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UNIDADE I – DIREITO, SOCIEDADE E ESTADO

01.01 - Conceito de sociedade;


01.02 - Sociedade e Comunidade;
01.03 - Conceito de Estado;
01.04 - Elementos constitutivos do Estado.

Conceito de Sociedade

“todo complexo de relações do homem com seus semelhantes”


(Bonavides, p.57) é um conceito genérico e servirá de ponto de partida
para nossa discussão.

Qualquer conceito de sociedade que se pretenda discutir parte da


concepção das duas principais formulações históricas que estudam o
assunto: organicismo ou mecanicismo.

Do ponto de vista organicista, sociedade é o “conjunto de relações


mediante as quais vários indivíduos vivem e atuam solidariamente em
ordem a formar uma entidade nova e superior” (Bonavides, p.58).

Do ponto de vista mecanicista, sociedade é “um grupo derivado de um


acordo de vontades, de membros que buscam, mediante o vínculo
associativo, um interesse comum impossível de obter-se pelos esforços
isolados dos indivíduos” (Bonavides, p. 57)

Os organicistas fazem a apologia da autoridade; os mecanicistas


advogam a tese de que é o assentimento, e não o princípio da
autoridade, a base da sociedade.

Sociedade x Comunidade

A sociedade pressupõe a ação conjunta e racional dos indivíduos no


seio da ordem jurídica e econômica. Há laços entre as pessoas, mas
elas permanecem separadas.

A comunidade, por sua vez, implica a existência de vínculos psíquicos


entre os membros, onde impera a solidariedade.

Em termos didáticos, é possível o paralelo:

Sociedade: solidariedade mecânica


Comunidade: solidariedade orgânica

Sociedade: se governa pela razão


Comunidade: pela vida e pelos instintos

Sociedade: é uma organização


Comunidade: é um organismo

Sociedade: a gente está


Comunidade: a gente é

A comunidade antecedeu a sociedade, que é um estágio de


desenvolvimento posterior, mas não eliminou aquela primeira.

Conceito de Estado

“A denominação Estado (do latin status = estar firme), significa situação


permanente de convivência e ligada à sociedade política, aparece pela
primeira vez em “O Príncipe” de Maquiavel, escrito em 1513, passando
a ser usada pelos italianos sempre ligada ao nome de uma cidade
independente, como, por exemplo, stato di FirenzeI” (Dallari, p. 51).

Por ter aparecido pela primeira vez em uma obra assinada por autor
importante no século XVI, alguns autores não aceitam que antes disto
possa se falar em Estados, mas a maioria deles, no entanto, aceita a
existência de “sociedades políticas que, com autoridade superior,
fixaram as regras de convivência de seus membros” (Dallari, p. 52).

Há três teorias acerca da época do aparecimento do ESTADO:

a) o Estado e a sociedade existem desde sempre porque o homem


encontra-se integrado numa organização social dotada de poder e com
autoridade para determinar o comportamento de todo o grupo desde
sempre.

b) a Sociedade existiu sem o Estado por algum período, depois, por


diversos motivos, viu-se a necessidade de institui-se o Estado.

c) só admitem como Estado a sociedade política dotada de certas


características muito bem definidas. Há autor (Balladore Pallieri) que
indica até o ano que o Estado teria nascido – 1648. Ano que foi
assinada a Paz de Westfália, cidade onde foram assinados tratados
definindo o território da França e da Alemanha, após a Guerra dos 30
anos.

Sobre a formação do Estado, existem duas grandes teorias:

a) formação natural ou espontânea: o Estado se formou naturalmente e


não por ato voluntário.

b) formação contratual: o Estado se formou a partir de um contrato (um


acordo) entre alguns homens ou todos eles.

Política e Estado na antiguidade: formas estatais pré-modernas


A evolução histórica do Estado na antiguidade que pretendemos expor
inicia seu caminho na Grécia com Platão (428-248 A.C.), passando por
Aristóteles (384-322 A.C.) e terminando o período na análise do
“Estado” no Império Romano.

O Estado nesse período possui duas características básicas:

a) natureza unitária: aparece com uma unidade geral, não admitindo


qualquer divisão interior, nem territorial, nem de funções,
b) religiosidade: a presença da religião nesse período é tão forte que há
autores que qualificam o estado desse período como Estado
Teocrático.

Dallari assim expõe seu pensamento: “A influência predominante foi


religiosa, afirmando-se a autoridade dos governantes e as normas de
comportamento individual e coletivo como expressões da vontade de
um poder divino” (Dallari, p. 62)

Essa teocracia significa, explica o professor Dallari, que há uma estreita


relação entre o Estado e a divindade, podendo-se apontar duas formas
diferentes:

a) o governo é unipessoal e o governante é o representante da


divindade na terra, às vezes se confundindo com ela.
b)o poder do governante é limitado pela vontade da divindade, cujo
veículo é uma órgão especial, como uma classe sacerdotal.

Modelos de Estado em Platão:

Utiliza-se a expressão Estado Grego ou Estado em Platão, mas não há


notícias da existência de um estado que englobasse todo o mundo
helênico. O que caracteriza certa unidade de pensamento daqueles
povos é o aspecto político, apesar das diferenças existentes, por
exemplo, entre Atenas e Esparta, duas das principais cidades-estado
daquela época. A propósito, Paulo Bonavides resume a questão: “O
Estado na antiguidade é a cidade” (Teoria do Estado, p. 31). Por
exemplo: Nínive, Babilônia, Tebas, Persépolis, Esparta, Atenas, Roma.

E continuar o mestre cearense falando da estreita ligação entre estado


e religião naquela época: “O paço e o templo, a monarquia e o
sarcedócio, o temporal e o espiritual, traduziam a fusão completa
do governo dos homens com o poder sobrenatural das
divindades, os numes do paganismo”.

Platão foi o primeiro grande filósofo a elaborar, de modo sistemático,


uma filosofia política e a construir um projeto político-pedagógico. Para
o grego, “a Idéia do Bem consiste no ápice do conhecimento e aquele
que, ao final de um logo e árduo processo de ascensão ao mundo real,
consegue contemplá-la está apto a conduzir os outros homens no
caminho da Verdade e a organizar a cidade segundo leis e instituições
essencialmente boas e justas” (Marcelo Maciel, Curso de Ciência
Política, p. 7).

As formas de governo para Platão (mais correto do que formas de


Estado) são as seguintes:

a) Timocracia: governo caracterizado pela ambição de glórias,


conquistas e honras militares. Esparta é o exemplo perfeito dessa
forma de governo.
b) Oligarquia: governo exercido pelos ricos para os ricos funda-se na
desigualdade econômica.
c) Democracia: que é a revolta contra o governo oligárquico, quando
se toma o poder da mão de poucos e transfere-se para um grande
número de indivíduos.
d) Tirania: que é a desordem resultante do governo democrático

Para Platão as três formas são imperfeitas, seja porque favorecem à


corrupção, ao aumento das diferenças sociais ou porque
institucionaliza o erro coletivo (Sócrates condenado à morte).

Aristóteles e o sentido ontológico-político do homem:

Para Aristóteles o homem é um animal político que tem uma tendência


natural à vida em sociedade. Ele tem uma visão organicista do Estado,
“segundo o qual este constitui um todo que dá sentido às partes”
(Marcelo Maciel, p. 11). Para viver regular o convívio de muitos
indivíduos impõe-se a existência de um poder divino. Aristóteles assim
define que existem duas formas de governo: o justo e o injusto, cada
governo (de um só, de poucos ou de muitos) pode gerar governos
injustos:

a) realeza: governo no qual o poder político é exercido por um único


indivíduo; é um governo justo quando visa o interesse de todos. Não se
confunde com a tirania, governo de um só que oprime a todos e faz
uso do poder para seu interesse próprio.
b) aristocracia: governo de poucos, de uma minoria, de uma elite; é
legítima se visa o bem comum, mas pode se transformar em
oligarquia, onde se visa apenas o bem da classe que governa.
c) república: onde muitos desfrutam do status de cidadãos com
participação nas decisões do Estado. A forma deturpada é a
demagogia, onde só se enxerga os direitos dos pobres e muitas vezes
é conduzida à violência ou ilegalidade.

Império Romano, estoicismo e institucionalização da política:

Pode ser artificial falar-se de um Estado Romano, tendo em vista que


aquele povo conheceu várias formas de governo e estágio de evolução,
desde pequenos agrupamentos até a condição de potência ou império
mundial, período que vai de 754 A.C. (fundação) até a morte de
Justiniano em 565 da era cristã (ou para alguns a queda do Império
Romano do ocidente em 476).

Para Dallari, “uma das peculiaridades mais importantes do Estado


Romano é a base familiar da organização, havendo mesmo quem
sustente que o primitivo Estado, a civitas, resultou da união de grupos
familiares (as gens), razão pela qual sempre se concederam privilégios
especiais aos membros da famílias patrícias, compostas pelos
descendentes dos fundadores do Estado”. (Dallari, p. 64)

Com a evolução da civilização romana e só quando já despontava a


idéia de império é que houve uma tentativa de integração dos diversos
povos que viviam sob seu domínio. No ano 212 o Imperador Caracala
concedeu naturalização a todos os povos do império, isso por razões
religiosas, fiscal, social. Em 313 Constantino assegurou a liberdade
religiosa e apressou o fim do império romano, quando a noção de
superioridade dos romanos – base da unidade do Estado Romano – cai
por terra.

Política e Estado na idade média:

A idade média é o período compreendido entre o século V e XV, com a


queda de Constantinopla em 1453. Cuida-se para muitos de período
obscuro da humanidade onde se identifica os principais elementos
presentes:

a) cristianismo: “afirma-se desde logo a unidade da Igreja, num


momento que não se via claramente uma unidade política” (Dallari, p.
66). Todos os cristãos deveriam ser integrados numa só sociedade
política.
b) invasão dos bárbaros: “A formação de um vasto império
proporcionou aos romanos uma série de dificuldades ligadas à
manutenção dos limites territoriais com outros povos europeus. Durante
o século IV os povos germânicos foram gradativamente atraídos pela
disponibilidade de terras férteis e o clima ameno das possessões
romanas. Paralelamente, essas populações também sofriam com a
pressão militar exercida pelos hunos, habilidosos guerreiros mongóis
que forçavam a entrada dos germânicos no Império Romano”
(http://www.brasilescola.com/historiag/invasoes-barbaras.htm)
c) feudalismo: por conta das invasões bárbaras e das guerras
internas, houve dificuldade no desenvolvimento do comércio, “em
conseqüência, valoriza-se enormemente a posse da terra, de onde
todos, ricos ou pobres, poderosos ou não, deverão tirar seu modo de
subsistência. Assim, pois, toda a vida social passa a depender da
propriedade ou da posse da terra, desenvolvendo-se um sistema
administrativo e uma organização militar estreitamente ligados à
situação patrimonial” (Dallari, 69).

Gênese do Estado Absoluto (Política e Estado na Idade Moderna):


Ensina Dallari: “As deficiências da sociedade política medieval
determinaram as características fundamentais do Estado Moderno. A
aspiração à antiga unidade do Estado Romano, jamais conseguida pelo
Estado medieval, iria crescer de intensidade em conseqüência da nova
distribuição da terra. Com efeito, o sistema feudal, compreendendo
uma estrutura econômica e social de pequenos produtores individuais,
constituída de unidades familiares voltadas para a produção de
subsistência, ampliou o número de proprietários, tanto dos latifundiários
quantos dos que adquiriram o domínio de áreas menores. Os senhores
feudais, por seu lado, não toleravam as exigências de monarcas
aventureiros e de circunstâncias, que impunham uma tributação
indiscriminada e mantinham um estado de guerra constante, que só
causavam prejuízo á vida econômica e social” (Dallari, p. 70)

Por conta disso a idéia de unidade foi ganhando força, e se


concretizando com a afirmação de um poder soberano, no sentido de
supremo, reconhecido como o mais alto de todos dentro de uma
precisa delimitação territorial. O Tratado de Paz de Westfália “tiveram o
caráter de documentação da existência de um novo tipo de Estado,
com a característica básica de unidade territorial dotada de um poder
soberano.” (Dallari, p. 70).

O absolutismo pode ser sintetizado a seguir, nos seguintes termos:

“O processo de centralização e absolutização do poder apresentou três


momentos bem demarcados: uma etapa feudal, em que os reis se
esforçaram para destacar-se dos vassalos; uma etapa moderna, do
século XV ao XVI, em que os reis procuraram criar suas próprias
instituições (Conselhos, corpo de funcionários, exércitos); e uma etapa
de consolidação, séculos XVI a XVIII, em que a racionalização e a
burocratização atingiram o apogeu e definiram a forma moderna do
Estado.

Essas tendências foram mais intensas na Inglaterra e na França do que


em Portugal e na Espanha. Na Itália, a independência das cidades
impediu a unificação até o século XIX. Na Alemanha, lutas religiosas e
sociais fortaleceram os poderes locais. A Holanda foi exceção à regra.
Nasceu da revolta contra a Espanha no século XVI, quando as sete
províncias do norte formaram a República das Províncias Unidas.
Governada por um Stathouder, com poderes civis e militares, e um
Pensionário, representante da Assembléia dos Estados, constituiu-se
num avanço em matéria de instituições políticas. Com vida econômica
intensa, a Holanda era a primeira nação marítima e comercial e centro
das feiras industriais da Europa.

A França foi o modelo mais acabado de absolutização do poder. O


Estado avançou devido à crise da Baixa Idade Média: as revoluções
camponesas e urbanas punham as classes dominantes em xeque e
criavam obstáculos ao próprio desenvolvimento econômico. O Estado
forte continha as rebeliões e dinamizava a expansão comercial, pro-
movendo a retomada do desenvolvimento econômico”.
http://www.culturabrasil.org/absolutismo.htm

O mais perfeito exemplo de rei absolutista é o período de Luis XIV, cuja


descrição segue abaixo:

O Rei-Sol

“A morte do Cardeal Mazzarino (que a lado da rainha-mãe reinava)


precipitou o governo pessoal de Luís XIV (1661-1715): este Luís foi o
melhor exemplo do absolutismo.

Preparado desde criança por Mazzarino para exercer o poder, Luís XIV
sintetizou suas idéias absolutistas numa frase célebre: “L’État c’est moi”
(O Estado sou eu.) Ele acumulou as funções de rei e de ministro.
Afastou os ministros permanentes. Esvaziou o Conselho. O poder
central ficou com a seguinte composição: Conselho, com seis
conselheiros; chanceler; diretor das finanças; secretários de Estado
(Marinha, Guerra, Casa Real e Assuntos Estrangeiros). Nas províncias,
foram confirmadas as intendências, ligadas ao poder central e com
toda autoridade em matéria de justiça, finanças e polícia, além de
encarregadas de fiscalizar os oficiais detentores de cargos públicos e
supervisionar a arrecadação de impostos.

No plano social, Luís XIV promoveu a ascensão da burguesia; dela


recrutou alguns ministros, como Colbert, promotor da política de
industrialização. Controlou a nobreza atraindoa para a Corte. O Palácio
de Versalhes chegou a acolher 6 000 pessoas. A corte compensava os
nobres da perda de poder político e satisfazia a vaidade de Luís. Ele foi
o Rei-Sol: adorava se cercar de centenas de cortesãos aduladores.

Em 1685, Luís XIV aboliu o Edito de Nantes, o que provocou grande


evasão de capitais, levados por protestantes que deixaram o país. Sua
política externa envolveu a França em numerosas aventuras militares,
como a guerra contra os Países Baixos e a da Sucessão da Espanha,
com objetivos expansionistas, sempre visando a grandeza da França e
sua hegemonia na Europa.

Com a morte do Rei-Sol, começaria a fase de hegemonia da Inglaterra”


(http://www.culturabrasil.org/absolutismo.htm)

O Estado Moderno: Absolutismo

O Estado moderno apresenta alguns elementos que não se existiam no


período anterior, a idade média, são eles:

a) plena autonomia em termos de autoridade que não “permite que sua


autoridade dependa de nenhuma outra autoridade” (Lenio, p. 40), o que
se convencionou chamar de Soberania.
b) o segundo elemento é a distinção entre Estado e Sociedade Civil,
que vai se tornar mais evidente ainda na Inglaterra do século XVII, com
a ascensão da burguesia: “O Estado se torna uma organização distinta
da Sociedade Civil, embora seja expressão desta” (Lenio, 40)

c) um terceiro elemento é que, diferentemente do que ocorria na


Idade Média, que o senhor feudal tinha uma relação patrimonial com o
Estado, no Estado moderno, havia uma identidade entre o Estado e o
monarca, que representa a soberania estatal.

O Estado moderno, portanto, é uma inovação, quando a forma de


dominação passa de carismática para uma dominação legal-racional,
posto que estruturas burocráticas surgiram passando das mãos
privadas do senhor feudal para a esfera pública, tais como
comunicações, justiça, exército, cobrança de impostos, etc.

“A distinção entre a esfera privada e a pública, a dissociação entre o


poderio político e o econômico e a separação entre as funções
administrativas, políticas e a sociedade civil, são as principais
especificidades que marcaram a passagem da forma estatal medieval
para o Estado Moderno” (Lenio citando Roth, 43).

A burocracia é elemento de fundamental importância nessa nova


ordem: monopólio do sistema monetário, monopólio do sistema fiscal,
monopólio da realização da justiça, e finalmente o exército nacional. A
passagem da “forma estatal medieval para o Estado absolutista
representou um avanço para as relações sociais e de poder” (Lênio,
46).

Esse estado absolutista perdurou até a Revolução Francesa em 1789,


quando a burguesia, classe que ascende política e economicamente
durante o período absolutista dos reis franceses, decide tomar para si o
poder político:

“Na virada do século XVIII, essa mesma classe não mais se contentava
em ter o poder econômico; queria, sim, agora, tomar para si o poder
político, até então privilégio da aristocracia, legitimando-a como poder
legal-racional, sustentado em uma estrutura normativa a partir de uma
“Constituição” - no sentido moderno do termo – como expressão
jurídica do acordo político fundante do Estado” (Lenio, 51)

O Estado Moderno: Liberalismo

A primeira versão do Estado Moderno busca se afastar da


fragmentação do “Estado” medieval e, para tanto, se caracteriza por um
momento de concentração de poder na mão do monarca absolutista.
Com a Revolução Francesa, a burguesia toma o poder da monarquia e
se afasta de qualquer intervenção do Estado na vida social, de acordo
com Dallari (p. 271), “essa foi a raiz individualista do Estado liberal”, ou
seja, “ao mesmo tempo, a burguesia enriquecida, que já dispunha de
poder econômico, preconizava a intervenção mínima do Estado na vida
social, considerando a liberdade contratual um direito natural dos
indivíduos” (p. 271), além de outros direitos como o de propriedade.

A obra mais importante desse período foi a “Riqueza das Nações”, de


Adam Smith, que sustentava ser cada homem o melhor juiz de seus
interesses e que, portanto, deveria ter a liberdade de promovê-los de
acordo com sua livre vontade. Smith condena qualquer intervenção do
Estado. Do ponto de vista político, o liberalismo ganha força durante o
século XIX e o Estado liberal “trouxe, de início, alguns inegáveis
benefícios: houve um progresso econômico acentuado, criando-se as
condições para a Revolução Industrial; o indivíduo foi valorizado,
despertando-se a consciência para a importância da liberdade humana;
desenvolveram-se as técnicas de poder, surgindo e impondo-se a ideia
do poder legal em lugar do poder pessoal” (Dallari, 273).

Apesar do progresso, o ultraindividualismo deu margem a


comportamentos egoístas, “altamente vantajoso para os mais hábeis,
mais audaciosos ou menos escrupulosos”, acabando por se criar uma
situação de privilégio para os mais ricos, em detrimento dos menos
afortunados, que o Estado sequer poderia proteger. Nessa altura dos
acontecimentos, poderia se dizer que só a liberdade não é capaz de
criar justiça e paralelo a esse desenvolvimento, surge o proletariado,
quando da formação de grande aglomerados urbanos, fruto da
revolução industrial. Esse fato estimulou, ainda, a criação de
movimentos socialistas e “nas primeiras décadas do século XX, um
surto intervencionista que não poderia ser contido” (Dallari, 274).

Esses fatos anunciam o surgimento de uma terceira face do Estado


Moderno, o Estado do Bem Estar Social, welfare state.

O Estado Moderno: Estado do Bem Estar Social (Welfare State)

O Estado moderno liberal, que pregava a não-intervenção estatal,


apenas para garantia da ordem, se transforma no século XX em um
Estado prestador de serviços, assistencia, a princípio.

No outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos pós-Depressão de


1929, a ascenção de Franklin Delado Roosevelt (1936) à presidência e
a implementação do programa denominado New Deal, inaugura uma
política intervencionista, quando milhares de empregos foram criados
em razão de intervenção estatal e que permitiu FDR permanecer por
três mandatos consecutivos.

O Estado Liberal se transforma e duas consequencias podem ser


percebidas: a) melhoria das condições sociais, uma vez que o poder
público se assume como garantidor de condições mínimas de
existência para o indivíduo e b) garantia regulatória para o próprio
mercado, já que o mesmo poder público passa a funcionar como
agente financiador, consumidor, sócio e produtor em relação à
economia (Dallari citado por Lenio, p. 70)

Vários fatos influenciaram nessa mudança de perspectivas no Estado


Moderno:
a) Revolução Industrial e proletarização, ubanização (transporte,
saúde, saneamento, moradia, etc);
b) Primeira Guerra Mundial, Revolução Russa, Constituiução de
Weimar (1919);
c) Crise econômica de 1929 e depressão; New Deal;
d) Segunda Guerra Mundial.

O Estado Moderno: Estado de Direito

O Estado de direito corresponde àquele modelo que o relacionamento


entre o Estado e os indivíduos se submete a um regime de direito, ou
seja, a atividade estatal apenas pode se desenvolver utilizando um
instrumental regulado e autorizado pela ordem jurídica; além disso, no
Estado de Direito, o indivíduo tem mecanismos de defesa contra a
atuação abusiva do Estado.

Mas o Estado de Direito vai além do asseguramento de garantias ao


cidadão contra ações abusivas do Estado, ele cria direitos
fundamentais, funda liberdades públicas, elege a democracia como
valor, incorporando características do estado liberal e do estado social,
mas indo além.

O Estado de Direito tanto pode ser Estado Liberal de Direito, quanto


Estado Social de Direito

a) separação entre Estado e Sociedade Civil mediada pelo direito;


b) garantia das liberdades individuais (direito de ir e vir, de moradia, de
associação, livre manifestação do pensamento)
c) a questão da representação (eleições, escolha dos governantes)
d) prestações positivas (direito, saúde, assistência social)

O Estado Moderno: Estado Democrático de Direito

Esse modelo de Estado incorpora toda a evolução dos demais estágios


e propõe a transformação da realidade, “assim, o seu conteúdo
ultrapassa o aspceto material de concretização de uma vida digna do
homem e passa a agir simbolicamente como fomentador da
participação pública no processo de construção e reconstrução do
projeto de sociedade” (Lenio, p. 98)

O Estado Democrático de Direito ultrapassa, portanto, as outras duas


formas.

Algumas características do Estado Democrático de Direito:


a) Constituição como instrumento básico de garantia jurídica'
b) Organização democrática da sociedade;
c) Sistema de direitos fundamentais individuais e coletivos;
d) Justiça Social como mecanismo corretivo das desigualdades;
e) Igualdade, não apenas formalmente, mas como articulação de uma
sociedade justa;
f) Divisão de Poderes ou de Funções;
g) Legalidade
h) Segurança e certeza jurídicas.

Autores citados:

Lenio Luiz Streck e José Luis Bolzan de Morais. Ciência Política e


Teoria do Estado, Livraria do Advogado

Dalmo de Abreu Dallari, Elementos de Teoria Geral do Estado,


Editora Saraiva.

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