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A controvertida questão do poder de investigação do Ministério Público

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Publicado em 08/2010

Cristiane Pereira Machado

INTRODUÇÃO

A Constituição da República de 1988 trouxe uma "nova" instituição: o Ministério Público, órgão
que se volta à defesa da sociedade e de seus interesses. Deu-lhe instrumentos para cumprir
seus objetivos institucionais, a titularidade exclusiva da ação penal, reservando o alto controle
do aparato repressivo do crime.

A questão proposta refere-se justamente às atribuições do Órgão Ministerial na seara criminal,


mais especificamente, na realização de diligências investigatórias nesse âmbito, tema deveras
controverso, que tem provocado grandes embates de opiniões entre doutrinadores e nos
tribunais pátrios.

A investigação criminal pelo Ministério Público já vem sendo feita, mas há pouco tempo criou-
se uma legislação, ainda que questionável, que regulamentou tal instrumento de persecução
penal.

Diante disso, questiona-se:

O ordenamento pátrio efetivamente permite a prática Ministerial da investigação criminal? Ou


ainda, essa atuação tem conseqüências desfavoráveis à sua utilização? Quais os limites de
uma atuação extravagante do órgão do Ministério Público?

Para abordar o assunto, num primeiro momento, realizar-se-á um breve exame sobre o papel
institucional do Ministério Público, passando à análise das leis pertinentes ao tema e, em
seguida, abordando a controvérsia acerca da sua legitimidade para investigar crimes. Por fim,
ponderar-se-ão os limites dessa atuação no que diz respeito à delimitação de seu âmbito de
ação e à prevenção e repressão de possíveis atos abusivos praticados por seus representantes
– sem deixar de fora a apreciação do direito comparado e dos julgamentos nos tribunais
superiores.

1 BREVES ANOTAÇÕES SOBRE O MINISTÉRIO PÚBLICO

A sociedade, principal preocupação do órgão, não tem uma idéia completa e real do que é e
em que atua o Ministério Público. A definição é clara quando da leitura da Constituição da
República, em seu artigo 127, que diz: "instituição permanente, essencial à função jurisdicional
do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis".
Também assevera seus princípios "institucionais na unidade, na indivisibilidade e na
independência funcional dos seus órgãos", além de lhe assegurar "autonomia funcional e
administrativa", podendo "propor ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e
serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas e de provas e títulos".

1.1 HISTÓRICO

1.1.1 O Surgimento do Ministério Público

Todo e qualquer trabalho de pesquisa precisa passar pelo desenvolvimento histórico do


instituto em análise, para da base histórica, poder compreender como e porque o instituto se
encontra em determinada posição e grau de desenvolvimento. Não poderia ser diferente com o
trabalho sobre o Ministério Público e as atribuições que lhe foram conferidas ao longo dos
anos.

A origem do Ministério Público é divergente na História, não podendo precisar seu surgimento,
em que época, os motivos que ensejaram sua criação, nem como se deu essa instituição.

Alexandre de MORAES esclarece que a maioria dos doutrinadores remetem a origem do


Ministério Público já no antigo Egito, há cerca de quatro mil anos, no funcionário real do Egito
Magiai, que possuía funções de castigar os rebeldes, reprimir os violentos e proteger os
cidadãos pacíficos. [01]

No relato de BERTO VALORI, a respeito de um organismo primitivo com ares de Ministério


Público:

Há 4.000 anos, no Egito, havia uma classe de agentes públicos cujos deveres consistiam em
serem olhos e a língua do Rei; a eles competia castigar os rebeldes, reprimir os violentos e
proteger os cidadãos pacíficos; acolher os pedidos do homem justo e verdadeiro, perseguindo
o malvado e mentiroso; eram como marido para as viúvas e pais para os órfãos; faziam ouvir
as palavras da acusação, indicando as disposições legais aplicáveis em cada caso, além de
lhes competir tomar parte nas instruções para descobrimento da verdade. [02]

Os integrantes desses mecanismos tinham atribuições de auxílio estatal no controle das


atividades da população, buscando manter o controle da criminalidade, recebendo as
denúncias dos ofendidos e aplicando o que seria uma pena, pelo delito cometido.

Além do Egito, a Roma clássica também possuía agentes estatais com esse fim, como afirma
Hugo Nigro MAZZILI:

Não há dúvida de que podemos identificar em alguns funcionários e magistrados antigos,


mesmo na Roma clássica, ou no antigo Egito, ou até no promotor de justiça do direito canônico,
algumas analogias com uma ou outra das atribuições atualmente conferidas ao Ministério
Público. [03]

Buscando a etimologia de palavras utilizadas contemporaneamente, tem-se que a expressão


latina manus, foi derivada até chegar ao termo Ministério, a qual nesse contexto "nas suas
origens o Ministério Público exercia o papel de mão do rei". [04]

Ainda segundo Alexandre de MORAES, nos Éforos de Esparta havia um Ministério Público
rudimentar, os quais tinham por função de contrabalançar o poder real e o poder senatorial,
exercendo o ius accusationis, ou, ainda, nos thesmotetis ou tesmãtetas gregos, forma
rudimentar de acusador público. [05]

O mesmo doutrinador também menciona as origens do Ministério Público na Idade Média, nos
saions germânicos, nos bailios e senescais, ao quais se incumbia a defesa dos senhores
feudais em juízo; ainda nos missi dominici ou gastaldi do direito lombardo ou também no
Gemeiner Anklager (acusador comum) da Alemanha, que tinha a função de exercer a
acusação quando o particular permanecia passivo. [06]

Na França do século XIV, intitulavam-se os integrantes do Ministério Público de procuradores


do rei ou comissários do rei - procurateurs ou procureus du roi -, os quais serviam apenas aos
interesses dos soberanos, que lhes eram seus comandantes. Para a população restava a
posição passiva de ficar sob vigilância desses funcionários.

Em 1302, coube à França criar o Ministério Público, referindo-se aos procuradores do rei. Em
1690, um decreto na França atribuía vitaliciedade aos agentes do Ministério Público. [07]

A França, na vanguarda da criação de tal instituto, foi o primeiro país a instituir concretamente
o Ministério Público mais próximo ao que se tem hodiernamente. Após a Revolução Francesa,
este modelo foi sendo adotado por toda a Europa e, em seguida, se estendendo por outros
continentes como a América, até ter ares de instituição mundial. [08]

A figura do procurador da Coroa existiu em Portugal, no reinado de Afonso III, em 1289.


Igualmente, em 1387, o Rei Don Juan I criou "El Ministério Fiscal", que guardava certa
semelhança com o Ministério Público atual.

1.1.2 O surgimento do Ministério Público no Brasil

O direito brasileiro, por óbvio, sempre foi fortemente influenciado pelo direito português, o qual
trazia as novas ideias européias. Por este motivo, o Ministério Público brasileiro foi decorrente
daquele implantado em Portugal. Ainda podem-se encontrar algumas referências nas
Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas.

A primeira legislação nacional que se referiu ao Ministério Público é o diploma de 09 de janeiro


de 1609, que disciplinava a composição do Tribunal da Relação do Brasil, sediado na Bahia.
Neste Tribunal, havia o Procurador da Coroa e o Promotor de Justiça, que era exercido por um
dos dez desembargadores que compunham a Corte.

No período do Império, o Órgão Ministerial tinha alusão apenas no Código de Processo


Criminal, sem qualquer nota constitucional.

Somente com a primeira Constituição Imperial de 1824, foi criado o Supremo Tribunal de
Justiça e os Tribunais de Relação, cujos nomeados exerciam os cargos de Desembargadores e
Procuradores da Coroa, sendo estes últimos os Chefes do Parquet. Não houve um tratamento
detalhado do Órgão, limitando-se a estabelecer que a acusação dos crimes em juízo seria feita
pelo Procurador da Coroa e Soberania Nacional.

No Código de Processo Criminal do Império de 1832, o Ministério Público teve trato mais
adequado no ordenamento jurídico, estabeleceu-se que seriam promotores de justiça as
mesmas pessoas habilitadas para ser jurados. O artigo 36 do referido código determinava que
tais pessoas deveriam ter conhecimento de leis, preferencialmente, fato que restringia
consideravelmente o número de pessoas capazes de exercer tal atividade, pois conheciam as
leis nacionais aqueles que votavam e possuíssem bom senso reconhecido e probidade,
conforme dispunha o artigo 23 do mesmo diploma.

Já o artigo 37 do Código de Processo Criminal do Império dispunha sobre as atribuições do


Promotor de Justiça. [09] Dentre os quais: denunciar os crimes públicos e policiais, de redução à
escravidão de pessoas livres, cárcere privado ou homicídio ou tentativa, roubo, calúnia, injúria,
bem como acusar os delinqüentes perante os jurados, solicitar a prisão e punição dos
criminosos e promover a execução de sentenças e mandados judiciais, tudo conforme o
parágrafo segundo do artigo 37. Além disso, informar às autoridades negligências, omissões e
prevaricações dos funcionários públicos na administração da justiça, conforme o parágrafo
terceiro.
Apesar de todo esse avanço da instituição, a expressão Ministério Público só é empregada
pela primeira vez no Brasil no Decreto nº 5.618, de 2 de maio de 1874.

Em 1889, com um movimento eminentemente militar, o Brasil passou de Estado Unitário


governado pela Monarquia Parlamentarista, tornando-se uma República Federativa
Presidencialista. A par de tais fatos a Instituição Ministerial no Brasil foi efetivamente
reconhecida com o advento do Decreto nº 1.030, de 14 de novembro de 1890.

Alexandre de MORAES assevera que o Presidente Campos Salles foi o precursor da


independência do Ministério Público no Brasil, com a edição do Decreto n° 848, de 11 de
outubro de 1890, expedido para a reforma da justiça no Brasil. Ainda em 1890, como Decreto
nº 1.030, o Ministério Público surgiu como Instituição necessária. [10]

Em conseqüência dessa transformação política houve pela primeira vez a instituição de uma
Constituição promulgada, em 24 de fevereiro de 1891. Apesar do sistema político instituído,
não houve grande preocupação com o trato com o Ministério Público, não havendo
reconhecimento da condição de um órgão autônomo, dispondo apenas no seu artigo 58,
parágrafo segundo, que o Procurador Geral da República seria escolhido pelo Presidente da
República entre os Ministros do Supremo Tribunal Federal. [11]

Assim dispunha o §2º do artigo 58:

O Presidente da República designará, dentre os membros do Supremo Tribunal Federal, o


Procurador Geral da República, cujas atribuições se definirão em lei.

Aos poucos o Órgão desenvolveu-se ainda mais em suas atribuições. Na esfera penal, como
órgão acusador e, em seguida também no âmbito cível, no que se tem até hoje, como órgão de
intervenção na fiscalização da lei (custos legis).

A Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, quebrou a ordem constitucional vigente.
Com a instalação de um governo provisório, e eleita uma Assembléia Nacional Constituinte, foi
promulgada a terceira Constituição brasileira em 14 de julho de 1934.

Observe-se que tal carta política foi a primeira a realmente institucionalizar o Ministério Público,
conferindo-lhe um capítulo próprio, intitulado "dos órgãos de cooperação nas atividades
governamentais", que dos artigos 95 a 98 tratavam e definiam a razão da existência do
Ministério Público, determinando, de modo geral, a sua competência funcional. Estabelece
ainda, a existência do Ministério Público da União, do Distrito Federal e Territórios, e dos
Estados, a serem organizados por lei, tornando também necessário o concurso público para
ingresso na carreira e a estabilidade e vedações aos seus membros.

Importa ressaltar os seguintes progressos: estabilidade dos membros do Parquet;


regulamentação do ingresso na carreira; e paridade de vencimentos do Procurador Geral da
República com os dos Ministros da Suprema Corte.

Ao Procurador Geral da República, nos termos do parágrafo primeiro do artigo 95, foram
atribuídas as seguintes atribuições e prerrogativas:

O Chefe do Ministério Público Federal nos juízos comuns é o Procurador-Geral da República,


de nomeação do Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, dentre cidadãos
com os requisitos estabelecidos para os Ministros da Corte Suprema. Terá os mesmos
vencimentos desses Ministros, sendo, porém, demissível ad nutum.

Com o advento do Estado Novo, e mais precisamente com a carta Constitucional de 1937,
começou mais um novo regime de cerceamento de liberdades e garantias individuais. Nela o
Ministério Público foi praticamente extinto do ordenamento constitucional e do próprio cenário
político.
Houve ainda um retrocesso com o fim da garantia de estabilidade funcional e de paridade de
vencimentos.

O artigo 99 da referida constituição restringia-se em fixar a nomeação e exoneração do


ocupante do cargo de Procurador Geral da República como de livre escolha pelo Presidente. A
nomeação da pessoa escolhida deveria atender aos requisitos exigidos para a nomeação ao
cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal.

No artigo 101, parágrafo único estabelecia-se a possibilidade de interposição de recursos pelo


Ministério Público, e no artigo 105 estipulou-se o chamado "quinto constitucional" a ser aplicado
nos tribunais superiores.

Em 18 de setembro de 1946, com o restabelecimento da democracia, é promulgada a quinta


Constituição brasileira, ocupando-se em restituir o Ministério Público, dando-lhe nova forma.

As disposições referentes à matéria ficaram nos artigos 125 a 128 da Carta Magna, cujo título
era o nome da própria instituição, dispondo sobre sua organização. A escolha do Procurador-
Geral da República, a forma de ingresso na carreira, mediante concurso público e as garantias
de estabilidade e inamovibilidade de seus membros.

Como atribuição mais moderna foi conferido ao Procurador Geral da República o poder de
representar pela inconstitucionalidade de leis e atos normativos, e ainda de maior vanguarda foi
a outorga de competência em aprovar a escolha do Procurador Geral, realizada em um
primeiro momento pelo Chefe do Poder Executivo, mas sancionada pelo Senado, conforme
estabeleceu os artigo 63, inciso I e o artigo 126.

Com o golpe militar de 1964, a Constituição de 1946 sofre um abalo pois, embora vigente,
passou a conviver com uma normatividade paralela: os Atos Institucionais.

A fixação deste Órgão dentro da concepção clássica montesquiana de separação dos poderes,
sofreu grandes mudanças no tempo, ora porque não se enquadrava perfeitamente dentro de
uma só dessas concepções, ora porque era entendido como órgão autônomo.

Em 1967, o Ministério Público integrava o Poder Judiciário. Já com o advento da Emenda


Constitucional nº 01 de 1969, passou a pertencer ao Poder Executivo.

Com o regime militar produziu-se a necessidade de instituir uma constituição que assegurasse
as pretensões militares, e ainda, impedisse as contestações populares. Nesse contexto cria-se
a Carta de 24 de janeiro de 1967, a sexta do Brasil. Nesta nova ordem, o Ministério Público foi
deslocado para o Poder Judiciário, em posição de subordinação a este.

Logo em seguida, nesse período conturbado da história nacional, adveio o conhecido Ato
Institucional nº. 5, de 13 de dezembro de 1968, o qual suspendeu a vigência da Constituição de
1967, conferindo poderes totalitários ao Presidente da República, suspendendo os direitos
públicos e privados.

Considerada materialmente a sétima constituição nacional, em 17 de outubro de 1969, entrou


em vigor a vasta Emenda Constitucional n.º 1, entendida como uma nova Constituição
outorgada, elaborada por uma junta militar composta de três membros. Nela, mais uma vez
mudou-se o posicionamento do Ministério Público dentro do ordenamento jurídico, colocado no
capítulo atinente ao Poder Executivo.

O movimento das Diretas Já pôs fim ao regime militar, sendo consolidado com a promulgação
da Constituição Democrática de 5 de outubro de 1988, que consagra o Ministério Público como
instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado.
Somente após a Constituição de 1988 é que se observa um real e completo desenvolvimento
institucional, estabelecendo a Lei Maior atribuições que elevaram o Ministério Público, ao lado
das suas já tradicionais tarefas.

À Lei que completaria os contornos do órgão, ficou reservado apenas, dispor sobre sua
organização e funcionamento.

1.2 O MINISTÉRIO PÚBLICO E A CONSTITUIÇÃO ATUAL

Como a Constituição de 1988 colocou o Ministério Público em um capítulo próprio, discute-se


se ele estaria vinculado ao Poder Judiciário ou ao Poder Executivo, ou ainda, se seria um
quarto poder. Na verdade esta discussão é inútil, vez que não importa a vinculação do órgão
ministerial, já que ele não deve subordinação a nenhum outro órgão, sendo-lhe asseguradas
autonomia funcional e administrativa (art. 127, § 2.º), e iniciativa orçamentária (art. 127, § 3.º).

Segundo QUIROGA LAVÉ,

Quando se fala em órgão independente com autonomia funcional e financeira afirma-se que o
Ministério Público é um órgão extrapoder, ou seja, não depende de nenhum dos poderes do
Estado, não podendo nenhum de seus membros receber instruções vinculantes de nenhuma
autoridade pública. [12]

Os membros do Ministério Público são agentes políticos e, como tais, devem atuar com ampla
liberdade funcional, sem condicionantes, que não sejam os parâmetros legais dos casos
submetidos a sua apreciação e pelas suas consciências. Tal responsabilidade implica na
necessidade de garantias, prerrogativas e deveres, os quais foram tratados pela Constituição
atual.

Gozam de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios, que se reflete em


garantias para que o promotor exerça suas atividades com efetiva independência de pressões
políticas, econômicas e institucionais, sem subordinação ideológica ou intelectual, devendo
atuar segundo os ditames legais.

Incumbe ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica, do regime democrático de direito e


dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, da Constituição da República).

Neste contexto, ressalta-se o crescimento da importância e das atribuições do Ministério


Público ao longo do tempo. Nota-se, também, que em decorrência lógica do regime político de
cada época, altera-se o tamanho do poder atribuído ao órgão. Não por acaso que as
Constituições Democráticas representaram avanços para a instituição, enquanto que, nos
momentos ditatoriais, subordinou-se e suprimiram-se os poderes do Ministério Público.

O Ministério Público de hoje é órgão governamental com mais amplos poderes, tamanha é sua
responsabilidade que é chamado "fiscal da aplicação da Lei".

Nagib SLAIBI FILHO, esclarece: [13]

O Ministério Público brasileiro, com a moldura e a consistência que lhe foi dada pela
Constituição de 1988, bem representa a contradição decorrente de tais influências, pois: (a)
dos Estados Unidos, herdou a desvinculação com o Poder Judiciário, a denominação de sua
chefia, o controle externo de determinadas atividades administrativas ligadas ao Poder
Executivo, o resquício de poder participar da política partidária, ainda que em hipóteses
restritas previstas em lei, a postura independente que aqui somente se subordina à consciência
jurídica de seu membro, como, aliás, está na Lei Maior ao assegurar sua autonomia funcional e
administrativa (art. 127); (b) da Europa continental, herdou a simetria da carreira com a
magistratura, inclusive com as prerrogativas similares, o direito de assento ao lado dos juízes,
as vestes próprias e até mesmo o vezo de atuar como se magistrado fosse, embora devesse
ter o ardor do advogado no patrocínio da causa. O Ministério Público desenvolveu-se sob a
influência do Novo e Velho Mundo, e da simbiose, vem a sua força.

A instituição somente tomou grande e definitiva importância com a Constituição da República


de 1988, em que passou a ocupar posição autônoma, ainda que pertencente ao Poder
Executivo, mas exercendo suas atribuições com independência funcional e administrativa
plena, que interferem em todo o contexto nacional, nos interesses sociais e individuais
indisponíveis e a tutela dos interesses difusos.

1.3 PRINCÍPIOS

Sabe-se que é pela fixação de determinados princípios de ordem constitucional, ou até mesmo
de ordem supra constitucional, que o ordenamento jurídico estabelece os limites interpretativos
e integrativos do sistema.

O princípio orienta a formação de outras normas, em seu conteúdo, operando a auto integração
do sistema. Norberto Bobbio a isso denomina normas de primeiro grau e as seqüências do
sistema escalonado, de segundo grau. São elas captadas por dedução do ordenamento
normativo, operando a autolimitação e auto- integração, para evitar o aparecimento de lacunas
no direito. [14]

São princípios institucionais do Ministério Público, previstos na Constituição da República, a


unidade, a indivisibilidade, a independência funcional e o do promotor natural.

1.3.1.Princípio da Unidade

O princípio da unidade diz respeito ao fato de ser o Ministério Público "uno" como instituição.
Segundo este princípio, o Ministério Público é um só órgão, sob a direção única de um
Procurador-Geral.

Entretanto, é inegável que a existência do Ministério Público na esfera da União e do Ministério


Público na esfera dos Estados-Membros, leva-nos à constatação que haverá unidade dentro de
cada um desses órgãos do Ministério Público, sem que haja a subordinação ou até mesmo
relação funcional entre eles. Desta forma, o Ministério Público da União abrange o Ministério
Público Federal, do Trabalho, Militar e do Distrito Federal e territórios, todos chefiados pelo
Procurador-Geral da República, conservando, cada um deles sua unidade. [15]

Cada Estado-Membro possui o seu Ministério Público, chefiado pelo respectivo Procurador-
Geral de Justiça, inexistindo qualquer relação entre eles, embora todos façam parte da mesma
Instituição em sentido amplo.

1.3.2 Princípio da Indivisibilidade

Este princípio encontra-se disposto no artigo 127, parágrafo 1º, da Constituição da República, e
decorre do princípio anteriormente exposto de que a Instituição do Ministério Público possui
unidade. Em conseqüência disso tem-se que pode haver a substituição de um membro do
Ministério Público em um mesmo processo sem que haja nenhum prejuízo.

Assim, o Ministério Público é uno porque seus membros não se vinculam aos processos nos
quais atuam, podendo ser substituídos uns pelos outros de acordo com as normas legais.
Importante salientar que a indivisibilidade resulta em verdadeiro corolário do princípio da
unidade, pois o Ministério Público não pode subdividir-se em vários outros ministérios públicos
autônomos e desvinculados uns dos outros. [16]

Conforme o entendimento de Emerson Garcia, tal princípio apresenta "uma relação de


continência com o da unidade", pois a instituição do Ministério Público se apresenta como una
e indivisível. [17]
A indivisibilidade indica, ainda, que o posicionamento adotado por um de seus membros
vinculará toda a instituição.

1.3.3 Princípio da Independência

O órgão do Ministério Público é independente no exercício de suas funções, somente devendo


prestar contas de seus atos à Constituição, às leis e à sua consciência.

Infere-se de tal princípio que cada membro do Ministério Público possui total liberdade para a
formação de seu convencimento técnico, não sendo vinculado a nenhum outro órgão estatal,
nem mesmo à vontade de seus superiores hierárquicos.

Os órgãos de administração superior do Ministério Público podem editar recomendações sobre


a atuação funcional para todos os integrantes da Instituição, mas sempre sem caráter
normativo.

Quanto a autonomia financeira, ainda gera alguma divergência doutrinária, segundo Kildare
GONÇALVES CARVALHO, "não fala a Constituição expressamente em autonomia
orçamentária e financeira, restando, pois a controvérsia. Entende, contudo, Hugo NIGRO
MAZZILLI que o Ministério Público dispõe de tal autonomia, que é inerente aos órgãos
funcionalmente independentes." [18]

Ademais, tal autonomia encontra-se estatuída no artigo 3º da Lei nº 8.625/1993, ao dispor que:
"Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional, administrativa e financeira."

Como ensina Quiroga LAVIÉ, [19] quando se fala de um órgão independente com autonomia
funcional e financeira, afirma-se que o Ministério público é um órgão extra poder, ou seja, não
depende de nenhum dos poderes de Estado, não podendo quaisquer de seus membros
receber instruções vinculantes de nenhuma autoridade pública.

A Constituição da República corroborou com a independência e autonomia do Ministério


Público ao considerar crime de responsabilidade do Presidente da República a prática de atos
atentatórios ao livre exercício da Instituição. [20]

1.3.4 Princípio do Promotor Natural

O princípio do Promotor Natural é fruto de ampla discussão doutrinária no afã de conferir


caráter de ato vinculado ao ato de designação do Promotor de Justiça pelo Chefe do Ministério
Público, delimitando os seus poderes, a fim de impedir nomeações arbitrárias, capazes
prejudicar o acusado.

Assim, designação do Procurador Geral de Justiça é ato vinculado, uma vez que na própria Lei
Orçamentária do Ministério Público, art. 10, IX, vem elencadas todas as hipóteses que se pode
designar Promotores de Justiça.

De acordo com Celso SPITZCOVSKY, "este princípio proíbe as designações casuísticas


efetuadas pela chefia da Instituição com a criação da figura do promotor de exceção. Desta
forma, objetiva-se garantir a imparcialidade da Instituição, tanto em sua defesa como da
sociedade que representa." [21]

O Plenário do Supremo Tribunal Federal reconheceu em alguns julgados a existência deste


princípio, entendendo serem proibidas designações casuísticas efetuadas pelo chefe da
Instituição, as quais criariam a figura do promotor de exceção, em incompatibilidade com a
Constituição da República, pois somente o promotor natural deve atuar no processo, garantia à
proteger, principalmente, a imparcialidade da atuação do promotor de justiça, tanto em sua
defesa quanto essencialmente em defesa da sociedade, que verá a Instituição atuando técnica
e juridicamente.
Para elucidar o assunto, tem-se o voto do Ministro Celso de MELLO, que já se manifestou
sobre o tema: [22]

O postulado do Promotor Natural, que se revela imanente ao sistema constitucional brasileiro,


repele, a partir da vedação de designações casuísticas efetuadas pela Chefia da Instituição, a
figura do acusador de exceção. Esse princípio consagra uma garantia de ordem jurídica,
destinada tanto a proteger o membro do Ministério Público, na medida em que lhe assegura o
exercício pleno e independente do seu ofício, quanto a tutelar a própria coletividade, a quem se
reconhece o direito de ver atuando, em quaisquer causas, apenas o Promotor cuja intervenção
se justifique a partir de critérios abstratos e pré-determinados, estabelecidos em lei. A matriz
constitucional desse princípio assenta-se nas cláusulas da independência funcional e na
inamovibilidade dos membros da Instituição. O postulado do Promotor Natural limita, por isso
mesmo, o poder do Procurador-Geral que, embora expressão visível da unidade institucional,
não deve exercer a Chefia do Ministério Público de modo hegemônico e incontrastável. Posição
dos Ministros Celso de Mello (relator), Sepúlveda Pertence, Marco Aurélio e Carlos Velloso.

No entanto, mesmo com vários julgados em que é mencionado e reconhecido o princípio do


promotor natural, existem, ainda, divergências.

Concluindo, o Ministério Público é uma instituição a qual a Constituição de 1988 atribuiu grande
importância para a sociedade e para o Estado, tornando-se hoje, um órgão Estatal
administrativo, com total autonomia e independência, tendo como finalidade, fiscalizar o fiel
cumprimento e aplicação das leis, além de zelar pelos direitos e garantias fundamentais do
cidadão, auxiliando na busca constante da sociedade pelo Estado Democrático de Direito.
Após este breve estudo, é possível, ter um panorama geral do Ministério Público.

2 INVESTIGAÇÃO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO

Insta salientar que, em que pese a discussão sobre a legitimidade da investigação presidida
diretamente pelo Ministério Público, certo é que na prática ela acontece, mas não é a regra,
ocorrendo apenas em situações específicas. Para os fins a que se destina esse trabalho,
classifica-se, desde logo, as situações excepcionais em três grupos, de acordo com o estágio
da apuração dos fatos.

A investigação direta originária se dá quando o Ministério Público inicia uma apuração de um


crime por sua responsabilidade, sem que para isso haja envolvimento policial, ainda que, em
algum momento da investigação venha a requisitar o auxílio desta.

Em vista das garantias constitucionais e independência funcional, o Ministério Público utiliza-se


da investigação direta quando, por exemplo, o autor do fato é alguém capaz de exercer
pressões contra a apuração policial, a qual não possui todas as prerrogativas e garantidas
conferidas ao Ministério Público.

Não se olvide que a polícia goze de importância e seriedade, contudo é a instituição mais
próxima do mundo do crime, e que, ao contrário do que seria o ideal, mais sujeita à pressões
de toda a ordem, vez que vinculada ao Poder Executivo e sem as garantias concedidas a
promotores e juízes, que lhes confere autonomia funcional.

Cumpre asseverar que ao Ministério Público e à Magistratura tais garantias foram conferidas
exatamente para assegurar à sociedade e ao próprio ocupante do cargo a independência que
tais funções devem ter.

Por este motivo o Ministério Público utiliza-se de suas garantias para assegurar que a
investigação criminal vá até seu deslinde sem ingerências indevidas.
A fim de aclarar tal idéia foi amplamente divulgado na imprensa nacional, o caso envolvendo
Duda Mendonça, pessoa que cuidava do marketing do Presidente Lula. Após sua prisão por
promover e participar de uma rinha de galo, dois policiais federais que participaram da ação
foram ameaçados de transferência e o Delegado responsável foi afastado de sua chefia. Mais
recentemente, o Delegado Federal Antônio Rayol, autor do flagrante, foi indiciado pela Polícia
Federal, acusado de "concorrer para escândalo público" e "arranhar publicamente a reputação
da Polícia Federal". [23] Assim, o investigador passou a ser o investigado.

Ademais, comum é o caso em que a notícia do crime chega diretamente ao promotor por uma
testemunha ou vítima, que através de promotorias especializadas e hábeis a atender ao público
em geral, se dirigem as pessoas que precisam de uma orientação jurídica do caso, cujo auxílio
depende o início das investigações.

Não se pode esquecer também que há delitos, especialmente na esfera federal, em que o
aparato necessário para desvendar o delito, só é conseguido pelo Ministério Público, pela
verba deveras maior que a destinada à polícia. Nesses casos, entende-se que busca o
Ministério Público, auxiliando os demais órgãos públicos, por ter mais condições operacionais
para o deslinde do fato.

Por fim, como no caso do Inquérito 1.968-DF, levado ao Supremo Tribunal Federal, a
investigação já chega finalizada ao Ministério Público, que apenas busca confirmar os dados
recebidos.

Na intitulada investigação direta derivada a iniciativa também é pelo próprio Ministério Público,
contudo este tem conhecimento de um determinado delito através de outro tipo de
procedimento decorrente de sua atuação, seja de natureza cível, trabalhista, fiscal ou criminal.

Na atuação do Ministério Público em outros âmbitos do direito, pode ocorrer do promotor de


justiça, se deparar com uma situação que se configura crime. Neste caso, pode o Ministério
Público determinar a abertura de inquérito policial ou denunciar diretamente, se já possuir
provas suficientes de materialidade e autoria. Pode ser, por outro lado, que o promotor do caso
entenda ser aconselhável a apuração do crime de maneira direta.

Finalizando, a investigação direta revisora ocorre quando o Ministério Público procura confirmar
as informações e conclusões fornecidas pela polícia, fazendo uma análise se o procedimento
investigatório já esta hábil a ensejar uma denúncia.

Nesta suposição, o inquérito policial é concluído e relatado, sendo em seguida encaminhado ao


Ministério Público. Neste momento, o promotor tem três alternativas, a escolher uma: a)
oferecer denúncia; b) promover o arquivamento; ou, c) requisitar outras diligências.

Há que se observar que pode ocorrer em algum caso específico que reste dúvida quanto a uma
prova ou testemunho, ou até mesmo da conduta da polícia durante a investigação. Assim, na
investigação revisora, o Ministério Público vai requisitar informações, ouvir testemunhas e
realizar diretamente todas as diligências que entender necessárias para formar sua opinio
delicti, como destinatário da prova colhida e, eventualmente, como fiscal externo da atividade
policial.

Deve-se ressaltar, entretanto, que esta classificação atende apenas aos casos de investigação
pré-processual, sendo que, por vezes, o Ministério Público tem acesso a um documento ou
testemunho durante o processo penal.

2.1 A Primeira Investigação Criminal pelo Ministério Público no Brasil

Segundo Paulo RANGEL, [24] na época do regime militar, o Delegado de Polícia Sérgio
Fernando Paranhos Fleury, homem forte no sistema de segurança pública do Estado de São
Paulo, liderava o chamado "Esquadrão da Morte", grupo armado ligado ao tráfico de drogas e a
execuções sumárias.
O Ministério Público à época não tinha independência funcional, o que lhe permitia ser
pressionado pelos donos do poder. Ademais, Fleury era tinha muita influência no cenário
político, sendo inclusive muito ligado ao Presidente Médici, com o qual havia feito uma aliança
para combater a subversão.

Enquanto o Esquadrão da Morte atuava nenhuma medida coercitiva estatal era tomada, até
que com a pressão internacional, e a insistência do Procurador de Justiça Hélio Bicudo iniciou-
se uma investigação do caso.

Designado para realizar, pessoal e diretamente, as investigações criminais sobre as atividades


do grupo, Hélio Bicudo instaurou vários processos contra Fleury. Entretanto, em vista do
grande poder exercido por Fleury, o Procurador foi afastado das investigações e foi aprovada a
Lei 5941/73, que ficou conhecida como Lei Fleury, a qual foi encomendada para garantir a
liberdade provisória do Delegado caso o processo realmente tivesse seguimento. O Delegado
conseguiu com sua influência política encerrar a investigação criminal.

Este caso, à propósito do tema, permite observar que o Ministério Público realizou investigação
criminal direta em 1973, durante o regime militar e quando ainda não possuía a maioria de suas
modernas atribuições, bem como não tinha garantias constitucionais, como a inamovibilidade, o
que facilitou o encerramento das investigações criminais, conforme os interesses do governo,
mas foi o marco inicial da atividade investigativa do Ministério Público no Brasil.

3. A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DO PODER DE INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO


PÚBLICO

3.1 ARGUMENTOS PARA A INCONSTITUCIONALIDADE

A posição daqueles que se opõem à investigação pelo Ministério Público é composta de um


conjunto de argumentos que podem ser ordenados em três tópicos principais.

O primeiro trata da interpretação das disposições constitucionais e infraconstitucionais


pertinentes. O segundo concentra-se na análise dos elementos históricos de interpretação, e o
terceiro é ligado a compreensão prática do problema.

3.1.1 Ilegitimidade constitucional e infraconstitucional

O artigo 144, § 1º, I e IV, e § 4º, da Constituição atribui de forma expressa às Polícias Federal e
Civil a apuração de infrações penais. A Polícia, portanto, é a autoridade competente para
proceder a investigações criminais, como exigido pela garantia constitucional do devido
processo legal (art. 5º, LIII, da Constituição da República). A Constituição atribui ao Ministério
Público a função de exercer o controle externo da atividade policial (art. 129, VII) e não o de
substituí-la. A Constituição de 1988 não permite a figura do promotor investigador. [25]

Para o doutrinador Luís Guilherme VIEIRA o escopo do inciso VI do art. 129 da Constituição da
República (que atribui ao Ministério Público poderes para expedir notificações nos
procedimentos administrativosde sua competência, requisitando informações e documentos
para instruí-los) está restrito aos inquéritos civis públicos e outros também de natureza
administrativa, como os preparatórios de ação de inconstitucionalidade ou de representação
por intervenção. O inquérito criminal é disciplinado em inciso diverso (VIII) e quanto a ele a
atuação do Parquet se limita à requisição de instauração do próprio inquérito e de diligências
investigatórias. [26]

Assevera Jacinto de Miranda COUTINHO: [27]

A competência para promover a ação penal (artigo 129, I) não engloba a investigação criminal
– esta competência não é um minus em relação àquela. Trata-se, na verdade, de uma
competência diversa e que foi atribuída de forma expressa pelo constituinte a outro órgão. Não
se aplica aqui, portanto, a lógica dos poderes implícitos, pela qual o órgão a quem compete o
mais, compete igualmente o menos.

[28]
Nesse sentido, também é o posicionamento de Luiz Antonio ZAVATARO:

Um outro argumento (não menos infundado) tem sido apresentado pelos Promotores de
Justiça, é o de que "quem pode o mais, pode o menos". Querem com isto dizer que se podem
denunciar alguém na qualidade de titulares da ação penal, também podem investigar, produzir
e coletar provas. Não é assim. O sistema jurídico nacional exige que quem apura, não acuse, e
que quem acusa, não julgue. Seria lícito, por acaso, que o juiz oferecesse denúncia, já que
"pode o mais", que é julgar?

Em decorrência dos argumentos expostos acima, entende-se que a atribuição de competência


investigatória ao Ministério Público depende de prévia emenda constitucional. Uma vez que, a
legislação infraconstitucional atualmente em vigor, em especialmente a Lei Complementar nº
75/93 e a Lei nº 8.625/93 não atribuiu ao Ministério Públicoessa competência e ela
simplesmente não pode ser extraída diretamente do texto constitucional.

3.1.2 Elementos históricos

No Brasil, historicamente, a competência para realizar as investigações preparatórias da ação


penal sempre foi da Polícia.

Em várias ocasiões tentou-se modificar esse regime, mas as propostas foram rejeitadas. Isso
foi o que aconteceu quando, em 1935, se procurou instituir juizados de instrução, proposta
apresentada pelo então Ministro da Justiça, Vicente Ráo. O mesmo se passou, em várias
ocasiões, quando se tentou conferir atribuições investigatórias ao Parquet; propostas nessa
linha foram rejeitadas na elaboração da Constituição de 1988, nas discussões que deram
origem à Lei Complementar relativa ao Ministério Público, em 1993, e também nos debates que
envolveram as propostas de emendas constitucionais discutidas em 1995 e 1999.
Especificamente nas discussões da assembléia constituinte, o texto aprovado pretendia
exatamente manter as investigações criminais como atribuição exclusiva da polícia judiciária.
[29]

Encontra-se hoje no Congresso Nacional a Proposta de Emenda Constitucional nº 197,


proposta em setembro de 2003, cujo objetivo é "dar nova redação ao inciso VIII do artigo 129
da Constituição da República que dispõe sobre as funções institucionais do Ministério Público",
o qual passaria a dispor: "[Cabe ao MP] promover investigações, requisitar diligências
investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas
manifestações processuais."

Assim, mais uma vez vê-se que caso entenda-se interessante que o Ministério Público passe a
atuar na fase preliminar da persecução penal, certo é que uma mudança legislativa deve ser
articulada, o que leva a conclusão por outro lado que atualmente não se tem legitimidade em
tal atuação Ministerial.

3.1.3 A Concentração de Poder ao Ministério Público

Há toda uma questão prática, em se entendendo que prevaleça o entendimento de ser possível
a investigação criminal pelo Ministério Público, vez que se perderia a prerrogativa de
impessoalidade do referido Órgão, além do risco deste ficar acima de qualquer controle Estatal,
contribuindo para o abuso de poder.

Assim, aduzem os doutrinadores que concentrar no Ministério Público atribuições


investigatórias, além da competência para promover a ação penal, é de todo indesejável. Estar-
se-ia conferindo excessivo poder a uma única instituição, que praticamente não sofre controle
por parte de qualquer outra instância, favorecendo assim condutas abusivas. [30]
Nesta esteira, acrescenta Miranda COUTINHO:

A concentração de atribuições prejudica a impessoalidade e o distanciamento crítico que o


membro do Ministério Público deve manter no momento de decidir pelo oferecimento ou não da
denúncia. É apenas natural que quem conduz a investigação acabe por ficar comprometido
com o seu resultado.

Também há que se considerar que os promotores/investigadores são suscetíveis do


cometimento de erros, por ação ou omissão, já que a falibilidade é inerente ao ser humano. [31]

Para Roberto BARROSO a ausência de qualquer balizamento legal para esse tipo de atuação
por parte do Ministério Público, para além de impedir a própria atuação em si, sujeita os
envolvidos ao império dos voluntarismos e caprichos pessoais. [32]

Concluindo assim, que o Ministério Público já dispõe de instrumentos suficientes para suprir
deficiências e coibir desvios da atuação policial, não necessitando, nem sendo conveniente, ele
diretamente, exercer essa função.

3.2 ARGUMENTOS PARA A CONSTITUCIONALIDADE

Aqueles doutrinadores que entender haver legitimidade do Ministério Público em investigar


balizam suas teses, inicialmente, no fato de não se pretender que o Órgão passe a presidir o
inquérito policial. Mas, de outro lado, que realize suas próprias investigações criminais. Volta-
se, nesse ponto, ao fato que investigação criminal é "qualquer conjunto de atos de natureza
processual instrumentalizadores ou preparatórios de eventual futura ação penal." [33] E o
inquérito policial "é uma espécie do gênero investigação criminal, sendo apenas aquele
procedimento de atribuição exclusiva da Polícia." [34]

Como aduzem os doutrinadores Lênio STRECK e Luciano FELDENS, a explicitação acerca do


sentido corrente (e razoável) da expressão investigar tem o condão de inserir o debate
definitivamente no âmbito da linguagem (e, portanto, no linguistic turn ocorrido na filosofia no
decorrer do século XX). Parece evidente que as palavras não carregam um sentido em si
mesmas. As palavras não refletem a essência das coisas. [35]

Parte-se, portanto, da premissa de que cada entendimento utilizará as palavras dispostas nos
textos legais de acordo com sua hermenêutica, a fim de dar o significado pretendido.

Isso posto, passa-se ao exame dos fundamentos que legitimam o exercício do poder
investigatório criminal pelo Ministério Público.

Por esse lado colacionam-se os principais argumentos de alguns doutrinadores que se filiam a
esta corrente.

3.2.1 Legitimidade constitucional, orgânica e legal da função investigatória

O inciso I do artigo 129 da Constituição da República atribuiu ao Ministério Público a


titularidade privativa da ação penal pública e o inciso II lhe conferiu o dever de promover as
medidas necessárias para garantia do efetivo respeito aos Poderes Públicos e aos direitos
assegurados na Carta Magna.

Atividade fim do Ministério Público na esfera criminal, a promoção da ação penal também está
prevista no inciso III do artigo 25 da Lei n° 8.625/93 e no inciso V do artigo 6° da LC n° 75/93.
Para propô-la, há necessidade de determinados subsídios, e a colheita destes é o núcleo da
controvérsia.

Entende-se, por este lado, que a Constituição fornece, ao Ministério Público, plena autonomia
para apurar os fatos necessários ao oferecimento da denúncia.
Com efeito, o inciso VI do artigo 129 da Magna Carta autoriza expressamente a expedição de
notificações "nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações
e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva", e o inciso VIII, a
requisição de diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, "indicados os
fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais".

Para FELDENS: [36]

O instrumento da requisição consubstancia, para além de uma simples solicitação, uma


exigência legal ao seu destinatário, conquanto não se faça dotado do atributo da coercibilidade,
próprio das decisões judiciais. E não poderia ser diferente. A prestação de informações e
documentos respeitantes ao próprio objeto da investigação não poderia situar-se na esfera de
maior ou menor inoponobilidade – ou ‘boa vontade’ – do destinatário da requisição, sob pena
de ver-se frustrada a lógica e sistemática estrutura – repita-se, de densidade constitucional –
na qual foi concebido o poder requisitório.

Na mesma esteira está a disposição do artigo 47 do Código de Processo Penal, ao afirmar que:
se o Ministério Público julgar necessários maiores esclarecimentos e documentos
complementares ou novos elementos de convicção, deverá requisitá-los, diretamente, a
quaisquer autoridades ou funcionáriosque devam ou possam fornecê-los.

[37]
Neste ponto, pertinente a indagação de Rômulo Andrade MOREIRA:

Pergunta-se: para que serviriam essas notificações ou as informações e os documentos


requisitados senão para instruir procedimento administrativo investigatório? "É evidente que
nenhuma lei traz palavras ou disposições inúteis (é regra de hermenêutica), muito menos a Lei
Maior."

Outra atribuição do Ministério Público a ser evidenciada é o controle externo da atividade


policial – "verdadeira função-princípio (ou guardiã de princípios), pois visa resguardar preceitos
fundamentais elencados na Carta Magna", [38] previsto no inciso VII do artigo 129 da
Constituição da República e pelos artigos 3° e 9° da Lei Complementar n. 75/93.

Nessa atividade, fica eminente que somente o Ministério Público poderia colher provas em face
da atividade policial fiscalizada, vez que se deixada a cargo da própria polícia, possivelmente
nada, ou pouca informação seria trazida à baila, ficando-se a margem dos interesses próprios
da corporação.

A Magna Carta ainda trouxe o inciso IX do artigo 129 "como uma cláusula de abertura –
legalmente concretizável – ao exercício, pelo Ministério Público, de ‘outras funções’,
submetidas a três condicionantes: "a) proveniência legal da função (limitação formal); b)
compatibilidade da função legalmente conferida com a finalidade institucional do Ministério
Público (limitação material afirmativa); c) vedação de qualquer função que implique a
representação judicial ou a consultoria jurídica de entidades públicas (limitação material
negativa)." [39]

Verificada a existência de previsão legal da atividade através dos dispositivos supracitados, e,


revelando-se a compatibilidade da atuação direta do Ministério Público na atividade
investigatória com as finalidades da instituição (defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses da sociedade), poder-se-ia com base neste artigo constitucional
entender, desde logo, legitimado o Órgão Ministerial a proceder a investigações criminais.

Para encerrar as argumentações neste ponto, tem-se que mesmo em se admitindo que as Leis
Orgânicas do Ministério Público Estadual (Lei Federal e a Lei Complementar Estadual) não
permitissem as investigações criminais, ainda assim, por força do artigo 80, da Lei Federal n.
8.625/93 poderíamos utilizar, subsidiariamente, as normas da Lei Orgânica do Ministério
Público da União (Lei Complementar Federal nº. 75/93), que "não deixa margem de dúvidas
quanto a operacionalização das investigações criminais diretas no âmbito do Ministério
Público", [40] referindo-se, aos artigos 7º, inciso I e 8º, inciso VII, da referida Lei.

Não obstante, deve-se sempre proceder a uma análise aprofundada de todos os argumentos
relevantes, para ao fim concluir por esta ou aquela corrente.

3.2.2 A inexistência do monopólio da investigação pela Polícia Judiciária

Para a formação da opinio delicti e oferecimento da denúncia pelo Ministério Público é


necessário prévio trabalho de investigação para configuração de autoria e materialidade
delitiva.

O inquérito policial é o instrumento de investigação por excelência e grande auxiliar Ministerial


no exercício da ação penal; contudo, "para a propositura da ação penal, poderá até mesmo
inexistir quaisquer atos procedimentais, bastando a notícia-crime ou peças de informação (art.
39, § 5°, do Código de Processo Penal)." [41]

Nesse sentido, o Código de Processual Penal, após atribuir, no caput do artigo 4º, a
competência para apuração de infrações penais à Polícia Judiciária, assegurou idêntica
atribuição, no parágrafo único do mesmo artigo, a outras autoridades administrativas, quando
autorizadas legalmente.

Outrossim, entende FONTES [42] que:

A Constituição Federal não traz qualquer dispositivo que autorize o entendimento de que a
Polícia Judiciária detenha o monopólio estatal da investigação criminal. E, conquanto limite-se
o inciso IV do § 1º do seu artigo 144 a definir que, nos crimes ditos federais, quando a
investigação criminal demandar a intervenção de Polícia Judiciária, esta será a Polícia Federal,
isso não atribui, de forma alguma, àquela polícia, o monopólio da investigação criminal. O art.
144 da Carta Magna estabelece tão somente a repartição de atribuições entre os diversos
órgãos de polícia, incumbindo à Polícia Federal a apuração de crimes federais, com exclusão
das polícias civis, com o escopo de evitar conflito de atribuições.

MIRABETE pensa da mesma forma: [43]

Os atos de investigação destinados à elucidação dos crimes, entretanto, não são exclusivos da
polícia judiciária, ressalvando expressamente a lei a atribuição concedida legalmente a outras
autoridades administrativas (art. 4º., do CPP). Não ficou estabelecido na Constituição, aliás, a
exclusividade de investigação e de funções da Polícia Judiciária em relação às polícias civis
estaduais. Tem o Ministério Público legitimidade para proceder investigações e diligências,
conforme determinarem as leis orgânicas estaduais.

Espínola FILHO, por sua vez, já advertia que: [44]

O inquérito não é atribuição exclusiva da autoridade policial, é ponto assente, muito comuns
sendo os inquéritos administrativos. O Código de processo penal, no art. 4º., parágrafo único,
ressalva, do modo mais claro, a pertinência desses inquéritos extrapoliciais, acentuando que a
competência dada no inquérito à polícia judiciária, exercida por autoridades policiais, não exclui
a de autoridades administrativas, para promoverem inquéritos, quando a isso legalmente
autorizadas. (cfr. CPP Anotado, Borsoi, 1960, p. 248).

Ademais, cabe enumerar algumas das investigações realizadas em outros campos, cuja
legitimação não se questiona, as quais embora não tenham o escopo de investigação penal,
igualmente se habilitam a subsidiar ulterior atuação do Ministério Público.

No âmbito do Poder Legislativo, observa-se as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs),


que conforme o § 3º do artigo 58 da Constituição da República, possuem "poderes de
investigação próprios das autoridades judiciais".
O Conselho de Coordenação de Atividades Financeiras, de igual forma, realiza sua atividade
investigatória própria, atuando como "órgão do Governo, responsável pela coordenação de
ações voltadas ao combate à ‘lavagem’ de dinheiro." [45]

Ademais, ressalta-se a disposição do artigo 69 da Lei n° 9.099/95 que atribuiu aos crimes de
menor potencial ofensivo, a lavratura do Termo Circunstanciado, a ser lavrado pela autoridade
policial que tomar conhecimento da ocorrência, a qual também pode ser entendida como a
polícia administrativa, e não a instauração do comum inquérito policial.

Nesse sentido, também merece relevo a investigação praticada pelo próprio Ministério Público,
através do inquérito civil (Lei 7.347/85, artigo 8º, §1º), para o ajuizamento da ação civil pública.
[46]
Desta forma, é a própria lei quem traça a diretriz da atuação ministerial nas ações penais
públicas.

Outrossim, a Constituição da República, ao se referir à exclusividade da Polícia Federal para


exercer funções de polícia judiciária da União, tão-somente delimitou as atribuições entre as
diversas polícias (federal, rodoviária, ferroviária, civil e militar), razão pela qual reservou, para
cada uma delas, um parágrafo dentro do mesmo artigo 144, com o fim de sistematizar e
organizar a forma de atuação policial.

Por outro lado, se concluísse distintamente, ou seja, no sentido do monopólio investigativo da


Polícia, poderiam ser consideradas ilegais todas as diligências investigatórias realizadas pelos
demais órgãos da Administração (Poder Executivo), os quais, embora não tenham finalidade de
persecução penal, possuem interesse e acabam por influir nela. Da mesma forma, nas
investigações criminais no âmbito dos Poderes Legislativo e Judiciário.

3.2.3 A inexistência de incompatibilidade entre a investigação e o oferecimento da ação penal

Cabe também demonstrar a inexistência de qualquer incompatibilidade entre a realização de


diligências investigatórias pelo Ministério Público e posterior oferecimento da ação penal.

É a própria lei quem traça a diretriz da atuação ministerial nas ações penais públicas. Com
efeito, o artigo 257 do Código de Processo Penal dispõe que "o Ministério Público promoverá e
fiscalizará a execução da lei."

Assim, sendo esta parte da sua função, e "como parte na ação penal pública, não está
obrigado a promovê-la, única e exclusivamente, para obter a condenação do réu, mas antes
sua atuação, nesta qualidade, é a de velar, usando de todos os meios possíveis, pela correta
aplicação da lei, tanto processual como material, que no processo se resume na obtenção de
uma sentença legal e justa." [47]

Isso porque o direito de punir que promove o Ministério Público não é dele, mas do Estado
soberano. Portanto, o fato de ser parte na ação penal pública não lhe retira o ônus de ser,
também, fiscal da lei, dado que, em ambas as hipóteses, representam o Estado. [48]

Nesse aspecto, por fim, apoiar- se nas lições de Hely Lopes MEIRELLES, que: [49]

Não resta dúvida que, estando o Ministério Público regido por lei orgânica própria, detendo
funções privativas constitucionalmente e possuindo seus agentes independência funcional,
além de preencher os demais requisitos elencados pela doutrina, os seus membros são
agentes políticos, e como tal exercem parcela de autoridade. Portanto, indubitavelmente,
exerce o MP parcela de autoridade e, administrativamente, pode proceder às investigações
penais diretas na forma da legislação em vigor.

E, no dizer de CARNELUTTI, "a garantia do interesse público, em lugar de um direito para o


Ministério Público, é um dever." [50]
4. DIREITO COMPARADO

O tema do presente trabalho é debatido mundialmente, questionando a comunidade jurídica se


as investigações preliminares à ação penal devem ser de responsabilidade da Polícia, do
Ministério Público ou do Juizado de Instrução.

Com a paulatina prevalência de um sistema penal acusatório, em que o magistrado tem uma
postura passiva, inativo na apuração dos fatos, cada vez mais vai sendo rejeitada a figura do
Juiz de Instrução na sua forma pura.

No Direito comparado observamos a existência de dois sistemas principais: o inglês, no qual a


Polícia detém o poder de conduzir as investigações preliminares; e o continental, em que o
Ministério Público conduz a investigação criminal, e dispõe diretamente da polícia judiciária.

Neste segundo sistema, encontramos, por exemplo, países como a Itália, Alemanha, França e
Portugal.

Na Alemanha, lê-se no Código de Processo Penal:

StPO § 160: (1) (omissis) "(2). A Promotoria de Justiça deverá averiguar não só as
circunstâncias que sirvam de incriminamento, como também as que sirvam de inocentamento,
e cuidar de colher as provas cuja perda seja temível."(3). As averiguações da Promotoria
deverão estender-se às circunstâncias que sejam de importância para a determinação das
conseqüências jurídicas do fato.

StPO § 161: Para a finalidade descrita no parágrafo precedente, poderá a Promotoria de


Justiça exigir informação de todas as autoridades públicas e realizar averiguações de qualquer
classe, por si mesma ou através das autoridades e funcionários da Polícia. As autoridades e
funcionários da Polícia estarão obrigados a atender a petição ou solicitação da Promotoria.

Desde logo, percebe-se o avançado meio de investigação alemão, primeiramente, pela


primazia da busca pela justiça, tendo o Ministério Público dever de colher provas tanto para
acusar um cidadão de autoria de um fato delituoso, bem como, se encontrando evidências que
o inocentem estas também devem ser apuradas.

Em segundo lugar, não há uma divisão inócua de órgãos estatais e de serviços, vez que
Ministério Público e polícia trabalham juntas, evitando-se assim burocracia desnecessária e
conflitos entre os agentes públicos.

Na Alemanha, portanto, a investigação criminal fica sob a reserva de competência do Ministério


Público. Neste sentido, preleciona Juan-Luis Gomez COLOMER: [51]

A doutrina alemã considera como ajudantes do Ministério Público, na realização dos atos
próprios do procedimento de averiguação o preparatório, a das seguintes autoridades e
funcionários: a Polícia, o juiz Investigador, e as autoridades que prestam ajuda judicial. 1. A
POLICÍA: é o órgão ajudante de mais importância (...) Como obrigações gerais, a Polícia tem
as seguintes: 1) Praticar de oficio todas as ordens, com o fim de prevenir o ocultamento dos
assuntos (...), enviando imediatamente os resultados para o Ministério Público; 2) Deve praticar
todas as investigações que ordene Ministério Público (...).

O ordenamento jurídico italiano não é diferente, no seu "Codice di Procedura Penale ":

Art. 326 – O Ministério Público e a Polícia Judiciária realizarão, no âmbito de suas respectivas
atribuições, a investigação necessária para o termo inerente ao exercício da ação penal.

Art. 327 – O Ministério Público dirige a investigação e dispõe diretamente da Polícia Judiciária."
Na Itália, as investigações preliminares são conduzidas pela polícia e pelo Ministério Público,
sob o controle direto de um juiz específico para esta fase, conhecido como juiz de instrução,
que não atuará na fase processual penal.

A polícia oferece notícia crime, com todas as informações disponíveis, ao Ministério Público,
em até 48 horas. A partir deste momento, toda investigação se canaliza através do Ministério
Público, que dispõe totalmente da polícia judiciária. [52]

Em Portugal os órgãos de polícia criminal coadjuvam com o Ministério Público no exercício das
suas funções processuais, nomeadamente na investigação criminal que é levada a cabo no
inquérito, e fazem-no sob a direta orientação do Ministério Público e na sua dependência
funcional. [53]

Os membros do Ministério Público são denominados magistrados do Ministério Público, e


possuem a função de praticar todos os atos e meios de prova necessários à comprovação da
existência do crime, à identificação dos agentes e à delimitação das responsabilidades.

Já a função do juiz de instrução é tipicamente garantista, passando por ele todas as decisões
da investigação.

À polícia judiciária, cabe realiza todas as diligências determinadas pelo Ministério Público. Este,
por sua vez, pode realizar diretamente determinadas diligências autorizadas expressamente
por lei.

O Código de Processo Penal Português assevera que:

Art. 267º – Actos do Ministério Público - O Ministério Público pratica os actos e assegura os
meios de prova necessários à realização das finalidades referidas no artigo 262º, nº 1, nos
termos e com as restrições constantes dos artigos seguintes;

Art. 262º - Finalidade e âmbito do inquérito - 1 - O inquérito compreende o conjunto de


diligências que visam investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes e a
responsabilidade deles e descobrir e recolher as provas, em ordem à decisão sobre a
acusação;

Art. 263° - Direcção do inquérito - 1 - A direcção do inquérito cabe ao Ministério Público,


assistido pelos órgãos de polícia criminal. 2 - Para efeito do disposto no número anterior, os
órgãos de polícia criminal actuam sob a directa orientação do Ministério Público e na sua
dependência funcional.

Ainda em Portugal, a Lei Orgânica do Ministério Público, no seu artigo 3º, diz que compete ao
Ministério Público "dirigir a investigação criminal, ainda quando realizada por outras entidades"
e "fiscalizar a atividade processual dos órgãos de polícia criminal."

Na França utiliza-se do mesmo sistema investigatório. Veja-se o artigo 41 do respectivo Código


de Processo Penal:

O Procurador da República procede ou faz proceder a todos os atos necessários à


investigação e ao processamento das infrações da lei penal. Para esse fim, ele dirige as
atividades dos oficiais e agentes da polícia Judiciária dentro das atribuições do seu tribunal.

O Ministério Público francês é o titular da ação penal pública e fiscal da lei, assim como no
Brasil, entretanto, os seus membros não possuem a estabilidade conferida aos juízes e estão
hierarquicamente subordinados ao Ministro da Justiça. A polícia judiciária é subordinada ao
Ministério Público, sendo este responsável pelo acompanhamento da investigação e,
excepcionalmente, responsável pela sua condução.
O Ministério Público da Espanha é denominado Ministerio Fiscal e atua sempre na defesa da
legalidade, como promotor da ação penal, como fiscal da lei (custos legis).

O artigo 283 da Lei de Enrijecimento Criminal expõe que:

Constituirão a Polícia judicial e serão auxiliares dos Juízes e Tribunais competentes na matéria
penal e do Ministerio fiscal, ficando obrigados a seguir as instruções que daquelas autoridades
recebam a efeitos da investigação dos delitos e persecução dos delinqüentes.

É papel do Ministério Fiscal zelar pelas garantias processuais do acusado e pela proteção dos
direitos da vítima e outros prejudicados pelo delito.

Mais próximo do que se vê diuturnamente no Brasil, a investigação criminal fica a cargo da


polícia, que é órgão auxiliar do Ministério Fiscal e do Judiciário, mas obrigada a seguir suas
determinações, entretanto, existe crescente corrente doutrinária posicionando-se pela
investigação ministerial direta.

Concluindo, observa-se que nos países onde uma versão do juizado de instrução é adotada, o
que ocorre é uma divisão de funções. Há um magistrado incumbido de gerenciar a colheita de
provas, decidindo quaisquer questões legais que surjam na fase investigatória, além de decidir
pela existência de lastro probatório mínimo para o início da ação penal. O juiz, neste caso, não
procede diretamente à coleta de provas, nesse sentido há eminentemente a vertente garantista
do juiz inerte, que apenas fiscaliza a investigação. Recebida a denúncia, o processo é
encaminhado para outro magistrado, que julgará o caso.

Já nos Estados Unidos, a função Ministerial é bem diversa, funcionado através de escritórios
particulares responsáveis pela acusação criminal, além disso é possível haver negociação
entre acusado e acusação, para o fim de melhorar as condições penais daquele, em troca de
algum interesse deste, cuja origem se remonta à necessidade de combate à alta criminalidade,
tornam o Ministério Público possuidor da conveniência e oportunidade da propositura e
exercício da ação penal.

Nesse perspectiva, cabe ao Ministério Público (District Attorney) proceder a negociações com
os acusados, celebrar acordos e manter em sigilo o nome de testemunhas, diante de tais
atribuições, revela-se sua ampla competência investigatória.

Ela Wiecko V. de CASTILHO [54] lembra que, no VIII Congresso das Nações Unidas sobre o
Delito, realizado em Havana em 1990, aprovou-se a seguinte diretriz:

Os membros do MP desempenharão um papel ativo no procedimento penal, incluída a


iniciativa do procedimento e, nos termos da lei ou da prática local, nas investigações dos
crimes, na supervisão da legalidade dessas investigações, na supervisão da execução das
decisões judiciais e no exercício de outras funções como representantes do interesse público.

As peculiaridades da persecução criminal em cada um destes países tornam tormentosa a


formação de parâmetros de comparação válidos, entretanto, parece seguro dizer que, para a
eficiência da persecução criminal, são indispensáveis um Ministério Público e uma Polícia
Judiciária fortes e independentes, com elevada qualificação e mentalidade garantista. Além
disto, evidente está a tendência mundial no sentido de uma participação cada vez maior do
Ministério Público na fase investigatória. [55]

É certo, por outro lado, que a investigação criminal deve ser neutra, sob pena de macular todo
o processo subseqüente. Seja qual for o órgão que colha as provas necessárias para embasar
a acusação criminal, deve ser um órgão técnico, objetivo e imparcial.

5. A POSIÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS SUPERIORES


5.1 A Posição do Superior Tribunal de Justiça

A jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça é no sentido de ser possível a


investigação direita pelo Ministério Público. Não se olvide que há o interesse da legitimação de
tais procedimentos, que embora estejam sob grande discussão são praticados
corriqueiramente no Brasil, pois, caso contrário, ensejaria a nulidade do todas as investigações
já realizadas.

O entendimento pacífico no Superior Tribunal de Justiça está nesse sentido, tendo inclusive
editado, em 13 de dezembro de 1999, a Súmula nº 234, decidindo que a participação de
membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento
ou suspeição para o oferecimento da denúncia.

Anteriormente o referido Tribunal assim se manifestou:

Como procedimento meramente informativo que é, o inquérito policial pode ser dispensado se
o titular da ação penal dispuser de elementos suficientes para o oferecimento da denúncia.
(DJU, 08/06/92, p. 8.594).

Exemplos desta orientação jurisprudencial são abundantes, sendo possível selecionar trechos
das decisões mais contundentes:

a) "Tem-se como válidos os atos investigatórios realizados pelo Ministério Público, que pode
requisitar esclarecimentos ou diligenciar diretamente, visando à instrução de seus
procedimentos administrativos, para fins de oferecimento da peça acusatória. A simples
participação na fase investigatória, coletando elementos para o oferecimento da denúncia, não
incompatibiliza o Representante do Parquet para a proposição da ação penal. A atuação do
Órgão Ministerial não é vinculada à existência do procedimento investigatório policial – o qual
pode ser eventualmente dispensado para a proposição da acusação" (RHC 8106/DF).

b) "Na esteira de precedentes desta Corte, malgrado seja defeso ao Ministério Público presidir
o inquérito policial propriamente dito, não lhe é vedado, como titular da ação penal, proceder
investigações. A ordem jurídica, aliás, confere explicitamente poderes de investigação ao
Ministério Público - art. 129, incisos VI, VIII, da Constituição Federal, e art. 8º, incisos II e IV, e
§ 2º, da Lei Complementar n 75/1993" (RHC 15469/PR).

c) "A questão acerca da possibilidade do Ministério Público desenvolver atividade investigatória


objetivando colher elementos de prova que subsidiem a instauração de futura ação penal, é
tema incontroverso perante esta eg. Turma. Como se sabe, a Constituição Federal, em seu
artigo 129, I, atribui, privativamente, ao Ministério Público promover a ação penal pública.
Cabe, portanto, a este, o exame da necessidade ou não de novas colheitas de provas, uma vez
que, tratando-se o inquérito de peça meramente informativa, pode o MP entendê-la dispensável
na medida em que detenha informações suficientes para a propositura da ação penal. Recurso
desprovido" (RHC 14543/MG).

d) "Não é, portanto, da índole do direito penal a feudalização da investigação criminal na


Polícia e a sua exclusão do Ministério Público. Tal poder investigatório, independentemente de
regra expressa específica, é manifestação da própria natureza do direito penal. Diversamente
do que se tem procurado sustentar, como resulta da letra do seu artigo 144, a Constituição da
República não fez da investigação criminal uma função exclusiva da Polícia, restringindo-se,
como se restringiu, tão-somente a fazer exclusivo, sim, da Polícia Federal o exercício da função
de polícia judiciária da União (parágrafo 1º, inciso IV). Tal norma constitucional, por fim, define,
é certo, as funções das polícias civis, mas sem estabelecer qualquer cláusula de
exclusividade." (RHC 13728/SP).

Desta forma, verifica-se que unânime o entendimento do Superior Tribunal de Justiça em


permitir a investigação criminal pelo Parquet.
5.2 A Posição do Supremo Tribunal Federal

O Supremo Tribunal Federal também já decidiu:

A inexistência de inquérito policial não impede a denúncia, se a Promotoria dispõe de


elementos suficientes para a formulação da demanda penal – Existência, no caso, de indícios
suficientes para afastar a alegação de falta de justa causa para a denúncia. Habeas Corpus
indeferido. (STF, Habeas Corpus n.º 70.991- 5, Rel. Min. Moreira Alves).

E especificamente sobre o poder investigatório do Ministério Público, veja-se:

O MP tem legitimidade para proceder a investigações ou prestar tal assessoramento à Fazenda


Pública para colher elementos de prova que possam servir de base a denúncia ou ação penal.
A CF/88, no art. 144, § 4º., não estabeleceu com relação às Polícias Civis a exclusividade que
confere no § 1º., IV, à Polícia Federal para exercer as funções de Polícia Judiciária. (RT,
651/313).

Entretanto, a questão em debate perante o Pretório Excelso, ao contrário do que ocorre no


Superior Tribunal de Justiça, em que o reconhecimento Ministerial do poder investigatório do
Ministério Público em matéria criminal é pacífico, no Supremo Tribunal Federal a questão ainda
não assumiu contornos definitivos. Alguns dos posicionamentos mais relevantes são:

a) No julgamento do Habeas Corpus 75.769/MG, relatado pelo Ministro Octávio Gallotti, a


Primeira Turma do STF entendeu que a prática de atos de investigação pelo Promotor de
Justiça não o impede de oferecer denúncia. Consta da ementa: "Regular participação do órgão
do Ministério Público em fase investigatória e falta de oportuna argüição de suposta suspeição.
Pedido indeferido".

b) No Habeas Corpus 77.371/SP, relatado pelo Ministro Nelson Jobim e que tratava justamente
da oitiva de testemunha diretamente pelo Ministério Público, ficou consignada a possibilidade
da realização da diligência: "Quanto à aceitação, como prova, de depoimento testemunhal
colhido pelo Ministério Público, não assiste razão ao paciente, a Lei Orgânica do Ministério
Público faculta a seus membros a prática de atos administrativos de caráter preparatório
tendentes a embasar a denúncia."

c) O Recurso Extraordinário 205.473-9/AL, relatado pelo Ministro Carlos Mário Velloso teve
neste caso, um Procurador da República em Alagoas que requisitou ao Delegado da Receita
Federal no Estado a realização de algumas diligências investigatórias em uma empresa, para a
apuração de ilícitos fiscais. O Delegado informou que a matéria envolvia o "caso PC Farias",
cujas investigações estavam centralizadas na Coordenação Geral em Brasília. Diante da
recusa, o Procurador da República requisitou a instauração de inquérito contra o Delegado da
Receita. Suscitada a questão de o Ministério Público dirigir-se diretamente à autoridade
administrativa, sem recorrer à autoridade policial, pronunciou-se o Supremo Tribunal Federal
contrariamente aos entendimentos anteriores: "Inocorrência de ofensa ao art. 129, VIII, CF, no
fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisição de membro do Ministério
Público no sentido da realização de investigações tendentes à apuração de infrações penais,
mesmo porque não cabe ao membro do Ministério Público realizar, diretamente, tais
investigações, mas requisitá-las à autoridade policial competente para tal (CF, art. 144, §§ 1° e
4°)".

d) No julgamento do Recurso Extraordinário 233.072-4/RJ, foi determinado pelo Procurador da


República, acreditando na ocorrência de irregularidades em procedimento licitatório de órgão
do Ministério da Fazenda, requisitou o respectivo processo administrativo e convocou pessoas
para serem ouvidas diretamente. Com base em tais elementos, ofereceu denúncia contra os
envolvidos. Os Ministros Néri da Silveira e Maurício Corrêa conheceram e deram provimento ao
recurso, para que se desse prosseguimento à ação penal. Os Ministros Nelson Jobim e Marco
Aurélio não conheceram do recurso, por entenderem que o Ministério Público não tinha
competência para promover inquérito administrativo para apurar conduta criminosa de servidor
público. Ficando a ementa desta forma: "O Ministério Público não tem competência para
promover inquérito administrativo em relação à conduta de servidores públicos; nem
competência para produzir inquérito penal sob o argumento de que tem possibilidade de
expedir notificações nos procedimentos administrativos; pode propor ação penal sem o
inquérito policial, desde que disponha de elementos suficientes. Recurso não conhecido."

E mais recentemente a Segunda Turma, reconheceu por unanimidade que existe previsão
constitucional de que o Ministério Público tem poder investigatório no Habeas Corpus
91661/PE, de relatoria da Ministra Ellen Gracie, referente a uma ação penal instaurada a
pedido do Ministério Público, na qual os réus são policiais acusados de imputar a outra pessoa
crime mesmo sabendo que a acusação era falsa, que gerou grande repercussão por
praticamente sacramentar a questão no âmbito do STF.

Para Ministra Ellen Gracie, é perfeitamente possível que o órgão do Ministério Público promova
a coleta de determinados elementos de prova que demonstrem a existência da autoria e
materialidade de determinado delito.

Essa conclusão não significa retirar da polícia judiciária as atribuições previstas


constitucionalmente. Não há óbice [empecilho] a que o Ministério Público requisite
esclarecimentos ou diligencie diretamente à obtenção da prova de modo a formar seu
convencimento a respeito de determinado fato, aperfeiçoando a persecução penal, no presente
caso, os delitos descritos na denúncia teriam sido praticados por policiais, o que também
justifica a colheita dos depoimentos das vítimas pelo MP. [56]

Entendeu ainda que tal conduta não significaria retirar da Polícia Judiciária as atribuições
previstas constitucionalmente, mas apenas harmonizar as normas constitucionais (artigos 129
e 144), de modo a compatibilizá-las para permitir não apenas a correta e regular apuração dos
fatos, mas também a formação da opinio delicti, e que o inquérito policial é dispensável, já que
o Ministério Público pode embasar seu pedido em peças de informação que concretizem justa
causa para a denúncia. Aduziu-se que é princípio basilar da hermenêutica constitucional o dos
poderes implícitos. [57]

Ressalte-se que a impetração desse Habeas Corpus foi decorrente justamente de decisão
anterior do Superior Tribunal de Justiça, que entre outros pontos aduziu que há possibilidade
de investigação pelo Ministério Público, conforme se verifica da ementa do Acórdão:

EMBARGOS DECLARATÓRIOS EM RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS –


CONHECIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL – PODER INVESTIGATÓRIO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO – POSSIBILIDADE – TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL –
IMPOSSIBILIDADE – DENÚNCIA QUE DESCREVE CRIME EM TESE E CONTÉM OS
ELEMENTOS INDISPENSÁVEIS À AMPLA DEFESA – PROVA DA EXISTÊNCIA DO CRIME E
INDÍCIOS DA AUTORIA – RECURSO CONHECIDO COMO AGRAVO REGIMENTAL, SENDO-
LHE NEGADO PROVIMENTO, RESSALVANDO-SE POSICIONAMENTO CONTRÁRIO DA
RELATORA.

Novas críticas já estão surgindo no âmbito doutrinário, levantando e aquecendo o debate mais
uma vez, mais atual do que nunca.

Nesse ponto, MOREIRA afirma que fundada na teoria dos poderes implícitos tal atribuição
transparece, desde que a investigação se enquadre nas atribuições ministeriais. [58]

Já para a Associação dos Delegados de Polícia do Rio de Janeiro adverte que além da matéria
não ser pacífica, ainda está pendente de julgamento pelo pleno e, portanto, não há vinculação
da posição da Ministra aos demais membros do Supremo Tribunal Federal, nem mesmo
eficácia erga omnis do julgado. [59]
Com exceção da referida Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 1571-1-
DF, todas estas decisões foram das Turmas do Supremo Tribunal Federal, inexistindo,
portanto, decisão plenária sobre o tema com a atual composição da Suprema Corte.

Atualmente, encontra-se pendente de decisão o Inquérito 1.968-DF, onde se espera uma


decisão que cristalize o entendimento da Corte Suprema sobre o tema.

CONCLUSÃO

Emergente da Constituição Republicana de 1988, de vertente humanista e voltada para a


consagração do Estado Democrático de Direito, o Ministério Público está elevado
materialmente à mesma alçada dos Três Poderes tradicionais, e imbuído da defesa dos valores
mais relevantes do novo modelo Estatal, cujos pilares se assentam na democracia e nos
direitos fundamentais.

É preciso que se tenha clara a idéia de que "presidência de inquérito policial" e "realização de
diligências investigatórias" consistem em conceitos díspares, cuja abrangência também é
distinta.

Essa compreensão torna mais claro o entendimento de que o anseio do Ministério Público não
é substituir-se à Polícia Judiciária ou presidir inquéritos policiais, mas tão-somente ter
reconhecida sua legitimidade para a realização de diligências investigatórias também na esfera
criminal.

Certo é que, se entendendo pela possibilidade do Ministério Público investigar, mudanças


legislativas sérias deveriam ser colocadas em pauta, para a legalização de tais procedimentos,
dando segurança jurídica a todos os operadores do direito, atribuindo-se a função e delimitando
a atuação do Órgão Ministerial somente em alguns casos, de caráter excepcional,
especificados em lei federal própria; em caso extremo de omissão da autoridade policial; ou da
insuficiência das informações por ela colhidas para a formação da opinio delicti.

Não se pode permitir, por outro lado, a regulamentação de tal atividade sem o devido processo
legal, como fez o Conselho Nacional de Justiça com a Resolução n. 13, que ampliou seus
próprios poderes, desrespeitando nesse ato os direitos e garantias individuais em seus
procedimentos investigativos.

Ademais, deve haver preocupação em estabelecer um procedimento administrativo próprio da


Instituição, respeitando o princípio da legalidade, os direitos fundamentais, e ainda, compatível
com a sistemática processual vigente.

Outrossim, a mudança de pensamento dos próprios agentes tanto de um como de outro órgão
é medida que se impõe, pois para que se possa diminuir a impunidade e a criminalidade,
prescinde de cooperação entre instituições para a consecução desse objetivo comum.

Se reconhecida a legitimidade do Ministério Público, como parece que caminha, pelo menos a
jurisprudência, necessita-se de mecanismos hábeis à efetivação de um controle sobre as
diligências investigatórias por ele conduzidas, para que não ocorram falhas, abuso de poder, e
desvirtuamento da função, o que pode ser realizado pelas corregedorias, pelos Conselhos
Nacionais e pelo Poder Judiciário.

Essa se afigura a solução mais oportuna e ajustada aos contornos que vem adquirindo o Brasil,
tanto no âmbito jurídico, quanto no social, carecendo rapidamente de legalização a
investigação Ministerial, mas sem ofensa ao Estado Democrático de Direito.
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Notas

1. MAZZILI, HUGO NIGRO. O ministério público na constituição de 1988. 3. ed. São


Paulo: Saraiva, 1996. pg 2.
2. BERTO VALORI Apud DAHER, Marlusse Pestana. O Ministério Público. Jus
Navigandi, Teresina, a. 4, n. 42, jun. 2000. Disponível em:
<http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=266>. Acesso em: 28 ago. 2008.
3. MAZZILI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público. São Paulo, Saraiva,
1993, p. 18.
4. DAVID ARAÚJO, Luiz Alberto; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de Direito
Constitucional. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 287.
5. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo : Atlas, 2003. p.
490.
6. Idem. Ibidem.
7. Idem. Ibidem.
8. TORNAGHI, Hélio. Curso de Processo Penal. 10.ed. atual São Paulo: Saraiva, 1997. p. 483.
9. MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. A Intervenção do Ministério Público no
Processo Civil Brasileiro. 2.ª edição. São Paulo: Saraiva, 1998.
10. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo : Atlas, 2003. p.
491.
11. MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. A Intervenção do Ministério Público no
Processo Civil Brasileiro. 2.ª edição. São Paulo: Saraiva, 1998.
12. MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 8.ª edição. São Paulo: Atlas, 2000, pg.
477.
13. SLAIBE FILHO, Nagib. Ação declaratória de constitucionalidade. Rio de Janeiro:
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14. FERNANDES DE OLIVEIRA, Régis. Instrumentos Brasileiros de Defesa e
Participação dos Administrados. RT n. 67. p. 87.
15. CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional. 10 ed. Belo Horizonte: Del
Rey, 2004. p. 683. 
16. DECOMAIN, Pedro Roberto. Comentários à lei orgânica nacional do Ministério
Público. Florianópolis: Obra Jurídica, 1996. p. 19.
17. GARCIA, Emerson. Ministério Público: organização, atribuições e regime jurídico. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2003. p. 7.
18. CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional. 10 ed. Belo Horizonte: Del
Rey, 2004. P. 683. 
19. LAVIÉ, Humberto Quiroga. Estúdio analítico da reforma constitucional. Buenos
Aires: Depalma, 1994. p. 65.
20. Artigo 85, inciso II, da Constituição da República.
21. MOTA, L. Pereira; SPTIZCOVSKY, Celso. Curso de Direito Constitucional. 6º ed.
São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2001. P. 200. 
22. BRASIL, HC nº 67.759/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, RTJ 150/123. No mesmo sentido:
HC 74.052-RJ, min. Marco Aurélio, 20-8-96, informativo STF – Brasília, nº 41, 28 ago.
1996.
23. Revista Consultor Jurídico. Rinha federal. Disponível em:
<http://www.conjur.com.br/static/text/37563,1>. Acesso em: 09.09.2008.
24. RANGEL, Paulo. Investigação Criminal Direta pelo Ministério Público: Visão
Crítica. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2003. p. 144.
25. VIEIRA, Luís Guilherme. O Ministério Público e a investigação criminal. São Paulo:
Saraiva, 2004.
26. Idem. Ibidem.
27. MIRANDA COUTINHO, Jacinto Nelson de. A inconstitucionalidade de lei que
atribua funções administrativas do inquérito policial ao Ministério Público.Revista
de Direito Administrativo Aplicado, nº 2, Curitiba, 2004, p. 445.
28. ZAVARATO, Luiz Antonio. Ninguém perde o que nunca teve. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5860>. Acesso em: 28.09.2008.
29. VIEIRA, Luís Guilherme. O Ministério Público e a investigação criminal. São Paulo:
Saraiva, 2004.
30. VIEIRA, Luís Guilherme. O Ministério Público e a investigação criminal. São Paulo:
Saraiva, 2004.
31. ZAVARATO, Luiz Antonio. Ninguém perde o que nunca teve. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5860>. Acesso em: 28.09.2008.
32. BARROSO, Luiz Roberto. Investigação pelo Ministério Público. Argumentos
contrário e a favor. A síntese possível e necessária. Disponível em:
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33. PERUCHIN, Marcelo Caetano Guazzelli. Da ilegalidade da investigação criminal
exercida, exclusivamente, pelo Ministério Público no Brasil. Disponível em:
<http://www.direitopenal.adv.br>. Acesso em: 20.09.2008.
34. Item II da Carta de Florianópolis, ratificada durante o 1º Congresso Sul Brasileiro do
Ministério Público. ASSOCIAÇÃO Nacional dos Membros do Ministério Público, et al.
CARTA de Florianópolis. Florianópolis, ago. 2004. Disponível em:
<http://www.conamp.org.br/index.php?a=mostra_cartas.php&ID_MATERIA=176>.
Acesso em: 20.09.08.
35. STRECK, Lenio Luiz; FELDENS, Luciano. Crime e Constituição: a legitimidade da
função investigatória do Ministério Público. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 88.
36. FELDENS, Luciano. O poder requisitório do Ministério Público e a inoponibilidade
de sigilo. Boletim Científico ESMPU, Brasília, a. II, n° 7, abr.-jun. 2003, p. 68.
37. MOREIRA, Rômulo de Andrade. A investigação criminal e o Ministério Público. Jus
Navigandi, Teresina, a. 8, n. 277, 10 abr. 2004. Disponível em:
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38. CÂMARA, Guilherme Costa. O controle externo da polícia. Revista Eletrônica Juris
Plenum, n. 74. nov.-dez. 2003. v. 2.
39. STRECK, Lênio Luiz; FELDENS, Luciano. Crime e Constituição: a legitimidade da
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40. POLASTRI LIMA, Marcellus. Ministério Público e Persecução Criminal. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 1997, p. 91.
41. Idem, p. 52.
42. FONTES, Paulo Gustavo Guedes. Entendimento do STF sobre MP destoa da
Jurisprudência. Disponível em:
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43. MIRABETE, Julio FAbrini. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2002, p. 77.
44. FILHO, Espínola. Código de Processo Penal Anotado. Borsoi: Rio de Janeiro, 1960,
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45. STRECK, Lenio Luiz; FELDENS, Luciano. Crime e Constituição: a legitimidade da
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46. ANDRADE, Mauro Fonseca. Ministério Público e sua investigação criminal. Porto
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51. GOMEZ COLOMER, Juan-Luis apud BASTOS, Marcelo Lessa. A investigação nos
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52. MARQUES DA SILVA, Germano. Curso de Processo Penal. Vol. I, Editoria Verbo,
Lisboa, 1996.
53. Idem. Ibidem.
54. CASTILHO, Ela Wiecko V. de. Investigação criminal pelo ministério público.
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55. Idem. Ibidem, p. 5.
56. Notícias STF. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?
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57. Idem.
58. MOREIRA, Rômulo de Andrade. O mais recente entendimento do STF e a
investigação criminal pelo MP. Disponível em:
<http://www.jusbrasil.com.br/noticias/988418/o-mais-recente-entendimento-do-stf-e-a-
investigacao-criminal-pelo-mp-i>. Acesso em: 08.05.2009.
59. BEATO, Fernando. STF ainda não decidiu se MP pode presidir inquéritos penais.
Disponível em: <http://www.adpego.com.br/conteudoDetalhe.php?textoId=001145>.
Acesso em: 08.05.2009.

Sobre o autor

 Cristiane Pereira Machado

Assessora jurídica do juiz de Direito junto ao Tribunal de Justiça do Paraná,


Especialista em Direito penal e processual penal pela academia Brasileira de Direito
Constitucinal

Como citar este texto: NBR 6023:2002 ABNT

MACHADO, Cristiane Pereira. A controvertida questão do poder de investigação do


Ministério Público. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2613, 27 ago. 2010. Disponível em:
<http://jus.uol.com.br/revista/texto/17275>. Acesso em: 17 abr. 2011.

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