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Elementos da Teoria Geral do Estado

INTRODUÇÃO: noção, objeto e método – Ciência Política.

Antiguidade  Platão, Aristóteles e Cícero  não faziam um paralelo entre a realidade observada e a
realidade idealizada; a preocupação era indicar a melhor forma de convivência social.

Idade média  Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino  justificavam a ordem existente a partir de
considerações teológicas.

Fim da idade média  Marsílio de Pádua  preconiza a separação da Igreja e do Estado.

Início do século XVI  Maquiavel  grande revolução nos estudos políticos  abandono dos
fundamentos teológicos; não ignora valores humanos, morais e religiosos; observação do que ocorria na
época em termos de organização e atuação do Estado, fazia comparações no tempo e chegava a
conclusões universais. Sofreu restrições por muito tempo por parte dos que queriam esconder os
verdadeiros fundamentos do Estado.

Século XIX  Georg Jelinek  criação da “teoria geral do estado” como disciplina autônoma.

1940  Brasil  “teoria geral do estado” e “direito constitucional” se tornaram disciplinas diferentes.

Teoria geral do Estado = estudo do Estado sob todos os seus aspectos: aquilo que existe nele e o
influencia (origem, organização, funcionamento, finalidades...).

Culturalismo realista = considera a ordem sociológica, filosófica e jurídica como indissociáveis no estudo
do Estado.

SOCIEDADE

Origem:

Determinismo – teorias favoráveis à ideia da sociedade natural (tem mais adeptos).

A sociedade é um fato natural; impulso associativo natural + vontade humana.

Aristóteles  “O homem é naturalmente um animal político”. Só um indivíduo superior ao homem


procuraria viver isolado. Quanto aos irracionais, se agrupam por causa do instinto, pois só o homem
possui a razão, sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto.

Cícero  há uma disposição natural do homem para a vida em sociedade, independente das
necessidades materiais. Até o mais rico seria levado a viver em sociedade.

Santo Tomás de Aquino  a vida solitária é exceção, só acontece em três hipóteses: comunhão com a
divindade (ex. santos eremitas), ou anomalia mental, ou por acidente (ex. naufrágio).
Contratualismo – a sociedade é o produto de um acordo de vontades.

A sociedade só existe por causa da vontade humana. Nega o impulso associativo natural.

Platão, Thomas Moore e Tommaso Campanella  o contato deles com os contratualistas é que o IDEAL
seria que a sociedade se organizasse em razão da vontade humana. Mas não significa que é isso que
acontece.

Influenciados por uma ideia de direito natural:

Hobbes  ligação com o absolutismo  o homem tem o instinto natural de pegar aquilo que é seu,
agredindo antes de ser agredido. Por isso precisa se organizar em sociedade: para manter a paz; importa
a renuncia de alguns direitos em prol da harmonia da vida coletiva. Precisa de um governante para
organizar isso. Um mal governante é melhor do que nenhum governante.

Locke  antiabsolutista  negava que a sociedade estava ligava em razão da necessidade de conter a
guerra de todos contra todos.

Montesquieu  existem leis naturais que levam o homem a escolher a vida em sociedade: 1. Desejo de
paz; 2. Necessidades, ex. de alimentos; 3. Atração entre os sexos opostos; 4. Desejo de viver em
sociedade. Depois que se unem em sociedade em razão desses fatores, eles começam a se sentir fortes
e o sentimento de igualdade desaparece, levando às guerras.

Rousseu  Exerceu influência na Revolução Francesa e outras. Existe uma liberdade natural, e a fim de
proteger essa liberdade, o homem se organiza em sociedade, pois chega um momento que ele sozinho
não consegue mais “evoluir”. Predomina a vontade do todo em relação à vontade individual.

Sociedade e seus elementos característicos:


a) finalidade ou valor social;
b) manifestações de conjunto ordenadas;
c) poder social.

Finalidade social  busca do bem comum; significa que a sociedade busca a criação de condições que
permitam a cada homem ou grupo a consecução de seus fins particulares.
 É o que pregam os autores finalistas – embora exista um impulso associativo natural, há uma
finalidade social livremente escolhida pelo homem.

Manifestações de conjunto ordenadas  ordem social e ordem jurídica;


- A simples associação de pessoas com uma finalidade em comum não é suficiente para a consecução
desse objetivo. Portanto, tem que atender três requisitos: reiteração, ordem e adequação.
 Reiteração: manifestações de conjunto, não necessariamente ao mesmo tempo e no mesmo
lugar.
 Ordem: os atos praticados isoladamente devem integrar um todo harmônico. Essa ordem não
significa tirar a liberdade do homem, porque as normas expressam a vontade da maioria, e, além
disso, o homem ainda tem a liberdade de não segui-las.

Poder social  socialidade (o poder é um fenômeno social, e não a simples vontade individual) +
bilateralidade (o poder é uma correlação de duas ou mais vontades, tendo uma que predomina).
 Anarquistas – negam a necessidade do poder social. Na Grécia antiga tem os cínicos – pregavam
que deve viver de acordo com a natureza, sem respeitar convenções ou submeter a leis; estoicos
– ao contrário dos cínicos, exaltavam as virtudes morais; epicurismo – exaltação do prazer
individual. Cristianismo – aspiração à universalização do cristianismo, o que tornaria todos os
homens bons e como consequência não precisaria do domínio de uns sobre os outros.
Anarquismo de cátedra – se limita a negar a legalidade e legitimidade do poder, admitindo-o
apenas como mera expressão de superioridade material.
- Hipóteses de poder legítimo para Max Weber:
1. Tradicional – típico das monarquias; independe da formalidade legal.
2. Carismático – exercido por líderes que interpretam os sentimentos e aspirações do povo.
3. Racional – exercido pelas autoridades investidas pela lei; o único que há coincidência necessária entre
legitimidade e legalidade.

As sociedades políticas:

Sociedades de fins particulares  finalidade definida, voluntariamente escolhida por seus membros.
Sociedades de fins gerais / sociedades políticas  objetivo genérico; cria condições para que os
indivíduos alcancem seus fins particulares. Ex. família, Estado...

ESTADO

Origem e formação do Estado:

Do latim status = estar firme

Denominação: aparece pela primeira vez em ‘O Príncipe’ de Maquiavel, em 1513.


O nome ‘Estado’ indicando uma sociedade política: aparece no século XVI

- A existência de um Estado não depende necessariamente do reconhecimento por parte dos outros
Estados.

Evolução história do Estado:

Estado antigo, oriental ou teocrático:


 Família, religião, Estado e organização econômica formavam um conjunto confuso, sem
diferenciação. Portanto, não há distinção entre o pensamento político da religião, da moral, da
filosofia e de outras doutrinas.
 Características: natureza unitária e religiosidade.
o Natureza unitária: o Estado era uma unidade geral, sem qualquer divisão interior, nem
territorial, nem de funções.
o Religiosidade: a autoridade do governante e as normas de comportamento eram
expressões da vontade divina. Estreita relação do Estado com a religião.

Estado grego:
 Principais Estados: Atenas e Esparta;
 Característica: cidade-Estado (polis);
 Ideal visado: autossuficiência.
o Ex. da autossuficiência é que quando uma cidade-Estado conquistava algum povo, eles
não buscavam se integrar com esses povos a fim de criar uma ordem comum.
 Havia uma elite que compunha a classe política e tinha participação nas decisões do Estado.
Mesmo quando o Estado era democrático, não era toda a população que podia participar das
decisões, pois a ampliação excessiva tornaria impossível a manutenção do controle.

Estado romano:
 Base familiar da organização – privilégios especiais aos membros das famílias patrícias,
compostas pelos descendentes dos fundadores do Estado.
 O povo participava das decisões do Estado, mas esse “povo” não era todo mundo.
 Aos poucos outras camadas sociais foram adquirindo direitos.
 Integração com os povos dominados, mas mesmo assim havia superioridade dos romanos – um
plebeu romano tinha mais direitos que um membro dos povos conquistados.

Estado medieval:
 Características: cristianismo, invasão dos bárbaros e feudalismo.
 Pretendia caminhar para uma grande unidade política, como a de Roma.
 Aspiração de que toda a humanidade se tornasse cristã.
 Luta entre Papa e Imperador marcou os últimos séculos da idade média; só terminou com o
nascimento do Estado moderno.

Estado moderno:
 Tratados de paz de Westfália – documentaram a existência de um novo tipo de Estado.
 Características: SOBERANIA, POVO, TERRITÓRIO E FINALIDADE.

Elementos do Estado:
Soberania e finalidade – elementos formais
Povo e território – elementos materiais

Soberania:
- Termo embaraçoso.
- Na idade antiga, até o fim do império romano, não existe qualquer noção que se assemelha à
soberania. Aristóteles apontava características da Cidade-Estado com ideia de superioridade, mas essa
superioridade estava ligada a ideia de autossuficiência, e não de supremacia de poder. Jelinek fala que a
idade antiga não conseguiu conhecer o conceito de soberania porque faltava a consciência do conceito
de soberania: oposição entre o poder do Estado e outros poderes.
- Jean Bodin – 1576 – “Os Seis Livros da República” ---> A soberania é um poder absoluto e perpétuo; é
inalienável (só deixa de existir com o fim do Estado).
- Thomas Hobbes – 1651 – “Leviatã” ---> soberano é o Estado.
- Rousseau – 1762 – “O Contrato Social” --> limites do poder soberano --> a soberania não pode
ultrapassar nem transgredir os limites das convenções gerais; a titularidade da soberania pertence ao
povo.
- Conceito: poder de se organizar juridicamente e de fazer valer dentro de seu território a universalidade
de suas decisões nos limites dos fins éticos de convivência.
- Características:
 Una – não se admite a convivência de duas soberanias dentro do mesmo estado.
 Indivisível – inadmissível a existência de várias partes separadas da mesma soberania.
 Inalienável – quem detém o poder desaparece quando fica sem ela.
 Imprescritível – não seria superior se tivesse prazo certo de duração.
o Zanzucchi acrescenta:
 Poder originário – nasce no momento que nasce o Estado.
 Poder exclusivo – só o Estado o possui.
 Poder incondicionado – só encontra os limites postos pelo próprio Estado.
 Poder coativo – o Estado não só ordena, mas usa meios para cumprir suas vontades.

- Teorias justificadoras do poder soberano:


 Teorias teocráticas: Princípio cristão externado por São Paulo ---> todo o poder vem de Deus. O
próprio Deus concedeu ao príncipe o poder. De qualquer forma, o titilar da soberania acaba sendo a
pessoa do monarca.
 Teorias democráticas: A soberania se origina do próprio povo.

- Soberania = independência + poder jurídico mais alto (dentro da jurisdição do Estado, o Estado tem o
poder de decisão em última instância sobre a eficácia de qualquer norma jurídica).
- Irrelevante o potencial da força material. Se baseia na ideia de igualdade jurídica entre os estados,
respeito recíproco e respeito às regras de convivência.

Território:
- A noção de território como componente necessário do Estado só surgiu com o Estado Moderno.

Síntese:
 Não existe estado sem território. A perda temporária do território não desnatura o Estado, que
continua a existir enquanto não se tornar definitiva a impossibilidade de reincorporação.
 O território estabelece a delimitação da ação soberana do Estado. Obs.: Existem situações que o
Estado pode agir sobre indivíduos fora do seu território, mas ele não pode concretizar nenhuma
providência sem autorização da outra soberania.
 O território é objeto de direitos do Estado.
- Princípio da impenetrabilidade ---> reconhece ao Estado o monopólio de ocupação de determinado
espaço.

Significação jurídica negativa do território = cria para o Estado a obrigação de agir sempre que no seu
âmbito se verifiquem certas circunstâncias. “Poder de reação”
Significação jurídica positiva do território = possibilidade de agir soberanamente no seu campo de ação.

- A partir de 1945, com a Carta das Nações Unidas, estão oficialmente extintos os territórios coloniais.

Povo:

- População: mera expressão numérica que abrange o conjunto de pessoas que vivem em um território
ou que estão temporariamente sobre ele. Isso, por si só, não revela vínculo jurídico com o Estado.
- Nação: comunhão formada por laços históricos e culturais.
- Povo: conjunto dos cidadãos do Estado.

Distinção entre aspecto subjetivo e objetivo do povo (Jelinek):


- Aspecto subjetivo: o Estado é sujeito do poder público, e como o povo é elemento do Estado, o povo
também é sujeito do poder público.
- Aspecto objetivo: o povo é objeto da atividade do Estado.

Rousseau – ao povo, cabe a designação de cidadão quando participa da autoridade soberana do Estado,
e de sujeito quando está submetido às leis do Estado. Ou seja, vai ser cidadão só os membros das
classes dirigentes.

Jelinek – cidadãos são todos que participam da constituição do Estado. Cidadania ativa é uma categoria
especial de cidadãos, que atendem aos requisitos exigidos pelo Estado, ex. eleitor, jurado.

- A condição de cidadão dá direitos e deveres ao indivíduo, que o acompanham mesmo quando está
fora do território. Se o cidadão ativo deixa de atender aos requisitos, ele perde ou têm reduzidos os
atributos da cidadania ativa, mas não perde a cidadania.

Finalidade e funções do Estado:


- O fim do Estado é o bem comum. O Estado busca o bem comum do povo que está situado no seu
território. Isso determina uma concepção particular de bem comum para cada Estado, em função das
peculiaridades de cada povo.
- Finalidade da RFB está no art. 3º da CF/88 (objetivos).

Classificação dos fins do Estado:

Classificação genérica:
- Fins objetivos:
 Fins universais objetivos – fins comuns a todos os Estados e em todas as épocas ---> o Estado é
um fim em si mesmo. Adeptos: Platão e Aristóteles.
 Fins particulares objetivos – fins distintos de cada estado, resultantes das circunstâncias e
condicionantes da sua história.
- Fins subjetivos: os fins do Estado são a síntese dos inúmeros fins individuais.

Classificação baseada na amplitude das funções do Estado:


- Fins expansivos: base dos Estados totalitários.
 Utilitárias – buscam o máximo de desenvolvimento material em detrimento de valores
fundamentais, como a liberdade.
 “Éticas” – o Estado é a fonte da moral e não tolera qualquer comportamento que não esteja de
acordo com a sua moral. Ex. só pode seguir a religião imposta pelo Estado.
- Fins limitados: favorável à redução das atividades do Estado.
 Estado-polícia – o Estado é mero vigilante da ordem, com a função de preservação da segurança.
 Estado-liberal – proteger exclusivamente a liberdade individual.
 Estado de direito – deriva das teorias contratualistas; o Estado tem a função exclusiva de aplicar
rigorosamente o direito.
- Fins relativos: teoria solidarista. Meio termo entre as outras correntes. Função de conservar, ordenar e
ajudar. Defende que não basta a igualdade formal ---> equidade entre todos os homens.

Groppali e Ranelletti  divide as finalidades do Estado em:


1º fins exclusivos/essenciais – são imprescindíveis ao Estado.
2º fins concorrentes/complementares/integrativos – não exige que o Estado os trate com exclusividade,
mas o Estado deve busca-los para o desenvolvimento e o progresso da vida social.

Poder do Estado:
Poder = elemento essencial do Estado; característica do Estado.  maioria da doutrina.
- Peculiaridades sobre o poder:
 A característica mais importante é a soberania;
 Não há distinção muito nítida entre poder de império e soberania.

Jelinek – existem 2 formas de poder:


Poder dominante: originário e irresistível. Originário porque o Estado tem um poder que lhe é próprio e
do qual deriva os demais poderes. Irresistível porque, por seu um poder dominante, é impossível
subtrair-se dele.
Poder não dominante: se encontra em todas as sociedades que não o Estado; não dispõe de força para
obrigar a execução das suas ordens. Ex. Igreja?

Correntes que caracterizam o poder do Estado:


- Como poder político ---> incondicionado e preocupado em assegurar sua eficácia, sem qualquer
limitação.
- Como poder jurídico ---> nascido do direito e exercido exclusivamente para a consecução de fins
jurídicos. Posição de Hans Kelsen.

Conceito de Estado:
- Estado é a nação politicamente organizada.  ideia ultrapassada.
- Jelinek ---> Estado é uma corporação territorial dotada de um poder de mando originário.
- Hans Kelsen ---> Estado é ordem coativa normativa da conduta humana.
- Estado é a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em
determinado território.  definição mais completa.

Estado e direito

Personalidade jurídica do Estado:


- É o que conduz ao reconhecimento da existência do Estado (político) pelo direito (jurídico).
- Confere ao Estado as características de pessoa jurídica ---> sujeito de direitos e deveres.
- Origem e fundamentos do Estado como PJ ---> contratualistas. Porém, só no século XIX, na Alemanha,
é que se desenvolveu a ideia completa, porque até então era um tema considerado estritamente
político.

Teorias da personalidade jurídica do Estado:


Teorias ficcionistas:
 Savigny – personalidade é concebida como ficção, como sujeitos artificiais criados por lei.
 Hans Kelsen – concepção normativista; o Estado é a personificação da ordem jurídica o Estado
e sua personalidade são ficção.
Teorias realistas:
 Laband – o Estado é uma unidade organizada, com personalidade jurídica e vontade própria.
Seus direitos e deveres são distintos dos seus cidadãos.
 Jelinek – embora o Estado não seja capaz de adquirir a subjetividade jurídica dos seus indivíduos
humanos, ele é uma unidade coletiva que não é ficção.
Teorias que negam a personalidade jurídica do Estado
 Max Seydel – o Estado é somente homens e terras dominados por uma vontade superior.
 Duguit – o Estado é apenas uma relação de subordinação entre os que mandam e os que são
mandados.

Em síntese:
- Embora exista controvérsia doutrinária, é sólido o entendimento de que o Estado possui personalidade
jurídica.
- Através da noção de Estado como pessoa jurídica, se estabelece limites jurídicos eficazes no
relacionamento do Estado com seus cidadãos.

Estado, direito e política:


- Não tem como estabelecer separação nítida entre político e jurídico.
- Kelsen pretendeu limitar a TGE ao estudo do Estado “como ele é” ---> é inaceitável, porque para
estudar o Estado tem que indagar alguns questionamentos sobre bem como a busca de um melhor
Estado.
- Embora muitos políticos usem o poder para satisfazer antes de tudo seus interesses pessoais, isso é
uma anomalia, e não é certo dizer que o poder político é essencialmente mal.

Tendo em vista o caráter político do Estado, para a consecução dos seus objetivos, devem ser levados
em conta três dualismos fundamentais:
 Necessidade e possibilidade;
 Indivíduos e coletividade;
 Liberdade e autoridade.

Estado e nação:
- O conceito de nação surgiu como um artifício para envolver o povo em conflitos de interesses alheios.
Nação = não indica a existência de um vínculo jurídico entre seus componentes, mas tem importância
sociológica, uma vez que influi na organização e funcionamento do Estado.

Estado ---> sociedade


Nação ---> comunidade
* distinção estabelecida no séc. XX

Sociedade Nação
Agrupa os homens em razão de um objetivo; A única aspiração é a preservação da própria
pressupõe a vontade e a inteligência humana. comunidade.
As manifestações de conjunto ordenadas ligam Não existe vínculo jurídico, somente sentimento
seus membros por vínculos jurídicos. comum.
Existe um poder social reconhecido pelo Não há regra jurídica nem poder. Existe, no
ordenamento jurídico. máximo, centros de influência, que podem
influenciar a comunidade, ex. religião.

Plurinacionalismo = existência de grupos sociais com culturas distintas dentro do mesmo Estado.

Obs.: Quando um indivíduo se desvincula de uma ordem jurídica para se vincular a outra, houve uma
troca de cidadania, e não de nacionalidade.

Mudanças do Estado por Reforma e Revolução:


Evolução = transformação gradativa.
Revolução = transformação brusca. Para que seja legítima tem que preencher os requisitos:
legitimidade, utilidade e proporcionalidade.

Estado e governo

Estado moderno e democracia

- Ideia moderna de Estado Democrático ---> raízes no século XVIII. Os sistemas políticos do séc. XIX e
início do séc. XX são apenas tentativas de realizar as aspirações do séc. XVIII.

Base do estado democrático ---> governo do povo.


 Existe uma certa relação entre a ideia moderna de democracia e a que existia na Grécia antiga.
Só que na Grécia antiga, não era todo mundo que era cidadão. Para Aristóteles, por ex., só era
cidadão quem não precisava trabalhar para viver.
- O estado democrático moderno nasceu das lutas contra o absolutismo. Grande influência de Locke e
Rousseau, embora eles não tenham proposto a adoção de governos democráticos.
Movimentos políticos sociais importantes:
- Revolução inglesa ---> influenciada por Locke; Bill of Rights.
- Revolução americana ---> Declaração de Independência das 13 colônias americanas.
- Revolução francesa ---> Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Princípios que passaram a nortear os Estados, como exigências da democracia:


 Supremacia da vontade popular;
 Preservação da liberdade;
 Igualdade de direitos.

Democracia direta, semidireta e representativa:

Democracia direta:
- Burdeau fala que é mera curiosidade histórica.
- Só existe hoje na Landsgemeinde, que se encontra em alguns Cantões suíços. * É uma assembleia,
aberta a todos os cidadãos do Cantão que tenham o direito de votar, e o comparecimento é um dever.
- É inviável no mundo atual, porque só dá pra ocorrer onde o colégio eleitoral seja bem restrito.

Democracia semidireta:
- Referendo, plebiscito, iniciativa, veto popular e recall.
---> Referendo: consulta ao povo posterior à decisão tomada.
---> Plebiscito: consulta prévia; raízes na Roma antiga.
---> Iniciativa: na CF/88 a iniciativa popular está restrita à lei ordinária e complementar, e não há
possibilidade de recurso se o legislativo rejeitar o projeto.
---> Veto popular: dá aos eleitores, após a aprovação de um projeto pelo legislativo, um prazo para que
requeiram a aprovação popular.
---> Recall: instituição norte-americana; pode ser para revogar a eleição de um legislador ou funcionário
eletivo, ou para reformar decisão judicial sobre constitucionalidade de lei.
 Para revogar eleição – um certo nº de eleitores requere uma consulta ao eleitorado, sobre a
manutenção ou revogação do mandato.
 Judicial – proposto por Theodore Roosevelt; as decisões judiciais que neguem a aplicação de uma
lei por inconstitucionalidade poderiam ser anuladas pelo voto da maioria dos eleitores, e a lei se
tornaria constitucional.

Democracia participativa:
- Iniciativa popular;
- Criação de Conselhos especializados para atuar em certo setor de atividades sociais.

Democracia representativa:
- Existe diante da impossibilidade de manutenção da democracia direta, e das limitações inerentes à
democracia semidireta.
- O povo concede um mandato para que os governantes ajam em seu nome e externem a vontade
popular.
Mandato público à luz da análise do instituto privado:
Mandato imperativo ---> momento de transição que persistiu no fim da Idade Média e que foi
repudiado com a revolução francesa; ainda demorou algumas décadas para desaparecer na Inglaterra.
- Os representantes do povo recebiam um mandato, mas tinham que seguir fielmente as instruções dos
eleitores.
 “Os representantes eleitos nos departamentos não serão representantes de nenhum
departamento em particular, mas de toda a nação, e não lhes poderá ser dado nenhum
mandato.” (trecho da constituição francesa de 1791). Quando a constituição fala em mandato
está se referindo às ordens dadas pelos eleitores = mandato imperativo.

Mandato político:
- Completa desvinculação da origem privada;
- É uma das mais importantes conjugações do político com o jurídico.

Representação política:

- Atenas do séc. V a.C. = se instaurou a democracia, em que a autoridade suprema do Estado era a
assembleia dos cidadãos. Houve a definição de partidos, que era consequência das lutas entre
interesses opostos.
- Idade média = também teve manifestações de cunho partidário; havia os adeptos à supremacia do
Papa e outros à do Imperador.
- Partidos políticos no sentido moderno só apareceram a partir de 1850. Há autores que falam que
surgiu no séc. XVII, na Inglaterra, na luta de direitos do Parlamento e da coroa. Entretanto, por muito
tempo prevaleceram organizações meio clandestinas. Os partidos só foram de fato incorporados à vida
constitucional no séc. XIX.

Ferreira Filho – Partidos são instituições dotadas de personalidade jurídica e situadas no âmbito do
direito público interno.  doutrina majoritária.
- Legislador brasileiro = deixa expresso que partidos políticos são PJ de direito PRIVADO.

Classificação dos sistemas partidários

Quanto à organização interna:


Partidos de quadros ---> mais preocupados com a qualidade dos membros do que com a quantidade;
preferem atrair pessoas mais notáveis ou abastadas $.
Partidos de massas ---> buscam o maior nº possível de adeptos, sem discriminação, além de servirem de
instrumento para que indivíduos com baixa condições econômicas possam ter posição no governo.

Quando à organização externa:


Partido unitário ---> um partido só no Estado.
Sistemas bipartidários ---> dois grandes partidos que se alternam no governo, sem excluir outros
partidos, que, entretanto, são pouco expressivos. Ex. Inglaterra e EUA.
Sistemas pluripartidários ---> são a maioria; existência de vários partidos igualmente dotados de
possibilidades.
Quanto ao âmbito de atuação dos partidos:
Partidos de vocação universal ---> pretendem atuar além das fronteiras do Estado; baseiam-se na
solidariedade entre os membros, numa teoria política de caráter universal.
Partidos nacionais ---> têm adeptos em número considerável em todo o território do Estado; não é
necessário que a distribuição do eleitorado seja uniforme em todo o território.
Partidos regionais ---> âmbito de atuação se limita a determinada região do Estado.
Partidos locais ---> âmbito municipal; orientam sua atuação exclusivamente por interesses locais.

Robert Michels – conclui que há uma tendência oligárquica na democracia, porque há uma inevitável
predominância de grupos.

Em síntese:
- Partidos políticos podem ser úteis, apresentando mais aspectos positivos que negativos, desde que
sejam autênticos, formados espontaneamente e com possibilidade de atuar livremente.

Estado federal:

Classificação:
- Estados unitários = há um poder central.
- Estados federais = conjuga vários centros de poder autônomo.
- Estado regional = existe para alguns autores modernos; é um meio termo entre o unitário e o federal.
Ex. Itália e Espanha. Para a maioria dos autores é uma forma de estado unitário um pouco
descentralizado.

Estado federal:
- Do latim foediis, significa pacto, aliança.
- É a união de vários estados, só que com algumas peculiaridades.
- Só aparece no séc. XVIII ---> o que existiu antes disso eram alianças temporárias e limitadas a
determinados objetivos.
- Nasceu com a Constituição dos EUA em 1787:
 Em 1776, 13 colônias britânicas da América se declaram independentes. Alguns anos depois
criaram um tratado de aliança visando preservar a independência delas (Artigos de
Confederação), mas cada uma permanecia soberana e independente. Entretanto, mesmo tendo
solidariedade entre elas, havia conflitos de interesses, o que resultou na criação de um Estado
Federal, regido por uma constituição. Esse Estado (EUA) foi influenciado por Montesquieu, em
que havia o sistema de freios e contrapesos, com poderes independentes e harmônicos entre si.
Características do Estado Federal:
- A união faz nascer um novo Estado, e aqueles que se aderiram a essa federação perdem a condição de
Estado;
- Sua base jurídica é uma Constituição, e não um tratado;
- Não existe direito de secessão;
- Só o Estado federal tem soberania;
- Distribuição de competências entre a União e as unidades federadas;
- Cada esfera dispõe de recursos próprios;
- Poder político compartilhado entre União e unidades federadas;
- Os cidadãos do Estado que adere à Federação adquirem a cidadania do Estado Federal e perdem a
anterior;
- Impede a acumulação de poder em um só órgão, dificultando a formação de governos totalitários;
- É a expressão mais avançada de descentralização política.

Obs.: Muitos Estados, embora não tenham resultado da fusão de outros Estados, adotaram a forma
federativa.

 A CF da União Soviética era diferente. Embora se tratasse de um Estado Federal, cada “estado”
poderia sair livremente (secessão). Hoje, na Rússia, ainda pode se desligar da Federação, mas
precisa de concordância da Federação Russa.

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