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Aula

(04/10/2023)

Constituição americana – 1787


o É a mais antiga
o Precedida pela Declaração de Independência
o Diversas declarações unilaterais de estados americanos, como a declaração de
Virgínia
o Tem 7 artigos e 27 aditamentos/emendas (amendments), aprovados desde então

Aspetos fundamentais:
Federalismo: + força, unir/agregar
▪ Poder constituinte de cada Estado: cada estado tem a sua própria declaração
▪ Constituição incompleta: só trata da organização do poder político
▪ Vontade política federal resulta da agregação dos poderes políticos dos Estados
▪ federais:
Senado (igual representação dos Estados/ 2 representantes por
▪ Estado);
e os aditamentos à Constituição têm de ser aprovados por 2/3 dos membros
das 2 câmaras e ratificados por 3⁄4 dos Estados.
▪ o Supremo Tribunal

Direitos fundamentais:
▪ Constam dos 10 primeiros adiamentos, aprovados em 1791. (conjunto dos
direitos comuns nas diversas constituições)
1. Liberdade de culto, de palavra e de imprensa, direitos de reunião e de petição
2. Direito ao uso e porte de arma
4. Inviolabilidade do domicílio
5.6.7.8. Garantias do processo penal
▪ Foram posteriormente enriquecidos com outros:
13. Proíbe a escravatura;
15. Garante o direito de voto, independentemente da raça.
Separação dos poderes
▪ Poder executivo – cabe ao Presidente
▪ Pode legislativo – cabe às duas Câmaras do Congresso
▪ Independência recíproca dos titulares (com exceção do regime de impeachment)
▪ Mútua fiscalização entre os poderes executivo e legislativo:
O Presidente pode vetar leis e dirigir mensagens ao Congresso;
Alguns atos do Presidente dependem de autorização do Congresso
(nomeações para altos cargos, trabalho, créditos orçamentais…, etc.)

Constituições francesas (1791, 1793, 1795, 1799, 1802, 1804, 1814, 1830, 1848,
1852...)
▪ Inspiração americana, britânica e da filosofia
▪ Rutura com o Ancien Régime
▪ Resulta da Revolução de 1789, que se propõe destruir todas as instituições e
formas administrativas antigas
▪ É com a Constituição francesa que melhor se revela a contraposição entre Estado
absoluto e Estado constitucional
▪ A Constituição é fundamentalmente lei escrita ao serviço dos direitos e das
liberdades e do princípio da separação de poderes
▪ Poder legislativo é exercido pelas assembleias soberanas e é expressão da
vontade geral (Primada da lei)
▪ Poder executivo está subordinado à lei
▪ Direitos fundamentais: Liberdade, propriedade e segurança.
▪ Resulta a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
▪ Marcada por sucessões de textos constitucionais que reflete as fragilidades dos
consensos

Projeção do constitucionalismo francês


• Final do século XVIII e inícios do século XIX no continente europeu
(Constituição espanhola de 1812 e Constituição portuguesa de 1822)
• Meados do século XIX para a Europa central (Estados alemães e Áustria)
• Século XX, com a descolonização, para Estados africanos

Constituição moderna
Os pontos fundamentais do constitucionalismo
1. Novo fundamento do poder – a legitimidade vem da vontade do povo (poder
popular)
2. A ordem fundamental da comunidade política deve constar de uma constituição
escrita
3. A legitimidade do exercício do poder – o governo vai ser limitado pela
constituição, pois para exercer o poder tem de ser conforme a constituição
4. O estatuto de cidadania como expressão da pertença à comunidade política – a
partir do momento em que alguém se diz português torna-se membro da
comunidade política independentemente dos seus antecessores
5. Primado dos direitos das pessoas – está na base da constituição os direitos que
protegem o cidadão, os Direitos do Homem têm primado sobre qualquer outro
valor e o poder político deve respeitá-los
6. Separação entre o poder religioso e político – antes o estado e a igreja estavam
juntos na constituição, mas o constitucionalismo moderno deu o primeiro passo
no sentido da separação dos poderes políticos e religiosos
7. Separação do poder político por diversos órgãos – Poderes não devem estar
concentrados num único órgão
8. Supremacia da lei – tem uma divisão tripartida dos poderes, mas são três poderes
num nível diferente na hierarquia, o poder legislativo é o mais importante
9. Princípio da maioria - Decisões políticas devem corresponder à vontade da
maioria, feito através do sufrágio universal indireto

Poder Constituinte:

➢ Poder de criar uma Constituição, que fixa normas de carácter vinculativo que tem
validade e se impõem numa comunidade política como lei fundamental – “um
documento escrito com autor e data”
Quem é o autor da constituição?

▪ Abade Sieyés

O poder constituinte é um poder originário e soberano


A nação é livre para fazer nascer uma “obra constituinte”; não está sujeita
a formas, limites ou condições prévias
Os poderes conformados e regulador por esta constituição seriam poderes
constituídos

▪ Jonh Locke
Distingue poder constituinte e poder ordinário
O poder constituinte é um poder supremo (supreme power), que pertence à
sociedade
A constituição é o “contrato social” através do qual o povo (o corpo
político) consente o poder legislador

▪ James Madison
Distinção entre constitional politics e normal POLITICS
Entre o poder constituinte excecional, extraordinários e os poderes normais
correntes, existia um poder constituinte derivado oi poder de revisão
constitucional a que compère alterar, nos termos da constituição, as normas
ou os princípios por esta fixados

Atualmente há duas grandes questões que o poder constituinte suscita


✓ Será o poder constituinte um poder absoluto, de criação a partir do nada? Não!
✓ Qual é o limite do poder constituinte?
✓ Poderá o poder constituinte condicionar o exercício do poder constituinte das
gerações futuras?

11/10/2023

Tratado constitucional da União Europeia – corporização de um projeto constitucional


para a europa, a possibilidade de um consenso entre os vários países, o que não veio a
suceder
Quais foram as dificuldades?
1. A UE não é um estado
2. Não existe uma autoridade federal
3. Não existe um povo comum
Semelhanças:
1. Moeda
2. Livre circulação
3. Seguimos normas definidas na UE
Estamos a criar um edifício político semelhante ao Estado, é um processo de
federalização, observando o sobre a lente do constitucionalismo.
A UE era um estado a nascer, foi proposto então o tratado constitucional. Mas a
constituição não é um ponto de referência único, nós temos vários apenas da nossa
vida, comandados tanto pela constituição europeia como por outras normas diversas da
UE. É importante saber que vamos falar da constituição portuguesas, mas há muito
mais como o constitucionalismo europeu.

Artigo 7º/6 – Portugal pode aprovar diretamente o processo de construção da UE;


integração europeia; existe o princípio da subsidiariedade, a UE apenas age quando os
Estados membros não conseguem resolver a situação e pedem ajuda à UE.
Artigo8º/4 – vigoram segundo as regras do próprio direito
Constitucionalismo multinível/interconstitucionalidade – traduzem a mesma realidade,
existem várias constituições que nos regem, não apenas a nossa.

➢ A constituição como um corpo de normas, dotadas de especial força


➢ Constituição como conjunto de normas com carater especial – a especificidade
das normas constitucionais
Artigo 91º transporte de passageiros
Que tipo de normas?
➢ Normas que se traduzem em comandos concretos, diretamente aplicáveis
➢ Normas a que os destinatários devem obediência
A estas normas chamamos regras.
➢ O artigo 2º da constituição consagra um princípio constitucional
➢ Este princípio também é norma, também tem vocação de comando, cujo sentido
se pode apreender quando confrontado comum caso concreto
➢ Substancialmente diferente das normas que se apresentam como regras
Quem tipo de normas são estas?
▪ Comando abstrato, que necessita de ser concretizado para se poder tornar atuante
▪ Comando dirigido aos poderes públicos, exigindo deles adesão a tal princípio
para que o possam ir realizando, ir otimizando na prática da vida cívica
quotidiana
A constituição é um sistema normativo que compreende regras e princípios
Regras – artigo 133º; 164º, 165º
Princípios – artigos 1º, 2º, 13º, 20º, 266º
▪ A fonte dos princípios fundamentais são, essencialmente, os primeiros 11 artigos
da constituição.
A constituição possui normas regras e normas princípio, mas a princípio são mais
frequentes.

Distinção entre regras e princípios


1. Grau de abstração – as normas mais abstratas são os princípios enquanto as
normas regras são mais concretas
2. Grau de determinabilidade – os princípios são menos determináveis
3. Carater de fundamentalidade – os princípios são fundamentais, estão ligados às
necessidades da vida da comunidade, as normas regras fundamentais, estão
menos ligadas à vida jurídica
4. Natureza normogética – apenas os princípios entram neste ponto, pois apenas
eles podem criar princípios e/ou regras.
Os primeiros artigos, 11, são os princípios fundamentais. Constituem uma síntese de
um todo, pois estes 11 artigos são os fundamentais para um todo.
Estes artigos demonstram valores como:
1. O princípio democrático – artigo 1º, 2º, 3º/1, 10 º
2. O princípio da dignidade da pessoa humana – artigo 1º
3. O princípio da separação dos poderes – artigo 2º, 6º
4. O princípio do estado de direito – artigo 2º
5. O princípio republicano – artigo 1º
6. O princípio da socialidade – artigo 2º
7. O princípio da abertura ao direito internacional – artigo 7º, 8º
8. O princípio da integração europeia – artigo 7º, 8º
9. O princípio da unidade do Estado – artigo 6º
Artigo 1º - Portugal é uma República
Os regimes dos cargos não são vitalícios
Existe o sufrágio universal e não o princípio da hereditariedade
Artigo 142º - os antigos presidentes são convidados a compor o conselho de estado,
com o intuito de aconselhar o presidente, por isso acaba por não ir contra a constituição
já que estes não qualquer poder na mesmo.
Na jurisprudência o tribunal usa/utiliza o princípio da dignidade da pessoa humana
como:
▪ Auxiliar interpretativo
▪ Fundamento direto em determinadas decisões
▪ Podem ser retiradas normas e princípios que não estão na constituição
O PDPH opõe-se a normas que instrumentalizem a pessoa humana, degradando-a. O
seu princípio normativo é muito difícil de captar.

Artigo 509º 2002 - TC > Jurisprudência > Acórdãos > Acórdão 509/2002.
(tribunalconstitucional.pt)
E outro texto

18/10/2023
Acórdão: acordo entre os juízes do Tribunal Constitucional
“acórdão tirado em plenário” – isto significa que todos os juízes do Tribunal
Constitucional assinaram, são juízes conselheiros e são eleitos pela assembleia da
república (10), os outros 3 são escolhidos/ cooptados pelos outros 10.
A maior parte dos casos são tirados em secção, este foi diferente, pois teve uma
fiscalização preventiva, uma lei que ainda não está em vigor, o Presidente antes de a
divulgar, pediu aos juízes em plenário para estudarem a sua veracidade para com a
constituição.
Relator – a presenta aos colegas um projeto de acórdão, um texto que propõe o acórdão
aos colegas.
Relator por vencimento – substitui o outro relator, caso o seu projeto de acórdão não for
aceite.
Nº de processo – é atribuído ao documento na sua entrada no tribunal
Nº de acórdão – quando é decidido é lhe atribuído esse número
Declaração de voto – os juízes são convidados a explicar o seu voto, não é obrigatório.
I. Relatório – é o resumo do processo, o que é que ele já fez e por quem é que já
passou
II. Fundamento – é onde se fundamenta aquilo que é dito no requerimento

Relatório
Normas objeto: artigos do decreto da Assembleia da República
Normas parâmetro: normas constitucionais que são contrariadas pela Assembleia da
República

O Presidente usa dois argumentos:


1. O retrocesso ao nível social, que acontece em situações agraves
2. O princípio da igualdade, pois as pessoas são tratadas de forma diferente, e é
necessário saber se isso é um problema ou não (artigo 63, 12 e 13, associados ao
princípio da norma da universalidade)

O tribunal estuda primeiro o argumento do retrocesso


Conclui que isto não acontece (ponto 9 da fundamentação)
O argumento do princípio da igualdade é estudado em seguida
E podemos concluir que não0 existe violação, pois esta diferenciação não era arbitrária
Mas, apesar de tudo, havia o princípio da dignidade da pessoa humana, que não foi
apresentado pelo Presidente. Este violava o princípio da existência condigna.
A decisão foi então fundada nos artigos 1, 2, 63.

Princípio do estado de direito – é uma ideia que todos os poderes agem conforma
regras impostas pelo direito
Estado vinculativo ao Direito: Estado legislador, administrativo e tribunais. ≠ Estado de
arbítrio

• A génese deste princípio


1. Conceito alemão de Rechtsstaat
2. Noutros quadrantes definidos de modo diferente como “rule of law” e “principe
de légalité” (sentido final é aproximadamente o mesmo)

Klaus Stern: “A expressão Estado de Direito significa que o poder do Estado só pode
ser exercido com fundamento na Constituição, e em leis que formal (procedimentos) e
materialmente (valores salvaguardados) sejam conformes com ela, e com o fim de
garantir a dignidade da pessoa humana, a liberdade, a justiça e a segurança.”
Existem 2 tipos de elementos que compõe o princípio do Estado de Direito:
o Elementos formais (estrutura):
1. Princípio da Separação de poderes:
Cada uma destas funções deve ser atribuída, senão exclusivamente pelo menos
principalmente a um certo tipo de instituições ou órgãos estaduais, com
interdependência entre eles, evita concentração do poder/abuso do poder, cada órgão
está preparado para exercer o papel que lhe é atribuído
▪ Poder legislativo: partilhado pelo Parlamento, pelo Governo e pelas Assembleias
Legislativas Regionais.
▪ Poder administrativo: é partilhado pelo Governo, pelas autarquias locais e por outras
entidades definidas por lei.
▪ Poder judicial: cabe aos tribunais, que são completamente independentes, nos termos
do artigo 202.º da CRP.
Pertence ao núcleo essencial da ideia de Estado de Direito? Evitar abusos
A CRP tem separação e interdependência: um poder vigia e controla os
outros.

Exemplo: poder do PR pode vetar/recuar a promulgação atos legislativos quer da AR


quer do Governo ou poder da AR de provocar a demissão do Governo, através da
aprovação de uma moção de censura ou de rejeição de uma moção de confiança (Artigo
195.o, alínea D e E).

2. Constitucionalidade das leis:


Artigo 3.º: Soberania e legalidade
Número 3: A validade das leis e dos demais atos do Estado, das regiões autónomas, do
poder local e de quaisquer outras entidades públicas depende da sua conformidade com
a Constituição.
• Controlo da constitucionalidade, com a força normativa da Constituição.
• O legislador deve ser controlado, tem de respeitar a Constituição
(inconstitucionalidade)» Vinculação do legislador.
3. Legalidade da administração:
Artigo 266º/2
▪ subordinação do poder administrativo ao poder legislativo (à lei), está sujeito à
Constituição
▪ Prevalência/primado da lei: os atos da administração (regulamentos) não podem
valer contra a lei;
▪ Reserva/precedência de lei: atuação da administração deve estar prevista na lei que a
antecede.» A lei só pode atuar dentro dos termos revistos.

4. Independência do poder judicial:


Artigo 203.º: Independência
“Os tribunais são independentes e apenas sujeitos à lei.”
➢ Fundamental para garantir os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos,
mesmo contra o Estado.

Nota: sem estes 4 elementos não há Estado de Direito.

o Elementos materiais: limites de índole substancial, conteúdo


1. Dignidade da pessoa humana:
Artigo 1.º da CRP: República Portuguesa
Dignidade da pessoa humana Princípio Constitucional não podem ser interpretados
tendo em consideração uma mundividência específica, devendo ser um princípio
aberto.
Surge pós-guerra

DUDH/Carta das Nações Unidas: dignidade enquanto valor central no qual se funda
o direito internacional dos direitos humanos.
Constituições (alemão ou portuguesa) Imagem do homem do Estado de Direito:
imagem da pessoa cuja dignidade tem de ser protegida pela constituição.
2. Segurança jurídica:
Defesa jurídica dos cidadãos através da manutenção do quadro legal para proteger a
estabilidade da vida da sociedade, não ficando à mercê de todos os poderes públicos
origina o Princípio da Proteção da Confiança (relação de confiança entre Estado e
cidadãos)
• Poder legislativo = retroatividade das leis, apesar da tendência de irretroatividade
• Poder executivo = tendência de irrevogabilidade dos Atos Administrativos
• Poder jurisdicional = tendência de intangibilidade/intocabilidade do caso julgado,
transitado em julgado (quando deixa de ser passível de recurso, estabiliza-se a
sentença)

3 efeitos do Princípio da Segurança


• Qualidade Normativa= clareza, precisão, determinação das normas legislativas: é
obrigação do Estado de Direito garantir que os destinatários das normas olhem para o
legislador/Estado como pessoa de bem e confiem nele e na legislação em vigor para
terem comportamentos previsíveis. Princípio da clareza e da determinabilidade
• Proibição dos pré-efeitos de atos normativos: só depois dos atos normativos estarem
publicados em Diário da República é que poderão entrar de facto em vigor = vacatio
legis: tempo entre a data da publicação do ato e a data de entrada em vigor Princípio
da publicidade: conhecer as normas para ser previsíveis e não serem surpreendidos.
• Proibição da retroatividade: as normas devem vigorar para o futuro, mas a realidade é
dinâmica e o Direito tem dificuldades a responder, então o legislador têm tendência
para criar normas retroativas não é proibida no texto constitucional, mas deve-se
limitar ao necessário (deve tendencialmente irretroativas – antecipação)

Retroatividade autêntica ou pura: quando surge uma lei nova que vai afetar uma relação
jurídica que surgiu no passado, situação que surgiu no passado, e que os efeitos já estão
consolidados.
Exceções:
• Artigo 18.o, número 3 leis restritivas de direitos, liberdades e garantias
• Artigo 29.o, número 1, 3 e 4 lei penal
• Artigo 103.o, número 3 lei fiscal

Retrospetividade ou retroatividade impura ou inautêntica: quando surge uma lei nova


que vai produzir os seus efeitos no futuro, no entanto está a afetar, também, uma
relação jurídica que nasceu, formou no passado e que se prolongou no tempo até ao
momento que esta lei nova surge dado que esta relação jurídica é duradoura onde os
efeitos não estão consomados.
4 postulados – requisitos/critérios para a retroatividade = definidos no Acórdão 128/09
do TC
1. O Estado, membro legislador, encetado comportamentos capazes de gerar nos
privados expectativas de continuidade através de leis, legislação;
2. As expectativas criadas pelos privados têm de ser legítimas e fundadas em boas
razões, atendendo ao cidadão medianamente diligente/cidadão normal;
3. Os privados têm de ter feito planos de vida, confiando naquele que era o
comportamento estadual;
4. Os interesses públicos em ponderação com as expectativas criadas pelos privados
prevalecem, justificam a não continuidade do comportamento, alteração da legislação.
Exemplo: Acórdão 1260/13 do Tribunal Constitucional = redução das pensões
Para além da dimensão da previsibilidade das normas, para que haja uma proteção da
confiança dos cidadãos, há a dimensão da mensurabilidade que revela o Princípio da
proibição de excesso ou proporcionalidade.

Princípio da proporcionalidade: a atuação do Estado, para ser segura, tem de ser


mensurável, exige que as normas jurídicas aplicadas sejam adequadas ao fim que
desejam atingir
Aplicação a todos os domínios públicos:
Artigo 18.o- Força Jurídica
Artigo 19.o- Suspensão do exercício de direitos (“devem respeitar o princípio da
proporcionalidade e limitar-se, nomeadamente quanto às suas extensão e duração e aos
meios utilizados, ao estritamente necessário”)
Artigo 266.o- Princípios fundamentais (“respeito pelos princípios da igualdade, da
proporcionalidade, da justiça, da imparcialidade e da boa-fé”)
Artigo 272.o- Polícia (“estritamente necessário”)

Os atos do Estado nunca devem ser excessivos, quaisquer que sejam as funções que
através deles se exerçam.
Proibição do excesso/ princípio da proporcionalidade em sentido lato: as decisões
que o Estado toma têm de ter uma razão de ser, uma finalidade = Prossecução público.
Princípio da proporcionalidade:
• Estado de Direito: as relações entre os particulares e o Estado estão sujeitas a um
princípio basilar: a liberdade e a autonomia dos primeiros são a regra, enquanto a
ingerência estatal na liberdade dos cidadãos é a exceção
• Aplica-se transversalmente a toda a atividade estadual (decorre do artigo 2.o): a
atividade estadual deve surgir para os seus destinatários como algo sério, seguro e
confiável. Os atos estaduais devem ser atos equilibrados, medidos e ponderados.

Três critérios/subprincípios:
1. Princípio da idoneidade ou adequação: aptidão objetiva ou formal de um meio para
realizar um fim.
2. Princípio da necessidade: medida necessária, no sentido de que não existe outra
menos onerosa capaz de assegurar o objetivo com igual grau de eficácia. – Inexistência
de outro meio que sendo, em princípio, tão eficaz ou idóneo para atingir o fim, seja
sensivelmente menos agressivo.
3. Proporcionalidade em sentido restrito: substanciais e superiores benefícios ou
vantagens para o interesse geral, quando confrontados com outros bens ou valores em
conflito. – Desvalor do sacrifício comparado com o valor do bem se pretende atingir –
uma justificação para a medida adotada, no sentido que as vantagens adotadas devem
superar as vantagens que existiriam caso esta não fosse implementada
Acórdão nº 486/03
A dimensão do princípio passa por três fases/testes:
1. Adequação – meio é apto para a prossecução do fim? Se o meio for
desadequado é logo reprovada –;
2. Necessidade ou exigibilidade – existe outro meio apto menos oneroso? É
preciso saber se o legislador escolheu a medida necessária para a
elaboração da medida. Se escolheu uma medida desnecessária, a medida é
considerada desproporcional –;
3. Proporcionalidade em sentido estrito ou equilíbrio – as vantagens
decorrentes da decisão superam as desvantagens? Saber se os benefícios
com a adoção desta medida superam as restrições que a respetiva
implementação possa sugerir.

3. Princípio da liberdade:
Artigo 2º e 24
Essencial e intimamente relacionada com o conceito de dignidade.
Estado de Direito deve necessariamente assegurar a cada pessoa a possibilidade de
exercício da sua autonomia e exige a garantia constitucional do princípio do pluralismo,
no que se refere às visões do mundo e às conceções sociais e individuais do que seja
uma vida boa.
Consagração de certos direitos: direito à vida, direito à integridade pessoal, direito à
liberdade e segurança e de culto, liberdade de expressão (liberdades do espírito).

4. Princípio da justiça:
Estado de Direito visa assegurar uma ideia de justiça
Conceito de justo: associado ao conceito de igualdade = um determinado tratamento é
justo quando se tratam as pessoas com igualdade
Princípio da igualdade (Artigo 13º) – “deve se tratar o igualmente o que é igual, e

diferentemente o que é diferente, na medida da diferença”

Presença mais constante e mais antiga nos textos constitucionais e sofreu uma
evolução:
1. Estado Direito liberal: igualdade na aplicação da lei: a lei é igual para todos, todos
são iguais perante a lei. Homem como um ser abstrato, isolado face às condições
concretas do seu viver em comunidade.
2. A generalidade da lei: fonte de injustiças = tratar da mesma forma aquilo que à
partida é substancialmente diferente.
3. Estado Social: princípio da igualdade jurídica esclarece-se no tratamento igual do
que é essencialmente igual e no tratamento diferente do que é essencialmente diferente.
CRP: homem é um ser concreto, imerso nas necessidades, urgências e contingências
da sua condição existencial pelo que o legislador do Estado social não está autorizado e
é obrigado a atender às diferenças reais entre as pessoas, a preocupar-se não tanto com
a forma, mas, sobretudo com os resultados.

Justiça distributiva + Igualdade material = legislador do Estado social pode e deve


compensar as situações de desigualdade fáctica e repor ou criar as condições de uma
verdadeira igualdade.
CRP: acolhe expressamente todas estas dimensões da igualdade, estabelece
autorizações ou comandos de diferenciação material em favor de categorias
particulares, como mulheres, trabalhadores, menores, jovens, idosos, grávidas, afetados
por deficiência, ...
Exemplo: Artigo 68.o, número 3; Artigo 70.o; Artigo 13.o...

Jorge Reis de Novais: “O princípio da igualdade é, porventura, dos princípios


estruturantes do Estado de Direito, o de presença mais constante e mais antiga nos
textos constitucionais, mas também é, mesmo em consequência dessa longevidade
constitucional, o que tem experimentado uma evolução mais pronunciada e
multifacetada”.
Exemplo: Artigo 1.o da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 ou
Declaração da Independência dos EUA de 1776
Critérios para que o juiz pode aferir se há justificação ou não para a distinção:
Artigo 13.o, no2 Categorias suspeitas: elenco exemplificativo
Proibição do arbítrio/excesso (Acórdão no 186/90): - tem de ser proporcional

“O princípio da igualdade (...) não veda à lei a realização de distinções. Proíbe-lhe,


antes a adoção de medidas que estabeleçam distinções discriminatórias, ou seja,
desigualdades de tratamento materialmente infundadas, sem qualquer fundamento
razoável”, “Numa expressão sintética, o princípio da igualdade, enquanto princípio
vinculativo da lei, traduz-se na ideia geral de proibição do arbítrio”.
JNR: mesmo que a discriminação não caia na categoria suspeita, o controlo deve ser
mais apertado do que apenas avaliar se é ou não uma discriminação arbitrária, não
razoável. A diferenciação tem de passar no teste da proibição do excesso: (Acórdão
no353/12) – “a liberdade do legislador (...) não pode ser ilimitada.”,
“Na verdade, a igualdade jurídica é justificada pela diferença de situações não está
imune a um juízo de proporcionalidade.”

25/10/2023
Princípio da segurança jurídica

• Relativamente aos atos normativos


- publicidade, precisão ou determinabilidade
- proibição de pré-efeitos (antes da entrada de vigor de uma lei não é permitida, ou seja,
uma lei só pode ser aplicada antes da lei em si entrar em vigor)
- tendencial proibição de normas retroativas (o legislador deve legislar a pensar no
futuro, qual forma de retroatividade é indesejada, porém dizer isto ao procurador pode
fazer com que seja difícil fazer o seu papel, sendo assim em Portugal não é proibido a
100% de existirem leis retroativas, se o legislador só pudesse se relacionar com ações
futuras, isto faz com que a sua intervenção em casos mais graves seja mais difícil
• Relativamente a atos jurisdicionais
- estabilidade do caso julgado (estabilidade do caso julgado, ou seja, a decisão do
tribunal deixa de ser passível a recurso, quer a última decisão ter sido boa ou má)
• Relativamente a casos administrativos
- tendencial irrevogabilidade de atos constitutivos de direitos (a partir do momento que
nos é concebida uma licença por exemplo para uma casa, esta não pode ser revogada,
apenas em casos muito específicos)

A retroatividade das normas:


 O princípio do Estado de Direito encontra concretização nas disposições que
proíbem a retroatividade em três normas constitucionais:
Artigo 18º/3 – restrição de direitos de liberdades e garantias;
Artigo 29º/1 – (se hoje há um ato que não é considerado crime, a lei posterior não pode
vir a qualificá-lo como tal e, assim, só vale para os atos que se vierem a praticar depois
da entrada em vigor da lei) e 4 (se uma lei agrava a sanção penal aplicada não pode ser
aplicada retroativamente) – domínio penal;
Artigo 103º/3 – domínio da criação de impostos no âmbito fiscal.

A dicotomia entre retroatividade e a retrospetividade:


Quando há uma alteração ou a entrada de uma nova lei em vigor que afeta apenas o
futuro, mas que essa alteração irá ter consequências negativas nos indivíduos que
estabeleceram um contrato ou uma expectativa quanto a um determinado
assunto/contrato no passado, não é verdadeiramente considerado uma retroatividade
pura, mas sim uma retroatividade impura ou inautêntica retrospetividade. Quando o
legislador cria normas que só se aplicam a factos/relações jurídicas duradouros que se
vão atribuir no futuro, ou seja, uma legislação prospetiva prospetividade, não há
problemas.
Quando a situação é retroativa ou retrospetiva, vários problemas surgem e têm de ter
em conta se as expectativas criadas pelos cidadãos fizeram com que esses
estabelecessem planos de vida e se essas expectativas foram legitimas. Assim, o
legislador tem de ponderar os interesses que ponderam a aplicação da lei retroativa com
as expectativas já criadas pelos cidadãos.

Analise do Acórdão 287/90:


O caso inicia-se em 4 de maio de 1981 quando dá entrada no Tribunal Judicial de
Resende em que o A intenda uma ação contra B para definir um valor para essa ação,
sendo esse valor 85.000 escudos. Assim é dada uma oportunidade para a outra parte (B)
se defender da ação colocada. Diz-se que os herdeiros de B se contestaram e
apresentaram um contra-ataque, sendo isso uma ato de reconvenção e B passa a pedir o
valor da ação em 80.000 escudos.
Dois anos depois, o valor da ação ficou afixado nos 165.000 escudos. Entretanto em 8
de janeiro de 1988, dão razão a B e A tenta recorrer, dando início aos problemas de
A. O Tribunal da relação não admitiu a recorrência de A em primeira instância, porque,
de acordo com a art.º 106 da lei nº 38/87 que dita uma alteração no valor das alçadas –
em termo técnicos o valor é abaixo no qual o tribunal julga sem possibilidade de
recurso – sendo esse 500.000 escudos, valor que antes era de 120.000. Assim, se se
aplicar a nova lei, não é possível aplicar a recorrência devido ao valor da alçada. O
artigo 106º dita que a matéria da admissibilidade do valor das alçadas é regulada pela
lei em vigor no tempo em que foi proferida a sentença recorrida, ou seja, em 8 de
janeiro de 1988. O que está em causa é se a atualização do valor das alçadas na lei nº
38/87 é aplicável ao caso em questão e se não interfere nas suas expectativas e é isso
que o recorrente leva ao TC, afirmando que a lei é inconstitucional pelo facto de
frustrar a confiança do cidadão, sendo uma arbitrariedade da norma em questão. O
recorrente afirma que ao artigo 106 tem carácter retroativo e essa retroatividade viola
a proibição que consta do artigo 18 nº 2 e 3 que afirma que as leis de liberdade e
garantias proíbem aplicação de retroatividade, sendo o direito de recorrer um direito de
liberdade e garantias. Sendo a lei inconstitucional, não pode ser aplicável e mantém o
seu direito a recorrer. Contudo, o TC não dá razão ao recorrente, visto que o direito a
recurso só se restitui após a aplicação da nova lei, sendo essa considerada não
retroativa. O recurso é proposto após a entrada em vigor da lei.
Logo, a argumentação do recorrente caiu pela base, visto que a lei se aplica apenas para
sentenças realizadas no futuro. Contudo, está em causa o princípio da segurança
jurídica e da proteção da confiança dos cidadãos. Para tal, o TC afirma que as pessoas
tinham razão para confiar que uma eventual alteração das alçadas não iria interferir nas
suas expectativas e as leis aplicadas até têm função prospetiva, ou seja, só seria
aplicável no futuro e não seriam aplicadas em ações pendentes.
As pessoas confiavam que os valores das alçadas não seriam alterados. A expectativa é
legitima e com base nela as pessoas fizeram planos de vida com base nos valores das
alçadas. Do outro lado, há outro fator que foi preponderante para a decisão do tribunal,
se os lados dos interesses públicos se sobrelevam a atribuição das expectativas. O
próprio legislador revogou a norma e, por isso, com o balanceamento desses fatores,
ficou claro que as expectativas tinham muito maior peso do que o interesse público na
aplicação imediata das alterações em processos já pendentes. Por esses fatores
compreendeu-se que esse artigo é inconstitucional por violação do artigo 2º da CRP.
Por fim, o recurso do recorrente foi admitido, apesar dos seus argumentos terem caído,
então vai voltar à instância de onde veio e vai lhe ser possível pedir recurso. Esta norma
foi considerada inconstitucional apenas neste caso concreto.
O conselheiro que declarou o voto vencido, por outro lado, afirma que não há uma
expectativa privada tão forte na perspetiva de que nenhuma alteração no valor das
alçadas possa ser aplicada em ações pendentes.

Requisitos de inadmissibilidade de leis retroativas ou retrospetivas


 “Afetação de expectativas, em sentido desfavorável, (…) quando constitua uma
mutuação da ordem jurídica com que, razoavelmente, os destinatários das normas
delas constantes não possam contar”
 “Quando não for ditada pela necessidade de salvaguardar direitos ou interesses
constitucionalmente protegidos que devam considerar-se prevalentes”
Acórdão 287º/90

Segundo Maria Lúcia Amaral, quatro pressupostos: (TC pondera estes pontos
para determinar se está ou não de acordo com o Princípio do Estado de Direito)
1. Que o Estado tenha criado espectativas de continuidade do quadro legal aplicável
2. Que os cidadãos tenham feito planos de vida com base nessas expectativas
3. Que tais expectativas sejam legítimas
4. Que a mudança de comportamento dos poderes públicos não seja exigida por um
interesse público que, pela sua importância e valor, sobreleve o valor da tutela
das expectativas privadas

08/11/2023
O princípio do Estado de Direito
- entre dimensões e exigências

Princípio da segurança jurídica


Previsibilidade: Proteção da confiança
Mensurabilidade: Proibição do excesso ou proporcionalidade (atuam de justa
medida)

1. Proibição do excesso ou proporcionalidade

 Significa que deve haver um equilíbrio entre a decisão estadual e o fim que ela
prossegue
 As vantagens obtidas por todos através da medida estadual devem ser
proporcionais às desvantagens que tal medida tenha causado
 Num Estado de direito “não se utilizam canhões para atirar pardais”
 A atuação dos poderes públicos deve ser equilibrada, ponderada, respeitando a
justa medida
 É, no entanto, um princípio geral, ínsito na ideia de Estado de Direito
 Os tribunais, num Estado de Direito, são competentes para sancionar o Estado,
que atue de modo excessivo, desproporcionando

2. Princípio da Igualdade

 Compreensão do princípio em sentido material = igualdade perante a lei


 Compreensão do princípio em sentido material = proibição de diferenciações de
tratamento arbitrárias
- as categorias suspeitas do Artigo 13º/2
 A igualdade proporcional

Princípio democrático:
O princípio democrático apresenta uma referência redundante nos 11 primeiros artigos
da CRP, principalmente por causa do contexto histórico em que a CRP foi criada, mas o
artigo 3º/1 é o mais importante. A democracia foi um dos principais objetivos dos
legisladores da constituição de 1976. Há uma visão maximalista e minimalista desse
princípio. A fórmula de Lincoln dita que a democracia assenta na vontade popular, que
é o povo o soberano e age em benefício do coletivo – forma maximalista. A fórmula de
Popper consiste em que a democracia não é gerado necessariamente a partir do governo
do povo para o povo, mas a partir do afastamento de um governo tirânico sem
derramamento de sangue.
Democracia representativa - a vontade popular é exercida através da transmissão do
poder do povo para o seu soberano.
Democracia direta – o povo é chamado para tomar decisões de forma direta. (artigo
245º/2 CRP – numa freguesia de população diminuta a assembleia da freguesia pode
ser substituída pelo planetários dos cidadãos eleitores que são chamados a realizar a
mesma função que esta assembleia).
Democracia participativa – A democracia participativa tem como base o sistema
representativo, que se exerce através de um conjunto de representantes que exercem o
poder em representação do povo, mas o povo participa ativamente em algumas decisões
políticas. A democracia portuguesa consiste em um sistema representativo com algumas
facetas participativas (referendos (artigo 115º CRP) – sistemas que devolvem a palavra
ao corpo eleitoral para decidir sobre um determinado tópico; não são realizados
referendos sobre a constituição, sobre matéria orçamental, tributária, do tribunal
constitucional, …; o referendo só é vinculativo se a votação for superior a 50% do
corpo eleitoral; iniciativa popular (artigo 167º) – podem propor iniciativas de lei e até
de referendos; já os vetos há existe no quadro da nossa constituição).

Princípio da socialidade:
O nosso Estado de direito é um estado social, ou seja, é um estado empenhado na
criação de uma igualdade entre todos, eliminando desigualdade de base económica,
social e cultural que podem perturbar a igual participação de todos na vida comum,
social e política – artigo 9º
O princípio da sociabilidade é uma outra declinação do princípio da igualdade, ou seja,
o estado tem de estar comprometido com o combate às desigualdades e promover a
participação de todos os cidadãos na vida comum.

Princípio da unidade do Estado/unitário (artigo 6º):


Num estado composto há uma pluralidade de ordenamentos, uma pluralidade de
constituições, em que cada unidade tem a sua constituição estadual sobre a constituição
federal. Para além do elemento federativo que une o território, os estados que estão
abaixo detém uma certa soberania.
No estado português, a constituição é a mais próxima de um estado federal, onde há
uma pluralidade de elementos. Desde 1826, as constituições portuguesas foram sempre
unitárias, que preveem a existência de um único estado.
O artigo 6º dita que o estado português é unitário, contudo reconhece um estatuto e leis
própria às ilhas, que detém de uma certa autonomia. Mesmo no continente, existe o
poder local que está dividido em três níveis: regiões, municípios e freguesias. Assim, há
uma adoção do estado unitário que respeita a autonomia das regiões autónomas e do
poder local e que promovesse, mesmo a nível da administração publica a sua
descentralização.

Princípio da abertura internacional do Estado Português


Na época do Estado Novo, Portugal estava afastado da comunidade internacional, algo
que a Constituição de 1976 muda ao abrir Portugal ao mundo. Esse princípio é
considerado um princípio originário – artigo 7º e 8º.
O artigo 7º, historicamente, é um mudança enorme face ao que antes era Portugal em
1976.
Portugal nunca deixou de ser membro das Nações Unidas, mas agora este vai retificar
tudo aquilo que não havia feito quando tinha as suas costas viradas para as Nações
Unidas.

Princípio da Integração Europeia:


É um princípio que não é originário e que surge apenas após a integração de Portugal
na UE– artigo 7º/5 e 6. A mesma lógica de abertura a ordem jurídica comunitária passa
também pelo artigo 8º/4. Os regulamentos da União Europeia não têm interferência
direta dos estados nacionais, ou seja, não há um órgão de soberania a transpor esse ato
para o âmbito interno.
Normas dos tratados da EU
Normas emanadas pelos órgãos da EU – artigo 8º
 Regulamentos da EU – quando são aplicadas e entram em vigor, é em todo o
espaço europeu de igual forma
 Diretivas – define um determinado resultado que tem de atingir, e cada estado
tem uma margem para a cumprir e realiza se uma diretiva, define-se um prazo de
transposição, cada estado é obrigado a adotar um direito interno que prossiga a
integração dessa nova diretiva.
Controlo da constituição
Quem é que a controla? – primeiro temos de perceber que há um relação entre controlo
e revisão da constituição.
Primeiramente, em tempos anteriores, o controlo da constituição ficou concebido às
cortes, pois a ideia de que a constituição podia ficar ao poder do tribunal é absurda, já
que nos quadros mentais da época os juízes são a boca da lei e nunca a iriam questionar.
O controlo da constituição fica ao poder político.
Há atos constitucionais que não estão ao controlo da constituição, como os atos
políticos.

A garantia e o controlo da constituição ocorrem devido a mecanismos de garantia


política e de natureza judicial.
No século XIX, Ferdinand Lassalle (1862), diz nos que constituições são como “folhas
de papel”, textos sem efetividade. As questões constitucionais não são questões
jurídicas, mas questões de poder. A constituição tinha um compromisso político e o seu
cumprimento ou não dependia daqueles que se encontravam nela.

Na Constituição francesa de 1791, a “assembleia Nacional Constituinte confia esta


constituição à fidelidade do corpo legislativo, Rei e dos Juízes, à vigilância dos pais de
família, às esposas e às mães, à feição dos homens vidos e a coragem de todos os
franceses”.
Esta situação de fragilidade, de vulnerabilidade da normas constitucionais só haveria de
alterar-se na Europa, século XX, até o fim da Segunda Guerra Mundial, algo não
verificado nos EUA. O caso Marbury VS Madison é considerado o caso fundador do
período constitucional americano, em que a Supreme Court se reconheceu o poder de
controlar a constitucionalidade das leis.

Tribunal Constitucional
Nos Estados Unidos, John Marshall afirma que a constituição é a “the higher law of the
land” e que qualquer lei que vai contra a constituição é considerada nula e, por isso, é
necessário haver um controlo dessas leis. Na Europa, Hans Kelsen dita que confiar o
controlo da constitucionalidade das leis ao parlamento é uma ingenuidade política,
porque o parlamento não se controla a si próprio e não reconhece os seus erros e por
isso é necessário criar um órgão que regule o parlamento, sendo ele o Tribunal
Constitucional. Podemos dizer então que ele foi o criador dos tribunais constitucionais.
Sabendo ele que os juízes eram capazes de reconhecer a inconstitucionalidade, isto
mais conhecendo a realidade política do parlamento, chegou à conclusão de que era
necessário haver um controlo judicial da constitucionalidade, mas por um órgão à parte
de tudo o resto, que veio a tornar se o Tribunal Constitucional.

Como escolher os juízes?


O juiz constitucional deve ser um legislador negativo, visto que ele não legisla, mas
tem o poder de anular as leis criadas pelo parlamento caso haja uma inconformidade
das leis com a constituição. Enquanto o Parlamento é livre na definição do conteúdo
das leis, a atividade do legislador negativo é totalmente determinada pela Constituição.
Os tribunais constitucionais, apesar de terem um significado e relevância diferente em
cada país, por isso não pode haver uma regra geral para todas as constituições do
mundo todo. As suas propostas começam por sugerir que o número de membros não
deve ser elevado e a eleição desses membros não pode reservar-se a uma simples
eleição pelo Parlamento, nem a nomeação exclusiva do Chefe de Estado ou pelo
governo, mas sim uma combinação eficaz de ambos esses métodos de eleição.
Desta discussão e experiências nasceram dois modelos de justiça constitucional:
→ Modelo norte-americano da judicial review, fazem controlo das normas
constitucionais que aplicam. É um modelo de fiscalização difusa, ou seja, todos os
tribunais fiscalizam as leis criadas e controlam a constitucionalidade das normas.
Qualquer tribunal pode controlar e rever a constitucionalidade das leis, e pode afastar
essa lei caso a veja como inconstitucional.
→ Modelo austríaco da fiscalização concentrada, radicalmente diferente do norte-
americano. O controlo da constitucionalidade deve existir, mas não por qualquer
tribunal. Deve existir um órgão autónomo concentrado que controla a
constitucionalidade das leis – o Tribunal Constitucional.

Evolução da justiça constitucional em Portugal


Constituições monárquicas do séc. XIX
→ Controlo puramente político;
→ Confiava-se às Cortes a tarefa de “velar pela guarda da Constituição”.
Constituição de 1911 (faceta vanguardista):
→ Adoção do modelo da judicial review;
→ Os tribunais, todos e quaisquer tribunais, passam a apreciar a “legitimidade
constitucional ou conformidade com a constituição e os princípios nela consagrados”
(art.º 63);
→ O art.º 204 da constituição é o herdeiro desta norma, que foi inspirado na
Constituição americana, e que prevalece até hoje.
Constituição de 1933 (mantém a faceta vanguardista):
→ Nominalmente o sistema era o mesmo, apesar de reservar para a Assembleia
Nacional a apreciação da inconstitucionalidade orgânica e formal.
Constituição de 1976 (versão originária):
→ Dois órgãos: Comissão Constitucional e Conselho da Revolução, maioritariamente
constituído por militares;
→ O CR procede à fiscalização preventiva e sucessiva;
→ A comissão dá parecer prévio.
Constituição de 1976 (pós-revisão de 1982):
A constituição democrática portuguesa apresenta dois grandes momentos de evolução:
um primeiro momento que se passa entre 1976 e 1982 e um segundo momento a seguir
a revisão constitucional de 1982. No primeiro momento há a permanência de uma
fórmula difusa da constituição – elemento de continuidade da constituição republicana
– e temos o conselho da revolução o grande garante da constitucionalidade, juntamente
com a comissão constitucional. Em 1982 nasce o Tribunal Constitucional que dialoga
com o Tribunal Constitucional espanhol, italiano, francês… Contudo, ao art.º 204
permanece, estabelecendo um controlo difuso e concentrado – controlo híbrido.
A composição do TC é de treze juízes dos quais dez são escolhidos pela Assembleia da
República e três cooptados/escolhidos pelos restantes juízes. Não é um único órgão a
escolher os membros pois assim pode se permitir aos juízes ter maior independência
para escolher os seus membros restantes. Todos eles são juristas e pelos menos 6 têm de
ser magistrados de carreira.
A fiscalização da constitucionalidade
As competências principais do TC são, nomeadamente:
→ controlo preventivo: é o controlo incidente em normas imperfeitas, que se faz
quanto a normas que ainda não entraram em vigor, verificando se as mesmas podem ser
inconstitucionais e, caso se verifique, não sejam aprovadas, há norma jurídica – art.º
277 e 278 da CRP.
Quem pode pedir a fiscalização abstrata preventiva?
Na maior parte dos casos é o Presidente da República, que é quem mais faz este
papel, podendo pedir ao TC que aprecie a inconstitucionalidade desse ato antes de o
promulgar, assinar ou ratificar. No caso dos decretos regionais, é o Representante da
República que o fará, o PR nomeia um representante para cada uma das regiões
autónomas.
Como se dá essa fiscalização? A partir do momento no qual o Presidente da República
ou o representante da República tem o documento em mão, são dados 8 dias para ser
pedida a fiscalização (art.º 278/3). De modo que o processo legislativo não empanque
naquela circunstância, o Tribunal Constitucional tem 25 dias para apresentar a sua
decisão (art.º 278/8). Esse tipo de fiscalização pode-se dar em cinco tipos de normas:
1. Leis da AR – aguarda promulgação;
2. Os Decretos-Lei do Governo – aguarda promulgação;
3. Os Decretos-Lei regionais – aguarda assinatura dos RR;
4. Os Tratados Internacionais – aguarda ratificação e podem ser declarados
inconstitucionais;
5. Os Acordos Internacionais – aguarda assinatura e devem ser analisados antes da
sua aceitação.
Quando o Tribunal Constitucional é chamado para analisar preventivamente um
diploma, pronuncia-se, decidindo se a norma é inconstitucional ou se é não
inconstitucional. Caso seja declarada inconstitucional, será vetada e enviada para o
órgão que a redigiu. Assim, é obrigatório para o PR veto e devolução – art.º 279/1.
Depois disso, pode haver a reformulação da norma (ao decidirem isso, o diploma que
chega ao PR é tido como um novo diploma, podendo ser pedida a sua fiscalização
novamente), a expurgação (mantém o diploma e retiram (a doença) os preceitos tidos
como inconstitucionais) ou simplesmente desistência. No caso dos diplomas da AR há a
possibilidade de confirmação, se votada por 2/3 dos deputados (até hoje essa
possibilidade nunca foi aplicada) – artigo 279, nº2.
A pronuncia pela não inconstitucionalidade não significa que o diploma irá entrar em
vigor, podendo ainda o Presidente da República tomar uma posição de veto político,
caso continue a não aceitar a norma em vigor.
→ controlo sucessivo: é o controlo que se faz quanto a normas que já estão em vigor,
quando surge duvidas quanto a constitucionalidade dessas normas e, caso sejam
inconstitucionais, o TC pode retirá-las do ordenamento jurídico (legislador negativo)
– artigo 281º e 282º. Há aqui o acolhimento do modelo de controlo da
constitucionalidade defendido por Hans Kelsen. Qualquer norma que tenha força de
comando pode ser alvo de fiscalização e não está sujeita a prazo, ou seja, uma norma
que entrou em vigor a 20 anos pode ser, igualmente, fiscalizada. O juízo do Tribunal
Constitucional face a uma fiscalização de uma norma pode ser declarar a
inconstitucionalidade da norma ou declarar a não inconstitucionalidade da norma.
Quando o TC compreende que a norma é inconstitucional aquela norma é,
imediatamente, invalidada. Com isso, ainda há dois efeitos associados a
inconstitucionalidade da norma: a norma é considerada inconstitucional com força
obrigatória geral, ao efeito invalidatório é acompanhado pelo efeito retroativo (retroage
ao momento em que a norma foi aplicada), ou seja, só vai valer para o futuro. Para além
disso, há o efeito repristinatório, ou seja, para evitar o vazio criado pela norma que foi
invalidada, o TC determina a repristinação da norma, ou seja, há o esforço de recuperar
uma norma que existia no ordenamento jurídico antigamente, recolocando-a no
ordenamento atual até a criação de uma nova norma que preencha esse vazio.
Qual a exceção a regra dos efeitos? É a questão dos casos julgados. Em princípio, os
casos julgados mantêm-se, ou seja, não vão ser revistos casos que já tenham sido
considerados julgados, exceto se se tratar de matéria sancionatória e for mais favorável
ao individuo.
Por outro lado, o TC é obrigado pela constituição a ponderar os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade da norma, podendo restringir os efeitos dessa declaração e com
isso se salvaguardam os interesses afirmados no art.º 282/nº4.
Pode haver casos em que a norma considerada inconstitucional não o era na sua
origem, mas tornou-se inconstitucional pela entrada em vigor de uma nova norma
constitucional com a qual ela não se conforma. Chama-se a essa caso o caso de
inconstitucionalidade superveniente. Nesse caso, a declaração de
inconstitucionalidade do TC tem efeito invalidatório e retroativo, mas entra em
conformidade a partir do momento em que a nova norma constitucional entrou em
vigor – artigo 282º/nº2 e não há lugar para repristinação.
O artigo 282 só trata dos efeitos quando o TC declara a inconstitucionalidade da
norma.

No caso da declaração do TC for de considerar a norma não inconstitucional, a norma


continua em vigor. Contudo, não afasta a possibilidade de a norma ser fiscalizada no
futuro, ou seja, não tem efeitos preclusivos, havendo, com isso, uma dupla negativa.
→ controlo da inconstitucionalidade por omissão: art.º 283: ocorre quando o legislador
não concretizou o comando constitucional, não há norma juridica, ou seja, deve-se a
inação do legislador em garantir a constitucionalidade da norma – art.º 35 – se o
legislador não regular as leis, estas não podem ser usadas, então a norma é
inconstitucional, a ausência desta norma é que provoca a inconstitucionalidade.
Pode ser pedido pelo:
 PR
 O procurador da justiça
 Entidades regionais
→ recursos de constitucionalidade : qualquer decisão de qualquer tribunal em matéria
de constitucionalidade pode ser alvo de recurso do TC, sendo ele a última voz de
decisão da inconstitucionalidade das normas, tem sempre a última palavra – artigo
280º - existem mais recursos relativamente à alínea b, a alínea a é mais grave, por
isso chega mais rapidamente ao TC e tem que ser apurado rapidamente, pois
chegar ao ponto de um juiz se recusar a aplicar uma norma porque entende que é
inconstitucional, isto não acontece na alínea b e caso o ministério público se
conformar com a decisão não há motivos para recorrer ao TC, o sistema não
favorece que estes casos cheguem rapidamente ao TC. Os juiz são inamovíveis e
irresponsáveis – art.º 216/2 – estes só respondem caso tomem uma situação realmente
preocupante, os juízes não podem ser questionados por designar uma norma como
inconstitucional, desde que façam a ponderação de forma correta.
Os processos de fiscalização concreta são mistos:
 a fase difusa – começa sempre assim
 a fase concentrada – o TC intervém, chega lhe o caso
Num caso qualquer às normas que são chamadas para aplicar no caso, e é pedido para
estas normas não serem aplicadas por serem inconstitucionais. O ministério público, o
juiz ou o próprio tribunal, em qualquer uma das partes, pode pedir para rever a
constitucionalidade da norma, e o próprio juiz pode se recusar a aplicar a mesma. São
cincos juízes do TC que vai apreciar estes recursos, pois não fazia sentido serem todos.
Esta decisão do TC em casos de fiscalização concreta, isto significa que esta decisão só
vai ter efeitos limitados ao caso concreto. Quando o TC julga uma norma
inconstitucional três vezes, à quarta se a norma voltar a ser julgada inconstitucional,
esta vai passar a ser uma norma a ser apreciada num processo de fiscalização abstrata
sucessiva, e ai vai ser decidir considerar a norma inconstitucional de obrigatoriedade
geral.
29/11/2023
Acórdão 36/02
 Fiscalização preventiva da constitucionalidade (a norma ainda não entrou em
vigor)
 Houve dúvidas suscitadas pelo PR
 A 20 de dezembro quando a AR se prenunciou, o PR já tinha demitido o governo

1ª tese: no dia 17 de o governo foi demitido pelo PR, que falou ao povo pelos meios de
comunicação social;
2ª tese: existe o argumento da segurança e certeza jurídica: a data que o governo foi
demitido é quando esta decisão é publicada no Diário da República (26 de dezembro).
“vencida quanto à fundamentação” – também considera que a norma é inconstitucional,
mas não pelo motivo declarado na fundamentação
E se o TC tive formado uma maioria que não há efeito de caducidade antes de ter sido
publicado no Diário da república? E PR pode vetar.
06/12/2023

O que são metadados? São os dados de base de um determinado dispositivo, a


localização do mesmo, quantas ligações fez, com quem, … etc. todos os processos que
tenham usado metadados entre 2008 e 2022, esse uso tem de ser retirado.

A revisão da Constituição:
É preciso conhecer dois tipos de poderes constituintes:
→ Poder constituinte originário: criação de uma nova constituição e é exercido
excecionalmente, em contexto revolucionário, quando há uma profunda rutura na vida
política de uma sociedade. Em Portugal, isso ocorre em 1911, em 1933 e em 1976, por
exemplo, tendo outros momentos anteriores ao século XX em que esse poder foi
aplicado. A criação de um novo estado requer que esse poder seja aplicado. Nestas
situações, há a imersão de um poder constituinte originário, que contém, contudo,
limitações. Essa nova constituição está condicionada por uma constituição material,
pela realidade social e moral que aquela sociedade se insere. Os processos de State
Building foi condicionada face às opções constituintes que foram tomadas em Timor,
por exemplo, com a presença de exércitos da ONU. Esse processo de formação
constituinte tem essa vertente estabilizadora da sociedade, do Estado, mas ao mesmo
tempo têm a necessidade de se adaptarem a evolução, às mudanças. É nesse caso de
necessidade de se adaptar às mudanças da realidade das sociedades é que nasce a
necessidade de existir uma revisão constitucional.
Porém, em que medida a constituição pré-existente limita a existência de revisões
constitucionais?
A CRP, em termos comparativos, é uma constituição rígida, ou seja, tem muitos limites.
É uma constituição que se protege face ao poder constituinte futuro, ao poder de
revisão constitucional. Há quem entenda que essa limitação seja legitima, e há quem
entenda que sejam abusivos.
O regime de revisão constitucional português está correlacionado com a fiscalização da
constitucionalidade, pelo facto de estarem na mesma parte da constituição – a parte IV.
Estão ambas na mesma parte porque, no caso da fiscalização, transmite uma ideia de o
que legislador está sempre limitado e subordinado a constituição quando legisla. Assim,
tanto o poder legislativo como o poder de revisão estão subordinados a constituição.
Com isso, existem dois tipos de limites ao poder de revisão constitucional:
→ Os limites formais que estabelecem:
1. limites quanto ao titular do poder de revisão – compete, unicamente, a Assembleia
da República tratar das revisões constitucionais, ou seja, compete aos deputados
estabelecer quando se deve fazer uma revisão constitucional ou não – artigo 285º.
Logo, é um processo parlamentar, utilizando um critério de representatividade. Para
além disso, o Presidente da República não pode recusar a lei de revisão – artigo
286º/nº 3;
2. limites relativos à maioria deliberativa – apenas é promulgada a lei de revisão se,
pelo menos, dois terços dos deputados votarem a favor – artigo 286º/nº 1;
3. limites temporais – estabelece uma limitação ao tempo em que se pode fazer revisões
constitucionais, não havendo um processo de revisão permanente. É preciso haver um
período mínimo de estabilização dessa nova alteração, sendo esse período de cinco
anos contados a partir da ultima revisão constitucional ordinária – artigo 284º/nº 1.
Contudo, é estabelecido uma circunstância extraordinária de que, se antes do prazo de
cinco anos for considerado necessário haver uma revisão constitucional, essa pode
existir, caso haja uma maioria de quatro quintos dos deputados presentes – artigo 284º/
nº 2. A revisão constitucional extraordinária é, por definição, uma revisão da qual não
se aplica nenhum limite temporal;
4. limites circunstanciais – previsto no artigo 289º. Não pode ser realizado nenhuma
revisão constitucional quando houver a declaração de estado de sitio ou de emergência,
pois é um processo que precisa das melhoras condições para ser debatido, deve ser o
único foco, numa situação dessas, não será possível a atenção da AR se dirigir apenas
para a revisão da constituição.
→ Os limites materiais estabelecem que, por constituírem o cerne da constituição não
podem estar sujeitas à revisão constitucional – artigo 288º.
Face aos limites materiais da constituição, surgem algumas questões, como: Serão as
normas constitucionais que definem os limites à revisão constitucional irrevisíveis?
Pode alterar-se? – Havia uma posição doutrinal que afirmava que a existência de limites
materiais era incompatível com a ideia de revisibilidade, visto que o objetivo desses
limites era dar reforço normativo não só ao legislador, mas ao legislador constitucional
e por isso não havia lógica haver revisões. Outros autores afirmam que esses limites
dão um carácter de excessividade da rigidez da constituição. Contudo, na teoria de
Jorge Miranda, nada impede que os limites materiais sejam alterados, porém, é
necessário haver uma revisão constitucional específica que altere os pressupostos
desses limites e depois outra revisão para, efetivamente, ter os efeitos que preconiza,
havendo uma dupla revisão constitucional.
Outra questão é: Serão estes limites absolutos? – essa questão está presente nos limites
mais amplos do art.º 288, sendo eles a alínea d)/e). Numa perspetiva, diz-se que não se
deve entender a letra que aqueles princípios não podem ser mudados, mas que o
concreto sentido desses direito não precisa ser, necessariamente, salvaguardado da
revisão constitucional.
Contudo, a história democrática portuguesa apazigou essas perspetivas. Desde a revisão
constitucional de 1989, em que um dos limites materiais, nomeadamente a alínea f, foi
revisto e alterado, respondendo a primeira pergunta realizada e confirmando que,
primeiro os limites materiais não são irreversíveis e segundo não houve uma dupla
revisão para tal acontecer. Respondeu, posteriormente, a segunda questão, visto que a
revisão constitucional de 1997 trouxe uma alteração no art.º 33/nº 3, estabelecendo
exceções a proteção dos portugueses que estão em território nacional, visto que estes
podem ser extraditados, mediante algumas limitações, algo que afeta, diretamente, um
dos limites materiais de restrição a revisão constitucional, nomeadamente a alínea d, o
que lembra que esses limites não são absolutos.

13/12/2023

A declaração universal dos direitos humanos – não é um texto jurídico vinculativo, ou


seja, não existe nenhuma sanção quando estes são violados.
Os direitos fundamentais são essencialmente direito às liberdades.
O pacto internacional de direitos civis e políticos e pacto internacional de direitos
económicos, sociais e culturais, são grandes instrumentos internacionais, que abrangem
o direito fundamental.
É neste contexto que quando se dá a adoção da constituição de 76, se dá uma grande
importância aos direitos fundamentais. Era importante estes ficarem no centro da
constituição, na parte primeira, pelo nosso passado fascista. E este precisava de ser o
mais rico e completo possível.
A parte primeira é dividida em três títulos:

1. Princípios gerais
2. Direitos, liberdades e garantias – tem uma função de defesa ao individuo, são
individuais
3. Direitos e deveres económicos, sociais e culturais – direitos a prestações
estudais, precisam do Estado para agir, estão não garantem nada ao indivíduo
perante o Estado, aliás precisam dele, como a segurança social…

Grande princípio que orienta os direitos fundamentais: art.º12/2


Pessoas coletivas – sociedades, empresas, associações e fundações
Os direitos fundamentais também podem ser convocados pelas pessoas coletivas –
art.º12/2
As pessoas no estrangeiros podiam ter dificuldades a ter acesso aos direito
fundamentais, para isso foi criado o art.º14, que veio resolver este problema. Assim
estes portugueses têm os mesmo direitos.
Relativamente aos estrangeiros em Portugal, 1 em cada 10 não tem cidadania
portuguesa.
Os direitos políticos são direitos dos cidadãos. E o direito do exercício de funções
públicas.
Art.º15/2 – diz que a lei pode excluir os estrangeiros dos direitos fundamentais, ou seja,
estes podem em algumas circunstâncias, contudo apenas se for realmente necessária. /4
– os estrangeiros podem ser eleitos e podem votar nas autarquias locais. /3 – aos
cidadãos dos Estados de língua portuguesa cabem certos direitos políticos que não
abrangem os estrangeiros, salva guarda os direitos políticos a nível nacional.
Constituição tem um catálogo extenso e detalhado, mesmo assim tem a clausula aberta,
no art..º16.
Como é que o legislador intervém sem desproteger os direitos fundamentais?
O legislador parlamentar não tem carta branca para restringir e legislar os DLG. O
legislador só pode restringir os DLG mediante previsão constitucional expressa. No
entanto, esta exigência não pode ser levada à letra quando avaliamos enunciados curtos.
Sempre que existe um conflito grave entre DLG, tem de haver uma obrigação restritiva.
O legislador tem de intervir mesmo que a ação não esteja prevista. Art.º18/1/2.
O princípio da proporcionalidade estabelece um dever de moderação e proibição de
excesso. No caso do respeito pelo conteúdo essencial é um núcleo intangível dos
direitos que tem de ser respeitado.
Estados de exceção constitucional estão presentes no artigo 19 (estado de emergência e
estado de sítio, que pode ser declarado pelos três órgãos de soberania, o PR, a AR e o
governo) e admite a suspensão dos DLG, exceto alguns direitos pessoalíssimos (artigo
19º/6) e há o respeito pelo princípio da proporcionalidade (art.º 19/3, 4, 5) que impõe
limites às restrições/suspensões que podem ser realizadas aos DLG. A suspensão é
temporalmente limitada e só ocorre quando é preciso repor a ordem democrática e em
situações de calamidades públicas. A importância aqui é garantir que num estado de
sítio ou de emergência, não há nenhum aproveitamento, e isto só é possível pelo
princípio da proporcionalidade.
Leis restritivas de DLG

 Previsão constitucional expressa


 A exigência para proteção de bem constitucionalmente protegidos
 Respeito pelo princípio da proporcionalidade
 Generalidade e abstração das leis retroativas
 Proibição expressa de leis retroativas
 Respeito pelo conteúdo essencial dos DF

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