Já falei sobre a importância do contexto histórico para as ciências jurídicas e
uma importante análise de contexto histórico é sobre as Constituições que o Brasil já adotou. Em sua história o Brasil já possuiu sete Constituições, uma em seu período monárquico e seis em seu período republicano. Algumas Constituições foram impostas por regimes ditatoriais, enquanto outras foram promulgadas por Assembleia Constituinte ou pelo Congresso. As Constituições do Brasil são as de 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988. Todas as Constituições do Brasil marcam importantes contextos socio-históricos, onde houveram grandes modificações sociais e políticas. A primeira Constituição do Brasil em 1824, no tempo do Brasil Império, foi outorgada por D. Pedro I, de caráter monárquica, hereditária, constitucional e representativa. Uma das mais notórias diferenças das outras Constituições, era a existência do Poder Moderador, que estava acima dos Poderes Executivo, Legislativo e do Judiciário, dando assim plenos poderes a figura do Imperador. Após a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, na qual marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da República, onde se tornaria o chefe do governo provisório, promulgou a Constituição em 1891, sendo de caráter liberal e federalista, inspirado na Constituição dos Estados Unidos da América. A principal mudança foi o abandono do modelo de parlamentarismo, passando agora ao presidencialismo norte-americano, assim extinguido o Poder Moderador e estabelecendo a independência dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Na Era Vargas, a Constituição promulgada em 1934 pela Assembleia Constituinte, no primeiro governo do Presidente Getúlio Vargas, preservou a essência do modelo liberal da Constituição anterior a está. Tendo como principal diferenciação a mudança do enfoque da democracia individualista para a democracia social, onde Getúlio Vargas era considerado como um político populista. Houve a criação da Justiça Eleitoral, com o sufrágio feminino e da Justiça do Trabalho com a criação das leis trabalhistas. Em 1937 Getúlio Vargas fechou o Congresso, outorgando a entrada em vigor da nova Carta Constitucional. Dando início ao regime ditatorial do Estado Novo, inspirado nos moldes dos estados fascistas europeus. Restringindo as liberdades dos partidos políticos e concentrando o poder estatal ao Executivo, onde anulou a independência dos outros Poderes e a autonomia federativa. Mesmo tendo inspirações nos estados fascistas europeus, o Brasil lutou ao lado dos Aliados contra os países do Eixo. Com o termino da Segunda Guerra Mundial em 1945, as pressões em prol da redemocratização ficaram mais fortes, uma vez que o regime do Estado Novo não compactuava com os princípios democráticos defendidos pelos países Aliados durante todo o conflito. Em 1945, Getúlio Vargas é então deposto e surge uma nova Assembleia Constituinte. Em 1946, promulgada a nova Constituição sob o contexto da derrota dos regimes fascistas totalitários na Europa ao término da Segunda Guerra Mundial e o fim do regime totalitário do Estado Novo imposto por Getúlio Vargas, consolidou assim, a redemocratização do Estado brasileiro. Restabelecendo os direitos individuais e devolvendo a independência dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A Constituição de 1967 foi promulgada pelo Congresso Nacional na qual oficializava e institucionalizava o Regime Militar de 1964. Sua principal característica foi a utilização dos dispositivos chamados de Atos Institucionais que eram utilizados como mecanismos de legitimação e legalização das ações políticas dos militares, entre 1964 a 1969. O Ato Institucional número 5 (AI-5), de 1968, dava permissão ao presidente para, dentre outros, fechar o Congresso, cassar mandatos e suspender direitos políticos. Permitindo assim, aos governos militares total liberdade de legislar. Desta forma, o Executivo, através de eleições indiretas, acabava por substituir, na prática, o Legislativo e o Judiciário. Após o fim do regime militar no Brasil em 1985, foi elaborada por uma Assembleia Constituinte, legalmente convocada e eleita, a Constituição de 1988, atualmente em vigor. Sendo a primeira a permitir a incorporação de emendas populares, o Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães, ao entregá-la à nação, chamou-a de “Constituição Cidadã”. Tendo como características a República representativa, federativa e presidencialista. Assegurando e resguardando os direitos individuais e as liberdades públicas. Garantido em seus ditames a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. É muito interessante notarmos nesse resumo como cada Constituição do Brasil se transformou diante de um contexto sócio-histórico, desde o Brasil Império do século XIX até o Brasil República do século XX, com os mais importantes acontecimentos político-sociais, a Era Vargas em todo o contexto da Segunda Guerra Mundial e o Regime Militar de 1964. Algumas Constituições sendo impostas por regimes ditatoriais e outras sendo promulgadas, porém a Constituição de 1988, não deixa de ser imposta, mas sim pelo povo, que clamava por eleições presidenciais diretas, no movimento civil de reivindicação das diretas já. Isso só nós deixa ainda mais claro a importância do estudo do contexto histórico, não só para a matéria curricular de Teoria do Direito, mas para a doutrina do Direito como um todo.
REFERÊNCIAS
Câmara dos Deputados. Constituições Brasileiras. Centro de Documentação e
Informação Coordenação de Publicações. Brasília – 2005
Fundação Getúlio Vargas. Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001