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Constituição de 1933

Em 1933, uma comissão elabora um projeto de constituição que é sujeito a votação


popular (as abstenções foram contadas como votos a favor). O diploma foi aprovado e entrou
em vigor em 1934.

A Constituição de 1933 manifestou-se principalmente em três grandes compromissos:

 Compromisso entre liberalismo (presente no grande elenco de direitos


fundamentais) e autoritarismo (os direitos fundamentais podiam ser limitados e
restringidos pela lei – ex: censura da imprensa);
 Compromisso entre República e Monarquia;
 Compromisso entre democracia e nacionalismo: até 1959, o Presidente da
República era eleito por sufrágio direto e, após esta data, passou a ser por sufrágio
indireto.

Projeto político-constitucional

 Anti-liberal, fundava a ordem social no corporativismo;

 Anti-parlamentar: prevalência do poder executivo;

 Anti-partidário;

 Anti-democrático: imposição de um Estado autoritário, com a admissão de duras


limitações às liberdades fundamentais.

Influências

 Integralismo lusitano e Doutrina Social da Igreja;

 Experiências fascistas, essencialmente a italiana;

 Constituição alemã de 1871 (a sua grande influência foi o sistema de governo de


chanceler);

 Constituição alemã de Weimer (1919);

 Legislação do Estado fascista italiano.

Direitos fundamentais

Estavam consagrados diversos direitos, tendo sido acrescentados mais à lista que já
vinha das Constituições interiores. Contudo, estes direitos estavam limitados pela lei. Existia
uma cláusula constitucional de limitação legal das liberdades públicas, que estabelecia que
“leis especiais regularão o exercício da liberdade de expressão do pensamento, de ensino, de
reunião e de associação, (…)” – artigo 7º.

Manteve-se a cláusula aberta de Direitos Fundamentais.

A ordem social e económica corporativa

A opção do corporativismo consagrou uma visão ordenada da sociedade numa ótica


grupal, em que os interesses da mesma se projetariam a partir das diversas instituições sociais,
desde a família às corporações profissionais e sindicais, passando pelos corpos administrativos.
(artigos 14º e 18º).

Este corporativismo foi associado a um timbre autoritário, sendo a expressão do bem


comum feita “de cima para baixo”, sendo imposta pelo Estado, que o disciplinava e,
sobretudo, dirigia. (ver artigo 20º).

Ver ainda artigos 30º e 34º.

O autoritarismo governativo de chanceler

Artigo 71º: “a soberania reside na Nação e tem por órgãos o Chefe de Estado, a
Assembleia Nacional, o Governo e os Tribunais”.

Assistia-se a uma concentração de poderes: formalmente, no Chefe de Estado, e


materialmente, no Presidente do Conselho.

O Chefe de Estado, durante uma boa parte da vigência da C1933 (até 1959), foi eleito
por sufrágio direto. Respondia direta e exclusivamente perante a Nação e o exercício das suas
funções, bem como a sua magistratura, eram independentes de quaisquer votações da
Assembleia Nacional. (artigo 78º).

O Chefe de Estado tinha o poder para nomear os membros do Governo e o poder de


dissolução da Assembleia Nacional. A sua atividade era auxiliada pelo Conselho de Estado, por
ele presidido e era de consulta obrigatória na tomada das decisões mais importantes e
relevantes de natureza política.

O Presidente da República delegava o poder político no Presidente do Conselho de


Ministros, sendo por isso este que o exercia. Por sua vez, era o Presidente do Conselho de
Ministros que escolhia os restantes ministros e este era apenas politicamente responsável
perante o Presidente da República.
O Governo era constituído pelo Presidente do Conselho e pelos Ministros, além de
Subsecretários de Estado. O Presidente do Conselho era politicamente responsável perante o
Presidente da República (106º). As competências do Governo integravam a prática de atos de
natureza legislativa, administrativa e política, sendo a figura do seu Chefe o fulcro do sistema
político, dadas as amplas competências de que dispunha, sem olvidar o controlo exercido
sobre o Chefe de Estado por intermédio da referenda ministerial (108º).

A Assembleia Nacional era eleita por sufrágio direto dos cidadãos eleitores, para um
mandato de quatro anos. Na atividade que desenvolvia, era coadjuvada pela Câmara
Corporativa (102º e 103º).

Os tribunais desempenhavam a função judicial, organizados por tribunais ordinários e


por tribunais especiais, sendo os primeiros de hierarquia constitucionalmente relevante. Aos
juízes eram oferecidas garantias como a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irresponsabilidade
(118º e 119º). Esta Constituição também tinha prevista a fiscalização da constitucionalidade
das leis, ainda que na prática não funcionasse (122º) – a constitucionalidade da lei só podia ser
apreciada pela Assembleia Nacional e por sua iniciativa ou do Governo, determinando a
mesma Assembleia os efeito da inconstitucionalidade.

Tratava-se de um sistema de chanceler porque a concentração de poderes se dava, na


verdade, não no Chefe de Estado, mas no Primeiro-Ministro:

 Pela referenda ministerial;

 Pela força político-ideológica da pessoa que ocupava o cargo de Presidente do


Conselho, para todos os efeitos o grande condutor do regime e da ação política.

Na prática, contudo, não era propriamente seguido o sistema de Chanceler. Entre 1933
e 1974 só existiram dois Presidentes de Conselho de Ministros: António Salazar e Marcelo
Caetano. De facto, Salazar animava a União Nacional que tinha o poder de determinar qual o
candidato a Presidente da República (o que iria representar a União Nacional). Assim, era o
Presidente de Conselho de Ministro que indicava o Presidente da República, e não o contrário
(apesar de o Presidente da República continuar a poder destituir o Presidente do Conselho de
Ministros sempre que entendesse).

Paulo Otero

A Constituição de 1933 trouxe várias inovações:

 Estado Novo (II República):


o Ideia de estabilidade governativa através de um executivo forte;
o Intervenção económica, social e cultural;
o Visão supra-individualista: a soberania reside na Nação e não no Povo;
o Modelo autoritário e nacionalista.
 Portugal como Estado corporativo: ao lado da Assembleia Nacional funcionava a
Câmara Corporativa, ainda que como mero órgão consultivo;
 Sistema de governo (de Chanceler – ainda que na prática fosse diferente).

Existiram nove revisões constitucionais, com especial destaque para as seguintes:

 1945: é atribuída ao Governo competência legislativa normal;


 1959: vem configurar o sufrágio indireto como forma de eleger o Presidente da
República;
 1971: (por Marcelo Caetano) vem reconhecer Portugal como Estado unitário
regional – as colónias portuguesas, consideradas províncias ultramarinas, passam
ao estatuto de Região Autónoma. O mesmo se verificou na Constituição de 1976
para os Açores e a Madeira.

A vigência da Constituição de 1933 termina formalmente em 1974, tendo a questão


ultramarina/ Guerra Colonial tido um enorme contributo para tal.

122º:

Constitucionalidade material – violação do conteúdo, violação de princípios


fundamentais como, por exemplo, violação do princípio da igualdade;

Inconstitucionalidade formal – violação de regras procedimentais ou de forma;

Inconstitucionalidade orgânica: violação de normas de competência;

Os Tribunais controlavam a inconstitucionalidade material e formal, a Assembleia é


que verificava a inconstitucionalidade orgânica.

118º:

Forma de controlo do Tribunal pelo legislador.

Outro mecanismo: tribunal especial.

Artigo 8º/ parágrafo 2º:


O legislador tinha a obrigação de controlar os direitos fundamentais – inconstitucional
seria não serem restringidos os direitos fundamentais.

Parte política:

Salazar criou um regime com tanta preponderância para o incremento do poder


executivo:

 Em 33, assim como em 76, temos uma Constituição programática – repleta de


normas que criam programas de intervenção do Estado sobre a economia –
objetivo: formar um Estado de bem-estar;

 É preciso um executivo forte que seja ágil para intervir na economia (ideia comum
a ambas as Constituições);

 O regime é controlado pelo eixo criado entre o Presidente da República e o


Presidente do Conselho de Ministros - criação de um eixo entre o Chefe do Estado
e o Chefe do Governo – o Parlamento é minimizado e perde toda a importância;

 Amplas competências dadas a estas duas figuras de forma que Salazar conseguisse
controlar o regime sempre, independentemente do cargo que ocupava:

o O Presidente da República é eleito diretamente (72º) com mandado de


sete anos (longo);

o O Presidente da República tem controlo sobre a Assembleia (81º/


parágrafo 6º);

o Podia adiar as eleições após a dissolução da Assembleia (81º/ Parágrafo


5º);

o Artigo 81º/1 e 106º: poder absoluto do Presidente da República para


nomear o Governo;

o Na prática, era o Presidente da República que presidia o Conselho de


Ministros.

 Governo:

o A Assembleia não podia dissolver o Governo;

o 111º;
o Um Governo legislador;

o 108º/2: são elencadas as duas formas possíveis de legislar – autorização


legislativa ou casos de urgência – na prática, a Assembleia autorizava
sempre a legislação do Governo (mas só quando a Assembleia estava
reunida, o que era raro) – mais: ver parágrafo terceiro do mesmo artigo –
caso de inconstitucionalidade orgânica mas os Tribunais não a podiam
verificar (122º);

o A partir de 1945, o Governo passa a poder aprovar decretos-leis – a


Assembleia só fazia leis de base (princípios gerais);

o O Presidente da República tem os seus atos referendados pelo Chefe do


Governo (referenda ministerial) – à semelhança da Constituição atual;

 Controlo do Governo sobre a Assembleia Nacional:

o Estado sem partidos, existia apenas a União Nacional que agia como
partido;

o Era Salazar quem elegia os deputados da União Nacional – mais: 89º/


parágrafo 1º e 2º;

o Atualmente é o líder do partido que escolhe os deputados da sua lista -


confeção das listas partidárias – isto foi trazido da Constituição de 1933.

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