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DIREITO ECONOMICO COMO RAMO DO DIREITO

Trabalho em Grupo de Direito Economico

Administração Pública-Instituto Superior de Relações Internacionais

INTRODUÇÃO

O direito económico surgiu em primeira instância em Alemanha, com a constituição de Weimar,


constituição essa que foi a primeira a abordar questões de natureza económica na sua integra.
Emergindo assim, um conjunto de normas juridicas que regula-se a actividade economica, no
que respeita a questões de oferta e demanda.

Acredita-se que, a primeira constituição económica em Moçambique, emergiu aquando da


edificação do Estado Moçambicano em 1975, com o alcance da independência.

O trabalho tem por propósito elucidar o direito económico como ramo do direito. Este trabalho
emerge da cadeira de Direito Económico, para efeitos de avaliação.

A razão da existência de uma disciplina de direito económico nas universidades Moçambicanas


resulta da importância, senão mesmo da necessidade de se considerar este ramo de direito
importante e de utilidade didáctica na definição de estudo da ordenação ou regulação jurídica
especificas (ALFREDO, 2010:37).

Para a materialização da pesquisa trar-se-á a tona os conceitos fundamentais para o presente


trabalho, a origem do direito económico, sua natureza e objecto, o seu lugar como ramo de
direito e a sua autonomia relativamente a outros ramos de direito.

1
REVISÃO DA LITERATURA

O presente trabalho tem por tema: ʺDireito económico como ramo do direitoʺ. Para efeito de sua
compreensão, torna-se essencial a apresentação alguns conceitos básicos, que não podem ser
ignorados quando fala-se de direito económico:

Direito: é a ciência jurídica que estabelece um conjunto de normas que norteiam a vida em
sociedade, assistido de uma protecção coactiva.

Economia: “(...) é o estudo da forma como as sociedades utilizam recursos escassos para
produzir bens com valor e como os distribuem entre pessoas diferentes
(...)”(NORDHAUS,2005:4).

Por um lado tem-se o direito que estabelece um conjunto de normas, e por outro tem-se a
economia que estuda a gestão dos recursos escassos . Essas duas ciências precisam ambas uma
da outra, ou seja, existe a necessidade duma interpenetração entre o direito e economia.

Isto implica que, segundo MONCADA (2003:97), os juristas que criam, interpretam ou aplicam
as normas de direito público da economia, devem conhecer as áreas nucleares das ciências
económicas, pois só assim poderão prever as repercussões económicas das orientações jurídicas
adoptadas.

Este autor acrescenta que: o jurista que tende dar ordenação a vida económica, deve conhecer os
princípios de eficácia económica e as leis da economia1.

De igual modo elucida o autor que, o economista deverá fazer apelo ao jurista de modo a ter a
percepção de como se vai montar a máquina institucional e operativa de apoio as atitudes
económicas que irá patrocinar2.

Para ALFREDO (2010:24) a interpenetração entre essas duas ciências é explicada a partir da
necessidade recíproca entre elas e que manifesta-se no mundo contemporâneo. Sendo que,
segundo este autor qualquer economia para funcionar de forma harmoniosa, necessita de um
conjunto de regras que assegurem a adequada apropriação e uso de factores de produção numa
sociedade organizada.
1
Só deste modo o jurista obterá a aderência necessária entre as normas da realidade
2
Pois só desta forma elas poderão moldar eficazmente a vida económica e social. O D.P.E. Explicitando a sua
matriz interdisciplinar, afirma-se como o ponto de encontro do direito e da economia, do publico e do privado.

2
Por sua vez, a economia exerce influência no direito e no seu sistema dada a forma e os anseios
do direito. Ibidem (2010:24).

Assim, uma vez que, a economia e o direito exercem influências um sob o outro e penetram um
no campo de actuação do outro, houve a necessidade de unificar essas duas ciências dando
origem a uma ciência que regula-se a actividade económica, ou seja, dando força normativa a
economia, no sentido de estabelecer princípios e regras de uso de factores de produção.

A ciência que adveio da relação estabelecida entre essas duas ciências deu-se o nome de: direito
económico, ou ainda direito público da economia como designam alguns autores.

Direito económico

É segundo ALFREDO (2010:36), “(..) um conjunto de normas jurídicas que regulam a


actividade econômica na perspectiva do interesse da sociedade através das relações que se
estabelecem entre o Estado e os privados, tendo como fim último o bem-estar social(...)”.

Para FERREIRA (2001), D.E. “(...) é um sistema de disposições jurídicas que estuda poder
públicos, privados e de natureza mista, no âmbito de uma função normativa de enquadramento
global da actividade econômica, ordenando-a e regulando-a para garantir o interesse
econômico geral(...)”.

Portanto, D.E. É um sistema que estabelece normas jurídicas destinadas a regular as relações
estabelecidas entre os agentes econômicos quer sejam eles públicos ou privados, a salvaguarda
dos interesses da sociedade.

Origem do D.E.

Falar do D.E como disciplina jurídica implica a enunciação de dois problemas, o primeiro dos
quais refere-se a sua relação com a economia, enquanto fenómeno de vida social e disciplina do
quadro das ciências sociais e humanas que estudam esses fenómenos. O segundo problema é de
âmbito interno que tem o intuito de buscar as razões que justificam a emergência deste ramo do
Direito e que implicações o seu aparecimento traz no quadro dos outros ramos jurídicos
clássicos3.

3
SANTOS, António Carlos dos, GONCALVES, Maria, MARQUES, Maria. Direito económico, 5ª edição almedina, coimbra,
Janeiro de 2008. Pg. 7

3
Antes da primeira grande guerra era desconhecida a expressão “direito económico”. O conceito
de D.E. autonomicamente delimitado aparece em 1917.

Mas, os fenómenos de carácter económico e social que originaram esta nova matéria jurídica,
vinham produzindo-se já desde os meados do século XIX. Foi neste século que surgiu a chamada
economia de mercado clássico ou liberal (ALFREDO. 2010:26).

Com as transformações de ordem liberal clássica, surgem formas especificadas de regulação


pública da economia dado origem a um conjunto de normas, princípios e instituições que regem
a organização e direcção da actividade económica, dispondo limites, condicionando ou
incentivando os agentes económicos com o objectivo de colmatar as insuficientes disfunções do
direito privado clássico4.

Ainda segundo este autor, o D.E. surgiu em países, como o México, Alemanha, frança, Portugal,
em períodos diferentes, porém marcados todos pelo fim da IGM.

O D.E. Evidenciou-se com o surgimento da primeira C.E. que inseria questões de vida
económica como objecto da lei fundamental, trata-se neste caso da constituição de Weimar de
1919.

O que não significa que antes da consagração dos princípios e regras jurídicas de vida económica
para a gestão da vida econômica, ou melhor, a consagração desses princípios numa constituição
não existisse uma regulação na vida económica. Desde sempre houve uma regulação na
economia, porém, duma forma menos interventiva por parte do Estado, onde somente com a
consagração da constituição econômicas evidenciou-se a abordagem de tais questões.

DIREITO ECONMICO COMO RAMO DO DIREITO

Sendo o DE um ramo de direito de formação recente, importa precisar quais os seus fundamentos
e condições sociais e teóricas (SANTOS & all, 2008:9).

A interação entre o direito e a economia revela-se de diferentes formas, face à intervenção cada
vez mais forte do Estado na actividade econômica, ora como agente econômico, ora como agente
regulador. Facto que leva com que alguns autores defendam a teoria de que o DE deixou de ser
um ramo de direito que só se dedica à vida econômica, mas sim, um ramo que tem como objecto
de regular toda a economia5.

4
FERREIRA, Eduardo paz, direito da economia, 1ª edicao; AAFDL; Lisboa 2001;

5
Por esta razão tanto pode-se identificar e defender o DE como o direito da economia.

4
Na perspectiva de MONCADA apud ALFREDO (2010, 34-35), esta noção de DE, caso se
adoptasse alargaria demasiadamente o âmbito de actuação do DE.

Havendo, neste sentido, a necessidade de delimitar o âmbito de actuação do DE como forma de


abranger aspectos específicos do direito relativo à economia para não extravassar o âmbito real
da actuação deste ramo do direito.

Como disciplina e ramo do direito, o direito económico fundamenta-se em três pressupostos6:

 Mesmo as economias de mercado sob orientação mais liberalizante não são mero produto
de funcionamento automático de leis econômicas, ou seja, das leis de mercado
asseguradas por um direito privado que se limitava a garantir a propriedade privada e a
possibilitar o funcionamento da ordem econômica na base da autonomia privada e da
liberdade negocial.

Com as transformações de ordem liberal clássica, surgiram, com efeito, forma especifica de
regulação pública da economia, dando origem a um conjunto de normas, princípios e instituições
que regem a organização e direcção da actividade econômica nas suas diversas manifestações,
impondo limites, condicionando ou incentivando os agentes económicos mesmo alterando, de
um ponto de vista estrutural algumas tendências que resultam do livre funcionamento do
mercado; os

 Com a multiplicidade e complexidade dos agentes econónicos as próprias entidades


privadas passarão a produzir normas por delegação pública ou no âmbito da sua esfera de
autonomia ainda resultante de negociação ou concertacao com os poderes públicos,
normas essas cuja natureza se discute, mas cujo conhecimento se torna imprescindível
para se compreender a organização e funcionamento de múltiplos sectores de actividade,
senão mesmo da globalidade de modernos sistemas económicos.
 Complexidade das relações entre o sistema econômico e os sistemas jurídicos e político,
descobre-se que o sistema econômico é também uma questão de poder em relação a qual
os sistemas políticos e jurídicos não podem ficar indiferentes.

No entanto, segundo ALFREDO (2010:35), devem-se saber se o campo ou espaço normativo


que hoje se designa DE confirma um verdadeiro ramo de direito, e, em caso afirmativo, como se
posiciona ele perante os outros ramos do direito existentes.

SANTOS, A.C. & all; Direito economico; 5ª edicao; Almedina 2008 .


6

5
Este autor acrescenta que, o DE7 como ramo de direito não é estanque precisa de normas de
outros ramos de direito, a partir da reavaliação de princípios e regras temáticas que formam o
direito e que pretendem normais aspectos da vida económica numa dada sociedade.

ALFREDO (2010:36) acresce que o DE como ramo do direito público tem por objectivo o
estudo das relações entre os utentes públicos e privados na perspectiva da intervenção do Estado
na economia, tendo como fim último, o bem estar comum.

Neste sentido, segundo este autor, o direito econômico como ramo de direito é autônomo e
relevante nos estudos desencadeados em universidades, pois, este permite que perceba-se o modo
de funcionamento e comportamento das normas jurídicas face a actividade econômica.

O direito económico, é independe no quadro jurídico com relação às outras ciências, apesar
destas em alguma medida abordarem igualmente questões econômicas, o que lhes distingue é o
facto do direito econômico referenciar tais questões numa perspectiva micro.

NATUREZA E OBJECTO DO DE

Natureza

A natureza jurídica do DE não é de fácil abordagem, devido aos preconceitos a volta do assunto,
isto é, os estudiosos divergem na apresentação e/ou abordagem da natureza e objecto do DE.

Para uns, o DE não passa de uma adaptação ou aditamento de normas tradicionais que regem a
actividade económica8.

Para outros estudiosos, o DE é um ramo de direito autônomo, perante a especificidade de


matérias que trata a sua complexidade.9

ALFREDO (2010:38) refere que todo direito tem uma dupla abordagem:

 Estrutural: relaciona-se com o conteúdo de regra juridica;


 Funcional: trata da intensidade de sua aplicação.

7
Surgiu muito recentemente no século XX, sendo uma disciplina de direito que visa cobrir entre outros, os aspectos normativos
das relações entre o Estado e os particulares no âmbito da actividade económica.

8
Ibidem(2010:37).
ALFREDO, Benjamim; noçoes de direito administrativo; 1ª edicao; Maputo; 2010 ;
9

6
ALFREDO realça que, pode-se afirmar que, a natureza jurídica do DE encontra-se entre o
público e o privado, dependendo sobremaneira da intensidade das formas de intervenção.

Portanto, o direito econômico, é de natureza mista, ou declina mais para o público, ou para o
privado devido a grau da intervenção do Estado na economia, através dos seus agentes quer
sejam eles públicos ou privados.

Objecto
Na perspectiva de FERREIRA (2001) o direito da economia tem como objecto de estudo a
ordenação ou regulação jurídica especifica da organização e direcção da actividade econômica
pelos poderes públicos e/ou pelos poderes privados, quando doptados de capacidade de editar ou
contribuir para a edição de regras com carácter geral, vinculativas dos agentes económicos.

Para ALFREDO (2010:38) O Direito econômico, apresenta os seguintes aspectos:

 Preenche o espaço jurídico entre o direito público e o privado;


 Visa disciplinar a vida econômica;
 Regula e orienta a actividade económica, quando as normas de outros ramos de direito
não se mostram adequadas para o efeito.

AUTONOMIA DO DIREITO ECONOMICO

Na abordagem sobre a autonomia do direito econômico, deve-se considerar duas questões que
vão necessariamente perspectivar a compreensão do tema10:

1. A negação do direito económico, como disciplina jurídica autónoma à luz dos objectivos
que pretende atingir;
2. Aceitar se de facto o direito econômico é uma disciplina nova e como tal poderá ser
considerado um ramo de direito autônomo.

Não se pode recusar que o direito econômico tem de facto uma posição e lugar próprio dentro
dos princípios e regras que orientam outros ramos de direito.

Negar a autonomia do DE econômico pelo facto de alguns autores defenderem que trata-se de
um ramo cuja codificação é inexistente, ou porque possuem normas dispersas e não possui uma
jurisdição própria ou pelo facto de usar distintamente normas de direito publico e de direito
privado para regular a actividade econômica, é um equivoco (ALFREDO, 2010: 40). Defende

ALFREDO, Benjamim; noçoes de direito administrativo; 1ª edicao; Maputo; 2010 ;


10

7
que, como disciplina nova, o direito econômico, deve ser compreendido a partir de seu objecto
especifico.

O direito económico como ramo do direito autônomo é uma diagonal - uma transversal - que
corta os vários ramos das normas que regulam a matéria econômica11.

Para MONCADA (2003:93) O direito público economia é considerado como disciplina cientifica
autônoma, pois, esta patente nele a necessidade de coloração e investigação interdisciplinar de
juristas e economistas. A autonomia do DPE permite o tratamento capaz dos problemas que
aquela interdisciplinaridade levanta.

11
MONCADA (2003:93).

8
CONLUSÃO

Findo o trabalho conclui-se que: o direito económico surgiu da fusão entre o direito e a
economia, ou seja, da necessidade de estabelecerem-se normas jurídicas que regulassem a
actividade económica.

Nesta perspectiva, o direito económico surgiu em primeira instância em Alemanha, com a


constituição de Weimar, constituição essa que foi a primeira a abordar questões de natureza
económica na sua integra. Emergindo assim, um conjunto de normas jurídicas que regulasse a
actividade económica, no que respeita a questões de oferta e demanda.

Acredita-se que, a primeira constituição económica em Moçambique, emergiu aquando da


edificação do Estado Moçambicano em 1975, com o alcance da independência.

O direito económico como ramo do direito é extremamente recente tendo emergido no século
XX, é, no entanto um ramo do quadro jurídico, pois, apesar desde abordagem questões
econômicas, este os aborda de forma micro, dai o seu reconhecimento como ramo do direito.

O direito económico é autónomo no que respeita a sua relação com as outras ciências jurídicas,
sendo que não se pode afirmar categoricamente que este é público ou privado, isto porque esta
ciência jurídica aborda simultaneamente questões tocantes a economia privada, pública e de
natureza mista.

No entanto, o posicionamento mais viável de assumir-se é que o direito económico é uma ciência
jurídica de natureza mista.

9
BIBLIOGRAFIA
ALFREDO, Benjamim; noções de direito administrativo; 1ª edição; Maputo; 2010;

FERREIRA, Eduardo paz, direito da economia, 1ª edição; AAFDL; Lisboa 2001;

MONCADA, L.S.C. Direito económico, 4ª edição; Coimbra 2003;

MONCADA, L.S.C. Direito económico; coimbra editora 1988;

NORDHANS, Samuelson; economia; 18ª edicao MCGRAW-HILL, 2005;

SANTOS, A.C. & all; Direito economico; 5ª edicao; Almedina 2008.

10
indice
INTRODUÇÃO...........................................................................................................................................1
REVISÃO DA LITERATURA...................................................................................................................2
Direito.....................................................................................................................................................2
Economia.................................................................................................................................................2
Direito económico...................................................................................................................................3
Origem do D.E.....................................................................................................................................3
DIREITO ECONOMICO COMO RAMO DO DIREITO...........................................................................4
Natureza..................................................................................................................................................6
Objecto....................................................................................................................................................7
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................................10

11

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