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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

FICHAMENTO

As origens do direito no brasil a partir do século XVI: uma experiência judicial

Emanuel de Santana Magliano

Santa Rita/PB
2023
O texto aborda a evolução do conceito de Direito ao longo da história, com foco em
países de tradição romano-canônica, como o Brasil. No início, o Direito era predominantemente
uma experiência jurisdicional, na qual agentes e instituições atuavam para resolver disputas,
sem depender de uma legislação sistematizada. Contudo, a partir do século XVIII, dois
fenômenos moldaram o conceito de Direito: o constitucionalismo, que se concentrava na
limitação do poder do Estado em favor dos indivíduos, e o movimento de codificação, que
organizou o conhecimento jurídico em códigos.

No século XIX, esses traços foram consolidados, levando à compreensão do Direito


como um conjunto de leis editadas pelo Estado, um corpo normativo vigente em um território
específico. Questões jurídicas fundamentais passaram a ser interpretadas principalmente a partir
da legislação. No entanto, é importante notar que essa visão estatalista do Direito é considerada
redutiva e afastada da realidade social que o originou.

O texto sugere que, ao analisar a experiência jurídica anterior ao século XVIII, como no
chamado Antigo Regime e no Brasil a partir do século XVI, nota-se uma abordagem diferente.
O Direito era mais uma experiência jurisdicional do que normativa, com agentes que buscavam
resolver questões sem depender de uma legislação sistematizada. Isso deixou marcas no sistema
jurídico brasileiro.

O autor destaca a importância de compreender a historicidade e a dimensão social do


Direito. Além disso, enfatiza que, no contexto do Antigo Regime, o papel principal do Estado
não era impor comandos normativos à sociedade, mas exercer a jurisdição. A justiça era o sinal
mais evidente do poder estatal, e antes da consolidação da legislação como fonte exclusiva do
direito, a soberania era afirmada por meio da jurisdição.

O texto também explora a construção do aparato judicial e da estrutura jurídica no Brasil


colonial, destacando que a jurisdição desempenhou um papel fundamental na manutenção da
ordem e da unidade política. Argumenta que a flexibilidade do direito comum prevaleceu sobre
a norma geral, com particularidades e adaptações locais influenciando significativamente as
decisões judiciais. A compreensão dessa abordagem histórica é relevante para a compreensão
do Direito no Brasil e a influência contínua dessa experiência nos dias de hoje.

No que diz respeito à legislação, o texto menciona a importância das Ordenações


Filipinas como um corpo normativo significativo para o Brasil colonial. Essas ordenações
abordaram vários aspectos da vida jurídica e desempenharam um papel crucial na política da
época, ajudando a consolidar a autoridade do rei estrangeiro, Filipe II, sobre o Reino de
Portugal.

No geral, o texto explora a evolução do conceito de Direito, destacando a transição de


uma visão jurisdicional para uma visão normativa ao longo da história e enfatiza a importância
de compreender a historicidade e a dimensão social do Direito, com foco na experiência jurídica
colonial no Brasil.

O texto aborda a importância das Ordenações Filipinas na estrutura legal do Brasil


colonial, destacando que essas leis estiveram em vigor até o século XIX. Além disso, o texto
explora a relação entre o sistema de justiça português e a concepção de sociedade da época, que
era hierárquica e ligada à ordem divina. No contexto do Antigo Regime, o Direito e o Estado
não eram vistos como resultado de um pacto social, como nas teorias modernas, mas como parte
de uma ordem divina preestabelecida. A sociedade estava estruturada em uma hierarquia que
refletia a estrutura do corpo místico da sociedade, com o rei no topo, representando a cabeça
desse corpo.

O sistema judicial estava profundamente ligado ao rei, que era o juiz supremo, e todos
os poderes, incluindo a magistratura, estavam a seu serviço. Nesse contexto, a Casa da
Suplicação desempenhava um papel central na administração da justiça. Além disso, o sistema
judicial estava intimamente relacionado à estrutura social, com distinções sociais e hierarquias
influenciando as leis e as prerrogativas de diferentes grupos sociais.

A estrutura do sistema judicial português foi transplantada para o Brasil durante a


colonização, tornando-se parte integral da experiência jurídica colonial. O texto destaca como
as reformas que ocorreram após a Independência, incluindo a promulgação do Código de
Processo Criminal de 1832 e a criação do Supremo Tribunal de Justiça do Império, se basearam
nessa estrutura judicial que já estava presente nas colônias brasileiras.

Além disso, o texto aborda a administração da justiça no início da colonização do Brasil,


destacando que, no começo, a colônia era vista principalmente como uma empresa comercial,
com poucos esforços para estabelecer uma administração judicial regular. No entanto, isso
começou a mudar na década de 1530, quando a presença de franceses na região levou a
investimentos na colonização e organização política das terras brasileiras.
Principais Pontos:

1. As Ordenações Filipinas foram fundamentais na estrutura legal do Brasil colonial e


permaneceram em vigor até o século XIX.

2. A concepção de sociedade no Antigo Regime estava ligada à ordem divina e hierárquica,


com o rei no topo representando a cabeça desse corpo místico.

3. O sistema judicial estava fortemente vinculado ao rei, que desempenhava o papel de


juiz supremo, e todos os poderes serviam ao rei.

4. A Casa da Suplicação era central na administração da justiça.

5. A estrutura judicial do Brasil colonial foi transplantada do sistema português.

6. As reformas legais após a Independência se basearam na estrutura judicial existente nas


colônias brasileiras.

7. No início da colonização, o Brasil era visto principalmente como uma empresa


comercial, e a administração judicial era limitada.

8. A presença de franceses na região levou a investimentos na colonização e organização


política das terras brasileiras.

O texto explora o sistema jurídico e de administração da justiça no contexto do Brasil


Colonial. Ele descreve como a Coroa Portuguesa conferiu amplos poderes a figuras como
Martim Afonso e os donatários das capitanias hereditárias para promover o povoamento e
administração das novas terras. A administração da justiça desempenhou um papel crucial nesse
processo, uma vez que a manutenção da ordem jurídica vigente em Portugal nas novas terras
era essencial para a expansão da fé católica e o domínio português.

O texto aborda a lógica das capitanias hereditárias, destacando como a jurisdição civil
e criminal era exercida por oficiais nomeados pelos donatários, como ouvidores. Esses
ouvidores tinham jurisdição para julgar casos dentro de sua área e até casos criminais com pena
de morte. Além disso, os donatários tinham muita autonomia e não podiam ser julgados por
magistrados superiores da Coroa.

Com o tempo, a centralização do poder aumentou com a nomeação de governadores-


gerais, que acompanhavam ouvidores-gerais e provedores-mores, criando uma estrutura mais
eficaz para a administração da justiça.
O texto também destaca a dificuldade de fazer cumprir a legislação na fase inicial da
experiência jurídica no Brasil, enfatizando a complexidade da administração da justiça naquela
época. Além disso, também explora o papel dos juízes ordinários nas Câmaras municipais do
Brasil Colonial. Esses juízes, membros da aristocracia local, não tinham formação jurídica
formal, mas desempenhavam funções judiciais e administrativas nas localidades.

Principais Pontos:

1. Amplos poderes jurisdicionais foram concedidos a figuras como Martim Afonso e os


donatários das capitanias hereditárias para promover o povoamento e administração das
novas terras no Brasil Colonial.

2. A administração da justiça desempenhou um papel crucial no processo de povoamento,


na expansão da fé católica e no domínio português.

3. A lógica das capitanias hereditárias envolvia a jurisdição civil e criminal exercida por
ouvidores nomeados pelos donatários, com poderes que incluíam a pena de morte em
certos casos.

4. Os donatários desfrutavam de uma alta autonomia e não podiam ser julgados por
magistrados superiores da Coroa, o que criava um sistema complexo de administração
da justiça.

5. Com o tempo, a centralização do poder aumentou com a nomeação de governadores-


gerais e outros funcionários para regulamentar a administração da justiça.

6. A dificuldade de fazer cumprir a legislação na fase inicial da experiência jurídica no


Brasil demonstra as complexidades da administração da justiça.

7. Juízes ordinários nas Câmaras municipais eram membros da aristocracia local, não
tinham formação jurídica formal, mas desempenhavam funções judiciais e
administrativas nas localidades, incluindo a resolução de casos e a condução de
audiências.

8. O texto destaca a complexa e sobreposta estrutura judicial no Brasil Colonial, com


jurisdições que variavam com base no número de habitantes das localidades.
O texto aborda o sistema judicial no Brasil Colonial, destacando o papel dos juízes
ordinários, juízes de vintena, juízes de fora, e ouvidores de comarca. Esses magistrados tinham
jurisdição sobre uma ampla gama de casos civis e criminais, incluindo questões de família,
sucessões, propriedade, contravenções, furtos de escravos e injúrias verbais.

O processo judicial no Brasil Colonial era predominantemente oral, com as sentenças


executadas imediatamente perante o próprio juiz. As partes tinham a oportunidade de apresentar
suas alegações sem a necessidade de recursos formais, e as sentenças de até 600 réis não
admitiam recurso, garantindo a execução imediata.

O texto ressalta que os juízes ordinários desempenharam um papel fundamental na


administração da justiça nas cidades e vilas coloniais, sendo eleitos localmente e representando
uma forma de justiça local que tratava de questões civis e criminais de maneira eficaz, com
procedimentos simples e execução rápida das decisões.

Além disso, o texto destaca a organização do sistema judicial no Brasil Colonial, desde
os juízes de vintena em aldeias e povoados até a introdução dos juízes de fora como parte da
magistratura profissional. A análise se concentra em detalhes sobre as funções e competências
desses magistrados, bem como em sua importância na administração da justiça colonial.

Principais Pontos:

1. Jurisdição dos Magistrados: Os juízes ordinários, juízes de vintena, juízes de fora e


ouvidores de comarca tinham jurisdição sobre uma ampla gama de casos civis e
criminais, abrangendo desde questões de família e propriedade até contravenções, furtos
de escravos e injúrias verbais.

2. Processo Judicial Oral: O processo judicial no Brasil Colonial era predominantemente


oral, e as sentenças eram executadas imediatamente perante o próprio juiz. Isso permitia
que as partes apresentassem suas alegações sem a necessidade de recursos formais.

3. Execução Imediata: Sentenças de até 600 réis não admitiam recurso, garantindo a
execução imediata das decisões judiciais, o que contribuía para a rapidez da justiça.

4. Papel Fundamental dos Juízes Ordinários: Os juízes ordinários desempenharam um


papel fundamental na administração da justiça nas cidades e vilas coloniais, sendo
eleitos localmente e representando uma forma de justiça local que tratava de questões
civis e criminais de maneira eficaz.
5. Organização do Sistema Judicial: O texto descreve a organização do sistema judicial
no Brasil Colonial, desde os juízes de vintena em aldeias e povoados até a posterior
introdução dos juízes de fora como parte da magistratura profissional.

Em resumo, o sistema judicial no Brasil Colonial era caracterizado por uma hierarquia
de magistrados com jurisdições bem definidas e um processo judicial oral que permitia a rápida
execução das decisões. Os juízes ordinários desempenharam um papel essencial na
administração da justiça local, com foco tanto em questões civis quanto criminais.
REFERÊNCIA:

FERRAZ, Eduardo Luís Leite. As origens do direito no Brasil a partir do século XVI:
uma experiência judicial REVISTA QUAESTIO IURIS, [S. l.], v. 13, n. 02, p. 818–854,
2020. DOI:10.12957/rqi.2020.41029. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/quaestioiuris/article/view/41029. Acesso em: 17 out. 2023.

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