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3ª série – 3º bimestre - O princípio da divisão dos poderes e a organização dos sistemas

partidário e eleitoral do Estado brasileiro

O princípio da divisão dos poderes

É um modelo político que visa à melhor governança de um Estado pela fragmentação do seu poder
em órgãos distintos e independentes, cada qual especializado em um aspecto ou área de governo. Embora
seja mencionada quase como sinônimo da tripartição de poderes proposta por Montesquieu, a separação
de poderes é um princípio muito mais amplo e antigo do que o modelo do filósofo francês, sendo primeiro
identificada na Grécia Antiga e aplicada em diversas ocasiões, sob diversos formatos em governos tão
díspares quanto a República de Roma e em algumas das Treze Colônias britânicas na América do Norte.
Assim, pode-se dizer que a separação de poderes é um modelo teórico fundamental na história do Ocidente.
É claro que o objetivo central dessa divisão é diminuir as chances de uma sociedade se tornar ditatorial,
tirânica, déspota ou anárquica. O equilíbrio de forças neutraliza qualquer possibilidade de algo que se
assemelhe ou chegue próximo a isso.
Nossa maior referência no assunto é Charles de Montesquieu (1689-1755), Barão de Montesquieu,
mesmo reconhecendo que essa divisão remonta a Grécia Antiga, quando o poder é dividido entre os
considerados “cidadãos” gregos e fazendo todo o percurso histórico, passando pela República Romana,
pelo Renascimento, Iluminismo, até os dias atuais. De todas as suas obras, a nossa referência para pensar
a divisão do poder é “O Espírito das Leis” (1748) nela descreve as formas de poder existentes até então e
repensa as instituições políticas de seu período, mas com um claro direcionamento para a liberdade política.
Segundo Montesquieu, para os contratualistas, todos são, ou somos, governados por alguma lei. E toda lei
é sobre alguma relação. Por isso ele afirma existirem leis naturais e leis humanas (criadas e adequadas
pelas sociedades que as criam. A essas ele também chama de leis positivas). Ele as descreve da seguinte
maneira:

- As Leis que regulamentam as relações entre governados (questões diárias e às de ordem social)
- As leis que regulamentam as relações entre governantes e governados (questões de poder)
- As leis que regulamentam as relações entre Estados, ou seja, relativas à política externa.

“As leis escritas ou não, que governam os povos, não são fruto do capricho ou do arbítrio de quem legisla.
Ao contrário, decorrem da realidade social e da História concreta própria ao povo considerado. Não existem
leis justas ou injustas. O que existe são leis mais ou menos adequadas a um determinado povo e a uma
determinada circunstância de época ou lugar. O autor procura estabelecer a relação das leis com as
sociedades, ou ainda, com o espírito dessas.”

Ao procurar descobrir as relações que as leis têm com a natureza e o princípio de cada governo,
Montesquieu desenvolve uma alentada teoria de governo que alimenta as ideias fecundas do
constitucionalismo, pelo qual se busca distribuir a autoridade por meios legais, de modo a evitar a violência
e o abuso de poder de alguns. Tais ideias se encaminham para uma melhor definição da separação dos
poderes, ainda hoje uma das pedras angulares do exercício do poder democrático. Montesquieu admirava
a constituição inglesa, mesmo sem compreendê-la completamente, e descreveu cuidadosamente a
separação dos poderes em Executivo, Judiciário e Legislativo, trabalho que influenciou os elaboradores da
Constituição dos Estados Unidos da América.

A teoria política criada por ele e que se reflete na divisão dos poderes estatais, por exemplo, são
aulas de vida para acadêmicos e políticos até os dias de hoje.

Montesquieu defendia a divisão do poder em três:

- Poder Executivo (órgão responsável pela administração do território e concentrado nas mãos do monarca
ou regente);
- Poder Legislativo (órgão responsável pela elaboração das leis e representado pelas câmaras de
parlamentares);
- Poder Judiciário (órgão responsável pela fiscalização do cumprimento das leis e exercido por juízes e
magistrados).

Outra importante teoria de Montesquieu trata das relações das formas de Governo e seus princípios,
segundo o autor as formas seriam as seguintes:
Formas de Governo

- Aristocracia (Princípio–Moderação)
- Monarquia (Princípio-Honra)
- Despotismo (Princípio – Terror)

Montesquieu atribuiu mais algumas classificações a estas formas de governo, tais como:
Formas Puras Formas Impuras
Monarquia: Governo de um só. Tirania: Corrupção da Monarquia.
Aristocracia: Governo de vários. Oligarquia: Corrupção da Aristocracia.
Democracia: Governo do povo. Demagogia: Corrupção da Democracia.
Montesquieu não era um revolucionário. Sua opção social ainda era por sua classe de origem, a
nobreza. Ele sonhava apenas com a limitação do poder absoluto dos reis, pois era um conservador, que
queria a restauração das monarquias medievais e o poder do Estado nas mãos da nobreza. As convicções
de Montesquieu refletem a sua classe e, portanto, aproximam-no dos ideais de uma aristocracia liberal. Ou
seja, ele critica toda a forma de despotismo, mas não aprecia a ideia de o povo assumir o poder. A sua
crítica, no entanto, serviu para desencadear a Revolução Americana e instaurar a república burguesa.
A corrente tripartite, hoje, é a base de democracias presidencialistas como Brasil, França ou Estados
Unidos. Em sistemas como o parlamentarismo britânico, embora haja a divisão formal em três poderes, na
prática há o acúmulo de funções em um determinado poder - no caso, o parlamento (legislativo com atributos
do executivo). Já a Alemanha é um exemplo de país com uma divisão ainda maior, havendo um poder
eleitoral (Assembleia Federal) e dois executivos (Gabinete e Presidente) além do judiciário e do legislativo
bicameral. Por fim, a União Europeia apresenta uma das mais radicais divisões de poder atualmente, com
sete órgãos representando, muitas vezes de modo intercalado, os poderes: executivo, legislativo, judiciário
e auditor.

A organização dos sistemas partidário e eleitoral do Estado brasileiro e a participação do cidadão

O Brasil é definido, de acordo com a Constituição, como uma República Federativa. Isso significa
que o País possui um governante no âmbito federal, isto é, da União; no entanto, por estar dividido em
Estados, esses também possuem certa autonomia. Essa forma de organização pode fornecer maior ou
menor autonomia entre os estados, e isso, em geral, está atrelado à formação histórica dos países, pois, em
determinadas nações, a diferença entre os estados e a representação destes dentro da Federação pode
variar. Em países onde a autonomia entre os estados foi valorizada desde sua consolidação, como é o caso
norte-americano, ela é maior, já no Brasil, essa autonomia é menor.
No Brasil, a maioria das decisões é de competência da esfera federal, que vão desde questões como
a defesa e a organização do Exército até a regulamentação da educação, do setor de energia e das
comunicações.
Todas se encontram definidas no artigo 22 da Constituição Federal. Entretanto, existe a necessidade
da criação de regulamentações suplementares, ou seja, leis e normas específicas a serem definidas por
cada estado, que validam o exercício de suas funções.
Essas regulamentações são direcionadas por uma regra geral fornecida pela União. Em outras
palavras, cada estado pode criar suas leis, contudo tais leis não podem interferir no conjunto de regras gerais
estabelecido pela Federação.
O Brasil é um dos muitos países que adotaram a proposta dos três poderes de Montesquieu, cuja
divisão objetiva equilibrar a atribuição de funções, de modo que se equilibre o poder de cada personagem
público em uma nação.
Quando a criação, a execução e o julgamento das leis se encontram em instâncias diferentes, a
possibilidade de tirania, criticada pelo Iluminismo (momento em que esse modelo é definido), é menor. Nesse
sentido, é de suma importância entender a atribuição de funções na divisão dos poderes, pois existe no
Brasil um pensamento político geral muito personalista. Segundo essa perspectiva, costuma-se acreditar
que toda a responsabilidade pela condução da nação e dos estados está centrada em um conjunto de figuras
– em geral, representantes do Executivo –, mas, na verdade, o andamento do país depende da condução
plena das três esferas de poder.
Ao Poder Judiciário cabe solucionar os conflitos nas relações sociais, tanto públicas quanto privadas.
Contudo, o Judiciário não se resume ao que é resolvido em uma sala de tribunais. É competência dele, por
exemplo, a organização do modelo eleitoral e das eleições, bem como a documentação daqueles que têm
direito de votar.
Ao Legislativo cabe a elaboração das leis, em consonância com a vontade popular, apesar de toda
a limitação que o modelo democrático representativo impõe. Tem, ainda, a função de determinar todo o
corpo de legislações que regem o país, tanto no nível federal quanto no estadual e no municipal.
As responsabilidades administrativas, de gestão de recursos, de regulamentação do mercado, bem
como a criação de estruturas para o desenvolvimento do país, são atribuições diretas do Executivo.
É sempre importante ressaltar que a ele correspondem as figuras centrais dos três eixos (presidente,
governador e prefeito), mas também todo o corpo político que estes formam para estabelecer sua gestão,
incluindo os ministérios e as secretarias.
Uma lei proposta pelo Legislativo só é de fato efetivada com a aceitação e a sanção do Executivo.
Por outro lado, o Executivo pode criar leis na forma de medidas provisórias, embora o Legislativo tenha que
aprová-las.

Legislativo e Executivo têm um poder mútuo de veto.

Em certos momentos, é necessário um trabalho conjunto, como na delimitação das leis


orçamentárias. Ao se pensar nos sistemas eleitorais, deve-se ter em mente que, na democracia,
consideram-se dois fatores fundamentais: a questão da representação por meio dos que chegam ao poder
e a organização da governabilidade.
fundamental para uma democracia que, ao mesmo tempo, existam diversos setores e segmentos
sociais sendo representados e a possibilidade real de governo.
Para as eleições do Executivo, é utilizado no Brasil o modelo majoritário, considerando a maioria
simples. A votação majoritária tem vantagens e desvantagens. A vantagem é que ocorre uma centralização
do poder em determinadas figuras, o que, em um sistema bem organizado, geraria maior coesão. Contudo,
o modelo majoritário acaba diminuindo a representatividade.
O modelo proporcional, por sua vez, considera não a maioria simples, mas a conquista das vagas de
acordo com uma equivalência de quantidades da votação total. Esse modelo maximiza as representações,
mas pode diminuir a governabilidade em uma nação na qual as representações não estão de acordo com
determinada orientação política ou ideológica, ou existe um conflito interno e forte entre elas.

As diversas formas de exercício do poder e as relações entre as esferas públicas e privadas na


sociedade brasileira

As formas de governo dizem respeito à organização do Estado e ao exercício do poder nas


sociedades.
A Monarquia é fundada em critérios de perpetuidade e irrevogabilidade. A substituição só ocorre em
casos de morte ou abdicação ou ainda, em decorrência de movimentos revolucionários. A Soberania (rei ou
rainha representa a totalidade dos poderes) é determinada pelo critério de hereditariedade; designados por
linha colateral da família. A elevação ao trono ocorre por meio da sucessão familiar.
A Monarquia Absolutista é a forma de Governo na qual o Monarca ou o Rei exerce o poder absoluto.
É a doutrina política que concede autoridade e poder ilimitado a um monarca, que passa a exercer uma
supremacia absoluta. Um monarca absoluto exerce poder político irrestrito sobre o Estado e o seu povo.
A Monarquia Constitucional ou Parlamentar é o sistema de governo onde a posição do Monarca (rei,
imperador ou figura similar) fica estabelecida na Constituição local. O Soberano governa de acordo com a
Constituição, isto é, de acordo com a lei, ao invés de tomar decisões baseado na sua livre vontade. Ao
soberano cabe o papel de Chefe de Estado, e sua função é garantir o normal funcionamento das instituições
da nação. O poder legislativo é atribuído a um Parlamento, eleito, ao qual é atribuído o poder de criar e
promulgar a legislação. Para exercer as funções de chefe de governo, é eleito um Primeiro-Ministro, cujas
ações são fiscalizadas por um Parlamento.
Em um sistema de Monarquia Constitucional o soberano pode propor a criação de leis, mas não
promulgá-las. Tal poder é atribuído ao Parlamento, após discussão. Em quase todos os assuntos, o Monarca
atua sob os conselhos dos ministros. No entanto, como Chefe de Estado, ele nomeia formalmente os
primeiros-ministros, aprovando certas leis e concedendo honras. O Monarca possui ainda o poder de veto,
isto é, pode vetar um projeto de lei que deverá retornar ao Parlamento para nova discussão, semelhante à
maneira como ocorre hoje no Brasil quanto às relações entre o Presidente da República e o Congresso
Nacional. O Chefe de Estado possui ainda papéis oficiais em relação a outras organizações, como as Forças
Armadas. O maior exemplo de Monarquia Parlamentar que conhecemos é o caso da Rainha Elizabeth II –
Chefe de Estado desde 1952, do Reino Unido, da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte. Não se pode
menosprezar o valor simbólico da realeza. É de suma importância para a manutenção da ordem social. A
coroa britânica é responsável por manter aceso o sentimento de pertencimento dos súditos, gerando coesão
social.
Com a Independência em 1822, o Brasil adotou a Monarquia Constitucional como forma de poder.
Acontecem eleições para o senado e a câmara, mas o Imperador Pedro I faz uso do poder moderador para
governar de forma quase absoluta.
A República é proclamada em 1889 e com ela o Brasil se torna uma república liberal presidencialista,
trazendo muitas transformações, contudo mantendo características que tornam a estrutura do Estado
brasileiro como expressão da articulação do novo com o velho. O estado no Brasil se apresenta como o ente
que resolve todos os problemas, criando o senso comum de que todos os problemas da sociedade e sua
solução são sua responsabilidade e nada resolvemos sem a sua presença.
O Brasil também já foi um exemplo de Monarquia Parlamentar. Durante o 2º Reinado (1840-1889) –
D. Pedro II dividia o governo com o Conselho de Estado (equivalente ao Parlamento) – chamado de
“Parlamentarismo às avessas” – Poder Moderador.
Hoje, o Brasil é uma República Federativa Presidencialista, como já foi demonstrado aqui, e é
formada pela união dos 26 estados e do Distrito Federal.
Parlamentarismo e Presidencialismo são dois modelos de organização do Poder Executivo, mas
suas diferenças se estabelecem diretamente na relação que exercem com o Legislativo. O parlamentarismo
tem, como o nome já indica, o poder centrado no Parlamento, ou seja, na representação legislativa. Nesse
modelo, o representante do Executivo é eleito pelo Legislativo. Dessa maneira, seu poder é do Parlamento,
e este tem o poder de retirá-lo do cargo, conforme julgue necessário. O representante do Poder Executivo
recebe algumas denominações, podendo variar, mas as mais comuns são primeiro-ministro ou chanceler.
O sistema parlamentarista, assim como outros, apresenta vantagens e desvantagens. A vantagem é a
possibilidade de uma maior coesão entre o Legislativo e o Executivo na administração do país. Já a
desvantagem é que a figura do líder executivo como uma escolha do Legislativo implica um menor poder de
veto e contrabalanço de forças.
O sistema presidencialista, por sua vez, elege, separadamente, o Executivo e o Legislativo, e o
Executivo, na maioria dos casos, é eleito pelo maior número de votos. Nesse sistema, as Câmaras elegem
seus líderes. Contudo, tal liderança é apenas de administração e de ordenamento, sendo função do
presidente da Câmara e do Senado equilibrar as forças e as negociações, presidindo as sessões.Nesse
modelo, o Executivo possui maior autonomia em suas decisões e apenas em uma crise grave seu
representante pode ser retirado do poder. No entanto, essa possibilidade de deposição dada ao Legislativo
só pode ser usada no caso de improbidade e com provas, dado que o líder executivo é eleito
democraticamente.

A relação entre o público e o privado

Em toda sociedade democrática existem duas esferas de vida que articulam as relações políticas e
sociais. Uma delas é a esfera pública, na qual se localizam o Estado e seus três poderes (Legislativo,
Executivo e Judiciário). A outra é a esfera privada, lugar das atividades econômicas, dos interesses
particulares, das empresas, do mercado, da vida familiar e das relações sociais. Entre essas duas esferas
estão a opinião pública e a sociedade civil. A Sociedade Civil é formada por organizações privadas sem fins
lucrativos que se estabelecem fora do mercado de trabalho e do governo, mas que têm importante presença
na vida política.
Exemplos de organizações que participam da Sociedade Civil: OAB, ABI (Associação Brasileira de
Imprensa), CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), as igrejas, as Organizações Não
Governamentais (ONGs), a UNE etc. As ONG 's são chamadas também de TERCEIRA ESFERA,
intermediária entre o Estado (esfera pública) e a Sociedade (esfera privada). É um setor social autônomo,
formado por organizações comunitárias autônomas voltadas para a solução dos grandes problemas sociais.

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