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INSTITUTO SUPERIR DE CIÊNCIAS DE ADMINISTRAÇÃO E HUMANAS

(ISCAH)

ECONOMIA

A RELAÇÃO QUE EXISTE ENTRE A ECONOMIA E O DIREITO,


PARA O FORTALECIMENTO DAS QUESTÕES
SOCIOECONÓMICAS DE UM PAÍS

LUANDA, 2023
INSTITUTO SUPERIR DE CIÊNCIAS DE ADMINISTRAÇÃO E HUMANAS
(ISCAH)

ECONOMIA

A RELAÇÃO QUE EXISTE ENTRE A ECONOMIA E O DIREITO,


PARA O FORTALECIMENTO DAS QUESTÕES
SOCIOECONÓMICAS DE UM PAÍS

CURSO:
Direito
FREQUÊNCIA:
1º Ano
PERIODO:
NOITE
ELABORADO:
Beatriz Agostinho Henriques

O DOCENTE:
Dr. Sapalo Cuangana

LUANDA, 2023
Sumário
INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 1
1. A integração entre Direito e Economia.................................................................................... 2
2. As tradições do common law e do civil law............................................................................... 3
3. A origem do estudo conjunto das disciplinas........................................................................... 5
4. Conceito de Economia .............................................................................................................. 6
5. Análise econômica do Direito................................................................................................... 7
CONCLUSÃO.............................................................................................................................. 9
Referências ................................................................................................................................. 10
INTRODUÇÃO
A Economia centra-se na análise da alocação de recursos e no emprego destes de modo mais
eficiente para os indivíduos, para as empresas e à sociedade (STIGLITZ; WALSH, 2003, p.
08).

Alguns economistas acreditam que as decisões acerca da alocação de recursos podem ser
mais eficientes conforme a quantidade e amplitude das regulamentações do mercado, pois
estas normalmente ensejam restrições.

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1. A integração entre Direito e Economia

O movimento Direito e Economia surgiu na América do Norte e atinge de forma crescente


todo o mundo. A correlação entre o Direito e a Economia tornou-se notória nos Estados
Unidos e a disciplina passou a incluir a grade curricular do curso de Direito das mais
destacadas Universidades (COOTER; ULEN, 2010).

Decio Zylberstajn e Rachel Sztajn (2005) expõem que o estudo conjunto do Direito e da
Economia, embora tenha surgido por volta de cinqüenta anos, com o objetivo de uma
apreciação mais profunda e completa das instituições e organizações nacionais é recente no
Brasil em vista de outros países, existindo farta literatura internacional a respeito da análise
econômica do Direito.

Na sua essência o Direito é verbal, hermenêutico, almeja a justiça e analisa questões sob o
enfoque da legalidade. A Economia, por sua vez, embora também verbal, é primordialmente
matemática, almeja ser científica e examina questões tendo em vista o custo (SALAMA,
2008, p. 49).

Ademais, o Direito muitas vezes preocupa-se com o retorno ao status quo ante, ao passo que
a Economia focaliza o futuro para se antecipar.

“[…] a justiça olha mais para trás na tentativa de reconstituir um estado anterior das artes,
enquanto a economia olha essencialmente para frente, tentando prever e ‘precificar’, para
usar um anglicismo hoje parte do economês nacional, o futuro” (PINHEIRO, 2008, p. 21).

Referidas diferenças normalmente acarretam dificuldades no diálogo entre operadores do


Direito e economistas.

Todavia, consoante Bruno Meyerhof Salama, o Direito e a Economia apresentam pontos


comuns, pois ambos procuram solucionar problemas de coordenação, estabilidade e
eficiência na sociedade (2008, p. 49).

Preceitos jurídicos relativos aos custos do processo litigioso, normas legais e constitucionais
acerca da responsabilidade civil, direitos de propriedade e direitos contratuais, influenciam o

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crescimento econômico e constituem apenas alguns exemplos da relação entre o Direito e a
Economia.

2. As tradições do common law e do civil law

A aproximação entre o Direito e a Economia pode ainda ser verificada a partir dos debates
acerca das tradições de direito e da eficiência econômica, considerando que as normas
jurídicas são formuladas de acordo com a tradição jurídica de cada país, as quais são
classificadas em common law e civil law.

Numa análise microeconômica, Armando Castelar Pinheiro (2008, p. 20) expõe que
demandas judiciais como o despejo de um inquilino e a cobrança de um cheque, embora
sobremodo semelhantes, são tratadas de maneira consideravelmente destoante em diversos
países tanto quanto à regulamentação quanto ao trâmite no Judiciário.

O autor relata que estudos demonstram a diferente relação entre o Direito e a Economia nos
sistemas de civil e common law, bem como as repercussões de cada sistema para o
crescimento econômico (PINHEIRO, 2008, p. 20).

Cita como exemplo a medição do risco país pelas agências de rating, as quais avaliam
instituições jurídicas e a proteção destas aos direitos de propriedade privados. Essa medida
do risco influencia o custo de captação externa e as taxas de juros dos países.

“Mesmo quando o risco introduzido pela incerteza na interpretação de contratos não fora alto
suficiente para inviabilizar um determinado mercado, ele será repassado para os preços. O
banco cobrará um spread mais alto pelo maior risco de inadimplência, o investidor exigirá
um retorno mais alto para compensar o risco de expropriação, o empregador exigirá pagar
um salário mais baixo para cobrir o risco de ser acionado na Justiça do Trabalho”
(PINHEIRO, 2008, p. 44).

Os sistemas jurídicos repercutem nos fatores que determinam o desempenho econômico.


Ocorre a diminuição da eficiência alocativa da economia, quando os preços, no mercado de
bens e serviços, sofrem distorção diante da existência de risco jurídico (PINHEIRO, 2008, p.
29).

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Pesquisas já assinalaram que os países com sistemas jurídicos decorrentes da civil
law (tradição de direito romano-germânico) possuem baixo desempenho econômico, pois são
países que oferecem menor proteção jurídica aos investidores em razão do conteúdo das
normas jurídicas (direito material) e da forma de cumprimento destas (direito processual), o
que resulta em mercados de crédito e de capitais com menor desenvolvimento (SZTAJN;
GORGA, 2005, p. 145).

Desta forma, conforme referidos estudos, as regras jurídicas das nações de tradição
da common law, também denominado direito consuetudinário, concedem maior proteção a
acionistas e credores, pois “o resultado apontou que as normas jurídicas dos países de
direito consuetudinário são mais apropriadas para a maximização de riqueza total da
economia, isto é, são regras mais eficientes” (SZTAJN; GORGA, 2005, p. 146).

Porém, não obstante a conseqüência acima apontada decorrente da adoção da tradição da civil
law ou da common law, observa-se uma crescente posição doutrinária a qual defende a
ineficiência da tradição da common law, de modo que o direito consuetudinário inclusive
encontra-se em processo de progressiva codificação e de elaboração de leis (SZTAJN;
GORGA, 2005, p. 146).

Assim, na prática verifica-se um aumento da convergência entre as tradições da civil e


da common law, o que possibilita a adaptação de preceitos econômicos e jurídicos entre
diferentes países.

Isto porque mediante análise das diferenças e semelhanças entre institutos, conceitos e regras,
é possível auferir que em determinados casos os ordenamentos jurídicos possuem elementos
comuns e constantes embora provenientes de sistemas diversos, mormente em relação aos
direitos fundamentais.

No contexto atual, caracterizado pela globalização e pela evolução tecnológica, os países


exercem influências recíprocas nas suas relações econômicas e também nos seus
ordenamentos jurídicos, aproximando a civil law e a common law.

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Nesse aspecto, as eficiências e as ineficiências econômicas decorrentes de cada sistema
jurídico podem ser compartilhadas e adaptadas, com a expansão do entendimento do Direito
mediante a adoção de um ponto de vista externo e a utilização de um raciocínio econômico
(SZTAJN; GORGA, 2005).

Relevante, assim, a pesquisa acerca da literatura internacional decorrente do movimento


Direito e Economia, a respeito da análise econômica do Direito.

3. A origem do estudo conjunto das disciplinas

Ainda no que se refere à interação entre o Direito e a Economia, afirma-se que a análise
conjunta destas especialidades detém como importante marco a obra de Roland Coase. O
advogado norte-americano ganhou o Prêmio Nobel de Economia no ano de 1991
(VASCONCELLOS; GARCIA, 2012, p. 41).

Propiciou relevante crítica em relação à ortodoxa análise econômica ao evidenciar que, “ao
contrário do que inferem os neoclássicos tradicionais, as instituições legais impactam
significativamente o comportamento dos agentes econômicos” (ZYLBERSZTAJN;
SZTAJN, 2005, p. 2).

Roland Coase tratou das externalidades – impactos econômicos – positivas e negativas acerca
do consumo e produção, indagando se determinado indivíduo teria o direito de prejudicar
outro e como refrear sua ação quando prejudicial. Assim, para evitar o dano, poderia ser
infligido um custo, isto é, poderia ser atribuída uma responsabilidade (apud PINHEIRO;
SADDI, 2005, p. 102).

Como exemplo, o autor examina o caso de uma fábrica que polui um rio. Primeiramente
perquire se o bem produzido pelo empreendimento, apesar da poluição ocasionada, é mais
eficiente para a comunidade na medida em que gera empregos e impostos do que a cessação
das atividades da fábrica.

As obras de Guido Calabresi e Trimarcchi também fomentaram importantes discussões


acerca da relação entre Direito e Economia. O primeiro examinou a relação entre as
repercussões econômicas da alocação de recursos e a responsabilidade civil, inserindo pontos

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de vista econômicos em matéria jurídica. O segundo, ao adequar ao direito continental
europeu as normas estabelecidas para o sistema do direito consuetudinário, demonstrou a
possibilidade da adoção de critérios que provoquem nos indivíduos a procura por eficiências
alocativas (apud ZYLBERSZTAJN; SZTAJN, 2005, p. 1).

Referidos estudos demonstram que um apropriado tratamento jurídico também pode derivar
da análise de questões econômicas.

Por outro lado, um tratamento econômico adequado do mesmo modo requer sejam
ponderadas as questões jurídicas, “para não correr o risco de chegar a conclusões
equivocadas ou imprecisas, por desconsiderar os constrangimentos impostos pelo Direito
ao comportamento dos agentes econômicos” (ZYLBERSZTAJN; SZTAJN, 2005, p. 3).

4. Conceito de Economia

A economia centraliza-se na alocação de recursos produtivos limitados para satisfazer as


necessidades ilimitadas da sociedade. É conceituada como a ciência social que observa de
que forma a sociedade decide aplicar recursos produtivos escassos na produção de bens e
serviços, para distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, com o objetivo de
atender as necessidades humanas (VASCONCELLOS; GARCIA, 2012, p. 2).

De um modo mais claro, pode-se asseverar que esta disciplina estuda “como pessoas,
empresas, governos e outras organizações de nossa sociedade fazem escolhas e como essas
escolhas determinam a forma como a sociedade utiliza seus recursos” (STIGLITZ; WALSH,
2003, p. 8).

Desta forma, considerando que a economia fundamenta-se na alocação de recursos, como


problemas econômicos principais são formuladas as seguintes questões: o que e quanto
produzir, como produzir e para quem produzir (VASCONCELLOS; GARCIA, 2012, p. 2).

A primeira questão decorre da escassez de recursos, já que estes são limitados. Cabe a
sociedade escolher quais produtos e em que quantidade serão produzidos dentro das
possibilidades existentes.

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O segundo problema econômico refere-se à utilização dos recursos de produção. A
concorrência entre as empresas normalmente estimula a escolha por modos eficientes que
detenham o menor custo possível. Aqui se encontra a decisão quanto ao grau de uso da
tecnologia e da força de trabalho humano.

O terceiro diz respeito à distribuição dos resultados da produção. Trata-se da distribuição de


renda que depende não apenas da oferta e da demanda no mercado, mas também dos salários,
dos juros, dos benefícios do capital e da repartição e transmissão da propriedade.

A busca pela solução dos problemas econômicos fundamentais ocorre conforme o sistema
econômico adotado por cada país. Sistema econômico corresponde a forma de organização
econômica para a produção, distribuição e consumo, podendo ser classificado em: sistema
capitalista, também chamado de economia de mercado, ou sistema socialista, por vezes
denominado de economia centralizada. Algumas nações se organizaram adotando uma forma
intermediária entre estes dois sistemas (VASCONCELLOS; GARCIA, 2012, p. 4).

5. Análise econômica do Direito

Consoante exposto por Robert Cooter e Thomas Ulen, “a análise econômica do direito é um
assunto interdisciplinar que reúne dois grandes campos de estudo e facilita uma maior
compreensão de ambos” (COOTER; ULEN, 2010, p. 33).

A convergência dos fundamentos da Economia e dos fundamentos do Direito oportuniza a


compreensão do real sentido e da razão de ser da norma jurídica, pois a empresa, como agente
econômico e como sujeito de relações jurídicas, assume importante papel social. A
regulamentação jurídica pode influenciar empreendimentos econômicos ao fim de promover
o desenvolvimento e a mudança social.

A almejada justiça social, cuja busca encontra-se constitucionalmente traçada, insere-se na


ordem econômica e na ordem social, de modo que sua realização necessariamente detém
implicações econômicas e sociais.

É o que dispõe a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 170 ao estatuir que a ordem
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim

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assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, e no artigo 193
ao estabelecer que a ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o
bem-estar e a justiça sociais.

Desta forma, o Direito e a Economia detêm importantes papéis a serem cumpridos e


constituem partes integrantes do processo de desenvolvimento nacional.

Segundo Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos e Manoel Enriquez Garcia (2012, p. 42),

“[…] as normas jurídicas buscam, em última análise, regular as atividades econômicas, no


sentido de tornar os mercados eficientes (função alocativa) e buscar melhor qualidade de vida
para a população como um todo (função distributiva)”.

Assim, importantes concepções da teoria econômica podem ser relacionadas ou molduradas


em conformidade com as normas jurídicas, sendo ainda possível que para a solução de
relevantes e determinados problemas econômicos ocorram alterações no ordenamento
jurídico.

O interesse no estudo conjugado decorre do tradicional isolamento entre as áreas de


conhecimento da Economia e do Direito e das respectivas instituições acadêmicas brasileiras.
Normalmente, aqueles que atuam em cada um destes campos desconhecem as contribuições
que poderiam advir da área diversa, o que conduz as inevitáveis alterações para repensar a
abordagem separada, promovendo o estabelecimento de liames conceituais e originando
modos de comunicação entre as disciplinas (ZYLBERSZTAJN; SZTAJN, 2005).

Marcos Nobre expôs que o Direito, como disciplina acadêmica, não acompanhou o
qualitativo crescimento da pesquisa científica das outras disciplinas das ciências humanas.
Ainda em relação ao Direito, destacou a desconformidade da situação existente entre a
prática, a teoria e o ensino nacional (apud ARIDA, 2005, p. 60).

Ao tratar a respeito das organizações sob os aspectos econômicos e jurídicos, Oliver


Williamson sugere a interação entre as disciplinas no ensino do Direito (2005, p. 53):

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CONCLUSÃO

Apesar das conhecidas diferenças entre as disciplinas, o Direito e a Economia relacionam-se


em diversos pontos, como, por exemplo, quanto aos custos do processo litigioso,
responsabilidade civil, direitos de propriedade e direitos contratuais. Além disso, diante da
globalização e da conseqüente concorrência no mercado internacional, as disciplinas
encontram-se em crescente interação.

As discussões a respeito das diferenças entre os sistemas jurídicos da common law e da civil
law, com seus respectivos reflexos para o desenvolvimento econômico, também ressaltam a
importância da análise conjunta do Direito e da Economia, assim como os estudos
promovidos pelos autores Roland Coase, Guido Calabresi e Trimarcchi.

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Referências

ARIDA, Pérsio. A pesquisa em direito e em economia: em torno da historicidade da norma.


In: ZYLBERSZTAJN, Décio; SZTAJN, Rachel (Org.). Direito e economia – Análise
econômica do direito e das organizações. São Paulo: Campus, 2005
BRASIL. Constituição, 1988.
COOTER, Robert; ULLEN, Thomas. Direito & economia. Porto Alegre: Bookman, 2010.
PINHEIRO, Armando Castelar. Direito e economia num mundo globalizado: cooperação ou
confronto? In: TIM, Luciano Benetti (Org.). Direito & economia. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2008.
PINHEIRO, Armando Castelar; SADDI, Jairo. Direito, economia e mercados. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2005.

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