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A interrelação do Direito com a Economia

A interrelação entre as disciplinas pode ser visualizada em diversas questões, pois os sistemas
jurídicos refletem nos fatores que determinam o desempenho econômico e, assim, quanto aos
temas que possuem efeitos socioeconômicos, mostra-se oportuna a abordagem multidisciplinar, a
qual propicia a eficiência econômica e o desenvolvimento social.
A relação entre o Direito e a Economia iniciou fortemente nos Estados Unidos onde a disciplina
passou a incluir a grade curricular do curso de Direito das mais destacadas Universidades.
O Direito é verbal, hermenêutico, almeja a justiça e analisa questões sob o enfoque da
legalidade. A Economia, embora também verbal, é primordialmente matemática, almeja ser
científica e examina questões tendo em vista o custo.
O Direito muitas vezes preocupa-se com o retorno ao status quo ante, ao passo que a Economia
focaliza o futuro para se antecipar.
“[...] a justiça olha mais para trás na tentativa de reconstituir um estado anterior das artes,
enquanto a economia olha essencialmente para frente, tentando prever e ‘precificar’, para usar um
anglicismo hoje parte do economês nacional, o futuro” (PINHEIRO, 2008, p. 21).
Referidas diferenças normalmente acarretam dificuldades no diálogo entre operadores do Direito e
economistas.
Preceitos jurídicos relativos aos custos do processo litigioso, normas legais e constitucionais
acerca da responsabilidade civil, direitos de propriedade e direitos contratuais, influenciam o
crescimento econômico e constituem apenas alguns exemplos da relação entre o Direito e a
Economia.
A globalização, também caracterizada pelo processo de integração econômica internacional que
envolve contratos e regulamentações, ressalta a necessidade de integração entre as disciplinas.
Em razão da concorrência no mercado internacional desencadeada pela globalização, o Direito, ao
regulamentar a produção de bens e a prestação de serviços, e a Economia, ao buscar formas ou
modelos econômicos adequados a um melhor desempenho diante da competição, encontram-se
em progressivo intercâmbio.
Consoante exposto por Robert Cooter e Thomas Ulen, “a análise econômica do direito é um
assunto interdisciplinar que reúne dois grandes campos de estudo e facilita uma maior
compreensão de ambos” (COOTER; ULEN, 2010, p. 33).
A convergência dos fundamentos da Economia e dos fundamentos do Direito oportuniza a
compreensão do real sentido e da razão de ser da norma jurídica, pois a empresa, como agente
econômico e como sujeito de relações jurídicas, assume importante papel social. A regulamentação
jurídica pode influenciar empreendimentos econômicos ao fim de promover o desenvolvimento e a
mudança social.
A almejada justiça social, cuja busca encontra-se constitucionalmente traçada, insere-se na
ordem econômica e na ordem social, de modo que sua realização necessariamente detém
implicações econômicas e sociais.
É o que dispõe a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 170 ao estatuir que a ordem
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar
a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, e no artigo 193 ao estabelecer
que a ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça
sociais.
Desta forma, o Direito e a Economia detêm importantes papéis a serem cumpridos e constituem
partes integrantes do processo de desenvolvimento nacional.
Segundo Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos e Manoel Enriquez Garcia (2012, p. 42),
“[...] as normas jurídicas buscam, em última análise, regular as atividades econômicas, no sentido
de tornar os mercados eficientes (função alocativa) e buscar melhor qualidade de vida para a
população como um todo (função distributiva)”.
Assim, importantes concepções da teoria econômica podem ser relacionadas ou molduradas em
conformidade com as normas jurídicas, sendo ainda possível que para a solução de relevantes e
determinados problemas econômicos ocorram alterações no ordenamento jurídico.
Portanto, a busca pela justiça social necessariamente perpassa pelas perspectivas da Economia
e do Direito para tratar de modo adequado diversos problemas sociais, pois a divisão entre estas
antigas disciplinas pode não ser benéfica à sociedade.
Para tanto, a análise econômica do Direito, deve expressar uma contínua evolução apta a
propiciar o desenvolvimento social e a eficiência econômica.
O interesse no estudo conjugado decorre do tradicional isolamento entre as áreas de
conhecimento da Economia e do Direito e das respectivas instituições acadêmicas brasileiras.
Ao tratar a respeito das organizações sob os aspectos econômicos e jurídicos, Oliver Williamson
sugere a interação entre as disciplinas no ensino do Direito (2005, p. 53):
“[...] recomendo que o enfoque dominante da Análise Econômica do Direito possa beneficiar-se
com a incorporação das lições e de alguns métodos da Análise Econômica do Direito e das
organizações – naquilo que tem a oferecer para a formulação de políticas públicas e para o
currículo das faculdades de Direito”.
Desta forma, relativamente a diversos temas que geram efeitos socioeconômicos mostra-se
oportuno estimular uma análise crítica à luz dos fundamentos doutrinários que permeiam a
Economia e o Direito, o que pode melhor adequar a robusta literatura existente em cada área à
realidade nacional, pois configuram disciplinas congruentes.

Referências
BRASIL. Constituição, 1988.
COOTER, Robert; ULLEN, Thomas. Direito & economia. Porto Alegre: Bookman, 2010.
PINHEIRO, Armando Castelar. Direito e economia num mundo globalizado: cooperação ou
confronto? In: TIM, Luciano Benetti (Org.). Direito & economia. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2008.
PINHEIRO, Armando Castelar; SADDI, Jairo. Direito, economia e mercados. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2005.
VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de; GARCIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de
economia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
WILLIAMSON, Oliver. Porque Direito, economia e organizações? Trad. de Decio Zylberstajn. In:

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