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INSTITUTO SUPERIR DE CIÊNCIAS DE ADMINISTRAÇÃO E HUMANAS

(ISCAH)

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE DIREITO

RELAÇÃO ENTRE A JUSTIÇA E A SEGURANÇA JURIDICA

Curso: Direito
Frequência: 1º
Periodo: NOITE
Nome: Domingos Zeca Mafufo

LUANDA, 2023
Sumário
2. A IDÉIA DA JUSTIÇA................................................................................................................2
2.1 Trajetória histórica do problema “Justiça”......................................................................2
2.3 Noções de justiça...................................................................................................................3
2.4 Classificação da justiça........................................................................................................3
2.5 Justiça e direito.......................................................................................................................4
3. A IDÉIA DE SEGURANÇA.......................................................................................................5
3.1 Noções de segurança............................................................................................................5
3.3 Segurança e certeza – certeza jurisprudencial...............................................................5
3.4 Relação dialética entre segurança e justiça....................................................................6
4. RACIONALIDADE DAS DECISÕES JUDICIAIS (FORMALISMO x JUDICIALISMO). . .6
4.1 Modelo clássico de racionalidade nas decisões judiciais............................................6
4.2 A crise da modernidade........................................................................................................7
4.3 Campo propício ao ativismo judicial.................................................................................8
4.4.  Possibilidade de racionalidade na pós-modernidade.................................................8
4.5. Aceitabilidade racional como justificação das decisões.............................................9
CONCLUSÕES...............................................................................................................................9
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objeto analisar a dialética existente entre segurança
e justiça.

Nessa senda, é que se observa as transformações ocorridas na hermenêutica


jurídica, desde a modernidade clássica, onde a atividade do juiz se restringia a
extrair da lei a vontade do legislador; até os dias atuais, onde é inegável que a
atividade de interpretar a lei, constitui-se, também, em criação do direito, em 
construção do sentido da norma.

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A IDÉIA DA JUSTIÇA

Trajetória histórica do problema “Justiça”


O desejo de justiça tem acompanhado todas as civilizações, obviamente, através
de diferentes concepções, até por que cada povo, cada época tem seu ideal
próprio, sua maneira peculiar de sentir e de realizar a justiça (SALDANHA, 1977,
305).

A partir de Sócrates, o pensamento grego firmou conceitualmente a exigência de


simetria entre o justo agir e o reto pensar. Platão idealizou todo seu sistema
político com fulcro na temática da justiça, propondo: a justa ordenação da cidade
como correspondente da correta colocação dos homens em seus lugares sociais
(Idem, 1977, 305). Com Aristóteles, porém, foi que veio a maior contribuição grega
do tema. Em Ética a Nicômaco, defendeu que a Justiça é, antes de tudo, uma
virtude moral, não apenas “sentimento do justo”, mas característica inerente a
todos os homens, independente de qualquer “sentimento religioso”. Para
Aristóteles, a Justiça apresenta três faces: comutativa, distributiva e legal (Souza,
1996, 71).

O Cristianismo também deu seu contributo, apresentando uma nova visão ao


problema da justiça, com referência ao amor ao próximo (SALDANHA, 1977, 305).

A justiça como valor

Na transição do século XIX para o XX, surgiu a axiologia ou teoria dos valores,
momento em que a idéia de valor passou a substituir ou absorver a de bem. A
noção de justiça, que se constitui num dos temas capitais da axiologia, veio então
a ser incluída dentre os valores que correspondem à vida social e,
consequentemente, aos valores jurídicos, “já que o direito (ao menos para quem
aceita a axiologia) serve para realizar valores.” (SALDANHA, 1977, 306).

“Como valor, a justiça é sempre um ‘ideal’, embora tenda ou deva tender a


uma realização por intermédio de instituições, normas, critérios.” (Idem, 1977,
306)

Não se pode olvidar que, ao longo da história, o valor justiça tem sido associado
às noções de igualdade – A justiça seria na sociedade a redistribuição das
igualdades possíveis (igualdade de oportunidades, tratar desigualmente os
desiguais) – e de verdade (o “vero” e o justo seriam duas faces de uma mesma
coisa) (Idem, 1977, 306).

Na opinião de Reale, a justiça não se identifica com os demais valores que


fundam as normas jurídicas, nem mesmo com aqueles que mais dignificam o
homem. A justiça é antes a condição primeira de todos esses valores, a condição
transcendental de sua possibilidade como atualização histórica. Ela vale para que
todos os outros valham (REALE, 1988, 371).
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Finalizando, pode-se afirmar que a justiça é um valor e, ao mesmo tempo, um
critério de valoração, com base no qual se aprovam ou se condenam ações
humanas (NÓBREGA, 2007, 50).

Noções de justiça
Nóbrega (Idem, 2007, 49), ilustre filósofo paraibano cujas lições lapidares se
irradiaram por todo país, propôs um noção de justiça que consideramos
irretocável:

“A Justiça é o elemento moral do direito, moral no sentido de espiritual, de


teleológico; e é seu princípio e fim, pois sem ela não se conceberia o direito, que
existe tão só como meio, ou técnica de realizá-la. Não é possível defini-la com
precisão, pois como todo conceito-limite, escapa à formulação lógica. Podemos
alcançá-la como valor, através da via emotiva; mas a emoção não é redutível ao
pensamento. Mesmo o homem do povo tem o sentimento claro do que é justo,
como sente o encanto de um pôr do sol, a doçura de uma melodia, embora lhe
escape o significado da justiça e da beleza.

A justiça ‘é o horizonte na paisagem do direito’, horizonte que é ao mesmo tempo


um limite para a paisagem e um ponto de referência para apreciá-la. A paisagem é
penetrada de horizonte e vive da claridade que dele flui; o direito é encarnação da
justiça e só tem visa e sentido quando visto à sua luz.

antiguidade, há séculos não é mais admitida. O ideal, por sua vez, não é o mesmo
para cada povo, nem para cada época histórica; cada povo, cada época tem seu
ideal próprio, sua maneira peculiar de sentir, de realizar a justiça (Idem, 2007, 50).

Classificação da justiça
O homem, na vida social, pratica atos que podem ser desdobrados em três
dimensões: nas relações interindividuais, nas relações das pessoas com a
sociedade e nas da sociedade com as pessoas.

A tradicional classificação da justiça erigida por Aristóteles, em Ética a Nicômaco,


com ênfase no Livro V, apresenta três faces: comutativa, distributiva e legal. A
justiça comutativa se aplica às pessoas individualmente consideradas em relação
umas com as outras. Baseia-se no princípio da igualdade, da equivalência entre o
que se dá e o que se recebe. É a justiça da vida privada, dos contratos.  A justiça
distributiva é a que regula a repartição dos encargos e vantagens da vida social.
Adota o princípio da proporcionalidade, segundo o qual se deve dar a cada um
conforme as suas necessidades e exigir de cada um de acordo com sua
capacidade. A justiça legal, ou geral, preside o comportamento dos particulares e
das autoridades, considerados como membros do todo social e, prescreve a
obediência à lei e aos deveres que a todos cabe em prol do interesse geral (idem,
2007, 54).

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Justiça e direito
Kelsen, o pai do positivismo, não se preocupava com o problema da justiça na
ciência do direito. Para ele o fundamento da ordem jurídica não residia na justiça,
mas na norma fundamental, da qual decorre a validade de todo o universo
normativo. A norma fundamental não teria que ser necessariamente justa, pois
mesmo uma norma fundamental injusta valida e legitima o direito que dela
decorre, à exemplo do que ocorreu nos regimes autoritários. Kelsen separou com
rigor o ponto de vista jurídico, do moral e do político, pois para ele a legitimidade
das normas e do sistema como um todo se reduz à legalidade. Compreendia que
um juízo de valor sobre o direito vigente dependeria de uma norma fundamental
do ordenamento moral, porém, afirmava que essa norma moral, última, seria
inevitavelmente uma prescrição relativa, sujeita às contingências históricas e
culturais de cada sociedade, o que do ponto de vista racional e científico, impedia
um fundamento geral para a ciência do direito (FERRAZ, 1996, 12/13).

Os neo-positivistas ou neo-empiristas consideram que não se pode dizer que a


procura do fundamento do direito corresponda ao problema da justiça, pois esta é
antes uma aspiração emocional, suscetível de inclinar os homens segundo
diversas direções, em função de contingências humanas de lugar e de tempo, o
que a impede de ser o fundamento universal do direito, já que o sentimento de
justiça é variável (REALE, 1998, 370).

Malgrado essas correntes, contemporaneamente, o assentimento acerca da


possibilidade de uma teoria da justiça vem ganhando contornos marcantes,
principalmente, com os avanços dos estudos da axiologia (Idem, 1998, 370).

Abstraindo-se o problema da universalidade e racionalidade do conceito de justiça,


é de se reconhecer que, ao menos em termos existenciais, a justiça confere ao
direito um significado no sentido de razão de existir. O direito deve ser justo ou
não tem sentido a obrigação de respeitá-lo. Ou seja, a perda ou a ausência
do sentido de justiça é, por assim dizer, o máximo denominador comum de todas
as formas de perturbação existencial, pois o homem ou a sociedade, cujo senso
de justiça foi destruído, não resiste mais às circunstâncias e perde, de resto, o
sentido do dever-se do comportamento (FERRAZ, 1994, 351).

A presença da justiça como uma espécie de código de ordem superior, cujo


desrespeito gera reclamos da sociedade e, a ausência, a perda do referencial,
pode nos levar a admiti-la como um princípio doador de sentido ao universo
jurídico (Idem, 1994, 351).

Assim, podemos concluir com Radbruch (1979, 91) que o direito não é afinal,
senão, a “realidade que tem o sentido de se achar ao serviço da idéia de justiça.”

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A IDÉIA DE SEGURANÇA

Noções de segurança
A Segurança é pressuposto fundamental da vida humana; necessidade das mais
urgentes e primitivas e que resulta da própria natureza do homem, ser dos mais
fracos e desprotegidos, que necessita viver em sociedade (NÓBREGA, 2007,
101).

O direito é a técnica da segurança, o que não significa que não tenha por
finalidade a justiça. A justiça, porém, está muito além das possibilidades humanas,
o que faz com que nos contentemos com a segurança, como seu sucedâneo
(Idem, 2007, 101).

Nóbrega (Idem, 2007, 101/102) bem sugere uma noção de segurança,


relacionando-a com justiça e direito:

“A segurança é o fim imediato, a missão prática do direito. É também um valor,


como a justiça, embora um valor de segundo grau. É valor fundante em relação à
justiça que é valor fundado, o que quer dizer que a segurança é condição
necessária para a realização da justiça. Pode haver segurança sem justiça, como
ocorreu nos regimes fundados na força (ditaduras, Estados totalitários); mas onde
não há segurança não há justiça, não há direito sob qualquer forma.”

A segurança significa a estabilidade nas relações sociais. A vida social não seria
possível se as normas que a disciplinam pudessem ser alteradas a cada
momento, ou não fossem observadas, acatadas por todos; se assim fosse,
ninguém teria garantias, todos estariam desamparados, inseguros, sem a
confiança de poder viver em paz e em tranqüilidade (idem, 2007, 102).

Por conseguinte, pode-se inferir que a segurança é a base da justiça. Um regime


social em que haja segurança, em que haja ordem e estabilidade, será por isso só
um regime justo. O fim do direito é realizar esse regime, conseguir o máximo
possível de segurança, eliminando o máximo possível de arbitrariedade, de
anarquia, de incerteza e instabilidade (Idem, 2007, 102).

Segurança e certeza – certeza jurisprudencial


Souza (1996, 33), quase uma década antes da Emenda Constitucional nº 45/2004,
que instituiu a súmula vinculante no direito pátrio, escrevia sobre justiça e
segurança jurídica na perspectiva de justificar a adoção de tal instituto. Nessa
senda, defendia que a “segurança jurídica” advém do legislador, mas a “certeza”
decorre da atividade do Judiciário de aplicar o direito, indicando, em última
instância, quais as ações que podem ser reputadas justas diante da ordem vigente
em determinada sociedade.

Com efeito, Souza (Idem, 1996, 33) entende que a segurança jurídica é a certeza
de que a lei é válida, tem eficácia e nos assegura a faculdade de bem agir para
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alcançar a justiça. Porém, infere que a Lei é uma certeza a priori, já que a certeza
do direito surge com a jurisprudência, ou melhor, quando os juízes e tribunais, ao
final de um processo, emitem decisão que transita em julgado. Ou seja, a
segurança é algo objetivo, é um a priori jurídico para os cidadãos. A certeza é a
confiança do cidadão nas leis, que permitem agir eticamente, adotando condutas
razoáveis e previsíveis, de que seu agir é “direito” e não “torto”, de que suas
atuações em sociedade não poderão sofrer sanções. A Segurança objetiva das
leis, quando dinamizada pela atividade jurisdicional, dá ao cidadão a Certeza
subjetiva das ações justas, segundo o Direito.

Relação dialética entre segurança e justiça


Segurança e Justiça são valores que se completam e se fundamentam
reciprocamente. Não pode haver justiça materialmente eficaz, se não for
“assegurado” aos cidadãos, concretamente, o direito de ver reconhecido a “cada
um o que é seu”.

A segurança jurídica constitui um dos componentes da justiça geral, por ser


condição da sociedade corretamente organizada. Logo, se a segurança jurídica é
pressuposto e componente da justiça geral, é impossível falar-se numa oposição,
suscitada por muitos autores – segundo os quais, se há segurança, não pode
haver justiça e, se se pratica justiça, faltaria segurança) (Idem, 1996, 106). Justiça
e Segurança, comportam-se dialeticamente, de forma a alcançar a inevitável
integração. Unidas, Justiça e segurança, são pressupostos de garantia da boa
ordem da sociedade e da, consequente, realização do Bem Comum.  

Assim, temos que a segurança jurídica é um valor imanente a qualquer sistema de


direito positivo; está em relação dialética com a justiça, que, por sua vez, é valor
transcendente. Segurança e Justiça estão igualmente entrelaçadas com o
conceito de Bem Comum, de paz social. Segurança e Justiça não se contrapõem,
mas enquanto esta é um valor moral, desarmado, sua garantia de efetivação no
direito repousa na materialidade objetiva da segurança jurídica (Idem, 1996, 80).

No direito pátrio há demonstração cabal dessa relação dialética entre justiça e


segurança, na medida em que o valor segurança é indicado no preâmbulo da
Constituição Federal como um valor supremo de nossa sociedade (ao lado da
liberdade, igualdade e justiça) e, como um valor transcendente, através do qual se
assegura a consecução dos demais.

RACIONALIDADE DAS DECISÕES JUDICIAIS (FORMALISMO x


JUDICIALISMO)

Modelo clássico de racionalidade nas decisões judiciais


O Estado liberal clássico diante de sua finalidade principal de garantir a liberdade
dos cidadãos, foi marcado por uma rígida delimitação dos seus poderes de
intervenção na esfera jurídica privada.
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A principal forma de limitar a intervenção do Judiciário na vida dos particulares foi
a premissa de que o julgamento apenas afirmaria o que estava contido na lei, daí
acreditava-se que não havendo diferença entre o julgamento e a lei, estaria
garantida a liberdade política (MARINONI,2008, 30/31). A lei, segundo
Montesquieu (1973, 160), deveria ser, a um só tempo, “clarividente e cega”.

Obviamente esse modo de pensar repercutiu sobre o Estado-juiz, uma vez que de
nada adiantaria delimitar a atividade do legislador com os fundamentos do
liberalismo e permitir ao juiz interpretar a lei em face da realidade social. Por isso é
que Montesquieu (Idem, 1973, 158) afirmava que a decisão judicial deveria
corresponder apenas a um “texto exato da lei”, pois de outra maneira constituiria
uma opinião pessoal do juiz e, dessa forma, “viver-se-ia na sociedade sem saber
precisamente os compromissos nela assumidos” (Idem, 1973, 160), já que o juiz,
ao seu alvedrio, poderia atribuir ao texto da lei sentido diverso do contido em sua
literalidade impregnada dos valores burgueses.

Por esse motivo foi que Montesquieu (Idem, 1973, 160; BAPTISTA, 2006, 02)
definiu o juiz como a “bouche de la loi” (boca da lei), ao asseverar que os juízes de
uma nação não são mais “mais que a boca que pronuncia as sentenças da lei,
seres inanimados que não podem moderar nem sua força nem seu rigor.”

Da conjunção desses fatores, surgiram diversos reflexos no direito e,


especialmente, no processo, quais sejam: a) o princípio da tipicidade dos meios
executivos como garantia de liberdade; b) a proibição das tutelas fundadas em
verossimilhança; c) a neutralidade do juiz; d) o princípio da tutela pelo
equivalente; e) o princípio da “nulla executio sine titulo” e, o mais importante para
o presente estudo, f) o modo clássico de interpretar as leis imposto pela Escola da
Exegese, de origem francesa, onde a atividade do juiz seria meramente
declaratória, ou melhor, de desentranhar o sentido absoluto e pré-existente da lei,
que correspondia à vontade do legislador.

Crise da modernidade
A crise da modernidade reflete sobre o modelo de racionalidade dominante na era
moderna, atingindo fortemente o Estado, a política e a atividade jurisdicional.

“Os dias atuais revelam um quadro de crise. Crise da civilização, crise da


racionalidade, crise enfim da modernidade.” (Idem, 2003, 17).

O foco da crise reside no fato de que as promessas modernidade não se


concretizaram. Constando-se um excesso de promessas com um déficit do seu
cumprimento (Idem, 2003, 17).

Apesar do avanço da técnica, da industrialização, o que se viu foi a exploração


dos trabalhadores, que sequer tinham condições de satisfazer as necessidades
mais básicas, como: moradia, saúde e educação.

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Campo propício ao ativismo judicial

O Estado Social surgido com a crise da modernidade (liberalismo-racionalismo)


mostrou-se campo propício ao Judicialismo, à hermenêutica subjetivista, que
tonifica o problema da justiça versus segurança.

Cappelletti (1999), renomado jurista italiano, que leciona nos Estados Unidos e é
profundo conhecedor dos sistemas jurídicos da Europa continental, bem
demonstra que o Estado Social, as Constituições Programáticas e a intensa
produção legislativa se tornaram campo fértil ao “direito judiciário” e à
aproximação das duas grandes famílias do direito (“Common Law” e “Civil Law”).

Possibilidade de racionalidade na pós-modernidade


Consoante já demonstrado, a tradição jurídica associa a interpretação e aplicação
do direito ao processo do silogismo subsuntivo, através do qual o intérprete
apenas extrai da lei o seu sentido pré-existente ao próprio ato de interpretação.

Essa hermenêutica clássica, apesar de ultrapassada, continua influenciando o


pensamento jurídico contemporâneo, favorecendo o legalismo, que acaba por
erigir a segurança a um patamar de supremacia, muitas vezes em detrimento da
própria realizabilidade da justiça (TEIXEIRA, 2002, 03).

Contudo, é inegável que a “textura aberta” da linguagem jurídica mantém


intocáveis diversos espaços onde é possível caracterizar a atuação discricionária
do magistrado, atribuindo ao mesmo um grande leque de possibilidades
interpretativas (Idem, 2002, 04).

Além dessa “textura aberta” da linguagem jurídica que já proporciona campo de


discricionariedade ao magistrado, com a crise da modernidade surgiram as
escolas críticas, que adotam a politização como artifício retórico, contribuindo para
a ruptura do binômio segurança e justiça, em favor de uma justiça
“subjetivamente” determinada pelo intérprete do direito (Idem, 2002, 04).

Tais escolas críticas, a exemplo da alternativa, esbarram no problema de que a


justiça é expressão polissêmica, que varia no espaço e no tempo, havendo, pois,
grande dificuldade em se determinar o que seja uma “lei injusta”. Com efeito, qual
o referencial de justiça a ser adotado? Qual o fundamento desse referencial? Por
que é o mais adequado? (Idem, 2002, 62)

Aceitabilidade racional como justificação das decisões


Na lição de Aarnio (1995 apud TEIXEIRA, 2002, 94/95), o Judiciário ao aplicar o
direito não está em contato apenas com as partes envolvidas, mas com toda
sociedade, já que sua interpretação, em certo grau, influenciará o comportamento
de todos. Desse modo, as decisões judiciais não devem ser satisfatórias apenas
para quem as dita, devendo sim alcançar um nível de aceitabilidade geral.

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Aarnio (Idem, 2002, 95) rejeita a tese de uma “única decisão justa”, sem,
entretanto, admitir o perigo das decisões fundadas num alto grau de subjetividade.
A questão, então, é encontrar o ponto de equilíbrio, ou a “melhor interpretação”. E
para ser encontrada a “melhor interpretação”, sustenta ser necessário que o juiz
siga os princípios do discurso racional, de forma que o resultado da interpretação
não seja a “verdade absoluta e pré-exeistente”, mas uma verdade construída
através do debate no processo argumentativo, onde são considerados os
conhecimentos e o sistema de valores da comunidade jurídica.

Por conseguinte, a aceitabilidade racional, a um só tempo, estaria em consonância


com as leis vigentes, prestigiando a segurança jurídica e, com a moralidade social,
como forma de assegurar a presunção de razoabilidade.

Nesse sentido, tanto do ponto  de vista formal como substancial é salutar que as
decisões judiciais priorizem a racionalidade argumentativa, como forma de
encontrar a “melhor interpretação” sem descambar no perigoso subjetivismo.

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CONCLUSÕES
O presente trabalho buscou demonstrar que há uma relação dialética entre
segurança e justiça, porém, por longo período (modernidade) prestigiou-se a
segurança, através da hermenêutica clássica do formalismo e do silogismo
subsuntivo.

Com efeito, a reação à racionalidade clássica só eclodiu com a crise da


modernidade e o conseqüente surgimento das escolas críticas e do Estado Social
(Welfare State). Tal contexto mostrou-se campo propício ao Judicialismo, à
hermenêutica subjetivista, que tonificou o problema da justiça versus segurança.

Daí a necessidade de um novo modelo que se situasse entre o objetivismo da


modernidade e o subjetivismo surgido no contexto do Estado Social e das escolas
críticas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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