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HISTÓRIA DAS

CONSTITUIÇÕES
DO BRASIL

Prof. Rafael Vilaça


O DEPUTADO ULYSSES GUIMARÃES COM UM
EXEMPLAR DA CONSTITUIÇÃO DE 1988
O CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO
O Constitucionalismo Brasileiro pode ser dividido
em três fases, ou período históricos.
Em um primeiro momento do constitucionalismo
brasileiro, a influência marcante é das ideias dos
constitucionalismos francês e inglês, ou seja, do
constitucionalismo europeu. Essa primeira fase
coincide com o estabelecimento do Império, com
a promulgação da primeira Constituição, em 1824.
Na segunda fase, a partir de 1889, com a queda
da Monarquia e a Proclamação da República, a
inspiração foi do constitucionalismo americano,
com ideais liberais e Constituições que
inauguravam um Estado Liberal, a partir de 1891.
O CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO
Por fim, a terceira fase histórica, que permanece
até os dias de hoje, é influenciada pelo
constitucionalismo alemão e a estruturação do
Estado Social. A dificuldade atual é a
concretização dos valores sociais estabelecidos
pela Constituição de 1988 e a criação de
mecanismos processuais que possibilitem a
efetivação de direitos consagrados, mas que,
muitas vezes dependem da atuação do Estado. A
sua efetivação depende não apenas pela previsão
constitucional, mas uma mudança ideológica dos
juristas no sentido de conceber a possibilidade da
juridicização dos direitos fundamentais.
O CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO
Da mesma forma, ainda persiste a necessidade do
reconhecimento da necessidade de sua
concretude para proteção da dignidade humana
de toda a população e não apenas de uma
parcela mais poderosa economicamente. Muito
se evoluiu, inclusive com a previsão constitucional
de instrumentos jurídicos de efetivação, como por
exemplo, mandado de injunção, mandado de
segurança coletivo etc., contudo, a utilização dos
mesmos ainda é muito pequena se comparada
com os interesses da sociedade e as necessidades
de grande parcela da população brasileira.
CARTA MAGNA X CONSTITUIÇÃO
A Carta Magna de 1215 foi um documento medieval
que resgatava privilégios de Barões ingleses. Esses
privilégios tinham sido violados durante a Guerra com
a França. Ou seja, a maior parte da população estava
excluída daqueles direitos e de outros. Não exista
uma “preocupação de universalização”.
“(...) e os Barões forçaram João Sem Terra e Henrique
III a pactuar essa famosa Carta, cuja principal
finalidade era, na verdade, deixar os Reis submissos
aos Lordes, mas na qual o restante da Nação foi
pouco favorecido (...) a Carta Magna, vista como a
origem sagrada das liberdades inglesas, enfatiza como
a liberdade era pouco conhecida.” (VOLTAIRE)
CARTA MAGNA X CONSTITUIÇÃO
A Carta foi desrespeitada, republicada e
permaneceu em esquecimento até o século XVII,
quando foi “resgatada”. Um jurista inglês, Sir
Edward Coke, “criou” o mito da Carta Magna.
Assim, o uso da Carta Magna foi uma artimanha
para limitar os atos reais, séculos depois da sua
assinatura. Nesse contexto, o mito foi criado para
deixar o controle nas mãos de alguns intérpretes,
um grupo político determinado. Dessa forma,
como em 1215, o resgate do texto foi um resgate
de exclusão e de divisão de classes, e não de
ampliação de direitos. A Carta Magna é uma carta
de privilégios, não de direitos universais.
O CONSTITUCIONALISMO NO BRASIL
O movimento do século XIX por uma Constituição no
Brasil seguiu, sobretudo em seu discurso, as mesmas
bases axiológica e filosófica européias. Pregava-se a
necessidade da norma escrita como meio de
emancipação do ser humano, naturalmente livre e
detentor de dignidade inata, não sendo legítimo que
se submetesse a poderes temporais que não se
calcasse na razão iluminadora e redentora. As balizes
liberais encontravam-se nos objetivos dos
constitucionalistas de então: separação de poderes,
liberdades individuais, estruturação do Estado
nacional liberal. Confundia-se mesmo com o
movimento de independência do Brasil.
O CONSTITUCIONALISMO NO BRASIL
Oliveira Lima escreve, que nessa ocasião, “urgia dirigir
um manifesto à nação portuguesa e formular as bases
de uma lei orgânica a serem imediatamente
concedidas, estabelecendo a divisão de poderes, a
igualdade dos direitos, a liberdade de imprensa, a
segurança individual e de propriedade, a
responsabilidade dos ministros”. A geração da
Independência, cujos líderes se formaram, na maioria,
em contato com a cultura européia, impregnara-se de
teorias na Ilustração, conhecera as primeiras
afirmações dos economistas clássicos e não raras
vezes a literatura do pré-romantismo. Os homens
dessa geração familiarizaram-se com os discursos que
começavam a ser veiculados no parlamento inglês.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
1824 – BRASIL IMPÉRIO
A primeira Constituição do Brasil foi
imposta pelo Imperador Dom Pedro I,
que dissolveu a Assembleia Constituinte
em 1823. Em 25 de março de 1824, foi
promulgada, contendo 179 artigos.
A Constituição de 1824 fortaleceu a Dom Pedro I

figura do Imperador, com a criação do


Poder Moderador, que estava acima dos
Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário. As províncias passam a ser
governadas por presidentes nomeados
pelo próprio imperador.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
Segundo a primeira Constituição, as eleições eram
indiretas e censitárias, ou seja, o direito ao voto era
concedido somente aos homens considerados livres
e com posses, de acordo com seu nível de renda,
fixado na quantia líquida anual de cem mil réis por
bens de raiz, indústria, comércio ou empregos. Para
ser eleito, o cidadão também tinha que comprovar
renda mínima proporcional ao cargo pretendido.
A Constituição de 1824 durou 65 anos e foi a que
teve a duração mais longa na história do Brasil.
Ela deixou de valer após uma ruptura institucional: a
passagem do Brasil Império para o Brasil República.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
1891 – BRASIL REPÚBLICA
Em 24 de fevereiro de 1891 nasceu
a segunda Constituição do Brasil.
Após a proclamação da República,
em 1889, o Marechal Deodoro da
Fonseca, quem proclamou o novo Deodoro da Fonseca

regime e se tornou chefe do


governo provisório, junto com
jurista e diplomata Ruy Barbosa,
nomearam uma comissão de cinco
pessoas para apresentar um projeto
a ser examinado pela futura
Ruy Barbosa
Assembleia Constituinte.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
As principais inovações desta Constituição foram:
- Instituição da forma federativa de Estado e da
forma republicana de governo
- Estabelecimento da independência dos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário;
- Criação do sufrágio com menos restrições,
impedindo ainda o voto aos mendigos e analfabetos;
- Separação entre a Igreja e o Estado, não sendo
mais assegurado à religião católica o status de
religião oficial;
- Instituição do habeas corpus.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
1934 – SEGUNDA REPÚBLICA
A Constituição, de 16 de julho de 1934,
traz as marcas das diretrizes sociais da
presidência de Getúlio Vargas. Entre as
medidas da Carta, aprovada pela
Assembleia Constituinte, estavam:
- Maior poder ao governo federal;
Getúlio Vargas
- Voto obrigatório e secreto a partir
dos 18 anos, direito de voto às
mulheres, mas mantendo proibição do
voto aos mendigos e analfabetos;
- Criação da Justiça Eleitoral e da
Justiça do Trabalho;
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

- Criação de leis trabalhistas: A nova Constituição


instituiu jornada de trabalho de oito horas diárias,
repouso semanal e férias remuneradas;
- Criação do Mandado de Segurança e Ação
Popular.

Essa Constituição sofreu três emendas em dezembro


de 1935, destinadas a reforçar a segurança do
Estado e as atribuições do Poder Executivo, para
coibir, segundo o texto, “movimento subversivo das
instituições políticas e sociais”.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
1937 – ESTADO NOVO
Em 1937 nasceu uma nova Constituição,
imposta por Getúlio Vargas. Ele revogou
a Constituição de 1934, dissolveu o
Congresso e impôs a nova Constituição,
de inspiração fascista. Os partidos
Getúlio Vargas
políticos foram abolidos e aprovada a
concentração de poder nas mãos do
chefe do Executivo. A Constituição
perdeu força depois da derrota da
Alemanha na 2ª Guerra. Vargas deixou o
poder em 1945, depois de uma reação
popular, com apoio das Forças Armadas.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
Entre as principais medidas adotadas, destacam-se:
- Instituição da pena de morte;
- Supressão da liberdade de imprensa;
- Anulação da independência dos Poderes Legislativo
e Judiciário;
- Restrição das prerrogativas do Congresso Nacional;
- Suspensão da imunidade parlamentar;
- Prisão e exílio de opositores do governo;
- Eleição indireta para presidente da República, com
mandato de seis anos.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
1946 – NOVA CONSTITUINTE
A Constituição de 1946 retomou a linha
democrática de 1934 e foi promulgada pelo
presidente Eurico Gaspar Dutra, após as
deliberações do Congresso recém-eleito,
que assumiu as tarefas de Assembleia
Nacional Constituinte.
Entre as medidas adotadas, estão: Eurico Gaspar Dutra
- Restabelecimento dos direitos individuais,
- Fim da censura e da pena de morte,
- Independência aos Três Poderes.
- Autonomia a estados e municípios.
- Eleição direta para o Presidente da
República, com mandato de cinco anos.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
Outras normas estabelecidas por essa Constituição :
- Incorporação da Justiça do Trabalho e do Tribunal
Federal de Recursos ao Poder Judiciário;
- Pluralidade partidária;
- Direito de greve e livre associação sindical;
- Função social da terra: condicionamento do uso da
propriedade ao bem-estar social, possibilitando a
desapropriação por interesse social.
Em 1961, uma emenda à Constituição instituiu o regime
parlamentarista no país, depois da crise político-militar
com a renúncia de Jânio Quadros, então presidente do
país. A emenda previa a realização de um plebiscito para
confirmar o novo regime, mas a população decidiu, em
1963, retomar o regime presidencialista.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
1967 – REGIME MILITAR
O presidente Humberto Castelo Branco
implementou a política de segurança
nacional, que visava combater os
inimigos internos apontados pelo
Regime Militar. Instalado em 1964, o
novo governo conservou o Congresso
Nacional, mas controlava o Legislativo.
Dessa forma, o Executivo encaminhou Humberto Castelo
ao Congresso uma proposta de uma Branco

nova Constituição, aprovada pelos


parlamentares e promulgada em 24 de
janeiro de 1967.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
Essa Constituição manteve a Federação, com
expansão da União, mas adotou a eleição indireta
para presidente da República, por meio de Colégio
Eleitoral formado pelos integrantes do Congresso e
delegados indicados pelas Assembleias Legislativas.
O Judiciário também sofreu mudanças, e foram
suspensas as garantias dos magistrados.
Essa Constituição foi emendada por sucessiva
expedição de Atos Institucionais (AIs), que serviram
de mecanismos de legitimação e legalização das
ações políticas dos militares, dando a eles poderes
extra-constitucionais.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
De 1964 a 1969, foram decretados 17 atos
institucionais, regulamentados por 104 atos
complementares.
Um deles, o AI-5, de 13 de dezembro de 1968, foi um
instrumento que deu ao regime poderes absolutos e
cuja primeira consequência foi o fechamento do
Congresso Nacional por quase um ano e o recesso
dos mandatos de senadores, deputados e
vereadores, que passaram a receber somente a
parte fixa de seus subsídios.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
Entre outras medidas do AI-5, destacam-se:
- Suspensão de qualquer reunião de cunho político;
- Censura aos meios de comunicação, estendendo-se
à música, ao teatro e ao cinema;
- Suspensão do habeas corpus para os chamados
crimes políticos;
- Decretação do estado de sítio pelo presidente da
República em qualquer dos casos previstos na
Constituição;
- Intervenção em estados e municípios.
A Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
1988 – NOVA REPÚBLICA
A Constituição de 1988 nasceu depois do processo
de redemocratização do Brasil, após o fim do
Regime Militar. Ela foi elaborada por uma
Assembleia Nacional Constituinte em 1985. Datada
de 5 de outubro de 1988, a nova Constituição
ampliou as liberdades civis e os direitos e garantias
individuais, consagrando cláusulas com o objetivo
de alterar relações econômicas, políticas e sociais,
concedendo direito de voto aos analfabetos e aos
jovens de 16 a 17 anos. Estabeleceu  novos direitos
trabalhistas, com redução da jornada semanal,
seguro-desemprego e férias remuneradas.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
Outras medidas adotadas Constituição de 88 foram:
- Instituição de eleições majoritárias em dois turnos;
- Direito à greve e liberdade sindical;
- Aumento da licença-maternidade para quatro meses;
- Licença-paternidade de cinco dias;
- Criação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em
substituição ao Tribunal Federal de Recursos (TFR);
- Criação dos mandados de injunção, de segurança
coletivo e restabelecimento do habeas corpus.
- Foi também criado o habeas data, que é um
instrumento que garante o direito de informações
relativas à pessoa do interessado, mantidas em registros
de entidades governamentais ou banco de dados
particulares que tenham caráter público.
AS SETE CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
Destacam-se ainda as seguintes mudanças:
- Reforma no sistema tributário e na repartição das
receitas tributárias federais, com propósito de
fortalecer estados e municípios;
- Reformas na ordem econômica e social, com
instituição de política agrícola e fundiária e regras
para o sistema financeiro nacional;
- Leis de proteção ao meio ambiente;
- Fim da censura em rádios, TVs, teatros, jornais e
demais meios de comunicação;
- Alterações na legislação sobre seguridade e
assistência social.
NOVOS ESTUDOS CONSTITUCIONALISTAS
Novas ideias nos estudos Federalistas, como os
Estados plurinacionais, constituições subnacionais
(estaduais) e o Constitucionalismo supra e
Constitucionalismo subnacional, estão entre as
novas abordagens de juristas que repensam os
limites dos direitos fundamentais no plano nacional
e também latino-americano. Nesse sentido, apesar
de receber influências de novas teorias, advindas da
Itália, Alemanha e até dos Estados Unidos,
atualmente, o Constitucionalismo brasileiro, está
construindo os seus referenciais a partir de novos
estudos, voltados para a produção constitucionalista
a partir do Brasil e de outros países da América.

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