O documento resume o período do Brasil Império após a independência, incluindo a Constituinte de 1823, a Constituição de 1824 outorgada por D. Pedro I, e os códigos criminal de 1830 e processo criminal de 1832. A constituição de 1824 estabeleceu uma monarquia constitucional com um poder moderador exercido pelo imperador que subordinava os outros poderes. Os códigos introduziram novas leis e penalidades, mas também continham elementos discriminatórios da época.
O documento resume o período do Brasil Império após a independência, incluindo a Constituinte de 1823, a Constituição de 1824 outorgada por D. Pedro I, e os códigos criminal de 1830 e processo criminal de 1832. A constituição de 1824 estabeleceu uma monarquia constitucional com um poder moderador exercido pelo imperador que subordinava os outros poderes. Os códigos introduziram novas leis e penalidades, mas também continham elementos discriminatórios da época.
O documento resume o período do Brasil Império após a independência, incluindo a Constituinte de 1823, a Constituição de 1824 outorgada por D. Pedro I, e os códigos criminal de 1830 e processo criminal de 1832. A constituição de 1824 estabeleceu uma monarquia constitucional com um poder moderador exercido pelo imperador que subordinava os outros poderes. Os códigos introduziram novas leis e penalidades, mas também continham elementos discriminatórios da época.
Livro: História Do Direito Geral E Brasil – Flávia Lages De Castro
Capítulo XV: Brasil Império
1. A Independência do Brasil e a Constituinte de 1823
Apesar de os ideais de independência ter sido muito citados e reivindicados pela população na época, sabe-se hoje que o que desencadeou o processo de independência foi à questão financeira e a sua subordinação a Portugal. Era discutida pelas Cortes a possibilidade de recolonização e a manutenção da sujeição a coroa portuguesa, em contra partida a opinião pública via a posição das Cortes como uma afronta à limitada liberdade que já se havia conquistado. Frente a independência, a elite brasileira esteve aliada à formação de uma monarquia, para manter os moldes coloniais de latifúndio, monocultura, exportação e escravismo Foi convocada a Constituinte em três de junho de 1822, com o intuito de preparar o contexto da proclamação de independência. Para evitar possível oposição para o processo, foi excluída do direito de voto grande parte da população brasileira e estabeleceu-se uma violente e repressiva perseguição a todos que estivessem “tramando contra a ordem pública”, ficando inclusive instituída a censura à imprensa por decreto. Dessa forma ficaram abertos somente os jornais, os principais meios de propagação de ideias, que estivessem de acordo com os interesses de D. Pedro. Para poder continuar existindo, a Constituinte teve que se submeter á vontade do Imperador, sendo dessa forma designada por muitos como “Constituinte Consentida”. Foi preparado então o anteprojeto constitucional, em setembro de 1823, quando foi discutido pela Constituinte. Com 272 artigos, “refletia a situação política do momento, a presença de tropas portuguesas na Bahia ainda lembrava o perigo da independência ser apenas um episódio. Assim, propunha a restrição na participação de estrangeiros na vida política nacional. Esta preocupação tinha em vista fundamentalmente os portugueses.”. O anteprojeto ainda instituía o voto censitário, fixando a renda mínima com farinha de mandioca, mercadoria de consumo corrente, como moeda, fato que fez com que a constituição fosse apelidada de “Constituinte da Mandioca”. Alegando estar trazendo graves perigos à nação, D. Pedro fechou a Assembleia Constituinte e nomeou uma comissão de sua confiança para a elaboração da constituição.
2. A Constituição Outorgada de 1824
A Comissão designada para a elaboração da constituição de D. Pedro I era composta por seis ministros e quatro membros escolhidos pelo imperador e foi denominada Conselho de Estado. Apesar de condenações a constituição foi outorgada pelo imperador.
2.1 Alguns Pontos da Constituição de 1824
Frente ao contexto histórico da época, D. Pedro I não poderia instituir uma monarquia com poder absoluto e centralizado, assim, a melhor solução seria uma Monarquia Constitucional. “Art. 3º: O seu governo é monárquico, hereditário, constitucional e representativo.”. A Constituição Imperial sugeria quatro poderes; o executivo; o legislativo; e, o judiciário, como aludia Montesquieu; e, ainda, o poder moderador. A este cabia a função de harmonizar os demais poderes e era exercido exclusivamente pelo Imperador. Tal poder rompe drasticamente com o princípio de independência dos poderes e o objetivo de limitação de poder do governante. “Art. 9º: A divisão e a harmonia dos poderes políticos é o princípio conservador dos direitos dos cidadãos e o mais seguro meio de fazer efetivas as garantias, que a Constituição oferece.”. “Art. 10º: Os Poderes políticos reconhecidos pela Constituição do Império do Brasil são quatro: o Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder Executivo e o Poder Judicial.”. O texto constitucional trazia uma dependência dos poderes para com o moderador. O legislativo, e executivo e o judiciário, por indicações de cargos e por necessidade de consentimento de governante para seu pleno exercício, eram severamente submetidos ao quarto, ficando forçados a agirem de acordo com a vontade do imperador. O legislativo, representado pela Assembleia Geral, era vinculado a D. Pedro I por esta depender da sanção do Imperador em suas decisões, dessa forma não era considerado um poder por si só. Além disso, era formado por Câmara dos Deputados e Senado, este era vitalício e seus senadores eram escolhidos pelo Imperador por via das listas tríplices. O judiciário se vinculava ao governante por seus juízes serem todos indicados pelo moderador, tal dependência agia violando o que se tem como imprescindível nos dias de hoje, como a independência orçamentária, vitaliciedade, irredutibilidade de subsídios e inamovibilidade do judiciário. Da mesma forma, o executivo também tinha seus ministros indicados pelo Imperador, e era-lhes exigido que referendassem tudo que era proposto pelo moderador, para que pudesse ter execução. Pontos destacados na Constituição que existiam por existir: questões relacionadas à liberdade de imprensa, liberdade de religião e a cópia da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão no art. 179, que contrastava com um país de cultura essencialmente escravocrata.
3. O Código Criminal de 1830
Depois da proclamação da independência era indispensável à criação de códigos que regulassem a vida social, principalmente um civil e um criminal. Em 1830, depois de passar por uma Comissão Bicameral, o projeto foi levado à Câmara de Deputados e foi aprovado, entrando em vigor no início do ano seguinte. No Código Criminal de 1830 existia a divisão entre as partes geral e especial. Seus 313 artigos são atribuídos: I. dos crimes e das penas, art. 1º a art. 67; II. dos crimes públicos, art. 68 a art. 178; III. dos crimes particulares, art. 179 a art. 275; IV. dos crimes policiais, arts. 276 a 313;
3.1 Alguns pontos do Código Criminal
Apesar de muitos serem contra e ter gerado muita discussão, foi instaurada a pena de morte no Brasil, com do Código Criminal de 1830. No que fazia referência a ela, o texto legal dizia que somente seria aplicada se não houvesse a possibilidade de substituição. Penas mais brandas também eram previstas, como a de Galés, prisão com trabalho, prisão simples, banimento, a de degredo, a de desterro, e em sua maioria interrompiam os direitos políticos dos condenados. Além disso, o código negava a penas que eram consideradas cruéis, como a tortura. Em relação a princípios, apesar das falhas, o Código Criminal de 1830 trazia o ideal de justiça muito bem estruturado, assim como inovava com o Princípio da Legalidade. Para proteger o direito à justiça, às penas para os juízes eram muito severas, tanto para subornos, quanto para cumprimento de prazos. Punições severas também eram aplicadas para crimes sexuais, sendo mais rígidas ainda para estupros de consideradas “mulheres de família”. Deve-se ressaltar ainda que os menores de quatorze anos, os loucos de todo o gênero e as pessoas que cometerem um crime levados por medo ou força “irresistíveis” foram isentos de responsabilidade penal (art. 10), mas se ficasse provado que haviam cometido crime ou delito estes deveriam apenas reparar o mal causado, mas se fossem menores de 14 anos, agindo com discernimento, seriam recolhidos a casas de correção, sendo que o período de reclusão não poderia ser estendido após o réu completar dezessete anos (art. 13). O Código é bastante rígido com Juízes, suas funções e obrigações, tanto no que diz respeito ao recebimento de suborno para dar sentenças (art. 130), quanto no não cumprimento de prazos (art. 180). Os crimes sexuais também eram rigidamente punidos no Código Criminal do Império, mas esta punição ocorreria de maneira mais contundente se a mulher, única vítima possível por esta legislação, fosse considerada socialmente sendo “de família”, no caso de ser prostituta a pena era mais leve (art. 222). Ofendia a moral pública expressar-se religiosamente em público outra religião ou culto que não fosse católico (art. 276).
4. O Código de Processo Criminal de 1832 e o Ato Adicional de 1834
Desde a dissolução da Assembleia Constituinte em novembro de 1823 e a consequente implantação do absolutismo disfarçado em Poder Moderador, vários setores desconfiavam seriamente de D. Pedro I. D. Pedro abdicou o trono, com a crise que vivia seu Império, e como seu sucessor tinha apenas cinco anos de idade, para que se cumprisse a Constituição, o Império foi governado por uma Regência, escolhida entre os membros do Parlamento. 4.1. O Código de Processo Criminal A Abdicação marcou a retomada do debate liberal que encontrou sua maior expressão no Código Processual Criminal que deveria ser feito com urgência visto que o Código Criminal não contemplava o processo. No Código de Processo Criminal os municípios foram habilitados a exercer, por si mesmos, atribuições judiciárias e policiais “num renascimento do sistema morto desde o fim do século XVII”. O Código de Processo deu ao município autonomia, reativando o juiz de paz com poderes de amplitude maior do que os traçados pela Constituição, reconhecendo-o como agente conciliador de litígios e pré-instância judicial, que tinha como função primordial aplainar divergências e evitar conflitos. A primeira instância, pelo Código de Processo de 1832 dividiu-se em três circunscrições: o distrito, entregue ao Juiz de Paz com tantos inspetores quanto fossem os quarteirões do município; o termo, que era composto por um corpo de jurados, um juiz municipal, um escrivão das execuções e os oficiais de justiça; a comarca, que era composta por um a três juízes de direito, um deles com o cargo de chefe da polícia. Esta estrutura trazia problemas gravíssimos, a eleição do juiz de paz era feita levando em conta o desejo dos grandes latifundiários, que através deles, expunham todo o seu poder que desta forma não tinha rivalidade. Podemos destacar o surgimento de um instituto jurídico importantíssimo para atual noção de justiça: o habeas corpus. Foi no Código de Processo Criminal que ele foi expresso pela primeira vez. Em 1841 foi feita uma reforma no Código de Processo Criminal, acabando com a descentralização. 4.2 O Ato Adicional A reforma da Constituição de 1824 estava nos planos dos que derrubaram D. Pedro I. Os Exaltados defendiam o federalismo, com autonomia para as províncias. Os Moderados desejavam acabar com o Conselho de Estado e a vitaliciedade do Senado. O Ato Adicional, promulgado em 6 de agosto de 1834 dava maior importância e deveres aos Conselhos Provinciais, que passavam a ser Assembleias Legislativas, o poder executivo, entretanto, continuava a ser exercido, conforme determinava a Constituição de 1824, por um presidente nomeado pelo Imperador. A marca do Ato, é uma mistura entre centralização e descentralização que resulta em ingovernabilidade. O Poder Moderador permaneceu, prova máxima de que descentralizar não era de fato o objetivo. A permanência da tendência centralizadora se faz presente também na mudança que o Ato efetuou de Regência Trina para Regência Una, eleita com os votos dos eleitores de segundo grau com mandato de quatro anos, era uma “experiência republicana”. 4.3 Outras Leis do Período Imperial Depois do Código Criminal e do Código de Processo Criminal outras leis foram promulgadas. Um marco histórico da codificação brasileira foi a promulgação, em 1850, do Código Comercial. Marco estranho foi a Lei de Terras de 1850, que explica a situação agrária do país até hoje. 5. Nascimento da Tradição Jurídica Brasileira O Código Criminal de 1830 e o de Processo de 1832 foram balizas na história jurídica do mundo. Depois da Independência e depois dos primeiros grandes Códigos brasileiros entrarem em vigor cursos jurídicos começaram a ser criados no Brasil. Os primeiros foram o de Olinda, o de Recife e o de São Paulo. Nos anos de 1853 e 1854 inclui-se o estudo das “Institutas de Direito Romano” e de “Direito Administrativo Pátrio”. Estas legislações também transformaram as Academias Jurídicas em Faculdades de Direito que concediam o grau de bacharel formado para os que frequentassem, com aprovação, os cincos anos do curso e davam título de Doutor a quem defendesse tese. Um outro marco importante para os advogados brasileiros foi a fundação do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiro em 7 de agosto de 1843, na cidade do Rio de Janeiro. 6. A Escravidão e a Lei: Condições e Abolição Os escravos eram colocados no mesmo patamar de mercadoria, portanto estavam sujeitos a inúmeras relações, como a alienação. Estavam destinados a esta condição até a morte, devendo servir seus senhores em qualquer circunstância. Todos os capturados na África e seus respectivos descendentes se tornavam escravos. Inicialmente, as leis para os escravos só se faziam presente no sentido de reger sua posição social e os negócios que envolviam o comércio destes. Casamentos, por exemplo, não eram bem aceitos para os senhores, e somente perto da abolição a Igreja interveio concedendo o direito de casamento em eles e com a população livre. Leis de cunho organizacional também existiam, com disposições muito especificas. O escravo que matasse seu senhor, por exemplo, era condenado à morte. No entanto, punições de morte não eram muito bem aceitas entre os senhores, pois representava prejuízo, diminuição de suas mercadorias: os escravos. 6.1 As Leis Abolicionistas Baseadas nos ideais Iluministas e na pressão exercida por países capitalistas que tinham a escravidão indo contra seus interesses econômicos, as primeiras leis abolicionistas foram surgindo aos poucos e gradualmente. Caminhava-se lentamente em direção à abolição. 6.1.1 A Lei Eusébio de Queiroz Pressionado pela Inglaterra, em 1850, a Câmara dos Deputados aprovou a Lei Eusébio de Queiroz. Ela dita que todas as embarcações brasileiras encontradas em qualquer parte e as estrangeiras encontradas nos portos, enseadas, ancoradouros ou mares territoriais do Brasil, com escravos ou já os tendo desembarcados estariam cometendo um crime. A lei foi facilmente aceita, devido ao fato de praticamente todos os senhores já possuírem um número considerável de escravos e, portanto, não precisarem se utilizar do tráfico negreiro para a obtenção de mais. 6.1.2 A Lei do Ventre Livre Após a lei anterior, surgiu um grande surto industrial e de desenvolvimento econômico no Brasil. Além dessa modernização, houve também mudanças ideológicas. Amadureceu-se a ideia de abolição. Com a abstenção em ações do Estado frente ao movimento abolicionista, este crescia num ritmo significativo. Em face da pressão estrangeira, acentuada depois das guerras de Secessão nos Estados Unidos e do Paraguai, e interna, foi posto em pauta o projeto de lei que previa liberdade aos filhos das escravas: a Lei do Ventre Livre. O texto legal determinava que todos os filhos das escravas estariam livres, porém só após os oito anos de idade, antes disso, ficariam sob tutelo do senhor. Depois de oito anos completos, eram entregues ao governo que indenizava os senhores. Ou então, o senhor poderia ficar com o “liberto” até que o mesmo completasse vinte e um anos e depois disso ele seria obrigado a trabalhar por seu sustento. 6.1.3 A Lei dos Sexagenários O abolicionismo estava em seu auge e em todos os lugares poderia se encontrar debates acalorados a respeito do tema. Frente a muitas manifestações, o Ministério Dantas apresentou um projeto que pretendia libertar os escravos idosos. A lei, aprovada, não tinha grandes efeitos, visto que libertava a quase inexistente parte da população escrava que conseguia, sob suas tristes condições, atingir seis décadas de vida. Porém, os senhores não admitiam perder escravos sem a possibilidade de indenização por parte do Estado, devido ao fato de terem, por muitos anos, investidos capitais em mão- de-obra escrava. O que acentuou as disputas e manifestações das elites, aumentando a pressão interna. 6.1.4 A Lei Áurea Com o abolicionismo crescente, os escravos uniram-se aos que apoiavam esse ideal e instauraram o caos, abandonando fazendas. A única saída era a abolição, depois de, inclusive, terem tentado inserir o exército nas perseguições aos fugitivos. Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel, estando regente frente à ausência de D. Pedro II, promulgou a lei que, singelamente, aboliu a escravidão em nosso país.
Referências: CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito – Geral e do Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.