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17/03/18

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A criação de Estados por formação derivada


INTRODUÇÃO (novos Estados)
Tudo começou com Maquiavel: O Príncipe e a Fracionamento ( independência de colônias)
primeira noção teórica — política sobre o Estado União de dois Estados
moderno (século XVI) Formas atípicas (Alemanha pós guerra e Estado
Origem do Estado — leituras teóricas: de Israel)
O Estado é contemporâneo à própria sociedade:
organização social dotada de poder e
autoridade;
Estado é uma sociedade política específica —
conceito histórico concreto (Estado moderno).
Centralidade da ideia e prática da soberania.

NoTAs SOBRE O ESTADO MonERNO:


Fi mim:Ac IfisTomeA E ELEmENTos
ESSENCIAIS A igreja católica:descentralização, concílios e o
movimento monástico.
A sociedade medieval: fragmentação política e A consolidação do sistema feudal de produção
vazio jurídico: Relações sociais verticalizadas e destituídas de
"aquela incompletude do poder jurídico medieval; mobilidade: a relação Senhor — Vassalo.
entendendo-se por incompletude a falta de •• Conflitos jurídicos eram aqueles entre pessoas do
qualquer vocação totalizante do poder político, mesmo estamento
sua incapacidade de pôr-se como fato global e u Prevalência de uma justiça privada: Corte
absorvente de todas as manifestações sociais, sua senhorial
realização no processo histórico medieval
cobrindo apenas certas zonas de relações Processo oral e baseado nos costumes,
intersubjetivas e consentindo em outras — testemunhas, duelos e provas religiosas
amplíssimos — a possibilidade de ingerência de A guerra como resolução jurídica e religiosa dos
poderes concorrentes" (Grossi, 1995) conflitos entre os nobres.

1.
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Elementos essenciais do Estado Moderno:


O declínio da formação social medieval:
acumulação de capital, centralização e disputas Soberania
de poder Território
O lento movimento de centralização política na Povo
Europa: A união política entre a monarquia e a Finalidade
burguesia mercantil;
O papel do "redescoberto direito romano";
ni A formação dos Estados Nacionais: O
pioneirismo Ibérico;
A Monarquia Absoluta e a consolidação do
Estado Moderno;

Soberania no século XX: Estado soberano e teoria


SOBERANIA jurídica da soberania
"poder de organizar-se juridicamente e fazer
Introdução: base da noção de Estado valer dentro de seu território a universalidade de
Soberania no Estado absoluto: suas decisões nos limites dos fins éticos de
Poder divino convivência (REALE, 1960)
Soberania como conceito meramente politico/ Limites jurídicos ao exercício da soberania:
religioso legalidade e legitimidade dos atos públicos
: Soberania e poder político
As Revoluções Liberais e a soberania popular Soberania e o direito Internacional: limites do
controle jurídico

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POVO ESTIMO DIRIGIDO


Alguns comentários terminológicos: Povo, 1. Aponte as diferenças dos conceitos jurídico
população e nação; (Dallari) e político de "povo".
O povo e soberano: Revoluções Liberais, 2. Por que na visão de cada autor (Dallarif
igualdade formal e cidadania; Werneck Sodre) o conceito de povo não se
A noção jurídica de povo: Vinculo jurídico entre confunde com o de população?
um conjunto de pessoas (com direito e deveres) e
Estado (com direitos, deveres e limitações);
A noção política de povo: Nem todas as pessoas
são "pessoas do povo"
Povo como construção histórica: cada lugar e
tempo tem um povo.

Limites do território: importância para


TERRITÓRIO delimitação da soberania
Limites terrestres
Mais uma vez o Estado Moderno: Noções
gerais Limites marítimos: regra geral das 200 milhas
Limites aéreo: direito de passagem inocente e
Aspectos fundamentais: novos desafios
Não existe Estado sem território
Território é limitação espacial da ação
soberana do Estado. Comentários:
domínio público e atuações estatais
extraterritoriais

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Luciano Gruppi
Tradução e edição do texto de Daria Canali

Tudo Começou
com Maquiavel
(As concepções de Estado em
Marx, Engels, Lênin e Gramsci)

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Antes de chegarmos à teoria do Estado em Man e Engels, gostaria
de dar uma idéia sobre a maneira como se desenvolveu anteriormente
essa teoria; isto é, uma idéia, embora sumária, das grandes concepções.
com
que deparou Marx: a concepção liberal e a concepção democráti-
co-burguesa do Estado.
Na pesquisa, devemos proceder sabendo que uma primeira defi-
nição só pode ser provisória e que, mais adiante, ela pode demonstrar-
se completamente errônea, devendo ser mudada.
Considerado isso, vamos partir de uma definição do que se enten-
de como Estado. Na Enciclopédia Treccani se lê: "Com a palavra Esta-
do, indica-se modernamente a maior organização política que a huma-
nidade conhece; ela se refere quer ao complexo territorial e demográfi-
co sobre o qual se exerce uma dominação (isto é, o poder político),
quer à relação de coexistência e de coesão das leis e dos órgãos que do-
minam sobre esse complexo".
Portanto o Estado é um poder político que se exerce sobre um ter-
ritório e um conjunto demográfico (isto é, uma população, ou um po-
vo); e o Estado é a maior organização política que a humanidade co-
nhece. Talvez seja útil analisarmos essa definição.
Ela nos diz que no Estado estão presentes três elementos: po_
político, povo e território. É necessária a presença desses três elementos
Pata que se possa falar de Estado

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Nesse sentido, por exemplo, o Vaticano não é um Estado no vhs
dadeito sentido da palavra. Ë um Estado por convenção, no s lut
ena tido eQ5 fez bem em matar Remo, pois no ato de fundar, ou de reconstruir, ou
que dispõe do poder e de um território (embora pequeno, mas de reorgarnizar um Estado só uma pessoa deve eve, mtn
e de ,
tem importância), mas não tem um povo. Essa é apenas um a d rss° ..-"°:;
o,' Na Ir Mia, [ralava-se 'fundar um, tonstituir urna
externa do Estado, não é uma explicação de sua natureza intrinsreic"' esc o rganização politica da as >dedada: italiana. Pais sino, Maquiavel Ecrb
Em nossa pesquisa, vamos partir do Estado moderno. O Estado •• PilociPe• embora ele pm Fali reloublitano e do-
moderno — o Estado unitário dotado de um poder próprio indeperb) em'orionalmente à RepúbliPcar Ira
r!iaafa lc‘r'aptao,d l'irg dade oum
dente de quaisquer outros poderes (voltaremos a falar sobre isso) — co- • Uma fase importante da formação do Estado mordceng- -
hão da Inglaterra — mais exatamente de Henrique foi a rcbc-
meça a nascer na segunda metade do século XV na França, Inglaterra c • poder. do papa. A Igreja da Inglaterra separou. adnagl irracrT, cE7tatrmaoas
Espanha; posteriormente alastra-se por outros países europeus, entre lientagor VIII foi proclamado chefe dessa Igreja la 'mel"
os quais, muito mais tarde, a Itália.
Como sempre acontece, só quando se formam os Estados no senti• ein I53i Claro essa' que é puramenre circunstancial a questão do divórcio
do moderno da palavra ó que nasce também uma reflexão sobre o Esta- de Henrique VIII de sua esposa espanhola, Catarina de Aragão,p ata
do, Desde o começo de 1500 temos Nicolau Nlaquiavel, que é o pri• casar com Ana Bolena; esse divórcio foi recusado pelo papa poruma
meiro a refletir sobre o Estado. No Príncipe de Maquia-ima encontra• motivação política, pois ele não queria perder a amizade com a Espa-
mos esta afirmação: "Todos os Estados, todas as dominações que tive- nha, que era então um grande império possuindo (estirados também
ram e têm o império sobre os homens foram c são repúblieas ou.princi- na Itália. Na verdade, as condições estavam maduras para a proclama-
, pados" a _ _ a .•--- .-- cão da plena independência inglesa, da plena soberania do Estado: c
-Tainhém aqui o Estado consiste na dominação (podas)e o que es- do rei que personifica. representa e realiza a soberania do Estado,
. tá sendo frisado é a dominação sobre os homens. O que interessa é esse declarando-se também chefe da Igreja anglicana :formula que, jusidi•
S grifo do elemento da dominação, c de uma dominação exercida mais á• camente, será aperfeiçoada mais tarde). Com esse ato Erma-se que o
I sobre os homens_do_que_sobre o terrilório. poder do Estado Eabsoluto, que a soberania estuai é absoluta c não
depende de nenhuma outra autoridade, isto é, que ruão vern da amora-
Gfa-rnscia, em toda sua fdifga c-cuidadosa- reflexão sobre Maquia-
i:á:afama que ele foi o teórico da formação dos Estados modernos. dade do papa; a soberania do monarca vem de sua própria condição de
Com efeito, o pensamento de Maquiavel se molda numa Itália onde monarca, este não a recebEesdodrpapa. Proclama-se, assina, a absoluta au-
havia fracassado a revolução das Comunas (cidades-Estado), num país aonomia e soberania do rr
Por conseguinte, desde seu nascimento, o Estado moderno apre-
fragmentado em muitos Estados pequenos, e que está a caminho de
perder sua independência nacional desde a invasão das tropas do rei senta dois elementos que diferem dos Estados do passado, que não
existiam, por exemplo, nos Estados antigos dos gregos e dos romanos.
francês Carlos VIII, em 1494. Maquiavel, refletindo sobre a experiên- característica do Estado moderno é essa autonomia, essa
cia de outros países (Espanha, Inglaterra c, principalmente, França), A primeira
plena soberania do Estado, o qual não permite que sua autoridade de-
analisa a maneira como se deveria construir na Itália um Estado moder- c aracterística é a dis•
no e unitário, graças à iniciativa do Príncipe. penda de nenhuma outra autoridade. A segunda
tinção entre Estado e sociedade civil, que vai evidenciaose no século
Maquiavci, na verdade, é uns republicano e um democrata, liga- urguesia. O Es'
do à experiência da República de Florença, da Comuna florenr ima, ele XVII. principalmente na Inglaterra, com uma:amo da b
ma organização distinta da sociedade rival, assabora seja
1 afirmaq u nenhu m príncipe, mesmo dos mais sábios, pode ser tão sá- craxrplor ses torne
vdst
aua
bio como o povo. Apesar disso, ao escrever Opríncipe, Maquiai/ta par- Estado moderno ens sela-
' te da consciência do fato de que na Itália existe uma situação de crise Uma terceira característica diferencia o
çau àquele da Idade Media. O Estado medieval é propriedadde do sc.
de todas as velhas instituições c que só se poderá reconstruir o Estado, / paltinsonial: é paCtirnánio'd0 rno:iarca, bommisori
' renovar a sociedade, se existir o poder absoluto de um príncipe quebn- ' omhoord,oéttuidmo oEstado
„ quês, do conde. du barão, esc. O senhor dono do acrroorio, e
: cabere esse movimento. nele se encontra (homens c bens), podC.yen
(homens
Em outra obra de Maquiavel, onde faz comentários à história de l
presenCite ifc( qualquer momento, como se fosse uma
dsado de
Roma (Discursos sobre a primeira década de Tiro Pipio), encontramos cedê-lo em
área de caça reservada. 1
uma reflexão sobre a lenda de Râmulo c Remo: ele afirma que ROmulo

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r No Estado moderno, pelo contrário, existe uma identifieagm abt
soluta entre o Estado co monarca, o qual representa a soberania est
tal. Mais tarde, em fins de 1600, o rei francês Luis XIV afirrnav
"L'État cear moi" (o Estado sou eu), no sentido de que ele detinha;
poder absoluto; mas também de que ele identificava-se completamen.:
,
nessa forma, Maquiaval retoma aqui um tema que 'á
Oleies: a política é a arte do possível. és arte da renidad j qkjj na
:efetivada, a qual leva em conta como as coisas
de Aná.
esmo e neãoue de ser
veriam estar. Existe aqui uma distinção nítida entre políticdoemmoral,
riloOdals
\,,, e no Estado.
-- p" A aodUlttilcrna aleévaqueemsec0°ZdPearadção
estp o quuem'a'dneavreurreazs2ad"o's h o men s
Os pensadores políticos desde para Maquiava], é imutável: assim a história teria altos c blixos, mas '
seria sempre a mesma, da mesma forma que a técnica da política (
N. Maquiava] até G.W.F. Elege! sto rdáaduem).a
v.eli
que njaoqcuoiance dúvida se é melhor sermos ainadds
aafirma:
ice-vers2. Deve-se responder que gostaríamos de
Nicalau Maquiarei (1469-1527) do que temidos, ou v
ter ambas as coisas, sermos amados e temidos; mas, como E difícil jun-
tar as duas coisas, se tivermos que renunciar a uma delas, é muito mais
Maquiaste!, ao refletir sobre a realidade de sua época, elaborou
seguro sermos temidos do que amados... pois dos homens, em geral.
não urna teoria do Estado moderno, mas sim uma teoria de como se podemos dizer o seguinte: eles são ingratos, volúveis, simuladorese dis-
formam os Estados, de como na verdade se constitui o Estado moder- simuladoras; eles furtam-se aos perigos e são ávidos de lucrar. Enquanto
no. Isso é o começo da ciência política; ou, se quisermos, da teoria e da você fizer o bem para eles, são todos teus, oferecem-testo próprio san-
- f_ técnica da politica entendida como uma disciplina autónoma, separa- gue, suas posses, suas vidas, seus filhos, Isso tudo até o momento que
dada moral e da religião. você não rem necessidade. Mas, quando você precisar, eles viram as
O Estado, para Maquiava], não tem mais a função de assegurar a
felicidade e a virtude, segundo afirmava Aristótelcs. Também não é E o príncipe que esperar gratidão por ter sido bondoso com os
mais — como para os pensadores da Idade Média — uma preparação seus súditos, pelo contrário, será derrotado: "Os homens têm menos
dos homens ao Reino de Deus. Para Maquiava] o Estado passa a ter escrúpulo de ofender quem se faz amar do que quem se faz temer.
suas próprias características, faz política, segue sua técnica c suas pró- Pois o amor depende de uma vinculação moral que os homens, sendo
prias leis. Logo no começo de O príncipe, Maquiava] escreve: "Como malvados, rompem; mas o temor é mantido por um medo de castigo
minha finalidade é a de escrever coisa útil para quem a entender. Mb que não nos abandona nunca". Por conseguinte, deve-se estabelecero
guei mais conveniente acompanhar a realidade efetiva do que a imagi- o pS.cisukaaelpsq_ersiadderno, u rfut
nação sobre esta". Trata-se já da linha do pensamento experimental, terror; amenre o que e pt pno
Com isso, Maquiaval contradiz pro n
, na mesma senda de Leonardo da Vinci: as coisas corno elas são, a reali- Discursos sobre a primeira década de 77to Lívia: isto
dade política e social como ela é, a verdade efetiva.
havia escrito nos consentimento do povo,
Maquiava] acrescenta: "Muitos imaginam repúblicas e principa- é, que o poder baseia-se na democracia, no
entendendo-se como povo a burguesia do seu tempo. Mas agora Ma-
dos que nunca foram vistos nem conhecidos realmente"; isto é, mui- guiava] pensa na construção de um Estado unitário c moderno, por-
tos imaginam Estados ideais, que no entanto não existem, tais como a to,.e descreve o que será o processo real da for-
República de Platão. "Pois grande é a diferença entre a maneira em niannçtãoaddooEs tat
s Es ais absolnui
uda—as
ticia-e-e-st—
polf-
que se vive e aquela em que se deveria viver; assim. quem deixar de fa- ,- aquiavel não se ocupa de moral, elitrata'da— .!
zer o que É de costume para fazer o que deveria ser feiro encaminha-se leis específicas da política, começa a fundamentar a Sada Política
mais para a ruína do que para sua salvação. Porque quem quiser Na verdade — como observou Negai c, posteriormente, fizeram-no é a do
que
comportar-se em todas as circunstâncias como um homens bom vai ter De Sanais e Gramsci — Maquiaval funda umapova moral !
que perecer entre tantos que não são bons". . cidadão, do homem que constrói o Estado; uma mova!
treena:armens. Não E massa !
Isso significa que -devemos estudar as coisas como elas são c deve- relacionamento aapnres se ao julgamento di-
minouornadji adfoan ra am
vm , qm e evel nmoa
ousaa p
mos observar o que se pode e é necessário fazer, não aquilo que seria individual qu edeveria
certo fazer; pois quem quiser ser bom entre 05 maus fica arruinado. '
limpa
Enfim, é necessário levar em consideração a natureza do homem e
atuar na realidade efetiva. _ —
II
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feia; Bodin (1530-1596)
Esse contrato cria um Estado absoluto, de
Maquiavel nos fornece uma teoria realista, é o primeiro que apresenta nuanças que lembram Maquiavel).poder absoluto (Hobbes
. 1 dera a politica de maneira científica, crítica e experimental. Porézfi A noção do Estado como contrato revela o caráter
s\ não fornece uma teoria do Estado moderno, mas sim de como se corá antil c
rnercial das relações sociais burguesas. Os homens, por ou - r 1):
Erni um Estado. riam propensos a criarem um Estado que limitasseMa liberdade reza,
cão
Uma reflexão sobre o que é o Estado moderno aparece mais tarde e ose
Imerc estabelecera as restrições em que vivem dentro do Estado, segundo
na França, com Jean Bodin (ou Bodinus, à latina). Em seus seis tomoi. Hobbes, com a finalidade de obter dessa forma sua própria conserva.
Sobre a República (1576), ção e uma vida mais confortável. Isto é, para saírem da miserável ron-
Bodin polemizou contra Maquiavel. Grams- o es ,r manente aque
d as,é a conseqüência necessária das pai-
naas
cá, iseçãs oi‘iI detu o sa iesprarac tp
rg u sern
ci afirma que Maquiável pretendia construir um Estado, projetá-lo,
enquanto Bodin teorizava um Estado unitário que já existia, o da Fran- espadas, não passam de palavras sem força;
ça; por conseguinte, ele colocava principalmente o problema do coo. ) por isso o pacto social, a fura de permitir aos homens a vida em socieda-
senso, da hegemonia,
de e a superação de seus egoísmos, deve produzir um Estado absoluto,
Bodin, pela primeira vez, começas teorizar a autonomia e sobera- au, ppoodsio
seu
msse etre.r
nRo
duríssi mo eu
nia do Estado moderno, no sentido que o monarca interpreta as leis di- emente, vai opor a Hobbes uma btilhanjte
vinas, obedece a elas, mas de forma autônoma. Ele não precisa receber . objeção: ao dizer que o homem, no estado natural, é um lobo para
j pelo papa a investidura do seu poder. O Estado é constituído essencial-
seus semelhantes, Hobbes não descreve a natureza do homem mas sim
j'a-, rmente pelo poder: nem o território, nem o povo definem o Estado ran-
os homens de sua própria época. Rousseau não chega a dizer que Rola-
i' 'Iro quanto o poder.
bes descreve os burgueses de sua época; mas, na realidade, Hobbes
i Bodin afirma: é a soberania o verdadeiro alicerce, a pedra angular descreve o surgimento da burguesia, a formação do mercado, a luta e a
de toda a estrutura do Estado, da qual dependem os magistrados, as crueldade que o caracterizam.
leis, as ordenações; essa soberania é a única ligação que transforma
num único corpo perfeito (o Estado) as famílias, os indivíduos, os gru- John Locke (1632-1704)
pos separados . O Estado, para Bodin, é poder absoluto, é a coesão de
todos os elementos da sociedade, Não devemos esquecer que a Inglaterra se transformou num im-
pério mercantil a partir da segunda metade do século XVI,na época da
flamas- obber (1588-1679) grande Rainha Elizabeth I. Portanto é uma concepção tipicamente
,.. burguesa a de John Locke, fundador do empirismo filosófico moderno
Começam assim a surgir os fundamentos da teoria moderna do C teórico da revolução liberal inglesa. "
Estado, que posteriormente receberá uma formulação mais completa Não se trata aqui da revolução de 1648, mas da segunda revolu-
nos séculos XVII e XVIII pelo filósofo inglês Thomas Hobbes. Este as- ção, que concluiu-se em 1689. Foi uma revolução de tipo liberal, que
sistiu â revolução democrática inglesa de 1648, dirigida pelos puritanos assinalou um acordo entre a monarquia e a aristoctieis, por um lado, e
de Oliver Cromsvell (1599-1658), opondo-se a ela a partir de um ponto a burguesia, pelo outro. Isso ocasionou o surgimento de normas parla-
de vista aristocrata.
mentares, bem como uma condução do Estado fundada numa declara-
A toaria do Estado de Hobbes é a seguinte: quando os homens ção dos direitos do parlamento, que foi definida em 1689. Na década
primitivos vivem no estado natural, como animais.
contra os outros pelo desejo de poder, dr riquezas,
eles se jogam uns anterior, surgira o babem carpas (que tenhas o teu corpo), dispositivo
de propriedades. E que dificulta as prisões arbitrárias, sem uma denúncia bem definida.
o impulso à propriedade burguesa que se desenvolve
na Inglaterra: i O babes! cor/sus estabelece algumas garantias que transformam o "sú-
"homo homini ¡opus". cada homem é um lobo para o seu próximo. . o cidadão, justamente na Ingla-
Mas como, dessa forma, os homens destroem-se uns aos outros, eles
\ \ dito''
i tn e jum
oh n "cai ta:1ã
c eo
percebem a necessidade de estabelecerem terra , icsoirn
euastceeórl5
'o''sN
contraio. entre eles um acordo, Lodce observa que o homem no estado natural está plenamente li-
um
Um contrato para [0(156MM:O LUTI Estado que refreie OS 10. vre; mas sente a necessidade de colocar limites à sua própria liberdade.
boa, que impeça o desencadear-se dos egoísmos e a destruição mútua. se-
Por quê? A fim de garantir a sua propriedade. Até que os homens

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iam completamente livres, existe entre eles uma luta que não g.
propriedade e, por conseguinte; tampouco uma liberdade ri ' - ro que o faz nascer: este é o fundamento liberal sem clú
Locke afirma que os homens se juntam em sociedades pollij snia, do pensamento de John Locke. °Estado não recebe"suaPnagres.
submetem-se a um governo com a finalidade principal de conservare nia de nenhuma outra autoridade.. tittbontrário do u " dara'.
pensar, o liberal Locke não polemiza6(1[ra o absolutista (' oads:HPa
ebbeensa
suas propriedades. O estado natural (isto é, a falta de um Estado) ing mas sim contra outro autor inglês: Robert Filmer (1588-1653), Seg tlf:
, garante a propriedade. É necessário constituir um Estado que gaian — t io is qual o poder estatal se originaria do poder divino. Locke entra erd
exercido da propriedade, a segurança da propriedade. polêmica contra Filmei- justamente para defender a plena autonomia
Visando isso, estabelece-se entre os homens um contrato que ori- a absoluta soberania do Estado moderno, assim como pensava também'
gina tanto a sociedade, como também o Estado (para Locke, as dia
coisas vão juntas). Fica evidente a base burguesa dessa concepção, L A relação entre propriedade e liberdade é extremamente eviden-
iiula)ea
estamos numa sociedade em que nasceu o mercado, onde a relação cri- o poder supremo não pode tirar do homem uma pane de suas pro-
te.
tre os homens se dá entre os indivíduos que estabelecem entre si coo- priedades sem o seu consentimento. Pois a finalidade de um governo c
tratos de compra e de venda, de transferência de propriedades, etc. Es- tle todos os que entram em sociedade é a conservação da propriedade.
ta realidade individualista da sociedade burguesa, alicerçada nas rela- Ino pressupõe e exige que o povo tenha uma propriedade, sem g que
ções mercantis c de contrato, expressa-se na ideologia política, na con- deveríamos concluir que — ao entrar na sociedade — perde-whists-
cepção do Estado. mente aquilo que constitui o objetivo desse contrato.
O Estado também aí surge de um contrato. Para Hobbcs, porém,. O Estado não pode tirar de ninguém o poder supremo sobre sua
esse contrato gera um Estado absoluto, enquanto para Locke o Estado propriedade. Não é possível nenhum ato arbitrário do Estado que viole
a propriedade: por exemplFros ImpoStoS devem_nip lo
pode ser feito c desfeito como qualquer contrato. Isto é, se o Estado ou ,
o governo não respeitar o contrato, este vai ser desfeito. Portanto, o go- Parlamenta, o monarca- trif- dê--clEtietifilniáostos sem o consenti.
2•Mnie tradição que já estava consolidada na
verno deve garantir determinadas liberdades: a propriedade, e cam- mento do Parlamento, co-
bem aquela margem de liberdade política e de segurança pessoal sem o Inglaterra — c assim por diante.
É realmente estrita essa conexo) entre propriedade e liberdade: a
que fica impossível o exercício da propriedade e a própria defesa da li-
berdade. Já estão implícitos, aqui, os fundamentos de algumas liber- j Hl:lerda& esta em função da propriedade e esta é o alicerce da liberda-
dades políticas que devem ser garantidas: a de assembléia, a da pala- de burguesa. que nessa época era progressista.
Repito, é a visãci burguesa que está na base dessa concepção. No
vra, etc. Mas, em primeiro lugar, a liberdade de iniciativa econômica. entanto, é interessante observar que para Locke ia existe uma distinção
E o típico individualismo burguês, no sentido de que o indivíduo entre sociedade política (o Estado) c sociedade civil (Oto é, aquilo que
humano preexistiria ao Estado, de que os homens partiriam de uma no século XVIII passará a chamar-sede sociedade civil); por conseguin-
condição natural em que são indivíduos soltos (para Marli pelo contrá- distinção?
te, entre público c privado. Em que sentido nasce esta
rio,_o homcm_é_mnscr social e sktomas_liomem na medida chame Locke afirma que a propriedade é objeto de herança, pois o pai
vive e nabalha ern sociedade; de outra forma seria um .. animal, um transmite a propriedade aos filhos; o poder político, ao contrário, não
bruto). -
--Segundo esses pensadores, o indivíduo existiu antes da sociedade m ernriaanrsmite pela herança, deve ter urna origem democrática, pada-
j se
humana e esta nasceria pelo contrato entre indivíduos preexistentes.
Ora, do ponto de vista histórico, isso é pura fantasia, pois o homem só É interessante notar que, no Estado da Idade Média, uansmitia-se
pela herança quer a propriedade, quero poder político: o rei transmi-
se torna homem vivendo em sociedade com outros homens, só organi- e patrimonial do Estado c o poder; o
zando socialmente sua própria vida, Imaginar que um indivíduo possa sraaiditt iofpu:
frid
a isleru filhosaproaprwierdrat o marquês o marquesado, o conde o
ser homem antes de organizar-se em sociedade não passa de uma típica io transmitia bens, assim
projeção ideológica do individualismo burguês. É no modo de produ- condado, isto é, todos os bens e todo o poder nosobre esses
condado e no marque-
ção burguês que cada um individualmente se põe em relação com ou- como também sobre os homens que viviam
tro indivíduo, sem ter consciência do caráter social dessas relações eco- Inst.'
' 1 /4 nómicas. cias ,IdadeMeéndtirae,laaçasodcoisedasão
parávN
de e o Estado (poder PoRrie°)
transmitidos juntos; na sociedade
O Estado é soberano, mas sua autoridade vem somente do contra- estão

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burguesa moderna esses dois aspectos são separados, pois na sociedad
et.ecEss el detex
civil existe a transmissão da propriedade, mas não há transmissão,4 minaaddoi nívon imrressa
stos,coOmmtx
é,crcau
xclauskivcai:
seriuedmridos
mwegnuteemospaPg:P mo
poder político. , !proprietários é o alicerce do liberalismo e é ntr° PI°Pdatári°5 e não"
A sociedade política c a sociedade civil obedecem a normas e leis'
diferentes. Todos os direitos de propriedade são exercidos na sociedade 1 dez °A°p e»afirmado que a soba_
s arn
rójC ana' pa
civil e o Estado não deve interferir, mas sim garantir e tutelar o livre Kant nega ao povo O—eletivo exercício tTiiÇ na realidade
a uma partedo ,,,povo. Malfira emcip
_povo. uleernp
aarevi
r a dêncnt. qual—
Ka‘aaaz°1°" par:
; exercício da propriedade.
A separação dessas duas esferas está também na base das próprias
me
entre propriedade Eliberdade; só é livre q m for la ajo
' ----
rir
liberdades políricas, que são as garantias necessárias para tutelar em ní- se essencialmente da propriedade da terri,ue u
vel politica a propriedade e, portanto, a livre iniciativa econômica.
Também o casamento é concebido por Lecke como um contrato Arelação indissociável entre mqpriedadc c liberdade é jun:amen-
L°eke).
entre indivíduos. A mentalidade mercantil se reflete na concepção do
la a epsasEij
enee%dclionvbf :ulz:sentido geral mas depois, dentro desse po —
casamento: este pertence á sociedade civil, ao direito civil, não ao di-
se faz uma discriminação entresuem pode exercer os direitos civis (se ";
reito público, pois é um pacto exclusivamente privado. Não era assim, ser independeriC — no sentido de proprietário, por conseguinte rapaz
por exemplo, na sociedade antiga (por exemplo, na grega e na roma- de um pensamentoludea=c quem não .pode.

na), onde o casamento era um fato público que tinha a ver como Esta- métmdagoams.bega a conclusão de que toda lei é tão sagrada,
o,-begsa
do. tão inviolável, que é crime até mesmo colobilatarlisrussã
forma, apôs tfir_ ai a r a_SSI Sarna' do pomo, na realidade a nega Adverte
Emmanuel Kant (1724-1804) que o monarca nunca deficaskier um jpvrn intérprete da soberania do
poso, do direito natural, e me as leis sempre enuespondern ao direito
Produz-se, enfio, uma separação formal, não real, entre o Estado natural, à própria soberania do povo. V> 4.n.Y4a.1.4 • ,kcht

e a sociedade civil. Temos assim, ao nível do poder estatal, um cipo di- A lei sobrepbe.se assirrTi soberania do povo. É a típica visão libe-
ferente de manifestação da sociedade civil c das relações econômicas. A ' cal do Estado de Direito. A soberania do povo deve ser delimitada por
burguesia começa a formar seu próprio Estado. Isso pode ser visto mais algumas leis que estão acima dela e são invioláveis, indiscutíveis: o di-
reito de propriedade, a liberdade de palavra, de expressão, de reunião,
nitidamente ainda em Kant. de asscriação. Liberdades que, na prática, são gozadas apenas por
Kant parte de uma afirmação que leva em conta a revolução fran-
-ui:).
cesa e as reorizações de .) J. Rousseau (como veremos riais adiai quem tiver recursos suficier _ilesimausuallLskias--
que já é um princípio Na referida concepçãoliberal do Estado de Direito, destaca-se es-
Kantafiram_quesa_sabamaia-pratence ao povo. o te elemento: o Estado é um Estado de Direito na medida que nele exis-
1d-emocrático. Em Lorke- não encontramos isso: a sociedade nasce de um
\ contrato. roas uma clara afirmação de que a soberania é do povo não tem alguns direitos que nunca podem ser colocados em discussão, e
<viste (pelo menos não claramente), sendo que em Km Isso é (-cofiai- dentro deste marco exerce-se a soberania popular. A soberania popular
depende c é delimitada por alguns direitos que podemos definir per-
to. manentes, eternos — direitos naturais. Estes são a expressão ti ka dos
Mas, após essa consideração. Kant acrescenta que há sidadãos in-
1 dependentes e cidadãos não-independentes. Aqueles independentes interesses da alta burguesia, ou da ar~e vai se7a urguesara ndimenral
que podem decidir coriro—
do, as quais selfirifiiin—
afasses apara; desse direito fu
— os que podem exprimir uma opinião política,
da política do Estado '—são os cidadãos que não dependem de outros,
k de propriedade, dcréndido com arlibCt a c e palavra e dc associação
.
prietários. Não se pode pensas que sejam capazes de unia c com a representatividar5narna-f6-
isto E. os pro (Meneias. o.0 os aprendizes das ofi-
opinião independente os servos das de voto,' Jean-Jacque.r Rousseau (1712.1778)
L cinas artesanais_ Por conseguinte, eles não podem ter direito
nem de serem eleitos. Os direitos políticos ativos cabem somente Sã': Vimos sinteticamente alguns momentos da concepção liberal, do
coneepoo
proprietários. tempo, nasce a
surgimento do Estado moderno. Ao mesmo
Çsãr é 9 criteriosa< vai nortear roda a concepção liberal. Na Itália
do século passado. por estropio. só cridia-dareito de eleger e de ser clei•
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, demociaticorburguesa com Jean-Jacques Rousseau, Também par
Rousseau Existe uma condição natural dos homens, mas é uma eoAdi, mas também chega a compreender que existe um problernad i,%u ' al-
h ção de felicidade, de virtude e de liberdade, que é destruída a apagad i dade eco nálinieá-,Wónómieorsorttrom efeliCele escreve: o:ri:rata
Ir pela civilização. E a concepção oposta àquela de Hobbes. homem que, ao cercar um terreno, afirmou "isto é meu ", encontran-
11 Como vimos, Rousseau dizia que Hots,dangivetristiagoadi do pessoas suficientemente estúpidas para acreditarem nisso, foi o ver-
ção natural dos homens, mas sim -homem dos seus tempos. p . dadeiro fundador da sociedade civil. E conclui: "Quantias crimes,
quantas guerras, quantos assassinatos, quantas misérias e erros teriam
Rousseau, ao contrário, é a civilização que perturba as rélkóts-humas
nas, que violenta a Humanidade, pois os homens nascem livrei , sido poupados à humanidade se alguém arrancasse os marcos, ou nive-
seus semelhantes: 'não ouçam este impos-
ignau leis o principio que vai se afirmar na revãkção 5-urgTiesa lasse os fossos, gritando aos
tor. vocês estarão perdidos se esquecerem que os frutos são de todosc a
ern todo lugar estão acorrentados. É uma frase formidável. Na vercla, tetra não pertence a ninguém' ". Isso significa negar a propriedade
de, porém, os homens não nascem nem livres nem iguais, só se tornam. privada.
.1551m através de um processo político. Assim, Rousseau também acabar, Rousseau não compreende que o surgimento da propriedade pri-
atribuindoa uma suposta condição natural aquilo que, pelo contrário., vada é una grande progresso em relação à sociedade dos bárbaros —
e urna conquista da história social, da ideologia, embora um progresso doloroso. Ele julga que a propriedade teria nas-
Para Rousseau, os homens não podem renunciar a esses bens es- cido pelo ato de alguém que colocou marcos e declarou ser proprietário
senciais de sua condição natural; a liberdade e a jgualdade. Eles devem dessa terra; e também porque outras pessoas, estupidamente, teriam
constituir-se em sociedade. Também para Rousseau a sociedade nasce levado isso a sério. ?4tajo el2 contrário, o que originou a propriedade
de um contrato, ele apresenta a mesma mentalidade comercial e o foi rodo um processo econdrnico de desenvolvimento das forças produ-
mesmo individualismo burguês. O indivíduo é preexistente c funda a tivas.
, sociedade através de um acordo, de um contrato. Evidentemente Rousseau não podia compreender isso, pois sua
No entanto, para Lecke o contrato produz a sociedade co gover- concepção é individualista: a propriedade resultaria de uma relação en-
,
no, portanto, o Estado; ao passo que, para Rousseau, o contrato só t re indivíduos, da iniciativa de um indivíduo. Ë sempre o mesmo indi-
l vidualismo burguês, na verdade, que, aliás, está na própria base da
constitui a sociedade, a Qual deve servir à plena expansão da rierásradi•
dade do indivídiar —A sociedade, o povo, nunca podem p—ercIpTúa sc. formação da propriedade.
Mas é interessante observar que, para Rotisseau, deixa de existir a
beraniaTa qual pertence ao povo e st, ao povo. PrEnseguinte o povo
separação dos trés poderes que Montesquieu tinha fixado em começos
nuïttrdeve criar uiralartio disWpaTiadEsi mesmo. O único
de 1700; o poder legislativo (Parlamento), o poder executivo (governo)
' órgão soberano e a assembléia (Rousseau é o primeiro teórico da assem- , e o poder judiciário. Montesquieu fez essa distinção a fim de limitar o
bléia)1. iirsirriluráflxp —TeTirri tistrIánla.
A assembléia, representando o povo, pode confiar para algumas poder executivo, que estava nas mãos do soberano, preconizando uma
pessoas determinadas tarefas administrativas, relativas à administração monarquia de tipo constitucional.
Ao invés disso, Rousseau nega a distinção entre os poderes, visan-
do Estado, podendo revogá-las a qualquer momento. Mas o povo nun-
ca perde sua soberania, nunca a transfere para um organismo estatal do afirmar acima de tudo o poder da assembléia. Não pode existir um
separado. Orgovernantes são apenas comissários do povo (a expressão , poder executivo distinto do assembléia, do poder representativo (é a
"comissário do povo", gire se:atuada pela Revolução RiTssa, tern—ird nidéia Lênin vai retomar plenamente, pois nos Sovietes os Poderes
origem ern ROTTissent,f_ritaidaliglibepdamenre de Rousseau). legislativo e executivo identificam-se e o poder representativo é domo
A afirmação da igualdade é fundamental para Rousscau. O ho-
mem só pode ser livre se for igual , assim que surgis uma desigualdade Claro está que Rousseau tropeça em numerosas dificuldades, que
surgem da proprieda)
entre os homens acaba-se a liberdade, Para o liberal, há liberdade na ele mesmo percebe. eIC diz que todos os males
medida que se leve em consideração a desigualdade entre proprierários de, mas placiLghega a propor meios para sua aboliçao. Preconiza
a—~sáála urna
e não-proprietários sendo que a igualdade mataria a liberdade. Ao isociedade pestiienodzalgyesaTele
passo que, para Rousseau, o único fundamento da liberdade é dessa camad_a_rociat, assim—
cortToWi o Peri°d"e
dade: não ha liberdade onde não existir igualdade.
a igual-
, luyão Francesa. Não é per acaso que RohTiria " msripul de
\
1391.1SM:21J
se refere à igualdade diante daleià igualdade jurídica. Rousseau. EsTa fase da revolução exprimiu os interesses da pequena

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Benjamin Contrata de Rebecque (1767-1830)
burguesia francesa, da burguesia artesã da França; nessa questão existe',.
urna continuidade. Muito mais tarde, remos as teorias de Benjamin Constant. Nessa
Em todo caso. Rousseau não soube indicar como se superaria
, o liberalismo começa a ser um ideal no qual roda a Europa se
propriedade privada. época
inspira, após a experiência da Revolução Francesa, t o momento an
Dutra contradição aparece quanto à soberania da assembléia. A
que é derrotada a fase democrática da Revolução Francesa — a de Ao-
assembléia não deve delegar o seu poder, o povo nunca pode transferir 1793 — e rende-se a formar sociedades liberais do tipo .
soberania, nem que seja por um instante. Conseqüentemente, hã hespierre, em
Sua que surgirá na França após a revolução de 1830, ou no Piemonte (c de-
unia identidade entre sociedade política e sociedade civil. Mas o pró- pois na Itália toda, com a unificação do país) em 1848. Na Inglaterra, a
prio Rousseau afirma que um povo não pode ficar sempre reunido em' partir da revolução de 1689, sempre existirá uma sociedade liberal.
assembléia, pois existe uma dificuldade prática, real. O pensamento de B. Constant é interessante porque ele leva ao
Por outro lado: Rousseau formulava ideologicamente a experiên- entre Estado c sociedade civil. Ao dis-
máximo de nitidez a separação
cia da democracia de Genebra (a sua cidade), que se havia constituído tinguir entre as antigas democracias romana c ateniense, por um lado,
depois da reforma calvinista. Era a democracia, a assembléia, possível e o liberalismo moderno, por outro, Constara salienta que a liberdade
em uma pequena cidade, mas que, na prática, encontraria enorme di- • dos 'antigos exercia-se na esfera pública da sociedade, isto é, no Estado,
ficuldade num Estado moderno que tentasse se organizar daquela fot., não na esfera particular. A vida privada CIO então vinculante; ao passo
que a liberdade do cidadão se exerce essencialmente na esfera do priva-
ma, Rousseau tem em vista também a democracia da antiga Atenas,
do e, cm relação ao Estado, é muito fraca, inconsistente, parcial.
Nessa assembléia, na ,
onde a soberania cabia à assembléia (edesia). Pergunta Benjamin Constant: "O que entende hoje como liber-
época de Fendes, eram sorteados 500 membros do conselho (balé), dade um francês, um inglês, um habitante dos Estados Unidos da
sorteados e não eleitos. A eleição já seria uma seleção; através do sor- América? Para cada um deles, liberdade é o direito de submeter-se
teio, todos poderiam ser atingidos. O conselho dos 500 ficava reunido apenas 1 lei; de não ser preso, ou mantido na cadeia, ou condenado à
em sessão permanente com exceção dos dias de festividades religiosas. morte, nem sofrer maus tratos de qualquer nutro tipo pela vontade ar-
Os 500 eram sorteados na base de 50 para cada uma das tribos em que bitrária de um ou mais indivíduos. Para cada um deles é o direito de
Atenas era dividida administrativamente; os 50 representantes de cada o seu trabalho, de dispor da
expressar sua própria opinião, de exercer
tribo revezavam-se em turnos no desempenho das tarefas governamen- sua propriedade e até abusar dela, de ir e vir sem pedir licença, CIC. Fi•
tais, mas só durante poucas semanas. Na prática, não havia separação nalmente, é o direito para cada um de exercer sua influência sobre a
entre os poderes legislativo, representativo c executivo; quase não exis- administração do governo, quer concorrendo à nomeação de todos ou
tia distinção entre sociedade civil c Estado. alguns de seus funcionários, quer com reclamaçtles, petições, pedidos
Mas esse modelo só era possível porque — enquanto os cidadãos
que a autoridade é forçada a levar em consideração de alguma forma",
estavam reunidos em assembléia, em conselho — havia quem tra ha.
Benjamin Constant observa, em outro trecho, que a liberdade do
lhasse por eles: os escravos e os "merecos." (estrangeiros que não eram
homem moderno é grande na esfera do privado; ao passo que, na esfe-
cidadãos com plenos direitos, embora não fossem escravos). Uma de-
mocracia do tipo da antiga Atenas pressupõe que o cidadão não traba- ra do público, sua liberdade é limitada, pois só limitadamente pode
lhe, mas que outros trabalhem para ele. influenciar a condução do governo.
Para os antigos, acontecia o contrário. A liberdade dos antigos
Também ROUSSCall se dava conta das dificuldades desse modelo,
pois escrevia: a democracia da qual eu falo não existe, nunca existiu consistia em exercer coletivamente (mas diretamente. sem delegá-las
talvez nunca existirá; também essa condição natural a que devemos e ao governo) muitas funções da soberania: em deliberar na praça públi-
I 1-3-
OS Estados estrangeiros
pirar — a do homem que não cede a sua soberania, a sua liberdade vi s" ca sobre a guerra c a paz; em concluir com
não existe. talver. nunca existiu e nunca vai existir. É um objetivo ideal tados de aliança; em votar as leis e pronunciar julgamento em examl•
para o qual devemporesserenntedeerm
.Osup
a rc6opnrcioepoo natos balanços e os atos dos magistrados, levá-los diante de todo o po"
Rousseau percebe. então, O
elemento utópico vo, actsá•los, condená-los OU absolvê-loS.
Na esfera do público, então, eram enormes os direitos dos cida-
dãos da república romana e da democracia ateniense. O governo não

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decidia da paz e da guerra fora da assembléia dos cidadãos, sendo,
os governos modernos prescindem desta. , dm Robespierre. na verdade foi derrotada na história da Europa. Na-
Isso era o que os antigos entendiam como liberdade. Mas, aomesc, [c co ntinente, após as décadas de 1860 e 1870, teremos regimes libe.
teremos uma fusão de liberalismo c democracia, Mo é, uma am-
mo t empo, eles admitiam que essa liberdade coletiva fosse compathiel
)liação do sufrágio universal, da igualdade Jurídica Uma mistura de
com a completa subordinação do indivíduo à autoridade do conjurir
social. Seria inútil (ou quase) procurar entre os antigos a possibilidad li beralismo c democracia que, no entanto, reafirma sempre o direito
da propriedade, tutela sempre a iniciativa económica c o desenvolvi-
de gozar dessas vantagens que fazem parte da liberdade dos moderno mento capitalista.
Todas as ações privadas eram submetidas a uma vigilância severa, nad
era concedido à independência individual, nem nas opiniões pcsso' Benedetto Ctoce (1866-1952)
nem rias atividades econômicas; c sobretudo em matéria de religiã
(não havia liberdade de consciência). Todas as atividades econômicas Benedetto Crocc, em sua Histótia da Europa, na década de1930,
eram controladas, etc. Toda a esfera do privado era absorvida pela cife,i. vai esclarecer as coisas a partir de seu ponto de vista liberal. Numa épo-
ra pública, pela vida política. ca em que já não há mais distinção entre Estado de Direito liberal es
tado democrático — isto é, não se faz distinção entre liberalismo e de:
Em lugar disso, para os modernos — diz Benjamin Constant, a li-
mocraria pois, na realidade, os dois elementos estio entrelaçados—,
berdade é exercida principalmente na esfera do privado, ela é reivindi-
Crocc destaca que se tratam de duas concepções muito diferentes.
cada na esfera particular. Croce afirma: apesar da afinidade de alguns elementos do catoli-
É nítida a distinção que Benjamin Constant faz entre sociedade cismo c das monarquias absolutas com o liberalismo, e apesar da dis-
civil c sociedade estatal (sociedade política); ele afirma que os direitos ponibilidade do liberalismo para aceitá-los c fazê-los seus, esses dois
da liberdade são gozados principalmente na vida particular, pois são inimigos dele e vice-versa. O liberalismo é inimigo
sistemas se mantêm
direitos de iniciativa econômica (direitos da burguesia). Daí toda sua da monarquia absoluta e do clericalismo, bem como de um terceiro sis-
polêmica contra Rousseau: a igualdade de Rousseau destrói toda liber- tema, de uma terceira fé que parecia confundir-se (ou pelo menos
dade, por conseguinte suas concepções devem ser rejeitadas como urna, entrelaçar-se) com o liberalismo: o ideal democrático.
grande ameaça à liberdade. Constam defende assim a identificação co- XIX parecia que o ideal democrático se fundiria tomo
No século
propriedade e liberdade, isto é, a liberdade como diferença, c não ideal liberal. A concordância entre liberalismo e democracia se dava
como igualdade. não somente ao negativo (pela oposição comum contra o clericalismo e
o absolutismo), mas também ao positivo (através da comum exigência
Charles Tocqueville (1805-1859) de liberdade individual, de igualdade civil e política e de soberania
popular). Mas é justamente aqui que se escondia a diversidade, segun-
pleno século XIX, o grande li- efeito, os democratas c os liberais concebiam de manei-
Esse é o dilema que enfrentará, em do Crocc. Com
para com-
beral Tocquevifie. Ele é suficientemente inteligente e realista ras diferentes o indivíduo, a igualdade, a soberania, o povo.
preender que a democracia está destinada a vingar, que a igualdade ju- Para os democratas, os indivíduos eram seres iguais, a quem —
para a qual ten- como eles diziam — devia-se propiciar uma igualdade de fato. Já para
rídica vai se realizar. Mas ele pergunta se a igualdade lto
de a humanidade não vai destruir a liberdade, isto é, se conseguiremos os liberais os indivíduos eram pessoas iguais como homens, Pppar li
enfim, se sempre dignos de respeito, mas não eram iguais como cidadãosii3O
ao mesmo tempo realizar a igualdade c salvar a humanidade;
não Vai se transformar em tirania. beral Croce, por exemplo, considera a liberdade de movimento compreendee de
a igualdade
As duas diferentes concepções progressistas do Estado, que se afir- competição como uma função das capacidades: ele não
que, na realidade, trata-se de uma competição de forças econômicas.
mam com muito esforço na Europa da época, são as seguintes:
Além disso, para os liberais, o povo não era uma soma de forças ímo
aja concepção Oben/ que defende a correlação entre proprieda- mas sim um mecani is
os democratas), i o.
de e liberdade (isto é, a liberdade exige a desigualdade); (conforme pensavam as c em sua assoe aç
uma de suas peças
b) a concepção democrática, segundo a qual a liberdade baseia-se diferenciado, vá/ido em cada gove
rnantes e governados, com c as.
na igualdade, mas essencialmente na igualdade jurídica (embora. com uma unidade complexa, com as tarefas
Rousseau chegue a colocar o problema da propriedade). ses dirigentes abertas e móveis mas sempre necessárias para
A corrente democrática, que se afirmou na Revolução Franees.
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do poder. A soberania, para os liberais, era do conjunto (sint
não das partes analisadas separadamente; isto é, a soberania tiram
st na síntese política (dos governantes, não dos governados). Então. para Hegel, o Estado é personificado pelo monarca: é o
Pare
betais deve existir uma classe dirigente, que na opinião do Cro monarca que representa a soberania estatal. Man comentará: com He-
elite da cultura, mas na verdade e a elite da base econômica. " gel temos a Constituição do monarca e não o monarca da Constituição:,
O ideal político dos democratas objetivava um culto da quan isto é, o monarca outorga uma Constituição que fixa os direitos e as
de, da maránica, da razão calculante ou da natureza, como havia funções do próprio monarca, pois neste encarna-se a soberania estatal.
Há nisso uma continuidade com o velho absolutismo, embora
rido no século XIX. Enquanto isso, os liberais advogavam um cult amenizado por uma visão de monarquia constitucional. Não corres-
qualidade, da afinidade, da espiritualidade, como havia sido formu ponde à verdade que Hegel exaltasse o Estado prussiano assim como
do em começos de 1800. ele estava na época pois Regei preconizava determinadas reformas
Também nesse caso, o contraste era como entre duas confino& (moderadas) desse Estado.
ligiosas, isto é, entre concepções gerais; a democracia era quantirany,
igualitária, nivelava mecanicamente; o liberalismo pretendia selecin
nar as capacidades, ser qualitativo, espiritualista, não materialista n' Depois desta rápida resenha das principais concepções do Estado
mecânico. Em conclusão, Crocc reitera essas diferenças. que apareceram na fase da construção da Estado burguês moderno,
surge uma pergunta: existe uma teoria burguesa do Estado?
Georg Wdilbelm Flieettieb Hegel (1770-)831) Em minha opinião, não existe. Há uma justificação ideológica do
Estado, do Estado existente ou do que se pretendia construir; mas não
Vamos fazer mais uma referência, á concepção política de Frege há uma teoria cientifica que explique como nasce o Estado, por que
que Marx vai enfrentar. nasce, por quais motivos, e qual é a sua verdadeira natureza. Existem
tratados volumosos em que se descreve toda a vida do Estado, são defi-
Hegel restabelece plenamente a distinção entre Estado e socieda
nidas suas instituições e estas são examinadas em suas relações mútuas.
de civil formulada pelos pensadores do século XVIII, mas põe o Estadõ
Mas não há nunca uma teoria que nos explique o que é realmente um
como fundamento da sociedade civil e da família, c não vice-versai
Estado. Temos, sim, a justificação ideológica (isto é, não-critica, não-
Quer dizer que, para Hegel, não há sociedade civil se não existir um
consciente) do Estado existente.
Estado que a construa, que a componha e que integre suas partes: não.. Deveríamos perguntar-nos se pode existir uma teoria burguesa
existe povo se não existir o Estado, pois é o Estado que funda o povo e certeza, não é cientifica uma concepção que afirma: os
não o contrário. É o oposto da concepção democrática, segundo a qual científica. Com
homens existem primeiro individualmente e depois, por contrato.
a soberania é do povo, que a exprime no Estado, mas o fundamento da constituem-se em sociedade. Tampouco é uma explicação cientifica di-
soberania fica sempre no povo.
zer que o Estado funda a sociedade civil, etc.
Pala Hegel, a recíproca é verdadeira. O Estado funda o povo c a Na verdade, só pode começar a existir uma visão cientifica do que
soberania él do Estado, portanto a sociedade civil é incorporada pelo: é o Estado quando tomarmos consciência do conteúdo de classe do Es-
Estado c de certa forma aniquila-se neste. Temos, com Hegel, uma cri- tado. E a burguesia não pode fazer isso, pois significaria denunciar que
tica da concepção liberal, individualista, da liberdade. É uma critica o Estado burguês — mesmo em sua forma mais democrática — é na
que acerta o alvo, mas que desemboca numa solução conservadora. minoria contra a maioria; seria admitir
verdade a dominação de uma
Para Rousseau, o Estado dissolve-se na sociedade c a sociedade ci- que essa liberdade não é a liberdade para todos; que essa igualdade é
vil triunfa sobre a sociedade estatal. Para Hegel, ao contrário, é o Esta.
puramente formal, não real, para a maioria dos cidadãos. a a
doque triunfa sobre a sociedade civil e absorve esta. No pensamento Estado da burguesia esta condenad
de Hegel esses dois momentos—Estado e sociedade civil — são distin- Eis porque a concepção de
tos só como conceitos, pois ele tem uma concepção organicista do Esta- ficar numa visão ideológica.
do (este seria um organismo que abrange tudo); para Hegel o Estado é critica de Karl Heinrich Marx (18181883)
também ético, pois concretiza uma concepção moral. A
Pelo contrário, o Estado liberal não é ético, não. : 15.
educa, deve so- Com a concepção marxista, surge uma visão critica do Estado.
:2 de
mente garantir a esfera
das liberdades, a inviolabilidade da pessoa, da critica da concepção burguesa do Estado — c, por conseguinte. (I
iniciativa privada em campo económico, etc.

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41Act 6 - 91,è do E Vcr,ci-t32 viodatue-

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