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Direito Constitucional II
(Resumos: Lições de Direito Constitucional vol. II, Melo Alexandrino)
1. História Constitucional
1.1. Introdução
Segundo Ruy e Martim de Albuquerque, “os textos constitucionais portugueses e
respetivos atos adicionais, longe de constituírem marcos separadores do percurso liberal, são
epifenómenos de um movimento mais fundo de ideias e de alterações politicas, sociais e
económicas que só uma perspetiva redutoramente positivista pode sacralizar”.
➢ Era pré-liberal (vai até 1820): a historia constitucional portuguesa começa no século XII;
quanto às normas que enformavam a Constituição histórica e material portuguesa, e as
respetivas fontes constitucionais: segundo António Ribeiro dos Santos, as leis
fundamentais são as resultantes da convenção expressa ou tácita entre o Povo e o
príncipe (Actas das Cortes de Lamego, leis que garantem os direitos invioláveis, os foros
e privilégios do corpo da nação e dos diferentes estados do reino); segundo Pascoal José
de Melo Freire, integravam as leis fundamentais o direito de não ver alteradas essas leis,
o direito de suplica, o direito de pretender os ofícios do reino e o direito de ver
respeitada a propriedade, bem como o próprio fundamento constitucional do poder
municipal. Os princípios provenientes da normatividade pré-liberal que relevam ainda
influencia na Constituição de 1976, são, para Paulo Otero:
• Ideia de limitação do poder de governantes
• Rigidificação do processo de modificação das normas constitucionais;
• Existência de matérias reservadas ou dependentes da intervenção das Cortes
• Predomínio ou centralidade da vida politica pelo órgão de topo do poder
executivo
Constituição real: conjunto das normas da constituição de um Estado que são efetivamente
aplicadas e tomadas como parâmetro da ação dos poderes públicos e como parâmetro de
uma garantia efetiva dos direitos dos cidadãos, verificação que, se depende largamente do
exercício da jurisdição constitucional, não dispensa outras verificações, sobretudo no
âmbito da atividade política, normalmente isenta de controlo constitucional. Envolve todas
as fontes relevantes, escritas e não escritas, revela-se na prática, vê para além das formas e
defini-la pela efetividade das normas.
• Entrada em vigor de uma nova constituição sem a substituição dos titulares dos
cargos, como sucedeu em 1838, com o presidente do ministério
• Durante o Estado Novo, depois de 1936, não se procedeu à exoneração formal de
Salazar por ocasião das eleições presidenciais
• O Governo, até 1926, ganhava sempre as eleições
• Os deputados, mas eleições para a assembleia constituinte em 1911, não foram
eleitos, mas sim designados pelo Partido Republicano
Paulo Otero:
Isto tem como consequências o surgimento de um regime de decretos com força de lei, todos
voltam os olhos para os Paços do Governo, porque o Parlamento em tudo se intromete e nada
faz, e o Presidente da Republica foi obrigado a destacar-se, até vir a receber o poder de
dissolução, devido a ausência do Parlamento.
Quanto à analise das fontes das diversas constituições portuguesas (ver quadro), observa-se
que:
Todos estes interregnos têm três coisas em comum: foram marcados por uma forte
turbulência social e politica, correspondendo sempre a períodos de ditadura, de facto ou de
Direito, neles se consumando as maiores ofensas tanto à separação de poderes como à garantia
dos direitos individuais; períodos onde o poder politico estava sempre concentrado nas mãos
do executivo; todos os períodos se revelam sempre nefastamente criativos, tendo
verdadeiramente sido eles a ditar as novidades que haviam de ser incorporadas na nova
Constituição.
A constituição de 1976 teve uma gestação complicada, já que resultou de uma forma
democrática de exercício do poder constituinte, e porque todos os interregnos constitucionais
portugueses foram marcados por grande turbulência politica e social, envolvendo formas
ditatoriais de exercício do poder. É com esta constituição que se inicia o período para-
democrático e democrático em Portugal, e que é eleita, pela primeira vez, a Assembleia
Constituinte por sufrágio universal.
Podemos dividir o período entre 1974 e 1976 (ultimo interregno constitucional) em quatro
grandes fases:
i) Fase que vai do 25 de abril até 28 de setembro de 1974, mais ligada ao programa
do MFA; está presente a legitimidade associada à ideia de Direito inicial, proclamada
em 25 e 26 de abril (entra rapidamente em crise)
ii) Fase que vai de 28 de setembro de 1974 a 11 de março de 1975, de emergência do
processo revolucionário, num sentido socializante e de reforço do poder político
militar
iii) Fase entre 11 de março de 1975 a 25 de novembro de 1975, de ditadura do conselho
da revolução, em declarado conflito com a legitimidade eleitoral da Assembleia
Constituinte; legitimidade revolucionaria marxizante, assumida pelo Conselho da
Revolução a partir de 11 de março de 1975, e a legitimidade eleitoral inerente à
eleição da Assembleia Constituinte, em 25 de abril de 1975 (estas legitimidades vão
entrar em confronto aberto durante o período de elaboração da constituição)
iv) Fase final de reequilíbrio da legitimidade eleitoral, que levaria à celebração da 2º
plataforma de Acordo Constitucional; até à chegada desta fase, em que os paridos
conseguiram impor a renegociação da Plataforma de Acordo Constitucional, o
trabalho da Assembleia Constituinte desenrolou-se durante o período mais critico e
conturbado do interregno constitucional
sujeito a uma dupla responsabilidade; até aos partidos conseguirem impor a renegociação da
Plataforma de Acordo Constitucional na ultima fase de interregno constitucional, o trabalho da
Assembleia Constituinte desenrolou-se durante o período mais critico e conturbado do
interregno constitucional, e foi desse período que emergiu uma Constituição feita em revolução
e sobre o acontecimento, grandemente limitada nas suas opções em matéria de organização do
poder politico e da fiscalização da constitucionalidade e exprimindo ela própria todas as
contradições e ambiguidades que atravessaram o seu anómalo processo de gestação.
• Conflito de legitimidades
• Imposição constitucional de uma doutrina politica
• Defraudar a primeira função da Constituição, que é a de exprimir a unidade da
comunidade politica em torno de um conjunto de valores e princípios (função de
integração)
• Não exprimir um consenso fundamental, mas apenas um agregado de acordos
parcelares alcançados por distintas forças politicas, numa situação histórica crítica
Para alguns autores, existiam duas Constituições, uma democrática e liberal, e outra autoritária
e socialista (Lucas Pires e Manuel Afonso Vaz); para outros, a Constituição acusava sobreposição
de tendências (Manuel de Lucena), convívio de contrário (Braga de Macedo), contradições
internas (Heinrich Hoster, André Thomashausen, Vieira de Andrade, Paulo Otero) e seria menos
bipolar (Cardoso da Costa); JMA diz que a Constituição não era apenas compromissória, mas
também compósita, representando um compromisso por adição, sem conseguir alcançar uma
síntese unificadora – Ideia de constituição dividida
José Melo Alexandrino: “as centenas e centenas de alterações introduzidas no texto de uma
Constituição cada vez mais descentrada, o estilo das revisões e a insatisfação que se segue a
cada uma delas, bem como o constante apelo à revisão indiciam, para alem da fala de
autenticidade subjacente, a ausência de uma veneração particular pela Constituição, por parte
dos partidos”, porem, a proposta segundo a qual o consenso constitucional há-de ter de ser
induzido pela confluência do procedimento, da natureza, e do decurso do tempo mantem-se. O
facto da ultima revisão constitucional ter sido feita há mais de 10 anos, não significa que
finalmente se consolidou o consenso constitucional, e que não há necessidade de repensar
algumas normas da constituição, designadamente à luz da mudança de paradigma imposta pela
crise financeira destes últimos anos.
parte da doutrina admite que a Constituição de 76 ainda é a mesma (Gomes Canotilho, Jorge
Miranda, Vital Moreira).
JMA: para alem da sua parte visível, a CRP tem também uma parte invisível (a que liga
as raízes históricas, a que lhe advém da sua estrutura, a que resulta da praxis constitucional) e
que se manifesta através do costume e das interpretações; a CRP configura-se como uma rede
de princípios em tensão, razão pela qual ela se apresenta como uma ordem-aberta e uma
ordem-quadro; para quem admite a possibilidade de existirem, no constitucionalismo
português, varias edições da mesma constituição, não custara acreditar que a constituição de
76 ainda seja a mesma. Por um lado, a CRP ainda é a mesma, por não ter rompido com o melhor
legado que recebeu da constituição histórica, por outro, porque se verificou a resistência
oferecida por uma serie de elementos fundamentais, que por isso mesmo representam o
verdadeiro cimento da ordem constitucional (o principio da dignidade da pessoa humana, o
primado dos direitos, liberdades e garantias, e o principio da democracia representativa).
• Sobretudo há uma continuidade. Até em 1976 se quis mudar tudo, mas muito foi
mantido – sendo que a prática que vai além do texto constitucional também releva para
esta ideia de continuidade
Divergência metodológica – predomínio dos textos constitucionais vs. fatores de origem externa
e interna
JMA: Fatores extrajurídicos pesam mais que os textos constitucionais (Ex: Constituição 1933 –
primazia teórica do PR, mas na prática era o Presidente do Conselho de Ministros)
A Constituição de 1976 recebeu da Constituição Histórica portuguesa uma parte significativa dos
seus princípios, estruturas, regras e instituições. Ela entende-se por:
JMA: perspetiva mais ampla em que se deve perscrutar não só os textos, mas também a
“matéria escura”, partindo para influências diretas e influências profundas: apenas Cabo Verde
teve essa influência direta e profunda – quer ao nível dos textos quer ao nível político
JMA: Não há uma matriz lusófona pois a Constituição não se resume ao texto, nem o
Constitucionalismo se resume ao poder constituinte – tem que se atender à prática (e a maior
parte das Constituições dos países lusófonos têm caráter nominal e semântico); pressupõe-se
também a existência de um movimento de ideias visando a garantia da liberdade e
racionalização do poder político (em muitos países não há correspondência entre os fins
proclamados nos textos constitucionais e os pressupostos culturais, éticos, económicos,
políticos e sociais); a esse movimento tem que se seguir uma prática política (muitos países
puseram logo as Constituições em vigor sem estas etapas – exceto Cabo verde que não adotou
logo uma Constituição, teve movimento de ideias e hoje é o país mais democrático).
• Na sua versão originaria, esta expressão só constava do preambulo, tendo sido a revisão
constitucional de 1982 a alterar a epigrafe do art.2º de “Estado democrático e transição
para o socialismo” para Estado de Direito Democrático, e a positivar o novo principio
nos artigos 2º e 9º, alínea b), da CRP;
• Do ponto de vista linguístico, a Constituição de 1976 quis evitar a expressão “Estado
social” devido à conotação que teve no Estado Novo;
• Do ponto de vista substantivo, as dimensões do principio do Estado de Direito
Democrático já incorporavam de certa forma a Constituição portuguesa, desde a
entrada na era constitucional, e desde a Constituição de 1933, quanto à dimensão da
justiça social e da promoção de bem-estar
Os artigos que fazem referencia a este principio são: art.2º, art.9º,b), art.7º/6, e art.8º/4 CRP
Conceito de EDD:
Autonomização do principio do
Elementos fundamentais na
Estado social relativamente ao
fórmula de Estado de Direito Estado social do bem-estar ou da
principio do Estado de Direito
Democratico sociedade
democratico
(doutrina)
(Marcelo Rebelo de Sousa)
JMA: prefere falar em Estado de Direito, democracia e Estado social; a leitura do art.2º CRP
permite detetar três níveis do principio do Estado de Direito Democrático _ um nível de base,
compreendendo especialmente a dignidade da pessoa humana, o reconhecimento e garantia
efetivados direitos e liberdades fundamentais, o principio do Estado de Direito, o principio da
igualdade e o principio democrático; um nível teleológico, traduzido na ideia da democracia
económica, social e cultural; e um nível metodológico residual, traduzido no principio da
democracia participativa, falando aqui o preceito no aprofundamento da democracia
participativa.
JMA: na CRP, a existência do principio do Estado de Direito democrático é uma prova de que
não há incompatibilidade entre o Estado de Direito e a democracia, nem entre o Estado de
Direito e o Estado social, na medida em que vivem ambos debaixo do mesmo teto , exprimindo
no seu conjunto a grande síntese constitucional; os princípios constitucionais encontram-se
numa situação de tensão, não se podendo excluir a existência de contradições; podem existir
dificuldades a respeito da demarcação entre o que pertence ao plano da Constituição e o que
pertence à margem de decisão do legislador, devendo nos casos duvidosos ou de fronteira ser
dada a preferência às opções do legislador, que goza, em atenção ao principio democrático e a
outras razoes, de um critério de confiança.
Estado de Direito: Estado limitado e organizado juridicamente com vista à garantia dos
direitos fundamentais dos cidadãos, apresentando-se a separação de poderes e os direitos
fundamentais como duas das suas dimensões essenciais (genericamente); a ideia de Estado de
Direito alargou-se no constitucionalismo das revoluções, carregando-se de um sentido material
e estando ainda aberta uma pluralidade de conceções; o poder do Estado só pode ser exercido
com fundamento na Constituição, e em leis que formal ou materialmente com ela sejam
conformes e com o fim de garantira dignidade da pessoa humana, a liberdade, a justiça e a
segurança (Klaus Stern); o significado essencial vem a ser, por um lado, a ideia de submissão e
da sujeição do poder do Estado a princípios e a regras jurídicas e, por outro lado, a vinculação
da atuação do Estado ao prosseguimento de um conjunto de fins _ a garantia da dignidade da
pessoa humana, a liberdade, a justiça e a segurança (JMA)
Art.1º CRP: há quem veja (Maria Lúcia Amaral) a afirmação da forma republicana e governo onde
o poder é exercido não para o bem de alguns mas para o bem de todos, e quem veja (Paulo
Otero) na sua parte final o objetivo ultimo do próprio Estado de Direito democrático, que seria
a “construção de uma sociedade livre, justa e solidaria; JMA defende que “republica soberana”
significa a forma de uma comunidade nacional ou Nação (um termo que a Constituição quis
evitar devido à projeção desse conceito no Estado Novo, defende também que se pretende
afirmar o compromisso solene da comunidade em relação a alguns valores (dignidade da pessoa
George W. Bush quis, em 2003, implantar a democracia no Iraque. A democracia é algo que, em
qualquer lugar, só se implanta quando o terreno se encontra devidamente preparado (em
Portugal, a democracia só começa a ser implantada em 1822, mas os seus efeitos só se
começaram a fazer sentir em 1976/82).
Pressupostos da democracia:
• Eleição dos governantes por parte dos cidadãos Apenas pode existir em
• Eleições livres, frequentes e justas sociedades abertas, complexas e
• Liberdade de expressão minimamente estruturadas em
• Acesso a fontes de informação torno dos valores e da pratica do
• Autonomia de associação constitucionalismo
• Cidadania ativa
Conceito de democracia (conceito mais problemático, devido aos seus vários sentidos históricos
e conceções teóricas, mas também o caracter multiforme ou multidimensional do conceito; na
sua conceção moderna, o cerne da democracia é-nos dado pela igualdade de todos os cidadãos,
no sentido de que esta pressupõe antes de tudo o mais que todos os membros do povo tenham
“um igual direito à participação politica”):
Soberania popular – art.3º/1; é única e indivisível; reside no povo (conjunto ou reunião de todos
os portugueses, em condições de igualdade), que a exerce segundo as formas previstas na CRP;
pressuposto da igualdade absoluta dos cidadãos no domínio da participação politica; distinção
entre titularidade da soberania e formas constitucionais do seu exercício. Serão os conceitos de
soberania popular e soberania nacional equivalentes? _ para alguns autores, como Maria Lúcia
Amaral, só o conceito de soberania popular expressa o imperativo de tratar todos os cidadãos
de modo igual, não considerando por isso os dois termos iguais; para outros, como Jorge
Miranda e José Melo Alexandrino, na CRP a soberania popular equivale à soberania nacional na
linha do constitucionalismo democrático, embora que na origem se pudesse falar em
significações distintas, pelo conhecimento da origem da expressão soberania nacional, que veio
na altura da Revolução francesa, em que povo era apenas uma classe da sociedade, porque o
conceito de soberania nacional evoluiu ao longo do tempo, em função das transformações que
se foram sucedendo nas estruturas politicas e sociais, pelo facto da constituição francesa de
1958 utilizar exatamente a expressão soberania nacional como soberania popular.
Regra da maioria – formas através da qual se expressa a vontade popular: o voto, e a tomada
ade decisões ou deliberações pelos órgãos investidos no exercício do poder através da regra da
maioria; quer o povo, quer os órgãos que o representam se socorrem à regra da maioria (o povo
escolhe o PR por maioria absoluta dos votos expressos, decide questões politicas por referendo
segundo a maioria dos votos, e as deliberações dos órgãos colegiais são tomadas, quando não
estejam previstas outras maiorias, segundo a regra da maioria relativa); tem como fundamento,
em primeiro lugar, tratar-se de um expediente técnico que, de forma pragmática e segundo uma
prova quantitativa, tornar possível chegar a uma decisão (MLA), em segundo lugar, existir uma
adequação estrutural entre a regra da maioria e o principio da liberdade subjacente à
democracia (Kelsen), e em terceiro lugar, a regra da maioria deixar-se atravessar pelos demais
princípios estruturantes, como a igualdade e a liberdade, sem exclusão da norma de base do
sistema, na medida em que há ainda quem veja na democracia uma consequência organizatória
da dignidade da pessoa humana. Isto não significa que as decisões tomadas ao abrigo da regra
da maioria sejam necessariamente justas, nem que não existam limites à regra da maioria:
1) Não há verdades absolutas nem decisões finais em democracia, já que esta pressupõe
discussão, tolerância, critica e possibilidade de correção constante
2) A constituição exige consensos mais alargados ou admite a formulação de votos de
vencido, relevando aí o contributo da minoria
3) A constituição contem uma serie de regras e princípios que constituem barreiras contra
as decisões da maioria, como o conteúdo irrestringível dos direitos fundamentais e as
regras básicas do Estado de direito (proibição do arbítrio, da concentração de poderes,
a independência dos tribunais, etc.)
➢ Democracia representativa
• Assenta no sufrágio universal (art.10º e 117º) e no pluralismo partidário (art.2º
e 51º)
• Tem de satisfazer três condições básicas (Ernst-Wolfgang Bockenforde):
i) Tem de ser possível uma referência permanente ao povo do poder
politico dos órgãos representativos
ii) Tem de excluir que os representantes deslizem para uma posição de
soberania
iii) Tem de incluir a possibilidade de o poder governativos ser
democraticamente corrigido e contrapesado
• Há dois sentidos de representação:
i) Sentido formal – refere-se à autorização que os órgãos obtêm do povo,
dos cidadãos; dá uma forma exterior à estrutura democrática
ii) Sentido material – consiste e ocorre quando a ação dos órgãos de
governo se configura de tal forma que os indivíduos e os cidadãos no
seu conjunto podem reconhecer essa ação; processo politico-espiritual,
que pressupõe a realização do poder do povo e a participação politica
dos indivíduos
• A representação constitui um processo dialético e interativo, na medida em
que, não se reduzindo à autorização dada aos governantes, ela se produz
também através de uma determinada ação dos representantes que deve
responder a exigências especificas no que se refere ao seu conteúdo
• Pode realizar-se, por ser um processo aberto e dialético, mas não esta excluída
a hipótese de ela não se realizar, designadamente se os governantes não
assumirem que querem ser também representantes do povo em sentido
material
➢ Democracia semidirecta
• Traduz-se, no nosso sistema, no referendo (art.115º) e na iniciativa popular
(art.167º/1 e 2)
• O referendo foi introduzido no âmbito local em 1982, no âmbito nacional em
1989, no âmbito regional em 1997, e no âmbito da UE em 2005, estando
regulado no art.115º CRP, do qual decorrem as seguintes regras:
a) Incide sobre questões politicas de relevante interesse nacional, cuja decisão
cabe à AR ou ao Governo através de convenção internacional ou ato
legislativo
b) A sua decisão é um ato livre, e compete ao PR, mediante proposta da AR ou
do Governo, podendo a iniciativa do referendo resultar da iniciativa de
75000 cidadãos dirigida à AR
i) Por um lado, a CRP, uma vez abandonado o principio socialista, não fez nenhuma
opção expressa de qualificação do Estado nesse domínio tendo-se socorrido, em
sede do art.2º, da formula da “realização da democracia económica, social e
cultural”
ii) Por outro lado, não se corre com esta abertura terminológica o risco de afastar a
realidade normativa que se pretende analisar
JMA: encontramo-nos hoje em geral numa segunda vida do Estado social, por ter deixado de
existir um equilíbrio entre o capitalismo e a proteção social, um crescimento económico robusto
e uma situação de pleno emprego; porem, hoje a grande questão é a da sustentabilidade do
Estado social (Estado social de garantia ou Estado pós-social)
Origem – segundo alguns autores, o principio já havia sido formulado por Hegel, e a doutrina
Social da Igreja deu um importante contributo nos últimos 120 anos (origem interna); podemos
dizer que confluem três fontes:
Positivação – apesar de, ao contrario do que acontece nas constituições alemã e espanhola, a
CRP não se referir expressamente ao principio do Estado social, a doutrina e a jurisprudência
não hesitam em deduzir o principio do Estado social do:
Principio do Estado unitário significa que há apenas uma constituição, um único poder politico
soberano politico e um único sistema de órgãos de soberania para todo o território nacional,
com exclusão do fracionamento ou da federalização dos mesmos.
Devolução de poderes:
descentralização em pessoas jurídicas
integradas na Administração indireta
do Estado e que, por isso,
prosseguem fins típicos do Estado, a
cujo controlo e orientação estão
sujeitas
Europeização
A unidade de soberania, que é indivisível e reside no povo impede, por exemplo, que Portugal
se torne membro de uma eventual federação europeia ou que a transferência de poderes se
possa considerar definitiva e irrevogável, não só por força do princípio da independência
nacional, mas também por força do postulado segundo o qual a competência das competências
ainda se encontra no estado soberano, como deixou bem claro o TC alemão o seu acórdão de
2009 sobre o Tratado de Lisboa.
A UE tem uma natureza jurídica mais próxima de uma estrutura confederal do que de um Estado;
a integração de Portugal na UE foi um ato livre do Estado e um ato autorizado pela CRP, não
estando excluída a possibilidade de o Estado poder recuperar a plenitude dos seus poderes
soberanos, optando pelo abandono da UE, um poder hoje reconhecido no art.50º/1, Tratado da
UE, segundo o qual “qualquer Estado membro pode decidir, em conformidade com as respetivas
normas constitucionais, retirar-se de União”.
Efeitos que resultam do conjunto de poderes soberanos a favor da UE delegado pelo Estado
português:
Subsidiariedade: presente nos art.6º/1 e 7º/6, conceito que migrou da filosofia politica para a
doutrina social de Igreja, alcançado só depois o terreno do Direito; tem a ver com a ideia de
limitação da esfera dos poderes públicos àquilo que não possa ser adequadamente deixado à
sociedade e com a limitação da intervenção publica aos casos em que a mesma seja mais
racional e eficiente. No art.6º/1, o principio esta enunciado como critério de repartição de
poderes entre o Estado e os demais entes intraestaduais, apontando para um reforço dos
poderes a conferir às estruturas mais próximas dos cidadãos; no art.7º/6, o principio esta
Para autores, como Gomes Canotilho, não se justifica a qualificação de Portugal como “Estado
unitário regional”, na medida em que a descentralização político-administrativa não abrange
senão uma pequena parte do país, existindo apenas uma componente regional na organização
unitária do Estado; para outros autores, como Marcelo Rebelo de Sousa, o Estado português é
um Estado unitário regional.
JMA: a forma de Estado na CRP é a de Estado unitário regional periférico e descentralizado, com
prevalência do Direito do Estado.
complementada por toda uma serie de leis orgânicas e de outras leis ordinárias, pelas
disposições dos Tratados da União Europeia e ainda por regimentos internos; por fim,
não estão excluídas as normas de natureza extrajurídica
4) Poderes políticos dos entes intraestaduais (ou não-soberanos), autonomia politica
regional e o poder local, exercidos, respetivamente, em nome das respetivas
comunidades territoriais, pelas RA e pelas autarquias locais – quanto à sua regulação,
por um lado, a Constituição estabelece uma ampla regulação tanto das RA (art.6º e 225º
a 234º CRP) como do poder local (art.6º, 235º a 265º, 291º e 294º CRP); por outro lado,
não esta excluída a existência de normas se costume constitucional nessa matéria, como
sucede com as normas na presença das quais o Presidente da Camara veio a emergir
como órgão nuclear do sistema de governo municipal; por fim, a Constituição esta
especialmente complementada pelo disposto nos estatutos político-administrativo das
RA e no estatuto das autarquias locais, que uma parcela da doutrina entende serem leis
de valor reforçado pelo menos em sentido funcional, por garantir diretamente o
principio constitucional da autonomia local
5) Poder politico social difuso – exercido pelos partidos políticos, por associações,
empresas, grupos e moimentos sociais, meios de comunicação social e, em geral, pela
opinião publica. Esta regulado na CRP nos art.10º/1, 38º, 39º/1, 40º, 51º, 55º, 56º, 86º
ou 114º, e na lei, sendo em grande medida objeto de regulações extrajurídicas
6) Poder politico de cada cidadão – expresso e exercido através das competências
inerentes aos direitos de participação politica, do livre exercício das liberdades de
expressão, reunião e manifestação e do envolvimento nos mecanismos da democracia
participativa. É objeto de normas constitucionais escritas, de usos e convenções
constitucionais, bem como de um numero considerável de leis, convenções
constitucionais, normas de Direito Europeu e regulamentos.
A função da CRP de criar órgãos, definir atribuições e competências, bem como estabelecer os
princípios estruturantes da respetiva organização e funcionamento, não é a única razão pela
qual a regulação do poder politico não pode só ser encontrada na Constituição, e menos ainda,
apenas na Constituição escrita. A primeira razão que surge reside no facto de a Constituição se
apresentar como uma ordem-quadro necessariamente incompleta, de onde resulta a
necessidade de articulação entre a Constituição e a lei; a segunda razão reside no facto de
existirem múltiplas camadas do poder politico, algumas das quais não são normas
constitucionais; a terceira razão reside na multiplicidade de fontes do Direito constitucional,
desde as fontes primarias as fontes secundarias (até mesmo às fontes extra-ordinem).
Princípios materiais de regulação do poder politico: foi Paulo Otero o autor que mais se dedicou
a esta tarefa, identificando um conjunto de 10 princípios materiais da regulação constitucional
da organização do poder politico, uma serie de oito princípios respeitantes aos titulares do
poder politico, e ainda três grandes princípios sobre as fontes reguladoras da organização do
poder politico.
Iremos, porem, cingir-nos apenas a três dos princípios materiais de regulação do poder politico:
o relacionamento entre eles deve pautar-se por regras de lealdade, boa-fé e civismo
democrático.
Este principio desdobra-se em três subprincípios:
i) Solidariedade (pressupõe uma relação de confiança e de responsabilidade
mutua, que se exprime no dito “um por todos e todos por um”, sendo esse
vínculo que existe entre os membros do Governo): expressão de sintonia
politica entre determinados órgãos, que só existe nos casos que decorram
claramente da CRP; a violação do dever de solidariedade por parte de um
membro do Governo envolve o dever de demissão
ii) Cooperação institucional (resulta da existência de poderes entrecruzados
envolvendo diferentes órgãos e consubstancia-se num esforço positivo de
viabilização ou colaboração, exigindo um operar conjunto ou, pelo menos, cria
um dever de não gerar obstáculos gratuitos ao regular funcionamento das
instituições, sendo esse vinculo o que esta presente entre o Governo e o PR):
pressupõe a existência de competências de exercício partilhado entre
diferentes órgãos, visando o regular funcionamento das instituições; a
consequência da violação deste subprincípio provoca, no limite, provoca a
demissão do governo (art.195º/2), ainda que a pratica não aponte nesse sentido
iii) Respeito institucional (forma mais ténue de relacionamento entre os órgãos do
poder político, revelando um dever entre os órgãos do poder politico, revelando
um dever de conveniência democrática e de civilidade, com apelo a regras de
trato social, ainda que possam concorrer limitações decorrentes do estatuto
especial de certos titulares): vinculação permanente em virtude da qual
nenhum outro órgão se encontra habilitado a dirigir-se ou a tratar outro com
menor respeito, sem prejuízo da maior latitude de expressão politica
reconhecida; uma ofensa ao respeito institucional apenas tem efeitos no plano
da ética politica ou das normas de trato social.
➢ Principio da auto-organização interna – postula que na ausência de outra regulação e
salvo disposição expressa em contrario, todos os órgãos do poder politico têm o poder
inerente de decretar normas que disciplinam o regime da sua organização e
funcionamento; tem o seu fundamento na ideia de pluralismo dos centros de poder,
indissociável de uma democracia constitucional, mas também na exigência de
racionalização da organização do poder. Não existem duvidas quanto à existência deste
principio no Direito constitucional português, devido aos vários afloramentos expressos
do mesmo no texto da Constituição: o poder da AR aprovar o seu regimento (art.175º,
al.a)); competência legislativa exclusiva do Governo em matéria da sua organização e
funcionamento, que acresce ao poder de elaboração do regimento do conselho de
ministros; o poder do conselho de Estado elaborar o seu regimento (art.144º/1);o poder
das ALR aprovarem o seu regimento (art.232º/3); ou a competência exclusiva dos
governos regionais quanto à definição da respetiva organização e funcionamento.
Este principio tanto pode estar fundado na CRP (a que corresponde um dever expresso
de publicidade do ato no Diário da Republica), ou apenas no correspondente principio
geral, admitindo-se um dever implícito de publicação oficial, sempre que os
correspondentes atos disciplinem matérias de relevância constitucional
➢ Principio da imodificabilidade da competência – art.110º/2 CRP; traduz-se n ideia
segundo a qual a competência dos órgãos do poder politico tem de ser sempre
recortada por referencia a uma norma da constituição, quer seja a constituição a defini-
la em exclusivo ou quase em exclusivo, quer a constituição remeta a definição da
competência para a lei, quer a constituição se limite a definir o órgão com poderes para
a definição da competência. Este princípio tem um valor muito relativo por um lado
porque, com exceção do PR, nenhum outro órgão de soberania ou órgão constitucional
tem os seus poderes unicamente definidos na Constituição, na medida em que é a
constituição a autorizar a lei a intervir no sentido da ampliação das competências dos
demais órgãos de soberania; por outro lado, porque a constituição flexibiliza esse
principio ao admitir múltiplas situações de delegação de poderes e de substituição.
Obedece a três regras básicas:
1) Nenhuma competência atribuída por uma norma constitucional pode ser
modificada por lei
2) Nenhuma competência pode ser modificável pela simples vontade do órgão ao qual
se encontra confiada
3) Nenhuma competência é modificável pela intervenção de um terceiro órgão que
interfira nesses poderes
À luz do texto da CRP, vemos que o PR é o primeiro órgão de soberania de que se ocupa a parte
III da CRP; que o PR é o único órgão de soberania cuja competência se encontra exclusivamente
definida na Constituição, sem prejuízo da existência de poderes implícitos, deduzidos dos
poderes constitucionais expressos ou mesmo de funções expressas.
Funções:
Estatuto:
Já a doutrina, que critica esta divisão, apresenta outra sistematização quanto às competências
do PR:
• Gomes Canotilho – deve ser feita a distinção entre os poderes próprios e os poderes
partilhados, e uma distinção entre os poderes de controlo e os poderes de
exteriorização politica; juntamente com Vital Moreira, faz a distinção entre poderes
ativos e negativos (que corresponde aos poderes de estatuir e de impedir), e a distinção
entre o exercício de poderes em situação de normalidade ou em situação de crise
constitucional (sendo este o cenário em que os poderes presidenciais são exercidos na
sua maior plenitude, falando-se mesmo a esse propósito de uma reserva da Republica)
• JoMi – há que distinguir, por um lado, competências em função do respetivo âmbito
material e, por outro, competências que podem exercer-se num plano de maior ou
menor liberdade ou discricionariedade
• JMA + Paulo Otero – o critério a adotar deve atender ao grau de liberdade, de vinculação
ou de condicionamento do exercício dos poderes, emergindo daí competências de
exercício vinculado, de exercício condicionado e de exercício livre
• Jorge Reis Novais – baseia-se no peso relativo dos diversos poderes, distinguido os
poderes dramáticos (de dissolução da AR e de nomeação e demissão do Governo) dos
poderes fracos (poder de veto e de iniciativa de fiscalização da constitucionalidade)
v) JMA defende que a pratica diz-nos que a referenda nunca foi recusada pelo
Governo, apresentando-se também À luz da jurisprudência constitucional como um
instrumento limitado, puramente notarial e certificatório da qualificação dos atos
presidenciais; à luz destes elementos, entende a referenda ministerial como um ato
essencialmente certificatório e como um poder de exercício vinculado, cuja recusa
ilegítima pelo Governo pode vir a ser valorada pelo PR como quebra da devida
cooperação institucional e do regular funcionamento das instituições democráticas
Quanto ao prazo da emissão da referenda, deparamo-nos com uma lacuna; é, então, necessário
recurso a uma analogia do prazo de oito dias previsto para os casos de promulgação obrigatória
(art.136º/2), na inexistência de um prazo mais curto.
Tipos de promulgação: livre (art.136º/1 e 4), obrigatória (no caso de leis de revisão
constitucional, de decretos confirmados em sede de veto politico e de leis aprovadas em
conformidade com uma decisão referendaria), e vedada (art.278º/4 e 7, e 279º/1 e 2).
A promulgação é hoje vista maioritariamente como um poder de controlo, já que o PR não tem
de concordar integralmente com o ato, mas sim fazer com que os aspetos positivos superem os
negativos; não é, por isso, ajustado à natureza das coisas nem às exigências do principio do
Estado de Direito ou à logica subjacente à função de integração do PR, a prática da promulgação
“com reservas”, sendo desejável que, salvo casos excecionais, que a promulgação seja simples.
O PR tem 20 dias para promulgar ou vetar um decreto da AR (art.136º/1), podendo ainda, num
prazo de 8 dias, suscitar a fiscalização preventiva da constitucionalidade (art.278º/1).
Veto: poder politico de impedimento de produção de efeitos jurídicos de certos atos, no uso
de um direito de controlo prévio do mérito ou da oportunidade do ato em causa.
A doutrina amite que há uma distinção entre um veto limiar (ou veto-sanção) e um veto
construtivo, consoante haja uma discordância absoluta ou parcial relativamente ao mérito do
diploma, já que o veto de bolso foi expressamente proibido na revisão constitucional de 1982.
o veto dos diplomas provenientes do Governo é absoluto, bastando ao PR comunicar por escrito
ao Governo o sentido do veto (art.136º/4), havendo a considerar os seguintes aspetos:
Funções:
Segundo o art.148º CRP, que nos diz que a AR é composta por um mínimo de 180 deputados
e um máximo de 230, a lei eleitoral fixa esse numero em 230 deputados. Estes deputados são
eleitos por sufrágio universal, direto e secreto, através de candidaturas necessariamente
apresentadas por partidos políticos (art.151º/1); no território nacional, o numero de deputados
a elege é proporcional ao numero de eleitores inscritos em cada circulo (círculos plurinominais,
correspondentes aos distritos e às duas R.A, e um circulo eleitoral da Europa e outro fora da
Europa), como consta no art.149º/2. A conversão de votos em mandatos faz-se segundo o
sistema de representação proporcional e o método é o da média mais alta de Hondt
(art.149º/1), estando excluída, de modo a favorecer a representação dos partidos pequenos, a
existência de uma clausula barreira que exigisse aos partidos uma percentagem mínima de votos
(art.152º/1).
O mandato dos Deputados é de 4 anos, e estes são livres de renunciar ao mandato, podendo
perdê-lo nas situações previstas no art.160º/1. A sua substituição é regulada pela lei eleitoral,
tendo o Estatuto dos Deputados estabelecido a regra de que a substituição se faça pelo primeiro
candidato não eleito da respetiva ordem de precedência da lista submetida a sufrágio, não
havendo, por isso, no nosso sistema, eleições parciais ou intercalares para nova eleição de
Deputados, mesmo no caso de não ser já possível a substituição.
Organização:
3.2.3. Governo
A consagração formal do Governo ocorre pela primeira vez na Constituição
portuguesa de 1933, apesar deste ter estado presente na historia constitucional
portuguesa antes desta Constituição, surgindo de norma costumeira. Em termos
sistemáticos, o Governo é o terceiro órgão de soberania de que se ocupa a CRP; a
realidade demonstra que em Portugal, o eixo da vida politica passa pelo Governo, por
um alargado conjunto de razões.
Competências:
• Politica – traduz-se na prática de uma multiplicidade de atos, em especial os que
se encontram referidos no art.197º CRP; a Constituição cometeu ao Conselho de
Ministros a definição das linhas gerais da politica governamental, bem como as
linhas gerais da sua execução, confiando ao PM a competência de dirigir a
Governos demissionários – aqueles aos quais ainda não foi formalizada a demissão,
existindo intenção ou indicações nesse sentido; Governos politicamente enfraquecidos
pela natureza da situação politica em concreto, não estando, no entanto, juridicamente
sujeitos às limitações do Governo de gestão.
SEMIPRESIDENCIALISMO
Carlos Blanco de Morais incorpora quatro traços estruturais do semipresidencialismo
que o sistema português incorpora:
i) Eleição do PR por sufrágio universal (instrumento de reforço da sua
legitimidade politica)
ii) Diarquia institucional entre o PR e o PM (o PR não chefia direta e
formalmente o poder executivo)
iii) Dupla responsabilidade do Governo, perante o PR (responsabilidade
institucional) e perante a AR (responsabilidade política)
iv) Livre dissolução do Parlamento pelo PR (competência “moderadora” do
Chefe de Estado)
Para haver lei, é relevante o seu conteúdo ou basta-lhe a forma? – em Estado constitucional e
também perante a CRP, para haver lei é irrelevante o seu conteúdo, uma vez que entendemos
que a lei se define pela forma e pelo órgão competente para a sua emissão, que deve gozar da
máxima liberdade que lhe for consentida, uma vez colocado nessa posição de obediência direta
e imediata à CRP.
• A lei ordinária não pode alterar as próprias normas constitucionais, pois essa tarefa está
reservada ao poder de revisão constitucional, tal como não pode interferir nos domínios
materiais da função jurisdicional, pois essa função compete aos tribunais
• Limites materiais: dimensões essenciais do principio do Estado de Direito, tal como o
respeito pelo conteúdo essencial dos direitos, liberdades e garantias (art.18º/3)
• Limites que relevam da separação de poderes: reserva da função jurisdicional aos
tribunais; limites que decorrem de normas constitucionais atributivas de competência
politica, bem como as normas constitucionais que configuram “reservas especiais de
administração”
• Limites que relevam da forma dos atos: reserva de ato administrativo, particularmente
na esfera de poderes hierárquicos
Apesar da lei se definir pela forma, a lei não pode validamente dispor sobre as matérias que
entender, sempre que encontrar pela frente uma norma constitucional que se lhe oponha, trate-
se de um parâmetro material ou de qualquer outro; a lei não pode por isso esvaziar o conteúdo
da autonomia privada.
Força de lei – suscetibilidade de a lei poder revogar e condicionar outros atos, sem que por eles
possa ser revogada ou condicionada. Fala-se em força ativa, que se traduz na capacidade de
inovação do ato legislativo, através da possibilidade de revogação, derrogação ou modificação
de outras fontes, e em força passiva, que se traduz na capacidade de revogação ou derrogação.
Art.112º CRP
• Nº1 – reside aqui o núcleo do principio da tipicidade das formas de lei, que pressupõe a
articulação estreita entre a competência, o procedimento e o titulo: Carlos Blanco de
Morais diz, quanto a este assunto, os títulos específicos de lei, DL e decreto legislativo
regional assinam atos legislativos cuja formação resulta de um procedimento próprio
ou especifico para a sua produção, o qual é, por seu turno, pressuposto pela
competência atribuída a um determinado órgão constitucional. Deste principio decorre:
i) Principio da fixação da competência legislativa pela Constituição que submete
os correspondentes atos a um cuidadoso e articulado regime
ii) Na CRP, são atos legislativos os atos emanados da AR, do Governo ou das ALR
que revistam a forma de lei, independentemente do seu conteúdo
iii) Na CRP, a forma geral de “lei ordinária” compreende apenas três formas
especificas de lei: a lei, o DL e o decreto legislativo
iv) Estando reservada à CRP a definição das formas de lei, nenhum ato legislativo
pode criar outras formas de lei (art.112º/5, 1ªparte CRP)
v) Nenhum ato legislativo pode conferir a atos de outra natureza o poder de, com
eficácia externa, interpretar, integrar, modificar, suspender ou revogar
qualquer dos seus preceitos, razão pela qual a regra é a de que um ato legislativo
só pode ser afetado por um outro ato legislativo
• Nº2 – da primeira parte deste preceito decorre o principio da paridade hierárquica entre
a lei e o DL, que se traduz na possibilidade de, nas matérias da área concorrencial e no
respeito pelas relações de subordinação a certas leis, lei e DL se interpretarem,
suspenderem e revogarem mutuamente; JMA: o principio da parametricidade não é
compreensível sem analisar a geologia da Constituição, tem um alcance menor do que
por vezes é defendido e dificilmente pode ser erguido a principio geral na repartição do
poder legislativo entre a AR e o Governo. Da segunda parte resulta que certos atos
legislativos (os DL autorizados e os DL de desenvolvimento) se encontram numa relação
de subordinação especifica relativamente a outras categorias de atos legislativos
parlamentares (as leis de autorização e as leis de bases), por estes serem dotados de
➢ Órgãos legislativos
• O que têm em comum? – Jaime Valle: a fonte de legitimidade, pois qualquer deles goza
de legitimidade direta ou indireta; amplos poderes de direção política, que lhes
permitem a individualização dos fins e a escolha dos meios na prossecução das tarefas
que a Constituição põe a seu cargo. Critica de JMA: a legitimidade do Governo não é
idêntica à da AR ou das ALR, não sendo de modo algum equiparável a respetiva função
representativa, que só o parlamento desenvolve na sua máxima extensão; admite-se,
no entanto, que na base da legitimação dada ao Governo para legislar se encontrem
ainda razões de colegialidade, tecnicidade e eficiência, bem como a responsabilidade
perante o PR; ainda relativamente ao Governo, uma fonte adicional de legitimação dos
seus poderes neste domínio encontra-se no controlo final da sua produção legislativa
por parte do órgão representativo por excelência; já a justificação dos poderes
legislativos regionais não oferece dificuldade nenhuma, pois é requerida pela forma de
Estado, como pelo principio democrático.
• Princípios que presidem à distribuição da competência legislativa ao ordenamento
constitucional português – para um setor da doutrina, a distribuição da competência
legislativa do Governo e da AR obedeceria ao principio geral da paridade hierárquico-
normativa, e o principio que diz que as matérias da competência reservada do
Parlamento traduzem a exceção; outro setor da doutrina defende que o Parlamento
mantem-se como órgão legislativo por excelência, na base das três linhas reitoras: a AR
tem uma competência legislativa geral a que somente escapa a organização e
funcionamento do Governo; as matérias politicamente mais sensíveis ou
normativamente mais importantes são reservadas à AR; a AR mantém a ultima palavra
sobre os DL e os decretos legislativos regionais. Os princípios que presidem à
distribuição da competência legislativa no ordenamento constitucional português:
i) A regra geral do nosso sistema é a de que a AR pode fazer leis sobre todas as
matérias, salvo as reservadas a outros órgãos
ii) A competência legislativa do Governo está limitada aos casos expressamente
enunciados na CRP, não estando excluída a subordinação dos DL às leis
parlamentares materialmente paramétricas
Há uma grande divisão na doutrina sobre o disposto no art.198º/1, al.c) CRP (competência do
Governo para fazer DL de desenvolvimento): uns sustentam que a AR dispõe de plena
competência para o desenvolvimento das leis de bases, em concorrência com o Governo
(doutrina maioritária e TC); outros que, no todo ou em parte, negam essa faculdade ao
Parlamento, defendendo pelo contrario a existência de uma reserva de desenvolvimento a favor
do Governo (Paulo Otero, Blanco de Morais, Jaime Valle, Freitas da Rocha). No final, debatem-
se a este respeito pelo menos cinco diferentes linhas de entendimento:
lei de valor reforçado, tornando impossível esboçar um conceito dogmático unitário de lei de
valor reforçado.
Porem, não existe um consenso doutrinário quanto ao numero, designação e recorte dos
critérios relevantes; há uns que defendem a prevalência de um critério material/hierárquico e
os que entendem que deve prevalecer um critério formal/procedimental:
1) Paulo Otero e JoMi – as leis reforçadas são aquelas cujo conteúdo tem de ser respeitado
por outras (como sucede com as leis de base, as leis de autorização, os estatutos
político-administrativos das RA ou as leis enquadramento), pela sua função de
pressuposto ou de padrão de conformidade de outras leis; por essa razão, as leis
reforçadas pelo procedimento representam uma mera categoria formal, despida de
qualquer relevância operativa, devendo por isso ser qualificadas como leis reforçadas
imperfeitas, por carecerem de qualquer função como pressuposto ou padrão de
conformidade de outras leis. JoMi: liga o conceito de lei de valor reforçada a um
fenómeno de diferenciação de funções e uma proeminência não hierárquica, vendo
nelas o denominador comum da especifica forma indesligável da função material que a
CRP assim lhes assina; Paulo Otero: o conceito de valor reforçado apela a um mecanismo
em tudo análogo ao que se processa entre a lei e o regulamento, envolvendo o
estabelecimento de relações de prevalência normativa de certas leis, pelo facto de umas
serem pressuposto ou padrão de conformidade hierárquica de outras, que não as
podem contrariar, sob pena de ilegalidade.
2) Blanco de Morais – consideram-se leis de valor reforçado em sentido próprio apenas as
leis dotadas de um procedimento agravado, isto porque:
a) No plano da estrutura, as leis reforçadas pelo procedimento devem o seu caracter
apenas a elementos orgânico-formais
b) No plano institucional, essas leis constituem uma expressão exclusiva do poder
parlamentar, ao passo que as leis definidas pelo seu conteúdo podem provir de
outros órgãos
c) No que concerne ao regime operativo, as leis reforçadas pelo procedimento são em
geral atos relativamente densos e completos, ao passo que as leis definidas pelo seu
conteúdo, por regra, são incompletas
d) Quanto à teleologia, as leis reforçadas pelo procedimento são caracterizadas pela
sua maior essencialidade politica, tendo uma relação direta com o funcionamento
do sistema politico
Para esta corrente, serão, por conseguinte, leis reforçadas em sentido próprio as leis
que, por força da Constituição, estejam sujeitas a um procedimento legislativo agravado,
apresentando-se todas as demais como leis reforçadas em sentido improprio.
3) JMA – a CRP adota um conceito compósito de lei de valor reforçado, não podendo a
elaboração dogmática excluir, designadamente através de interpretação corretiva,
nenhuma das componentes aí integradas por decisão do legislador de revisão, já que o
ponto de partida determinante na construção do conceito de lei reforçada é o texto
constitucional e os dados que a partir dele se extraem.
São três os critérios revelantes para a determinação de uma lei de valor reforçado: o do
procedimento agravado, o da função do pressuposto normativo e o da parametricidade
material.
• Competência legislativa genérica – enunciada no art.161º, al. c), nos termos do qual
compete à AR fazer leis sobre todas as matérias, salvo as reservadas pela Constituição
ao Governo. Devemos considerar igualmente excluídas as competências reservadas às
ALR ou mesmo ao Governo Regional, bem como as competências regulamentares
reservadas à administração autónoma, em especial às autarquias locais e às
universidades.
• Competências legislativa de reserva absoluta – enunciada no art.164º, mas entende-se
também a um conjunto de outras competências legislativas especificas do Parlamento:
- a aprovação dos estatutos político-administrativos das RA
- a aprovação das leis de autorização legislativa
- a concessão de amnistias e de perdoes genéricos
-a aprovação das leis das grandes opções dos planos nacionais
- a aprovação do Orçamento de Estado
- a autorização ao Governo a contrair e conceder empréstimos e a realizar outras
operações de credito que não sejam de divida flutuante, definindo as respetivas
condições gerais, bem como o estabelecimento do limite máximo dos avales a conceder
em cada ano pelo Governo
- a aprovação das leis referidas no art.168º/6, al. a), b) e c)
-a aprovação da lei de criação das regiões administrativas
-a aprovação das leis de instituição em concreto de cada uma das regiões
administrativas
-a aprovação da lei-quadro de adaptação do sistema tributário nacional às
especificidades regionais
-a aprovação da lei-quadro das reprivatizações
• Competência de reserva relativa – enunciada no art.165º, entendendo-se que, se a AR
nada fizer, só ela tem pode de legislar nessas matérias, permitindo-se, todavia, a
delegação do exercício dessa competência no Governo e, em parte, também nas ALR
Existem três tipos de situações em que as reservas da AR não têm o mesmo alcance:
i. A reserva abrange toda a matéria legislativa como sucede na generalidade das alíneas
dos art.164º e 165º, nº1
ii. A reserva incide apenas sobre o regime geral, podendo os demais órgãos legislativos
legislar sobre regimes especiais, ainda que de forma não incompatível com os princípios
traçados no regime geral
iii. As normas de reserva respeitem apenas à definição das bases ou das bases gerais do
regime jurídico, cabendo nesse caso ao Parlamento apenas a aprovação das opções
politicas fundamentais, a serem posteriormente desenvolvidas por qualquer dos órgãos
titulares de competência legislativa.
1º) Fase de iniciativa – momento em que se poe em marcha o procedimento legislativo, através
da apresentação de uma proposta de lei ou de um projeto de lei por parte de qualquer dos
sujeitos investidos no correspondente poder funcional; compete aos Deputados, aos grupos
parlamentares, ao Governo, a grupo de cidadãos eleitores e às ALR (art.167º/1). Pode ser interna
(provem dos Deputados ou dos grupos parlamentares; traduzindo-se na apresentação de
projetos de lei) ou externa (proveniente do Governo e das ALR; propostas de lei); pode ser
originaria, quando se traduza na abertura do procedimento legislativo, ou superveniente,
quando se traduza na apresentação de propostas de alteração ou em textos de substituição;
pode ser genérica (incide sobre quaisquer matérias) ou especificas (como sucede com as ALR,
que só têm iniciativa em matérias que respeitem às RA); podem ainda ser concorrencial (os
diversos sujeitos possam desencadear o procedimento) ou reservada (poder funcional conferido
em exclusivo ao Governo ou às ALR).
Se uma iniciativa for rejeitada, não pode ser renovada na mesma sessão legislativa, a não ser
que tenha sido eleita nova AR; se uma iniciativa não for aprovada até ao final da sessão
legislativa, não precisa de ser renovada, transitando o projeto ou proposta de lei para a sessão
legislativa seguinte, a não ser que tenha terminado a legislatura; quanto à caducidade, a regra
geral é a de que os projetos e propostas de lei caducam com o termo da legislatura, com a
demissão do Governo (no caso das propostas de lei do Governo)
2º) Fase de instrução – entregue essencialmente às comissões especializadas da AR que tem por
finalidade recolher e preparar os dados e elementos, nomeadamente pareceres, informações e
pronuncias, que permitam analisar a oportunidade e o conteúdo da iniciativa legislativa
3º) Fase constitutiva – o Parlamento exprime a sua vontade de decretação de um ato legislativo,
determinando o respetivo conteúdo e efeitos; fase complexa, por se decompor, por se
decompor em diversos subprocedimentos, subfases e atividades, cujo resultado final vem a ser
a deliberação do Parlamento materializada num ato a que no nosso sistema se dá o nome do
decreto. Abrange três momentos distintos: discussão e votação na generalidade, de discussão e
votação na especialidade e de votação final global; há dois debates (uma na generalidade e outro
na especialidade) e três votações, sendo que a discussão e votação na generalidade e a votação
final global são sempre feitas no Plenário. Quanto à votação na especialidade, deve reter-se o
facto de a norma do art.168º/3 CRP ter sido afastada por uma norma de costume contra
constitutionem, nos termos da qual a votação na especialidade se realiza por regra em comissão
e não no Plenário, exigindo, no entanto, sempre votação obrigatória no Plenário as leis referidas
nos nº4 e 5 (parte final), e 6 do art.168º.
Debate na especialidade: versa sobre cada artigo, numero ou alínea de um projeto ou proposta
de lei.
A regra geral é a de que a votação das leis se processa pela maioria simples, a menos que se
deva aplicar alguma das regras especiais previstas no art.168º/5 e 6, e 293º
4º) Fase de controlo de mérito – o decreto aprovado pelo Parlamento é enviado ao PR para
efeitos de promulgação ou veto, entrando-se assim numa nova fase.
Quanto ao veto politico, embora o texto não seja inequívoco e haja divergências na doutrina, é
plenamente defensável a tese segundo a qual a fiscalização preventiva deve preceder o veto
politico (art.136º/1 e 4); o PR não deverá invocar razões de constitucionalidade no veto politico,
mas já poderá invocar, por exemplo, razoes de mau Direito ou a violação de lei de valor
reforçado, uma vez que relativamente a essas hipóteses já não está em aberto o recurso à
fiscalização preventiva.
5º) Fase de integração de eficácia – prende-se não com a validade do ato legislativo, mas com a
eficácia, o que pressupõe o conhecimento do mesmo pelos seus destinatários, os cidadãos.
Objeto traduz-se na definição das matérias sobre as quais pode incidir o diploma autorizado, ou
seja, traduz-se na indicação de uma matéria ou, se for caso disso, de mais do que uma das
matérias enunciadas no art.165º/1; Sentido da lei de autorização traduz-se no conjunto de
princípios orientadores, diretrizes ou fins a prosseguir pelo DL autorizado, constituindo por isso
os parâmetros materiais subordinantes do conteúdo da legislação a produzir; Extensão tanto
pode consistir na delimitação do objeto, como do programa legislativo a estabelecer e até
mesmo da previsibilidade das soluções; Duração da autorização consiste no período
determinado de tempo dentro do qual o diploma autorizado pode ser emitido.
elementos por parte dos DL autorizados tem consequências distintas: por um lado, o
desrespeito do sentido de lei de autorização implica ilegalidade, na medida em que o diploma
autorizado não respeitou os parâmetros da lei subordinante a que estava vinculado; por outro
lado, o desrespeito do objeto, da extensão ou da duração da autorização implicam, em principio,
inconstitucionalidade orgânica.
• Utilização – as autorizações legislativas não podem ser utilizadas mais de uma vez
(principio da irrepetibilidade)
• Caducidade – com o decurso do prazo fixado para a sua utilização, mas também com o
termo da legislatura, a dissolução da AR ou a demissão do Governo
• Revogação – a AR pode fazer cessar a autorização legislativa revogando a lei de
autorização antes da sua utilização, significando com isso chamar a plenitude do poder
legislativo
Principio da taxatividade do poder legislativo das RA: art.112º/2,3,4 e 8; art.22º, 228º e 231º/1.
Expresso na formula segundo a qual a autonomia legislativa das RA incide sobre matérias
enunciadas no respetivo estatuto político-administrativo que não estejam reservadas aos
órgãos de soberania (art.228º/1)
vinculadas às leis de bases editadas pelas AR, mas de modo algum às leis de bases
editadas pelo Governo, salvo naturalmente tratando-se de DL de bases autorizados.
Todavia, as RA podem receber uma autorização legislativa derrogatória de princípios ou
de bases gerais definidas em previa lei de bases estadual, por força do art.227º/1, al.b).
JoMi integra nesta competência o poder de definir atos ilícitos de mera ordenação social
e respetivas sanções (art.227º/1, al. q)), observando o regime geral; Carlos Blanco de
Morais integra a concretização de leis de enquadramento; JMA não concorda com estes
dois autores, dizendo que as suas teses não têm um apoio direto no texto nem são
exigidas pelo sistema da CRP, bastando que as ALR não editem regras incompatíveis com
o correspondente regime geral, nem comas correspondentes leis de enquadramento.
4. Garantia da Constituição
4.1. Inconstitucionalidade
Inconstitucionalidade:
• Tem a ver com uma relação direta entre um ato e a Constituição, pressupondo que o
ato contradiga diretamente a norma constitucional, e não uma outra norma interposta
entre o ato e a Constituição, como poderia ser o caso de uma lei de autorização ou de
uma lei de bases (JoMi: ilegalidade; Blanco de Morais: inconstitucionalidade indireta)
• Só há inconstitucionalidade diante de atos do poder politico do Estado: por um
lado, pelo facto de a Constituição ser a lei fundamental do Estado, e não da
sociedade; por outro lado, por pertencer à Constituição organizar juridicamente
as formas de atuação do Estado, resultando a inconstitucionalidade da existência
de um desvio a essa ordenação
• Ato do poder politico, que tanto pode significar um comportamento positivo
(ação) como um comportamento negativo (omissão) de um ato que a CRP
mandava praticar
• Traduz-se na relação de um ato não com a Constituição como um todo, mas com
uma determinada norma constitucional, norma esta que pode ser uma regra
como um principio, tanto pode ser uma norma expressa ou implícita e tanto
pode ser uma norma produzida por lei constitucional, por costume
constitucional ou por interpretações; este ato encontra-se subordinado ao
parâmetro constitucional, por este ter a qualidade de normas das normas, como
resulta do art.3º/3
Marcelo Rebelo de Sousa – apenas os atos da função de revisão constitucional e das funções
primarias do Estado, com destaque para a função legislativa, estão submetidos à fiscalização
jurisdicional da constitucionalidade.
Tipos de inconstitucionalidade:
i) Tudo depende da ponderação que cada Constituição fizer do valor das condutas
concretas
ii) Tudo depende do sistema de fiscalização da constitucionalidade efetivamente instituído
iii) Deve-se ter em conta, em termos de proporcionalidade, a gravidade da conduta
concreta desconforme
iv) Deve-se revelar a função sistemática das normas violadas
A doutrina tende a afirmar, face à excecionalidade das situações em que a CRP determina
inexistência ou irregularidade do ato, que, no ordenamento jurídico português, os atos
normativos inconstitucionais que não sejam inexistentes ou irregulares, estão feridos de
nulidade, pelo que o desvalor-regra do ato normativo inconstitucional é uma espécie de
invalidade.
1933-1982 – sistema misto, num duplo sentido, por envolver a fiscalização difusa e a fiscalização
concentrada, e por estar a cargo de órgãos judiciais (concreta), politico (AN, Conselho
Ultramarino, Conselho de Estado e o Conselho da Revolução) e ad hoc (Comissão
Constitucional). A Constituição de 1933 mantem a fiscalização judicial difusa com algumas
limitações, ao negar aos tribunais ordinários a apreciação da constitucionalidade orgânica e
formal de diplomas promulgados, atribuindo paralelamente à AN a competência para a
apreciação da inconstitucionalidade orgânica e formal das normas sujeitas a promulgação, alem
da fiscalização a cargo do Conselho Ultramarino; na versão originaria da Constituição de 1976,
o sistema da fiscalização da constitucionalidade tem uma raiz direta no interregno
constitucional, sobretudo na 2ª Plataforma de Acordo Constitucional, desenhando-se aí um
sistema misto e particularmente complexo, com varias modalidades de fiscalização abstrata
confiada ao Conselho de Revolução e a fiscalização concreta entregue aos tribunais, com
possibilidade de recurso para a Comissão Constitucional.
• Sistema com predomínio do controlo exercido sobre normas, com as únicas exceções
do controlo preventivo dos referendos e do controlo, na fiscalização concreta, de
interpretações implícitas numa decisão judicial
• Sistema pautado, quanto ao regime e ao desvalor do ato inconstitucional, pelos
seguintes traços fundamentais: poder singular concedido a todos os tribunais de
apreciação e de recusa de aplicação das normas inconstitucionais; obrigatoriedade das
normas inconstitucionais até à existência e decisão judicial em contrario, sem prejuízo
do direito de resistência; possibilidade de impugnação a todo o tempo das normas
inconstitucionais; insanabilidade da invalidade da normas inconstitucionais; efeitos
retroativos da declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral;
repristinação da norma declarada inconstitucional; ressalva dos casos julgados, salvo
quanto a matéria sancionatória se forem de conteúdo menos favorável ao arguido;
possibilidade de modulação dos efeitos da decisão de inconstitucionalidade, quando tal
for exigido pela segurança jurídica, por razoes de equidade ou por interesse publico de
excecional relevo
A fiscalização preventiva tem um prazo de oito dias para ser requerida, devendo, por isso , o TC
pronunciar-se no prazo máximo de 25 dias, sob pena de ineficácia da sua decisão posterior,
podendo então o PR considerar-se autorizado a promulgar ou a vetar o diploma.
Efeitos: quando o TC não se pronuncia, o diploma poderá ser promulgado ou assinado ou objeto
de veto politico pelo PR ou pelo Representante da Republica, podendo ainda o PR ratificar ou
recusar a ratificação, se estiver em causa um tratado internacional; se o TC se pronunciar, o
diploma deve ser vetado e devolvido ao órgão que o tiver aprovado, ocorrendo aí um veto
jurídico ou veto por inconstitucionalidade, e tratando-se de atos legislativos, alem da
desistência, todos os órgãos podem proceder ao expurgo da inconstitucionalidade ou à
reformulação do diploma, mas apenas à AR é permitida a confirmação, por maioria de 2/3dos
deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de
funções; quando tal acontece, o PR não está vinculado a promulgar, deixando-lhe de algum
modo a Constituição a arbitragem do conflito entre a CRP e a arbitragem do conflito entre o TC
e a AR.
Fiscalização sucessiva abstrata: art.281º e 282º; tipo de controlo abstrato de validade de normas
exercido por via direta e principal, que tem por finalidade essencial a eliminação das normas
jurídicas já publicadas que sejam julgadas inconstitucionais ou ilegais, bem como de efeitos que
as mesmas hajam produzido no passado. Está em causa a apreciação de normas jurídicas que já
se encontram a produzir os seus efeitos, visando a eliminação das mesmas e dos seus efeitos,
visando a eliminação das mesmas e dos seus efeitos, com eficácia erga omnes, de modo a
garantir a reposição integral do principio da constitucionalidade. Pode ser requerida a todo o
tempo, não existindo um prazo fixo para a decisão do TC.
Legitimidade: entidades referidas no art.281º/2 _ os particulares não têm acesso direto ao TC;
as entidades referidas nas seis primeiras alíneas têm um poder de iniciativa geral e
incondicionado.
Efeitos: nulidade, tendo por isso eficácia retroativa, que determina a repristinação das normas
que tenham sido revogadas, a menos que se trate de inconstitucionalidade ou ilegalidade
superveniente. Não atinge os casos julgados, em homenagem à segurança jurídica, a menos que
esses casos julgados respeitem a matéria sancionatória e forem de conteúdo menos favorável
ao arguido.