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Filosofia do Direito - 2020

1ºANO-2ºSEMESTRE

1. Conceito de "Positivismo" e sua "crise no pós-guerra" (cf. Kelsen e Alexy)

O positivismo é, portanto, uma filosofia determinista que professa o experimentalismo


sistemático de um lado e, de outro, considera anticientífico todo o estudo das causas
finais. Duas posições fundamentais continuam se contrapondo: a positivista e a no
positivistas, todas as teorias positivistas defendem a tese da separação e todas as teorias
não positivistas defendem a tese da vinculação. O grande positivista jurídico Hans Kelsen
resumiu essa ideia na seguinte fórmula: "Por isso, todo e qualquer conteúdo pode ser
direito."

Robert Alexy
• Polêmico autor alemão entende que o conceito do Direito é composto de três
elementos: a decretação de acordo com a ordem jurídica vigente; a eficácia
social do Direito; e a correção quanto ao conteúdo.
• Para Alexy, a despeito das teorias positivistas separarem o direito e a moral, por
meio de um conceito de direito com validade puramente formal, corroborada
pela legalidade em conformidade com o ordenamento e a eficácia social, teorias
não-positivistas tendem a vinculá-los (direito e moral)
• Os elementos positivistas do Direito, para Alexy, originarão um conceito
interessantíssimo e objeto de diversos debates relacionados à Teoria dos
Princípios. Esse conceito é o dos princípios formais.
Hans Kelsen
• Famoso autor austríaco é um dos principais expoentes do positivismo jurídico.
Antes de iniciarmos na visão do autor sobre a autoridade do Direito, devemos
lembrar que Kelsen desenvolve a sua teoria a partir da compreensão de que há
um vínculo inerente entre a democracia e o Direito de um lado, e o relativismo
moral de outro.
• Segundo o autor, aceitar a existência de valores morais absolutos possibilitaria
que detentores de poder reivindicassem a capacidade de assinalar quais eram os
valores certos e quais não eram, o que desembocaria em regimes autoritários.
• Trata-se de uma compreensão completamente diversa do papel da moral na
experiência jurídica na comparação com Alexy.Enquanto este defende um
cognitivismo moral, aquele defende um emotivismo moral. Contudo, ambos os
autores defendem e estabelecem instrumentos teóricos para fundamentar e
proteger a autoridade do Direito.
• Kelsen entende que o Direito é uma ordem de conduta humana composta de um
sistema de normas cuja unidade é constituída pela pressuposição de todas elas
terem o mesmo fundamento de validade, tendo tais normas, como conteúdo
necessário, sanções socialmente imanentes e organizadas e, principalmente,
globalmente eficazes. Reflexos da conceituação de Kelsen podem ser percebidos
na sistematização alexyana.
• A dogmática jurídica não é a ciência mas pertence á politica
• A teoria pura do direito é a mais importante expressão do positivismo
normativista, para Kelsen era a teoria do positivismo jurídico

Ocupa-se apenas de factos;


Tem por objeto estruturas formais das normas jurídicas

• Para Kelsen, a justiça é um belo sonho da humanidade pois não sabemos nem
nunca saberemos o que ela é
• Tem a ver com o Dever
• Tem a ver com o puro dever jurídico
• Tem a ver com a pureza do método
• Estabelece que deve ocorrer o ato de coerção nesta ordem jurídica positiva
• Trata-se do “mínimo de metafisica”, ou seja, de direito natural

A Teoria Pura do Direito (Teoria de KELSEN)

• Positivismo Jurídico Empírico


• Limita-se ao positivamente dado, e sobretudo banir a metafísica, concebe o
Direito como um facto da realidade sensível
• Considera-se como a verdadeira ciência do direito e pelo facto de proceder
empiricamente, ou seja, do mesmo modo que as ciências da natureza (ao
contrário da jurisprudência dogmática que procede de modo normativo)
2. Naturalismo clássico (justiça e direito em Platão e Aristóteles e seu impacto no
pensamento jusfilosófico medieval)

Relativamente á filosofia do Direito Grego, Mascaro destaca Platão como sendo a


primeira grande expressão genial da história da filosofia e Aristóteles considerando que
este representa o apogeu do pensamento filosófico grego, e o mesmo se pode dizer
para a filosofia do direito. Desta forma é de salientar que Platão escreveu inúmeros
textos tais como Eutífron, Apologia, Críton, Fédon, Sofista, Alegoria da Caverna e A
República, esta última destaca-se por ser a sua obra mais emblemática.

Platão
• Platão foi o filósofo político do mundo ideal, aquele que concebeu nos filósofos
a sapiência do conhecimento da justiça para fins de promoção do bem-estar da
pólis.
• Nele, a justiça, tema central do diálogo da República, viria do plano ideal, e como
seria privilégio dos sábios conhecê-la, estes seriam aqueles que deveriam
assumir o poder da cidade e distribuir as funções sociais conforme um padrão de
justiça voltado para o que entendem como “bem comum”.
• Seriam estes os responsáveis por elaborar as leis, promovendo uma espécie de
direito estranho ao olhar contemporâneo, principalmente porque o direito
platônico se assemelhava e se confundia com a moral.
• Considera que o homem justo é igual à pólis justa, desta forma não se mede
justiça pelo indivíduo, mas apenas socialmente
• Assim sendo “Não há homem justo numa pólis injusta”, se considerarmos que o
mundo é de todos.
• Contudo a propriedade privada e a família são as principais causas da injustiça,
pois Platão julga que o ideal de família seria a família universal, onde todos
somos irmãos, todos somos família e dessa forma a nossa riqueza será portanto
toda partilhada.
• Em Platão, vimos o direito – resultado da busca por um ideal de justiça – como
uma noção muito ampla; era um direito não diferenciado da moral, por exemplo.
• Platão defendia o inatismo, na crença de que nascemos com princípios racionais
e ideias que são inatas aos homens.
• A origem das ideias, segundo Platão, é dada por dois mundos, que são o mundo
inteligível – referente ao mundo em que nós, antes de nascer, passamos para ter
as ideias assimiladas em nossas mentes; e o mundo sensível – referindo-se a
realidade dos homens em suas experiências reais.

Aristóteles
• Autor da emblemática obra Ética a Nicômaco onde se reflete/distingue sobre o
direito e a justiça e da obra A política tal como o nome indica debatem-se
assuntos políticos. Já a obra A Retórica refere-se principalmente à argumentação
jurídica.
• De maneira diferente, Aristóteles percebia a justiça como algo presente na
ordem natural das coisas, visto que a natureza tem uma finalidade, que é a
justiça, mas que só se efetivaria na prática social.
• A realização da justiça seria confirmada ou não a partir de uma complexa
distribuição de cargos e bens sociais.
• Assim, é na Política que, pondo em prática sua filosofia da justiça, Aristóteles
procurou descobrir quais poderiam ser as melhores constituições, adaptadas à
essência do homem e às condições variáveis da vida social.
• E é na Retórica, um tratado de arte oratória, que Aristóteles dá um amplo espaço
para a eloquência judiciária, em que estuda os argumentos de que os advogados
podem fazer uso.
• Já na obra A Política está exposto o pensamento aristotélico sobre o a política,
onde Aristóteles continua a reflexão de Platão (para este a justiça é de interesse
para todos é a divisão de tudo para todos).
• Desta forma Aristóteles considera que o homem é um animal político – “zoon
politikon”. Assim sendo a vida social para ser considerada digna para todos
devera envolver um sentimento de união e de domínio comum a todos.
• Aristóteles percebe-se uma melhor separação dos conceitos de justiça, direito e
moral.
• Aristóteles era um filosofo que defendia o empirismo, concebendo que as ideias
são adquiridas através da experiência, embora admitisse que na ordem da
natureza houvesse a grande virtude do que chama de justiça geral.
• Mas é em Ética a Nicômaco que o autor procurou formular uma definição
universal de justiça. Essa justiça universal, por sua vez, pode ser separada duas
definições específicas: justiça geral e justiça particular.
• A primeira é a base para o seu pensamento a respeito dessa concepção, pois ali
se designa como justo toda a conduta que parece conforme a lei moral. Como
resultado específico dessa abrangente justiça geral, Aristóteles laça mão do
conceito de justiça particular, referindo-se não mais ao dikaios (o homem justo),
mas, agora, ao to dikaion (a coisa justa).
• A justiça particular consiste numa parte daquela justiça geral vinculadas às ações
individuais presentes nas relações sociais. Dessa maneira, pode-se dizer que a
justiça geral estaria presente no indivíduo caso ele tivesse a moral de justiça
dentro de si, enquanto algo subjetivo; ao contrário, a justiça particular se
manifestaria a partir das ações reais do indivíduo, ou seja, enquanto na aplicação
da justiça em casos objetivos.
• É nessa parte que aparece a construção do direito, haja vista a constatação de
que analisar a justiça particular, enquanto a aplicação objetiva do justo,
corresponderia a definir a arte do direito. Além disso, avança Aristóteles, a
virtude das ações particulares está no ato de não se ficar nem com mais nem
com menos do que lhe corresponde, de maneira que a sociedade assista a uma
bem realizada repartição dos bens e das cargas, conforme a lógica do meio-
termo.
• No funcionamento da distribuição dos elementos sociais, Aristóteles lança mão
de dois conceitos de aplicação prática da justiça particular: a justiça distributiva
e a justiça comutativa. A primeira delas, a justiça distributiva, está relacionada
ao ofício primeiro da promoção da justiça numa comunidade, que consiste na
procedência da distribuição dos bens, das honras e dos cargos públicos entre os
homens da pólis.
• A justiça na vida real, a tal justiça particular, é para Aristóteles, portanto, uma
das espécies do gênero proporcional; ao contrário, a injustiça é exatamente
aquilo que viola o princípio da proporcionalidade. No caso do pagamento de um
imposto, por exemplo, seria uma ação justa o pagamento exato da cota-parte do
indivíduo, nem mais, nem menos.
• Passando agora para a justiça comutativa, esta outra forma de justiça particular
refere-se ao zelo pela retidão das trocas, ou seja, pela igualdade aritmética em
matéria de intercâmbio de bens. Partindo do pressuposto de que os bens, as
honrarias e os cargos públicos foram previamente distribuídos de maneira
proporcional, a função do juiz, por exemplo, seria calcular uma restituição igual
ao dano que o indivíduo sofreu, de modo a readequar as posições dentro da
ordem redistributiva. Dificilmente se garantirá a estabilidade em qualquer
ordenamento social, reconhece Aristóteles, ou seja, os conflitos acabarão
existindo.
• A pólis é formada por homens livres, com interesses distintos surgidos nas
relações sociais, disputando entre si honrarias e bens, daí a necessidade de haver
uma instituição que resolva os impasses, tal como se apresenta o direito positivo,
com suas leis e agentes.

3. Naturalismo moderno ("Natureza humana" e "Ordem civil" em Hobbes, Locke e


Rousseau)

O pensamento jusfilosófico moderno, no movimento que se dá do Absolutismo ao


Iluminismo, foi produzido por uma serie de pensadores de grande vulto. O último e
marcante deles foi Kant. Mas Hobbes, Locke e Rousseau, que influenciaram
decisivamente os seus tempos no que tange à política e às lutas sociais, são também
três pensadores muito distintos no que diz respeito aos horizontes postulados, ainda
que sejam todos defensores da ideia de contrato social. Ocorre que cada um desses
filósofos desenha o contrato social de um modo específico, para proveitos políticos
também específicos.

Hobbes
• A liberdade em Hobbes implica o Direito Natural de “fazer tudo” para preservar
e expandir a existência individual, provocando hostilidade universal entre
indivíduos. Daí, a necessidade de abdicação do Direito Natural por parte de todo
os indivíduos, mediante Contrato/Pacto de “transferência total”
• A necessidade natural do Leviatã: “Direito Natural” é poder ilimitado de auto-
preservação e guerra universal . Contrato social: pacto de “união/ transferência
de poder e liberdade: criação do corpo político, passagem do estado de natureza
para a Ordem Civil
• Hobbes é o mais vigoroso defensor teórico do Absolutismo que seu tempo viu
produzir, justamente porque assim o faz já liberto da tradição teológica que
fundamentava o poder do soberano num direito divino. Hobbes é absolutista
mas já com uma visão filosófica moderna,racional
• Para Hobbes,os seres humanos possuem uma tendência natural à violência. Daí,
sua célebre frase:”O homem é o lobo do homem.”Por conta de seu intelecto, os
seres humanos dominam a natureza, mas encontram em outros seres humanos
os seus grandes rivais, seus verdadeiros predadores naturais.
• Os desejos dos indivíduos em estado de natureza gerariam disputas que
poderiam levar à morte de uma das partes do conflito.
• Pela necessidade de segurança e, principalmente, por receio de uma morte
violenta, os indivíduos preferem abrir mão de seu direito à liberdade e igualdade
dados pela natureza.
• Sendo assim, celebram um pacto ou contrato social no qual passam a estar
submetidos a um governo que possa, através das leis, garantir-lhes uma vida
segura.
• Os seres humanos abandonam o Estado de Natureza e dão origem ao Estado
Civil por meio do contrato social.

Locke
• Locke, por sua vez, é o mais destacado pensador dos interesses da burguesia
ascendente na Europa. Seu pensamento, que dá as bases ao liberalismo, é
totalmente aproveitado pela lógica burguesa.
• Locke foi um filósofo inglês, considerado o "pai do liberalismo". Isso se deve
fundamentalmente por sua conceção da propriedade como um direito natural
dos seres humanos.
• Diferente do pensamento hobbesiano, Locke afirma que os seres humanos em
estado de natureza não vivem em guerra, tendem a uma vida pacífica por sua
condição de liberdade e igualdade.
• Para ele, os indivíduos ao nascer receberiam da natureza, o direito à vida, à
liberdade e aos bens que tornam possíveis os dois primeiros. Isto é, o direito à
propriedade privada.
• Entretanto, o indivíduo em estado de natureza, por seus desejos e por sua
liberdade, acabaria entrando em litígio (disputa) com outros indivíduos. Como
cada uma das partes defenderia seu próprio interesse, tornou-se necessária a
criação de um poder mediador ao qual todos se submetessem.
• Sendo assim, o indivíduo abandona o estado de natureza, celebrando o contrato
social. Com isso, o Estado deve desempenhar o papel de árbitro nos conflitos,
evitando injustiças e, consequentemente, a vingança daquele que se sentiu
injustiçado. Tendo em vista sempre, a garantia do direito natural à propriedade.
• Locke afirma que a função do estado é interferir o mínimo possível na vida dos
indivíduos, atuando apenas na mediação de conflitos e na defesa do direito à
propriedade.
• Locke: naturalismo liberal: liberdade é o valor primordial: Princípio da Liberdade
Universal Igual de todos os indivíduos e do Consentimento Condicional de todos
os indivíduos. Justiça do Sistema-Direito e Legitimidade das instituições políticas
depende da conformidade com o Princípio da Prioridade axiológica da Liberdade
individual: direito à desobediência e à rebelião.
Rousseau
• Rousseau, de todos o mais importante e mais compromissado com as questões
sociais, é aquele que consegue fazer a tensão mais profunda na própria filosofia
política e do direito moderna. Rousseau é quem vai mais a fundo, em seu próprio
tempo, no desvendamento crítico da democracia e da própria verdade social
moderna. Em grande medida, será Rousseau o elo histórico que liga a
modernidade à filosofia crítica contemporânea.
• Rousseau, filósofo francês, possui uma concepção do ser humano em estado de
natureza bem contrastante dos seus predecessores.
• Rousseau afirma que o ser humano é naturalmente bom. Em estado de natureza,
viveria uma vida isolada dos demais, plenamente livre e feliz. O indivíduo seria o
"bom selvagem" inocente e incapaz de praticar o mal, como os outros animais.
• Entretanto, esse estado termina quando por algum motivo particular, um
indivíduo cerca um pedaço de terra e o classifica como seu. O surgimento da
propriedade privada é o motor gerador de desigualdades e violência.
• Surge o estado de sociedade onde os possuidores (aqueles que detém a posse
de algo) lutam contra aqueles que não possuem bens.
• Pela extinção dessa insegurança, o contrato social faz com que os indivíduos
abandonem o estado de natureza e assumam a liberdade civil. Vivam sob o
controle de um Estado que deve realizar estritamente a vontade geral.

4. Kant vs. Hegel (Liberdade, Razão Prática, Imperativo categórico/hipotético,


Autonomia/Heteronomia, Moralidade objetiva / Sittlichkeit, "Republicanismo",
Justiça Cosmopolita e Condições jurídicas da Paz)

Emanuel Kant
• É considerado o maior filósofo da época moderna, tendo suas Críticas
encaminhado a meditação filosófica num sentido novo e original.
• Duas formas de conhecimento - Imperativo categórico e imperativo hipotético
• O empírico ou a posteriori, e o puro ou a priori.
• O conhecimento empírico refere-se aos dados fornecidos pelas experiências
sensíveis.
• O conhecimento puro ou a priori, pelo contrário, não depende de qualquer
experiência sensível.
• Juízos analíticos e aos juízos sintéticos
• O predicado já está contido do sujeito.
• Nos sintéticos, pelo contrário, o predicado acresce algo de novo ao sujeito.
• Neste sentido, Kant afirma que todos os imperativos ordenam hipotética ou
categoricamente... Se a ação for boa simplesmente como um meio para alguma
outra coisa, então o imperativo é hipotético;
• Mas se a ação é representada como boa em si mesma e, portanto, como um
princípio necessário para uma vontade que, em si mesma, está em conformidade
com a razão, então o imperativo é categórico (Fundamentação da Metafísica dos
Costumes).
• Imperativo aqui quer dizer ordem, mais precisamente "ordens da razão"
• O imperativo categórico nos mostra o que é racional em si mesmo.
• Por outro lado, o imperativo hipotético revela uma ação que é um meio para
consecução de determinado fim.

Kant denomina "leis da liberdade" aquelas que regulam a conduta humana


• São ordem
• Leis da liberdade prescrevem, ou seja, preceitos
• No que se refere às "leis da liberdade", importa distinguir a legislação moral da
legislação jurídica, ambas referenciadas à conduta humana.

Âmbito da moral e âmbito do direito


• Leis de liberdade = âmbito moral
• A ação moral é, pois cumprida, não em virtude de um fim, mas tão somente pela
máxima que a determina
• O dever ao mesmo tempo como impulso, é moral.

Autonomia/heteronomia
• Autonomia: Liberdade da Razão auto-legisladora que regula a ação. Imperativo
categórico: lei prática, vontade boa, vontade determinada pela razão, vontade
livre de desejo, forma do universal (“Age de tal modo que a máxima da tua ação
possa valer como lei universal!”; “Age de tal modo como se a máxima da tua
ação fosse estabelecida pela vontade como lei universal da natureza!”; “Age de
tal modo que a pessoa seja tratada em ti próprio e nos outros como fim-em-si-
mesmo e não como meio”!
• Heteronomia: determinação patológica/passional/sensível da vontade;
ausência de liberdade/racionalidade; ausência de universalidade; obediência ao
particular, ao interesse ou à exceção individual/empírica/subjetiva. Imperativo
hipotético: orientado para o bem-estar, felicidade.

Justiça cosmopolita
• Para Kant a comunidade esta em constante evolução no rumo á cidade dos fins
da paz perpetua
• É uma conveniência justa e pratica entre povos;
• Kant tem um pensamento otimista pois afirma que a humanidade tem uma
capacidade para criar uma ordem cosmopolita;
• A humanidade passara por um estado civil de depois por um estado
cosmopolita;
• A solução essencial para a garantia de uma justiça cosmopolita é a existência de
uma Estado:
o Servira de suporte a uma ordem de legitimidade publica;
o Esta subordinado a uma ordem constitucional onde a proteção dos
Homens/cidadãos se vejam consagrados
“Paz Perpétua”
• Exige um Estado Republicano Mundial.
• Paz exige liberdade: nenhuma guerra será benéfica para os interesses de todos.
• Nunca haverá acordo universal para declarar guerra.
• Republicanismo enquanto liberdade universal igual produz paz.
• Paz Perpétua entre Estados exige relações “republicanas” entre Estados com
Constituições republicanas que formem uma Sociedade das Nações (não
necessariamente um Estado Mundial único).
• Contextualizando nesta obra a paz é definida, contudo a paz entre estados não
deve ser considerada uma paz armada visto que tal significa que não existe
confiança entre Estados e verifica-se uma forte eminencia de cessação de paz.
• Como primeiro artigo definitivo para a Paz Perpétua- A Constituição Civil em
cada Estado deve ser republicana -Em resposta à mesma, considera-se que a
Constituição Republicana além de ser puramente uma fonte de direito, tem
ainda como principal objetivo o estabelecimento da paz perpétua. Desta forma
nesta Constituição os cidadãos decidem “se deve ou não haver guerra” ou seja é
a população que decidi se irá haver guerra e arcar com as consequências da
mesma. De certa forma com este exemplo de serem os cidadãos os responsáveis
do processo de guerra em si, de quem ira combater, as despesas da mesma e
muitas outras questões que uma guerra compõe, Kant explica que, ao
reconhecer a cidadania das pessoas, a Constituição Republicana implica a sua
participação dos mesmos nas decisões do Estado.
• Como Segundo Artigo definitivo para a Paz Perpétua -O direito das gentes deve
fundar-se numa federação de Estados livres -Para garantir um estado de paz,
Kant forma uma liga de povos, cada cidadão tem o dever de conservar a sua
individualidade, ou seja são considerados homens singulares. Desta forma a
seguinte liga de povos estaria unida com aliados, interesses e compromissos
comuns. Formada a dita liga de povos por um contrato mútuo entre Estados
livres, haverá condições de se criar a liga de paz que, gradualmente, agregaria
todos os Estados, tornando possível o desejo dos povos, de atingirem a paz
perpétua.
• A origem do Estado é defenido como a relação de um superior com um inferior
e muitos povos num Estado viriam a constituir um só povo. O povo de cada
Estado, na sua generalidade, defende que “Não deve entre nós haver guerra
alguma, pois queremos formar um Estado, isto é, queremos impor a nós mesmos
um poder supremo legislativo, executivo e judicial, que dirima pacificamente os
nossos conflitos.
• Como Terceiro Artigo definitivo para a Paz Perpétua-“O direito cosmopolita
deve limitar-se às condições da hospitalidade universal.”
• Desta forma somos obrigados a conviver uns com os outros, tornando-se
necessário exercitar a tolerância mútua. Cabe a cada um de nós, exercer o direito
de hospitalidade fazendo-se sempre acompanhar pelo direito de visita. Contudo
neste artigo apela-se a que um estrangeiro não seja tratado com hospitalidade
caso se dirija ao território de outro, podendo rejeitar o mesmo de preferência
sem recorrer ao uso da força, mas de qualquer das formas nunca o deve
confortar com hospitalidade. De salientar ainda que o direito de visita não se
refere apenas a hospedes/estrageneiros mas também ações que tenham fins
económicos, que muitas das vezes são vistas como procedimentos
desrespeitosas aos habitantes do lugar.
• Em suma, o processo de construção da paz perpétua exige um investimento no
cultivo da razão, tanto individualmente, de cada cidadão, quanto coletivamente,
de um povo e dos povos. É dessa educação que depende a sobrevivência da
humanidade, a preservação do meio ambiente e a felicidade do ser humano.

Hegel
• O pensamento de Hegel é o ponto culminante do chamado "idealismo alemão",
propondo-se este filósofo ultrapassar os sistemas de Fichte, Schelling e do
próprio Kant.
• Para Hegel, a filosofia deve descrever o dever do Espírito, o seu desdobramento
em formas sucessivas, graças às quais adquire consciência de si mesmo como
constituindo a realidade universal.
• Desenvolvimento do Absoluto é dialético, quer dizer, a superação das várias
formas do pensamento e do ser, que se confundem, resultam de contradições
que se resolvem por sínteses, as quais, noutros momentos, se defrontam com
novas contradições.
• Tudo o que existe é dinâmico;
• Contrapõe-se com Kant;

Moralidade objetiva
• Tem uma ideia dialéctica de todos os processos, sejam lógicos, históricos ou
biológicos. Ou seja, tudo o que existe, existe dialeticamente.
• Assim, a liberdade subjetiva de Kant não é a realidade de liberdade, pois esta é
um processo dialético e a liberdade de Kant é apenas um momento do processo
dialético
• Para Hegel não é possível compreender o conceito de liberdade sem se pensar
nas instituições
• Logo, a liberdade manifesta-se através das instituições (família, escola, etc)
• Só há liberdade com a concretização do exercício objectivado
institucionalmente
• Isto significa que a liberdade esta relacionada com as alterações consequentes
da evolução histórica e das diversas instituições que esta evolução consagra.

Dinâmica de superação:
Todo e real é racional: movimento lógico: o modo como pensamos é estruturalmente
igual ao modo como somos (pensar = ser);
Þ 1º tese
Þ 2º antítese
Þ 3º síntese (separação dos dois)
5. Justiça-Igualdade: Movimentos Feministas (e.g., Wollstonecraft, Beauvoir e
Butler)
O Feminismo é um conceito que surge no século XIX, o qual se desenvolveu como
movimento filosófico, social e político. A sua principal caraterística é a luta pela
igualdade de gêneros (e mulheres), e homens consequentemente pela participação da
mulher na sociedade. O feminismo é uma doutrina que se refletiu em movimentos
sociais. Como qualquer doutrina ou corrente social, teve reflexo na sociologia mas não
se pode dizer que exista uma corrente sociológica feminista, pois isso seria admitir que
a ideologia pode influenciar a ciência.

Mary Wollstonecraft
• As primeiras preocupações com os direitos das mulheres datam do Iluminismo,
incluidas na defesa do princípio da igualdade entre todos os seres humanos. As
origens filosóficas desta preocupação encontram-se na obra de Mary
Wollstonecraft, A Vindication of the Rights of Woman (1792), que propunha a
igualdade de oportunidades na educação, no trabalho e na política.
• No século XIX, as exigências das feministas centraram-se no objetivo da
obtenção de plena cidadania para as mulheres, que confluiu no movimento das
sufragistas.O direito de voto foi genericamente obtido pelas mulheres do mundo
ocidental no início do século XX. Pode dizer-se que esta "primeira vaga" de
feministas se preocupou com a obtenção da mera igualdade formal entre os dois
sexos.

Simone de Beauvoir
• Existem autores que simplesmente não têm predecessores ou sucessores: sua
originalidade é absoluta. Simone de Beauvoir pertence a esse grupo porque seu
pensamento foi um ponto de fuga que lhe permitiu chegar onde não se havia
chegado. Embora muitos rótulos tenham sido dados ao seu livro O Segundo Sexo
– definido, conforme o caso, como existencialista, humanista, ilustrado ou
construtivista –, o fato é que 70 anos depois de sua publicação é um clássico
absoluto, uma obra brilhantemente articulada através da qual continuamos
contemplando e interpretando o mundo.
• Essa é a sensação que se tem ao lê-lo porque esse livro elevou as experiências
de vergonha e autoculpabilização das mulheres a uma inteligente e sutil reflexão
filosófica; O Segundo Sexo articula uma meditação sistemática sobre significados
sociais para os quais nem sequer existiam palavras em 1949. Sua coragem foi
colossal, pois muitas feministas de seu tempo ainda guardavam silêncio sobre as
fantasias projetadas nos corpos das mulheres e a importância disso em seu
posicionamento social assimétrico. Entre outras coisas, a contribuição dessa
pensadora genial, a mais ilustre moradora do Quartier Latin parisiense, foi situar
a reflexão sobre o corpo no centro do feminismo: se toda existência humana,
segundo ela, é definida por sua localização, a corporalidade da mulher e os
significados sociais que se lhe atribuem condicionam sua existência. Essa máxima
tão simples era revolucionária há 70 anos e continua sendo hoje, porque a
mulher ainda se realiza no mundo como um corpo submetido a tabus e
estereótipos que servem como desculpas para legitimar as mais evidentes
discriminações sociais.

Butler
• Verdade que o tema central da obra de Butler é o “gênero”, mas, olhando de
perto, gênero não é um problema do campo da “sexualidade”, é um problema
político e, mais perigosamente, um problema ontológico. Isso quer dizer que o
seu feminismo é, de todos os que surgiram até agora, o que levou mais a sério
as potencialidades críticas do próprio feminismo. Butler não tem medo do
feminismo, tampouco de sua crítica ou de seus efeitos teóricos e práticos.
• Nas mãos da pensadora, o feminismo é, sem dúvida, uma luta pelos direitos das
mulheres, como sempre foi, mas é também uma desmontagem do que
chamamos de “mulheres”. Por fim, dos homens e, no extremo, do gênero como
um todo. A questão de gênero não será apenas um problema do ativismo, o que
já seria demais para o pensamento da dominação masculinista, mas também, e
mais gravemente, um questionamento da identidade e do princípio que rege sua
lógica.
6.Justiça Distributiva em Rawls e Sen;

Justiça distributiva- tem a ver com a apropriada distribuição de bens e encargos entre
pessoas diferentes

Véu de ignorância ou posição original implica “Auto-ignorância”: neutralização das


particularidades dos indivíduos e dos seus respetivos interesses, perspetiva de
universalidade e de desinteresse recíproco universal.Contrato social fundado na
“consideração do universal” permite acordo sobre os princípios de justiça: prioridade da
liberdade, subordinação da igualdade (política compensatória, Estado redistribuidor,
princípio “maxmin”).

John Rawls
• Filósofo estadunidense, apresenta um trabalho chamado "Distributive Justice",
quando formula sua versão final do princípio da diferença, considerado o ponto
central em sua concepção de justiça.
• Trabalha o conceito de reciprocidade social, através da qual se expõe a ideia de
igualitarismo democrático.
• Para ele, as instituições sociais devem ser estruturadas de modo que produzam
um benefício maior aos menos favorecidos no longo prazo. Para isso, devem-se
empregar arranjos institucionais alternativos, após confronto de projetos rivais.
• A teoria da justiça de Rawls pressupõe a liberdade, que queiramos uma
sociedade em que as pessoas possam viver autonomamente.
• De acordo com a tradição Kantiana, o sujeito moral é o sujeito autônomo. Uma
instituição política, para cumprir este papel, deve prover a liberdade a
todos igualitariamente. Aí, há o pressuposto da tolerância para que uma
sociedade seja justa, já que esta virtude permite que os sujeitos sejam
autônomos.
• Para Rawls, a sociedade não é um ajuntamento, mas um empreendimento, o
qual deve ser cooperativo. Aqui, as pessoas são livres para atuar sobre sua vida,
mas também para organizar a própria sociedade.
• A justiça seria um bem social que deve ser buscado. A cooperação não precisa
ser forçada, já que nesse processo todos os lados beneficiam-se.
• Vale lembrar que o autor defende que temos os mecanismos da escolha
racional e desenha um clássico modelo de "escolhas sob incertezas", para o qual
a situação levaria o indivíduo a adotar uma posição conservadora, de modo que
não se expusesse a riscos, o que levaria à regra maximínima.
• Segundo esta teoria, dentre todos os resultados possíveis para a escolha do
indivíduo, tende a ser escolhida a opção que geraria o maior benefício mínimo.
• Rawls abre mão da igualdade econômica quando aponta que ela ocorreria em
função da cessão de privilégios por alguns indivíduos de modo a reduzir
vantagens comparativas em relação a outros.
• Em um cenário de desigualdade, o lado menos favorecido pode encontrar-se em
situação mais confortável do que em um contexto igualitário. O intelectual
afirma que o real motivo para aqueles que são contra essa situação assumirem
tal posição é a inveja, tida por ele como irracional.
• Ele prefere uma sociedade desigual, desde que ela se desenvolva em prol dos
menos favorecidos.
• Véu de ignorância ou posição original implica “Auto-ignorância”: neutralização
das particularidades dos indivíduos e dos seus respetivos interesses, perspetiva
de universalidade e de desinteresse recíproco universal
Contrato social fundado na “consideração do universal” permite acordo sobre os
princípios de justiça: prioridade da liberdade, subordinação da igualdade
(política compensatória, Estado redistribuidor, princípio “maxmin”)
• Para Rawls a justiça tem de ser de carater contratual e social, a mesma tem como
funções definir direitos e deveres.
• Na visão de Rawls, para que haja justiça, ela precisa ser considerada justa de
acordo com alguns princípios de igualdade. Na sua teoria da justiça o filósofo
apresenta dois princípios de justiça fundamentais: a liberdade e a igualdade.
• Este contrato social para ser justo precisa que as necessidades de todos os
indivíduos envolvidos sejam tratadas igualmente. Para assegurar tratamento
igual, as instituições sociais devem ser justas: devem ser acessíveis a todos e
redistribuir onde for necessário, assim respetivamente apenas instituições justas
podem produzir uma sociedade justa.

Sen
• Amartya Sen, discípulo e admirador de Rawls, mas também seu crítico, em A
Ideia de Justiça (The Idea of Justice, 2009), afastou-se do mestre, apontou
dificuldades, mas ainda se manteve fiel, no essencial, à ideia distributiva. Em
relação a cada um destes autores, será ainda apresentada uma perspetiva crítica
no sentido de evidenciar algumas inconsistências do seu pensamento. Na parte
final do capítulo, enunciam-se em síntese os pressupostos da conceção
distributiva de justiça e as consequências que esses pressupostos implicam; isto
é, identifica-se o quadro concetual que suporta este paradigma, o qual
seráobjeto de análise na Parte II.
• No aspeto metodológico, o contributo original de Sen consistiu em defender a
viabilidade de uma teoria de justiça que, em vez de procurar uma
fundamentação última e definitiva, se apoie em vários fundamentos, em várias
linhas de justificação; designa esse procedimento de “procura de uma
fundamentaçãoplural”
• Sen parece querer mostrar que não há um único critério para decidir da justiça
de uma situação e que é possível alegar razões plurais, igualmente defensáveis.
De facto, qualquer uma das crianças apresenta uma alegação razoável para ficar
com a flauta - utilidade, necessidade e titularidade - e há aqui uma pluralidade
de critérios que é preciso levar em conta para decidir sobre a solução justa.
• Precisamente, o que ele critica em Rawls é a pretensão a encontrar princípios de
justiça dotados de universalidade, (a teoria de Rawls seria uma teoria
transcendental de justiça); para Sen o que importa, porque é o que é praticável,
é mitigar as injustiças intoleráveis que todos reconhecemos, porque, como
defende, podemos não saber o que é a justiça, mas percebemos a injustiça
quando ela está perante os nossos olhos; podemos não ser capazes de construir
um mundo perfeito, mas podemos construir um mundo melhor.
• Pela crítica que faz ao que designa de teorias transcendentalistas de justiça
distributiva (como entende ser a de Rawls) e pela defesa que apresenta da
abordagem à justiça centrada em comparações, pode concluir-se que Sen está
mais interessado em minorar a injustiça do que em encontrar um conceito de
justiça sobre o qual seja possível as pessoas porem-se de acordo e que forneça
enquadramento teórico à ação política; ora isto, em certo sentido, significa uma
atitude de desistência logo no ponto de partida.
• Parece assim plausível afirmar que não é enquanto filósofo político - que procura
delimitar o conceito e estabelecer os princípios de uma sociedade justa - que Sen
escreve sobre a justiça, mas enquanto reformador social, perturbado e
preocupado com o problema da pobreza , muitas vezes extrema, em que vive
boa parte da população mundial. Esta perspetiva, obviamente meritória, tem,
todavia, o inconveniente de se centrar nos remédios para atacar os sintomas,
mas não na causa da doença.
• Para quem procura conhecer as propostas de Sen, o problema é que afinal ele
não está focado na questão da justiça, está focado na questão da pobreza e,
embora estaseja um caso grave de injustiça , é redutor limitar a injustiça à
pobreza; porque mesmo que, hipoteticamente falando, fosse possível eliminar
esta, tal não significaria acabar automaticamente com aquela. Claro que a
pobreza extrema em que vive grande parte da população mundial é uma
flagrante situação de injustiça social; claro que preocupar-se em minorá-la
conferindo às pessoas possibilidades concretas para desenvolverem as suas
capacidades pode ser uma boa estratégia, mas não repõe a justiça, apenas
remedeia a injustiça.
• Querer acabar com a miséria não é o mesmo que querer um mundo justo, é só
querer um mundo menos injusto. Feita esta crítica de fundo, analisemos agora
algumas situações pontuais igualmente suscetíveis de reparo.

7.Liberdade e Obrigação no Estado de Direito: Desobediência civil e objeção de


consciência

• Primeiramente, é importante entendermos o que Rawls entende por


desobediência civil, para posteriormente analisarmos o papel dessa teoria
dentro de uma sociedade democrática. Portanto, é lícito fazermos, antes de mais
nada, uma distinção de como o autor define os conceitos de desobediência civil
e objeção de consciência, ainda que tal distinção, segundo as suas palavras,
acabe atribuindo à primeira “uma definição mais restrita do que se faz
habitualmente”, visto que é hábito comum atribuir a ela qualquer desobediência
de leis embasadas em motivos de consciência.
• O filósofo observa que a concepção de Thoreau enquadra-se naquilo que
compreendemos tradicionalmente comoentende. Conforme os escritos do
filósofo, ela é compreendida como desobediência civil, na sua forma
habitual.Dito isso, passemos à definição de desobediência civil, conforme Rawls
a entende.
• Sendo a desobediência um ato político, ela busca orientar-se pelos princípios de
justiça que gerem as instituições sociais e a constituição, não ficando estanque
apenas a um discurso que almeja a atenção da maioria que possui o poder
publico para determinada infração.
• É importante ressaltar que, ainda que a desobediência seja fiel às leis, ela corre
ao largo da legalidade: o desobediente tem a consciência de que seu protesto
pode acarretar processo judicial ou prisão, o que frequentemente ocorre.
• Quanto à objeção de consciência, Rawls afirma que se trata da recusa de
obedecer a uma regra ou ordem administrativa imposta direta ou indiretamente.
Ela é uma recusa devido ao fato de que aquele que impõe a ordem possui meios
para saber se ela foi devidamente cumprida ou não. Ainda que o indivíduo se
oponha à normativa e possa tentar esconder o seu ato contrário ao estabelecido,
supõe-se que as autoridades possuam o conhecimento da ação do indivíduo.
• De acordo com Rawls, podemos diferenciar a objeção de consciência da
desobediência civil de várias formas. Primeiramente, o indivíduo não busca agir
como uma forma de apelo ao senso de justiça da maioria que detém o poder
político, visto que suas ações não são praticadas publicamente. Para aquele que
se objeta, geralmente não há a esperança de um convencimento público das
suas convicções, não buscando ocasiões de tornarem públicas as suas ações
como é o caso quanto a desobediência civil. Portanto, “são menos otimistas do
que aqueles que praticam a desobediência civil e
talvez não alimentem nenhuma expectativa de mudar leis ou políticas”.
• Ademais, a objeção não parte de princípios políticos em específico, podendo
encontrar fundamento em princípios religiosos ou outras convicções pertinentes
ao indivíduo. Em suma, podemos dizer que ela é de caráter pessoal, intimista, e
não-pública.
• Ronald Dworkin, o segundo autor a se analisar, contempla uma visão
interessante da desobediência civil, na medida em que parece querer coaduná-
la com o sistema judicial norteamericano, de maneira que conviva sem causar
danos ao governo como um todo.
• De início, Dworkin reprova que se interpretem os desobedientes, para ele
dissidentes, como anarquistas, começando por lembrar de um argumento forte,
no sentido de que a lei seja aplicada a todos, independentemente do que leva as
pessoas a descumprirem-na: Contudo, Dworkin lembra que a sociedade também
não vai acabar se tolerar alguma desobediência civil: “A sociedade ‘não pode
manter-se’ se tolerar toda e qualquer desobediência; daí não se segue, contudo,
que ela irá desmoronar se tolerar alguma desobediência Ou seja, a teoria de
Dworkin, para justificar a desobediência civil, parece se amoldar ao sistema
jurídico de seu país, quando o que se busca são conceitos que universalizem as
interpretações a respeito de ambos os institutos, a desobediência civil e a
objeção de consciência.

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