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MONTESQUIEU: SOCIEDADE E PODER

Montesquieu marcou diversas áreas, várias disciplinas atribuem-no o caráter de


precursor, ora da sociologia, ora do determinismo geográfico. Isso devido a sua
característica de juntar o novo ao tradicional, e também seu caráter enciclopédico.
Como membro da nobreza, produziu uma obra a respeito dos regimes políticos e
também participou na estruturação do poder.

A preocupação central de Montesquieu foi compreender, além das razões da


decadência das monarquias, os mecanismos que garantiram por tantos séculos, sua
estabilidade, que ele identifica como moderação. A moderação busca entender
mecanismos do passado e presente para que no futuro venha a existir o regime ideal. O
autor se baseia em dois aspectos: a tipologia dos governos e a teoria dos três poderes.

Até Montesquieu, as leis eram voltadas para Deus e suas vontades e eram
classificadas em: simultaneamente legítimas (porque expressão da autoridade),
imutáveis (porque dentro da ordem das coisas) e ideais (porque visavam uma finalidade
perfeita). Montesquieu define o conceito de lei, no início de sua obra, O Espírito  das
Leis, como “relações necessárias que derivam da natureza das coisas”. Desse modo,
Montesquieu insere a política num campo propriamente teórico, para fora do campo da
teologia e crônica.

O objeto de Montesquieu é o espírito das leis, isto é, as relações entre as leis


(positivas) e “diversas coisas”, tais como as dimensões do Estado, a organização do
comércio, as relações entre as classes etc. Ele busca explicar o comportamento e as
relações humanas, a partir das leis da ciência política. Diferente dos filósofos
contratualistas, que focaram no estado de natureza humano e na teoria do contrato
social, Montesquieu focou na forma que o poder estatal seria exercido. Para o mesmo,
existem duas dimensões do funcionamento político, que são a natureza e o princípio de
governo.

A natureza se trata da forma que esse poder seria regido, seja uma monarquia,
república ou despotismo, já o princípio de natureza consiste na motivação interior por
trás de cada regime político. E para cada regime existe uma paixão interior para que as
mesmas funcionem bem, a da monarquia seria a honra, a da república seria a virtude, e a
do despotismo seria o medo.
A república segundo o autor, é um regime frágil, pois apesar de existirem
homens virtuosos, existe, porém as riquezas, o tamanho do país e as dimensões da
população contribuem para a diversificação do povo e o distanciamento das classes,
indo contra o bem público, e a monarquia orientada pela honra é facilmente corrompida
pela arrogância e interesses particulares da nobreza caso não siga as leis pré-
estabelecidas. Por último, o despotismo está fadado à anarquia e à rebelião, pois é da
sua natureza.

Montesquieu não defendia a restauração dos privilégios nobiliárquicos. Trata-se,


portanto, de procurar, algo que possa substituir o efeito moderador da nobreza. Para
isso, foi a Inglaterra estudar as bases constitucionais da liberdade. Ele fez uma análise
da estrutura bicameral do Parlamento britânico – a Câmara Alta, constituída pela
nobreza, e a Câmara dos Comuns, eleita por voto popular e das funções dos três poderes
— executivo, legislativo e judiciário.

A teoria dos poderes é conhecida como a separação dos poderes ou equivalência.


Onde eles seriam dotados de igual poder. Na realidade, trata-se de garantir a existência
de um poder que seja capaz de contrariar outro poder. Em verdade, trata-se de encontrar
uma instância imparcial capaz de mitigar o poder do rei (do executivo). É um problema
político, de interdependência de forças, e não um problema jurídico-administrativo, de
organização de funções. Para que haja moderação é preciso que a instância moderadora
encontre sua força política em outra base social. Montesquieu reflexiona a existência de
dois poderes – ou duas fontes de poder político, especificamente: o rei, cuja potência
decorre da nobreza, e o povo. É necessário que a classe nobre, de um lado, e a classe
popular, de outro lado (na época “o povo” designa a burguesia), tenham poderes
independentes e capazes de se contrapor. A estabilidade do regime ideal está em que a
correlação entre as forças reais da sociedade possa se expressar também nas instituições
políticas.

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