planejar suas ações o professor
cial de Vygotsky, embora não tenha sido deverá levar em conta a participação
apontado pelo autor, descreve os critérios das crianças a fim de se apropriar das
para integrar o lúdico no desenvolvimento informações para suas intervenções.
das atividades infantis, considerando o pa- Para que isso ocorra, necessita variar
os jogos tanto coletivo como indivi-
76/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras
dual. “Criar situações que estimulem 5. Atitude metacognitiva das crian-
a livre escolha; diversificar materiais; ças: desafiar a criança a explicar seu
solicitar produtos com qualidades dis- próprio raciocínio, suas hipóteses e
tintas durante e após a realização das ideias nos jogos coletivos, despertar
atividades.” (PIMENTEL, 2007, p.239). a importância da prática das regras
3. Despertar a curiosidade pelo conhe- no próprio comportamento, se auto-
cimento: é necessária a criação de um avaliando em suas habilidades e atitu-
clima lúdico de ensino de maneira que des. Segundo Leontiev, na pré-escola,
a afetividade construída na brincadei- o jogo é a principal atividade da crian-
ra contribua para despertar a curiosi- ça, auxiliando o educador a desenvol-
dade do conhecimento. ver estratégias para a internalização
das regras.
4. Organização do cenário de apren-
dizagem em pequenos grupos ou 6. Conceitos advindos de experiências
duplas: o jogo em pequenos grupos não escolares de origem: os concei-
libera e instrumentaliza o educador, tos informais e formais advindos do
porque oferece condições de observar cotidiano podem ser integrados no
detalhadamente cada criança. ambiente escolar enriquecendo o cur-
rículo.
77/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras
7. Funcionalidade da comunicação: é penhar tarefas com ajuda de adultos
necessário fazer uso da linguagem, ou de companheiros mais capazes.
não basta apenas jogar. É preciso falar Enquanto que o nível de desenvolvi-
sobre o jogo, construindo uma ação mento real da criança caracteriza-se
auto-avaliativa. pelas etapas já alcançadas, já con-
O educador ao fazer uso desses critérios de quistadas pela criança” (OLIVEIRA,
intervenção compreende o seu papel como 1993, p. 59).
mediador, intervindo quando necessário 2. Auto-regulação do comportamento:
nesse processo. Descreveremos em seguida é a capacidade de dirigir consciente-
os quatro critérios citados sobre a atuação mente a fala de maneira precisa explí-
das crianças nos jogos (Pimentel, 20117): cita.
1. Interação criança e criança: todo 3. Desenvolvimento coletivo: é a capa-
percurso de internalização pressupõe cidade desenvolver a abstração, supe-
parceria, que segundo a teoria de Vy- rar o egocentrismo cognitivo e aceitar
gotsky possibilita e amplia a “Zona de a atitude do outro, ou seja, o respeito
Desenvolvimento Proximal – ZDP. A mutuo.
zona de Desenvolvimento Proximal ou
potencial é a capacidade de desem-
78/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras
4. Afetividade: a interação entre crian-
ças exige uma proposição que mo-
bilize afeto e evite os conflitos. É im-
portante desenvolver atividades que
exercitem a cooperação, o respeito e
autonomia.
O jogo e a brincadeira além de contribuir
para o desenvolvimento da criança na ap-
ropriação da cultura lúdica oferecem difer-
entes condições da criança interagir com as
outras crianças e também com os adultos,
ampliando a relação afetiva, cognitiva e so-
cial.

79/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras


Glossário
Epistemologia genética: consiste em uma teoria elaborada pelo psicólogo e filósofo Jean Piaget.
A epistemologia genética é um resumo de duas teorias existentes, o apriorismo e o empirismo.
Para Piaget, o conhecimento não é algo inato dentro de um indivíduo, como afirma o apriorismo.
De igual forma o conhecimento não é exclusivamente alcançado através da observação do meio
envolvente, como declara o empirismo. Segundo Piaget, o conhecimento é produzido graças a
uma interação do indivíduo com o seu meio, de acordo com estruturas que fazem parte do pró-
prio indivíduo. Disponível em: <https://www.significados.com.br>. Acesso em: 28 abr. 2017.
Metacognição: foi definida por John Flavell (Stanford University), nos anos 1970, como o conhe-
cimento que as pessoas têm sobre seus próprios processos cognitivos e a habilidade de controlar
esses processos, monitorando, organizando, e modificando-os para realizar objetivos concretos.
Em outras palavras a metacognição se refere à habilidade de refletir sobre uma determinada tarefa
(ler, calcular, pensar, tomar uma decisão) e sozinho selecionar e usar o melhor método para resolver
essa tarefa. Disponível em: <http://www.psicologiaexplica.com.br>. Acesso em: 28 maio 2017.

80/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras


Glossário
Cinestesia: é o sentido do movimento corporal e da tensão muscular, provocados pelas for-
ças mecânicas que influenciam os receptores nos músculos, nos tendões e nas articulações.
A cinestesia. literalmente, “sensibilidade ao movimento” é um dos nossos sentidos fundamen-
tais. Dá informações a respeito dos movimentos das estruturas físicas, do levantamento dos bra-
ços, das rotações do globo ocular, do ato de engolir; informa, em suma, a respeito de todas as
ações motoras. Além disso, é responsável pela sensação de tensão e de esforço muscular. Dispo-
nível em: <http://www.portaldapsique.com.br>. Acesso em: 28 abr. 2017.

81/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras


?
Questão
para
reflexão

Os jogos e as brincadeiras ajudam no desenvolvimento


do indivíduo. Como Vygotsky e Piaget discutem a parti-
cipação do adulto nesse processo?

82/245
Considerações Finais

• A educação lúdica, na sua essência, além de contribuir na formação da crian-


ça e do adolescente, possibilita um crescimento sadio, um enriquecimento
permanente.
• O jogo integra-se ao mais alto espírito de uma prática democrática enquan-
to investe em uma produção séria do conhecimento.
• Ao desenvolver as brincadeiras e jogos, o educador precisa considerar as
diferentes possibilidades de ampliar o desenvolvimento da criança através
da mediação dele com a criança e a interação criança com outras crianças.

83/245
Referências

ALMEIDA, Paulo Nunes. Educação Lúdica. Técnicas e Jogos pedagógicos. São Paulo: Loyola,
1994.
BERTOLDO, Janice Vidal; RUSCHEL, Maria Andrea de Moura. Jogo, brinquedo e brincadeira. Uma
revisão conceitual. Disponível em: <ead. bauru.sp.gov.br>. Acesso em: 26 abr. 2017.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referen-
cial Curricular nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF. 1998.
KISCHIMOTO, Tizuko Morchida (organizadora). Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. São
Paulo: Cortez, 2006.
LEONTIEV, A. N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar. In VYGOTSKY, L. S.; LURIA,
A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1988.
OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-históri-
co. São Paulo: Scipione, 1993.
PIAGET, Jean. A epistemologia genética. São Paulo: Abril Cultura, 1993.
PIMENTEL, Alessandra. Vygotsky: uma abordagem histórico-cultual da educação infantil. In: OL-
IVEIRA-FORMOSINHO, Julia; et al. Pedagogia (s) da Infância. Dialogando com o passado. Con-
struindo o futuro. Porto Alegre: Artmed, 2007.
84/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras
RAPPAPORT, Clara Regina; FIORI, Wagner da Rocha; DAVIS, CLAUDIA. Teorias do desenvolvimen-
to: conceitos fundamentais. V. 1. São Paulo: EPU, 2010.
REGO, Tereza Cristina. VYGOTSKY: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópo-
lis: Vozes, 2002.

85/245 Unidade 3 • Conceituando jogos e brincadeiras


Questão 1
1. Dantas (1998) quando afirma que “brincar é anterior ao jogo”, quer dizer:

a) O jogo é uma mutação da brincadeira.


b) Brincar é a forma mais primitiva do lúdico.
c) A brincadeira é individual e o jogo é grupal.
d) O jogo e a brincadeira são livres e prazerosos.
e) A brincadeira tem outra conotação em inglês e no francês.

86/245
Questão 2
2. A diferença entre o jogo e o brinquedo segundo Kishimoto (2006).

a) O jogo e o brinquedo têm o mesmo sentido porque ambos são objetos confeccionados com
material durável.
b) O brinquedo é o objeto e o jogo é a atividade.
c) A criança quando utiliza o brinquedo é motivada a imitar o seu dia-a-dia.
d) Os objetos reais quando transformados em brinquedos podem gerar conflitos e violência
como o uso de armas.
e) O brinquedo precisa de regras enquanto o jogo é livre.

87/245
Questão 3
3. A “epistemologia genética” segundo Piaget contribui para o entendimento:

a) No estágio sensório-motor a criança brinca no mundo simbólico.


b) A criança no período pré-operatório brinca de faz de conta.
c) No período das operações concretas o jogo ainda é isolado do grupo.
d) O jogo reflete valores da comunidade em que a criança está inserida no período sensório
motor.
e) A fase em que os jogos são trabalhados para o equilíbrio físico só ocorre no período simbó-
lico.

88/245
Questão 4
4. Pimentel, utilizando a teoria de Vygotsky, estabeleceu alguns critérios para
integrar o lúdico no desenvolvimento infantil:

a) Quando a criança brinca de faz de conta não tem consciência do real e o imaginário.
b) O adulto enquanto mediador não deve intervir na brincadeira de faz de conta da criança.
c) Os conceitos informais do cotidiano não devem fazer parte do currículo infantil.
d) A criação de um ambiente lúdico facilita e estimula a curiosidade da criança.
e) É na ZDP que se constitui o conhecimento já alcançado pela criança.

89/245
Questão 5
5. O professor como mediador precisa ter clareza do papel do lúdico no de-
senvolvimento infantil porque:

a) Ocorre a Zona de Desenvolvimento Proximal que é a intervenção do adulto para ajudar na-
quilo que a criança ainda não sabe fazer sozinha.
b) Ocorre a Zona de Desenvolvimento Real que consiste em ajudar a criança naquilo que ela
não sabe.
c) A criança ao interagir com seu amigo mantém o egocentrismo cognitivo e desenvolve o res-
peito mútuo.
d) O professor não deve intervir porque a criança está aprendendo com o amiguinho.
e) O professor deve intervir sempre que necessário porque é por meio do lúdico que o professor
pode diagnosticar os traumas infantis.

90/245
Gabarito
1. Resposta: B. 3. Resposta: B.

A brincadeira sempre existiu desde a anti- Segundo Piaget, ao se aproximar dos 24 me-
guidade. E a autora faz uma distinção en- ses a criança estará desenvolvimento a lin-
tre as palavras “jogo e brincar” porque na guagem, possibilitando também da criança
língua portuguesa encontramos espaço de utilizar a inteligência prática decorrente dos
ordem psicogenética. O brincar em uma vi- esquemas sensoriais-motores formados no
são mais arcaica significa atividades livres e estágio anterior. A formação de esquemas
prazerosas sem a preocupação de regras. simbólicos se dará em meio ao pensamento
egocêntrico. Devido à ausência de esque-
2. Resposta: C. mas conceituais e de lógica, o pensamento
será caracterizado por uma tendência lúdi-
O brinquedo supõe uma relação mais pró-
ca. A criança dará explicações animísticas.
xima e íntima com a criança, não exige um
sistema rígido de regras pré-estabelecidas
quanto ao uso. Estimula a representação, a
4. Resposta: D.
expressão de imagens que remete aspectos Quando se cria um ambiente lúdico o re-
da realidade. Exemplo: A boneca pode re- sultado é positivo porque estimula as dife-
presentar tanto “a mamãe como a filhinha”. rentes fases do desenvolvimento da crian-
91/245
Gabarito
ça. A brincadeira proporciona uma ação de
prazer que motiva e incentiva a criança em
seus desafios. A brincadeira cria espaço no
qual a criança pode experimentar o mundo
e internalizar sentimentos e os diversos co-
nhecimentos.

5. Resposta: A.
A Zona de Desenvolvimento Proximal ou
Potencial (ZDP) consiste no espaço entre o
nível de desenvolvimento real, que se cos-
tuma determinar através de solução inde-
pendente da criança e o nível de desenvol-
vimento potencial, determinado pela solu-
ção de problema sob a ajuda de um adulto
o amigo. O aprendizado ocorre na interação
com os colegas e adulto.

92/245
Unidade 4
O Lúdico na educação

Objetivos

1. Entender a cultura lúdica como uma


prática social na educação.
2. A importância do lúdico como instru-
mento metodológico na educação.
3. Reconhecer as possibilidades de vi-
venciar o lúdico na educação.

93/245
Introdução

A educação faz parte da vida humana, o ser humano nasceu para aprender e adquirir novos sa-
beres. É por meio da educação que se mantém e perpetua a cultura de uma sociedade e a memó-
ria de um povo. Educar pode ser concebido como ato de instruir e disciplinar. No seu sentido mais
amplo, educação significa o meio em que os hábitos, costumes e valores de uma comunidade são
transferidos de uma geração para a geração seguinte.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação em seu artigo 1º reitera que a formação do indivíduo
ocorre em diferentes espaços ou ambientes sociais, inicia-se no ambiente familiar e percorre
toda vida do indivíduo,

a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida


familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e
pesquisa nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais. (LDB - Lei Nº 9.394, 1996)
Etimologicamente Educação vem do latim educare e educere, cujo significado é conduzir para
fora ou direcionar para fora (idem, 2017). Pode-se então entender que a educação é um pro-
cesso que contribui para o desenvolvimento dos sujeitos nos aspectos: intelectual, social, físico

94/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação


e cultural para viver no ambiente coletivo. atender a atual perspectiva pós-moderna
A educação pode ser formal nos ambientes que “significa que não podemos mais ceder
de escola ou instituição de ensino ou infor- ao conhecimento como universal, imutá-
mal quando ocorre no cotidiano como na vel e absoluto, mas que devemos assumir a
família, no círculo de amizades, no trabalho responsabilidade por nossa própria apren-
e nos espaços de lazer, etc. dizagem e pela construção de significado”
A concepção da educação na pós-moderni- (DAHLBERG, MOSS e PENCE, 2003 p.79).
dade conduz a uma visão crítica e reflexiva,
diferentemente da educação centralizado-
ra na transmissão do conhecimento. Freire Link
(1996, p.47) reitera afirmando em seu livro Qual o futuro da relação entre educação infantil e
Pedagogia da Autonomia, “ensinar não é ensino obrigatório?
transferir conhecimento, mas criar possi-
Disponível em: <http://www.scielo.
bilidades para a própria produção ou a sua
br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
construção”. A sociedade está em processo
d=S0100-15742011000100008>. Acesso em:
de mudança e as instituições de ensino não
23 maio 2017.
conseguem acompanhar essa mudança. A
educação precisa ser reflexiva e ativa para
95/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação
Essa proposta exige uma pedagogia que cando em diferentes situações de apren-
construa espaços para novas possibilida- dizagem como o desenvolvimento do pen-
des, que ao invés de reprodução de conhe- samento, a motricidade, a interpretação, a
cimentos, amplie a perspectiva de constru- tomada de decisão e o levantamento de hi-
ção de novos saberes a partir de reflexão e póteses (CAMPOS, 2005).
criação de possibilidades. Esses novos sa-
beres podem ser desenvolvidos através de
uma aprendizagem em que o ambiente seja
construído de forma lúdica.

1. A educação lúdica

O lúdico tem exercido um papel importante


na formação de crianças e adultos no trans-
correr da história, permitindo a apropriação
da cultura por meio de ambientes criativos e
prazerosos de aprendizagens. A brincadeira
dentro desse contexto pode ajudar o edu-

96/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação


Castro (2010) apresenta algumas características e categorias do ludismo:

Livre e espontânea devido a não obrigatoriedade, implica uma desvinculação do


ludismo das obrigações da vida corrente, como trabalho, estudos, etc.

Incerta em alusão principalmente aos jogos de regras, considera que as condutas,


normas e procedimentos a serem adotados podem até ser conhecidos previa-
mente mas[...] os resultados são, a princípio, desconhecidos.
Improdutiva: não visa a nenhuma produção de bens.

Regulamentada: possui legislação própria, não fundamentada nas leis e normas


da vida corrente.

Fictícia: apresenta uma realidade própria diferente, mas extensiva a vida da vida
corrente.[...] Acreditamos que a regra está longe de matar a ficção no lúdico, por-
que as regras de um jogo costumam ser engendradas ou simplesmente obedeci-
das dentro de um campo ficcional próprio.

97/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação


Autotélica, quando a finalidade da atividade diz respeito à satisfação e interesses
próprios de quem brinca. Aponta para a condição da atividade estar vinculada à
intenção ou atitude mental de quem a pratica, sob a condição de obtenção de
prazer [...] (CALLOIS, 1990 apud CASTRO, 2010, p. 26-27).
A atividade lúdica por ser de grande relevância na vida individual e social da criança, tornou-se
evidenciada em 1959, quando na Assembleia da Organização das Nações Unidas aprovou a De-
claração dos Direitos da Criança, enfatizando o direito a educação e ao brincar (art. 7º). No Brasil,
a Constituição de 1988 aprovou em seu art. 227 o direito da criança à “educação e ao lazer”. Em
1990 foi aprovado outro documento que ratifica a necessidade do lúdico para a infância foi o
Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 4º:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público


assegurar com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cul-
tura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária.
(BRASIL, 1990, p.19)

98/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação


O Ministério de Educação publicou em 2012 interiorização e modificações de conceitos
o manual de Orientação Pedagógica “Brin- construídos no cotidiano da educação in-
quedos e brincadeiras na creche”. O seu fantil.
contexto enfatiza a importância da brinca-
deira e do brinquedo na infância “A brin- 2. Teóricos da educação lúdica
cadeira é para a criança um dos principais
meios de expressão que possibilita a inves- O jogo, desde antiguidade greco-romana, é
tigação e a aprendizagem sobre as pessoas descrito como necessário para o desenvol-
e o mundo” (BRASIL, p.11). vimento físico e intelectual. Fazendo uma
análise dos filósofos da antiguidade, o lú-
É importante entender que a educação lú-
dico aparece como recreação, relaxamento
dica atende a diferente faixas-etárias, con-
após esforço intelectual e físico. Na idade
tudo, na infância assume um papel singular
média, a igreja assume uma posição cen-
como norteador pedagógico por ser uma
tralizadora na cultura e na educação; o jogo
das linguagens do mundo infantil. A brin-
adquire uma concepção profana e imoral;
cadeira “favorece autoestima das crianças,
e a educação mais repressora, baseada na
auxiliando-as a superar progressivamente
disciplina e obediência do mundo adulto.
suas aquisições de forma criativa.” (BRA-
SIL, 1998, p. 27). Brincar contribui para a
99/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação
[...] era imprescindível que o ser humano aceitasse sua condição de peca-
dor dedicando-se, sem questionamentos, ao árduo trabalho. Em contra-
partida, seus momentos de repouso deveriam ser orientados para a busca
da paz e da purificação do espírito, evitando todo o tipo de tentação cau-
sada pelos prazeres da carne. Somente dessa forma seria possível alcançar
um lugar entre os “eleitos” de Deus. (WERNECK, 1996, p. 333 apud CASTRO,
2010, p.38).
O lúdico na moral cristã foi perdendo o seu valor por ser considerado profano e imoral e sem
nenhuma significação. A partir do século XVI, os humanistas começaram a perceber o valor edu-
cativo dos jogos e os jesuítas foram os primeiros a recolocá-los no ensino. Com o humanismo e a
entrada do pensamento pedagógico, o lúdico começou a adquirir importância.

Link
Os aspectos do lúdico na Idade Média. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfe/article/view-
File/33463/36201>. Acesso em: 23 maio 2017.

100/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação


O processo lúdico ganhou espaço no mé- discorre a respeito da genealogia e da anti-
todo ativo da educação, estratégia para guidade do personagem Gargantua e, afir-
conduzir o maior aproveitamento do ensino ma que fora encontrado um livro confec-
através dos jogos (ALMEIDA, 1994). cionado em madeira onde estava escrita a
genealogia em cera, conservada e “[...] chei-
2.1 Rabelais rando não melhor do que as rosas.” (RABE-
LAIS, 1986, p.23).
Um dos teóricos foi Rabelais (1533-1592)
Rabelais defendia que o riso como função
que faz críticas à sociedade decadente da
biológica diminui a tensão, o medo, subver-
época, utilizando o texto satírico de Gar-
tendo os dogmas de sua época. Os motivos
gantua e Pantraguel. Nesse texto apresen-
da importância do brincar são muitos varia-
ta uma proposta de educação em que o re-
dos para Gargantua, é um momento de di-
sultado seja o equilíbrio entre os aspectos
vertimento quando Rabelais (1996) afirma
intelectual e moral a partir do cuidado do
que o gigante “lavava as mãos com a sopa e
corpo.
penteava os cabelos com um copo” (Cunha,
“Gargantua” é um romance satírico e apre- 2009).
senta uma história onde tudo é exagerado,
por exemplo, no primeiro capítulo, Rabelais
101/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação
2.2 Montaigne

Apesar de não produzir obra pedagógica,


Para saber mais Montaigne deixa sua obra prima Ensaios que
consiste uma reflexão crítica da sociedade
Rabelais (1494-1553) frade beneditino e médico do século XVI. Montaigne dedica alguns ca-
francês, representa a corrente enciclopédica da pítulos sobre a educação e critica o ensino
Renascença que busca resgatar o saber geco-la- livresco e o pedantismo dos falsos sábios,
tino. Ao iniciar sua educação, o preceptor de Gar- valoriza a educação integral, elogia seu pai
gantua deu-lhe de beber o líquido de uma planta por ter escolhido preceptores para educá-lo
chamada helébora “para que esquecesse tudo com docilidade e sem castigos. A finalida-
quanto havia aprendido com os seus antigos pre- de da educação é preparar um espírito ágil
ceptores”. Nessa passagem, Rabelais quer simbo- e crítico (ARANHA, 1996, p.90).
lizar a necessidade de apagar toda lembrança da
tradição para melhor ser aproveitado o novo en- Quanto ao lúdico partia para o campo da
sino (ARANHA, 1996, p. 89). observação fazendo com que a criança ad-
quirisse curiosidade por todas as coisas que
contemplasse. (ALMEIDA, 1994)

102/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação


Para entender a relação entre a Ludicidade
Para saber mais e a Educação, neste estudo, apresentare-
mos a abordagem de Bruner e a brincadeira.
Michel Montaigne (1533-1592) pertencia a uma
família francesa da burguesia enriquecida com a Kishimoto (1998) apresenta os estudos de
posse de terras e propriedades, conseguindo um Jerome Seymour Bruner, que baseia suas
título de nobreza. Ele tinha um cuidado na edu- pesquisas sobre a Psicologia Comparada
cação dos meninos, incentivava primeiro a língua que tem como foco estudar as diferenças de
latina depois vernácula. comportamento entre os vários seres vivos.
No período da II Guerra Mundial ele anali-
Com o advento da idade moderna, nos sé- sou as questões grupais, os preconceitos e
culos XVII e XVIII, novos movimentos cultu- as propagandas e concluiu que as atitudes
rais colocam em evidência um novo concei- das pessoas afetam o processo de percep-
to sobre a criança, que passa a ser sujeito ção.
principal da educação. A fase da infância
como diferente da fase adulta e então sur- 2.3 Bruner
gem os ensinos através dos jogos.
Esse novo olhar sobre a percepção condu-
ziu estudos sobre a relação entre a cogni-
103/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação
ção com a cultura e a educação. Os estudos
de Bruner influenciaram a reforma curricu- Para saber mais
lar nos Estados Unidos nos anos de 1960, Jerome Seymour Bruner em Nova Iorque, em 1915.
quando desenvolveu conceitos sobre cur- Fez doutouramento em psicologia, na Universida-
rículo, aprendizagem criativa, instrução e de de Harvard, sendo professor em várias univer-
cultura. Em seus estudos, apresentou algu- sidades: Harvard EUA e Oxford na Inglaterra. “Se-
mas concepções sobre o papel do jogo e da gundo Bruner, a motivação é, portanto, o proces-
imitação na educação. Com a atividade lú- so que mobiliza o organismo para ação, a partir
dica, o sujeito quebra a rigidez dos padrões de uma relação estabelecida entre o ambiente, a
de comportamento, diminui as punições e necessidade e o objeto de satisfação” (Bock et al,
faz uso de outras ferramentas, como o ato 2006, p.121).
de brincar, criando outros modelos de com-
portamento. O “jogo é visto como a forma de o sujeito vio-
lar a rigidez dos padrões de comportamen-
tos sociais das espécies” (Kishimoto, 1998,
p. 140). O jogo proporciona a construção de
um ambiente favorável à aprendizagem das
normas sociais em situação acolhedora.
104/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação
Os estudos de Bruner sobre os efeitos do jogos” Wittgenstein (1964 apud KISHIMOTO
lúdico na pré-escola respeitam o período 1998, p. 143).
simbólico da conduta infantil. Ao brincar a Ao propor o lúdico para ensinar crianças de
criança se apropria das regras através da diferentes idades em situações estrutura-
aquisição da linguagem. É na interação com das e com a mediação de adultos, “Bruner
os adultos que criança se apropria das re- entende que a aprendizagem centrada na
gras, na mediada em que brinca, ela tam- criança permite a compreensão significa-
bém recria situações novas. As brincadeiras tiva da informação bem como sua trans-
contribuem de maneira interativa no de- formação ou recriação da rápida recupera-
senvolvimento cognitivo e ao mesmo tem- ção”. Quando a criança brinca é movida pelo
po na apropriação da linguagem. prazer que a impulsiona pela descontração
A aprendizagem da língua materna é faci- e a maneira livre. Esse processo ajuda na
litada quando ocorre no ambiente lúdico. aprendizagem através de três elementos:
A mãe quando brinca com a criança cria “aquisição de nova informação, sua trans-
interações e desenvolve diferentes signifi- formação ou recriação e avaliação” (KISHI-
cações. No mundo simbólico, a imaginação MOTO, 1998, p.144).
infantil substitui alguns significados pelo As brincadeiras “de faz de conta”, já discu-
contexto e uso, denominando “família de tidos nos temas anteriores, ajudam no de-
105/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação
senvolvimento cognitivo por interferência 2002, et al, p. 120), afirma “qualquer as-
do processo de substituição de significados sunto pode ser ensinado com eficiência, de
no período do jogo simbólico. Na educação alguma forma intelectualmente honesta, a
do pré-escolar é necessário apresentar os qualquer criança, em qualquer estágio de
contos e brincadeiras que envolvam as ima- desenvolvimento”.
gens sociais e culturais. É importante man- Quando o professor se apropria das ativi-
ter um equilíbrio na cultura local, contudo dades lúdicas, como visualizações nas ativi-
é importante também expor ao acesso do dades, jogos, brincadeiras, uma linguagem
acervo universal em um processo de recria- acessível à criança, o resultado do trabalho
ção e apropriação. investido possibilitará uma compreensão
do conhecimento na relação ensino-apren-
Apesar da exploração da brincadeira livre
dizagem. Na realidade, a relação entre o
da criança, Bruner ressalta a importância
professor e a criança precisa levar em con-
do professor como mediador e estimulador
sideração a representação do mundo da
da aprendizagem. A brincadeira exerce um
criança. A criança que brinca aprende a lin-
papel importante desde o nascimento da guagem do outro, o significado do proces-
criança, ela aprende a linguagem, explora so simbólico no desenvolvimento cognitivo.
o ambiente, e desenvolve estratégias para Bruner propõe uma pedagogia voltada à in-
solucionar problemas (BRUNER apud BOCK, tencionalidade, pró-atividade e a cultura:
106/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação
uma revolução da educação pela construção de pedagogias para a infân-
cia que valorizem os jogos e as narrativas infantis, com base nas ciên-
cias da educação, nas políticas públicas de equidade, com a participação
de comunidades de aprendizagem que não tolham as vozes das crianças
(BRUNER apud KISHIMOTO, 2007, p.270).
Bruner tem uma preocupação com a formação do professor, porque acredita que ao se apropriar
de diferentes concepções, reproduz em suas ações com a criança. A brincadeira contribui para a
criança interagir sem pressão, mas é a orientação, a mediação com o professor que dará forma
os conteúdos no processo educativo.
O lúdico na educação é considerando de grande importância porque “enriquece a experiência
sensorial, estimula a criatividade e desenvolve habilidades com a criança” (CHAUNCEY, 1979
apud KISHIMOTO, 2016, p.3).
O papel do professor é de grande relevância enquanto mediador das atividades lúdicas, porque
contribui para a aprendizagem exploratória e estratégias adequadas para o desenvolvimento do
potencial dos alunos.

107/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação


Glossário
Método Ativo: é o processo de ensino em que os estudantes ocupam o centro das ações edu-
cativas por meio da problematização da realidade, como estratégia pedagógica, com o objetivo
de alcançar e motivar os aprendizes à construção de conhecimentos, competências e habilida-
des, sejam humanas ou profissionais, considerando. Disponível em: <www.faculdadeages.com.
br/metodoativo/index.htm>. Acesso em: 24 abr. 2017.
Gargantua e Pantagruel: o livro trata da história do gigante Gargântua, pai de Pantagruel, rei
dos dipsodos. Descrevem lendas populares, farsas e romances bem como obras clássicas. Os li-
vros ficaram famosos na França, mas foram proibidos pela Sorbonne por seu conteúdo obsceno.
Dialética: origem do termo em grego dialektiké e significa a arte do diálogo, a arte de debater,
de persuadir ou raciocinar. Dialética é um debate onde há ideias diferentes, onde um posiciona-
mento é defendido e contradito logo depois. Disponível em: <http//www.google.com.br>. Aces-
so em: 7 maio 2017.

108/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação


?
Questão
para
reflexão

Qual a importância do lúdico para Bruner? Como a sua


teoria pode ser aplicada nos dias atuais?

109/245
Considerações Finais
• A educação lúdica proporciona a construção de ambiente pedagógico aco-
lhedor, oferecendo condições de uma aprendizagem que envolve descober-
ta e participação.
• O lúdico proporciona a mudança de paradigmas quanto à relação ensino
aprendizagem, favorecendo um relacionamento de construção e não repro-
dução.
• Na realidade, a relação entre o adulto e a criança precisa levar em conside-
ração a representação do mundo infantil.
• A brincadeira oferece possibilidades para o desenvolvimento cognitivo e
identificação das regras.

110/245
Referências

ALMEIDA, Anne. Ludicidade como instrumento pedagógico, 2006. Disponível em: <http://www.


cdof.com.br/recrea22.htm>. Acesso em: 28 mar. 2017.

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Loyola, 1994.
ARANHA, Maria Lúcia Arruda. História da Educação. São Paulo: Moderna, 1996.
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi Teixeira. Psicolo-
gias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2006.
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1988.
_______. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
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Adolescente. Brasília: Câmara dos Deputados, 1990.
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de orientação pedagógica. Brasília: MEC/SEB, 2012.

111/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação


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CAMPOS, Maria Célia Rabello Malta. A importância do jogo no processo de aprendizagem.
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CUNHA, Mara Gracia. Considerações a respeito do lúdico no contexto de Francois Rabelais: um
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DAHLBERG, Gunilla; MOSS, Peter e PENCE, Alan. Qualidade na educação da primeira infância:
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112/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação


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2017.

113/245 Unidade 4 • O Lúdico na educação


Questão 1
1. “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e
pesquisa nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais” Art. 1º da LDB de 1996:

a) A educação ocorre somente na escola segundo a LDB.


b) ALDB defende uma educação para o trabalho.
c) O processo formativo é desenvolvido primeiro na família depois na escola.
d) A educação lúdica não faz parte do processo formativo da LDB.
e) A LDB defende uma educação nas instituições de ensino.

114/245
Questão 2
2. Para Bruner, a aprendizagem centrada na criança tem como resultado:

a) Diferentes atividades lúdicas para o prazer infantil.


b) Condições para a criança aprender por meio simbólico.
c) Permite a criança adquirir nova informação, transformação e recriação.
d) Uma educação com pouco estimulada.
e) Desenvolver o pensamento intuitivo.

115/245
Questão 3
3. A criança na pré-escolar está no período simbólico necessita de ativida-
des lúdicas. Segundo Bruner:
a) É na interação com as outras crianças que ela se apropria das regras.
b) No período simbólico a criança não deve brincar sozinha.
c) É na interação com os adultos que a criança se apropria das regras.
d) As brincadeiras contribuem para o desenvolvimento físico.
e) A atividade lúdica no período simbólico pode gerar um desânimo infantil.

116/245
Questão 4
4. Rabelais escreveu um romance chamado “Gargantua e Pantagruel” que
transparecem suas ideias sobre a educação.

a) Ele aceitava a educação de sua época por isso escreveu o romance.


b) Defendia uma educação sem medo voltada ao riso.
c) Ele fazia crítica à tradição escolástica que defendia o lúdico para os meninos.
d) Entendia que a educação deveria priorizar a língua francesa.
e) Sua obra elogiava a educação das meninas.

117/245
Questão 5
5. Com a atividade lúdica, o sujeito quebra a rigidez dos padrões de com-
portamento, diminui as punições e faz uso de outras ferramentas, como o
ato de brincar, criando outros modelos de comportamento.

A fundamentação da teoria de Bruner sobre a atividade lúdica:


a) O ato de brincar cria modelos de comportamento repetitivos.
b) A atividade lúdica ajuda quebrar a rigidez de padrões de comportamento.
c) Quanto maior as punições melhor o resultado disciplinar.
d) Quanto menor a punição maior a rigidez no comportamento.
e) A atividade lúdica e a rigidez nas punições oferecem o mesmo resultado na aprendizagem.

118/245
Gabarito
1. Resposta: C. 3. Resposta: C.

A LDB 9394 aprovada em 20 de dezembro O contato do adulto com a criança nas ati-
de 1996 em seu artigo 1º define que “a edu- vidades lúdicas proporciona condições para
cação abrange os processos formativos que a promoção de aprendizagem. E nas repeti-
se desenvolvem na vida familiar, na convi- ções das brincadeiras, ela descobre a regra,
vência humana, no trabalho, nas institui- a sequência de ações que compõem a mo-
ções de ensino e pesquisa, nos movimentos dalidade do brincar.
sociais e organizações da sociedade civil e
nas manifestações culturais”. Portanto o 4. Resposta: B.
convívio familiar é o primeiro lugar em que
o indivíduo tem acesso à educação. Rabelais como renascentista defendia uma
educação baseada no conhecimento gre-
2. Resposta: C. co-romano e sua proposta era valorizar a
educação dos prazeres, através do o riso, da
Quando a aprendizagem é centrada na comédia, uma educação sem medo.
criança, permite uma maior exploração, in-
centiva a novas descobertas, e recria novas
possibilidades de ação.
119/245
Gabarito
5. Resposta: B.

A atividade lúdica ou o jogo é visto como


forma do sujeito violar a rigidez dos padrões
de comportamento social.

120/245
Unidade 5
Os jogos e as brincadeiras na escola

Objetivos

1. Entender a relação entre os jogos e as


brincadeiras no processo de desen-
volvimento dos indivíduos.
2. Compreender o valor dos jogos e as
brincadeiras na escola como subsí-
dios pedagógicos para o professor.
3. Reconhecer a importância do lúdico
na organização do ambiente pedagó-
gico.

121/245
Introdução

O jogo e a brincadeira sempre estiveram No século XVII, os ideais humanistas divul-


presentes no imaginário infantil e também gam os jogos didáticos ou educativos. E a
do adulto. A história do jogo e da brincadei- própria imagem da criança distinta da do
ra na antiguidade greco-romana destaca adulto no século XVIII favorece a construção
a importância do lúdico na educação das e a expansão de estabelecimentos constru-
crianças em oposição à violência tão incen- ídos para educar a criança. No inicio do sé-
tivada na época, segundo Platão. Aristóte- culo XIX surgem diferentes inovações peda-
les sugere o uso de jogos como uma pre- gógicas que entendendo o papel do lúdico
paração para as responsabilidades de uma na educação das crianças, colocam em prá-
vida adulta. Contudo não havia a preocu- tica alguns princípios de Rousseau, Pestalo-
pação de utilizar os jogos como ferramenta zzi e Froebel.
pedagógica, recurso de ensino, de cálculos A contribuição de Froebel ao ressaltar o
matemáticos ou de leitura. Com o renas- jogo como objeto e ação do brincar carac-
cimento, o jogo educativo aparece com os terizado pela liberdade e espontaneidade,
educadores Jesuítas pertencente ao grupo introduziu o material educativo no trabalho
denominado Companhia de Jesus. pedagógico infantil.

122/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola


1. O jogo e a brincadeira como
ferramenta pedagógica

O jogo e a brincadeira fazem parte do coti-


Para saber mais diano infantil e precisa ser entendido dentro
Froebel, o criador dos jogos de construção, deu de um contexto que esclareça a sua impor-
oportunidade a muitos fabricantes de duplicação tância como ferramenta pedagógica que
de seus tijolinhos para a alegria da criançada que pode exercer diferentes funções de acordo
constrói cidades de barros que estimulam a ima- com Compagne (1989):
gem infantil. O jogo de construção denominado
Jogo do Mundo, criado por Mme. Lowenfeld, em
1935, destina-se ao livre manuseio de peças para
que a criança construa seu mundo (KISHIMOTO,
2016, p.31).

123/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola


Função lúdica: o jogo propicia a diversão, o prazer e até o desprazer quan-
do escolhido voluntariamente.

Função educativa: o jogo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo


em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do homem (COMPAG-
NE, 1989, p. 112 apud KISHIMOTO, 2016, p. 19).

Link
O jogo como recurso de aprendizagem. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scrip-
t=sci_arttext&pid=S0103-84862010000200013>. Acesso em: 27 jun. 2017.

As funções lúdicas e educativas precisam manter um equilíbrio para que haja o objetivo pedagó-
gico. Kishimoto (2016) esclarece que quando essas funções desequilibram pode ocorrer apenas
uma das funções: lúdica ou educativa. Para evitar que ocorra essa dicotomia no ato lúdico, o
professor precisa tomar cuidado em conciliar a liberdade típica dos jogos com a orientação dos
processos educativos.

124/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola


O jogo ou brincadeira enquanto atividade pedagógica precisa adequar-se dentro de um critério
que estabeleça o tipo do brinquedo e as atividades planejadas. São eles:

o valor experimental: permitir a exploração e a manipulação;


o valor da estruturação: dar suporte à construção da personalidade infantil ;
O valor da relação: colocar a criança em contato com seus pares e adultos,
com objetos e com ambiente em geral para propiciar o estabelecimento de
relações e
O valor lúdico: avaliar se os objetos possuem as qualidades que estimulam o
aparecimento da ação lúdica.
(CAMPAGNE, 1989, p. 113 apud KISHIMOTO, 2016, p.20).
Os critérios estão relacionados à postura do educador quanto à concepção de ensino aprendiza-
gem, a organização do espaço e a linguagem pedagógica. A atividade lúdica será uma aquisição
social, portanto, compete ao professor primeiramente ensinar o jogo para em seguida explorar a
atividade de maneira livre e espontânea.

125/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola


O educador ao propor o jogo como ativida- tureza lúdica tornando-se inadequada para
de educativa deve participar da brincadeira o desenvolvimento infantil por entender
como uma maneira de estimular a criança. que nesse processo, limita o prazer à espon-
É importante entender que o jogo na escola taneidade e a livre iniciativa da criança, po-
favorece o aprendizado pelo erro, estimula a dendo também se tornar monótono e can-
exploração e a solução de problemas (ALAIN, sativo (VIAL, 1981 apud KISHIMOTO, 2016).
1957, p.19 apud KISHIMOTO, 2016, p. 21). Quando se define o jogo ou a brincadeira
O jogo pode ser uma estratégia para a para fins pedagógicos, a criança precisa agir
aprendizagem moral, integração no gru- de maneira livre “no faz de conta”, expressar
po social e aquisição de regras. Por meio relações no seu cotidiano e interagir com o
do jogo, a escola pode desenvolver ações professor. O desenvolvimento integral da
que “estimulem a moralidade, o interesse, criança é subsidiado pelo imaginário infan-
a descoberta e a reflexão” (CHATEAU, 1987, til e a intencionalidade da função pedagó-
apud KISHIMOTO, 2016). gica. Nesse processo o jogo na escola pode
Quando a escola adota os jogos como ati- se desenvolvido em dois sentidos:
vidade didática para a aquisição de conte- Sentido amplo: situação que permite livre
údos, difere do jogo educativo. Porque ao exploração em ambientes organizados pelo
restringir ao ensino de conteúdo inibe a na- professor [...];
126/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola
Sentido restrito ou jogo didático: situação que exige ações orientadas com vistas à aquisição de
conteúdo (KISHIMOTO, 2016, p.23).
A criança nos dois processos vai adquirir aprendizado, porque o jogo por ser um processo lúdico
atuará nas funções de ensino tanto no sentido amplo como restrito. A diferença ficará evidente
quanto ao ambiente metodológico livre em relação ao diretivo ou jogo didático.

2. O Jogo e a educação
O jogo segundo Froebel (2001) enfatiza que a brincadeira é uma ação criativa e ao mesmo tempo
física. Quando a criança brinca, fortalece os músculos do corpo, interage com os adultos e auxilia
na autoatividade e a na aquisição da linguagem.

Depreende-se claramente que o jogo dirige essa idade e desenvolve o me-


nino, enriquecendo de tal maneira sua própria vida, escolar e livre, fazendo
com que desenvolva e manifeste seu interior, como as folhas brotam de
um botão, adquirindo alegria e mais alegria; a alegria que é a alma de to-
dos os meninos.
127/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola
Os jogos mesmos podem ser: corporais, já exercitando as forças, já com ex-
pressão da energia vital, do prazer da vida; dos sentidos, exercitando o ou-
vido, como o jogo de esconder-se; ou a visão como o tiro ao prato; jogos do
espírito, da imitação e do juízo, como o xadrez ou as damas; jogos muitas
vezes considerados, se bem que raras vezes têm sido dirigidos ao verdadeiro
fim, até o espírito e necessidades infantis. (FROEBEL, 2001, p. 206)
As orientações românticas de Froebel dominou a educação infantil por 50 anos, substituída pelo
período do progressivismo de Dewey.
A educação progressiva proposta por Dewey tem como finalidade propiciar a criança condições
para que ela resolva por si própria os seus problemas e não as ideias tradicionais de formar as
crianças a partir de modelos pré-determinados. Na realidade, Dewey modifica a teoria de Froe-
bel, colocando a experiência direta e os interesses da criança como novos eixos. Concebe o jogo
como atividade livre e como forma de apreensão dos problemas do cotidiano.

128/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola


3. O jogo e a experiência democrática

Dewey em seus estudos faz críticas à educação que defende a preparação da criança para a vida
futura ou no mundo do amanhã. Na sua concepção:

preparar a criança para a vida futura significa dar-lhe domínio de si mes-


mo; treiná-la para que possa ter uso pleno e pronto de suas capacidades,
para que sua inteligência seja capaz de compreender as condições sob a
quais desenvolve seu trabalho e para que suas forças possam agir econô-
mica e eficientemente no presente (AMARAL, 2016, p. 98).
As escolas que o autor pesquisou buscavam fugir do currículo tradicional mais formal visando
uma escola mais democrática e que atendesse o interesse do aluno que enfatize o crescimento
lógico como instrumentos de habilidades intelectuais. O jogo na perspectiva de Dewey é espon-
tâneo e faz parte do universo da criança, por meio do lúdico a criança procura imitar a vida dos
pais e dos adultos. Segundo Dewey, por meio da brincadeira as crianças observam mais atenta-
mente e deste modo fixam na memória e em hábitos muito mais do que se elas simplesmente
vivessem indiferentemente todo o colorido da vida ao redor (AMARAL, 2016).
129/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola
Link
Tendências pedagógicas: o que são e para que servem. Disponível em: <http://www.educacaopubli-
ca.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0327.html>. Acesso em: 29 maio 2017.

O papel do professor não é de impor as ideias ou formar hábitos na crian-


ça, mas como membro da comunidade para selecionar as influências que
deverão afetar a criança e dar assistência e responder a essas influências.
O sucesso da educação depende da relação estabelecida entre as ativida-
des instintivas da criança, interesses e experiências sociais (DEWEY apud
AMARAL, 2016, p. 100).
Para Dewey a atividade gera virtudes como “iniciativa, originalidade, perseverança, força de ca-
ráter, qualidade que são mais valiosas do que em respeitar ordens.” Os jogos podem ser conside-
rados como “elo entre os poderes e necessidades infantis de um lado e exigências de renovação
dos valores às experiências sociais do outro”. Segundo o autor, “educar é tarefa permanente da
vida democrática e processo contínuo de crescimento e aperfeiçoamento morais”. O método de
130/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola
4. Jogos e a educação infantil
educar coincide com método democrático
ou método científico. (DEWEY apud AMA- O jogo na educação infantil numa pers-
RAL, 2016, p. 104). pectiva da psicologia desenvolvimentista
intensificou no início do século XX em que
as pesquisas na área do jogo infantil rece-
Link beram uma ênfase nos anos de 1970 nas
Discute as principais ideias de Dewey.Disponí- obras de Piaget.
vel em: <https://pedagogiaaopedaletra.com/
john-dewey-%EF%BB%BF%EF%BB%BF%E-
F%BB%BF/>. Acesso em: 29 maio 2017.
Para saber mais
A psicologia do desenvolvimento é uma área da
psicologia que estuda o desenvolvimento do ser
Atualmente, o jogo está presente numa
humano em todos os seus aspectos: físico-mo-
perspectiva psicológica em que as corren-
tor, intelectual, afetivo-emocional e social. Desde
tes teóricas se dialogam com: Piaget, Vy-
o nascimento até a idade adulta, isto é, a idade
gotsky, Wallon e Bruner e outros autores
em que todos estes aspectos atingem o seu mais
que defendem a participação do jogo para
completo grau de maturidade e estabilidade.
o desenvolvimento infantil.
131/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola
Ao estudar a epistemologia genética, Pia- do o jogo de papéis que a criança constrói
get definiu que cada ato da inteligência é uma situação imaginária, incorporando
incorporado pelo equilíbrio entre assimila- elementos do contexto cultural. Na sua teo-
ção e acomodação. Quando o indivíduo as- ria, a noção central é o desenvolvimento de
simila, incorpora objetos ou situações den- uma “zona de desenvolvimento proximal”
tro de formas de pensamento que consti- em que apresenta a diferença do nível atual
tuem os esquemas mentais organizados. em que a criança atinge com a solução de
Na acomodação, as estruturas mentais problemas independentes e o nível de de-
existentes reorganizam-se para incorporar senvolvimento potencial marcado pela par-
novos aspectos do ambiente externo. Nes- ticipação de um adulto e colegas mais ca-
se processo de assimilação e acomodação, pazes. A atividade lúdica por meio dos jogos
o brincar é identificado pela primazia da é o elemento que irá estimular o desenvolvi-
assimilação sobre a acomodação (KISHI- mento dentro da zona de desenvolvimento
MOTO, 2016, p. 41). proximal.
Outro teórico é Vygotsky que define os jo- Quando a criança brinca, cria situações
gos como condutas que imitam ações reais imaginárias por meio de atividade livre, a
e não apenas ações sobre os objetos. Vy- criança desenvolve iniciativa, expressa seus
gotsky valoriza o fator social, apresentan- desejos e internaliza regras.
132/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola
Corsaro e Schwarz (1991 apud KISHIMOTO,
2016, p. 46) ao estudar a socialização infan-
til, vê o desenvolvimento como um processo
de apropriação pela criança de sua cultura.
Para saber mais
Quando a criança interage com seus pares Corsáro em sua visita no Brasil em 2007 contribuiu
e parceiros de brincadeiras produzem cul- com o conceito de reprodução interpretativa para
tura de pares. Eles descobriram com Bruner analisar os processos de construção de cultura e
(1986) que a negociação coletiva é ponto dinâmica social no grupo de brinquedo; explicita-
central nos processos culturais. Os profes- ção e ilustração do método etnográfico tal como
sores de educação infantil podem funcionar ele o adaptou para o estudo das crianças peque-
também como parceiros de brincadeiras e nas; um estudo comparativo entre as pré-escolas
nesta relação produzem cultura de pares. na Itália e nos Estados Unidos. Embora não seja
o foco principal do seu trabalho, o fenômeno do
brincar emerge tão claramente nele que interes-
sou e também convergiu significativamente, com
outros estudos em que o recorte principal era a
própria brincadeira (Carvalho et al, 2003).

133/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola


Bruner (1976) diferentemente de Piaget,
Wallon e Vygotsky afirma que a origem da
atividade simbólica não depende apenas
dos jogos de exercícios funcionais, mas “de
brincadeiras compartilhadas entre mãe e
a criança que conduzem a atividades mo-
toras e vocais”. Utilizando de pesquisas,
ele concluiu “que a brincadeira do bebê em
parceria com a mãe auxilia na aquisição da
linguagem, a compreensão de regras e co-
labora com o desenvolvimento cognitivo”
(KISHIMOTO, 2016, p. 47).

134/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola


Glossário
Progressivismo: tendência pedagógica baseada na motivação e na estimulação de problemas.
O aluno aprende fazendo. Teóricos: Montessori, Decroly, Dewey, Piaget, Cousinet, Lauro de Oli-
veira Lima.
Dicotomia: é a divisão de um elemento em duas partes, em geral contrárias, como a noite e o
dia, o bem e o mal, o preto e o branco, o céu e o inferno, etc. Com origem no grego dikhotomía,
uma dicotomia indica uma classificação que é fundamentada em uma divisão entre dois ele-
mentos (Significados, 2017). Disponível em: <https://www.significados.com.br>. Acesso em: 29
maio 2017.

135/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola


?
Questão
para
reflexão

Como o jogo e a brincadeira podem ser considerados


como ferramentas pedagógicas na educação infantil?
Cite um exemplo prático.

136/245
Considerações Finais

• É necessário manter um equilíbrio na função lúdica que propicia a diversão,


o prazer com a função educativa que se apropria do jogo para o ensino.
• O jogo pode ser uma estratégia para a aprendizagem moral, integração no
grupo social e aquisição de regras.
• O desenvolvimento integral da criança é subsidiado pelo imaginário infantil
e a intencionalidade da função pedagógica.
• Bruner em seus estudos concluiu que a brincadeira do bebê em parceria
com a mãe auxilia na aquisição da linguagem, a compreensão de regras e
colabora com o desenvolvimento cognitivo.

137/245
Referências

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. Ed. rev. São Paulo: Cengage Learn-
ing, 2016.
FROEBEL. Friedrich A. A Educação do homem. Tradução de Maria Helena Câmara Bastos. Passo
Fundo: UPF, 2001.
AMARAL, Maria Nazaré de Camargo Pacheco. DEWEY: Jogo e filosofia da experiência democráti-
ca. In: KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.) O brincar e suas teorias. São Paulo: Congage Learn-
ing, 2016.
CARVALHO (org.) Brincadeiras e cultura: viajando pelo Brasil que brinca. São Paulo: casa do
Psicólogo, v. 2, 2003.

138/245 Unidade 5 • Os jogos e as brincadeiras na escola


Questão 1
1. Froebel ao ressaltar o jogo como objeto e ação do brincar, introduziu no
trabalho pedagógico:

a) Froebel percebendo a importância da brincadeira introduziu o trabalho terapêutico.


b) O trabalho pedagógico é caracterizado pela liberdade e jogos.
c) Froebel como Bruner introduziram o jogo simbólico através da família.
d) Froebel a partir do jogo introduzido o material educativo no trabalho pedagógico da criança.
e) O objetivo de Froebel é a espontaneidade e a liberdade da criança.

139/245
Questão 2
2. O jogo como ferramenta pedagógica pode exercer duas funções:

a) O jogo exerce a função lúdica e a função para pesquisa.


b) A brincadeira enquanto ferramenta exerce a função do jogo.
c) A função educativa e a função lúdica propiciam prazer.
d) A brincadeira faz parte do cotidiano infantil e exerce a função lúdica.
e) A brincadeira e o jogo como ferramentas pedagógicas podem exercer as funções: lúdica e
educativa.

140/245
Questão 3
3. “Na sua teoria ele valoriza o fator social, constrói uma situação imagi-
nária e a noção central é a ZDP.”

a) Piaget defende em sua teoria a Zona da Inteligência Participativa (ZDP).


b) Bruner enfatiza que a criança e a mãe podem desenvolver a ZDP.
c) Froebel em seus estudos concorda com Dewey quanto a Zona de Desenvolvimento Proximal.
d) Para Vygotsky a ZDP pode ocorrer com os jogos e as brincadeiras.
e) Dewey defende a educação democrática nas ZDP.

141/245
Questão 4
4. “Educar é tarefa permanente da vida democrática e processo contínuo de
crescimento e aperfeiçoamento morais” Dewey

a) O critério para uma educação democrática é a igualdade de oportunidades.


b) Dewey rejeitava a educação democrática como elo entre os poderes e necessidades infantis.
c) Para Dewey a tarefa do professor está relacionada a impor certas ideias na formação lúdica
das crianças.
d) O método democrático tem relação com a preparação para a vida futura de acordo com os
currículos mais formais e abstratos.
e) O sucesso na educação depende da relação entre a criança e as experiências tradicionais de
ensino.

142/245
Questão 5
5. “Quando a criança interage com seus pares e parceiros de brincadeiras
produzem cultura de pares.”

a) Os professores não devem participar como parceiros das crianças.


b) As crianças são parceiros de brincadeiras e produzem cultura de pares.
c) Bruner afirma que a negociação coletiva é ponto divergente nos processos culturais.
d) Corsaro ao estudar a psicologia da criança vê o desenvolvimento como processo de apro-
priação.
e) os professores e as crianças descobriram que a negociação coletiva é ponto central nos pro-
cessos culturais.

143/245
Gabarito
1. Resposta: D. 3. Resposta: D.

Froebel, o criador dos jogos de construção, A Zona de Desenvolvimento Proximal é um


afirma que são de grande importância por conceito desenvolvido por Vygotsky, que
enriquecer a experiência sensorial, estimu- define a distância entre o nível de desenvol-
lar a criatividade e desenvolver habilidades vimento atual, determinada pela capacida-
com as crianças... de de resolver um problema sem ajuda e a
possibilidade da resolução de um problema
2. Resposta: E. através de um adulto ou um colega. Na ati-
vidade lúdica o jogo ou a brincadeira podem
As divergências em torno do jogo educativo funcionar como ZDP.
estão relacionadas à presença concomitan-
te de duas funções: a lúdica que proporcio- 4. Resposta: A.
na a diversão e a educativa que ensina qual-
quer coisa que complete o indivíduo em seu A democracia segundo Dewey “que pro-
saber, seus conhecimentos e sua apreensão clama igualdade de oportunidades como
do mundo. seu ideal, requer uma educação, na qual o
aprendizado e aplicação social, ideias e prá-

144/245
Gabarito
tica, trabalho e reconhecimento daquilo que
é feito estejam unidos desde o começo”.

5. Resposta: B.

A criança entra no sistema social e, ao inte-


ragir e negociar com os outros, estabelece
relação com os pares e parceiros na brinca-
deiras, participando em grupos organizados
de brinquedos, produzem conjuntamente a
cultura de pares.

145/245
Unidade 6
O lúdico nos documentos nacionais

Objetivos

1. Analisar como a legislação brasileira


preconiza o direito da criança brincar.
2. Reconhecer a importância do Referen-
cial Curricular Nacional para a Educa-
ção Infantil.
3. Identificar como o documento do MEC
subsidia o trabalho do professor na
educação lúdica.

146/245
Introdução

A educação lúdica já faz parte dos progra- Em 1990 no Brasil foi aprovado o Estatuto
mas institucionais, das escolas, creches, da Criança e do Adolescente l que em ser
hospitais e outros espaços que atendem artigo 16 estabelece o direito “de brincar,
crianças e adolescentes. O brincar precisa praticar esportes e divertir-se”.
ser visto como um direito essencial ao de-
senvolvimento da criança e adolescentes.
A Declaração Universal dos Direitos Huma-
Para saber mais
A Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a
nos (1948) em seu artigo 24 declara que a
Convenção sobre os Direitos da Criança – Carta
criança tem: “o direito ao repouso e ao la-
Magna para as crianças de todo o mundo – em 20
zer”. Outro documento que apresenta o di-
de novembro de 1989, e, no ano seguinte, o do-
reito a brincadeira é a Declaração Universal
cumento foi oficializado como lei internacional. A
dos Direito da Criança em seus artigos 4 e 7,
Convenção sobre os Direitos da Criança é o instru-
confere “as meninas e aos meninos o direi-
mento de direitos humano mais aceito na história
to à alimentação, à recreação, à assistência
universal. Foi ratificado por 196 países. Somente
médica” e à ampla oportunidade de brincar
os Estados Unidos não ratificaram a Convenção,
e se divertir”.
mas sinalizaram sua intenção de ratificar a Con-
venção ao assinar formalmente o documento.

147/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


O direito à brincadeira quando vem em for- 1. A Constituição de 1988
ma de lei, torna-se uma garantia legal de
que a criança e o adolescente são cidadãos No final do século XIX e início do século XX
com direitos garantidos. Portanto, as políti- diferentes concepções sobre o direito e o lu-
cas públicas precisam tornar essa legislação gar da infância tornaram-se prioridade em
uma realidade na vida das crianças. Quando diferentes países. A declaração dos Direitos
esses direitos são reconhecidos legalmente Universal da Criança em 1959 pela Assem-
pelo amparo legal, espera-se que as ações bleia Geral das Nações Unidas ao conferir a
políticas transformem a lei em ação prática criança como “sujeito de direitos” em âm-
aos cidadãos. bito internacional movimentou diferentes
A Constituição Federal em seu art. 227, as- países para repensar o seu papel no cuidado
sim declara: “É dever da família, sociedade e e na educação de suas crianças. Vários di-
do Estado assegurar à criança e ao adoles- reitos foram concebidos nessa declaração,
cente com absoluta prioridade, o direito à como “o direito à alimentação, à recreação
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao e à medicação”.
lazer, à profissionalização, à cultura, à digni- A criança enquanto sujeito de direitos pre-
dade, ao respeito, à liberdade, e a convivên- cisa ser reconhecida como cidadã, perten-
cia familiar e comunitária, [...]”
148/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais
cente a uma etapa da vida que é a infância, e necessita de cuidados e educação para o seu de-
senvolvimento.
O direito ao lazer por meio de atividades lúdicas vem em forma de lei pela Constituição Federal
em seu artigo 227, que reconhece os direitos da criança, à proteção integral, ao desenvolvimento
e a políticas que priorizem a promoção de seus direitos.

Para saber mais


No ano de 1988 acontecia no país o marco que definiria o Brasil como, novamente, um país democrático.
No dia 5 de outubro era promulgada a Constituição Federal, que tinha como objetivo garantir os direitos
sociais, econômicos, políticos e culturais que desde o período anterior haviam sido suspensos pelos go-
vernos no período da ditadura. Também conhecida como a Constituição Cidadã, foi a sétima na história
do Brasil desde que ele passou pela independência, e foi elaborada por 558 constituintes durante um
período de 20 meses. 

149/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


No artigo 208 da Carta Magna ao declarar como dever do Estado o acesso à educação:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a ga-
rantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclu-
sive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na ida-
de própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) II
- progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 14, de 1996) III - atendimento educacional espe-
cializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular
de ensino; IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até
5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53,
de 2006) V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da
criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino
noturno regular, adequado às condições do educando; VII - atendimento ao
educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de
material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

150/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


O Estado ao assumir a educação das crianças mediante ao atendimento na educação infantil até
os cinco anos de idade, além de outros direitos, precisa criar condições para o desenvolvimento
cognitivo, afetivo, físico e emocional. É por meio da educação que a criança tem acesso a cultura,
o artigo 227 deixa claro quando afirma que:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao ado-


lescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, cruelda-
de e opressão (BRASIL, 1988).
A lei assegura os direitos da criança e atribui ao Estado, à família e a sociedade a responsabilida-
de de propiciar às condições básicas e necessárias à sobrevivência. O texto ressalta como priori-
dade o cuidado e proteção “à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer”, ou seja, o lazer
é considerado um direito tão importante como a vida, a saúde e a educação.

151/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


O brincar para criança é o norteador de di- 2. Estatuto da Criança e do ado-
ferentes experiências que contribuem para lescente
a apropriação de conhecimentos, porque
além de favorecer o desenvolvimento da A aprovação da Lei 8.069 em 13 de julho de
criatividade por meio “do faz de conta” aju- 1990, que dispõe do Estatuto da Criança e
da no crescimento e abre espaços para di- do Adolescente, na realidade foi o resultado
ferentes aprendizagens. Nesse processo a da mobilização social que entende que as
criança desenvolve a autonomia, a criati- crianças e adolescentes são cidadãos que
vidade, a exploração de significados e sen- merecem ser reconhecidos como sujeito de
tidos. Brincar é a mais clara expressão da direitos.
realidade, pois é por meio dessa ação que a
O estatuto também reitera o brincar como
criança desenvolve o raciocínio lógico, seus
direito de toda a criança. No capítulo II so-
pensamentos, suas habilidades e criativida-
bre o direito à liberdade, ao respeito e à dig-
des (OLIVEIRA, 2002).
nidade, destaca o artigo 16 que assim des-
creve:

152/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
I- ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalva-
das as restrições legais;
II- opinião e expressão;
III-crença e culto religioso;
IV-brincar, praticar esportes e divertir-se;
V- participar da vida política, na forma da lei;
VI-buscar refúgio, auxílio e orientação (Brasil, 1990, p.24).
O estatuto da criança e do adolescente ao ratificar o direito “à brincar, participar de esporte e
divertir-se” demonstra a importância da brincadeira como uma maneira de compartilhar valores
culturais, emoções, expressar ideias, aprender a tomar decisões, cooperar, socializar e utilizar a
motricidade (KISHIMOTO, 2001, p.9).

153/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


Link
O brincar para todos (como desenvolver atividades lúdicas). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/
seesp/arquivos/pdf/brincartodos.pdf>. Acesso em: 30 maio 2017.

3. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Com a aprovação da LDB 9394 em 20 de dezembro de 1996, a infância torna-se reconhecida


como a primeira etapa da educação básica. O artigo 29 assim descreve: “a educação infantil, pri-
meira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até
cinco anos em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da
família e da comunidade”.
A educação infantil será oferecida em creches e pré-escolas, segundo a LDB em seu artigo 30, a
educação infantil será oferecida em:

I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;

II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade.


154/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais
E o artigo 31 define que está organizada da seguinte maneira:

Art. 31.  A educação infantil será organizada de acordo com as seguintes regras
comuns:        

I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crian-


ças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental;
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um mí-
nimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional;

III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o turno
parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral;           

IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a fre-


quência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas;        

V - expedição de documentação que permita atestar os processos de desenvolvi-


mento e aprendizagem da criança.         

155/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


Quando a LDB reconhece a infância como a primeira etapa da educação básica, apresenta-se
um novo olhar para a educação de criança de zero a cinco anos de idade. Podem-se considerar
dois avanços nesse processo, primeiro a superação do binômio cuidar e educar, que separa cre-
che e a pré-escola numa concepção em que a creche cuida e a pré-escola educa. A legislação
define a educação da criança como nível de ensino em que cuidar e educar se complementam. A
segunda é a profissionalização dos educadores, à organização de uma estruturação pedagógica
e à valorização da mão de obra. (MOTA, 2017).

Link
LDB e a Educação Infantil. Disponível em: <http://citrus.uspnet.usp.br/eef/uploads/arquivo/v15%20
supl4%20artigo1.pdf>. Acesso em 27 jun. 2017.

A LDB define em seu artigo 62 que para atuar como professor de educação infantil:

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior,


em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercí-
cio do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fun-
damental, oferecida em nível médio, na modalidade normal (BRASIL, 1996).
156/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais
A formação do professor de educação in- “referenciais e orientações pedagógicas
fantil exige uma apropriação de conheci- que visam contribuir com a implantação ou
mentos que privilegie teorias e concepção implementação de práticas educativas de
de infância, escola sociedade; identifique o qualidade que possam promover e ampliar
desenvolvimento e a aprendizagem infan- as condições necessárias para o exercício da
tis sobre diferentes olhares como o jogo, a cidadania das crianças brasileiras” (BRASIL,
brincadeira e outras atividades lúdicas no 1998, p. 13).
intuito de proporcionar a criança uma edu- O referencial descreve alguns princípios im-
cação voltada às suas necessidades e espe- portantes para contribuição do exercício da
cificidades infantis. cidadania, considerando as especificidades
afetivas, emocionais, sociais e cognitivas
4. Referencial Curricular Nacio- das crianças de zero a seis anos. São eles:
nal da Educação Infantil
• o respeito à dignidade e aos direitos
Com o reconhecimento da infância como das crianças, consideradas nas suas
a primeira etapa da educação básica pela diferenças individuais, sociais, eco-
LDB, o Ministério de Educação, organizou nômicas, culturais, étnicas, religiosas,
um documento com objetivo de servir de etc.

157/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


• o direito das crianças à brincar, como O referencial enfatiza que as crianças têm o
forma particular de expressão, pensa- direito de viver experiências prazerosas nas
mento, interação e comunicação in- instituições e a brincadeira por ser uma lin-
fantil. guagem infantil facilita a interiorização de
• o acesso das crianças aos bens so- determinados modelos na relação entre os
cioculturais disponíveis, ampliando grupos sociais. Outro aspecto importante
o desenvolvimento das capacidades no referencial é a concepção de criança que
relativas à expressão, à comunicação, é descrito como:
à interação social, ao pensamento, à
ética e à estética.
• a socialização das crianças por meio
de sua participação e inserção nas
mais diversificadas práticas sociais,
sem discriminação de espécie alguma.
• o atendimento aos cuidados essen-
ciais associados à sobrevivência e ao
desenvolvimento de sua identidade
(BRASIL, p. 13).
158/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais
Sujeito social histórico e faz parte de uma organização familiar que está
inserida em uma sociedade, com determinada cultura, em um determina-
do momento histórico; as crianças constroem conhecimento a partir das
interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que
vivem. (BRASIL, 1998, p.21).

Para saber mais


Após a elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9.394/1996) houve um
descompasso entre o Ministério da Educação (MEC) e o Conselho Nacional de Educação (CNE), no que diz
respeito à elaboração de diretrizes curriculares. Com base nas análises de Bonamino & Martinez (2002)
e Cury (2002), podemos afirmar que houve uma superposição de papéis entre o MEC e o CNE. Tal super-
posição ocorreu em decorrência das políticas governamentais que, no tocante às questões curriculares,
visavam implementar uma agenda internacional pautada na elaboração de um currículo nacional para os
diferentes níveis de ensino (TORRES, 2003 apud AMORIN e DIAS, 2012, p. 128).

159/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


Os princípios e a concepção de criança con- já possuíam anteriormente em conceitos
duzem a uma reflexão sobre o grande desa- gerais com os quais brinca. Na realidade
fio da educação infantil que é compreender elas ressignificam determinados papéis na
e reconhecer o particular da criança, suas brincadeira.
características, suas necessidades e suas Por meio das brincadeiras os professores
individualidades. podem observar e construir uma visão dos
processos de desenvolvimento, intervindo
intencionalmente durante o ato lúdico.
Link
“É preciso que o professor tenha consciên-
A importância do brincar na educação infantil.
cia que na brincadeira as crianças recriam e
Disponível em: <http://www.webartigos.com/
estabilizam aquilo que sabem sobre as mais
artigos/a-importancia-de-brincar-na-edu-
diversas esferas do conhecimento, em uma
cacao-infantil/11903/> . Acesso em: 31 maio
atividade espontânea e imaginativa” (BRA-
2017.
SIL, 1998, p. 29).
A brincadeira está bem explícita no docu- A educação infantil ao acolher crianças de
mento, como uma maneira prazerosa da zero a cinco anos precisa ter clareza que as
criança transformar os conhecimentos que crianças desenvolvam as capacidades:

160/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


• desenvolver uma imagem positiva de cos a articular seus interesses e pontos
si, atuando de forma cada vez mais in- de vista com os demais, respeitando a
dependente, com confiança em suas diversidade e desenvolvendo atitudes
capacidades e percepção de suas li- de ajuda e colaboração.
mitações. • observar e explorar o ambiente com
• descobrir e conhecer progressivamen- atitude de curiosidade, percebendo-
te seu próprio corpo, suas potenciali- -se cada vez mais como integrante,
dades e seus limites, desenvolvendo e dependente e agente transformador
valorizando hábitos de cuidado com a do meio ambiente e valorizando ati-
própria saúde e bem-estar. tudes que contribuam para sua con-
• estabelecer vínculos afetivos e de tro- servação.
ca com adultos e crianças, fortalecen- • rincar, expressando emoções, senti-
do sua autoestima e ampliando gra- mentos, pensamentos, desejos e ne-
dativamente suas possibilidades de cessidades.
comunicação e interação social. • utilizar as diferentes linguagens (cor-
• estabelecer e ampliar cada vez mais as poral, musical, plástica, oral e escrita)
relações sociais, aprendendo aos pou- ajustadas às diferentes intenções e si-

161/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


tuações de comunicação, de forma a paço físico os recursos, a acessibilidade, a
compreender e ser compreendido, ex- segurança do espaço e os materiais, a orga-
pressar suas ideias, sentimentos, ne- nização do tempo e espaço, a parceria com
cessidades e desejos e avançar no seu as famílias.
processo de construção de significa- O professor ao organizar seu trabalho edu-
dos, enriquecendo cada vez mais sua cativo precisa ter clareza quanto alguns cri-
capacidade expressiva. térios importantes como:
• conhecer algumas manifestações cul-
• a interação com crianças da mesma
turais, demonstrando atitudes de in-
idade e de idades diferentes em situa-
teresse, respeito e participação fren-
ções diversas como fator de promoção
te a elas e valorizando a diversidade
da aprendizagem e do desenvolvimen-
(BRASIL, 1998, p. 63).
to e da capacidade de relacionar-se.
O referencial ao sugerir um diálogo com os
programas e projetos curriculares das insti- • os conhecimentos prévios de qualquer
tuições sobre a política de educação infan- natureza, que as crianças já possuem
til, contribui para uma reflexão quanto às sobre o assunto, já que elas aprendem
condições externas e internas do ambiente, por meio de uma construção interna
a formação da equipe de profissionais, o es- ao relacionar suas ideias com as novas
162/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais
informações de que dispõem e com as O professor deve planejar e oferecer difer-
interações que estabelece. entes situações de aprendizagens que re-
• a individualidade e a diversidade. sponda simultaneamente às demandas do
coletivo e as individualidades das crianças.
• o grau de desafio que as atividades
apresentam e o fato de que devam ser
significativas e apresentadas de ma-
neira integrada para as crianças e o Link
mais próximas possíveis das práticas A LDB e o as instituições de educação infantil:
sociais reais. desafios e perspectiva. Disponível em: <http://
• a resolução de problemas como for- citrus.uspnet.usp.br/eef/uploads/arquivo/
ma de aprendizagem (BRASIL, 1998, v15%20supl4%20artigo1.pdf>. Acesso em:
p. 30). 31maio 2017.
O professor deve entender o seu papel como
parceiro, cuja função é propiciar e criar am-
biente rico e prazeroso e não discriminatório
de experiências educativas.

163/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


Glossário
Criança: compreende um ser humano no início de seu desenvolvimento. No Brasil, o Estatuto
da Criança e Adolescente considera criança para efeitos da Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos [...] (art. 2).
Infância:éoperíodoquevaidesdeonascimentoatéaproximadamenteodécimo-segundoanodevidade
uma pessoa. É um período de grande desenvolvimento físico, marcado pelo gradual crescimento da
altura e do peso da criança - especialmente nos primeiros três anos de vida e durante a puberdade.
A sociologia da infância costuma fazer uma diferença entre criança e infância. [...] infância, para
significar a categoria social do tipo geracional, e criança, referente ao sujeito concreto que inte-
gra essa categoria geracional e que, na sua existência, para além da pertença de um grupo etário
próprio, é sempre um actor social que pertence a uma classe social, a um gênero, etc. (Sarmento,
1997, p. 371).
Adolescência: período do desenvolvimento humano entre a infância e a idade adulta e que abar-
ca desde a puberdade ao completo desenvolvimento do organismo. Vem do latim adolescens, en-
tis (part. pres. de adolescere) que desenvolve, cresce, engrossa. [dicionário Eletrônico Houaiss].
No Brasil, o Estatuto da Criança e Adolescente considera para efeitos da Lei, adolescente a pes-
soa entre doze e dezoito anos.

164/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


?
Questão
para
reflexão

Os documentos oficiais contribuem para uma reflexão


sobre a importância do lúdico na educação infantil.
Como você analisa o papel do professor na organização
de um projeto voltado a brincadeiras infantis?

165/245
Considerações Finais

• As políticas públicas precisam tornar legislação uma realidade na vida das


crianças. Ao reconhecer os direitos da criança ao lúdico por meio amparo
legal, se espera que as ações políticas transformem a lei em ação prática ao
universo infantil.
• O brincar para criança é o norteador de diferentes experiências que con-
tribuem para a apropriação de conhecimentos, porque além de favorecer o
desenvolvimento da criatividade por meio “do faz de conta” ajuda no cres-
cimento e abre espaços para diferentes aprendizagens.
• O referencial enfatiza que as crianças têm o direito de viver experiências
prazerosas nas instituições e a brincadeira por ser uma linguagem infantil
facilita a interiorização de determinados modelos na relação entre os gru-
pos sociais.
• Quando a criança brinca ela utiliza diferentes linguagens, intencionalidade
e se apropria da cultura por meio da demonstração, respeito e participação.

166/245
Referências

AMORIN, Luiza Nogueira; DIAS, Adelaide Alves. Currículo e educação infantil: uma análise dos
documentos curriculares nacionais. Espaço do Currículo, v.4, nº 2, p. 125-137. Setembro de
2011-março de 2012. Disponível em:<https://www.associacaomariafloscarmeli.com.br/pdf/cur-
riculo_integrador_da_educacao_infantil.pdf>. Acesso em: 31 maio 2017.

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.


planalto.gov.br>. Acesso em: 31jun. 2017.

BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069 de 13 de julho de 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 31 maio 2017.
BRASIL, Ministério da educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394 de 20/12/1996. Dis-
ponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 31 maio 2017.
MOTA, Lopes Georgina. A concepção de infância nas orientações curriculares para a educação
infantil: um estudo sobre o documento da Prefeitura de São Paulo no período de 2005-2012.
153f. Tese (Doutorado em Psicologia da Educação). Pontifícia Universidade Católica de São Pau-
lo: 2017.
OLIVEIRA, Zilma Ramos. Educação infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.

167/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


SARMENTO, Manuel Jacinto; PINTO, Manuel. As crianças e a infância: definindo conceitos deli-
mitando o campo. In: PINTO, Manuel; SARMENTO, Manuel J. (coords.) As crianças: contextos e
identidades. Braga: Centro de Estudos da Criança, 1997.
Disponível em: <https://pactuando.files.wordpress.com/2013/08/sarmento-manuel-10.pdf>.
Acesso em: 31 maio 2017.

168/245 Unidade 6 • O lúdico nos documentos nacionais


Questão 1
1. A Lei nº 8069 dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
aprovado em 13 de julho de 1990. Esta Lei dispõe sobre a proteção integral
à criança e ao adolescente e garante que:

a) O ECA favorece o trabalho pedagógico porque apresenta os objetivos da educação infantil.


b) O ECA além de ajudar no reconhecimento do direito a brincadeira descreve a infância como
primeira etapa da educação básica.
c) A Constituição Federal também chamada de Carta Magna ratifica o ECA que descreve o di-
reito da infância ser reconhecida como primeira etapa da educação básica.
d) A LDB e o ECA discutem o Referencial para Educação Infantil, principalmente na relação pro-
fessor e criança.
e) O ECA considera criança para efeitos legais, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e
adolescente aquele entre doze e dezoito anos de idade.

169/245
Questão 2
2. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil apresenta
algumas concepções:

a) A concepção de criança e infância difere: infância é uma categoria social e criança sujeito
social.
b) A criança é sujeito social histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida
em uma sociedade.
c) A brincadeira infantil precisa de regras para a interação entre adulto e criança.
d) É muito importante a brincadeira porque evita a expressão emocional através dos senti-
mentos, pensamentos e desejos.
e) A brincadeira em alguns momentos fortalece a baixa autoestima da criança.

170/245
Questão 3
3. Segundo o RCNEI a brincadeira pode ser entendida como:

a) A brincadeira enquanto jogo simbólico é prazeroso, mas transformado em conteúdo didáti-


co é um desprazer.
b) A brincadeira favorece a observação do adulto quanto à disciplina em sala de aula.
c) Por meio do ato lúdico a criança recria e estabiliza diversas áreas do conhecimento.
d) Na brincadeira as crianças ressignificam sua autoimagem.
e) Durante a brincadeira o professor não pode intervir porque desestabiliza o emocional infantil.

171/245
Questão 4
4. O professor precisa estabelecer alguns critérios na organização do tra-
balho educativo:

a) Todas as vezes que organizar o ambiente lúdico oferecer um doce no final da atividade.
b) Imaginar como foi sua infância e preparar o espaço de acordo com seu conceito de lúdico.
c) Perceber os conhecimentos prévios que a criança possui sobre o assunto a ser explorado.
d) Lançar desafios de maneira que a criança seja confrontada com suas práticas sociais reais.
e) Evitar a interação com crianças de faixas etárias diferente porque dificulta a aprendizagem
dos menores.

172/245
Questão 5
5. Para o exercício da cidadania é muito importante que alguns princípios
sejam respeitados:

a) O dever da criança na brincadeira reconhecer o vencedor.


b) A brincadeira precisa evidenciar as diferentes religiões para o professor trabalhar individu-
almente cada seita representada no grupo.
c) Atender a criança observando o cuidado no desenvolvimento de sua identidade.
d) Ampliar o acesso aos bens culturais preferencialmente o folclore da região.
e) Respeitar os direitos das crianças, preferencialmente, o que evidencia a maioria no grupo.

173/245
Gabarito
1. Resposta: E. teriza como seres que sentem e pensam o
mundo de um jeito próprio.
O ECA tem sustentação na doutrina da pro-
teção integral defendida pela (Organização 3. Resposta: C.
das Nações Unidas) com base na Declara-
ção Universal dos Direitos Humanos. O ar- O RCNEI apresenta a brincadeira ou ato lú-
tigo 2 assim descreve: “ considera-se crian- dico como um dos fatores que motivam a
ça, para efeitos desta Lei, a pessoa até doze criança em diferentes áreas do conheci-
anos de idade incompletos, e adolescente mento. Nesse processo ela recria e esta-
aquela entre doze e dezoito anos de idade. biliza diversas áreas do conhecimento por
meio da intervenção do professor que cons-
2. Resposta: B. trói situações de interação social. O profes-
sor atua como mediador entre a criança e o
A concepção de criança é uma noção histo- objeto de conhecimento.
ricamente construída e que sofre mudanças
ao longo do tempo. A criança como todo 4. Resposta: C.
ser humano, é sujeito social histórico e pos-
suem uma natureza singular, que as carac- Conhecimentos prévios são saberes ou as
informações que temos guardados em nos-
174/245
Gabarito
sa mente e que podemos acionar quando
precisamos. O professor pode explorar os
conhecimentos ou informações que a crian-
ça já possui sobre o assunto.

5. Resposta: C.

Ao trabalhar a identidade, o professor de-


verá tomar cuidado para não reproduzir
padrões estereotipados quanto aos papéis
de homem e mulher. Por exemplo: homem
não chora ou a função do cuidado de casa
é tarefa só feminina, etc. O trabalho com a
identidade representa um importante es-
paço para interagir a família e a instituição.

175/245
Unidade 7
Técnicas para aplicação de jogos

Objetivos

1. Entender a técnica de jogos pedagó-


gicos em sala de aula.;
2. Construir estratégias pedagógicas
para trabalhar as diferentes áreas do
conhecimento.;
3. Reconhecer o papel do professor na
construção e aplicação dos jogos.

176/245
Introdução
A educação lúdica está presente em dife- quais brinca”. A brincadeira pode contribuir
rentes momentos pedagógicos e a infância para o exercício da cidadania seguindo um
exige um olhar criativo nesse processo de dos princípios enfatizado no RCNEI, “o direi-
ensino e aprendizagem. Educar é propiciar to das crianças a brincar, como forma parti-
condições de acolhimento, brincadeiras e cular de expressão, pensamento, interação
aprendizagens que, de uma maneira orga- e comunicação infantil” (BRASIL, 1998, p.
nizada, contribuam para o desenvolvimento 13 e 27).
da capacidade infantil. O Referencial Curri-
cular Nacional de Educação Infantil assim A educação lúdica ao fazer parte do pro-
descreve “Toda brincadeira é uma imitação grama pedagógico do professor revela uma
transformada, no plano das emoções e das prática que exige um olhar crítico quanto a:
ideias, de uma realidade anteriormente vi- “conhecer a natureza do lúdico” as “causas
venciada”. Quando a criança brinca, viven- e efeitos” e conhecer as “formas adequa-
cia momentos de prazer e ludicidade que das de implementação”. Almeida (1994) ao
movimenta a recriação e a imaginação de abordar em seu livro Educação Lúdica: Téc-
acontecimentos do seu cotidiano. O Refe- nicas e Jogos Pedagógicos reitera a impor-
rencial destaca que durante a “brincadeira tância do professor receber uma formação
as crianças transformam os conhecimentos pedagógica dos conhecimentos e funda-
que já possuíam em conceitos gerais com os mentos da educação lúdica que o habilite a
177/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos
desenvolver atividades voltadas a uma pe- O professor precisa desenvolver uma me-
dagogia que desperte na criança a paixão todologia pedagógica lúdica que ofereça
pelos estudos (ALMEIDA, 1994, p. 42-43). diretrizes e subsídios para uma reflexão na
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para construção de propostas curriculares volta-
dos às necessidades de seus alunos, consi-
o Ensino Fundamental de Educação Física
derando o acesso democrático a todos in-
afirma ser uma área do conhecimento “de-
dependente de suas aptidões e rendimen-
nominado cultura corporal de movimento”,
tos físicos padronizados. A concepção que
e os temas que o professor deverá desenvol-
o professor de educação física escolar deve
ver envolve atividades lúdicas como: “jogo, adotar contempla todas as dimensões en-
a ginástica, o esporte, a dança, a capoeira” volvidas em cada prática corporal e não os
e outras ações relacionadas a “cultura cor- objetivos específicos do esporte.
poral de movimento e o contexto histórico-
-social dos alunos” contudo faz um alerta:
1. O educador e o lúdico
“A educação física escolar deve dar oportu-
nidades a todos os alunos para desenvolve- Para trabalhar na Educação Básica (Educa-
rem suas potencialidades de forma demo- ção infantil até o Ensino Médio) os profes-
crática e não seletiva” (BRASIL, 1998, p. 26 sores deverão ser habilitados conforme o
e 27). art. 62 da LDB de 1996.
178/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em
nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação
mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco
primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na
modalidade normal (BRASIL, 1996).
Para atuar na Educação Infantil a Lei abre uma prerrogativa em nível médio como formação ini-
cial e posteriormente o curso superior. As demais modalidades como o Ensino Fundamental das
Séries Finais e Ensino Médio os professores necessitam de uma formação em nível superior com
licenciaturas específicas para cada área do conhecimento, como Geografia, História, Matemá-
tica, Educação Física, etc. O currículo de formação para todas as especificidades oferece uma
disciplina que aborda a metodologia ou a didática específica de cada área do conhecimento. A
fundamentação teórica subsidia e dialoga com a prática em sala de aula.
O professor ao dialogar com a prática em sala de aula necessita de uma fundamentação que o
habilite a fazer reflexões para o desenvolvimento de suas ações. O grande desafio do professor é
oferecer uma educação crítica aos alunos capaz de construir e inovar o ambiente em que vivem.
Nesse contexto, torna-se necessário quebrar alguns paradigmas de concepções tradicionais e
179/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos
construir uma educação com bases teóricas inovadoras que contribua para uma proposta de ex-
periências prazerosa, estimuladora e motivadora que se encontra na educação lúdica. Pinto, et
al, (2012) assim reitera:

é de bom alvitre que o professor lance mão de estratégias como o uso


de jogos, uma vez que, através dos mesmos vários objetivos relacionados
à cognição, à afeição, socialização, motivação e criatividade podem ser
atingidas. Nesse sentido, a escola constitui-se num espaço essencialmente
educativo, caracterizado pela ação institucional intencional, cuja função
principal é a socialização do conhecimento socialmente produzido, pos-
sibilitando ao educando o acesso e a reconstrução do saber (PINTO et al,
2012, p.2)
O autor em sua pesquisa conclui que o jogo enquanto ferramenta pedagógica proporciona inte-
resse, participação e curiosidade que facilita a relação ensino aprendizagem. Diante da proposta
pedagógica lúdica por meio de jogos durante suas aulas notou-se que os alunos produziram co-
nhecimento.

180/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos


Os jogos ou brincadeiras enquanto ferra- prazer, alegria e satisfação para adquirir co-
mentas pedagógicas não se restringem nhecimentos. A formação de professor deve
apenas a educação infantil. Podem, devem propiciar condições de reflexão de sua fun-
ser trabalhadas em diferentes atividades ção ou consciência histórica, além de sem-
com crianças e adultos (BROUGÈRE, 2004, pre adquirir competências teóricas e práti-
apud PINTO, 2012). cas que o motive a aprender cada vez mais
Almeida (1994) ressalta a importância de numa perspectiva de mudança ou transfor-
resgatar o sentido da escola. A etimolo- mação. Almeida (1994) apresenta alguns
gia da palavra escola (vem do grego scholé critérios para a construção de ações lúdicas
através do latim schola) que significa lazer, como proposta do professor. O primeiro cri-
descanso ou alguma atividade feita na hora tério está relacionado à formação do pro-
do descanso, por exemplo, estudar (Dicio- fessor quanto à pesquisa, discussão e leitu-
nário etimológico online). Atualmente es- ras que resultará em criações e recriações
cola é uma instituição ou estabelecimento de atividades envolvendo o lúdico em sala
concebido para o ensino formal de alunos de aula. O segundo critério que o autor des-
sob a direção de professores. taca envolve organização e planejamento.

O autor defende que o verdadeiro sentido da O planejamento do professor envolve o co-


escola deveria ser um lugar que proporcione nhecimento e a caracterização dos alunos e
181/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos
do ambiente. O público alvo tem suas espe- formação em um aspecto amplo, ou seja,
cificidades, quanto ao gênero, faixa-etária, aprender a pensar; estimular o cognitivo;
cultura e nível socioeconômico, assim como dominar o conhecimento básico por si mes-
no espaço físico o ambiente deverá aten- mo (satisfação e prazer); integrar-se na vida
der as necessidades da atividade planejada. social; apropriar-se da crítica numa visão
Quando o professor planeja suas atividades emocional equilibrada. Enquanto que o ter-
lúdicas precisa ter clareza quais os objetivos mo atividade lúdica é a aplicação de técni-
que se quer atingir com o ensino. Almeida cas e jogos, ou seja, são meios que auxiliam
(1994, p.44) defende que “o ato educativo a concretização de determinado objetivo
não é uma ação inconsciente, espontânea, específico (ALMEIDA 1994, p.45-46).
mas um ato consciente, histórico e planeja-
do”. Se o professor deseja atingir seus ob- 2. Técnicas Pedagógicas
jetivos, precisa priorizar o tipo de conheci-
mento que deseja trabalhar e os recursos Para discorrer sobre as técnicas pedagógi-
que serão necessários para atender. cas, necessita-se entender o significado de
técnicas. Técnica é um procedimento que
Existe uma diferença quanto às termino-
está diretamente ligado a atingir uma meta.
logias educação lúdica e atividade lúdica.
Etimologicamente “técnica” vem do grego
O primeiro termo tem como finalidade a
182/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos
tékhne, e significa arte. A técnica é o modo Procedimentos são ações ou maneiras de
de caminhar, o modo de proceder em me- descrever as atividades desenvolvidas pelo
nores detalhes à operacionalização do mé- professor e o aluno (Piletti, 2000, p. 102).
todo. Saviani (1988) na perspectiva de uma con-
Método tem seu significado etimológico do cepção crítica, afirma que não existe um du-
grego “methodos” composta de meta (atra- alismo entre preferir uma técnica de ensino
vés de, e por meio de) e hodós (caminho e e recusar outras. Na realidade exige-se que
via). É o caminho a seguir para alcançar um busque uma “pedagogia vinculada entre
fim. Pode-se afirmar então que método é o educação e meio” empenhada no bom fun-
caminho que leva até certo ponto, sem ser o cionamento da escola e, portanto, em téc-
veículo de chegada que é a técnica. A técni- nicas que estimulam a atividade e iniciativa
ca é a operacionalização do método. do aluno sem rejeitar a iniciativa do profes-
Estratégia vem de origem grega com o sig- sor de maneira que também podem favo-
nificado de “a arte do geral” posteriormen- recer o diálogo dos alunos entre si e com o
te, “general arte de conduzir um exército”. professor sem desmerecer o diálogo com a
No contexto educacional, é a descrição dos cultura historicamente acumulada.
meios disponíveis pelo professor para atin- A técnica utilizada pelo professor no desen-
gir os objetivos específicos. volvimento da educação lúdica visa diver-
183/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos
sificar a ação a partir de um procedimento
didático em que o jogo como ferramenta Para saber mais
permite o aluno apropriar-se de conheci- Interdisciplinaridade: Intercâmbio mútuo e in-
mentos de uma forma mais descontraída e teração de diversos conhecimentos de forma re-
prazerosa, propiciando o desenvolvimento cíproca e coordenada; perspectiva metodológica
do pensamento reflexivo. comum a todos; integrar os resultados; perma-
O desenvolvimento de atividades lúdicas necem os interesses próprios de cada disciplina,
contribui para o professor trabalhar dife- porém, buscam soluções dos seus próprios pro-
rentes conteúdos; promover a interação blemas através da articulação com as outras dis-
entre os alunos; trabalhar a criatividade e a ciplinas.
cooperação. O jogo pode estimular dispu-
tas e até mesmo gerar conflitos em sala de 2.1 Classificação dos Métodos e
aula. Compete o professor em seu pla- Técnicas
nejamento deixar os objetivos bem claros
quanto a sua intencionalidade pedagógica, Os métodos e técnicas podem ser classifi-
utilizando estratégias para a criação de jo- cados em tradicionais e novos. Os métodos
gos com custo baixo voltados a interação do e técnicas tradicionais exigem um com-
grupo visando um trabalho interdisciplinar. portamento passivo do aluno, o professor

184/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos


é o transmissor do conhecimento e o alu- Destaca a vida social da criança como fator
no apenas o receptor. Paulo Freire denomi- fundamental para o desenvolvimento inte-
na esse processo educativo de “educação lectual, a interação entre os alunos e o pro-
bancária” em que o professor deposita o fessor.
conhecimento e o aluno recebe de maneira Destacaremos alguns métodos ou técnicas
passiva. Pilett (2000, p. 104) classifica essa que desenvolvem procedimentos lúdicos.
categoria com a metodologia aplicada nas
aulas expositivas e a técnica de perguntas e
resposta.
Técnicas e métodos novos, também deno-
minados de métodos ativos por se opor ao
método passivo ou tradicional. O princípio
que norteia essa metodologia baseia-se na
criança como uma pessoa em desenvolvi-
mento, cuja atividade, espontânea e natu-
ral, é condição para seu crescimento físico
e intelectual. A participação ativa do aluno
é o norteador para o trabalho pedagógico.
185/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos
2.1.2 Método Montessori
Para saber mais A criança é reconhecida como um ser parti-
John Dewey é, certamente, um dos mais influen-
cular distinto do adulto e dotado de capaci-
tes pensadores na área da educação contempo-
dades.
rânea. Esse destacado filósofo, psicólogo e peda-
gogo, nascido nos Estados Unidos posicionou-se A descoberta da criança como um ser do-
a favor do conceito de Escola Ativa, na qual o alu- tado pela natureza, da capacidade de auto-
no tinha que ter iniciativa, originalidade e agir de desenvolvimento, capacidade que não ne-
forma cooperativa. Dewey acreditava que escolas cessita mais do que um ambiente adequado
que atuavam dentro de uma linha de obediência e e que foge das indevidas pressões do edu-
submissão não eram efetivas quanto ao processo cador imprudente – tal revolução na con-
de ensino-aprendizagem. Seus trabalhos alinha- cepção da criança e de suas relações com o
vam-se com o pensamento liberal norte-ame- adulto constitui verdadeiramente o coração
ricano e influenciaram vários países, inclusive o
da nova pedagogia, posta em prática pelas
movimento da Escola Nova no Brasil.
escolas montessorianas em quase todos os
Disponível em: <http://www.planetaeduca- países (TITONE, R. 1966 apud PILETT, 2000,
cao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=447>. p.108).
Acesso em: 01 jun. 2017.

186/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos
A proposta desta metodologia baseia-se
nos seguintes princípios; liberdade, ativi-
Para saber mais dade, vitalidade e individualidade. O mate-
rial didático é bastante diversificado: cubos,
Maria Montessori (1870-1952) foi pedagoga,
prismas, caixas, cartões. O objetivo é culti-
pesquisadora e médica. A criadora do “Método
var a atividade dos sentidos. Alguns mate-
Montessori” que revolucionou o ensino na edu-
riais utilizados nesse método segundo (PI-
cação infantil, nasceu em Chiaravalle, norte da
LETT, 2000, p.109):
Itália, no dia 31 de agosto de 1870. Em sua ado-
lescência mostrou interesse por biologia e deci- 1. Sólidos de encaixe que e visam exer-
diu estudar medicina na Universidade de Roma, citar a observação e comparação de
mesmo enfrentando a resistência do pai, que de- coisas.
sejava que ela seguisse a carreira de professora. 2. Planos encaixáveis para a diferencia-
Na universidade, um dos problemas enfrentados ção de figuras geométricas planas.
pela aluna era na sessão de dissecação, quando 3. Material para exercitação do tato e
precisava ficar sozinha, pois não podia executá-la do sentido de pressão, por meio de
junto com os homens. pranchas rugosas e lisas, papéis lisos
e rugosos, tecidos e tabletes que tem

187/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos


o mesmo tamanho, porém pesos dife- Link
rentes. Método montessoriano: a importância do am-
4. Sólidos geométricos, visando ao de- biente e do lúdico na educação infantil. Dispo-
senvolvimento da percepção da for- nível em: <http://re.granbery.edu.br/artigos/
ma, da consistência e da temperatura. NDY2.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2017.
O método montessoriano inspirou muitas
escolas infantis no material pedagógico
2.1.3 Método Centros de Inte-
como jogos e brinquedos educativos. Mas
também é criticado por ser um método com resse
inspiração individualista, isola o indivíduo
O método dos Centros de Interesse procu-
de seu meio e dissocia a atividade mental
ra ser uma solução para o problema crucial
de suas fontes históricas e sociais (PILLET,
de toda educação. Leva em conta a evolu-
2000, p.110).
ção natural dos interesses da criança. Ini-
cialmente a criança só se interessa por sua
vida e por suas coisas, depois o interessa se
volta para a família e a casa até chegar a se
interessar pelos problemas da humanidade.

188/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos


Segundo Pillet (2000), o método permeia algumas fases:
1ª fase: Observação- a criança observa coisas sobre o tema por meio de slides, cartazes ou a di-
retamente a natureza sem o professor ter feito algum comentário sobre o assunto.
2ª fase: Associação- O professor fala sobre o que foi observado.
3ª fase: Expressão- A criança expressa algo a respeito do tema (PILLET, 2000, p.111).

Para saber mais


Jean-Ovide Decroly - nasceu em 1871, em Renaix, na Bélgica, filho de um industrial e de uma professo-
ra de música. Como estudante, não teve dificuldade de aprendizado, mas, por causa de indisciplina, foi
expulso de várias escolas. Recusava-se a frequentar as aulas de catecismo. Mais tarde preconizaria um
modelo de ensino não autoritário e não religioso. O conceito de interesse é fundamental no pensamento
de Decroly. Segundo ele, a necessidade gera o interesse e só este leva ao conhecimento. Fortemente in-
fluenciado pelas ideias sobre a natureza intrínseca do ser humano preconizadas por Jean-Jacques Rous-
seau (1712-1778), Decroly atribuía às necessidades básicas a determinação da vida intelectual. Para ele,
as quatro necessidades humanas principais são comer, abrigar-se, defender-se e produzir.

189/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos


O método Decroly, conhecido também 3. Técnicas para aplicação de jo-
como Centros de Interesses, são grupos de gos
aprendizado organizados segundo a faixa
de idade dos estudantes, em que se atribui Almeida (1994) descreve algumas orienta-
as necessidades básicas à determinação ções quanto às técnicas para os jogos pe-
da vida intelectual, tais como: comer, abri- dagógicos enfatizando que esses recursos
gar-se, defender-se e produzir. O méto- têm valor relevante e necessário na incor-
do desenvolvido pelo autor tem as seguin- poração de sistemas abstratos e formais.
tes vantagens: estabelece associações do Faz uma observação quanto à forma como
meio natural, desenvolve a observação e a o professor conduz suas aulas, segundo ele
adaptação ao meio social. A desvantagem “até uma aula expositiva auxiliada por re-
está na exigência do professor ser bastante cursos que atraiam a atenção dos alunos é
criativo, falta espaço físico para o cultivo de um jogo pedagógico”. (Almeida, 1994, p.46)
hortas, jardins e aquários nas instituições e
O professor poderá construir uma ficha com
dificuldade de locomoção em espaços como
o planejamento didático tendo como práti-
museus, laboratórios e organização de ex-
ca os jogos pedagógicos. É necessário que
cursões.
o professor prepare a formação dos partici-
pantes. Estabeleça com o grupo as regras do
190/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos
jogo, podendo deixar que os próprios alunos 5. Considerar sempre o professor como
construam as regras do jogo. É importante técnico e juiz das competições.
que o professor desenvolva no grupo o es- 6. Saber movimentar as carteiras.
pírito de cooperação para evitar o espírito
7. Deixar tudo em ordem no final, da
de competição e estabeleça alguns critérios
mesma forma que estava inicial-
de atitudes básicas para um bom relaciona-
mente.
mento no grupo. Escolha ideias construída
no grupo que contribuam para a construção 8. Incentivar os colegas para que tam-
de regras. O autor sugere algumas regras: bém participem.
9. Não pôr a culpa dos fracassos nos
1. Todos têm os mesmos direitos de
outros.
participar e opinar.
10. Não desvalorizar os que perdem.
2. Saber ouvir e saber o momento de
falar. 11. Estar disposto; deixar de lado os pre-
conceitos e antipatias.
3. Saber perder e saber vencer.
12. Não interromper o companheiro,
4. Entusiasmar-se é bom, mas gritar
quando este estiver expondo seu
pode atrapalhar.
ponto de vista.

191/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos


13. Discutir quando se julgar injustiçado. No final, após a aplicação do jogo e a aval-
14. Não calar ou retrair-se quando tiver iação, o professor poderá analisar o resulta-
uma ideia importante, etc.(Almeida, do sobre dois ângulos didáticos: como meio
1994, p. 49) que levou os alunos a dominar e vivenciar
determinadas atitudes e a maneira como o
No momento em que vai ocorrer a execução
professor estruturou seu trabalho.
do jogo, o professor deverá explicar e tirar
possíveis dúvidas, registrar as regras e ela-
borar um roteiro. No desenvolvimento dos
jogos, o professor deverá transmitir con-
fiança, entusiasmo e estímulo.
Avaliar o resultado da aplicação do jogo,
considerando ser um processo contínuo na
convivência e nas experiências cotidianas.
Os jogos possibilitam ao professor observar
o desempenho durante o desenvolvimen-
to e assumir a responsabilidade de decidir
alguns critérios do processo avaliativo em
conjunto com o aluno.
192/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos
Glossário
Método tradicional: é uma abordagem de ensino que parte do princípio que a inteligência é uma
faculdade que toma o homem capaz de armazenar informações da mais simples a mais comple-
xa. O conhecimento humano possui um caráter cumulativo, que deve ser adquirido pelo indiví-
duo pela transmissão dos conhecimentos a ser realizada na instituição escolar. [...] Atribui-se ao
sujeito um papel irrelevante na elaboração e aquisição do conhecimento. Ao individuo que está
adquirindo o conhecimento compete memorizar definir os enunciados de leis, sínteses e resu-
mos que lhes são oferecidos no processo de educação formal a partir de um esquema atomístico
(Mizukami, 1986. p.11 apud LEAO, 1999, p.190).

193/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos


Glossário
Método ativo: é o processo de ensino em que os estudantes ocupam o centro das ações educa-
tivas por meio da problematização da realidade, como estratégia pedagógica, com o objetivo de
alcançar e motivar os aprendizes à construção de conhecimentos, competências e habilidades,
sejam humanas ou profissionais, considerando que, frente ao problema que eles se envolvem,
examinam, refletem e estabelecem relações, atribuindo novos significados para suas descober-
tas. A acepção originária do método diz respeito ao caminho a ser seguido – do grego meta =
atrás, em seguida, através; e hodós = caminho –, referindo-se, por conseguinte, ao passo que
deverão ser dados para se atingir um fim. Disponível em: <http://www.faculdadeages.com.br/
metodoativo/index.htm>. Acesso em: 4 maio 2017.

Educação bancária: terminologia usada por Paulo Freire, em seu livro a Pedagogia do Oprimido
em 1968, quando estava exilado no Chile. Foi publicado no Brasil em 1974. Significa a imposi-
ção do conhecimento realizada pelo professor sobre o aluno na medida em que o professor já os
havia adquirido e facilitando sua ação de depósito deste conhecimento nos alunos. Uma atitude
autoritária e opressiva sobre alunos que se encontrariam passivos e apenas receptivos dos con-
teúdos e informações que o professor neles depositaria.

194/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos


?
Questão
para
reflexão

Considerando que os métodos Montessoriano e os Cen-


tros de interesse contribuíram para o trabalho pedagó-
gico na educação infantil, qual a proposta metodológica
atende a educação infantil nos dias atuais?

195/245
Considerações Finais

• O jogo enquanto ferramenta pedagógica proporciona ao aluno interesse,


participação, curiosidade que facilitando a relação ensino aprendizagem.
• A atividade lúdica não restringe apenas a educação infantil podem e devem
ser trabalhado com adolescentes e adulto.
O princípio que norteia metodologia da educação ativa baseia-se na criança
como uma pessoa em desenvolvimento, cuja atividade, espontânea e natural,
é condição para seu crescimento físico e intelectual.
Avaliar da atividade lúdica é um processo contínuo na convivência e nas expe-
riências cotidianas. Os jogos possibilitam o professor observar o desempenho
dos alunos durante o desenvolvimento e assumir responsabilidade em decidir
alguns critérios no processo avaliativo em conjunto com o aluno.

196/245
Referências

ALMEIDA, Paulo Nunes. Educação Lúdica: Técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo: Loyola,
1994.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação
Física. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRASIL. Secretaria de educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BROUGERE, Guilhermo. Jogo e educação. Porto Alegre: Artmed, 2004.
Dicionário etimológico on line. Disponível em: <https://www.dicionarioetimologico.com.br/es-
cola-liceu/>, Acesso em: 4 jun. 2017.

LEAO, Denise Maria Maciel. Paradigmas contemporâneos de educação: escola tradicional e


escola construtivista. São Paulo: Cadernos de Pesquisa, nº 107, p 187-206, julho de 1999.
MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.
PILETTI, Claudino. Didática geral. São Paulo: Ática, 2000.

197/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos


PINTO, et al. Jogos educativos como ferramenta didática e facilitadora na aprendizagem do
aluno em sala de aula. VII – Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação – CONNEPI. Pal-
mas, Tocantins, Out. 2012. Disponível em: <http://propi.ifto.edu.br/ocs/index.php/connepi/vii/>.
Acesso em: 1 jun. 2017.
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. Campinas, SP: Autores associados, 1988.

198/245 Unidade 7 • Técnicas para aplicação de jogos


Questão 1
1. “Toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções e
das ideias, de uma realidade anteriormente vivenciada” (RCNEI, p. 27).

Podemos afirmar que:


a) Quando a criança brinca, ela se transforma fisicamente no objeto do seu desejo.
b) O brinquedo é transformado na imaginação do adulto a partir do desejo da criança.
c) Quando a criança bate o pé no chão de forma rítmica imitando um animal cavalgando signi-
fica uma atitude mental e não uma percepção real do objeto.
d) A criança quando imita mentalmente enquanto brinca reproduz o significado real dos obje-
tos.
e) Ao brincar as crianças recriam e repensam os acontecimentos sem perceber que estão brin-
cando.

199/245
Questão 2
2. “Para desenvolver uma metodologia pedagógica democrática o profes-
sor de educação física escolar deve dar oportunidades a todos os alunos
para desenvolverem suas potencialidades de forma democrática e não se-
letiva”. Essa afirmativa esclarece que:

a) O professor não pode avaliar seus alunos porque fará uma seleção de suas aptidões.
b) A aptidão é um conjunto de capacidades como força, resistência e velocidade, portanto, o
professor não pode trabalhar essa prática em sua metodologia democrática.
c) Existe uma diferença entre os objetivos específicos do esporte e os objetivos da educação
física escolar.
d) O professor deverá observar as aptidões dos seus alunos e democraticamente selecionar os
melhores.
e) Na realidade, existe um padrão para determinados esportes e o professor precisa seguir o
manual.

200/245
Questão 3
3. “O grande desafio do professor é oferecer uma educação crítica aos alu-
nos capaz de construir e inovar o ambiente em que vivem” Pode se afir-
mar que:

a) A educação lúdica por ser prazerosa impede o aluno ser crítico.


b) Na educação tradicional o aluno recebia todo o conhecimento para uma visão crítica.
c) Na educação nova o professor depositava o conhecimento e o aluno recebia de forma passi-
va. Segundo Paulo Freire, uma “educação bancária”.
d) O jogo enquanto ferramenta pedagógica proporciona interesse, participação, curiosidade
que facilita a relação ensino aprendizagem.
e) A função principal da escola é a socialização do conhecimento socialmente produzido, pos-
sibilitando ao educando o acesso e a reconstrução do saber.

201/245
Questão 4
4. “O método dos Centros de Interesse procura ser uma solução para o
problema crucial de toda educação: como fazer para que a criança se in-
teresse agora por aquilo que ela poderá necessitar mais tarde?” (Piletti,
2000, p. 111). Com essa pergunta posso considerar o método dos Centros
de Interesse:

a) Froebel foi o criador desse método porque considerava as seguintes etapas: meninice, pu-
berdade e maturidade.
b) Decroly foi o criador desse método. Ele atribuía às necessidades básicas como comer, abri-
gar-se e defender-se e produzir como fatores determinantes a vida intelectual.
c) A vantagem desse método está em estabelecer associações das características individuais
da criança.
d) Necessita de um professor qualificado e com bastante criatividade.
e) Favorece a participação das crianças nos museus e laboratórios que as escolas estaduais
oferecem.

202/245
Questão 5
5. Para o professor desenvolver atividades lúdicas com seus alunos, pre-
cisa considerar alguns cuidados na execução. Almeida (1994) faz algumas
sugestões quanto à aplicação dos jogos:

a) O professor não precisa de fichas porque a atividade deve ser espontânea.


b) A avaliação é importante para a classificação e a hierarquização dos resultados.
c) O resultado pode ser analisado como a vivência de atitudes e a metodologia do professor.
d) A construção de regras é muito importante. Compete o professor no início do trabalho lúdi-
co apresentar aos alunos suas regras para as atividades.
e) É importante que o aluno mais popular da sala seja escolhido como o técnico e juiz durante
as competições.

203/245
Gabarito
1. Resposta: C. 3. Resposta: E.
A criança quando brinca está orientando A educação crítica proporciona ao alu-
sua ação pelo significado da situação e por no fazer uma reflexão, uma tomada de
uma atitude mental e não somente pela consciência, examinar de maneira mais
percepção imediata dos objetos. abrangente, questionadora e autônoma,
portanto a função principal da escola é a
2. Resposta: C. socialização do conhecimento socialmente
produzido, possibilitando ao educando o
“É necessário que se faça uma clara distin- acesso e a reconstrução do saber. A edu-
ção entre os objetivos da educação física cação lúdica o professor pode reforçar os
escolar e os objetivos do esporte, da dança, conteúdos, promover a sociabilidade entre
da ginástica e da luta profissional, pois em- os alunos, trabalhar a criatividade e a co-
bora seja uma referência, o profissionalismo operação.
não pode ser a meta almejada pela escola”
(PCN, p.27). 4. Resposta: B.

Como pressuposto básico de sua teoria, De-


croly postulava que a necessidade gera in-
204/245
Gabarito
teresse verdadeiro e movimenta em direção
ao conhecimento. Essas necessidades bási-
cas do homem seriam: a alimentação, a de-
fesa contra as dificuldades, a luta contra os
perigos e inimigos e o trabalho em socieda-
de, descanso e diversão.

5. Resposta: C.
Durante a execução dos jogos o professor
procurará observar o desenvolvimento e o
desempenho de cada aluno e o seu proce-
dimento didático no desenvolvimento da
atividade.

205/245
Unidade 8
Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental

Objetivos

1. Reconhecer a importância do lúdico


no desenvolvimento físico, cognitivo
e social.
2. Oferecer subsídios teóricos para a
construção de atividades lúdicas
como estratégia pedagógica no ensi-
no dos conteúdos.
3. Entender o papel do professor como
mediador das atividades lúdicas.

206/245
Introdução

O Ensino Fundamental compreende o pe- criança, considerando os aspectos: físico,


ríodo que vai dos seis até os quatorze anos psicológico, intelectual e social.
de idade, de acordo com as normas insti- A LDB em seu artigo 32 define os objetivos
tucionais dos municípios compreende no do Ensino Fundamental que compreende:
período de nove anos. A escolha da faixa
etária para o primeiro ano do fundamental I. o desenvolvimento da capacidade de
com seis anos de idade está ratificada no - aprender, tendo como meios básicos o
Plano Nacional de Educação (PNE) pela Lei pleno domínio da leitura, da escrita e
10.172/2001 conforme a Meta 2 “ Univer- do cálculo.
salizar o Ensino Fundamental de 9 anos para II. a compreensão do ambiente natural e
toda a população de seis a quatorze anos e social, do sistema político, da tecno-
garantir que pelo menos 95% dos alunos logia, das artes e dos valores em que
concluam essa etapa na idade recomenda- se fundamenta a sociedade.
da, até o ano de vigência deste PNE”. O PNE III. o desenvolvimento da capacidade de
ressalta que esse processo de mudança de aprendizagem, tendo em vista a aqui-
faixa-etária de sete anos de idade para seis sição de conhecimentos e habilidades
anos no início do fundamental exige plane- e a formação de atitudes e valores.
jamento e diretrizes para o atendimento à

207/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


IV. o fortalecimento dos vínculos de fa- uma interação e construção de conhecimen-
mília, dos laços de solidariedade hu- tos sobre o corpo, proporcionando a possibi-
mana e de tolerância recíproca em lidade de convivência sadia e bem-estar da
que se assenta a vida social. comunidade escolar.
O ensino fundamental tem como objetivos
propor o domínio dos conhecimentos, for- 1. A importância do Lúdico no
mar atitudes e valores e incentivar a intera- Ensino fundamental
ção com a família nesse processo. A parti-
cipação da família no ensino fundamental O ensino fundamental é dividido em duas
ajudará na construção de ações que con- etapas, anos iniciais e finas. Desde o ano
tribuirá para uma relação de parceria com de 2006, a duração do Ensino Fundamen-
a escola. tal, que até então era de oito anos, pas-
sou para nove anos. A Lei de Diretrizes e
A escola enquanto instituição pode promo- Bases da Educação 9394/1996 foi altera-
ver a parceria como um elo que integra di- da nos artigos 29, 30, 32 e 87, através da
ferentes ações ligadas a atividades lúdicas. Lei Ordinária 11.274/2006, e ampliou a
Porque através das atividades pedagógicas duração do Ensino. O Ensino Fundamen-
envolvendo o jogo e a brincadeira a parti- tal passou então ser dividido da seguin-
cipação do adulto constitui condições para te forma: os anos iniciais – compreen-
208/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental
dem do 1º ao 5º ano, sendo que a criança ingressa no 1º ano aos seis anos de idade e
os anos finais – compreende do 6º ao 9º ano. Os sistemas de ensino têm autonomia para desdo-
brar o Ensino Fundamental em ciclos, desde que respeitem a carga horária mínima anual de 800
horas, distribuídos em, no mínimo, 200 dias letivos efetivos.
Com objetivo de auxiliar o professor na tarefa de reflexão e prática pedagógica, o Ministério da
Educação implantou os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (PCNs) em
1997. Os Parâmetros têm como finalidade “apontar metas de qualidade que ajudem o aluno a
enfrentar o mundo atual como cidadão participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de seus
direitos e deveres” (Brasil, 1997, p.5).
Os anos iniciais do Ensino Fundamental apresenta uma proposta de educação lúdica nos conte-
údos de Educação Física enfatizando o lazer e as atividades lúdicas:

O lazer e a disponibilidade de espaços para atividades lúdicas e esportivas são as


necessidades básicas e, por isso, direitos do cidadão. Os alunos podem compre-
ender que os esportes e as demais atividades corporais não devem ser privilégio
apenas dos esportistas ou das pessoas em condições de pagar por academias e
clubes. Dar valor a essas atividades e reivindicar o acesso a elas para todos é um
posicionamento que pode ser adotado a partir dos conhecimentos adquiridos
nas aulas de educação física (Brasil, 1997, p. 29).
209/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental
Link
Jogos pedagógicos. Disponível em: <http://www.educacaofisica.seed.pr.gov.br/modules/conteu-
do/conteudo.php?conteudo=173>. Acesso: 2 jun. 2017.

As aulas de educação física ao trabalhar o lúdico e a brincadeira envolvem o conhecimento do


corpo, o seu desenvolvimento e as práticas para o cultivo de hábitos que favoreçam o cresci-
mento sadio. O corpo não está isolado ou fragmentado da relação de seu contexto humano e a
relação ensino aprendizagem precisa direcionar nesta perspectiva:

A complexidade nos remete a priorizar as relações dinâmicas do processo


de ensino e aprendizagem do indivíduo. Nos leva a aceitar e entender que o
ser humano não é um “corpo” fragmentado, mas sim está relacionado a uma
totalidade, ao mesmo tempo um ser único e pertencente à condição huma-
na que é universal. Nesta perspectiva, vemos o ser humano nas inter-rela-
ções com o meio, com os outros e consigo próprio (SANTOS, 2015, p. 9).

210/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


Para saber mais
A educação física no Brasil surge ligada intimamente à formação e educação corporal disciplinadora,
com objetivos dos mais variados: militares, de saúde, estéticos, esportivos de alto rendimento ou não,
recreativos, servindo, muitas vezes, a mecanismos de alienação ou propósitos políticos, valendo-se da
prática ou de eventos esportivos para desviar a atenção das tensões políticas e das lutas ideológicas..
Exemplos desses mecanismos encontram-se no jovem do final da década de 60, que o governo militar
buscava para formação de um exército forte para desmobilizar correntes opositoras ao regime que vi-
gorava, como também no futebol, personificado na seleção brasileira, marcava o tom vitorioso de um
governo autoritário e ditatorial. (BERTINI JUNIOR E TASSONI, 2013, p. 467).

A autora enfatiza que a relação corpo e totalidade implicam na condição humana de viver em
uma relação com o meio e também consigo mesmo. O movimento do corpo ao ser objeto de
trabalho pedagógico precisa ser contextualizado numa esfera de intencionalidade pedagógica
por parte do professor que vai muito além de apenas práticas culturais como esporte, ginástica,
lutas e danças.
Durante as aulas em que envolvem atividades lúdicas, a intencionalidade do professor a partir
do lazer e a descontração caminham juntas. A formação de hábito de autocuidado e de constru-
211/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental
ção de relações interpessoais pode conduzir A proposta de trabalho não deve ser apenas
a diferentes modalidades de conhecimento um papel escrito que fica na gaveta e sim
(Brasil, 1997, p.30). uma ação viva no cotidiano pedagógico.
Portanto o professor precisa ter clareza dos
seus objetivos e a atividade lúdica pode ser
Link uma ferramenta, um meio para se chegar
O papel da Educação Física enquanto disciplina. aos objetivos planejados.
Disponível em: <http://www.uel.br/eventos/ O planejamento deve caminhar numa pers-
conpef/conpef4/trabalhos/comunicacaoo- pectiva em que os conhecimentos constru-
ralartigo/artigocomoral12.pdf>. Acesso em: 5 ídos devem possibilitar uma vivência crítica
jun. 2017. dos valores que a sociedade define como
padrões de beleza e saúde e que influencia
2. Subsídios pedagógicos para o na exclusão e discriminação social. Compe-
ensino lúdico te ao professor desenvolver ações com os
alunos que favoreça uma discussão ética do
Quando se tem uma proposta de trabalho esporte com objetivo de considerar a esté-
ou projeto pedagógico a ser seguido, o co- tica do ponto de vista do bem-estar e não
nhecimento ganha uma proporção prática. posturas consumistas e preconceituosas.
212/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental
Os jogos e as brincadeiras dentro de um contexto pedagógico podem ajudar na interação com
os adversários no desenvolvimento do respeito mútuo, na buscar de uma participação de ma-
neira justa e sem violência. Nos jogos é imprescindível que se trabalhe em equipe, estimulando
a solidariedade, principalmente diante do adversário. Outro aspecto importante sobre os jogos
refere-se às atividades de ocupação de espaços que devem ter prioridade nos conteúdos para o
Ensino Fundamental, possibilita o posicionamento e compreende os deslocamentos do espaço.
Nessas atividades é o próprio corpo da criança que contribui para as situações pedagógicas in-
dividuais e coletivas.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (Educação Física) sugerem alguns conteúdos que podem
ser trabalhados no Ensino Fundamental (anos iniciais):

Participação em diversos jogos e lutas, respeitando as regras e não discriminan-


do os colegas;

Explicação e demonstração de brincadeiras aprendidas em contextos extracur-


riculares;

Participação e apreciação de brincadeiras ensinadas pelos colegas;

213/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


Resolução de situações de conflito por meio do diálogo, com ajuda do professor;

Discussão das regras dos jogos;

Utilização de habilidades em situações de jogo e luta, tendo como referência de


avaliação o esforço pessoal;

Resolução de problemas corporais individualmente;

Avaliação do próprio desempenho e estabelecimento de metas com o auxilio do


professor;

Participação em brincadeiras cantadas;

Criação de brincadeiras cantadas;

Acompanhamento de uma dada estrutura rítmica com diferentes partes do corpo;

Apreciação e valorização de danças pertencentes à localidade;

Participação em danças simples ou adaptadas pertencentes a manifestações po-


pulares, folclóricas ou de outro tipo que estejam presentes no cotidiano [...] (BRA-
SIL, 1997, 65).

214/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


Os jogos, esportes, lutas e ginásticas po- de cabo de guerra, braço de ferro, capoeira,
derão fazer parte do projeto do professor, judô e caratê.
compete considerar o contexto de cada ati- As ginásticas são técnicas de trabalho cor-
vidade e o objetivo a ser atingido. Os jogos poral que assumem um caráter individual
podem ter uma maior flexibilidade em fun- com diferentes finalidades. Exemplos: rela-
ção das condições de espaço e material dis- xamento, recreação, competição e convívio
ponível nas instituições de ensino. social.
Os esportes são atividades que adotam
práticas oficiais e competitivos. Envolvem
equipamentos e condições de espaço, como Link
exemplos, podemos citar piscina, bicicletas, Sugestões de atividades lúdicas. Disponível em:
pistas, ginásios, etc. <http://www.efdeportes.com/efd173/edu-
cacao-fisica-escolar-sugestoes.htm>. Aces-
As lutas são disputas mediantes a técnica e
so: 5 jun. 2017.
estratégias de desiquilíbrio, contusão, imo-
bilidade ou exclusão. Caracterizam-se por
uma regulamentação específica a fim de Os PCNs de Educação física sugerem alguns
punir atitudes de violência e deslealdade. jogos, lutas e ginásticas existentes no Brasil.
O PCN cita como exemplo as brincadeiras É importante entender que cada região tem
215/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental
sua cultura e especificidade as quais podem influenciar as possibilidades de atividades.

jogos pré-desportivos: queimada, pique-bandeira, guerra das bolas, jogos pré-


-desportivos do futebol (gol-a-gol, controle, chute-em-gol-rebatidadrible, bobi-
nho, dois toques).

jogos populares: bocha, malha, taco, boliche.

brincadeiras: amarelinha, pular corda, elástico, bambolê, bolinha de gude, pião, pi-
pas, lenço-atrás, corre-cutia, esconde-esconde, pega-pega, coelhosai-da-toca, du-
ro-ou-mole, agacha-agacha, mãe-da-rua, carrinhos de rolimã, cabo-de-guerra, etc.

atletismo: corridas de velocidade, de resistência, com obstáculos, de revezamen-


to; saltos em distância, em altura, triplo, com vara; arremessos de peso, de martelo,
de dardo e de disco.

esportes coletivos: futebol de campo, futsal, basquete, vôlei, vôlei de praia, hande-
bol, futvôlei, etc.; • esportes com bastões e raquetes: beisebol, tênis de mesa, tênis
de campo, pingue-pongue.

esportes sobre rodas: hóquei, hóquei in-line, ciclismo.

216/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


lutas: judô, capoeira, caratê.

ginásticas: de manutenção de saúde (aeróbica e musculação); de preparação e


aperfeiçoamento para a dança; de preparação e aperfeiçoamento para os esportes,
jogos e lutas; olímpica e rítmica desportiva (BRASIL, 1997, p.50).
As danças e brincadeiras podem ser atividades que poderão trabalhar diferentes movimentos
que ajudam a identificar a intensidade, duração, direção e outras ações (leve/pesado, forte/fra-
co, rápido/lento, fluido/interrompido) que poderão contribuir para o movimento como coreo-
grafias e até improvisos como sugestão do próprio grupo. Algumas sugestões que o PCN oferece:

danças brasileiras: samba, baião, quadrilha, afoxé, catira, bumba-meu-boi, mara-


catu, xaxado, etc.

danças urbanas: rap, funk, break, pagode, danças de salão.


danças eruditas: clássicas, modernas, contemporâneas, jazz.

danças e coreografias associadas e manifestações musicais: blocos de afoxé,


olundum, timbalada, trios elétricos, escolas de samba.

217/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


lengalengas.

brincadeiras de roda e cirandas.

Escravos- de- Jó (BRASIL, 1997, p.53).

3. O papel do professor como mediador das ações pedagógicas

A escola precisa trabalhar as diferentes competências das crianças que são determinadas pelas
experiências corporais trazidas com o repertório cultural do seu cotidiano. O professor ao plane-
jar suas atividades lúdicas precisa considerar a diversidade de experiências trazidas de diferen-
tes culturas:

considerar a cultura nas aulas de Educação Física Escolarizada, a partir dos objeti-
vos educacionais presentes na legislação, de formação para uma cidadania refle-
xiva e inclusiva deveria ser pensar em uma unidade entre o pensar e o agir; con-
siderar o pensamento em ato; estabelecer as relações entre o corpo real, o corpo
imaginário e o corpo idealizado.

218/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


Assim, a coerência entre um discurso sobre uma Educação Física formadora e re-
flexiva e sua relação com a esfera cultural, não pode ficar restrita a variações de
ações motoras, independente dos grandes blocos de conhecimento da área, mas
é preciso considerar uma participação mais ativa do sujeito na construção do co-
nhecimento que está sendo ensinado (SANTOS, 2015, p.10).

O professor ao refletir criticamente o seu papel como mediador na relação ensino aprendizagem
precisa considerar o desenvolvimento da criança como um todo, principalmente no exercício da
cidadania. Atuando com o objetivo de contribuir para o acesso à cultura social numa perspectiva
metodológica que favoreça a construção de “autonomia, participação social, afirmação de valo-
res e princípios democráticos” entre os alunos (BRASIL,1997, p28).
O professor pode planejar também ações que contribuam para o conhecimento do corpo, o seu
processo de crescimento, desenvolvimento cultivo de práticas para a formação de hábitos ali-
mentares, de higiene e equilíbrio do corpo. Algumas atividades poderão ser desenvolvidas, tais
como o movimento dos alunos para se organizarem no espaço, formação de grupos, organiza-
ção dos materiais na sala, cuidado com o corpo para condições corretas, postura física, altura de
voz, maneira de sentar e levantar.

219/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


Se o professor for polivalente pode planejar atividades alternando ações de concentração e mo-
vimento para facilitar o envolvimento de todos no processo ensino aprendizagem.

Para saber mais


A resolução publicada no Diário Oficial da União no dia 9 de dezembro de 2010 aprovou as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, de nove anos. “Art. 31 Do 1º ao 5º ano do Ensino
Fundamental, os componentes curriculares de Educação Física e Artes poderão está a cargo do professor
de referência da turma, aquele com o qual os alunos permanecem a maior parte do período escolar, ou
de professores licenciados nos respectivos componentes”. Essa resolução tem causado muito polêmica
em meio aos docentes porque propõe a dispensa do professor de Educação física das escolas nos anos
iniciais do Ensino Fundamental.

Os objetivos a serem atingidos no planejamento do professor devem levar em consideração que


o aluno precisa participar de diferentes atividades corporais procurando adotar uma atitude co-
operativa e solidária sem discriminar os colegas pelo desempenho ou por razões sociais, físicas,
sexuais e culturais.

220/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


Quanto à avaliação da produção da criança, o professor poderá estabelecer alguns critérios. Os
PCNs consideram importante observar se durante o processo das atividades propostas, a criança
consegue:
• enfrentar desafios colocados em situações de jogos e competições, respeitando as regras
e adotando uma postura cooperativa.
• perceber se relacionou a prática de atividades corporais com a melhora da saúde.
• valorizar a cultura corporal, identificando possibilidade de lazer e aprendizagem (PCN,
1997, p76-77).

Para saber mais


É necessário que o professor domine o conteúdo de ensino, reconhecendo os conceitos básicos do assun-
to em pauta e das relações que se estabelecem entre elas, para desta forma ter tranquilidade para passar
o conhecimento necessário ao seu aluno. Cabe ao professor, relacionar os conteúdos e trabalhá-los de
forma articulada, coerente com objetivos propostos e com as necessidades dos alunos. O professor de-
sempenha um papel fundamental na aquisição da reflexão filosófica por parte dos alunos, isto é, da cons-
ciência crítica que supera o senso comum, e torna-os assim homens e mulheres pensantes, necessários
à intervenção e transformação da sociedade (KUZMINSKI 2005, p. 663).

221/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


Assim, o papel do professor como mediador
além da interação, visa criar situações que
ajude a criança na solução de problemas, no
plano da motricidade, na organização dos
espaços e do tempo e na construção de re-
gras para um convívio social saudável.

222/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


Glossário
Cultura do corpo: é a busca de um corpo idealizado. A lógica do corpo perfeito é o resultado das
marcas da cultura pós-moderna, que potencializam o olhar sobre o corpo e a ditadura da boa
forma. O corpo parece ser o foco determinante que instaura a identidade cultural pós-moderna,
tanto a partir de classificações de gênero ou faixa etária, quanto a partir de condições interme-
diadas pela mídia (GARCIA, 2005).
Lengalenga: é um texto com frases curtas, construído por palavras que geralmente rimam e com
muitas repetições, conferindo-lhe um caráter musical que facilita a memorização. Geralmente
estão associadas a brincadeiras e jogos infantis e são transmitidas de geração em geração, ha-
vendo algumas que são ditas cantadas à centenas de anos. Tal como os provérbios, os adágios e
as cantigas populares, as lengalengas fazem parte da cultura de um povo, embora não lhes seja
dada tanta importância pelos académicos como as demais expressões folclóricas, possivelmen-
te por fazerem parte do universo infantil.

223/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


Glossário
Plano Nacional de Educação (PNE): determina as diretrizes, metas e estratégias para a política
educacional dos próximos dez anos. A Emenda Constitucional nº 59/2009 mudou a condição do
Plano Nacional de educação (PNE) que passou de uma disposição transitória da Lei de diretrizes
e bases da educação Nacional (Lei nº 9394/1996) para uma exigência constitucional com pe-
riodicidade decenal, o que significa que planos plurianuais devem tomá-la como referencia. O
plano passou a ser considerado o articulador do Sistema nacional de educação com previsão do
percentual do Produto Interno Bruto (PIB) para o seu financiamento. Os planos estaduais, distri-
tal e municipais devem ser construídos e aprovados em consonância com o PNE (Brasil, 2014).
Disponível em: <http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao>. Acesso em: 5 jun. 2017.

224/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


?
Questão
para
reflexão

Diante da importância dos jogos e brincadeiras no Ensi-


no Fundamental, de que maneira o professor pode de-
senvolver uma visão crítica sobre a cultura do corpo?

225/245
Considerações Finais
• Os objetivos do ensino fundamental devem ressaltar a importância da for-
mação de atitudes e valores e a participação da família nesse processo.
• Os jogos e as brincadeiras dentro de um contexto pedagógico podem ajudar
na interação com os adversários no desenvolvimento do respeito mútuo.
• O planejamento deve caminhar numa perspectiva em que os conhecimen-
tos construídos devem possibilitar uma vivência crítica contrária a discrimi-
nação e preconceitos.
• O papel do professor é criar situações de aprendizagens que ajude a criança
solucionar problemas seja no plano motor, na organização dos espaços e do
tempo como na construção de regras para um convívio saudável.

226/245
Referências

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação


Física. Brasília: MEC/SEF, 1997.
BRASIL. Lei Ordinária 11.274/2006, Brasília: Diário Oficial da União, Seção 1, p.1, 2006. Dis-
ponível: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2006/lei-11274-6-fevereiro-2006>. Acesso
em: 4 jun. 2017.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental
de 9 (nove) anos. Resolução nº 7 de 14 de dezembro de 2010. Brasília: MEC/CEB, 2010.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394/96 de 20 de dezembro
de 1996. Brasília: Senado Federal/SEEP, 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cciv-
il_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 5 jun. 2017.

GARCIA, Wilton. Corpo, mídia e representação: estudos contemporâneos. São Paulo: Pioneira


Thomson Learning, 2005.
KUZMINSKI, Daniele Maria. O papel do professor de educação física no ensino fundamental
– séries iniciais no município de São José dos Pinhais. Comunicação Oral no Evento da Pontifí-
cia Universidade Católica, 2005. Disponível em: <http://www.pucpr.br/eventos/educere/educ-
ere2005/anaisEvento/documentos/com/TCCI109.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2017.

227/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


SANTOS, Gisele Franco Lima. Cultura e a Educação Física Escolarizada. In: Congresso Norte
Paranaense de Educação Física Escolar, 2015. Londrina. 2º Congresso Nacional de Formação de
Professores de Educação Física. Londrina: UEL, 2015.
TASSONI, Elvira Cristina Martins; BERTINI, Junior. A educação física, o docente e a escola: con-
cepções práticas pedagógicas. Campinas, SP: Revista Brasileira de Educação Física- Esporte. Jul-
Set; nº 27 p. 467-483, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbefe/v27n3/v27n3a13.
pdf>, Acesso em: 5 jun. 2017.

228/245 Unidade 8 • Jogos e brincadeiras no Ensino Fundamental


Questão 1
1. Durante o processo das atividades de jogos e brincadeiras o professor ne-
cessita observar na avaliação final, se a criança:

a) Conseguiu dançar o samba, baião e as lengalengas dentro do ritmo.


b) Diante dos desafios propostos conseguiu atender as expectativas das competições quanto
ao respeito às regras.
c) Conseguiu com boa destreza física a corrida do saco.
d) Cumpriu a meta de postura frente ao desafio de sentar sem empurrar os colegas.
e) Durante a atividade de futebol foi o melhor em velocidade, resistência física, contudo não foi
bem avaliado porque não fez gol.

229/245
Questão 2
2. “Nas atividades competitivas individuais compete o professor organizar
de modo democrático as oportunidades de aprendizagem”. Isso só é possí-
vel:

a) Selecionando os melhores em futebol para o time da escola e os piores para outra modalida-
de, como por exemplo, brincar de bola de gude.
b) Se o professor organizar situações de aprendizagem promovendo rodízio de diferentes mo-
dalidades evitando a monopolização dos melhores jogadores.
c) Organizar os times de maneira que o grupo vencedor seja reconhecido pela maioria e, por-
tanto deverá ser selecionado em todas as modalidades.
d) Se o professor organizar um campeonato convidando outras escolas de maneira que serão
selecionados democraticamente pelos colegas.
e) Convidar o diretor e os professores de outras salas para escolher democraticamente os me-
lhores para o campeonato interno da escola.

230/245
Questão 3
3. “O planejamento deve caminhar numa perspectiva em que os conhe-
cimentos construídos devem possibilitar uma vivência crítica dos valores
que a sociedade define como padrões de beleza e saúde e que influencia
na exclusão e discriminação social”. Pode-se concluir que:

a) Para evitar a discriminação e o preconceito o professor deverá trabalhar a ginástica.


b) A cultura do corpo já é uma realidade social, portanto a escola deverá contribuir ajudando as
crianças a manterem seus corpos através de lutas, como por exemplo, o caratê.
c) O padrão de beleza poderá fazer parte do planejamento do professor e como atividade mo-
tivadora, organizar um desfile de moda.
d) Para atender a demanda do mercado cultural do corpo, o professor poderá trabalhar com a
mídia para melhor estimular a ginástica aeróbica.
e) A escola poderá atender a cultura corporal propondo o acesso de produtos socioculturais
que contribua para o bem- estar do grupo.

231/245
Questão 4
4. A LDB 9394 em seu artigo 32 descreve os objetivos do ensino funda-
mental enfatizando, o domínio dos conhecimentos, ressalta a importância
na formação de atitudes e valores e incentiva a interação com a família.
Podemos então afirmar que:

a) O Ensino Fundamental inicia aos sete anos após o a Lei 11.274 de 2006.
b) O PNE define em sua “meta: 2” que o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos para toda criança
de 7 a 14 anos a garantia de que pelo menos 95% concluam essa etapa na idade recomen-
dada.
c) O Ensino Fundamental de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos conforme ratificado na Lei 11.274 de
2006. A LDB preconiza um de seus objetivos a criação de vínculos de solidariedade com a
família.
d) O professor ao planejar os jogos e as brincadeiras no Ensino Fundamental deve evitar convi-
dar os pais para evitar briga entre eles.
e) O Ensino Fundamental não exige obrigatoriedade de 9 (nove) anos.

232/245
Questão 5
5. Santos (2015) quando afirma “que o ser humano não é um “corpo” frag-
mentado, mas sim está relacionado a uma totalidade, ao mesmo tempo um
ser único e pertencente à condição humana que é universal”. Considera
importante:

a) O professor reflexivo deve trabalhar o corpo enfatizando a motricidade.


b) O objetivo do trabalho do professor reflexivo é unir o pensar e agir na relação que se estabe-
lece envolvendo uma participação ativa do aluno na construção do conhecimento.
c) O professor reflexivo deve partir do corpo idealizado e trabalhar as ações voltadas à motri-
cidade.
d) O trabalho do professor reflexivo deve restringir-se a relação entre o corpo real, o corpo ima-
ginário e o idealizado.

233/245
Gabarito
1. Resposta: B. 3. Resposta: E.

As atividades de jogos e brincadeiras obser- O professor poderá abordar numa visão crí-
var-se todo o processo, contudo a partir dos tica sobre a cultura corporal a partir do co-
objetivos elencados, o professor deve con- nhecimento sobre o corpo o seu processo
siderar importante o movimento e os limites de desenvolvimento e o cultivo de bons há-
espaciais, gestuais de relação com os obje- bitos de alimentação, higiene e atividades
tos e as delimitações que as regras impõem. corporais.

2. Resposta: B. 4. Resposta: C.

O professor deverá tomar cuidado porque A mudança do Ensino Fundamental para


em uma competição existe uma tendência nove anos foi ratificada na Lei 11.274 em
natural de selecionar os melhores, impos- 2006. A LDB ao preconiza em um de seus
sibilitando a participação democrática dos objetivos da formação básica do cidadão,
demais alunos em todas as modalidades no inciso IV, o fortalecimento dos vínculos
oferecidas na escola. de família, dos laços de solidariedade hu-
mana e de tolerância recíproca em que se
assenta a vida social.
234/245
Gabarito
5. Resposta: C.

O professor reflexivo procura unir a teo-


ria e a prática do seu trabalho pedagógico
envolvendo um pensar e agir coerente com
o discurso de uma educação que estimula
uma participação mais ativa de seus alunos
na construção do conhecimento.

235/245

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