br | Jus Navigandi
Walace Ferreira
Resumo: Este artigo de teoria política faz uma análise da relação entre Platão,
Aristóteles e Hobbes no que se refere aos temas da justiça e do direito. Ambos são
temas relevantes para a teoria política, pois tratam de questões de ordem e
segurança, aspectos que envolvem política em sentido amplo. Platão e Aristóteles
representam a base da idéia de justiça no mundo ocidental, de maneira que
podemos encontrar ali o direito como mecanismo social responsável por um tipo
de ajustamento das relações sociais e políticas. Já Hobbes, contratualista
importante da idade moderna, é considerado por alguns como o precursor do
positivismo jurídico, embora o direito natural também seja grandiosamente
evidente em sua teoria. Com isso, procuro pensar as aproximações e
distanciamentos entre estes três autores clássicos, numa articulação teórica
pretensamente possível.
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 1/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
(Thomas Morus)
1. INTRODUÇÃO
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 2/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
Com isso, de modo a encarar essa temática, justiça e direito, seleciono três
autores de inquestionável importância para a teoria política: Platão e
Aristóteles – pertencentes à antiguidade clássica, e Thomas Hobbes –
expoente dos primórdios daquilo que chamamos modernidade. Procuro discutir
como justiça e direito aparecem em cada um deles, além de investigar as eventuais
proximidades e distanciamentos entre os três autores. A escolha se dá menos pelo
fortuito e mais pelas suas contribuições para o pensamento ocidental acerca
desses temas. Platão e Aristóteles representam a base da idéia de justiça no mundo
ocidental, de maneira que podemos encontrar ali o direito como mecanismo social
responsável por um tipo específico de ajustamento das relações sociais e políticas.
Cada um, no entanto, teve a sua peculiaridade.
Platão foi o filósofo político do mundo ideal, aquele que concebeu nos filósofos a
sapiência do conhecimento da justiça para fins de promoção do bem-estar da
pólis. Nele, a justiça, tema central do diálogo da República, viria do plano ideal, e
como seria privilégio dos sábios conhecê-la, estes seriam aqueles que deveriam
assumir o poder da cidade e distribuir as funções sociais conforme um padrão de
justiça voltado para o que entendem como “bem comum”. Seriam estes os
responsáveis por elaborar as leis, promovendo uma espécie de direito estranho ao
olhar contemporâneo, principalmente porque o direito platônico se assemelhava e
se confundia com a moral. De maneira diferente, Aristóteles percebia a justiça
como algo presente na ordem natural das coisas, visto que a natureza tem uma
finalidade, que é a justiça, mas que só se efetivaria na prática social. A realização
da justiça seria confirmada ou não a partir de uma complexa distribuição de
cargos e bens sociais. Aqui, também se procura uma distinção entre justiça e
direito, o que Aristóteles conseguiu em seu livro Ética a Nicômacos. Mas não
somente aí ele tratou da relação entre justiça e direito. Assim, é na Política que,
pondo em prática sua filosofia da justiça, Aristóteles procurou descobrir quais
poderiam ser as melhores constituições, adaptadas à essência do homem e às
condições variáveis da vida social. E é na Retórica, um tratado de arte oratória,
que Aristóteles dá um amplo espaço para a eloqüência judiciária, em que estuda os
argumentos de que os advogados podem fazer uso. Com efeito, foi a partir da
concepção de justiça em Platão e Aristóteles que boa parte do direito romano se
ergueu, especialmente com a contribuição de Aristóteles e a idéia de uma justiça
construída nas relações sociais que deveria estar de acordo com valores morais
relacionados a tal justiça geral contida na natureza[1]. A parir daí, o direito romano
também teve enorme influência na formação do direito europeu moderno, o
chamado direito romano-germânico, cuja influência permanece até hoje[2].
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 3/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
a “guerra de todos contra todos”, provocada por seres egoístas por natureza, onde
o direito estava subjetivado em cada um, permitindo-lhes todas as satisfações
pessoais, de modo que cada homem seria o lobo do outro homem. Na condição
natual, não faria sentido se falar em justiça, diz Hobbes, pois todos possuíam uma
igualdade de direitos. Só em estado de socieadade, responsável pela garantia da
segurança e da paz, é que surgem leis positivadas, e passa a se fazer sentido a
incorporação de uma concepção formulada de justiça, marcada pelo cumprimento
das regras do pacto. Esse pacto inclui um poder coercitivo que obriga a todos o seu
cumprimento. A partir dele, cada indivíduo recebe o que é seu, algo parecido com
a proposta de Aristóteles, contudo em Hobbes as leis sociais surgem junto da
propriedade e de os outros direitos positivos.
Para este contratualista, uma vez que o poder tenha sido concedido ao soberano,
permitindo-lhe exigir obediência por parte dos seus súditos, consideram-se
injustos os atos que porventura violem a legitimidade do Estado, que terá o aval da
punição conforme suas leis estatuídas. Nesse sentido, evidencia-se nesse autor
uma importante contribuição ao universo jurídico, já que em sua doutrina as leis
são responsáveis pelo convívio harmônico e pacífico entre os homens, na qual o
conceito de justiça é fruto da racionalidade humana e é exposto de forma a
garantir a legitimidade do arcabouço jurídico estabelecido com o contrato social.
Por essa defesa do papel coercitivo do Estado-Leviatã, em que a soberania estaria
centrada num poder unitário voltado para a segurança, Hobbes é considerado por
alguns como o precursor do positivismo jurídico, embora o direito natural
também seja grandiosamente evidente em sua teoria.
Platão surge como uma reação aos sofistas, e, como uma reação à própria cidade
grega da qual é fruto. Aos sofistas, criticava-os de venderem suas argumentações
aos estudantes da época, acusando-os de venderem uma ciência não real, apenas
aparente. Nisso, Platão pegou um gancho nas críticas de Sócrates aos sofistas
segundo as quais esses últimos desprezariam algumas discussões feitas pelos
filósofos e desrespeitariam a verdade e o amor pela sabedoria, na medida em que
reduziam complexas argumentações reflexivas em discursos transformados em
objetos de cobranças de taxas. Em relação à cidade, Platão a questiona em suas
ideologias, alegando que esta teria matado a sabedoria do conhecimento no
momento em que seus agentes condenaram seu maior mestre, Sócrates. Este, ao ir
certa vez ao Oráculo, teria ouvido a representação da sapiência humana, o
“conhece-te a ti mesmo”, que o teria levado a conclusão pessoal expressa na
seguinte máxima: “tudo o que sei é que nada sei”. Aqui residia a maior virtude
humana segundo Sócrates, que por isso, seria condenado à morte por
envenenamento com cicuta: constituir a sabedoria a partir de uma eterna auto-
reflexão questionadora, em que a verdade é vista como relativa e transitória
(Villey, 2005). Platão, seu discípulo, confiava no mestre, e via nessa negação do
saber definitivo a maior dentre todas as virtudes. A condenação de Sócrates,
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 4/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 5/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
definição, a tarefa do direito seria alcançar o bem, que aqui se coaduna com a
interpretação de justiça. Ao mesmo tempo, o direito não teria a finalidade de levar
a ordem e a segurança, tal como em Hobbes, numa solução que nos remeteria ao
positivismo jurídico, mas de ajudar na promoção do bem comum. Eis uma
primeira diferença considerável que podemos detectar na contraposição entre
Platão e Hobbes.
Está no livro VII da República (1996) a famosa alegoria da caverna onde Platão
descreve metaforicamente o percurso do grande rei-filósofo ao encontro do
conhecimento da justiça ideal. Na história contada, os prisioneiros da caverna
vêem apenas as sombras das coisas. É por meio de uma ascensão – que representa
a dialética platônica – que um deles escapa da caverna e consegue perceber as
verdadeiras coisas e o sol que as ilumina, aqui metaforizada pelas idéias de bem,
justiça, verdade – ou seja, as grandes virtudes. Num primeiro momento, a forte luz
lhe causa forte impacto, mas logo ele se maravilha com tudo o que pode ver para
além das sombras vivenciadas nos tempos da caverna. O ex-prisioneiro, após a
formidável experiência, não aceita mais retornar à caverna e sua intenção passa a
ser libertar todos os prisioneiros remanescentes na caverna. Isso significa que se
trata de escapar do mundo das aparências sensíveis percebidas pelo corpo, esse
entrave ao verdadeiro conhecimento, para elevar-se ao mundo das idéias
inteligíveis. Eis o método que se impõe ao homem político para a descoberta do
justo, e a libertação da polis de todos os seus vícios[3].
Platão define que a tarefa do jurista é a de buscar o justo, algo impossível de ser
descoberto por qualquer sujeito. Somente aqueles capacitados a conhecer o
mundo das Idéias e do inteligível seriam capazes de conhecê-lo. Não obstante, o
processo de descoberta das leis justas se mostra bastante complexo em sua obra,
pois seria ao longo de uma longa ascese purificadora, que, apaixonado pelo mundo
das idéias, o filósofo descobriria as leis. Essa ascese purificadora, que tem a ver
com a lógica da ascese da caverna, é mais bem explicada por Platão através da
teoria da “reminiscência”, elucidada de forma metafórica a partir do mito de
Er[4], presente na obra A República. Este mito nos indica que conhecer as coisas
é fruto de uma habitação que se dá em outro tempo e lugar, também chamado
mundo das almas. Por isso consiste em recordar a verdade que já existe em nós, ou
seja, é despertar a razão para que ela se exerça por si mesma.
Por isso, Platão justifica o fato de Sócrates fazer perguntas sobre as coisas, visto
que através delas as pessoas poderiam lembrar-se da verdade e do uso da razão. Se
não nascêssemos com a razão e com a verdade, indagava o filósofo, não
saberíamos que temos uma idéia verdadeira a respeito das coisas, tampouco a
buscaríamos através da reflexão. Na República, Platão falou sobre os defeitos de
qualquer legislação escrita, já que seria o rei-filósofo, ao longo de uma longa
ascensão dialética, o sujeito capaz de definir as melhores leis para a cidade
conforme o ideal de justiça. O ordenamento jurídico platônico deveria
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 6/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 7/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
É nessa parte que aparece a construção do direito, haja vista a constatação de que
analisar a justiça particular, enquanto a aplicação objetiva do justo,
corresponderia a definir a arte do direito. Além disso, avança Aristóteles, a virtude
das ações particulares está no ato de não se ficar nem com mais nem com menos
do que lhe corresponde, de maneira que a sociedade assista a uma bem realizada
repartição dos bens e das cargas, conforme a lógica do meio-termo. No
funcionamento da distribuição dos elementos sociais, Aristóteles lança mão de
dois conceitos de aplicação prática da justiça particular: a justiça distributiva e a
justiça comutativa. A primeira delas, a justiça distributiva, está relacionada ao
ofício primeiro da promoção da justiça numa comunidade, que consiste na
procedência da distribuição dos bens, das honras e dos cargos públicos entre os
homens da pólis. Nessa distribuição, dever-se-ia observar a devida finalidade da
repartição para a conjuntura social em que se encontra, e a relação dos sujeitos
com essa finalidade, ou seja, se os sujeitos se utilizarão dessas atribuições de
forma a beneficiar o coletivo. Na justiça distributiva, efetuada no cumprimento da
justiça particular, deve-se levar em conta o princípio da proporcionalidade. A
justiça na vida real, a tal justiça particular, é para Aristóteles, portanto, uma das
espécies do gênero proporcional; ao contrário, a injustiça é exatamente aquilo que
viola o princípio da proporcionalidade. No caso do pagamento de um imposto, por
exemplo, seria uma ação justa o pagamento exato da cota-parte do indivíduo, nem
mais, nem menos. Como nos diz o autor:
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 8/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
fato de uma coletividade possuir diversas classes de sujeitos. Existem o pai, o filho,
o patrão, o empregado, enfim, diversas classes de sujeitos nas relações sociais, de
modo que o primeiro critério na distribuição seria dar a cada um conforme a sua
importância para a coletividade; 2) A capacidade das pessoas em relação aos
encargos, fator que se refere à distribuição conforme a capacidade do indivíduo
em relação ao todo social. Seria o caso, por exemplo, de quem ganha mais pagar
mais impostos, e que ganha menos pagar menos tributos; 3) Aportação de bens à
coletividade, critério que procura atribuir mais benefícios a quem contribui mais à
sociedade. Quem trabalha mais, por exemplo, deveria receber um salário maior,
haja vista sua maior contribuição com o grupo social; 4) A necessidade, devendo
se considerar a necessidade dos sujeitos como um dos critérios palpáveis na
distribuição social. Significa dar mais a quem mais necessita. Contudo, ressalta
Aristóteles que esse critério só é justo quando está de acordo com as finalidades da
coletividade e combina com os outros critérios, pois se não poderá ser confundido
com misericórdia ou solidariedade, e não como propósito de justiça.
Passando agora para a justiça comutativa, esta outra forma de justiça particular
refere-se ao zelo pela retidão das trocas, ou seja, pela igualdade aritmética em
matéria de intercâmbio de bens. Partindo do pressuposto de que os bens, as
honrarias e os cargos públicos foram previamente distribuídos de maneira
proporcional, a função do juiz, por exemplo, seria calcular uma restituição igual ao
dano que o indivíduo sofreu, de modo a readequar as posições dentro da ordem
redistributiva. Dificilmente se garantirá a estabilidade em qualquer ordenamento
social, reconhece Aristóteles, ou seja, os conflitos acabarão existindo. A pólis é
formada por homens livres, com interesses distintos surgidos nas relações sociais,
disputando entre si honrarias e bens, daí a necessidade de haver uma instituição
que resolva os impasses, tal como se apresenta o direito positivo, com suas leis e
agentes.
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 9/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
indivíduos. Seria o exemplo do direito penal, cuja função não consiste em evitar o
homicídio, o roubo ou qualquer outro tipo de crime – visto que essas proibições
competem à moral – mas apenar quem os comete, dando-lhe a pena devida e
proporcional ao seu crime. Seria uma forma de readequação da ordem geral,
portanto.
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 10/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 11/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
Contudo, junto deste desejo desenfreado pela busca das próprias satisfações, os
homens também são portadores de um inato instinto de conservação, que também
os governa, tendendo a levá-los a uma condição equivalente à paz. O instinto de
conservação, nesse sentido, é peça fundamental na filosofia hobbesiana, na
medida em que esse instinto serve de alerta quando o estado de guerra põe em
risco à própria sobrevivência humana. E é ele quem incita os homens a saírem de
seus estados de natureza e entrarem no estado de sociedade, algo que difere
Hobbes de Aristóteles, visto que para este último o homem era naturalmente um
animal social, e em Hobbes há uma passagem do estado de natureza (original)
para o estado de sociedade - construído a partir da busca pela auto-preservação,
ameaçada no estado anterior pelas próprias paixões humanas.
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 12/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
Daí a primeira lei da natureza indicar aos homens o quanto é importante a busca
pela segurança, e conseqüentemente segui-la. Dessa primeira lei da natureza, que
ordena a todos os homens que procuram a paz, deriva o que Hobbes chama de
segunda lei da natureza, segundo a qual os homens concordam que, para garantir
a paz e a defesa de si mesmo, seria necessária a renúncia de seus direitos. É a
consciência de que enquanto cada homem detiver o seu direito de fazer tudo o
quanto desejar, a condição de guerra será constante para todos. No estado social,
as leis passam a ser competência da ordenação do soberano, instituídas pelo
Estado. Ela é fruto do pacto e do contrato firmado pelos indivíduos. Aqui reside a
fonte de todo o sistema jurídico positivo de Hobbes. Do pacto formador do Leviatã
surgem todas as leis positivas humanas, aquelas que criarão para os sujeitos
obrigações externas. Com o estado civil, o soberano se mostra o ente mais
capacitado para garantir a ordem e a paz, e a garantir os direitos subjetivos de
cada um, especialmente aqueles que os encaminhavam para a segurança.
Portanto, todo o direito é construído, em Hobbes, por graus sucessivos, a partir do
direito subjetivo. E é para garanti-lo que o soberano encontra legitimidade. Daí
Hobbes ser interpretado como precursor do positivismo jurídico[8], que atribui às
leis o sentido de ordenação e segurança social. No cume das leis, encontra-se o
princípio máximo da proibição de se violar o pacto. Daquela lei da natureza que
indicava os homens a aderirem ao pacto, surge uma subseqüente lei natural, a
terceira, a ser posta em prática no momento em que for constituída a sociedade
civil. Consiste que os homens cumpram os pactos celebrados, pois sem esta lei os
pactos seriam vãos e não passariam de palavras vazias e o estado de guerra
poderia não ser superado. Nesta lei assenta, segundo Hobbes, a fonte e a origem
da justiça. Por isso, a partir de agora, romper o pacto passa a representar um ato
de injustiça e romper o pacto é injusto porque o Leviatã representa a consolidação
de todas as células do corpo social composto pelos indivíduos. A justiça, enquanto
um conceito emergido das relações sociais regradas, só passa a existir em
sociedade, e nesse caso cabe ao soberano ditar o seu significado.
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 13/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
5. CONCLUSÃO
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 14/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 15/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
Nossos três autores, por fim, caracterizam-se pela grande relevância na história do
pensamento ocidental – a qual a teoria política procurou se apropriar. Além disso,
foram fundamentais nas tomadas de decisão que moldaram parte relevante da
estrutura ocidental: aquela voltada para as lógicas da justiça e do direito. Em
Platão começam as idéias sólidas dentro de um período grego recém-saído da era
cosmológica, em que se atribuíam aos mitos as razões para os fenômenos sociais,
e, ainda, uma época marcada pela disseminação das idéias sofistas. Seu mestre,
Sócrates, lança um dos argumentos basilares da ciência moderna através da lógica
do questionamento insistente acerca das coisas, e esse fundamento Platão acaba
por seguir, nos deixando como legado o mesmo propósito. Sua contribuição é
enorme para o pensamento ocidental, haja vista que pensamos justiça enquanto
algo da ordem do excepcional, e tal como a transitoriedade do que é verdade
aparecia em Sócrates, também o conceito de justiça não possui definição fechada,
sendo também transitória.
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 16/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
de um sistema internacional regido por estados policiais que atuam por meio da
truculência, da vigilância e da repressão. Tudo em nome da segurança coletiva e
da ordem, supostamente postas em perigo. Portanto, busca-se na atualidade um
modelo de justiça por meio de ações de força que muito nos lembra os argumentos
hobbesianos para a substituição do estado de natureza pelo estado social. É nesse
sentido que encontrei relevância nos autores aqui escolhidos, e é dessa maneira
que a filosofia política persiste viva na obra desses clássicos. Sem dúvida alguma,
visionaram um mundo séculos a sua frente, ainda que estivessem tratando da
realidade que lhes cercava, exatamente por detectarem tão bem as características
da espécie humana e do meio em que habitaram.
6. BIBLIOGRAFIA
ABRÃO, Rosa Maria Zaia Borges. Justiça como ordem: o contrato social e
análise crítica da realização da justiça e da igualdade na modernidade. In: Direito
e Justiça, vol. 33, n.02, 2007.
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 17/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
NOTAS
[1]Natureza aqui pode ser entendida como o princípio que impulsiona o ser a
realizar o seu fim nas relações sociais.
[2]Do direito romano-germânico, para se ter uma idéia, pertencem os direitos de
toda a América Latina, de toda a Europa continental, de quase toda a Ásia (exceto
partes do Oriente Médio) e de aproximadamente metade da África.
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 18/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
[7]O nominalismo surgiu nos séculos XI e XII como reação à idéia de uma ordem
universal. Já no nominalismo de Guilherme de Ockham (século XIII e XIV),
existem tão somente indivíduos, sendo este mundo composto de pessoas e de
coisas singulares. Assim, Ockham acreditava que toda ciência se constrói a partir
de coisas singulares em torno dos indivíduos. Como conclusão, assim como as
noções gerais, também os organismos coletivos, como a pólis, são criações dos
indivíduos, e não algo naturalmente existente.
[8]Deve-se ressaltar aqui, como será mais explorado na conclusão, que Hobbes não
deixa de maneira alguma de ser jusnaturalista, atribuindo a origem do direito ao
direito natural. O que se quer dizer ao se falar em Hobbes como positivista
jurídico é que ele lançou uma base argumentativa para o Estado semelhante ao
que o positivismo jurídico faria tempos à frente. Para os positivistas jurídicos
legítimos, todo o direito emana do Estado enquanto representante do corpo
social, descartando qualquer fonte oriunda da natureza. Podemos dizer, com isso,
que Hobbes é um precursor do positivismo jurídico, mas as suas raízes
encontram-se fincadas no jusnaturalismo.
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 19/20
28/03/2018 Teorias filosóficas da Justiça: Platão, Aristóteles e Hobbes - Jus.com.br | Jus Navigandi
security, issues involving politics in the broad sense. Plato and Aristotle represent
the basis of the idea of justice in the Western world, so we can find the law as a
social mechanism responsible for a type of social and political relations
adjustment. On the other hand, Hobbes, an important contractualist of the
modern age, is considered by some as the precursor of legal positivism, although
the natural law is also broadly evident in his theory. With this panorama, my
objective is trying to think about the approaches and distances between these
three classic authors, in a theoretical articulation allegedly possible.
Autor
Walace Ferreira
https://jus.com.br/imprimir/23037/justica-e-direito-em-platao-aristoteles-e-hobbes 20/20