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FACULDADE CATÓLICA RAINHA DA PAZ

CURSO DE DIREITO

A SELETIVIDADE DO SISTEMA PUNITIVO BRASILEIRO E A TEORIA DO


LABELLING APPROACH

MIRELA DAMACENA

Araputanga, MT
2021
2

MIRELA DAMACENA

A SELETIVIDADE DO SISTEMA PUNITIVO BRASILEIRO E A TEORIA DO


LABELLING APPROACH

Artigo apresentado como requisito parcial à


obtenção de menção na disciplina de Trabalho de
Conclusão de Curso - TCC, sob a orientação do (a)
professor(a) Dr. Edson Benedito Rondon Filho, 10º
semestre do curso de Direito da Faculdade Católica
Rainha da Paz (FCARP).

Araputanga, MT
2021
3

MIRELA DAMACENA

A SELETIVIDADE DO SISTEMA PUNITIVO BRASILEIRO E A TEORIA DO


LABELLING APPROACH

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do grau de
Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pela Coordenação do Curso de Direito, da
Faculdade Católica Rainha da Paz de Araputanga/MT.

Professora Ma. Mailsa Silva de Jesus


Coordenadora do Curso de Direito

COMISSÃO EXAMINADORA

Orientador: Prof. Dr. Edson Benedito Rondon Filho - FCARP

Membro: Prof. Me. André Luiz Picoli Herrera - FCARP

Membro: Profª Ma. Luciene Francisca de Souza Jesus - FCARP

Araputanga/MT, 09 de dezembro de 2021.


4

A SELETIVIDADE DO SISTEMA PUNITIVO BRASILEIRO E A TEORIA DO


LABELLING APPROACH

Mirela Damacena 1
Edson Benedito Rondon Filho2

RESUMO

O presente artigo pretende demonstrar como as instituições que integram o sistema punitivo brasileiro atuam,
tornando-o seletivo, deslegitimando seu discurso garantista, sob a perspectiva da teoria do labelling approach.
Para tanto se faz necessário entender que o sistema penal visto como ferramenta para a solução da criminalidade
não passa de uma ideia simplista. Ele funciona como um filtro para a manutenção da organização social,
privilegiando as classes elitizadas e perseguindo as classes baixas. Seu objetivo nunca foi suprimir as práticas
delituosas e sim estabelecer uma forma de gerir as ilicitudes criadas pela lei, operando o social de cima. Segundo
esta teoria, o crime é uma construção social, na qual a sociedade irá criar suas regras e selecionar quais
indivíduos deverão ser responsabilizados. Assim, é a reação da sociedade frente a uma determinada conduta que
a configura como criminosa. Para aportar tais observações, utilizou-se uma abordagem qualitativa de pesquisa
subsidiado por pesquisa bibliográfica e pelo método compreensivo.

Palavras-chave: Sistema penal brasileiro. Política criminal. Seletividade. Estigmatização. Labelling Approach.

ABSTRACT

This article intends to demonstrate how the institutions that make up the Brazilian punitive system act, making it
selective, delegitimizing its guaranteeist discourse, from the perspective of the labelling approach theory.
Therefore, it is necessary to understand that the penal system seen as a tool for solving crime is just a simplistic
idea. It works as a filter for the maintenance of social organization, privileging the elite classes and persecuting
the lower classes. Its objective was never to suppress criminal practices, but to establish a way to manage the
illegalities created by the law, operating the social from above. According to this theory, crime is a social
construction, in which society will create its rules and select which individuals should be held responsible. Thus,
it is society's reaction to a certain conduct that makes it criminal. To provide such observations, a qualitative
research approach was used, supported by bibliographical research and by the comprehensive method.

Keywords: Brazilian penal system. Criminal policy. Selectivity. Stigmatization. Labelling Approach.

1
Acadêmica do curso de Direito da Faculdade Católica Rainha da Paz (FCARP), Araputanga, Mato Grosso.
Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso.
2
Pós-Doutorado junto ao Departamento de Letras Modernas do Instituto de Biociências, Letras e Ciências
Exatas da Universidade Estadual Júlio Mesquita Filho (IBILCE/UNESP), na modalidade III (PD-III) (2020).
Doutor em Sociologia pelo PPGS/UFRGS, na linha de Violência, Criminalização, Cidadania e Direito com
estágio doutoral (sanduíche) junto ao Centre de Recherche Sociologique sur le Droit et les Institutions Pénales
(CESDIP) / França (2013). Mestre em Educação (IE/ UFMT - 2008). Especialista em Inteligência de Segurança
Pública pela FAECC - UFMT (2008). Especialista em Gestão de Segurança Pública pela FAECC- UFMT
(2003). Bacharel em Ciências Sociais (UFMT - 2010). Bacharel em Direito pela UFMT (2001). Graduado no
Curso de Formação de Oficiais pela Academia de Polícia Militar do Estado de Goiás (1994). Docente
colaborador do Mestrado em Sociologia do PPGS/ UFMT. Membro do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania
(GPVC) da UFRGS. Membro do Grupo de Pesquisa em Movimentos Sociais e Educação (GPMSE) do Instituto
de Educação (IE) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Membro do Núcleo Interinstitucional de
Estudos da Violência e Cidadania (NIEVCI) da UFMT. Sócio Fundador do Instituto Brasileiro de Segurança
Pública (IBSP). Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Associado do Instituto Histórico e
Geográfico de Mato Grosso (IHGMT). Professor do curso de Direito da Faculdade Católica Rainha da Paz
(FCARP).
5

1 INTRODUÇÃO

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88) comtempla em seu


art. 5º, o princípio da igualdade, onde todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza. Trata-se de igualdade formal, onde aplica-se a lei de forma igualitária a todos os
indivíduos. Este conceito de igualdade sofreu transformações ao longo da história, visto que
não era suficiente para alcançar a tão almejada isonomia. Hoje busca-se uma igualdade
material, ou seja, dar tratamento isonômico a todos, visando tratar igualmente os iguais e
desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades, como defendido por Aristóteles
e Rui Barbosa (HELVESLEY, 2004).
Embora nosso ordenamento pátrio consagre o princípio da igualdade, de forma a
garantir tratamento isonômico a todos, não é o que se observa no Direito Penal Brasileiro. Tal
princípio é mitigado, ou simplesmente ignorado, a ponto de dar caráter seletivo ao sistema
punitivo, de modo a tipificar determinadas condutas criminosas que incidem em determinadas
classes sociais em detrimento de outras, ou seja, o crime é definido não pela conduta
empregada pelo agente, mas sim pelo o que as instâncias de controle definem como sendo um
fato delitivo. Observa-se, pois, que o Estado persegue apenas uma parcela da população, os
rotulando como criminosos (SILVA, 2015).
É raro ver pessoas que tenham projeção social serem atingidas pelo sistema punitivo
quando cometem crimes, a exemplo, os de colarinho branco, vez que o “freguês” continua
sendo o indivíduo de classe social mais baixa. O pobre sempre será punido por condutas
muitas vezes insignificantes, por simplesmente serem pobres. Martinelli e Bem (2019) ao
citarem Lola Aniyar de Castro, se referem ao Direito Penal como um porta-voz da classe
social dominante e um meio de submissão daqueles que não a integram.
Essa seletividade realizada pelas instâncias de controle e que definem o que deverá ser
punido, bem como quem será punido, é um dos temas mais discutidos e pesquisados no ramo
da Criminologia. A Teoria do Labeling Approach, também denominada Teoria do
Etiquetamento, surge como um novo paradigma criminológico, onde o indivíduo passa a ser
observado, não mais por suas características particulares, e sim como um membro da
sociedade. Tal teoria analisa as situações onde este indivíduo passa a ser considerado um
desviante. Este desvio e a criminalidade passam a ser consideradas uma etiqueta (SILVA,
2015).
6

Esse quadro nos conduz às seguintes questões: Qual a relação da Teoria do Labelling
Approach com a lógica punitiva moderna e a legitimidade do sistema penal? Como atua o
sistema penal brasileiro? Ocorre a seletividade penal no sistema punitivo brasileiro?
Logo, cumpre à presente pesquisa demonstrar como as instituições que integram o
sistema punitivo brasileiro atua, tornando-o seletivo, deslegitimando seu discurso garantista,
sob a perspectiva da teoria do labelling approach, contribuindo para o enriquecimento do
debate acadêmico e busca de propostas viáveis para transformação dessa realidade.
A abordagem da pesquisa é qualitativa, pois, “preocupa-se, com aspectos da realidade
que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das
relações sociais”, tendo por característica o empirismo e a subjetividade. Os pesquisadores
que adotam esta abordagem são contrários à ideia de um modelo único de pesquisa a ser
utilizado para todas ciências (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 32). A coleta de dados se
funda na pesquisa bibliográfica que abrange toda a bibliografia já publicada disponível sobre
o tema a ser tratado, com o objetivo de deixar o pesquisador em contato direito com tudo o
que já foi explanado sobre o assunto (MARCONI; LAKATOS, 2018). O método de análise é
o compreensivo que busca uma profunda compreensão do fenômeno observado. Neste
método, lança-se mão de uma análise da realidade a partir de tipos ideais, “que representam
esquemas conceituais, nos quais são exacerbadas certas características do fenômeno concreto,
para permitir a comparação com a realidade empírica de modo mais objetivo e científico”
(TOMAZETTE, 2021, p. 01)
O artigo está estruturado em 03 (três) seções. A primeira seção abordará sobre a lógica
punitiva moderna, o sistema penal brasileiro e sua legitimidade, esmiuçando sobre os órgãos
que compõem esse sistema e demonstrando a falácia no discurso apresentado por ele para
justificar sua violência institucionalizada.
A segunda seção está destinada a tratar sobre a Política Criminal, sua definição,
aplicação e sua importância no enfrentamento da criminalidade.
A terceira e última seção cuida do tema central deste artigo ao abordar sobre a
seletividade do sistema penal e a Teoria do Labelling Appoach, demonstrando que tal
seletividade opera através de duas fases de criminalização (primária e secundária), realizadas
pelas instâncias formais de controle, que selecionam indivíduos das classes mais baixas,
conferindo a eles rótulos e estigmas.
7

2 LÓGICA PUNITIVA MODERNA

O poder Estatal de punir, que advém de sua soberania, é um exercício social


decorrente de uma imposição legal em detrimento da minoria 3, tida como transgressora e que
viola, em tese, princípios e valores de uma sociedade política (ESTEVENS, 2021).
Para entender a lógica punitiva moderna se faz necessário contextualizar o processo de
criminalização e penalização da pobreza exercida pelo governo democrático, que elegeu o
sistema punitivo como a principal, se não única, forma de controle social, configurando assim
o Estado Punitivo (PASTANA, 2007).
Busca-se disciplinar os marginalizados para que aceitem sua posição na sociedade de
forma a não atentarem contra a propriedade privada das classes dominantes. O poder punitivo
se valida no contrato social, desenvolvendo uma política criminal de combate às classes mais
desfavorecidas economicamente (SOUZA, 2015).
Segundo Wacquant (1999) esse Estado Punitivo tenta remediar a insegurança objetiva
e subjetiva generalizada causada pelo Estado Liberal, punindo com maior rigor aqueles que
não cumprem com o estabelecido neste contrato social, valendo-se das forças policiais e de
um sistema penitenciário endurecido. Assim, quanto mais dura for a punição mais satisfeita e
segura estará a sociedade.
Conforme Pastana (2012, p. 26):

Destaca-se no contexto político atual uma forte preocupação com a gestão da


segurança pública. É cada vez mais evidente a atenção estatal com o controle penal
[...] Tal ampliação é cada vez mais emblemática nas sociedades democráticas
contemporâneas, refletindo um novo paradigma de controle social traduzido não
apenas em um exercício autoritário, mas, acima de tudo, numa atuação
antidemocrática hegemonicamente reconhecida como necessária. [...] Essa marca
ostensiva relacionada à segurança pública une todos os setores do Estado em um
único discurso e em uma ação coordenada que, de forma implacável, fragiliza
significativamente o ambiente democrático.

Essa ânsia por uma punição mais rigorosa é observada em países fortemente atingidos
pela desigualdade, precarização de trabalho, desemprego, dificuldade de acesso aos serviços
básicos, onde ainda não houve uma total consolidação da democracia, ou esta ainda se faz de
forma precária, o que reverbera na ineficiência das instituições (KILDUFF, 2010).
Essa é a realidade observada no Brasil, que devido a sua herança histórica marcada por
sua subordinação econômica ante as grandes economias mundiais e pelo enriquecimento em

3
Em uma perspectiva jurídica, pode-se conceituar minoria como grupo de vulneráveis que sofrem dominação,
discriminação e/ou intolerância em detrimento a um grupo de maior poder, conforme Carmo (2016).
8

massa na década da industrialização, apresenta uma segregação entre uma minoria


privilegiada elitizada e a massa da pobreza, que, quando somadas, aumentam
vertiginosamente a violência criminal (WACQUANT, 1999).

De fato, no Brasil, essa hegemonia do “Estado Punitivo”, embora revestida da aura


democrática, representa, ao contrário, uma violência institucional ilegítima, diluída
na banalização da desigualdade, reforçada na seletividade da punição e consequente
aniquilação do transgressor (PASTANA, 2007, p. 35)

Essa violência institucionalizada como meio de punição, utilizada pelo Estado para
concretizar seu monopólio, tendo como principal ferramenta o Direito Penal, se mostra
essencial para estruturar a ordem cívica e política, punindo o indivíduo que atua de modo
desviante e atenta contra o modelo social estabelecido, restando claro o desrespeito às
garantias constitucionais.
Ademais, observa-se que o sistema penal desempenha cada vez mais um papel
simbólico e ilusório, vez que não tem condições de cumprir com as demandas que lhe são
impostas. Lança-se mão de mudanças legislativas que inflam o sistema, aumentando
desproporcionalmente o número de penas e o encarceramento, para dar a falsa impressão de
que o Estado está agindo, sem se preocupar com sua eficácia instrumental (SANTOS, 2014).
Para Pastana (2012) são os mecanismos econômicos e políticos os responsáveis por
determinar os processos de criminalização e penalização, com o objetivo de defender os
interesses da classe dominante, valendo-se do encarceramento, mesmo que em contrapartida
não haja a diminuição dos índices da criminalidade. Segundo a autora, o encarceramento das
classes populares, em sua grande maioria por crimes contra o patrimônio e comércio de
entorpecentes, é a forma que o Estado opera para desviar a atenção dos crimes contra a ordem
econômica e financeira praticada pela elite política.

2.1 Sistema Penal Brasileiro

Nas palavras de Zaffaroni e Pierangelli (2011, p. 69):

Chamamos "sistema penal" ao controle social punitivo institucionalizado, que na


prática abarca a partir de quando se detecta ou supõe detectar-se uma suspeita de
delito até que se impõe e executa uma pena, pressupondo uma atividade normativa
que cria a lei que institucionaliza o procedimento, a atuação dos funcionários e
define os casos e condições para esta atuação. Esta é a ideia geral de "sistema penal"
em um sentido limitado, englobando a atividade do legislador, do público, da
polícia, dos juízes, promotores e funcionários e execução penal.
9

Entende-se, pois, que o sistema penal não é uno e indivisível, e sim um agrupamento
de órgãos que atuam formalmente e que se dividem em seguimentos que operam a
criminalização ou que convergem em sua produção. Batista (2007) afirma que estas
instituições atuam em diferentes estágios, sendo as mais relevantes no estudo da atividade
punitiva estatal a instituições policial, judiciária e penitenciária ou executória.
O poder legislativo se ocupa da criminalização primária, pois irá eleger qual bem
jurídico será tutelado e quais condutas serão tipificas como ilícito penal. Apresenta um caráter
programático que anuncia um dever-ser (ANDRADE, 2003), assim, deve estar inserido no
centro no sistema punitivo.
A polícia cuida da segurança pública tutelando direitos individuais, tais como direito a
vida, a liberdade e a propriedade. Desempenha um papel preventivo e um repressivo frente à
criminalidade, visando preservar e restaurar a ordem jurídica4 e a paz social5 (SILVA, 2006).
Segundo aponta Lazzarini (1999), a atividade desempenhada é que qualifica a polícia
como sendo preventiva ou repressiva. Cabe à polícia militar estadual a atividade preventiva,
atuando ostensivamente a fim de evitar a criminalidade, conforme disposto no artigo 144, §
5º, primeira parte, da Constituição Federal de 1988 (CF/88), in verbis: “Às polícias militares
cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública”. A atividade repressiva é
exercida pela polícia judiciária, que desempenha seu papel voltado à persecução penal, nos
ditames das normas processuais penais, apurando os ilícitos cometidos, nos termos no art.
144, § 4º, da CF/88, in verbis: “Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de
carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a
apuração de infrações penais, exceto as militares” (BRASIL, 1988).
Após colhidos os elementos e convicção sobre a materialidade e autoria delitiva pela
polícia judiciária, o inquérito policial é remetido ao Ministério Público, que é o ente
incumbido de movimentar a ação penal pública, e, responsável também pela defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, como
preceitua os arts. 127 e 129, da CF/88 (BRASIL, 1988).

4
Segundo Castro (1967, p. 111) “A ordem jurídica, portanto, compõe-se de princípios gerais implícitos e de
disposições particulares, de regras, de normas, de conceitos, oficiais, ou oficializados, dependentes entre si,
como partes solidárias de um todo específico. Como ordem é a reta disposição das coisas, conservando cada qual
o lugar que lhe compete, também é chamada sistema jurídico, porque é sempre conjunto organizado,
sistematização; não um amontoado de disposições”.
5
Nas palavras de Marcondes (2017): “Paz social é a aplicação filosófica e sociológica para a definição do
conceito vital de paz, podendo ser classificada como a convivência harmônica entre pessoas, mesmo com as
inúmeras diferenças presentes em uma comunidade miscigenada. [...] um governo que tem seus alicerces
fundados no conceito de paz social, é aquele que exerce o poder de forma bilateral, comedida e respeitando os
direitos dos cidadãos”.
10

Oferecida a denúncia pelo ente ministerial (art. 24, do Código de Processo Penal),
poderá esta ser recebida pelo juízo, iniciando um procedimento previsto no Código de
Processo Penal, assegurando o devido processo legal, respeitando o contraditório e a ampla
defesa, que poderá culminar em uma sentença criminal condenatória. A execução da pena
imposta pelo magistrado, independente do regime instituído, obedecerá a Lei de Execução
Penal (BATISTA, 2007).
Importante mencionar também o controle social informal exercido pelo público, que
operacionaliza seu próprio sistema, fundado em valores e normas que decorrem da
socialização e que julgam a conduta de cada indivíduo como aceitável ou não.
O sistema punitivo pode agir com cunho político, seja naquilo que não é tipificado
como crime ou naquilo que não é perseguido concretamente pelo Estado. Por óbvio, é
inimaginável que o Estado apresente tamanha efetividade a ponto de punir todos os delitos
existentes, como também foge da realidade uma sociedade sem nenhum desvio (LEMOS,
2015). Também se vale da norma penal no intuito de dissuadir comportamentos desviantes,
tidos como delituosos, como uma forma de prevenção. Ocorre que o indivíduo não deixa de
praticar o crime por saber que existem normas proibitivas, ele simplesmente comete porquê
tem ou não motivação para tanto. Acreditar na legitimidade das leis penais como prevenção
da criminalidade é um mito, uma utopia, vez que os legisladores atuam a serviço dos grupos
econômicos que os patrocinam (QUEIROZ, 2008).
Para Durkheim (1999), ainda que os criminosos deixassem de praticar atos típicos,
ilícitos e culpáveis, ou seja, penalmente recrimináveis, ainda assim o crime não desapareceria,
ele simplesmente mudaria de forma. Os mesmos fatores que esgotariam as fontes da
criminalidade, tratariam de abrir novas portas para novos delitos.
Logo, a crença depositada no sistema penal como solução e no fim da impunidade
como remédio, não passa de uma ideia simplista que nega ser o sistema punitivo uma
ferramenta incontestavelmente política. Um mero filtro com a função estrutural para a
organização social. Se assim não fosse como explicar a cifra oculta dos crimes econômicos 6
em comparação aos índices exorbitantes aos crimes das classes sociais mais baixas.
Privilegia-se as classes poderosas e perseguem as classes baixas e perigosas. O objetivo nunca
6
Diferente da cifra negra da criminalidade, que se refere a parcela de crimes que, apesar de ocorrerem com
frequência, não chegam ao conhecimento dos órgãos de persecução penal, a cifra dourada diz respeito à crimes
socioeconômicos onde o índice de criminalidade destoa do conhecido pelo Estado, devido a fatores de ordem
social e de natureza jurídico-formal (CARDOSO, 2016). Segundo Cabette (2007), a cifra dourada representa os
crimes cometidos pela classe privilegiada, como é o caso do crime de colarinho branco, praticados pelo poder
político e econômico em proveito próprio e em prejuízo da sociedade. O registro de tais crimes raramente
acontece, impossibilitando sua punição. Os crimes que compõe a cifra dourada são aqueles contra o meio
ambiente, o sistema econômico e financeiro, a ordem tributária, entre outros.
11

foi suprimir as práticas delituosas e sim estabelecer uma forma de gerir as ilicitudes criadas
pela lei, operando o social de cima (LEMOS, 2015).

2.2 Legitimidade do Sistema Penal

O sistema punitivo apresenta um discurso garantidor, com a promessa de atingir a


todos àqueles que praticam um ilícito penal de forma igualitária. Segundo Kazmierczak
(2010) tal discurso eleva o sistema à categoria de protetor da dignidade da pessoa humana,
devendo intervir nos eventos da sociedade de forma subsidiária.
O garantismo amolda-se perfeitamente ao ideal almejado pelo Estado Democrático de
Direito, buscando aplicar empiricamente seus princípios e normas, intervindo de forma
mínima e tutelando apenas aqueles bens jurídicos de maior relevância. (SILVA, et. al., 2007).
Embora seja esse o discurso, não é o que se observa no sistema punitivo brasileiro, a
ponto de dar caráter seletivo ao sistema, de modo a tipificar determinadas condutas
criminosas que incidem em determinadas classes sociais em detrimento de outras, ou seja, o
crime é definido não pela conduta empregada pelo agente, mas sim pelo o que as instâncias de
controle definem como sendo um fato delitivo. Observa-se, pois, que o Estado persegue
apenas uma parcela da população, os rotulando como criminosos (SILVA, 2015).
Em uma sociedade que busca proteção ao invés de cidadania, o Direito Penal é cada
vez mais utilizado como prima ratio7 na solução de conflitos sociais, e não mais de forma
subsidiária aos outros ramos do direito. Tal processo, denominado “judicialização das
relações sociais”, busca prever e controlar toda e qualquer conduta social, principalmente as
não desejadas (PASTANA, 2007).
Ocorre que, quando o Estado utiliza o sistema penal para a manutenção e controle das
relações sociais, ele está contribuindo para que as desigualdades de classe 8 se acentuem,
aumentando a marginalidade.
Nas palavras de Bitencourt (2020, p. 289)

O sistema penal [...] permite a manutenção do sistema social, possibilitando, por


outro lado, a manutenção das desigualdades sociais e da marginalidade. O sistema

7
Expressão em latim que significa primeira razão. “O Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente
necessário, de modo que a sua intervenção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de controle,
observando apenas os casos de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem juridicamente tutelado” (CUNHA,
2019, p. 77). Assim, utilizar o Direito Penal como prima ratio, é utilizá-lo como primeira opção.
8
Sob a ótica Marxista, trata-se das relações de distribuição oriundas das relações de produção. Marx, quando se
referia às classes sociais as distinguiam em três grandes classes, sendo elas a dos trabalhadores assalariados, a
dos capitalistas e a dos proprietários fundiários, conforme os ensinamentos de Haddad (1997).
12

penal facilita a manutenção da estrutura vertical da sociedade, impedindo a


integração das classes baixas, submetendo-as a um processo de marginalização [...]
A estigmatização e o etiquetamento que sofre o delinquente com sua condenação
tornam muito pouco provável sua reabilitação.

Zaffaroni (2001) afirma que a atuação do sistema penal em nada se assemelha com o
que é trazido nos discursos jurídicos-penais. O autor aponta que a criação das normas se
baseia em uma realidade inexistente e que os órgãos que deveriam colocar em prática esta
normatização, atuam de forma completamente distinta, pois “os órgãos do sistema penal
exercem seu poder para controlar um marco social cujo signo é a morte em massa” (p. 13).
Tal afirmação está diretamente ligada a forma como o sistema punitivo se
operacionaliza, fundado em altos níveis de violência. O Estado usa de violência
(institucionalizada) para combater a violência praticada pelo delinquente, justificando sua
legitimidade no dever de punir uma agressão que é proibida pelo ordenamento jurídico.
Assim, a pena e o crime se assemelham por serem uma manifestação de violência.
Conforme descrito por Streck (1999) deve haver uma rediscussão sobre a legitimidade
do direito penal9 como ferramenta do sistema punitivo, adaptando-o ao modelo proposto pelo
Estado Democrático de Direito, como sendo a ultima ratio10, além de descriminalizar
inúmeras condutas que são incompatíveis a este modelo. Deve-se abandonar o formato de
punição massiva como condição de legitimidade, reservando seus poderes para os delitos que
verdadeiramente atingem os valores da sociedade, visando a redução das desigualdades.
O sistema punitivo deve buscar fundamento nos direitos e garantias constitucionais,
primando pelo princípio da dignidade da pessoa humana, para que aqueles que cometem um
delito sejam punidos de forma justa e não discriminatória.

3 POLÍTICA CRIMINAL

A política criminal, também denominada de política criminológica, se preocupa com o


fenômeno criminal. Apresenta-se como um guia para tomada de decisões políticas ou como
fonte argumentativa para criticar tais decisões. Será ela a responsável por eleger quais bens ou
direitos serão tutelados pelo Estado e quais meios serão utilizados para efetivar esta tutela
(ZAFFARONI, 2001).
9
Nas palavras de Eugenio Raúl Zaffaroni (2001, p. 13), “por legitimidade do sistema penal entendemos a
característica outorgada por sua racionalidade. O poder social não é algo estático, que se “tem”, mas algo que se
exerce – um exercício -, e o sistema penal quis mostrar-se como um exercício do poder planejado
racionalmente”.
10
Expressão em latim que significa última razão. “O Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente
necessário, mantendo-se subsidiário” (CUNHA, 2019, p. 78).
13

Conforme conceitua Shecaira (2020, p. 53):

A política criminal é uma disciplina que oferece aos poderes públicos as opções
científicas concretas mais adequadas para controle do crime, de tal forma a servir de
ponte eficaz entre o direito penal e a criminologia, facilitando a recepção das
investigações empíricas e sua eventual transformação em preceitos normativos.
Assim, a criminologia fornece o substrato empírico do sistema, seu fundamento
científico. A política criminal, por seu turno, incumbe-se de transformar a
experiência criminológica em opções e estratégias concretas assumíveis pelo
legislador e pelos poderes públicos.

Pode ser definida ainda como sendo um conjunto de princípios e recomendações para
a reforma ou transformação da legislação penal e dos órgãos que integram o sistema punitivo,
encarregados de sua aplicação. Ela se desdobra nas diversas etapas que compõe o sistema
punitivo, assim, “poderemos falar em política de segurança pública (ênfase na instituição
policial), política judiciaria (ênfase na instituição judicial) e política penitenciaria (ênfase na
instituição prisional)” (BATISTA, 2007, p. 34).
A política criminal teve sua perspectiva ampliada nas últimas décadas, passando a
abarcar não apenas as questões atinentes à repressão da criminalidade, mas também os
procedimentos e as estratégias utilizadas pela sociedade no combate do fenômeno criminal,
bem como, procedimento de reparação e mediação. Cabe, pois, a política criminal, discutir a
legitimidade (ou não) da intervenção penal e os limites de sua aplicação, propondo estratégias
para o enfrentamento da criminalidade (HAUSER, 2010).
A aplicação em concreto das políticas criminais dependerá das questões por ela
tratada, seja com ênfase na segurança pública e prevenção de crimes, seja no processo de
criminalização e suas consequências. Dessa forma, poderá adotar um viés mais repressivo ou,
até mesmo, um viés mais humanitário, se preocupando, por exemplo, com a ressocialização
do criminoso (VERAS, 2016).
Hauser (2010), ao mencionar Alessandro Baratta, afirma que o instrumento menos
adequado a ser utilizado pela política criminal é o Direito Penal, devido a violência estrutural
resultante desta forma de controle. Deve-se, para tanto, se valer de outros instrumentos para o
enfrentamento do crime, como o uso da política social voltada para sua prevenção e controle.
No Brasil, questões relacionadas à política criminal parecem não ser prioridade. A
população se vê em meio a índices de criminalidade que aumentam exponencialmente, e para
tanto, são lhes apresentadas medidas penais, para que tenham a ilusória sensação de
tranquilidade. O que acontece em verdade é que o Direito Penal se tornou valiosa ferramenta
para o legislador, com efeito eleitoreiro, assumindo uma função representativa, que destoa da
14

legítima finalidade da pena, afastando-o do mandamento da intervenção mínima (CUNHA,


2019).
Para justificar a promessa de segurança à sociedade e reafirmando o caráter simbólico
do Direito Penal, atribui-se a criminalidade a uma massa qualificada como bandidos, formada
principalmente de pobres, negros e semianalfabetos, e a eles impõem penas duras que
relativizam (ou suprem por completo) direitos e garantias.

4 SELETIVIDADE DO SISTEMA PENAL

A vida em sociedade depende de interações entre as pessoas. Em um grupo, nem


sempre os interesses e expectativas serão os mesmos, dando origem aos conflitos. A resolução
destes conflitos se dá de forma dinâmica e vai configurando a estrutura de poder dentro de
uma dada sociedade, que em parte é institucionalizada e em outra parte difusa. Assim, toda
sociedade apresenta uma estrutura de poder que exercerá o controle social, onde alguns
grupos dominam e outros são dominados. Deste modo, a sociedade apresenta uma estrutura de
poder (político e econômico), com grupos mais próximos e outro mais marginalizados,
distinguindo-se em graus de centralização e de marginalização (ZAFFARONI;
PIERANGELI, 2011).

[...] o poder condiciona o saber, pois as formas de dominação podem funcionar


como encobrimentos ou, até mesmo, como criadoras da realidade. Os detentores do
poder central instrumentalizam as ideologias naquilo que lhes é interessante e
desconsideram o restante, construindo uma realidade estrategicamente desenhada a
partir das necessidades de manutenção da posição central (ZAFFARONI;
PIERANGELI, 2011).

Lopes (2002, p. 14) enfatiza ainda que:

Da mesma forma, percebe-se que, por trás de funções declaradas do sistema penal
de manutenção da paz social, ou da tutela de bens jurídicos eleitos socialmente,
existe uma função sua não declarada, qual seja a de sustentar a hegemonia de um
setor social sobre o outro. Constata-se, portanto, uma falsidade no discurso do
controle penal.

Outra característica, que trouxe importantes repercussões na legitimação de políticas


criminais mais repressivas, é a distinção da sociedade em dois grupos bem definidos, os
“bons” e os “maus”. Os maus devem ser separados do restante da sociedade, para não
causarem nenhum tipo de dano. Essa ideologia burguesa permite legitimar a aplicação do
15

poder punitivo desempenhado pelo Estado, com o objetivo de proteger a sociedade do crime
(KILDUFF, 2010).
Outrossim, o sistema penal cria e mantém uma profunda desigualdade social, pois
representa apenas uma parte dos interesses coletivos, a dos privilegiados socialmente. Esse
sistema de controle social punitivo é incapaz de prevenir o crime. Não há promoção à justiça
quando o sistema se torna seletivo, perseguindo apenas determinados grupos sociais (SOUZA,
2016).
Como bem apontam Chai e Costa (2016, p. 86) a respeito do sistema penal:

Seu objeto se desloca do sujeito para as estruturas econômicas e as instituições


jurídicas e políticas, e o método passa a ser a dialética materialista de objetos
históricos, que relaciona a estrutura econômica de produção e distribuição da riqueza
material e as instituições jurídicas e políticas de controle social do Estado. Além
disso, afirma-se que o direito penal não é igualmente distribuído, havendo uma
dupla seletividade, a primeira relativa às previsões abstratas (leis), dirigidas à
proteção dos interesses e necessidades das classes hegemônicas, e a segunda
relacionada à aplicação propriamente dita das medidas penais por meio do sistema
de justiça criminal.

O sistema penal está intimamente ligado ao universo do sistema social, que influencia
diretamente o senso comum, como por exemplo, através da mídia, estereotipando o indivíduo
delinquente.
Ademais, o indivíduo que é levado a cárcere privado devido a suposto desvio de
conduta, sofrerá marcas pelo tempo em razão de sua liberdade cerceada e, em maior escala,
sofrerá com os julgamentos impiedosos de uma sociedade elitista. Desse modo, encerra-se a
pena privativa de liberdade e inicia-se uma luta na tentativa de ressocialização em meio aos
preconceitos e etiquetamentos, como bem demonstra a Teoria do Labelling Approach
(BEZERRA; HAAS; LEITE, 2016).
Resumidamente, o crime é definido não pela conduta desviante do agente, mas sim
pelo que as instâncias de controle assim o definem. Tais tipificações atribuídas pelo Estado,
visa o controle social, marginalizando uma parcela da sociedade que atrapalham o progresso.
Assim, nem todos os crimes sofrem punição estatal, mas somente parte deles que são
cometidos pela classe social mais baixa.

4.1 O mito do direito penal igualitário


16

As evidências de que o Direito Penal tutela com mais rigor o patrimônio privado,
ainda que o objeto do crime apresente valor ínfimo, do que o direito à vida ou à integridade
física, buscando coibir com mais tenacidade as condutas praticadas por aqueles que já são
socialmente excluídos estão nas disposições normativas penais. Basta a mera comparação
entre a pena prevista no crime de furto simples (art. 155, caput, do Código Penal) com a pena
prevista no crime de lesão corporal (art. 129, caput, do Código Penal). Aquele prevê uma
pena de 01 (um) a 04 (quatro) anos de reclusão e multa, enquanto este prevê pena de 03 (três)
meses a 01 (ano) de detenção (BRASIL, 1940). Assim, pune-se com maior rigor o indivíduo
que furta três embalagens de desodorante de um mercado, do que aquele que ofende a
integridade corporal de outrem.
Conforme aponta Zaffaroni e Pierangeli (2011, p.61):

[...] ações conflitivas de gravidade e significado social muito diversos se resolvem


por via punitiva institucionalizada, mas nem todos os que as realizam sofrem essa
solução, e sim unicamente uma minoria ínfima deles, depois de um processo de
seleção que quase sempre seleciona os mais pobres [...].

Em análise aos dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias


(Infopen) disponibilizados pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), no período
compreendido entre os meses de julho a dezembro de 2019, observa-se que o número da
população prisional no Brasil era de aproximadamente 748.000 (setecentos e quarenta e oito
mil) pessoas, homens e mulheres, cumprindo pena nos diferentes regimes, incluindo ainda os
presos provisórios, sendo que, desse total, 50.96% (cinquenta vírgula noventa e seis porcento)
cumpriam pena por crimes contra o patrimônio, 20,28% (vinte vírgula vinte oito porcento)
relacionados à drogas, 2,24% (dois vírgula vinte e quatro porcento) crimes contra à fazenda
pública, 0,18% (zero vírgula dezoito porcento) crimes contra a administração pública, dentro
outros (DEPEN, 2020).
Vê-se, pois, que crimes mais frequentemente cometidos por aqueles pertencentes às
classes sociais mais baixas, são os mais perseguidos e punidos pelas agências que compõe o
sistema punitivo.
Essa seletividade realizada pelas instâncias de controle e que definem o que deverá ser
punido, bem como quem será punido, é um dos temas mais discutidos e pesquisados no ramo
da Criminologia, que se utiliza do método empírico para entender e explicar o problema
criminal. A Teoria do Labeling Approach surge como um novo paradigma criminológico,
onde o indivíduo passa a ser observado, não mais por suas características particulares, e sim
17

como um membro da sociedade. Tal teoria analisa as situações onde este indivíduo passa a ser
considerado um desviante. Este desvio e a criminalidade passam a ser consideradas uma
etiqueta (SILVA, 2015).

4.2 Labelling approach e a seletividade do sistema penal brasileiro como reflexo da


criminalização primária e secundária

A teoria do labelling approach, também conhecida como teoria do etiquetamento,


foi desenvolvida no início da década de 1960, nos Estados Unidos, pelos autores pertencentes
à Escola de Chicago11, tais como Erving Goffman, Howard Becker e Edwin Lemert. É
considerada a escola criminológica mais rica em teorias. Chamada de paradigma da reação
social, esta teoria critica o antigo paradigma sociológico, que analisava o criminoso por suas
características individuais, passando então a analisa-lo como um membro da sociedade. Desta
forma, o foco do estudo deixa de ser o delinquente e passa a ser as instâncias que criam e
administram a delinquência dentro do sistema penal (SILVA, 2015).
O labelling é um produto oriundo das mudanças sociais e científicas da ruptura
metodológica e epistemológica com a criminologia tradicional 12. A análise do comportamento
humano que antes era realizada de forma não empírica é substituída por uma análise dinâmica
e contínua. Preocupa-se não apenas com a figura do criminoso, mas também com tudo e todos
que estão inseridos no cenário do delito (ARAÚJO, 2010).
Voltou-se a atenção para o processo de criminalização realizado pelas instâncias de
controle social e suas consequências para o indivíduo estigmatizado, inaugurando o
paradigma da reação social, que inseriu novos objetos e métodos de pesquisa que ainda não
foram superados por outras teorias criminológicas (ARAÚJO, 2010). O delito não nasce por
si só, ele é fruto daquilo que a sociedade e o órgãos que integram o sistema punitivo definem
como tal, assim, é a reação social que faz com que uma determinada conduta passe a ser
definida como crime.

11
Segundo Viana (2015, p. 167), a Escola de Chicago “[...] deriva da explosão urbana na cidade de Chicago e da
criação do primeiro departamento de sociologia do mundo na Universidade de Chicago. [...] Dentro da
perspectiva da Escola de Chicago, a compreensão do crime sistematiza-se a partir da observação de que a gênese
delitiva relacionava-se diretamente com o conglomerado urbano que, muitas vezes, estruturava-se de modo
desordenado e radial, o que favorecia a decomposição da solidariedade das estruturas sociais. Não por outra
razão, seus teóricos desenvolviam uma “sociologia da grande cidade””.
12
Para Goumma (2012, p. 10), “a criminologia tradicional estuda as causas do crime e as formas de prevenção.
Ela enfatiza que simplesmente pelo fato de existirem normas, sendo estas compostas por um consenso de toda a
sociedade, comportamentos destoantes de tais normas devem ser punidos. Concentra-se em estudar apenas os
fatores que levaram o indivíduo a comentar tal conduta ilícita, e não se importa com possíveis soluções para tal
prática”.
18

Surge, neste contexto, o termo “desvio social”, que se refere a ação desviada daquilo
que é tido como correto numa dada comunidade. Este desvio e a criminalidade passam a ser
considerados como uma etiqueta, atribuídos aos indivíduos marginalizados, que após
delinquirem, são excluídos do grupo social, tornando-se vítima do preconceito dentro do
sistema penal e fora dele (BEZERRA; HAAS; LEITE, 2016).

A repressão institucionalizada só deve ter lugar quando todos os demais mecanismos


de controle informais forem falhos, porque é estigmatizante. Para a rotulação social
é essa intervenção do aparelho estatal repressivo que facilita o desenvolvimento de
um instinto criminoso no indivíduo, início de uma possível carreira criminosa.
Assim, a interferência da Justiça, nos moldes hoje apresentados, é apta a aprofundar
a criminalidade, e não conte-la (ARAÚJO, 2010).

Ainda conforme descrito por Araújo, a teoria do etiquetamento coloca em três níveis o
problema da definição da criminalidade, sendo eles, “a investigação do processo de definição
da conduta desviada, a atribuição do status de criminoso e o impacto desta na identidade
desviante” (2010, p.79).
Segundo esta teoria, o crime é uma construção social, na qual a sociedade irá criar suas
regras e selecionar quais indivíduos deverão ser responsabilizados. Assim, é a reação da
sociedade frente a uma determinada conduta que a configura como criminosa. A seletividade
irá criminalizar preferencialmente o indivíduo que já possui algum fator estigmatizante
(LIMA, 2016).
A forma como a sociedade e as instituições reagem frente a uma conduta desviante
independe da natureza do delito. O etiquetamento é um reflexo direto de uma sociedade
controladora que seleciona o que e quem será punido, em benefício de interesses próprios,
estigmatizando indivíduos e contribuindo para o aumento da desigualdade social.
Os indivíduos que ingressam no sistema penal dificilmente conseguem se
ressocializar, “pois se encontram inseridos em cadeias de adversidades e acumulação de
desvantagens” (CARDOSO, 2016, p.27). O etiquetamento irá trazer dificuldades para que o
desviante se reinsira na sociedade, fazendo com que volte a delinquir.
A grande questão aqui levantada é por que certas condutas são consideradas crimes em
detrimento a outras e por que determinadas pessoas são tidas como criminosas e outras não.
Observa-se um processo de criminalização que se dá a partir do estereótipo do criminoso. Não
é o comportamento em si do indivíduo que irá caracterizá-lo como desviante ou normal, mas
somente o modo como este comportamento é interpretado. O crime só é crime, porque alguém
assim determinou (SOUZA, 2016).
19

A forma desigual na qual opera o sistema punitivo na busca pelo controle social,
perpetuando a desigualdade substancial entre os indivíduos, definindo-os como desviantes, se
manifesta mediante uma dupla seleção, que se materializa em dois níveis distintos, um
abstrato e outro concreto (OLIVEIRA; CONTIJO, 2017).
A seleção de quais bens jurídicos serão tutelados pelo Estado e quais condutas deverão
ser criminalizadas se dá de forma abstrata. É nesse momento que opera a criminalização
primária, onde o legislador irá decidir quais tipos penais irão integrar o ordenamento jurídico.
Trata-se de um conteúdo programático que dependerá de outras instâncias para sua efetivação.
É nessa fase que se inicia o processo seletivo que é contrário ao discurso legitimador da
função da lei, que, em tese, deveria representar os interesses da sociedade na busca de um
bem comum (COSTA, 2017). Ocorre que, o legislador, quando da elaboração da lei penal,
baseia-se em suas concepções e interesses pessoais, deixando de priorizar o que de fato
importa para que haja uma sociedade harmônica e igualitária.

[...] o crime não é uma virtualidade que o interesse ou as paixões introduziram no


coração de todos os homens, mas que é coisa quase exclusiva de uma certa classe
social; que os criminosos, que antigamente eram encontrados em todas as classes
sociais, saem agora “quase todos da última fileira da ordem social”. [...] nessas
condições seria hipocrisia ou ingenuidade acreditar que a lei é feita para todo mundo
em nome de todo mundo; que é mais prudente reconhecer que ela é feita para alguns
e se aplica a outros; que em princípio ela obriga a todos os cidadãos, mas se dirige
principalmente às classes mais numerosas e menos esclarecidas; que, ao contrário do
que acontece com as leis políticas ou civis, sua aplicação não se refere a todos da
mesma forma, que nos tribunais não é a sociedade inteira que julga um de seus
membros, mas uma categoria social encarregada da ordem sanciona outra fadada à
desordem (FOUCAULT, 1999, p. 303).

Para Oliveira e Contijo (2007, p. 235) o que acontece é uma “supervalorização da


atividade seletiva do poder legiferante”, pois o sistema penal vai além dos padrões de
comportamentos aceitáveis e condutas passíveis de punição que esse poder impõe. Pune-se
aquilo que deveria ser não-penal e deixa de punir aquilo que seria penal.
Rara são as vezes que as condutas comumente praticadas por aqueles que detém o
poder político e econômico são criminalizadas. Essa criminalização ocorre quando esses
indivíduos detentores de poder precisam provar para a sociedade que não se pune apenas a
classe social mais abastada. Sacrificam um dos seus em nome dos demais (SILVA, 2014).
Por conseguinte, após a criação da norma penal pelo processo de criminalização
primária, surge a necessidade da sua imposição de forma concreta por meio das agências
especializadas. A essa imposição institucionalizada da lei dá-se o nome de criminalização
secundária (CARDOSO, 2016).
20

É, pois, na criminalização secundária que ocorre a subsunção da norma ao caso


concreto, punindo o indivíduo já pré-selecionado. Escolhe-se quem deverá ser punido dentre
tantos outros sujeitos que também praticam uma conduta tipificada pelo ordenamento jurídico
(ARAÚJO, 2010).

Os mecanismos da criminalização secundária acentuam ainda mais o caráter seletivo


do direito penal. No que se refere à seleção dos indivíduos, o paradigma mais eficaz
para a sistematização dos dados da observação é o que assume como variável
independente a posição ocupada pelos indivíduos na escala social. As maiores
chances de ser selecionado para fazer parte da "população criminosa" aparecem, de
fato, concentradas nos níveis mais baixos da escala social (subproletariado e grupos
marginais) (BARATTA, 2002, p. 165).

Zaffaroni (2001) afirma que o processo da criminalização secundária se inicia quando


as agências policiais supõem que o sujeito praticou determinada conduta criminalizada
primariamente, investigando-o e, em algumas situações, privando-o de sua liberdade. Essa
perseguição realizada a um rol de suspeitos permanentes, contribui para a estigmatização
social do criminalizado. Assim, percebe-se que a atividade policial exerce uma função
seletiva mais expressiva que àquela exercida pelo legislador, quando da criminalização
primária.
Devido à grande demanda de trabalho que é atribuída às agências policiais, seus
agentes acabam priorizando determinadas atividades e desenvolvendo critérios próprios para
desempenhá-las. Ao criarem sua metodologia acabam operando de forma seletiva, baseando-
se no estereótipo do indivíduo para identifica-lo como um possível criminoso. Assim, as
características pessoais, sociais, bem como a natureza do crime cometido, irão determinar
quem será atingido por essa agência de controle (ARAÚJO, 2010).
Após a fase de investigação criminal e com o oferecimento da denúncia pelo
Ministério Público, o sujeito já rotulado passará por mais um estágio de seletividade, que é
exercido pelo Poder Judiciário. Para a teoria do labelling approach, em que pese ser
obrigatório a imparcialidade do magistrado, este, ainda que não perceba, fundado em seu
saber jurídico e pautado na sua moral e convicções, acaba punindo com maior rigor seus
diferentes, vale dizer, os indivíduos das camadas mais humildes da sociedade (COSTA,
2017).
No que concerne a fase de execução da pena imposta pelo juiz, é evidente como o
encarceramento funciona como um aspirador social, utilizado como forma de repressão à
pobreza. A população carcerária se constitui em sua maioria de indivíduos negros, com pouco
ou nenhum grau de escolaridade, reincidentes e que cometeram crimes contra o patrimônio.
21

Basta uma rápida análise nos dados disponíveis no site do Infopen, referentes a dezembro de
2019, onde 66,69% (sessenta e seis vírgula sessenta e nove porcento) dos encarcerados eram
pretos ou pardos e aproximadamente 50% (cinquenta porcento) não haviam concluído o
ensino fundamental (DEPEN, 2020).

A função do cárcere na produção de indivíduos desiguais é, hoje, não menos


importante. Atualmente o cárcere produz, recrutando-o principalmente das zonas
mais depauperadas da sociedade, um setor de marginalizados sociais particularmente
qualificados para a intervenção estigmatizante do sistema punitivo do Estado e para
a realização daqueles processos que, ao nível da interação social e da opinião
pública, são ativados pela pena, e contribuem para realizar o seu efeito
marginalizador e atomizante. [...] o cárcere representa a ponta do iceberg que é o
sistema penal burguês, o momento culminante de um processo de seleção que
começa ainda antes da intervenção do sistema penal, com a discriminação social e
escolar [...] representa, geralmente, a consolidação definitiva de uma carreira
criminosa (BARATTA, 2002, p. 167).

Face ao exposto, resta evidente que os indivíduos comumente atingidos pelo sistema
penal são aqueles socialmente vulneráveis, não por estarem mais propensos a delinquirem,
mas sim por terem maiores chances de serem etiquetados pelas agências de controle.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade desenvolve métodos para controlar o comportamento dos indivíduos


para a manutenção da convivência pacífica e harmoniosa, a fim de atender as necessidades e
interesses das classes dominantes. Para tanto, utiliza-se do sistema penal como ferramenta de
controle social sobre as minorias indesejáveis.
Esse sistema, que detém o poder punitivo, atua quase que de forma exclusiva contra
condutas praticadas por indivíduos que compõe à margem social, destoando do discurso
garantista sustentado pelo Estado Democrático. Trata-se de uma violência institucionalizada
que utiliza normas jurídicas para manter a estrutura política e social, sob o falso pretexto da
busca pelo bem comum.
Os processos de criminalização e penalização operam sem o intuito de diminuir a
criminalidade, vez que isso só seria possível investindo em mudanças na atual situação social
do país, ao contrário, utiliza-se de normas rígidas e cruéis na defesa do interesse da classe
burguesa. A intenção do sistema punitivo nunca foi a de combater ou cercear a criminalidade
e sim de utilizar a lei para a manutenção do poder.
A Teoria do labelling approach analisa as situações onde o indivíduo passa a ser
considerado um desviante com um olhar voltado para a realidade social e a para a realidade
22

do delinquente, bem como os estigmas por ele carregado. Para a labelling, a sociedade e as
instituições que compõe o sistema punitivo são a base do processo de criminalização. São eles
que escolhem quais condutas devem ser punidas e quais indivíduos serão responsabilizados
por atos desviantes. É a reação social que faz com que uma determinada conduta passe a ser
definida como crime.
Conclui-se que, o sistema penal é uma ferramenta valiosa para o Estado, com o
objetivo de gerenciar a miséria e excluir da sociedade os marginalizados para a manutenção
do poder dos elitizados, sem se preocupar com as consequências que o rótulo e o estigma
trarão para a vida do desviante.
23

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