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Universidade de Brasília – UnB

Faculdade de Direito
Teoria Geral do Processo 1
Prof. Dr. I'talo Fioravanti Sabo Mendes

JUSTIÇA ESTADUAL: UM PANORAMA DESCRITIVO

Ainan Silva de Oliveira (n. 190009691)


Anna Irene Nunes Mendes de Paula (n. 202011706)
Blanda Oliveira Silva (n. 202060021)
Catarina Leal Lima (n. 202060068)
Éuric Khaúri Oliveira Cassiano (n. 202060228)
Marcos Vinícius Nunes Menêzes (n. 202028552)

Brasília,11 abril de 2022


JUSTIÇA ESTADUAL: UM PANORAMA DESCRITIVO

INTRODUÇÃO
O sistema judiciário brasileiro, desde sua concepção até seu pleno funcionamento atual,
passou por diversas modificações ao longo da história do Direito nacional. É sabido que
algumas concepções se mantiveram, tal qual o modelo de justiça descentralizado. E outras
mudaram, como a organização e o funcionamento dos tribunais e comarcas brasileiros.
Este trabalho tem o objetivo de abordar panoramicamente, de modo claro e objetivo,
mas sem o simplismo, um aspecto do sistema judiciário nacional: a Justiça Estadual. Para isso,
faremos primeiro uma abordagem historiográfica da formação dessa Justiça. Adiante,
esmiuçaremos como que compõe o Poder Judiciário Estadual. Em outras palavras, exporemos
a organização da Justiça Estadual, quais órgãos que o compõe, quais competências deles e qual
a estrutura da de funcionamento. É sabido que cada uma das unidades da federação possui uma
dinâmica própria do Poder Judiciário Estadual, de modo que o que abordamos foi uma síntese
dos aspectos comum-constitucional desse poder.
Feito isso, adentramos em alguns conteúdos muito contemporâneos, dos quais só foram
pensados e implementados após a promulgação da Constituição de 1988. Falamos, portanto, da
cooperação entre a Justiça Estadual e os diversos outros moldes do sistema judiciário brasílico.
Nesse escopo, adentra a organização, a função e a dinâmica do Ministério Público Estadual,
bem como a Defensoria Pública dos Estados, órgãos que integra os judiciários e são
participantes ativos da Justiça Estadual. O Conselho de Justiça Estadual é também órgão que
integra essa seara e garante uma justiça imparcial, além de contribuir com a complexificação
do sistema judiciário estadual. Feito isso, falaremos, por fim, da Justiça Militar Estadual, órgão
que também integra os moldes do judiciário concebidos pela Carta Magna de 1988.
Portanto, a Justiça Estadual é complexificada, visto que possuímos 27 moldes
diferentes. Daí porque o nosso trabalho busca não só apresentar de forma estruturada uma
Justiça Estadual que obedece aos predicados constitucionais, mas que também tem suas
particularidades. Especificidades essas que não integram o escopo, mas que são reveladas e
incentivadas a serem pesquisadas e debatidas.

1. HISTÓRIA DA JUSTIÇA ESTADUAL: UM PANORAMA


As instituições judiciárias brasileiras datam dos primeiros anos de colonização
portuguesa na América do Sul. A expedição que saiu de Portugal, em 1530, com destino à costa
brasílica era comandada por Martim Afonso de Sousa. Esse, por sua vez, nomeado como
capitão-mor da frota, foi investido de amplos poderes judiciais, tendo-lhe sido concedida plena
autoridade legal em todos os casos civis e criminais, de modo que essa jurisdição se estendia
aos membros da expedição e a todas as pessoas do Brasil. (SCHWARCZ, Lilia Moritz;
STARLING, Heloisa Murgel; 2018)
A Justiça colonial reproduzia os arquétipos portugueses. A partir da segunda metade do
século XIII, na Europa, o sistema jurídico era um importante atributo do rei. Isso porque não
era consolidada ainda a clássica teoria da tripartição de poderes concebida por Montesquieu.
Assim, o Estado era um amálgama de funções ao redor do rei, de modo que a Justiça real
absorvia atividades políticas, administrativas e jurídicas ao mesmo tempo em que coexistia com
outras jurisdições como a eclesiástica (SCHWARTZ, Stuart B; 2011).
Um exemplo de como se manifestava essa sistematização no Brasil e em Portugal é a
criação do pelourinho. Segundo Schwartz (2011, p. 27),

O pelourinho, símbolo da justiça e autoridade real, ficava no coração da maioria das


cidades portuguesas. À sua sombra, autoridades civis liam proclamações e castigavam
criminosos. Sua localização no centro da comunidade refletia a crença ibérica de que
a administração da justiça era o mais importante atributo do governo. Os portugueses
e espanhóis dos séculos XVI e XVII achavam que a aplicação imparcial da lei e o
honesto desempenho dos deveres públicos garantiam o bem-estar e o progresso do
reino

Cabe inicialmente versar sobre como se organizara o sistema jurídico-administrativo na


América Portuguesa. Isso porque não se desvincula a organização jurídico-administrativa
colonial com o modelo de justiça descentralizado. Juízes ordinários, almotacés 1, vereadores e
outros funcionários eram designados, inicialmente, pelos donatários das Capitanias
hereditárias. Com o avanço da sistematização burocrática no Brasil colonial – ou seja, as
Governadorias-gerais - a Justiça foi estruturada em três instâncias, de acordo com as
Ordenações Filipinas (MARCOS, Rui de Figueiredo; MATHIAS, Carlos Fernando;
NORONHA, Ibsen, 2014). Como segunda instância, foram instalados os Tribunais de Relação
da Bahia, em 1609, e do Rio de Janeiro, em 1751. Acima desses Tribunais, estavam o
Desembargo do Paço de Lisboa e as Juntas das Capitanias (SADEK, Maria Teresa; 2010).
Entre os séculos XVI a XVIII, foram criadas as primeiras Comarcas nas seguintes sedes:
Salvador (1548), Rio de Janeiro (1608), São Luís (1619), Belém (1652), Olinda (1653), Nossa

1
Almotacés é um tipo de burocrata régio que atuava sob nomeação da Coroa portuguesa no Brasil com atribuições
de inspeção. Além disso, esse cargo da administração pública tinha o “poder de polícia”, visto sua atuação como
o que hoje denominados de “oficial de justiça. (REZENDE, Claudia de Andrade de. Os Almotacés e o exercício
da almotaçaria na Vila de São Paulo (1765-1800). FAPESP: Pesquisa de Iniciação Científica, 2014-2016).
Senhora das Neves (1688), São Cristóvão (1696), São Paulo (1700), Santa Maria Madalena
(1709), Vila Rica (1711), Sabará (1711), São João del-Rei (1713), Vila do Príncipe (1720),
Mocha (1722), Paranaguá (1723), Aquiraz (1723), Vila do Bom Jesus de Cuiabá (1728), Vitória
(1732), Vila Boa de Goiás (1733), Santo Antônio (1734), Santa Catarina (1749), Cairu (1763)
e Porto Seguro (1763) (CUNHA, Mafalda Soares da; NUNES, António Castro; 2016).
Adiante, no século XIX, as estruturas das instituições judiciárias na América portuguesa
e depois no Brasil independente enfrentaram profundas transformações. Com a vinda da família
real portuguesa para o Brasil, em 1808, o Tribunal de Relação do Rio de Janeiro foi
transformada em Casa da Suplicação pelo Alvará régio de 10 de maio daquele ano, equiparado
hierarquicamente à Casa de Suplicação de Lisboa (SCHWARTZ, Stuart B; 1979). Ou seja, o
Rio de Janeiro agora era epicentro da burocracia da Coroa e emanava de lá o sistema jurídico-
administrativo, bem como o lócus da política (CARVALHO, José Murilo de; 2019).
Após o contexto histórico da independência brasileira, ocorrida em 1822, a Constituição
do Império, outorgada em 1824, regulamentou o Supremo Tribunal de Justiça e determinou a
criação de Tribunais de Relação para o julgamento das causas em segunda instância. Veja a
sessão que dispõe sobre a organização do Poder Judiciário:

TITULO 6º
Do Poder Judicial.
CAPÍTULO UNICO.
Dos Juizes, e Tribunaes de Justiça.

Art. 151. O Poder Judicial independente, e será composto de Juizes, e Jurados, os


quaes terão lograr assim no Civel, como no Crime nos casos, e pelo modo, que os
Codigos determinarem.
Art. 152. Os Jurados pronunciam sobre o facto, e os Juizes applicam a Lei.
Art. 153. Os Juizes de Direito serão perpetuos, o que todavia se não entende, que não
possam ser mudados de uns para outros Logares pelo tempo, e maneira, que a Lei
determinar.
Art. 154. O Imperador poderá suspendel-os por queixas contra elles feitas, precedendo
audiencia dos mesmos Juizes, informação necessaria, e ouvido o Conselho de Estado.
Os papeis, que lhes são concernentes, serão remettidos á Relação do respectivo
Districto, para proceder na fórma da Lei.
Art. 155. Só por Sentença poderão estes Juizes perder o Logar.
Art. 156. Todos os Juizes de Direito, e os Officiaes de Justiça são responsaveis pelos
abusos de poder, e prevaricações, que commetterem no exercicio de seus Empregos;
esta responsabilidade se fará effectiva por Lei regulamentar.
Art. 157. Por suborno, peita, peculato, e concussão haverá contra elles acção popular,
que poderá ser intentada dentro de anno, e dia pelo proprio queixoso, ou por qualquer
do Povo, guardada a ordem do Processo estabelecida na Lei.
Art. 158. Para julgar as Causas em segunda, e ultima instancia haverá nas Provincias
do Imperio as Relações, que forem necessarias para commodidade dos Povos.
Art. 159. Nas Causas crimes a Inquirição das Testemunhas, e todos os mais actos do
Processo, depois da pronuncia, serão publicos desde já.
Art. 160. Nas civeis, e nas penaes civilmente intentadas, poderão as Partes nomear
Juizes Arbitros. Suas Sentenças serão executadas sem recurso, se assim o
convencionarem as mesmas Partes.
Art. 161. Sem se fazer constar, que se tem intentado o meio da reconciliação, não se
começará Processo algum.
Art. 162. Para este fim haverá juizes de Paz, os quaes serão electivos pelo mesmo
tempo, e maneira, por que se elegem os Vereadores das Camaras. Suas attribuições, e
Districtos serão regulados por Lei.
Art. 163. Na Capital do Imperio, além da Relação, que deve existir, assim como nas
demais Provincias, haverá tambem um Tribunal com a denominação de - Supremo
Tribunal de Justiça - composto de Juizes Letrados, tirados das Relações por suas
antiguidades; e serão condecorados com o Titulo do Conselho. Na primeira
organisação poderão ser empregados neste Tribunal os Ministros daquelles, que se
houverem de abolir.
Art. 164. A este Tribunal Compete:
I. Conceder, ou denegar Revistas nas Causas, e pela maneira, que a Lei determinar.
II. Conhecer dos delictos, e erros do Officio, que commetterem os seus Ministros, os
das Relações, os Empregados no Corpo Diplomatico, e os Presidentes das Provincias.
III. Conhecer, e decidir sobre os conflictos de jurisdição, e competencia das Relações
Provinciaes. (grafia original).2

É nessa Constituição que o Poder Judiciário era submetido ao rigor do Poder Moderador
do Imperador3, ao mesmo tempo que o Supremo Tribunal de Justiça não detinha, até o ano de
1875, competência para revisar os julgados dos Tribunais da Relação das províncias ampliados
a partir de 1873. É aqui se desenvolve o fulcro da Justiça Estadual.
A história das atuais Justiças Estaduais retrocede aos tempos coloniais, quando foram
criadas as Capitanias e Comarcas e instalados os primeiros Tribunais de Relação do Brasil:
Bahia, em 1609; Rio de Janeiro, em 1751; Maranhão, em 1813; Pernambuco, em 1822.
No final do Império, pelo Decreto n. 2.342, de 18734, foram criadas mais sete Tribunais
de Relações, consolidando-se as quatro então existentes no total de 11 tribunais (BRASIL,
1873), dispondo seu artigo 1º, parágrafo 1º:

§ 1º As Relações existentes e as novamente creadas terão por districtos os territorios


seguintes:
1º Do Pará e Amazonas, com séde na cidade de Belém.
2º Do Maranhão e Piauhy, com séde na cidade de S. Luiz.
3º Do Ceará e Rio Grande do Norte, com séde na cidade da Fortaleza.
4º De Pernambuco, Parahyba e Alagôas, com séde na cidade do Recife.
5º Da Bahia e Sergipe, com séde na cidade do Salvador.
6ºDo Municipio Neutro, Rio de Janeiro e Espirito Santo, com séde na Côrte.
7º De S. Paulo e Paraná, com séde na cidade de S. Paulo.
8º Do Rio Grande do Sul e Santa Catharina, com séde na cidade de Porto Alegre.
9º De Minas, com séde na cidade de Ouro Preto.
10. De Mato Grosso, com séde na cidade de Cuiabá.
11. De Goyaz, com séde na cidade de Goyaz (grafia original).

2
BRASIL, 2022. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm. Acesso
em 06 abr. 2022.
3
O Poder Moderador era regido pelos artigos 98, 99, 100 e 101 da Constituição de 1824. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm. Acesso em 05 abr. 2022.
4
Decreto nº 2.342, de 6 de agosto de 1873. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-
1899/decreto-2342-6-agosto-1873-550798publicacaooriginal-66847-pl.html. Acesso em 05 abr. 2022.
Assim, a partir da Proclamação da República e instituição do regime federativo pela
Constituição de 1891, foi mantida a estrutura da maioria das Relações existentes. Ademais,
cada estado teve autonomia para criar a própria estrutura judicial, tendo sido instalada a maior
parte dos atuais Tribunais de Justiça com denominações variadas, como Tribunal de Apelação,
Superior Tribunal de Justiça e Relação da Justiça.5
Veja o que diz a redação constitucional da época:

Art 1º - A Nação brasileira adota como forma de Governo, sob o regime


representativo, a República Federativa, proclamada a 15 de novembro de 1889, e
constitui-se, por união perpétua e indissolúvel das suas antigas Províncias, em Estados
Unidos do Brasil.6

A instalação de muitas Comarcas antecedeu, dessa forma, a criação do respectivo


Tribunal, ao qual se vinculam atualmente. Portanto, a narrativa da história do órgão deve
retroceder à data da respectiva instalação, levando em consideração as “históricas locais das
comarcas vinculadas, muitas das quais pré-existentes ao próprio” (BÖTTCHER, 2020).
Além disso, à luz das Constituições brasileiras e estaduais e da legislação, deverão ser
reveladas as diferentes estruturas das Justiças Estaduais, destacando-se pontos de convergência
entre as diferentes unidades da Federação e processos específicos adotados na construção das
respectivas estruturas estaduais, como também suas relações com os acontecimentos sociais e
políticos regionais. Nesse sentido, ressalta-se a importância do levantamento de marcos
históricos para cada um dos órgãos do Poder Judiciário Estadual.
Assim, pode-se perceber, especialmente por meio das diferentes Constituições
brasileiras e legislação, que o Poder Judiciário – sua estrutura, organização, funcionamento e
composição – foi-se alterando de acordo com as mudanças sociais e políticas do país.
Essa foi uma visão panorâmica do Poder Judiciário Estadual. Não pretendemos aqui
esgotar o tema e, muito menos, fazer uma análise profunda dessa face do judiciário. Isso porque
tal tentativa abriria margem para uma investigação de cada uma das unidades da federação,
dado que, como exposto, teríamos que voltar aos primórdios de cada uma das comarcas e
províncias brasileiras.

5
Ver Manual de Gestão de Memória do Poder Judiciário / Conselho Nacional de Justiça. Programa Nacional
de Gestão Documental e Memória do Poder Judiciário (Proname) – Brasília: CNJ, 2021. ISBN 978-65-88014-70-
7. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/02/Manual_de_Gestao_de_Memoria.pdf.
Acesso em 05 abr. 2022.
6
BRASIL, 2022. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm. Acesso
em 06 abr. 2022.
2. ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA ESTADUAL: COMPETÊNCIAS E
ÓRGÃOS
A Justiça Estadual trata-se de um dos cinco segmentos de justiça que compõem o Poder
Judiciário brasileiro. Junto com a Justiça Federal integra a justiça comum, esta responsável por
julgar matérias fora do âmbito de atuação da Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral e Justiça
Militar. A Justiça Estadual tem competência residual, visto que sua responsabilidade consiste
em buscar soluções de conflitos que não sejam de competência de qualquer ramo da Justiça
Especializada e da Justiça Federal (CNJ, 2021; STF, 2019).
A regulamentação da Justiça Estadual está nos artigos 125 e 126 da Constituição da
República Federativa do Brasil. Em respeito à autonomia estatal que acontece mediante a
observância dos princípios constitucionais, de acordo com o expresso no art. 125, §1º, a
Constituição do Estado terá o papel de definir a competência dos tribunais, a considerar que a
lei de organização judiciária é de iniciativa do Tribunal de Justiça. Posteriormente, no § 2º,
institui aos Estados a competência de instaurar “representação de inconstitucionalidade de leis
ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada
atribuição da legitimação para agir a um único órgão” (BRASIL, 1988, Art. 125).
O texto constitucional estabelece também a possibilidade do Tribunal de Justiça
funcionar descentralizadamente por meio da constituição das Câmaras regionais com o intuito
de “assegurar pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo” (BRASIL,
1988, Art. 125), a instalação da justiça itinerante pelo Tribunal de Justiça e, segundo posto no
art. 126, a criação por parte do Tribunal de Justiça de varas especializadas com competência
exclusiva para questões agrárias, visando. Somado há a Justiça Militar Estadual, criada pela lei
estadual mediante proposta do Tribunal de Justiça.
A Justiça Estadual está presente em todas as unidades da Federação e representa o maior
volume de litígios no Brasil, pois se encarrega das questões mais comuns e variadas, tanto na
área civil quanto na criminal (STF, 2011). No que tange à organização da Justiça Estadual, cada
Estado tem a atribuição de fazê-la, o único caso que não se aplica tal norma é o do Distrito
Federal e Territórios, cujas organização e manutenção são feitas pela União (CNJ, 2021).
O poder judiciário estadual, em suas atribuições, é divido em primeiro e segundo grau
sendo cada qual responsável por um papel definido pelas Constituições Estaduais. Mesmo que
seja de plena autonomia dos entes federados, ao tomar como base três diferentes constituições
(BA, SP e RS), percebeu-se que as estruturas judiciárias não se alteraram. Assim sendo, o
primeiro grau é constituído pelos juízes de Direito, varas, fóruns, tribunais do júri, juizados
especiais e turmas recursais e os antigos tribunais de alçada. Já o segundo grau é formado pelos
Tribunais de Justiça e seus desembargadores. Para melhor entendimento, nos parágrafos
seguintes será destrinchada a competência dos componentes de cada grau de jurisdição.

2.1. Primeiro grau de jurisdição


2.1.1. Juízes de Direito
O juiz de Direito corresponde a autoridade judicial de uma vara e/ou comarca e seu
ingresso na carreira é mediante aprovação em concurso de provas e títulos como assim
estabelecido pelo art. 93, I, da Constituição de 1988. Primeiramente, é ingressante como juiz
substituto devendo ficar no cargo por 2 anos. Corresponde à primeira instância de um
julgamento e sua principal função é processar e julgar conflitos de pessoas, empresas e poder
público com teor cível, criminal, familiar, tributário, empresarial, ambiental e consumidor.

2.1.2. Comarcas, varas, instâncias, entrâncias e fóruns


Termos importantes na compreensão da organização judiciária nacional. A comarca é o
território onde o juiz de primeiro grau executa sua jurisdição e sua abrangência depende do
número de habitantes podendo abarcar um ou mais municípios. Enquanto as varas são os locais
em que os juízes definitivos se situam para realizar as atividades e possui suas competências
definidas por cada unidade da federação sendo as principais: criminais, infância e da juventude,
e da família. Entretanto, em se tratando de municípios pequenos, há apenas uma vara para tratar
de todos os assuntos. Por fim os fóruns são os locais físicos onde funcionam os órgãos do Poder
Judiciário.
As instâncias referem-se aos graus de jurisdição e no caso em questão, as varas
correspondem aos órgãos de primeira instância. Por último, existem as entrâncias que
dependem da quantidade de varas que possuem nas comarcas. Assim sendo, a comarca de
primeira entrância é aquela que possui apenas uma vara, a de segunda entrância com até 4 varas
e a de entrância especial a partir de 5 varas acrescido dos juizados especiais. É importante
mencionar que não há subordinação entre elas, todas estão no mesmo patamar de igualdade.

2.1.3. Tribunais do Júri


Os Tribunais do Juri tiveram início em 1822, possuíam como função julgar crimes de
natureza da imprensa e eram constituídos por 24 juízes de fato. Ao longo da história, o Tribunal
passou por diversas formulações até a configuração atual. Garantido no artigo 5º, inciso
XXXVIII da Constituição Federal de 1988, o Tribunal do Júri é encarregado de julgar crimes
dolosos contra a vida. É composto por 25 cidadãos mais um juiz presidente. Dos 25 cidadãos,
são sorteados 7 para o conselho de sentença em que são designados para afirmar ou negar o
delito. Durante esse processo são adotadas 2 fases: a primeira é o juízo de acusação em que se
identifica o crime e enquanto a segunda é o juiz de causa a qual se realiza o julgamento.

2.1.4. Juizados Especiais e Turmas Recursais


Os Juizados Especiais são compostos por juizados criminais e cíveis - dispostos na Lei
n. 9.099/95 - e da fazenda pública - regulamentado na Lei n. 12.153/09. Segundo o art. 2º da
Lei n. 9.099/95, “O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade,
informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação
ou a transação” (BRASIL, 1995).
Nos casos cíveis, suas competências estão determinadas pelo art. 3º em que se estabelece
a resolução de casos de menor complexidade entre particulares e casos que possuem o valor de
até 40 salários-mínimos. Já os casos criminais estão estabelecidos nos art. 60 a 62 e cabe
mencionar que os casos cuja competência é do juizado em questão são de “menor potencial
ofensivo” (BRASIL, 1995).
Ademais, o Juizado Especial da Fazenda Pública compete julgar causas cíveis de
interesses dos estados e empresas públicas sendo possível o poder de reclamação apenas
pessoas físicas maiores de 18, microempresas e empresas de pequeno porte (art. 5°, Lei n.
12.153/09). Outrossim, deve-se mencionar que os Juizados Especiais possuem regulamentado
a existência de juízes leigos e conciliadores dispostos nos artigos 7º e 15º das Leis n. 9.099/95
e 12.153/09 respectivamente.
As Turmas Recursais fazem parte dos juizados especiais em suas três competências
anteriormente citadas. São compostos por 3 juízes togados de primeiro grau de jurisdição
obedecendo o critério de antiguidade e merecimento, permanecem no cargo por um período de
2 anos (art. 17, Lei n. 12.153/09) e possuem como função revisar e julgar decisões proferidas
pelos juízes dos Juizados Especiais.

2.1.5. Juízes de Paz


Os Juízes de Paz aparecem pela primeira vez na legislação brasileira no ano de 1824 e
detinham como competência conciliação entre as partes. Na Constituição Federal de 1988, as
funções do juizado de paz estão dispostas no artigo 98:
II - justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto,
universal e secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma da lei,
celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o
processo de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional,
além de outras previstas na legislação.

2.2. Segundo grau de jurisdição


2.2.1. Tribunal de Justiça
Estabelecido pelo artigo 125 da Constituição Federal de 1988, os Tribunais de Justiça
compõem o segundo grau de jurisdição do Poder Judiciário Estadual. Sua sede está fixada na
capital de cada estado da federação. Embora suas competências e os números de juízes são
definidos pela lei das unidades da federação, sua principal função é processar, julgar além da
composição e seguir obrigatoriamente a regra do quinto constitucional, previsto no art. 94 da
Constituição Federal:

"quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e
do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério Público,
com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de
reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados
em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.”

Além disso, é de competência do Tribunal de Justiça estabelecer o controle orçamentário e


poder solicitar intervenção no estado de jurisdição intermediado pelo STF segundo os casos
previstos na Constituição Federal.
Com a Emenda Constitucional 45 de 2004, ocorreu a reforma do sistema judiciário. Nesse
sentido, uma divisão existente nos TJs se extinguiu: O Tribunal de Alçada. O tribunal em
questão tinha suas competências definidas pela Lei de Organização Judiciária de cada unidade
da federação, contudo sua criação tinha como função principal a aceleração de processos de
pequenas causas e funcionava como uma segunda instância no Juizado Especial. Atualmente,
seus servidores e funções foram desmembrados e distribuídos nos Tribunais de Justiça.
Para os juízes dos TJs, atribui-se o nome de desembargadores. São eles os responsáveis pela
segunda instância do judiciário estadual, ou seja, julgam os recursos advindos da primeira
instância.

2.2.2. Órgão Especial do Tribunal de Justiça


Foi instituído pela Constituição de 1967 e permanece na atual Constituição estando presente
no art. 93, XI e sua existência se dá em tribunais com mais de 25 julgadores. Sua principal
função está relacionada com a indicação de juízes “ao chefe do Poder Executivo Estadual, para
sua nomeação e ingresso na magistratura, bem como para a sua promoção na carreira ou acesso
aos tribunais de segundo grau” (DOS SANTOS, 1997, p. 100).

2.3. Justiça Itinerante


A Justiça Estadual apresenta uma modalidade de prestação jurisdicional, a Justiça
Itinerante, cujo funcionamento se dá por fóruns móveis adaptados em veículos (ônibus, vans e
barcos) com destino às áreas remotas ou não atendidas pelo Judiciário (FERRAZ, 2017, p.1).
O grande número de processos pendentes, a morosidade do sistema judicial, o caráter arcaico
das leis processuais, a concentração das comarcas nos grandes centros levanta a necessidade de
democratizar o acesso à justiça para comunidades mais pobres e afastadas das cidades maiores.
Tendo em vista esse cenário, foi instituída a Justiça Itinerante no Brasil no início dos anos 1990
e hoje presente em diversos Estados da Federação (MAIA, 2006).
O art. 125, § 7º, da Constituição Federal prevê a instituição da Justiça Itinerante pelo
Tribunal de Justiça com a promoção de audiências e demais funções da atividade jurisdicional,
nos limites territoriais da respectiva jurisdição e contando com equipamentos públicos e
comunitários. A Justiça Itinerante é composta de um juiz, conciliadores e defensores públicos
que objetivam rapidamente a solução de conflitos por meio da conciliação. A competência do
Juizado Itinerante é a mesma do Juizado Especial Cível nas causas sem exigência de advogado,
sendo estas as causas cujo valor não excede a 20 salários-mínimos como direito do consumidor,
planos de saúde, execução de títulos e outros. Não ocorrendo a transação ou a decisão pelo
magistrado, as partes são encaminhadas ao Juizado Especial Cível (Comum) (MAIA, 2006).

2.4. Corregedoria-Geral da Justiça


Trata-se de um órgão da Justiça Estadual que fiscaliza, em caráter permanente e geral,
orienta e aprimora as atividades dos órgãos e serviços judiciários de primeira instância e as
atividades das delegações notariais e de registros bem como zelar pela regular conduta dos
juízes, servidores e delegatórios. Também atua na fiscalização dos estabelecimentos prisionais
e tem por junção decidir sobre a interdição de cadeias. Outras funções são o acompanhamento
do desempenho de magistrados não vitaliciados, realização de correições e estabelecimento de
normas de serviços das unidades judiciais e extrajudiciais e outras atividades (TJSP, 2020).
3. COOPERAÇÃO ENTRE JUSTIÇA ESTADUAL E OUTRAS
ORGANIZAÇÕES DO PODER JUDICIÁRIO
Conforme o artigo 2º da Resolução Nº 350 de 27/10/2020 do Conselho Nacional de
Justiça e o artigo 67 do Novo CPC:

“aos órgãos do Poder Judiciário, estadual ou federal, especializado ou


comum, em todas as instâncias e graus de jurisdição, inclusive aos
tribunais superiores, incumbe o dever de recíproca cooperação, por meio de
seus magistrados e servidores, a fim de incrementar mutuamente a eficiência
de suas atividades.”

Diante disso, a cooperação judiciária nacional tem como finalidade contribuir com o
intercâmbio e o auxílio mútuo entre juízos, dando mais fluidez aos atos processuais. Portanto,
é aprovável que sua aplicação aconteça na prática de qualquer ato processual que deva ser
atendido com rapidez (art. 68, CPC 2015), por isso, o pedido de cooperação não exige uma
forma específica de encaminhamento. Ainda assim, o Código Processual Civil (art. 69)
apresenta alguns instrumentos de execução da cooperação nacional.
Tais instrumentos são: I) auxílio direto, que consiste no intercâmbio imediato de
informação entre juízos distintos, evitando formalidades, como a expedição de carta precatória;
II) reunião ou apensamento de processos, tais quais envolvem a verificação de conexão ou
continência entre ações, a fim de evitar a prolação de decisões conflitantes; III) prestação de
informações, que compreende à simples comunicação entre juízos sobre processos que
tramitam em seus relativos tribunais, podendo a informação ser prestada por meio eletrônico,
dispensando formalidades; IV) atos concertados entre juízos, os quais devem ser
compreendidos como acordos entre juízos para a prática de atos processuais específicos, por
exemplo: citação, intimação, apresentação de provas, efetivação de tutela provisória etc.; V)
cartas de ordem, precatória e arbitral, que visam o cumprimento de atos processuais fora dos
limites de competência do juízo solicitante.
Nesse sentido, as normas de cooperação servem para qualquer espécie de processo, seja
ele um processo civil, eleitoral ou trabalhista (art. 15, CPC). E servem também ao processo
penal, pela força de aplicação do artigo 3º do CPP e da inexistência de reagravamento sobre
assunto no Direito Processual Penal. Sob essa perspectiva, o artigo 6º, XV da Resolução
350/2020 do CNJ estabelece como parte da cooperação judiciária nacional a “transferência de
presos”.
À vista disso, na pretensão do exercício colaborativo, coerente e desburocratizado da
justiça, os estados buscam cada vez mais aprimorar seus Núcleos de Cooperação Judiciária,
inseridos na composição da Rede Nacional de Cooperação Judiciária pela mesma Resolução do
CNJ citada anteriormente. De maneira concisa o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás pontua
que:

“Compete ao Núcleo de Cooperação articular com outros núcleos formados


por Tribunais no âmbito do estado de Goiás, a fim de constituir Comitês
Executivos Estaduais, sugerir diretrizes de ação coletiva, harmonizar rotinas
e procedimentos, bem como atuar na gestão coletiva de conflitos e na
elaboração de diagnósticos de política judiciária, propondo mecanismos
suplementares de gestão administrativa e processual, fundados nos princípios
da descentralização, colaboração e eficácia.”

A Resolução nº 350/2020 e os referidos artigos do CPC/2015 possuem uma


importante relevância na normatização da Cooperação Judiciária, entretanto, as leis estaduais,
como complemento essencial das normas processuais brasileiras, podem desempenhar um
papel ainda mais importante, pois são elas que disciplinam os atos de cooperação - como o ato
concertado entre juízes cooperantes - e preveem novas formas de cooperação judiciária no
âmbito da Justiça estadual.
Além disso, os regimentos internos do Tribunais contribuem significativamente
para o cenário de cooperação judiciária, disciplinando-a entre os órgãos do tribunal e
estabelecendo diretrizes de cooperação entre o respectivo Tribunal e outros órgãos judiciários.
Em suma, a cooperação entre os membros do Poder Judiciário serve como
fundamento para a composição de técnicas mais adequadas para a concretização de processo
resolutivo, cuja duração seja razoável e que produza efeitos justos. Para isso, os pedidos de
cooperação devem ser prontamente atendidos pela sua Rede composta por Magistrados de
Cooperação Judiciária, Núcleos de Cooperação dos tribunais e demais integrantes do Poder
Judiciário autorizados, como o Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores.

4. MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL E A DEFENSORIA PÚBLICA


ESTADUAL: UM PANORAMA GERAL
O Ministério Público é um dos pilares mais importante na preservação e no devido uso
das tutelas jurisdicionais de um Estado, visto que por atuar em defesa dos interesses públicos
(tanto coletivos como individuais, em suas respectivas especificações), se torna um elo
importantíssimo para o devido apreço das garantias constitucionais. A própria Constituição
Federal define o Ministério Público como uma “instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e
dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. (Constituição Federal do Brasil, art.127,
1988). Dessa forma, o órgão irá se manter presente naquilo que tange o zelo da boa diligência
e execução dos Poderes Públicos frente aos direitos fundamentais, instaurando ações como o
inquérito civil e/ou ação civil pública quando necessário, ao notar-se alguma irregularidade ou
violação de direitos e de outros interesses difusos e coletivos, bem como ações de
inconstitucionalidade em situações necessárias de intervenção da União e Estados; defender
casos em que os direitos e interesses das populações indígenas estejam presentes. Também pode
ajuizar demanda individual, quando esta for relacionada à direito individual indisponível ou de
relevância social.
Importante destacar que o Ministério Público não atua representando judicialmente,
visto que o art.18 do Código de Processo Civil veda a representação processual (exceto casos
específicos por lei), em que há a atuação em nome do representando, invocando direitos sobre
esse. É permitido a Substituição processual, sendo que neste caso há a invocação de direito
alheio, propondo o substituto a ação em nome próprio. Assim, o órgão pode atuar de duas
formas em um processo: como Parte (art.129 da CF/88), tendo as mesmas tutelas jurisdicionais
de um litigante no geral (podendo postular em juízo) e como Custos Legis, em que a sua
participação seria necessária em casos estabelecidos na constituição, velando como o fiscal da
ordem jurídica e do devido processo legal nessas situações (como as de interesse público e
social, interesses de incapaz – sejam referentes a menores de dezoito anos ou adultos
considerados incapazes - e litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana), sendo
necessária sua intimação para intervenção nesses casos, podendo levar à invalidade do processo
caso tal prerrogativa não seja atendida (vício de forma). Aqui, o Ministério Público terá vista
dos autos das partes bem como deverá ser intimado de todos os atos do processo e também terá
autoridade de produzir provas, requerer o que julgar pertinente e recorrer da decisão, mesmo
que não haja intenção de recurso da parte. Da mesma forma lhe é concedido prazo em dobro
para manifestação nos autos, há não ser que a lei estabeleça de forma expressa prazo próprio
específico. Por fim, lhe é vedado ampliar o mérito da causa.
No geral, é competência do Ministério Público da União promover e atuar em ações
civis públicas de interesse federal, e ao Ministério Público Estadual as demais
responsabilidades. Os interesses federais circundam matéria de competência da Justiça
Especializada da União (Justiça do Trabalho e Eleitoral) e da Justiça Federal (Tribunais
Regionais Federais e Juízes Federais), bem como aquelas tratadas em razão de matéria, como
as fundadas em contrato/tratado estrangeiro ou de organismo internacional (Constituição
Federal, art. 109, III), aquelas que envolvam disputas sobre direitos indígenas, que sejam da
competência federal em razão da pessoa (propostas contra a União, as autarquias e empresas
públicas federais ou nos casos em que essas entidades estejam como substituídos processuais
no polo ativo) e as demais causas que tratem de interesses federais sobre razão da natureza de
bens e dos valores jurídicos a que visa tutelar. Logo, o Ministério Público Estadual atuaria em
situações aparte destas, mas com as mesmas prerrogativas (acesso aos autos, citação obrigatória
nos dispostos do art. 178 do CPC, prazo em dobro para manifestação, etc).
A Defensoria Pública também possui papel importantíssimo no cuidado da tutela de
direitos sociais e difusos, principalmente para a população menos afortunada, em caráter de
vulnerabilidade social, visto que esses raramente possuem condições de protocolar um processo
na justiça através da advocacia particular tradicional devido aos custos. O art. 185 do Código
de Processo Civil estipula que a “Defensoria Pública exercerá a orientação jurídica, a promoção
dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, em todos
os graus, de forma integral e gratuita”, nota-se então como o trabalho dos defensores públicos
anda lado a lado com a função jurisdicional do Estado, haja vista a promoção de tutela de
direitos e a defesa daqueles que mais precisam.
A defensoria possui uma diferença em relação à advocacia geral tradicional. Não recebe
honorários advocatícios quando está “atuando contra a pessoa jurídica de direito público a qual
pertença” (Súmula 412, STJ), quando atua contra pessoa pública de direito público pertencente
à mesma Fazenda Pública a que pertence (STJ, CE, REsp 1.199.715/RJ, rel. Min. Arnaldo
Esteves Lima, DJ e 12.04.11, julgado como representativo da controvérsia). Porém, se o
processo é em face de ente federativo a qual não faz parte, cabe o pedido de honorários
sucumbenciais. No que tange os prazos processuais, também possui o dobro para todas as suas
manifestações, salvo aqueles estipuladas especificamente em lei (Núcleos de prática jurídica
das faculdades de Direito reconhecidas na forma da lei e entidades que prestam assistência
jurídica gratuita em razão de convênios firmados com a Defensoria Pública também possuem
prazo estendido).
Também é função jurisdicional da Defensoria “exercer a Curadoria Especial nos casos
previstos em lei” (LC 80, Art.4º, XVI, 1994) nos casos:

I - de incapacidade, se não houver representante legal ou se os


interesses deste colidirem com os daquele, enquanto durar a
incapacidade;
II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com
hora certa, enquanto não for constituído advogado.
Parágrafo Único. A curatela especial será exercida pela Defensoria
Pública, nos termos da lei. (CPC, art.72)

Assim, se houver órgão da Defensoria Pública na comarca ou subseção, nele está


incumbido a função de Curador Especial do autor de tal processo nessas ocasiões. Também é
importante destacar que o membro da Defensoria Pública será punido civil e regressivamente
se for identificado que esse agiu com dolo ou fraude no exercício de suas funções, sendo a
responsabilidade pontuada diretamente contra o agente ou pode ser exercida em face do Estado,
que terá direito de regresso frente ao agente faltante, de acordo com o art.187 do CPC.

5. JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL


Quando se trata de Poder Judiciário Estadual, podemos notar que a Justiça Militar é a que
mais se destaca no que tange às peculiaridades da sua estrutura e funcionamento, e é
exatamente isso que trataremos a seguir.
A Justiça Militar é uma justiça especializada e as suas competências estão previstas no artigo
125, § 4º e § 5º, da Constituição federal:

§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares


dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais
contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri
quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir
sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das
praças.
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar,
singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações
judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de
Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os
demais crimes militares.

Entre as diferenças existentes entre a Justiça Militar e a justiça comum, a que mais se
destaca é a que se refere ao fato de que, enquanto na justiça comum a atuação jurisdicional é
sempre feita por um juiz togado, que será o responsável por analisar o caso, na Justiça Militar
nós temos uma estrutura que é chamada de “escabinato”: conceito para o conjunto de julgadores
existentes nessa área do judiciário. O escabinato é composto por um Juiz Federal – da justiça
Militar da União -, um Juiz de Direito – da Justiça Militar dos Estados e Distrito Federal – e
quatro militares – Juízes Militares – de carreira, formando assim o Conselho de Justiça.

Uma outra característica especial da Justiça Militar estadual reside no fato de que nem
todo estado possui uma Justiça Militar, já que, como consta no art. 125, § 3°, a lei estadual
poderá criar Justiça Militar estadual somente no Estados com efetivo militar superior a vinte
mil integrantes.

Quando partimos para os Estados que possuem Justiça Militar Especializada, podemos
citar apenas três: São Paulo; Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Nos Estados que não possuem
tal jurisdição, os julgamentos são feitos pelo juízo comum. Nesses Estados onde há justiça
especializada, a competência jurisdicional se dá em duas instâncias: a primeira com as
Auditorias da Justiça Militar Estadual (AJME) e a segunda com o Tribunal de Justiça Militar
Estadual (TJM).

Haja vista o exposto, no âmbito da Justiça Militar Estadual, conclui-se que, por se tratar de
uma vertente do Direito Militar, temos nessa área do judiciário várias propriedades únicas, que
se mostram extremamente necessárias para o correto funcionamento dessa área do Poder
Judiciário Estadual.

CONCLUSÃO

Nesse trabalho, percebe-se as evoluções e as características do Poder Judiciário Estadual. De


Martim Afonso de Sousa aos presidentes dos Tribunais de Justiça. Do Pelourinho aos fóruns,
tribunais, varas. Essa é uma pequena linha de interpretação que se pode trilhar no decorrer da história
do poder judiciário no país, em espacial o de cada Unidade da Federação. A justiça passou de uma
centralização, na época da chegada dos portugueses, para a descentralização da contemporaneidade da
qual cada estado possui autonomia na organização a respeita de quão melhor se adequa para a
realidade do local.

Comarcas, fóruns, varas, juiz, desembargador, Ministério Público. São palavras que fazem
parte do cotidiano daqueles que pertencem a esse universo judiciário, em especial o estadual e cada
um possui seu significado e sua importância para o bom funcionamento da justiça. Assim sendo, o
conhecimento sobre seus papeis no ordenamento nesse espaço discutido é fulcral para aqueles que
desejam entender como funciona todo o processo, além de ser de necessidade em momentos em que
requer tais compreensões. Ademais, em outra seara, a justiça militar também integra a justiça estadual
e está longe de pertencer ao imaginário popular em primeiro lugar sobre sua existência e em segundo
lugar sobre suas funções. Talvez os conceitos mais básicos sejam estejam no dia a dia das casas dos
brasileiros, entretanto, o entendimento sobre esse campo militar é limitado àqueles que se aprofundam
na temática.

Em suma, o trabalho em questão, ao abordar todas os seguimentos do poder judiciário


estadual, fez-se entender que muito além do que é debatido em meios de comunicação, em especial no
momento delicado que o Brasil enfrenta político e juridicamente, o sistema judiciário estadual possui
uma hierarquia a ser seguida, etapas de processos, mecanismos de organização, a fim de se manter a
ordem e o bom funcionamento da sociedade local.

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