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Liberdade e igualdade por Montesquieu e Tocqueville na política Brasileira

Elaborado por: Marcelo Rodrigues Mota Borges

Professora: Helga N. de Almeida

Disciplina: Teoria Política III

Resumo: O artigo tem o propósito de apresentar a uma análise sobre a influência do


pensamento de Montesquieu e Tocqueville acerca do pensamento político ocidental e
do atual sistema de governo brasileiro, por meio de uma pesquisa bibliográfica que
busca fazer uma contraposição dos pensamentos dos dois autores.

1 - Introdução

Charles-Louis de Secondat ou Barão de Montesquieu e Alexis de Tocqueville


foram dois proeminentes filósofos políticos franceses cujas obras influentes
exploraram a natureza da política, da sociedade e da liberdade, deixando uma marca
indelével no pensamento político ocidental. Montesquieu, nascido em 1689,
testemunhou as complexidades do antigo regime, enquanto Tocqueville, nascido em
1805, viveu durante a ascensão da democracia no século XIX. Embora ambos
compartilhassem uma profunda preocupação com a liberdade individual e as
dinâmicas políticas, suas abordagens distintas enriqueceram o pensamento político da
época.

Montesquieu ficou notório por sua obra "O Espírito das Leis" (1748), na qual
introduziu a teoria da separação dos poderes. Nesse período de transição marcado
pelo declínio do absolutismo e o surgimento das ideias iluministas, ele defendia que a
liberdade poderia ser preservada por meio da eficaz divisão dos poderes legislativo,
executivo e judiciário. Além de abordar estruturas políticas, Montesquieu explorou
fatores culturais e geográficos, buscando compreender as condições que propiciam a
liberdade e uma boa governança. Seu impacto duradouro na política, inclusive na
Constituição dos Estados Unidos, evidencia a relevância de suas ideias sobre a
separação de poderes e a proteção da liberdade individual.

Enquanto Montesquieu presenciava o declínio do regime absoluto, Alexis de


Tocqueville emergia durante um período de mudanças sociais e políticas significativas,
marcado pela Revolução Industrial e pelo fortalecimento da democracia. Sua obra mais
destacada, "A Democracia na América" (1835-1840), analisa minuciosamente as
consequências da democracia e da igualdade nos Estados Unidos do século XIX.
Tocqueville examina os perigos da "tirania da maioria" e enfatiza a importância da
sociedade civil e da participação cívica na preservação da liberdade em um sistema
democrático ascendente. Ao explorar como a igualdade influencia o pensamento
individual, destacou o surgimento do individualismo, ao mesmo tempo em que
expressa preocupação com a possibilidade de uma "tirania da maioria" comprometer
os direitos e deveres da minoria. Ele reconhece a vitalidade das associações voluntárias
e da sociedade civil como contrapesos essenciais para mitigar a opressão causada pela
tirania elogiando a descentralização do poder e o federalismo nos Estados Unidos
como eficazes mecanismos de preservação da autonomia local. Além disso, Tocqueville
ressalta a importância da educação na manutenção de uma democracia saudável,
influenciando a cidadania ativa e o entendimento dos cidadãos sobre seus direitos e
deveres. Seu destaque ao espírito prático e empreendedor dos americanos sublinha
fatores cruciais para o sucesso do sistema democrático.

Esses dois pensadores, separados por um século, ofereceram insights cruciais


sobre a organização do poder, a dinâmica da liberdade e a natureza da democracia.
Mergulhando nas ideias de Montesquieu e Tocqueville, podemos compreender melhor
os desafios enfrentados por sociedades em diferentes contextos históricos, ao mesmo
tempo em que apreciamos a duradoura relevância de seus pensamentos para o
entendimento contemporâneo da política e da liberdade. A contribuição desses
autores para o pensamento político é inegavelmente significativa, moldando a
compreensão contemporânea da democracia, dos direitos individuais e da organização
do poder. Apesar de serem aristocratas franceses que viveram em períodos históricos
distintos, ambos se dedicaram a uma análise pragmática da política, buscando
universalidade a partir das causas naturais e sociais dos fenômenos.

2 - Montesquieu e o Estado

Montesquieu rompe com a ideia de estado natural de Tomas Hobbes onde “ o


homem é lobo do Homem” que tem seu estado natural na guerra e competição. Ele
acreditava que o estado natural do homem era de paz e cooperação e por isso o
contrato social deveria garantir a estabilidade e prevenir a anarquia. Definiu as leis
portanto, como “relações necessárias que derivam da natureza das coisa comparando
as leis da natureza com as leis positivistas. As leis naturais seriam a paz, seguidio da
busca pelo alimento, a necessidade de se relacionar entre seres da mesma espécie
(homem e mulher) e o desejo de viver em sociedade. (ALBUQUERQUE,2005, P 115).
Ele transfigurou o conceito de lei vigente na época.

Montesquieu transfigurou o conceito de lei vigente


na época, considerada em suas três dimensões inerentes
à ideia de lei de Deus. Em sua primeira dimensão, as leis
significavam certa ordem natural, resultante da vontade de
Deus. Em sua segunda dimensão, as leis exprimiam
também um dever-ser, porquanto a ordem das coisas
estava direcionada para uma finalidade divina. Em sua
terceira dimen-são as leis tinham uma conotação de
expressão da autoridade constituída. Desse modo, as leis
eram: (a) imutáveis por significarem a ordem das coisas;
(b) ideais por visarem uma finalidade perfeita; e (c)
legítimas por constituírem expressão da autoridade
constituída (FARIAS NETO, 2011, p. 261).

A ideia desse estado só seria possível após a formação das sociedade. Cada
indivíduo iria requerer maior vantagem para si gerando portanto, um estado de guerra
entre eles, assim seria necessário um arcabouço de leis positivas para manter a ordem,
entre os governantes e os governados. (MONTESQUIEU, 20000, P 15-16)

Essas leis positivas devem ser:

Relativas ao físico do país; [...] devem estar em relação


com o grau de liberdade que sua constituição pode
suportar; com a religião de seus habitantes, com suas
inclinações, com suas riquezas, com seu número, com
seu comércio, com seus costumes, com seus modos.
Enfim, elas possuem relações entre si; possuem também
relações com sua origem, com o objetivo do legislador, [...]
elas formam juntas o que chamamos o ESPÍRITO DAS
LEIS (MONTESQUIEU, 2000, p. 17)

Para ele, o espírito geral das sociedades estariam associados a uma identidade
nacional como resultados de causas físicas (clima, relevo, etc.) e causas morais
(costumes e religiões). O princípio motor do governo expressa seu movimento pelas
paixões e desejos humanos enquanto sua natureza apresentaria as características de
quem exerce o poder. Uma república democrática é constituída pelo poder soberano
do povo onde a virtude seria um princípio fundamental para prover um estado de
liberdade e igualdade. Nesse sistema, o indivíduo deve ter amor as leis e a pátria, só
assim seria possível superar a corrupção em detrimento de interesses próprios e
proferir o bem geral aos cidadãos.

Montesquieu, notadamente em sua obra "O Espírito das Leis," teve um impacto
profundo nas formulações políticas de Tocqueville. Ao definir os regimes políticos com
base em sua estrutura e funcionamento, estabeleceu premissas cruciais, destacando o
papel da virtude na república, da honra na monarquia e do medo no despotismo. Esses
conceitos permearam o pensamento de Tocqueville, influenciando sua análise da
democracia e a busca por equilíbrio entre liberdade e igualdade. Ambos os filósofos
compartilhavam a preocupação central de frear o despotismo, ancorados nos valores
da liberdade e igualdade. Montesquieu, com sua concepção de tripartição dos poderes
relatada na obra O espírito das leis, publicada pela primeira vez em 1748, contribuiu
para que no Brasil eles fossem divididos em legislativo, executivo e judiciário, contudo,
que estivessem independentes e harmônicos entre si. (WAGNER, 2017)

3- Tocqueville e a democracia

Na análise de Tocqueville sobre a democracia na América ele escreve a respeito


da democracia nos Estados Unidos que pode ser utilizada para entender a situação em
outros países incluindo o Brasil. Defendendo a aplicação de uma nova constituição ele
traria em seus textos a tripartição dos poderes assim como teorizou Montesquieu,
servindo para garantir a manutenção da liberdade através de ações políticas pela
participação dos cidadãos nos negócios públicos.

Ele defendeu a ideia de uma democracia liberal em quatro aspectos de


liberdade: política, de imprensa e locais de associação fazendo das leis um instrumento
de proteção e manutenção da ordem do regime permitindo que se os governante
fossem corruptos ou incapazes, os governados seriam mais esclarecidos e atentos o
suficiente para exigir aquilo que lhes foi prometido tendo a democracia a finalidade de
favorecer o bem estar da maioria. Ademias, o autor teme que a igualdade de uma
maioria poderia destruir possibilidades de manifestações das minorias como as artes, a
filosofia, e mesmo a ciência sem imediata aplicação poderiam desaparecer, e para
evitar essa ameaça, as instituições precisariam criar uma descentralização
administrativa onde os cidadão poderiam se associar para defenderem seus direitos.
(QUIRINO, 2006 P. 155-156).

Em síntese, Montesquieu e Tocqueville permanecem fundamentais na


construção do pensamento político contemporâneo e defenderam princípios que mais
tarde seriam incorporados ao liberalismo. Suas reflexões sobre a sociedade civil,
participação cívica, descentralização do poder e a interação entre liberdade e
igualdade continuam a inspirar debates e informar a fundamentação de sistemas
políticos em todo o mundo.

4 - Sobre o regime democrático

Pelo menos três modelos de democracia podem ser identificados nos debate
teóricos segundo Habermas: Liberal, republicano e deliberativo. Na perspectiva liberal,
a democracia pode ser compreendida como um regime que permite o agrupamento
dos interesses privados da sociedade civil e um conflito regulado pelo aparato estatal
onde o cidadão é reconhecido como um portador de direitos. Da perspectiva
Republicana, a democracia exige um modo de vida baseado na participação política
que prevalece tanto aos interesses econômicos quanto ao poder burocrático estatal. Já
na perspectiva deliberativa a sociedade civil se diferencia do sistema econômico de
mercado, como um espaço público autônomo, de acordo com o modelo ético
republicano, mas a diferença entre estado e sociedade civil é respeitada de acordo
com o formalismo liberal.

Para avaliar esses modelos segundo a tradição de Montesquieu, Tocqueville


trabalha com três dimensões complementares para realizar um diagnóstico da
democracia moderna: estrutura, princípio e objeto de Governo. Montesquieu analisa
as formas de governo considerando tanto as estruturas quantos as paixões que as
movem, acreditando que as leis devem estra relacionadas tanto ao princípio quanto a
natureza de cada governo. Ele usa o termo democracia de maneira intercambiável
para se referir tanto a estrutura quanto ao princípio democrático da igualdade, o que
segundo o autor sem uma paixão pela igualdade a democracia se estagna e morre, por
isso os aparatos institucionais dependem necessariamente das "molas" das paixões
humanas. A democracia depende de motivações igualitárias para adquirir um impulso
coletivo. A paixão pela igualdade se manifestava, na Europa oitocentista, em
constantes lutas de classes e revoluções. Esse tema conduz ao contraste entre
perspectivas de transformação e emancipação social.

Na época, as instituições defendidas por Tocqueville para enfrentar a


ascensão de uma plutocracia eram a divisão das grandes propriedades imobiliárias por
meio de leis de sucessões e um sistema de imposto progressivo. Ao longo de seu livro,
ele elenca as causas para um aumento preocupante do poder da classe dominante e
parte disso se deve ao desconhecimento das leis pela população, bem como oo
controle judicial dos agentes políticos do sistema federativo e da constitucionalidade
das leis.

5 - Influência do pensamento de Montesquieu e Tocqueville no sistema de


governo brasileiro

Montesquieu, com sua ênfase na separação dos poderes, influenciou a


abordagem de Tocqueville sobre como equilibrar o poder em sociedades
democráticas. Tocqueville, por sua vez, aprofundou a análise da tirania da maioria,
explorando as dinâmicas sociais que poderiam levar a esse fenômeno. A
descentralização do poder e o federalismo, temas abordados por ambos, são conceitos
que reconheceram como cruciais para a proteção da autonomia local e a promoção da
participação cívica. Além disso, a influência na abordagem analítica, caracterizada pela
compreensão das complexidades sociais, contribuiu para a visão aprofundada sobre as
instituições e relações sociais que moldam uma sociedade e ao promover a liberdade
na democracia por meio de assembleias deliberativas, poderes locais, associações e
partidos políticos, incorporou a ideia de moderação, correlata à teoria dos corpos
intermediários e à separação dos poderes de Montesquieu.

Montesquieu, criou a tripartição dos poderes relatada na obra O espirito das


Leis, e contribuiu para que no Brasil eles fossem divididos em legislativo, executivo e
judiciário, mantendo-se soberanos, independentes e harmônicos entre si, enquanto a
pesquisa de Tocqueville no livro A democracia na américa associasse a configuração
democrática do Brasil, onde os representantes tentam dispor a soberania do povo por
meio do voto e esses cidadãos tem o direito de fiscalizar o trabalho dos membros do
estado.

6 – Considerações finais

Em síntese, Montesquieu e Tocqueville moldaram o pensamento político


contemporâneo, contribuindo para o liberalismo. Suas reflexões sobre sociedade civil,
participação cívica e a relação entre liberdade e igualdade continuam a inspirar
debates e fundamentar sistemas políticos em todo o mundo. O Brasil, utiliza a teoria
da tripartição dos poderes de Montesquieu, explicitamente tratada pela sua
constituição da república. O pensamento de Tocqueville sobre federalismo e
descentralização do poder pode ser relevante ao examinar a estrutura política
brasileira e entender o papel das organizações, movimentos sociais e participações
cívicas na formulação e fiscalização de políticas públicas. A aplicação da visão dos
autores no exame do regime democrático de direito pode estimular reflexões sobre a
qualidade da democracia no país adaptando a realidade brasileira as melhorias
necessárias para assegurar a liberdade, igualdade e bem estar dos cidadãos.
7 – Referência bibliográfica

ALBUQUERQUE, J. A. Guilhon. Montesquieu: sociedade e poder. In: WEFFORT, Francisco C.


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