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Ciência Política

e Teoria do Estado
Prof. Ronaldo Lucas
Lattes:  http://lattes.cnpq.br/0284767277040893
As teorias da separação de poderes e do
sistema de freios e contrapesos
Relembrando:

Nascimento do Estado moderno

Formação do Direito Internacional Público:


Sociedade Internacional de Estados Nacionais

Paz de Vestfália de
1648
Formação do Estado Nacional propriamente dito:
Estado Absoluto com os três elementos essenciais
– POVO, TERRITÓRIO e SOBERANIA una e
indivisível.
Relembrando : Elementos Essenciais do Estado
Relembrando:

Território: Base física dentro da qual se exerce a soberania estatal, que pode ou não ser contínua;
Multidimensional;

Povo: Conceito Jurídico-político – vínculo de nacionalidade entre a pessoa e o estado; “povo” é o conjunto de
indivíduos que em um dado momento se unem para constituir o Estado estabelecendo assim um vínculo
jurídico de caráter permanente; é o elemento humano do Estado; O Estado democrático de Direito se dá
quando o Estado reflete a vontade do material humano que o compõe.

Soberania: conceito teoricamente complexo que mudou ao longo da história. Resumidamente designa o poder
político no Estado Moderno
> interna: capacidade de direito frente aos demais poderes dentro do Estado;
> externa: atributo de não ser submetido à vontade de Estados estrangeiros

- Todas as regras jurídicas estabelecidas são derivadas da emanação do poder soberano do Estado;
Legitimidade e Legalidade

“Concebida puramente em termos de poder político, a soberania expressa a capacidade de


impor coercitivamente a vontade nacional e de fixar competências no âmbito da
organização do Estado. Por esse conceito, verifica-se que o poder soberano deve preocupar-
se em ser legítimo e legal.

Legalidade: pode ou não refletir as aspirações da sociedade, já que se baseia na supremacia


do poder soberano; poder racionalmente justificado pela lei – império da lei (não obedece
ao líder ou a uma tradição); uso legítimo da força pelo Estado;

Legitimidade: refere-se ao grau de lealdade e de adesão por convicção dos cidadãos;


convencimento. É a aceitação dos comandados sem o uso da violência para a obediência-
Não teme a sanção, entende que deve cumprir a norma.
A divisão dos Poderes e o Sistema de Freios e Contrapesos
(Check and Balances)

Montesquieu – divisão dos poderes


De l´Espirit des Lois – Do espírito das Leis

A separação dos poderes como instrumento de


limitação do poder do Estado

https://pt.wikipedia.org/wiki/Montesquieu#/media/Ficheiro:Montesquieu_1.png
A divisão dos Poderes e o Sistema de Freios e Contrapesos
(Check and Balances)

• Controle mútuo entre os três poderes garantindo a INDEPENDÊNCIA e


HARMONIA entre eles;

• Limitação do poder abusivo do Estado

(separação dos poderes)


+ Estado democrático de Direito
(Proteção dos direitos fundamentais)
A divisão dos Poderes e o Sistema de Freios e Contrapesos
(Check and Balances)
Exemplos do mecanismo do Sistema de Freios e Contrapesos

Veto do Presidente da República nos projetos de lei já aprovados


pelo Congresso Nacional.

Controle recíproco entre o Executivo,


o Legislativo e o Judiciário.

Poder do STF, dos Tribunais e dos Juízes singulares de declarar


a inconstitucionalidade de leis ou atos normativos feitos pelo
Poder Legislativo no controle de constitucionalidade.
Sistema de Freios e Contrapesos

Poder discricionário do Presidente da República de escolher


os Ministros do STF e submetê-los à aprovação do Senado Federal.

Controle recíproco entre o Executivo,


o Legislativo e o Judiciário.

Possibilidade de Impeachment do Chefe do Executivo com julgamento


pelo Senado Federal após autorização da Câmara dos Deputados.
Sistema de Freios e Contrapesos

Poder de fiscalização das contas públicas de todos os poderes


pelo Congresso Nacional (artigo 70 da CF/88).

Controle recíproco entre o Executivo,


o Legislativo e o Judiciário.

Poder de legislar do Presidente da República mediante a edição de


Medidas Provisórias com força de lei.
A organização política do Estado em suas várias perspectivas
Formas de Estado
As formas de Estado são as seguintes:
Estado Unitário e Estado Federal.

Tal classificação é feita levando-se em consideração o modo de exercício do poder no território do Estado.
Ou seja, o elemento que caracteriza a forma de Estado é a existência ou não de poderes regionais
com capacidade de auto-organização política, administrativa e financeira (Estados autônomos).
Estado unitário

Estado Unitário é caracterizado pela unidade


de poder político, ou seja, existe uma só fonte
normativa para todo o território do Estado,
inexistindo a descentralização política.
Estado Unitário tem apenas um Poder
Legislativo, Executivo e Judiciário, daí a ideia
de uma única ordem jurídica central.
Os três poderes são todos centrais,
inexistindo seus congêneres em âmbito
regional ou local, caracterizando assim a
centralização política.
Estado unitário

No entanto, isso não quer dizer que o Estado Unitário não possa sofrer uma descentralização
administrativa, gerando relativa autonomia local para municípios, províncias, departamentos,
circunscrições, comunas ou condados.

Todos os países latino-americanos, à exceção do Brasil, Argentina, México e Venezuela, são Estados
Unitários. Na Europa, podemos citar como exemplo de Estados Unitários: França, Espanha, Itália e
Portugal. A figura a seguir mostra as diferenças entre as duas formas de Estado.
Estado Federal
O federalismo é um instituto jurídico de origem estadunidense.

O conceito de federação nasceu com a formação dos Estados


Unidos da América, no exato momento em que as treze ex-
colônias britânicas abriram mão de sua soberania
(conquistada com a Independência em 1776) em prol da
formação de um único Estado Federal. (1787 – Convenção da
Filadélfia)
Estado Federal

O conceito de federalismo nasceu juntamente com o conceito


de presidencialismo em contraposição ao parlamentarismo,
sistema de governo até então dominante na Europa.

Se por um lado, o berço do parlamentarismo é a


Inglaterra, por outro, a união das treze ex-colônias
inglesas a partir da Convenção de Filadélfia de 1787 é a
origem de uma nova forma de Estado, a federação, e
de um novo sistema de governo, o presidencialismo.
Formas de estado
Cláusula pétrea

A forma federativa foi transformada em cláusula pétrea pela


Constituição de 1988.

Portanto, o princípio federativo é indissolúvel e não pode ser retirado do


corpo Constitucional de 1988 nem mesmo por Emenda ou Plebiscito.

O Estado brasileiro jamais deixará de ser uma federação, a não ser que
surja uma nova
Constituição e, portanto, um novo Estado, obra de um novo poder
constituinte originário.
CONFEDERAÇÃO = União de Estados soberanos.
FEDERAÇÃO = União de Estados autônomos.

PACTO ENTRE ESTADOS = Federação (pacto indissolúvel) e na


Confederação (pacto dissolúvel).

DIREITO DE SECESSÃO: Não se admite na Federação, mas, pode ser


exercido na Confederação.

VÍNCULO JURÍDICO ENTRE ESTADOS:


CONFEDERAÇÃO= Tratado Internacional.
FEDERAÇÃO= Constituição.
Comparação EUA x Brasil

Nos Estados Unidos: Federalismo centrípeto:


Passagem de um Estado Composto Confederado
para um Estado Simples Federado.

No Brasil: Federalismo centrífugo:


Passagem de um Estado Simples Unitário para um
Estado Simples Federal.

Centrífugo Centrípeto
Problema

Vários pequenos estados independentes, a fim de obterem maior peso político e econômico,
resolvem se organizar sob a forma de confederação, denominada confederação “C”. Em razão do
sucesso da iniciativa, após cinco anos de experiência, os estados confederados resolvem estreitar os
laços e se organizar sob a forma de federação. A exceção foi o estado “Z”, que não querendo fazer
parte do novo pacto, resolve se desvincular da confederação “C”. O projeto vai adiante com os
demais estados e estes promulgam uma constituição criando a república federativa “F”.
Passados três anos de criação da república federativa “F”, alegando insatisfação ao tratamento a ele
dispensado, o estado autônomo “X” informa que retornará a condição de estado soberano,
desvinculando-se de “F”.
Pergunta-se:
a) De acordo com a teorização que trata das formas de Estado, são aceitáveis
as desvinculações de “Z” e “X”?

b) Quando a Confederação “C” resolveu se organizar na forma federativa,


segundo as teorias analisadas no livro didático, que tipo de federalismo se
produziu, centrípeto ou centrífugo?
A organização política do Estado em suas várias perspectivas
FORMAS DE GOVERNO

Monarquia e República
Formas de Governo
As teorizações aristotélica e maquiavélica

As teorizações aristotélica e maquiavélica na origem das formulações contemporâneas de formas


de governo

Embora as classificações apresentadas por dois ícones da Filosofia política envolva uma tipologia não
mais usada nos dias atuais, o objetivo desta segmentação temática é compreender o desenvolvimento
histórico das formas de governo a partir das classificações aristotélica (na Antiguidade) e maquiavélica
(representativa do início da Modernidade).
Formas de Governo

Classificação Tradicional de Aristóteles

Nas classificações antigas não se faziam diferenciações entre FORMAS de Governo (Monarquia e República) e
os Regimes (Democracia e Autocracia).

A classificação de Aristóteles tinha por base o número de governantes BASE NUMÉRICA


e a BASE MORAL (formas puras e impuras de governo)
Formas de Governo (Clássica)

Classificação Tradicional de ARISTÓTELES


base numérica + base moral

GOVERNO DE UM SÓ
Forma pura = Monarquia
Forma impura = Tirania

GOVERNO DE ALGUNS
Forma pura = Aristocracia
Forma impura = Oligarquia

GOVERNO DE TODOS
Forma pura = Democracia
Forma impura = Demagogia
Formas de Governo (Clássica)

MAQUIAVEL :

Rejeita a distinção entre formas puras e impuras


Para ele os governos se sucedem em ciclos:

• Estado anárquico
• Monarquia – primeiro escolha do mais justo, sábio, depois se torna
hereditária
• Tirania – degeneração da monarquia
• Aristocracia – combater a tirania - ricos e nobres se organizam
• Oligarquia – aristocracia que governa em benefício próprio
• Democracia ou República – povo toma o poder
• Surge a demagogia e volta a anarquia.
Repúblicas
( Aristocracia e democracia)

Classificação de
Maquiavel

Principado
s
(Monarquia)
Classificação de Maquiavel

Paz e tranquilidade – melhor Monarquia


Guerra, convulsões, conflitos externos – melhor República

Não existe forma de governo essencialmente boa ou má, mas era a intenção do governante
que a tornava boa ou má;

Possível “ações extraordinárias” para alcançar o benefício para todos os cidadãos – fins
justificam os meios?
A MONARQUIA como forma de
governo
A transmissão do poder se dá em virtude dos laços de sangue (hereditariedade), sendo
que o término do direito de ser o monarca somente ocorre com a morte ou com a
comprovada ausência de condições de cumprir suas atribuições (vitaliciedade).

A condução ao exercício da função de monarca não decorre da


escolha popular (não representatividade popular), sendo que o
monarca não tem responsabilidade política e, por isso, não deve
explicações ao povo ou a qualquer órgão estatal (irresponsabilidade
política como ausência de prestação de contas).
A MONARQUIA como forma de
governo

Muitas monarquias dos dias atuais são formas de governo que se guiam pelo regime democrático
(monarquias parlamentaristas).

Vale, pois, afastar a confusão costumeira de associar a ideia de monarquia aos estados autocráticos
ou mesmo Estados absolutistas.

Não que as monarquias absolutas tenham deixado de existir, mas nos dias atuais, são minoria em face
daquelas que adotam regimes democráticos.
A REPÚBLICA como forma de governo

A República tem como traços marcantes o acesso ao poder por meio de


sufrágio censitário (república aristocrática) ou universal (república
democrática), enquanto a permanência é limitada temporalmente por meio
de mandato fixo, durante o qual, via de regra, há a responsabilização do
governante.

São características da República: a temporalidade, a eletividade e a responsabilidade.


Características fundantes da REPÚBLICA

Temporalidade – mandato, com prazo de duração pré-


determinado. Para evitar o continuísmo, veda-se a reeleição
sucessiva.

Eletividade – o chefe de governo é eleito pelo povo, porém não


se reconhece a sucessão hereditária, ou seja, sempre haverá a
participação do povo no processo eleitoral de escolha.

Responsabilidade – o chefe de governo é politicamente


responsável, ou seja, deve prestar contas de seus atos,
diretamente ao povo ou, indiretamente, a um órgão de
representação popular.
Cláusula pétrea ?

Diferente da Forma de Estado Federativa a forma de governo Republicana não é cláusula pétrea em nossa
Constituição.

Assim, não sendo a forma republicana, cláusula pétrea constitucional, há quem entenda existir condições
jurídicas para um retorno da monarquia no Brasil pela via de emenda à Constituição.

Vale lembrar aos discentes que esta pergunta foi formulada ao povo brasileiro pela via plebiscitária (1993),
sendo que o mesmo se manifestou pela permanência da república, embora mais de 10% dos cidadãos (13,4
%) tenham se declarado favorável ao retorno da monarquia.
O conceito de res publica projeta a ideia-força
de governo da coisa pública.

Portanto, o conceito pelo ângulo da chamada res publica tem horizonte


mais amplo alcançando o combate à degradação política pela corrupção
dos agentes políticos, bem como o afastamento de práticas nocivas,
como, por exemplo, o nepotismo e o patrimonialismo.
PROBLEMA:

Após superar uma ditadura e iniciar um processo de redemocratização


determinado país “P” resolve elaborar uma nova constituição. Embora
estivesse definido que se organizariam pela via federativa, houve uma
divisão política quanto à forma de governo a ser assumida: por um lado,
os mais tradicionalistas requerendo o retorno à monarquia que deu
origem ao surgimento do país no Século XVIII; e, por outro lado, os que
defendem uma república de viés democrático, evitando estabelecer
qualquer resquício personalista ao poder.
A disputa se acirra e o representante da Família Real, figura carismática
e bastante conhecido entre a população local, percebendo que os
constituintes estão inclinados a estabelecer a forma de governo
republicana, passa a defender que a constituição preveja uma forma
monárquica com eleições para rei, sendo que o eleito deve governar
com mandato fixo de seis anos, além de responder politicamente pelos
seus atos.
Pergunta-se:
a) A proposta do representante da família real faz algum sentido sob a
perspectiva da teoria
política atualmente estudada?

b) A Constituição brasileira de 1988 permitiria uma modificação


(emenda constitucional) com a
finalidade de alterar a forma de governo republicana pela forma
monárquica?
Ronaldo Lucas da Silva
Lattes:  http://lattes.cnpq.br/0284767277040893

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