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HISTÓRIA

CONSTITUCIONAL DO
BRASIL
ÍNDICE
1.  DA INDEPENDÊNCIA À CONSTITUIÇÃO DE 1824.........................................................3
Introdução................................................................................................................................................................................ 3
Contexto da Constituição de 1824................................................................................................................................ 3

2.  CONSTITUIÇÃO DE 1824.................................................................................................5


Aspectos Gerais..................................................................................................................................................................... 5
Poder Moderador................................................................................................................................................................... 5
Para saber mais.....................................................................................................................................................................6

3.  DO IMPÉRIO À PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA E A CONSTITUIÇÃO DE 1891....... 7

4.  CONSTITUIÇÃO DE 1891..................................................................................................8

5.  REPÚBLICA VELHA, REVOLUÇÃO DE 1930 E A CONSTITUIÇÃO DE 1934............10

6.  CONSTITUIÇÃO DE 1934................................................................................................11


Para lembrar...........................................................................................................................................................................12

7.  O ESTADO NOVO E A CONSTITUIÇÃO DE 1937...........................................................13


O Golpe do Estado Novo.................................................................................................................................................. 13
Constituição de 1937......................................................................................................................................................... 13

8.  O GOVERNO DO ESTADO NOVO E A CONSTITUIÇÃO DE 1946................................. 15

9.  DA DEMOCRACIA AO GOLPE MILITAR DE 1964......................................................... 17

10.  CONSTITUIÇÃO DE 1967, A.I. 5 E “CONSTITUIÇÃO” DE 1969................................ 19

11.  DA DITADURA À DEMOCRACIA....................................................................................21

12.  CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.......................................................................... 23


1.  Da independência à constituição de 1824
Introdução
Na história constitucional do Brasil, estudaremos sobre cada uma das oito Constituições que
já tivemos, sempre lembrando que essa história se confunde com os aspectos políticos da
história do Brasil como um todo. 

De início, é válido deixar claro que nossas Constituições foram marcadas por características
positivas e textos modernos, mas que, frequentemente, não tinham força normativa
necessária para conformar a realidade política e social. Veremos como isso aconteceu em
cada uma das Constituições! 

Importante, também, saber as datas que marcaram essas Constituições: 1824, 1891, 1934,
1937, 1946, 1967, 1969 e 1988.

Quanto à Constituição de 1969, ela recebe também o nome de Carta de 1969, sendo outorgada
pela Junta Militar por meio da Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969. Apesar de
ter sido introduzida na forma de Emenda, esse documento, como veremos, é considerado por
muitos autores como uma verdadeira Constituição, por isso ela se enquadra aqui no nosso
estudo. 

Contexto da Constituição de 1824


Nessa época, o Brasil ainda era colônia de Portugal e vivia um contexto em que, em 1808,
devido à invasão napoleônica em diversos países da Europa, a família real portuguesa veio, em
fuga, ao Brasil, unindo ambos os reinos. Esse momento propiciou um grande desenvolvimento
econômico para o país, fazendo surgir uma elite propriamente brasileira. 

Em 1821, D. João VI retorna a Portugal, deixando seu filho, D. Pedro I, como Príncipe Regente
do governo brasileiro. Esse retorno, contudo, foi marcado por uma grande tensão entre a elite
ascendente brasileira e o poder emanado pela Coroa Portuguesa. Nessa situação, D. João
requereu o retorno de D. Pedro I a Portugal, que o negou, permanecendo no Brasil e marcando
o que ficou conhecido como o “Dia do Fico”. Todo esse contexto criou uma movimentação
para a independência brasileira, que foi concretizada em 07 de setembro de 1822. 

Após a independência, D. Pedro I dá continuidade à dinastia dos Bragança, em um modelo


de governo de Monarquia Absolutista. Por meio do Decreto de 3 de junho de 1822, ele
convoca uma Assembleia Constituinte para elaborar a primeira Constituição brasileira, mas
a dissolve cerca de sete meses depois, pois discordava do projeto elaborado por ela. Isso
se deu, basicamente, porque os membros dessa Assembleia possuíam fortes ideais liberais,
sobretudo em razão da Revolução Francesa e de todo o contexto revolucionário que marcava
o Ocidente na época. 

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Assim, evitando uma Constituição que restringisse seus poderes, D. Pedro I determinou a
prisão de vários constituintes, também enviando para o exílio outros vários. Posteriormente, o
monarca instituiu um Conselho de Estado para elaborar uma nova Constituição que cumprisse
seus anseios (“digna de mim e do Brasil”).

Esta Constituição foi outorgada em 25 de março de 1824. Tratava-se da Constituição Política


do Império, a mais duradoura da história constitucional brasileira. 

REFERÊNCIAS PARA ESTUDO


Ao longo do material complementar do curso, utilizaremos como referência o livro de Marcelo
Novelino sobre Direito Constitucional, referenciado abaixo:

NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. 15 .ed.rev, ampl. e atual. – Salvador: Ed.
JusPodvm, 2020. 

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2.  Constituição de 1824
Aspectos Gerais
Essa Constituição foi marcada por um liberalismo conservador e um semiabsolutismo. Ou
seja, ela imprimia aspectos liberais quanto aos direitos individuais e aspectos absolutistas,
conservadores, quanto aos direitos políticos, seguindo o modelo do constitucionalismo
europeu da época.

Uma das marcas conservadoras se deu na figura do Poder Moderador. Falava-se, inclusive,
em uma “Dinastia Imperante do Senhor D. Pedro I, Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil”. 

Quanto à organização do Estado, a Constituição previa o unitarismo, e não a forma federativa


como temos hoje. Havia, portanto, um governo centralizado, e as antigas capitanias hereditárias
foram convertidas em Províncias, e não em estados. Essas Províncias possuíam interventores
nomeados pelo Imperador, motivo pelo qual elas não tinham qualquer autonomia. 

Ela também previa uma religião oficial, qual seja, a Religião Católica Apostólica Romana. As
demais religiões eram permitidas com seu culto doméstico, sendo proibida a expressão
destas de forma exteriorizada, nos termos do art. 5º da CPIB. 

Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio. Todas as outras Religiões
serão permitidas com seu culto domestico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma alguma
exterior do Templo.

A capital era o Rio de Janeiro, à época a cidade mais importante do Brasil. 

Poder Moderador
A grande marca dessa constituição é que existiam quatro poderes (divisão quadripartite): o
Poder Executivo, o Poder Legislativo, o Poder Judiciário e o Poder Moderador. 

Art. 10. Os Poderes Politicos reconhecidos pela Constituição do Imperio do Brazil são quatro: o Poder Legislativo,
o Poder Moderador, o Poder Executivo, e o Poder Judicial.

A definição do Poder Moderador pode ser encontrada no art. 98 da CPIB:

Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organisação Politica, e é delegado privativamente ao Imperador,
como Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante, para que incessantemente vele sobre a
manutenção da Independencia, equilibrio, e harmonia dos mais Poderes Politicos.

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Esse poder foi delegado privativamente ao próprio Imperador, sendo, na verdade, um verdadeiro
poder absolutista, pois a ele era permitido mandar e desmandar em todas as outras esferas de
poderes. O Imperador era incumbido de velar pela manutenção da independência e harmonia
dos poderes, sendo sua pessoa inviolável e sagrada, não estando sujeita a responsabilidades
políticas, administrativas, civis ou penais, nos termos do art. 98 e 99 da CPIB. Isso quer dizer,
em outras palavras, que o Poder Moderador dava a D. Pedro a chance para ele fazer tudo o
que quisesse. 

O voto era censitário (ou seja, só podia votar quem tinha dinheiro e outras posses), era indireto
e restrito aos homens. O voto feminino, infelizmente, foi apenas permitido a partir de 1932. 

Essa Constituição também previa liberdades públicas sem, contudo, proibir a escravidão,
demonstrando uma grande incongruência com a realidade brasileira. Apesar de proibir prisões
arbitrárias, a Constituição também não previa o instrumento do Habeas Corpus.

Tratava-se, ainda, de Constituição semirrígida. Enquanto uma Constituição rígida tem


como característica um árduo e dificultoso processo para ser alterada, bem mais complexo
do que o necessário para alterar leis ordinárias, a Constituição semirrígida, como o próprio
nome denota, possui partes que demandam esse processo mais complexo e partes que o
dispensam, bastando o mesmo procedimento observado para leis ordinárias. 

Assim, a Constituição de 1824 demandava formalidades mais complexas para alterar normas
materialmente constitucionais (referentes aos limites e atribuições dos Poderes Políticos e
aos direitos políticos e individuais), aceitando que, para alteração das demais normas, era
possível se valer do procedimento legislativo ordinário (art. 174 a 178 da Constituição Política
do Império do Brasil) (NOVELINO, 2020, p. 112). 

Nessa Constituição, também não havia cláusulas pétreas e não se falava em controle de
constitucionalidade, embora essa ideia já existisse em outros países a esse tempo. 

Para saber mais


Outras curiosidades sobre a Constituição de 1824 são: 

•  Ocorreu o “parlamentarismo às avessas”, que era uma prática adotada para a composição do Con-
selho de Ministros, na qual o Presidente do Conselho, nomeado pelo Imperador, escolhia os demais
membros, tendo em conta as forças políticas representadas na Câmara dos Deputados. Isso era
contrário ao que a Constituição previa como correto.
•  O Poder Legislativo era exercido pela Assembleia Geral, composta pela Câmara dos Deputados e
pelo Senado. 
•  Os parlamentares eram invioláveis por suas opiniões proferidas no exercício da função (imunidade
material) e não podiam ser presos, salvo em algumas situações (como por ordem da respectiva Casa
ou em flagrante delito de crime com pena capital.
•  Havia previsão de um extenso rol de direitos fundamentais individuais, como o direito à liberdade,
privacidade e propriedade. As garantias individuais da época foram consagradas nos princípios da
legalidade, não retroatividade, presunção de inocência, juiz natural e individualização da pena. 

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3.  Do império à proclamação da república e a
constituição de 1891
O Primeiro Reinado, que ocorreu sob o governo de D. Pedro I, foi bem curto. Ele acabou
em 1831, com sua abdicação, em razão de questões políticas pendentes em Portugal. Seu
filho, D. Pedro II, permaneceu no Brasil e tinha apenas 5 anos à época, o que demandou que
houvesse, até sua maioridade, o que chamamos de período de regência. Na verdade, o que
houve foi uma Regência Trina, que governou o país até 1840. 

Contudo, o período de regência foi marcado por muitas tensões e insatisfações por parte
das elites e do povo como um todo. Assim, visando à permanência do regime monarquista, o
Partido Liberal colaborou para que houvesse o que ficou conhecido como Golpe da Maioridade,
em 1841. Nesse golpe, D. Pedro II, com apenas 14 anos de idade, assumiu o Império e deu
início ao II Reinado. 

Entretanto, a tranquilidade de D. Pedro II não durou muito tempo, porque o Segundo Reinado


também foi marcado por várias tensões e insatisfações políticas. Houve muitas revoltas
populares durante esse período do Império, bem como questões com as forças armadas, que,
após a Guerra do Paraguai (1868), ficaram muito insatisfeitas com o tratamento dispensado
pelo governo central aos militares. Um dos militares, inclusive, manifestou-se favorável à
abolição da escravidão e foi punido por isso, gerando uma grande crise entre os militares e o
poder do Império. 

A Igreja Católica também teve problemas com a Monarquia, pois passou a punir membros da
maçonaria, organização fraterna que tinha membros presentes no governo. 

Assim, fala-se em um grande desgaste das bases do regime monárquico, valendo


lembrar, também, que contribuíram para sua derrocada o envelhecimento de D. Pedro II, seu
afastamento do novo cenário político que surgia, e o fortalecimento da aspiração federalista,
além das já citadas crises com o clero e com as forças armadas. 

O estopim dessa tensão se deu com a abolição da escravatura, em 1888, que ocorreu
tardiamente no Brasil, o último país do Ocidente a fazê-lo. Isso gerou um grande
descontentamento da elite que se beneficiava do regime escravocrata. 

Logo após, em 15 de novembro 1889, chegou a derrocada definitiva da monarquia, promovida


pelos militares sob o comando do Marechal Deodoro da Fonseca. Nesse golpe militar, que
revocou a Carta Imperial pelo Decreto nº 1, proclamou-se a República Federativa dos
Estados Unidos do Brasil. 

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4.  Constituição de 1891
Em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a Constituição da República dos Estados Unidos
do Brasil. O fato de ter sido promulgada, e não outorgada, denota que houve um processo
democrático para sua produção. E isso realmente ocorreu! O Governo Provisório nomeou uma
comissão de 5 membros (“Comissão dos Cinco”) para elaborar o Anteprojeto da Constituição,
que foi, posteriormente, encaminhado a Rui Barbosa e repensado por ele, sob fortes
influências do constitucionalismo estadunidense. Posteriormente, foi eleita a Assembleia
Constituinte, responsável pela posterior promulgação da Constituição de 1891. 

Sua principal marca foi a introdução do federalismo no Brasil, por influência dos Estados
Unidos (como o próprio nome da Constituição denuncia). Esse federalismo recebeu o nome
de federalismo dualista, porque estabeleceu a separação equilibrada e estanque de
competências enumeradas para a União e residuais para os Estados. As antigas Províncias
foram transformadas em Estados com autonomia financeira, administrativa, legislativa e
organizacional, ficando a intervenção federal restrita a pouquíssimas hipóteses. Os Municípios
podiam tratar de assuntos que interessavam à localidade, apenas, mas não eram reconhecidos
como entes federativos. 

Outra marca relevante foi a introdução do Presidencialismo como forma de governo para o
Brasil, deixando para trás uma estrutura de governo monarquista. 

A capital continuou sendo no Rio de Janeiro, apesar de já haver, nesta Constituição, a previsão
de construção de uma capital na região do Planalto Central, por influência norte-americana
de capital diretamente à União, sem ser vinculada a nenhum Estado (como o Distrito Federal
é hoje). 

Nessa Constituição, o Brasil deixou de adotar uma religião oficial, tornando-se um país
laico, como é até hoje. Falava-se em um laicismo puro, ou seja, proibiu-se o ensino religioso
nas escolas públicas, o casamento religioso não tinha mais efeitos civis, sendo vedadas
subvenções oficiais e relações de dependência ou aliança com a igreja. 

A Constituição de 1891 também extinguiu o Poder Moderador, inspirando-se na teoria


clássica de Montesquieu acerca da divisão de poderes entre o Poder Executivo, Poder
Legislativo e Poder Judiciário, de forma harmônica e atuando de forma independente.

O Poder Executivo era exercido pelo Presidente da República, escolhido diretamente pela
maioria dos votos, possuindo mandato de quatro anos, sendo vedada a reeleição. O Poder
Legislativo era exercido pelo Congresso Nacional, composto pela Câmara dos Deputados
e pelo Senado Federal (bicameralismo federativo – “duas câmaras”). O Supremo Tribunal
Federal foi criado como órgão de cúpula do Poder Judiciário. 

Tratava-se de uma Constituição rígida. Ou seja, para alterar qualquer de suas normas
era necessário um procedimento mais complexo do que aquele previsto para alterar leis
ordinárias. Sua reforma dependia de iniciativa de, pelo menos, um quarto dos membros de

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qualquer das Casas do Congresso Nacional ou de dois terços das Assembleias Legislativas
dos Estados.

Para a emenda ser aprovada, era necessário o voto de dois terços dos membros das duas
Casas do Congresso, mediante três discussões, e também não podiam ser admitidas como
objeto de deliberação propostas de emenda tendentes a abolir a forma federativa, a República
ou a igualdade de representação dos Estados no Senado. Nascia, portanto, o que conhecemos
hoje como cláusulas pétreas. 

A Constituição de 1891 também previa uma carta de direitos e liberdades civis e políticas,
concretizando direitos de primeira geração, ou seja, aqueles relacionados às liberdades
individuais. Assim, foram abolidos os privilégios de nascimento, os foros de nobreza, os títulos
nobiliárquicos e as ordens honoríficas, nos termos do art. 72, §2º da CREUB). 

Nessa linha, o habeas corpus foi previsto pela primeira vez, gerando o que ficou conhecido
como a doutrina brasileira do habeas corpus, ou seja, servia para coibir qualquer ilegalidade
ou abuso de poder, exercendo um papel muito mais amplo em relação ao habeas corpus
como conhecemos hoje. 

Quanto aos direitos políticos, foi extinto o sufrágio censitário (por renda, lembra?), sendo
que o direito de votar foi assegurado aos cidadãos maiores de 21 anos, com exceção dos
mendigos, analfabetos, praças e religiosos sujeitos a voto de obediência, regra ou estatuto
que importasse a renúncia da liberdade individual (art. 70 da CREUB). Em que pese não
haver nenhuma restrição, a discriminação de gênero na época ainda estava latente e não se
cogitava a possibilidade de voto feminino. 

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5.  República velha, revolução de 1930 e a constituição
de 1934
De 1889 a 1930, instituiu-se um período conhecido como Primeira República ou República
Velha, que foi marcado pela permanência das oligarquias rurais e de latifundiários no Poder. 

Nesse período, também ocorreu a Política do Café com Leite, que foi uma prática de
revezamento de poder combinada entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais. Ou seja, a
cada mandato, o poder seria alternado entre um representante de cada Estado: São Paulo
(café, sua principal mercadoria da época) e Minas Gerais (leite). Assim, por óbvio, houve várias
fraudes eleitorais para que esse sistema se mantivesse. 

Esse sistema se perpetuou por algumas décadas, até que a Crise de 1929, também conhecida
como a Quebra da Bolsa de Nova York, gerou reflexos negativos no Brasil, causando um forte
descontentamento da burguesia e da classe operária. As questões sociais, então, começavam
a ganhar cada vez mais força em razão das péssimas condições de trabalho que a Revolução
Industrial impunha aos países do Ocidente. 

Todo esse contexto gerou um desacerto na Política do Café com Leite, culminando com a
tentativa do presidente Washington Luís (paulista) colocar um outro paulista no poder (Júlio
Prestes) no mandato seguinte, quebrando com o sistema do Café com Leite. Insatisfeito
com a situação, o Estado de Minas Gerais, em coligação com o Rio Grande do Sul, indicou o
gaúcho Getúlio Vargas para ocupar a presidência da República no mandato seguinte. 

Embora vencidos, causaram reboliço suficiente para que, posteriormente, uma junta militar
tomasse o poder e o transferisse forçadamente a Getúlio Vargas, em processo que ficou
conhecido como a Revolução de 1930 ou Revolução Vitoriosa. A partir de então, nasce um
Governo Provisório, desprovido de Constituição.

Em 1932, ocorre a chamada Revolução Constitucionalista, liderada por paulistas que buscavam
uma nova Constituição para o país. Esse movimento foi militarmente derrotado, mas suas
ideias permaneceram em discussão. 

Vale ressaltar que, em 1932, também nasceu a Justiça Eleitoral, foi permitido o voto feminino,
secreto e direto, cujas bases foram alicerçadas na futura Constituição de 1934.

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6.  Constituição de 1934
Esta Constituição teve uma duração curtíssima – apenas 3 anos – e foi influenciada pela
Constituição de Weimar (1919), vigente na Alemanha, que introduziu em seu conteúdo os
direitos sociais. 

Como vimos, em um primeiro momento, o constitucionalismo estava preocupado em


consagrar um extensivo rol de direitos individuais de primeira geração, ou seja, relacionados
à liberdade do indivíduo. Até então, as constituições garantiam a liberdade de locomoção,
de pensamento, de associação, o direito à privacidade, ao sigilo das correspondências,
e o direito à proteção da propriedade. Até então, exigia-se do Estado um posicionamento
abstencionista, ou seja, o Estado deveria se abster de intervir na esfera privada, dando aos
indivíduos as liberdades que desejavam. 

Contudo, a sociedade, a economia e o trabalho ganharam novas feições ao longo do tempo,


sobretudo com a Revolução Industrial e com a Primeira Guerra Mundial, que deixaram milhares
de pessoas desempregadas, sem acesso à educação, à saúde, à alimentação, dentre outros
direitos sociais básicos. Assim, foram exigidas do Estado algumas atitudes prestacionais,
positivas, e não mais abstencionistas. O Estado foi chamado a agir para evitar que essas
desigualdades se perpetuassem.

Portanto, essas novas constituições, a exemplo de Weimar (1919), começaram a integrar, no


rol de direitos fundamentais, os direitos sociais que precisavam da tutela estatal, conhecidos
também como os direitos de segunda dimensão. Um exemplo nítido dessa nova perspectiva
é a consagração do direito à propriedade, sendo que este não poderia ser exercido contra o
interesse social ou coletivo. 

Nesse sentido, são reconhecidos os sindicatos e associações profissionais na forma da lei e


um rol de direitos trabalhistas a serem observados. Também é determinada a gratuidade do
ensino primário, com frequência obrigatória, e a tendência a gratuidade de ensino educativo
ulteriores ao primário, com vistas a torná-lo mais acessível. 

Nas palavras de Marcelo Novelino:

No tocante à ideologia, rompeu com a tradição liberal até então existente ao instituir uma democracia social,
inspirada na Constituição de Weimar, com a incorporação de normas relacionadas à ordem econômica e social.
Contemplou um texto de caráter compromissório, conciliando normas liberais e intervencionistas. 

A Constituição de 1934 manteve a estrutura presidencialista, federalista e republicana.


A divisão entre os poderes permaneceu tripartida, com ênfase para o fato de que nascia
um bicameralismo desigual (considerado, por alguns autores, um verdadeiro
unicameralismo), vez que o Senado exercia apenas um papel ilustrativo na tomada de
decisões, permanecendo o poder, sobretudo, com a Câmara dos Deputados.

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O Poder Executivo era exercido pelo Presidente da República, auxiliado por seus Ministros de
Estado. Quanto ao Poder Judiciário, seus integrantes possuíam vitaliciedade, inamovibilidade
e irredutibilidade de vencimentos, a fim de que pudesse bem desempenhar seu papel de
julgar, isentos de tentações e parcialidades. 

A Constituição de 1934 consagrou a Justiça Eleitoral, criada dois anos antes pelo Governo
Provisório, bem como delineou a atuação da Justiça do Trabalho, destinada a dirimir os
conflitos entre empregados e empregadores. Também nasce a cláusula de reserva de
plenário, que previa a necessidade de maioria absoluta de votos dos membros dos tribunais
para declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato do Poder Público. Esse tema é de suma
relevância para o estudo do controle de constitucionalidade!

A capital permaneceu no Rio de Janeiro e o Estado permaneceu laico, mas essa laicidade foi,
de certa forma, mitigada, permitindo efeitos civis ao casamento religioso e o ensino religioso
em escolas públicas, o que, até então, era vedado. Além disso, o termo “Deus” foi incluído
no preâmbulo da Constituição, lá permanecendo até os dias de hoje, gerando polêmicas
doutrinárias sobre a verdadeira laicidade do Estado. 

A Constituição de 1934 também era rígida, com procedimentos complexos para sua alteração.
Ademais, a forma republicana federativa foi elevada à categoria de cláusula pétrea. 

Quanto à declaração de direitos fundamentais, destaca-se a consagração do voto feminino,


pela primeira vez, e do voto secreto, que, até então, era aberto e sujeito às pressões políticas
dos latifundiários (o conhecido voto de cabresto). 

Tornando a Constituição mais analítica, diversas matérias de conteúdo não constitucional


foram nela inseridas, como temas relacionados à ordem econômica e social, à família,
educação, cultura e segurança nacional. 

Também nasce a previsão do mandado de segurança, servindo para a defesa de direitos


“certos e incontestáveis” em casos de ameaça ou violação por ato inconstitucional ou ilegal
de qualquer autoridade, e da ação popular, visando à declaração de nulidade ou anulação de
atos lesivos ao patrimônio público (art. 113 e 114 da CREUB).

Para lembrar
Você sabe definir o que é uma constituição prolixa? A constituição prolixa, analítica ou
regulamentar, é aquela que “consagra matérias estranhas ao direito constitucional ou
contempla normas com regulamentações minuciosas, típicas da legislação ordinária” e
são normalmente escritas. É possível perceber, portanto, que a Constituição de 1934 e as
anteriores pertencem a essa classificação. No caso da Constituição de 1934, era composta por
187 artigos na parte permanente e 26 artigos na parte das Disposições Transitórias. Bastante
coisa, né? 

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7.  O Estado Novo e a Constituição de 1937
O Golpe do Estado Novo
O Presidente da República eleito após o Governo Provisório (1930-1932) foi Getúlio Vargas,
cujo governo sofreu diversas influências do fascismo que se consolidava em países como
Alemanha, Itália e Portugal. Getúlio, nesse contexto, aplicou no Brasil um modelo de governo
com traços fascistas, principalmente quanto ao viés autoritário. 

Dois grandes partidos surgiram nesse momento: A Ação Integralista Brasileira e a Aliança
Nacional Libertadora (ANL). O primeiro representava ideais fascistas e, o segundo, comunistas.
Esses partidos se chocavam em vários momentos, inclusive em disputas de rua, demonstrando
que a população cada vez mais se politizava e se organizava para defender seus ideais. 

Diante disso, Getúlio Vargas fechou a ANL, gerando uma grande revolta por parte dos
comunistas, que culminou na conhecida Intentona Comunista (1935) ou Revolta Vermelha,
um movimento liderado por Luís Carlos Prestes. Esse movimento foi derrubado pelo governo,
mas gerou tensões e preocupações que levaram os governantes a pensar estratégias para
cessar os anseios comunistas que surgiam, por meio de uma estrutura de governo mais
autoritária ainda. 

Nasce, então, o Plano Cohen, que nada mais era do que uma farsa criada por um dos generais
do próprio Getúlio Vargas, visando difundir a falsa ideia de que haveria um plano comunista
para derrubar o governo e assumir o poder. Aproveitando-se do boato, Getúlio Vargas aplica
um golpe de Estado, fecha o Congresso Nacional e se mantém no poder em 10 de novembro
de 1937. Com isso, cessa a força da Constituição de 1934. 

Nas palavras de Marcelo Novelino: 

Ante a proximidade da eleição presidencial, marcada para 1938, a crise institucional, a infiltração comunista e
a suposta iminência de uma guerra civil foram usadas como justificativa para o Golpe comandado por Getúlio
Vargas e a subsequente outorga da nova Carta. 

Constituição de 1937
Após o Golpe, Getúlio Vargas outorgou a Constituição de 1937. Como visto, estava-se diante
de um contexto político inflado por ideais fascistas e autoritários que acabaram por refletir no
texto da Constituição, que recebeu o nome de “Constituição polaca”, em alusão à Constituição
Polonesa de 1935. Foi escrita por Francisco Campos, um jurista da época que defendia
preceitos ditatoriais. Assim, foi instaurada a ditadura do Estado Novo. 

Nessa Constituição, a estrutura federalista foi mantida, mas foi também enfraquecida, pois
o governo central passou a enviar interventores para cada um dos Estados, que nomeavam
os prefeitos dos Municípios. Também houve um enfraquecimento dos direitos fundamentais,

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com uso de instrumentos de censura, prisões políticas, penas de morte e restrições da
liberdade de expressão. Os partidos políticos foram dissolvidos. 

Os direitos sociais foram mantidos, consagrando-se um novo e importante: o direito ao salário


mínimo. Contudo, a greve foi proibida. O governo também podia aposentar forçadamente
seus funcionários (não havendo mais que se falar em estabilidade da função pública). 

O país se manteve laico, apesar da invocação da proteção de Deus em seu preâmbulo. 

O Poder Executivo era amplo e o Presidente era tido como autoridade suprema da nação,
governando pela elaboração de Decretos-Leis. Com o Congresso Nacional fechado, a
legislação brasileira se reduzia aos decretos elaborados pelo Presidente. Nessa época,
inclusive, nasceram o Código Penal, o Código de Processo Penal e a Consolidação das Leis
Trabalhistas, que estão vigentes até hoje. Havia, então, um latente enfraquecimento do Poder
Legislativo. 

O Poder Judiciário também sofreu baques com a ditadura, sobretudo pela possibilidade de
o Presidente reverter declarações de inconstitucionalidade emanadas do Supremo Tribunal
Federal, substituindo o trabalho do Congresso Nacional. 

Foram extintos os instrumentos do mandado de segurança e da ação popular, prevendo-se


censura prévia, pena de morte para crimes políticos e para homicídio por motivo fútil ou com
perversidade. 

Por fim, o art. 186 da Constituição de 1937 declarava o “estado de emergência”, que durou
de 1937 a 1945. O reconhecimento desse Estado dava espaço para que o presidente agisse
com extremo autoritarismo em qualquer âmbito da administração pública. Marcelo Novelino
(2020, p. 124) assevera que:

Até 1945, o país esteve sob estado de emergência, no qual suspensas diversas garantias constitucionais.
Durante o período, os atos praticados pelo governo eram imunes ao controle jurisdicional. 

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8.  O governo do Estado Novo e a Constituição de 1946
Como foi possível notar, o Estado Novo se utilizou de um governo extremamente autoritário,
valendo-se, inclusive, da tortura como forma de repressão de condutas indesejadas. Um
grande marco desse viés autoritário foi a entrega de Olga Benário (judia, grávida, esposa de
Luís Carlos Prestes) aos nazistas. 

Outra característica desse governo foi a nacionalização formal da economia, visando à


construção de indústrias no país. Na época, foi criada a Vale do Rio Doce (hoje, privatizada). 

Dessa época remontam o Código Penal, o Código de Processo Penal e a CLT, pois a
legislação da época era composta quase que exclusivamente por decretos-leis, vez que essa
função estava concentrada nas mãos do Chefe de Estado Getúlio Vargas.

No correr do Estado Novo, eclode a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e o Brasil vai à
Itália para lutar contra os italianos que viviam sob o regime fascista de Benito Mussolini. Esse
fato provoca, por óbvio, certa curiosidade, vez que essa atitude não reflete os ideais com que
o Brasil era governado. Ao final da Segunda Guerra, com a queda dos governos autoritários
na Europa, o Estado Novo perde legitimidade e entra em crise. 

Getúlio, percebendo movimentações contrárias a seu governo, convoca eleições para o


ano de 1945. Nesse contexto, surge um movimento chamado Queremismo, que desejava
que Getúlio Vargas permanecesse no poder. Contudo, esse movimento queremista acabou
antecipando sua queda, ante o descontentamento dos militares, que o depuseram. 

Houve, então, as eleições, sendo eleito o General Eurico Gaspar Dutra como presidente da
República. Posteriormente, com a Assembleia Constituinte, promulga-se democraticamente
a nova Constituição em 18 de setembro de 1946. 

Essa Constituição retomou elementos liberais e sociais das constituições de 1891 e 1934,
respectivamente, tornando-se uma Carta até hoje muito elogiada. Retoma-se também
a República, o modelo federalista e o presidencialismo. O Brasil permanece um país laico,
mantendo-se a menção a Deus no preâmbulo da Constituição, e a estrutura tripartite de
poder recupera sua força, sendo vedado o exercício cumulativo e a delegação de funções. 

O Poder Legislativo se restaura em um bicameralismo igualitário, com poderes semelhantes


para Câmara dos Deputados e Senado. 

O Poder Executivo era ocupado pelo Presidente da República, por meio de eleições diretas.
Vale ressaltar que era possível votar separadamente para o cargo de presidente e para o cargo
de vice-presidente, o que poderia gerar um governo de matizes ideológicas muito diferentes. 

O Poder Judiciário retoma sua situação de normalidade democrática, afirmando-se sua


inafastabilidade para proteger direitos individuais (também conhecido como princípio do
acesso à justiça). A este poder também é integrada a Justiça Trabalhista. 

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Foram restabelecidos os partidos políticos, desde que seu programa ou ação não
contrariassem o regime democrático. Restabelecem-se a ação popular, o mandado de
segurança e a proteção à coisa julgada, ao ato jurídico perfeito e ao direito adquirido. Foi
consagrado o direito de greve, reconhecido juntamente com a liberdade de associação
sindical ou profissional. No âmbito dos direitos políticos, esta carta consagrou o sufrágio
universal, o voto secreto, direto e obrigatório. 

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9.  Da democracia ao golpe militar de 1964
Após o governo de Gaspar Dutra, Getúlio Vargas retorna ao poder, eleito, em 1950. Tentando
reimplantar algumas ideias nacionalistas, Getúlio sofreu diversas crises em seu governo, com
ênfase para o atentado contra Carlos Lacerda, posteriormente sabido ter ocorrido a mando
de um auxiliar do presidente. Isso aumentou seu descrédito frente a população e aos demais
políticos, gerando uma pressão tão grande que culminou em seu suicídio, em 1954. 

Em 1955, foi eleito Juscelino Kubistchek (JK), empreendendo seu “Plano de Metas”, qual seja,
alavancar o crescimento do Brasil que seria realizado em 50 anos para os próximos 5 anos
(50 anos em 5). Seu governo também foi marcado pela construção de Brasília, inaugurada
em 1960. 

Posteriormente, foi eleito o presidente Jânio Quadros, cujo governo durou apenas sete meses,
findando-se com sua renúncia. Após, assume o governo João Goulart, figura que marca o
início de um tenso clima político no Brasil. 

Como visto na aula anterior, era permitido que um presidente e um vice presidente integrassem
partidos políticos diferentes, com visões ideológicas também diversas. Não demorou a que
isso causasse problemas. No caso, Jânio Quadros pertencia a um partido de direita, e João
Goulart pertencia a um partido de esquerda. Quando Jânio Quadros renuncia e um político
de esquerda assume o poder, vários setores da sociedade assumem uma posição crítica e
contrária ao seu governo. 

Após uma disputa política causada por esse entrave, houve um acordo pela adoção do modelo
de governo parlamentar. O Chefe de Governo seria, na verdade, um conjunto de ministros.
Assim, o parlamentarismo foi instituído com a Emenda Constitucional nº 4 de 1961, durante
apenas 14 meses, e tendo como objetivo limitar os poderes e a atuação de João Goulart. 

Realizado um plebiscito para decidir sobre a manutenção do parlamentarismo ou o retorno ao


presidencialismo, este último se consagrou vencedor e João Goulart começou a governar com
mais poderes. Nesse contexto, implantou políticas favoráveis às pautas de esquerda, com
o aprimoramento de direitos sociais, democratização social e reforma agrária, causando
insatisfação por parte de vários setores: empresários, militares e a mídia. Isso culminou, em 1º
de abril de 1964, no Golpe Militar que perdurou até 1985. 

Com o golpe, nascia o “Supremo Comando da Revolução” no poder. A Constituição de 1946


foi totalmente ignorada e o Brasil passou a ser governado por Atos Institucionais (AI). O AI nº 1,
redigido por Francisco Campos – o mesmo jurista que redigiu a Constituição Polaca – decretou
a ditadura no país e restringiu uma série de direitos. O AI nº 2 e 3, por sua vez, determinou que
as eleições fossem indiretas para presidente e para governadores. O Congresso Nacional foi
fechado em 1966, reaberto em 1967 apenas para “aprovar” (leia-se: pressionar a aprovação),
com aparência de legitimidade, a Constituição de 1967. O Congresso Nacional não tinha
qualquer autonomia nesse momento. 

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Leia-se, nas palavras de Marcelo Novelino:

A promulgação formal da Constituição do Brasil, que entrou em vigor no dia 15 de março de 1967, na realidade,
apenas serviu para tentar encobrir um autêntico ato de outorga, uma vez que o Congresso Nacional, além de não
poder substituir o projeto encaminhado pelo Executivo, teve sua legitimidade política afetada pelo afastamento
dos parlamentares da oposição e por ter conduzido trabalhos sob a pressão dos militares. 

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10.  Constituição de 1967, A.I. 5 e “Constituição” de 1969
Como vimos, a Constituição de 1967, na verdade, foi outorgada, tendo apenas um
aparência formal de promulgação. O texto “aprovado” refletia os valores de um grupo militar
ideologicamente moderado de redemocratização do país, embora permeado por normas de
características autoritárias.

A Carta de 1967 previa a República e o Federalismo, mas com ampla concentração de poder
na esfera federal, tornando o Brasil um Estado quase unitário e sendo esta sua característica
mais marcante. 

A capital do país permanecia em Brasília, desde 1960, e o país mantinha-se laico, com a
menção de “Deus” no preâmbulo. 

Havia uma tripartição de poderes, mas, na prática, o Executivo concentrava a maior parte
das funções, o que reforçou o caráter autoritário dessa constituição. O Presidente era eleito
indiretamente, pelo sufrágio do Colégio Militar, e governava por Decretos-leis, que eram
aprovados e passavam a ter vigência com o mero decurso do prazo de 60 dias, a demonstrar
o enfraquecimento dos Poderes Legislativo e Judiciário. 

A partir de 1968, iniciaram-se os Anos de Chumbo. Enquanto o primeiro período vivia uma
“ditadura envergonhada”, “quieta”, o segundo período viveu uma ditadura escancarada,
materializada por meio do AI nº 5, de 1968. Esse ato recrudesceu o regime, eliminou
diversos direitos, inclusive o habeas corpus. 

Nesse ponto, o autoritarismo chegou ao seu nível máximo. No mesmo dia de sua outorga,
o Congresso Nacional foi fechado. Havia a possibilidade de intervenção direta do governo
nos Estados da federação. Houve cassação de mandatos, com perseguição política
e suspensão de direitos políticos. Foram suspensas as garantias de vitaliciedade e
inamovibilidade dos magistrados, e da estabilidade dos servidores públicos. O habeas copus
ficou suspenso para crimes políticos e contra a segurança nacional. 

De acordo com o art. 11, previa-se a impossibilidade de apreciação judicial de todos os atos
praticados em conformidade com o AI nº 5, o que, em outras palavras, significava dizer que
ninguém poderia ser responsabilizado judicialmente por cumpri-lo. O Ato Institucional valia
bem mais do que o Poder Judiciário. 

Nesse contexto, surgiu a Emenda Constitucional nº 1, de 1969, cujoteoralterou substancialmente


a ordem jurídica, desrespeitando as normas da Constituição de 1967. Esse contexto fez com
que a doutrina compreendesse, não sem discussão, que esta emenda perfaz, na verdade,
uma nova Constituição. 

A EC nº 1 foi baixada pela Junta Militar (composta por Ministros da Marinha, da Guerra, do
Exército e da Aeronáutica Militar) em razão do afastamento, por problemas de saúde, do
Presidente Costa e Silva. Sua principal atuação foi no sentido de manter em vigor o AI nº 5 e

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os demais atos baixados, elevando-os ao patamar “constitucional”. Nesse sentido, a EC nº 1
foi considerada uma manifestação de um novo poder constituinte originário. 

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11.  Da ditadura à democracia
Após o início dos Anos de Chumbo, findo o governo de Costa e Silva, surge a figura de Geisel,
que governou o país de 1969 a 1974. Tratava-se de um período ufanista, no qual o governo
buscava alçar o Brasil a uma condição elogiável de evolução socioeconômica, fazendo-o
por meio de propagandas audaciosas. Escondiam-se, contudo, as tragédias perpetradas
pelas forças militares, as perseguições, os assassinatos, as censuras, dentre outras marcas
tenebrosas da ditadura. 

Com a vitória brasileira na Copa do Mundo de 1970, Geisel se valeu desse mérito para
novamente enaltecer o próprio governo, inclusive levantando a famosa frase: “Brasil: ame-o
ou deixo-o”. Vale ressaltar que o “deixe-o”, na verdade, não significava a simples opção por ir
embora, mas o exílio, a perseguição. Tratava-se de uma verdadeira ameaça: andar na linha e
abaixar a cabeça para o autoritarismo ou ser perseguido pelo governo. 

Após o Geisel, vem o governo Médici, de 1974 a 1979, em um momento em que a ditadura
brasileira começa a perder força. O início de seu governo é marcado por uma crise econômica
e pela alta taxa de inflação. Também se ressalta a Lei Falcão, editada para reduzir o tempo
de propaganda política e, consequentemente, enfraquecer o partido de oposição (à época, o
MDB). 

Esse período foi marcado também pelo Pacote de Abril, de 1967, o qual consistiu em medidas
mais autoritárias inseridas na Constituição para enfraquecer a oposição. Essas medidas,
porém, não surtiram efeitos, pois a crise política e econômica estava em seu nível máximo, e
logo foram revogadas pelo Pacote de Junho de 1978. Esse pacote também findou o AI nº 5 e
cessou os Anos de Chumbo. Era o início do processo de redemocratização do Brasil. 

De 1979 a 1985, houve o Governo Figueiredo. Logo em 1979, editou-se a Lei da Anistia, que
“perdoava” todos os crimes políticos cometidos de 1961 a 1979, sendo estes crimes tanto
aqueles cometidos pela oposição quanto aqueles perpetrados pelo poder ditatorial. Em 2010,
o Supremo Tribunal Federal julgou esta lei recepcionada pela Constituição Federal de 1988,
em decisão polêmica que levou o país a ser responsabilizado pela Corte Interamericana
de Direitos Humanos, sob argumento de que esta lei serviu, na verdade, para proteger os
ditadores de qualquer responsabilização pelas atrocidades que cometeram. 

Em 1979, também ocorre a reforma partidária para permitir o pluripartidarismo. A ARENA, que
era o partido do governo, transformou-se em PDS, e o MDB transformou-se no PMDB, PP,
PT e PTB. Em 1982, houve eleições diretas para Governador, o que representou um grande
avanço. Em 1984, houve o famoso movimento das “Diretas Já”, exigindo eleições diretas para
a presidência da República.

As “Diretas Já” requeriam que fosse aprovada a emenda Dante de Oliveira, que instauraria as
eleições diretas no país. Esta emenda, contudo, foi rejeitada. Apesar disso, em 15 de janeiro
de 1985, por meio de eleições indiretas, foi eleito, finalmente, um civil – Tancredo Neves. Ainda

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que não tenha sido uma eleição direta, tratou-se de uma grande conquista, um momento de
alívio. 

Tancredo Neves, entretanto, acabou falecendo antes mesmo de tomar posse, e quem
assumiu seu posto foi José Sarney. Este, por sua vez, apesar de ser alinhado com os governos
ditatoriais, tratava-se de um civil. Em 1985, a Emenda Constitucional de 26/85 convocou
uma Assembleia Constituinte para elaboração de uma nova Constituição. 

Com ampla participação popular, de forma extremamente democrática, em 05/10/1988, foi


promulgada a Constituição Federal de 1988, chamada por Ulysses Guimarães de “Constituição
Cidadã”. A redemocratização do Brasil tinha ocorrido, enfim. 

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12.  Constituição Federal de 1988
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88 ou CF/88) foi promulgada após
uma Assembleia Constituinte formada de maneira heterogênea, ou seja, composta por diversos
matizes ideológicos, de diversos grupos, que conseguiram se conciliar e colocar em prática várias
ideias. Isso gerou uma Constituição analítica e compromissória, ou seja, extensa, prolixa, e com as
pautas mais diversas (eclética, portanto). 

O preâmbulo da Constituição prevê uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. Trata-
se, portanto, de uma constituição que abraça seu povo, recrimina preconceitos e vê na diversidade
aspectos positivos. 

Seus princípios fundamentais foram mantidos: a República, o Federalismo e o Presidencialismo.


Houve, inclusive, um plebiscito, realizado em 1993 (de acordo com o art. 2º do ADCT), cuja função era
verificar o desejo da população sobre a manutenção da república e do presidencialismo ou a adoção
de uma monarquia parlamentarista, vencendo os primeiros.

Estados e Municípios tiveram sua autonomia ampliada, consagrando uma federação legítima.  A
capital se manteve em Brasília.

O país se manteve laico, permanecendo a previsão da “proteção de Deus” no preâmbulo da


Constituição. Mantém-se a repartição clássica de poderes entre Executivo, Legislativo e Judiciário,
atuando sob a égide da ideologia de freios e contrapesos, de forma independente e harmônica. 

O Poder Legislativo permanece bicameral, com poderes igualitários, divididos entre Câmara dos
Deputados e Senado Federal. 

O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, eleito juntamente com seu Vice-
Presidente, e auxiliado pelos Ministros de Estado. Vale ressaltar que a Emenda Constitucional de 1997
permitiu a reeleição. 

Houve também a previsão da Medida Provisória como instrumento legislativo a ser utilizado pelo
Presidente da República, em casos de urgência e relevância, necessitando de posterior aprovação
pelo Congresso Nacional. 

Quanto ao Poder Judiciário, é criado o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Assim, o STF passou
a cuidar de questões constitucionais e o STJ de questões infraconstitucionais. O Poder Judiciário
passou, então, a ser composto pelo STF, pelo STJ, Tribunais e Conselho Nacional de Justiça – CNJ
(criado apenas em 2004, pela EC 45). 

A CF/88 também ampliou o rol de legitimados ativos para a proposição de Ação Direta de
Inconstitucionalidade, nos termos do art. 103, para além da figura do Procurador Geral da República. 

Houve também uma ampla declaração de direitos, logo nos seus primeiros artigos, a demonstrar sua
importância. E não apenas direitos foram consagrados, mas também instrumentos para efetuá-los,
como: o princípio do acesso à justiça (inafastabilidade da jurisdição), o mandado de segurança

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coletivo, o habeas data¸ os direitos e deveres relativos ao meio ambiente, a ação civil pública
e a Defensoria Pública como órgão autônomo e permanente para exercer a tutela dos direitos dos
hipossuficientes. 

A CF/88 pode ser classificada como rígida, exigindo procedimento mais complexo para alteração
de suas normas. Propostas de emendas constitucionais devem ser discutidas e votadas em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três
quintos dos votos dos respectivos membros, nos termos do art. 60, §2º da CF/88. 

Também foram previstas cláusulas pétreas, vez que a CF/88 não permite que sejam objeto de
deliberação a proposta de emenda tendente a abolir a forma federativa de Estado, o voto direto,
secreto, universal e periódico, a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais (art. 60,
§4º, CF/88).

Esta Constituição já possui várias emendas (mais de cem) em pouco mais de 30 anos de vigência.
Isso porque a Constituição de 1988 é prolixa, prevendo vários detalhes que podem (e devem) ser
ajustados. Isso facilita que a Constituição torne-se mais adaptável e harmônica conforme o passar
do tempo, e receba influências do país que rege, de forma que consiga, cada vez mais, conformar
sua realidade.

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História Constitucional
do Brasil

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