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INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DO SUL DO MARANHÃO


UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DO SUL DO MARANHÃO
CURSO DE DIREITO

BÁRBARA ALVES DA SILVA ANDRADE

RACISMO INSTITUCIONAL: seletividade no sistema penal brasileiro e a


meritocracia

Imperatriz
2020
1

BÁRBARA ALVES DA SILVA ANDRADE

RACISMO INSTITUCIONAL: seletividade no sistema penal brasileiro e a


meritocracia

Monografia apresentada ao Curso de Direito do


Instituto de Ensino Superior do Sul do
Maranhão/Unidade de Ensino Superior do Sul do
Maranhão para obtenção do grau de Bacharel em
Direito.

Orientador: Prof. Tanira Alves Novaes de Oliveira

Imperatriz
2020
2

BÁRBARA ALVES DA SILVA ANDRADE

RACISMO INSTITUCIONAL: seletividade no sistema penal brasileiro e a


meritocracia

Monografia apresentada ao Curso de Direito do


Instituto de Ensino Superior do Sul do
Maranhão/Unidade de Ensino Superior do Sul do
Maranhão para obtenção do grau de Bacharel em
Direito.

APROVADA EM / /

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________
Prof. Tanira Alves Novaes de Oliveira
(titulação)

_________________________________________________________
Membro da banca
(titulação)

_________________________________________________________
Membro da banca
(titulação)
3

RESUMO

O presente trabalho versa sobre o racismo institucional, que é uma realidade da


sociedade brasileira na esfera criminal. Faz um esboço do contexto histórico do
racismo e da constituição das prisões e como ele é manifestado implicitamente pela
ideologia da meritocracia, que através da formalidade democrática mascara as
disparidades entre as classes, visto que o que as leis e princípios positivados
determinam – ideais de igualdade e justiça para todos sem distinção – não é o que
ocorre na realidade. Observa-se como a estrutura social é dinamizada, mostrando
como a carência educacional para grande parte da população gera graves
consequências, de modo a naturalizar as desigualdades do país e justificando os
privilégios de uns em contrapartida à subordinação de outros, onde a política pública
de segurança do país, que é mais repreensiva, possui alvos preferentes, o que traz
como consequência um encarceramento em massa da população negra, que sofre
com o desamparo do Estado desde os tempos da escravidão.

Palavras-chave: Racismo institucional. Meritocracia. Estado.


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ABSTRACT

The present work deals with institutional racism, which is a reality of Brazilian society
in the criminal sphere. It outlines the historical context of racism and the constitution of
prisons and how it is implicitly manifested by the ideology of meritocracy, which through
democratic formality masks the disparities between classes, since what the positivated
laws and principles determine - ideals of equality and justice for all without distinction
- this is not the case in reality. It is observed how the social structure is dynamized,
showing how the educational deficiency for a large part of the population generates
serious consequences, in order to naturalize the country's inequalities and justifying
the privileges of some in return for the subordination of others, where the public policy
of The country's security, which is more reprehensible, has preferential targets, which
results in a massive incarceration of the black population, which has suffered from the
state's helplessness since the times of slavery.

Keywords: Institutional racism. Meritocracy. State.


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 6
2 RACISMO ...................................................................................................... 8
2.1 Contexto histórico do racismo no Brasil ................................................ 8
2.2 Racismo Institucional ............................................................................... 12
3 SISTEMA PENAL .......................................................................................... 15
3.1 Como ocorre a seletividade dentro do sistema penal através da
manifestação do racismo ............................................................................... 17
3.2 Sistema penal brasileiro ........................................................................... 21
4 RACISMO INSTITUCIONAL E A MERITOCRACIA ....................................... 24
4.1 Como o racismo institucional atrelado à meritocracia influencia no
cárcere .............................................................................................................. 25
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 29
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 31
6

1 INTRODUÇÃO

Questões que envolvem desigualdades sociais, racismo e criminalidade estão


enraizadas dentre as bases que constituíram a sociedade brasileira. O presente
trabalho objetivou fazer uma análise oriunda de leituras de obras contemporâneas e
arcaicas e também de artigos acerca das injustiças e desrespeitos para com a vida do
ser humano, tendo como quesito a cor da pele e a classe social do indivíduo de forma
naturalizada no ordenamento jurídico e social brasileiro, considerando também o ideal
meritocrático.
Optando por abordar o racismo institucional, realidade vivenciada pelo Brasil,
dentro da esfera criminal, tal fato proporciona analisar a base da ideologia
meritocrática e como existe uma necessidade de tornar válida a materialização dos
princípios e direitos iguais para todos, de forma que cada indivíduo possa ter meios
para lutar e buscar por todos os seus objetivos, assim obtendo sucesso no meio social.
Será que tudo na vida depende do indivíduo e do esforço que ele faz? Será que
não existem outros fatores que influenciam a trajetória do indivíduo? De que maneira
a meritocracia é utilizada para validar a forma como ocorre a dinâmica das estruturas
sociais? Independentemente de qualquer resposta que possa vir à mente, o caminho
mais fácil é pensar que tudo na vida, como o sucesso financeiro e profissional da
pessoa, depende dela própria, do seu esforço, sobretudo quando esse tipo de
discurso é reproduzido em cima dos nossos privilégios e esse pensamento de certa
forma se torna cômodo, pois faz com que as pessoas se desresponsabilizem da
tragédia alheia que as cerca.
Para o alcance dos objetivos, a metodologia aplicada se deu por meio do
método dedutivo, visto que é o processo de raciocinar a partir de premissas para
alcançar uma conclusão logicamente correta através da pesquisa bibliográfica por
meios de livros, monografias, artigos de sites da internet e a legislação vigente.
Acerca da divisão das seções, no primeiro momento são apresentadas as
origens do racismo, o conceito e como ocorre o racismo institucional. Logo em
seguida, é feita uma abordagem do sistema penal, como ocorre a seletividade penal
através da manifestação do racismo e alguns dados do cárcere brasileiro.
Posteriormente, analisa-se como a meritocracia atrelada ao racismo institucional
influencia nas prisões, apresentando como a carência educacional contribui para o
reforço da estrutura que engloba de forma naturalizada a população desassistida pelo
7

Estado. No mais, enfatiza-se o fato de como os direitos formais precisam ser


materializados para todos, sem qualquer tipo de distinção, para que seus efeitos
possam ser processados no âmbito social.
Finalmente, espera-se com o presente trabalho monográfico que o tema do
racismo institucional ganhe destaque e sensibilize o leitor, de forma que este se
transforme em mais um colaborador no combate a tamanha injustiça, que é o racismo.
8

2 RACISMO

Conforme o pensamento de Almeida (2018, p. 22), racismo é uma forma de


racionalizar, de compreender a realidade, constituindo práticas tanto conscientes
quanto inconscientes, como se fosse um funcionamento “normal” da vida cotidiana
que promove, direta ou indiretamente, o preconceito e a segregação racial.
Vale salientar, antes de dar prosseguimento ao estudo, que raça é uma
construção social efetivada pelo preconceito para distinguir pessoas, ou seja, para
destacar um grupo de acordo com suas características físicas. Assim, a definição do
termo raça é direcionada no sentido de atribuir socialmente valores a certas
características biológicas, como nos casos de segregação racial ou discriminação.
“(...) do ponto de vista científico, raças humanas não existem e não é apropriado
falar de raça, mas sim de características de pigmentação da pele. E a cor da pele não
está geneticamente associada a nenhuma habilidade intelectual, física e emocional”
(informação verbal)1.

2.1 Contexto histórico do racismo no Brasil

O país possui 520 anos de história e, nesse lapso temporal, 388 anos foram
com escravidão, isto é, mais tempo de história com trabalho escravo do que com o
trabalho livre. Portugal conquistou a África nos séculos XV e XVI, buscando ouro,
especiarias e mão de obra. Quando o açúcar foi introduzido no Brasil, os portugueses
venderam os negros para a América portuguesa, principalmente para a região
nordeste, onde se situavam os engenhos de açúcar.
O que muitos não lembram é que os primeiros escravos nas terras brasileiras
foram os indígenas, que os portugueses denominavam de negros da terra. Eles
trabalharam no início da colonização, na construção dos engenhos e na produção
agrícola, e, por uma série de fatores, o índio foi aos poucos sendo substituído pela
mão de obra escrava africana.
Um dos motivos mais importantes que ocasionou essa substituição é o fato de
que eles não geravam renda para a Coroa, pois eram capturados dentro do Brasil e
já se tornavam escravos. Os africanos, por sua vez, eram capturados em outro

1
Fala do especialista em genética humana pela Universidade de Manitoba (Canadá), Sérgio Danilo
Pena, em 04 de março de 2010.
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continente, fazendo parte de um comércio internacional, o que gerava um imposto


sobre a comercialização desses seres humanos. Outro fator era a morte de índios,
que era constante, tornando a mão de obra indígena escassa. Essas baixas se deviam
principalmente às guerras e às doenças que os europeus trouxeram para o Brasil.
Outra causa que se destacou nessa substituição foi a proteção da igreja aos
nativos, por meio do principal argumento de que os índios tinham uma boa alma e só
não conheciam ainda ao Deus cristão, e que era dever catequizá-los. Contudo, os
índios não deixaram de serem escravizados, porém, em menor escala.
Assim, os portugueses recorreram ao tráfico internacional de escravos
africanos, sequestrando os negros da África, que eram transportados para a colônia
através dos navios negreiros, onde geralmente um terço deles morria antes mesmo
de chegar ao seu destino, por falta de alimentação e higiene precária, pois as
“acomodações” eram desumanas. Chegando aos solos brasileiros, eles eram
vendidos nos mercados de escravos, onde seus dentes, corpos e músculos eram
avaliados pelos “senhores brancos”, que gastavam grandes quantidades de dinheiro
na compra das “peças”.
Depois de vendido, o escravo africano ia trabalhar nas zonas rurais, que eram
as localidades onde se encontravam as fazendas dos engenhos de açúcar; nessas
propriedades, os negros faziam um trabalho pesado, eram vítimas de espancamentos;
as condições de trabalho, moradia e saúde eram extremamente precárias, e a
estimativa de vida do negro era de apenas trinta anos de idade.
Durante a colonização, os escravos tinham várias funções. Existia uma função
desempenhada pelo chamado negro do eito, que correspondia aos negros que
trabalhavam nas lavouras com jornadas de até quinze horas. Em caso de
desobediência, o senhor feudal lhes aplicava castigos que eram imoderadamente
violentos. Por exemplo, tinha-se o tronco, que eram locais onde eram amarrados e
chicoteados pelos seus donos; também havia a palmatória, instrumento utilizado para
bater na mão do escravo; e, por último, a máscara, que era utilizada para evitar que o
escravo ingerisse bebidas alcoólicas ou que furtasse comidas para sua própria
alimentação. Esses castigos eram exemplares, ou seja, eram públicos para que todos
os outros escravos vissem e ficassem com medo de desobedecer. Objetivavam
desencorajar as manifestações e revoltas que pudessem acontecer.
Existiam também os escravos domésticos, os quais trabalhavam dentro da
casa grande, lavavam as roupas, cozinhavam, cuidavam, chegando as escravas até
10

a amamentarem as crianças das senhoras brancas. Por fim, existiam os escravos de


ganho, que faziam trabalhos temporários e no fim ganhavam dinheiro. Parte dessa
pecúnia ficava com ele e a outra parte ia para seu dono. As funções eram de
ambulantes, comerciantes, carpinteiros e até mesmo barbeiros. Em alguns casos, os
negros que juntavam dinheiro podiam chegar a algum dia comprar sua liberdade.
Ao contrário do que acontecia com os indígenas, os negros não possuíam
proteção dos missionários. Muito pelo contrário, a igreja não só incentivava como
também praticava a escravidão do negro. Existiam engenhos de açúcar que eram
administrados por padres e que utilizavam a mão de obra africana. Um dos exemplos
mais nítidos do incentivo a esse tipo de servidão por parte dos jesuítas foi o padre
Antonio Vieira, que defendia a escravidão, o que se pode ver claramente através de
suas ideias em um de seus famosos sermões.

Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque padeceis em


um modo muito semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz e
em toda a sua paixão. A sua cruz foi composta de dois madeiros, e a vossa
em um engenho é de três. Também ali não faltaram as canas, porque duas
vezes entraram na Paixão: uma vez servindo para o cetro de escárnio, e outra
vez para a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cristo parte foi de
noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites
e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós
famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as
prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe
a vossa imitação, que, se for acompanhada de paciência, também terá
merecimento de martírio (VIEIRA, 1951).

Este sermão evidencia o pensamento que o padre tinha em relação a


escravização negra: para ele, os escravos mereciam a escravidão, porque, através do
trabalho escravo, os negros estariam livres dos seus pecados e chegariam ao paraíso.
Comparava o sofrimento deles com o sofrimento de Jesus Cristo, alegando que, se
eles seguissem o trabalho e sofressem como Jesus sofreu, chegariam até a salvação.
Contudo, os negros não aceitaram submissos essa servidão imposta a eles, e,
assim, a resistência e busca por liberdade fez parte do cotidiano de milhões de
escravos africanos.
A resistência contra a escravização começava na África, onde frequentemente
os capturados tentavam fugas e revoltas e continuavam nos navios negreiros. Como
exemplo, tem-se o navio La Amistad que, em 1839, transportava clandestinamente
pessoas para vender em Cuba, mas que foi frustrado por uma rebelião; eles acabaram
chegando ao sul do Estados Unidos, onde a escravidão era legal, mas não o tráfico
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internacional do escravizado. Quanto ao Brasil, existiam várias formas de o escravo


resistir à escravidão no país enquanto colônia, desde formas de resistências
individuais como também coletivas.
Inicialmente pode-se citar o suicídio: havia muitos escravos que preferiam
morrer a ter que trabalhar escravizado e ser espancado pelo seu dono. Existia uma
expressão africana, “banzo”, que significava um estado de depressão, e, tomado por
esse estado de isolação e sofrimento, o escravo preferia a morte ao trabalho
degradante.
Outra forma de resistência era o aborto. As mulheres escravas que ficavam
grávidas preferiam recorrer a práticas abortivas – a principal delas através da ingestão
de certas ervas – a verem seus filhos sujeitos às mesmas condições que elas.
Existiam também as paralisações, em que os escravos “cruzavam os braços” e só
voltavam a trabalhar se as suas exigências fossem cumpridas pelos senhores. Citam-
se ainda os assassinatos, em que os escravos organizavam revoltas e em muitas
delas chegavam até a assassinar os seus senhores. Mais uma forma de resistência
era a negociação da liberdade, que consistia no senhor estipular um preço para que
o escravo pagasse e conseguisse sua carta de alforria; era raro, porém existiam
escravos que conseguiam.
Contudo, a mais famosa forma de resistência à escravidão eram os chamados
quilombos, que se compreendiam como comunidades no meio da mata formadas por
negros que conseguiam fugir. Eram um forte que resistia aos ataques dos homens
brancos.
A vida nos quilombos acontecia de acordo com as tradições africanas. Além
dos negros, moravam nessas comunidades homens brancos, livres e pobres e até
alguns indígenas. Isto é, os excluídos da sociedade colonial. Nesses acampamentos
de resistência, os refugiados plantavam alimentos e também cometiam pequenos
furtos nas estradas para tentarem conseguir mantimentos, e tinham relações
comerciais com núcleos populacionais do corpo social, ou seja, eles não eram
totalmente isolados da vida na colônia.
O quilombo podia ser tanto uma pequena comunidade de cinco ou mais
casebres como também um quilombo maior, com uma grande população, organização
militar, política e religiosa. Essas comunidades negras autônomas existiam
espalhadas por todo o Brasil, sendo a principal delas o Quilombo dos Palmares,
localizado na Serra da Barriga, na Capitania de Pernambuco. Foi fundado em 1590 e
12

resistiu até 1694, chegando a ter uma população de vinte e cinco mil pessoas. Pode-
se dizer que era um complexo populacional. A estrutura política e religiosa era muito
rígida e existia um líder político e um líder religioso.
Zumbi dos Palmares, uma das principais figuras do movimento negro de
resistência no Brasil, em 1678 assumiu a liderança do Quilombo dos Palmares e
chefiou a comunidade por catorze anos, resistindo a vários ataques dos portugueses,
principalmente dos bandeirantes. Porém, em 1694, o bandeirante chamado Domingos
Jorge Velho atacou a comunidade, muitos negros foram mortos, outros recapturados
e Zumbi acabou tendo que fugir. Um ano depois foi encontrado, morto e decapitado,
ficando a sua cabeça ficou exposta em Recife, com o objetivo de mostrar a todos os
negros que, se resistissem, teriam o mesmo fim que o líder da resistência. Com isso,
teve fim o Quilombo dos Palmares. Somente em 1888, teve fim a escravidão de
pessoas negras no Brasil através da assinatura da Lei Áurea.
O Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão. Em
1888, mesmo livres, um milhão e meio de pessoas negras foram colocadas na
sociedade brasileira sem nenhum suporte. E, por conta dessa herança histórica vindo
de centenas de anos de escravidão, é que nasce o que é chamado de racismo.

2.2 Racismo Institucional

Para se entender toda a complexidade que constitui a estrutura racista, é


necessário saber o conceito de racismo e diferenciá-lo do que é preconceito e
discriminação, que, de acordo com Capez (2012), são consequências da intolerância
da sociedade, quando a mesma não pondera os fatos e os julga sem conhecer.
Preconceito é uma forma de percepção da sociedade transferida para o
julgamento feito de certos aspectos da realidade, ou seja, é uma ideia pré-
estabelecida a respeito do comportamento de pessoas por conta da raça ou por conta
de algum tipo de característica própria do seu pertencimento social. Joaquim (2006)
preceitua como ações negativas ou desfavoráveis direcionadas para um grupo de
pessoas ou seus componentes individuais. É uma forma de construção do imaginário
social que não parte de uma análise profunda.
“Discriminar significa diferenciar, distinguir ou separar” (FERREIRA, 2015); é
um ato de poder e de estabelecer diferenças. Ela pode ter como motivação a condição
da raça, mas ela não é necessariamente racial. Como exemplo, tem-se a
13

discriminação sexual. Podem ser estabelecidas várias formas de discriminação


independentemente da raça.
Conforme o pensamento de Bobbio (1996), preconceito e discriminação
encontram-se localizados no consciente e na esfera da afetividade do indivíduo,
portanto, quando não manifestados, não afetam princípios e direitos. Cada um tem a
opção de gostar ou não, desde de que não viole o direito e a dignidade do próximo
por meio de ações ou práticas.
Já o racismo, de acordo com Almeida (2018), é definido por seu caráter
sistêmico envolvendo o preconceito e a discriminação, em que são desenvolvidas
condições de inferioridade e desvantagens para certos grupos, ao mesmo tempo em
que se criam condições de vantagens e privilégios destinados a outros grupos nas
esferas política, econômica e nas relações cotidianas. Na mesma linha de
pensamento, “trata-se da falha coletiva de uma organização em promover um serviço
apropriado e profissional às pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem étnica”
(CARMICHAEL; HAMILTON, 1967, p. 4).
Sílvio de Almeida (2018), em sua obra “Racismo Estrutural”, descreve três
definições de racismo. Racismo individual é a relação entre racismo e subjetivismo;
racismo institucional é a combinação entre o racismo e o Estado, e, por fim, o racismo
estrutural, que relaciona racismo e economia.
Antes de se adentrar na esfera do racismo institucional, que é o foco a ser
discutido, é necessário compreender o racismo estrutural. Não existe racismo que não
seja estrutural. Isso se deve ao fato de que o racismo, sendo um processo, depende
de estruturas sociais, para que a criação continue sendo sistêmica e, se puder, que
funcione no mesmo sentindo. Precisam-se ter mecanismos estatais funcionando,
mecanismos ideológicos para reproduzir o imaginário social sobre o comportamento
de pessoas e grupos racializados, e necessitam-se de mecanismos jurídicos que vão
estabelecer o limite do comportamento das pessoas que vão pertencer a certos
grupos. Necessitam-se também de mecanismos e estruturas econômicas.
Mbembe (2014) afirma que raça e racismo são definidos pelo Estado, de forma
que ele sempre irá utilizar tais definições para normalizar crimes por ele praticados,
justificando, assim, práticas violentas com base no ordenamento jurídico criado pelo
e para o Estado.
A estrutura é, portanto, Estado, ideologia, direito e economia. Para que haja
racismo como um processo sistêmico que cria vantagens e desvantagens para grupos
14

que são racializados, essas estruturas devem funcionar de maneira afinada. Então o
racismo é estrutural no sentindo de que ele só funciona se houver essas estruturas.
Agora pode-se definir a diferença entre o estrutural e o funcional. Para uma
estrutura social funcionar, é necessário que existam instituições reprodutoras de
comportamentos, que transformem o indivíduo em sujeito que vai naturalizar a
existência de raça, e tornar normal a existência de certos limites jurídicos estatais; ou
seja, a instituição é um resultado da própria estrutura.
Na concepção institucional, o racismo desloca-se da esfera do individual e
passa a transitar no funcionamento das instituições, isto é, quando as instituições
tanto públicas como privadas colocam a pessoa negra em condição de inferioridade.
Racismo Institucional, em suma, é tratar de forma diferente por questões de
raça dentro de organizações, associações, grupos, empresas e instituições. Ou seja,
é colocar de frente negros e brancos, tratando-os de maneira diferente, optando por
um em detrimento do outro, dando e tirando privilégios sem qualquer respaldo legal.
É como o Estado se comporta com uma pessoa negra diante dos direitos.
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3 SISTEMA PENAL

O sistema penal ocupa-se da gestão social punitiva institucionalizada que atua


inicialmente desde o acontecimento, ou suspeita da ocorrência de um delito, até o fim
do processo com a execução da pena (ZAFFARONI; PIERANGELI, 2011, p. 69).
Os sistemas de punições sempre estiveram presentes na história da
humanidade, e ao longo do tempo foi passando por várias transformações, até chegar
à atual configuração que segue princípios de privação de liberdade como exemplo de
punição coercitiva e “regenerativa”.
Na Idade Antiga, aproximadamente entre o século VIII a.C. e o século V d.C.,
o cárcere, levando em consideração que não existiam regulamentos positivados que
direcionavam as condutas sociais, era configurado pelo encarceramento, que
apresentava como serventia o ato de aprisionar, não como caráter da pena, e sim
como garantia de manter o indivíduo sob domínio físico para exercer a punição. Os
locais que geralmente serviam de encarceramento para os suplícios eram calabouços,
ruínas e até torres de castelos. Para Foucault (1987), o suplício era a produção
diferenciada de sofrimento, um ritual organizado para marcação das vítimas e
manifestação do poder de punir; em outras palavras, o suplício se tratava de um ritual
público de dominação pelo terror, usado como principal forma de punição durante toda
a Idade Média.
De acordo com Carvalho Filho (2002), os locais de encarceramento eram
sempre insalubres, sem iluminação e sem condições de higiene, ou seja, locais
totalmente nocivos à saúde. Como exemplo, as masmorras, locais pútridos nos quais
os presos adoeciam e podiam morrer antes mesmo do julgamento. Isso porque o
conceito de prisão era apenas um local no qual se garantia que o sujeito não fugisse,
esperando até o momento da punição, que geralmente era caracterizada por algum
tipo de tortura física.
No período Medieval, assim como na Idade Antiga, as prisões tinham apenas
objetivo de segurar o preso, para garantir o cumprimento das punições que também
eram físicas. Não havia necessidade de um local específico para encarcerar. As penas
eram amputações, degolação, queimaduras a ferro em brasa e a guilhotina, castigos
que causavam dor extrema.
É importante evidenciar que a Igreja Católica possuía grande influência no
sistema de punições desse período, ordenando as inquisições, também chamadas de
16

Santo Ofício, que era uma instituição formada pelos tribunais da Igreja Católica que
perseguiam, julgavam e puniam pessoas acusadas de se desviar de suas normas de
conduta.
Durante a Idade Moderna, o cenário político era caracterizado pelas
monarquias absolutistas. Nesse período, o rei, a figura detentora de poder absoluto,
desconhecia limites, impondo de forma bárbara os mais diversos tipos de punições e
não havia a necessidade de uma justificativa para as crueldades das penitências
imputadas aos indivíduos encarcerados, bem como as condutas puníveis. Questionar
tais atos era o mesmo que pôr à prova a própria soberania do rei.
O conceito de prisão como pena autônoma ainda não era conhecido. Sendo
assim, nessa época, o cárcere ainda tinha como utilidade apenas guardar o
condenado para aplicação da pena final.
No século XVIII, as prisões foram afetadas significativamente pelo iluminismo
e as dificuldades econômicas que acometeram a população. Os suplícios já não
saciavam a sede de justiça. Assim, houve a transformação das penas de castigos
cruéis para privação de liberdade. Tudo isso pelo motivo do aumento da pobreza que
consequentemente aumentou a taxa de crimes patrimoniais e as penas de morte já
não eram mais tão temidas. Surgiram então as penas privativas de liberdade como
nova forma de controle social.
Michel Foucault (1987, p. 70), em "Vigiar e Punir”, descreve um novo conceito
sobre as penas da época. Pode-se muito rapidamente entender a obviedade da prisão
como a pena em si. Desde o final do século XVIII e início do século XIX, a consciência
de sua novidade está intimamente ligada ao próprio desenrolar de uma sociedade que
começava a desenvolver ideais reformadores modificando todos os estratos sociais.
Tal posicionamento de Foucault se relaciona a ideais iluministas. O iluminismo
foi um movimento político, cultural e intelectual que propagava concepções de
liberdade econômica e política, causando grandes revoluções na história.
De acordo com o pensamento de Nilo Batista (2007), hoje o sistema penal é
dividido em três setores, os quais são instituição policial, que é a responsável por
investigar os crimes, instituição judiciária, que tem o papel de aplicar as leis e, por fim,
a instituição penitenciária, em que ocorre a execução das normas, pondo em prática
as medidas de privação da liberdade.
Esses setores são independentes entre si e não obedecem a uma ordem
cronológica. No entanto, podem a qualquer momento interferir um na esfera do outro,
17

conforme exemplificam Zaffaroni e Pierangeli (2011, p. 70-71): “o judicial faz o controle


da execução, o executivo mantém sob seu domínio a tutela do preso no decorrer do
processo, e o policial possui o encargo de deslocamento de presos condenados”.
Ainda de acordo com alguns autores, como Molina (2002), existe a divisão do
Sistema Penal Informal, que é constituído pela opinião pública, escola, família, grupo
cultural, comunidade religiosa, entre outros; e o Sistema Penal Formal, que é a divisão
constituída pelas instituições policiais, judiciárias e penitenciárias.

3.1 Como ocorre a seletividade dentro do sistema penal através da manifestação


do racismo

Para entender como ocorre a seletividade no âmbito penal, é fundamental


conhecer o conceito de crime, que envolve os critérios coletivos predominantes e as
classes sociais privilegiadas a eles relacionados. Precisa-se compreender como
ocorre o processo de incriminação, questionando não só a trajetória da conduta ilegal,
como também o motivo que deu base às ações do indivíduo infrator.
Dornelles (1992) argumenta não haver uma ideia unificada no que diz respeito
ao conceito de crime, uma vez que tal fato pode ser entendido de várias maneiras,
dependendo de cada sociedade, onde convicções sobre vida e mundo podem ser
diferentes. De modo geral, o crime pode ser visto como violação de uma lei ou norma,
é uma demonstração de anormalidade no comportamento do criminoso, ou também
como resultado de mau funcionamento de uma parcela da sociedade, como as
favelas, classes, grupos sociais, comunidades etc. Pode ser considerado ainda como
uma manifestação de resistência dentro de uma sociedade que define o que é crime
e passa a selecionar os clientes do sistema penal em conformidade com os interesses
e objetivos das classes que detêm o poder econômico.
O sistema penal é composto de agências criminalizantes, que vão materializar
o que se entende como crime. Elas são compostas desde agentes políticos até as
agências executivas.
Conforme o pensamento de Zaffaronni e Peirangeli (2015), todo modelo de
sociedade contemporânea seleciona um número reduzido de pessoas para que se
submetam à coação do Estado, com o fim de impor uma pena. Assim, as agências
criminalizantes são um filtro para selecionar os indivíduos que irão receber uma pena.
18

A criminalização se divide em dois polos, a primária e a secundária. A


criminalização primária é feita pelas agências políticas a partir do momento em que
elas legislam sobre tipos penais incriminadores. Ou seja, quando o legislador cria um
tipo penal, ele está selecionando um determinado grupo de indivíduos, os quais irão
“se tornar clientes” de determinada prática criminosa.
Já a criminalização secundária é realizada pelas agências policiais, promotorias
e magistrados, quando realizam o programa da criminalização primária. Dessa forma,
eles estão selecionando indivíduos para aplicação da lei penal.
Contudo, o problema está nas agências de criminalização secundária, que
possuem uma capacidade operacional muito limitada, pois é praticamente impossível
que as agências secundárias implementem por completo o programa de
criminalização das agências primárias.
Assim, pode-se abstrair que a orientação seletiva do sistema penal vai se
materializar concretamente na criminalização secundária, pois é sabido que o
legislador cria a lei penal no âmbito abstrato, no entanto quem aplicará esse programa
serão as agências secundárias que farão uma seleção fática e concreta sobre quem
criminalizar e uma seleção fática e concreta sobre quem proteger.
Nesse contexto, observa-se a seletividade do sistema penal. De acordo com
Zaffaronni e Pierangeli (2015), essa seletividade vai ocorrer de três formas. A primeira
forma é a seletividade criminalizante, que tem como critério a vulnerabilidade. O
sistema penal vai operar como um filtro, de modo a selecionar pessoas que estão em
estado de vulnerabilidade, melhor dizendo, os mais vulneráveis à criminalização.
A primeira hipótese de vulnerabilidade é a chamada criminalização por
comportamento grotesco ou trágico, que compreende os crimes de colarinho azul, que
são praticados pelas pessoas economicamente desfavorecidas, como furtos, roubos
estelionatos. Em suma, são os crimes mais grotescos, em que não há uma grande
preparação para que seja realizado.
O termo “colarinho azul” se refere à cor da gola do macacão dos antigos
operários que trabalhavam em fábricas. Eles eram chamados de “blue collar”. Em
contrapartida, existiam os executivos, que usavam camisa branca. Daí surgiu a
denominação do termo crimes de “colarinho branco”, que são os crimes praticados
pela elite. Assim, crimes de colarinho azul se reportam à criminalização de
comportamentos comuns das classes menos favorecidas.
19

A segunda hipótese é a criminalização conforme o estereótipo, que ocorre


quando o indivíduo é criminalizado pelo fato de se adequar ao estereótipo produzido
pelo senso comum e meios de comunicação, que, de certa forma, irá retroalimentar a
seletividade criminalizante secundária. Pois essas agências acabam fiscalizando
pessoas que, na grande maioria das vezes, são os negros, pobres, moradores da
favela, ou seja, os desfavorecidos da sociedade, que acabam sendo capturados em
flagrante ou presos em decorrência de seus comportamentos grotescos e trágicos.
A prática da infração penal sem muita elaboração é denominada pela doutrina
como obra tosca da criminalidade, que são os delitos grosseiros e de fácil solução. Já
a prisonização é a suposição coletiva de que as prisões seriam povoadas pelos
autores de fatos graves (delitos naturais, que são os crimes hediondos), quando, na
realidade, a maior parte dos prisionados é composta pelos que cometem os delitos
grosseiros (clientes da criminalização secundária).
A última hipótese é a criminalização por falta de cobertura. Ocorre com o
indivíduo que, apesar de não se enquadrar no estereótipo, acaba sendo criminalizado
e preso pelo fato de não ter mais uma cobertura legítima dos poderes sociais e
políticos que vigiam à época dos fatos. São os políticos, os crimes de colarinho branco,
que em determinado momento acabam caindo nos meios de comunicação social, e,
assim, perdem a cobertura e acabam sendo criminalizados.
Em síntese, os vulneráveis à criminalização são aqueles indivíduos
selecionados pelas agências secundárias que circulam pelos espaços públicos com o
estereótipo de delinquente, servindo à criminalização secundária com suas obras
toscas. Então, os atos grosseiros praticados por pessoas sem acesso positivo aos
meios de comunicação acabam sendo, de certa forma, divulgados como os únicos
delitos praticados pela sociedade e tais pessoas como os únicos delinquentes, criando
um imaginário popular de que o estereótipo acaba sendo o principal critério de
criminalização secundária e, assim, gera-se uma uniformização da população
carcerária.
A seletividade vitimizante é dividida em primária e secundária. A primária ocorre
dentro do processo de criminalização. Neste processo, evidencia-se que na sociedade
existem pessoas que sempre buscam exercer o poder de forma mais ou menos
arbitrária, porém quando esse poder passa a ser percebido pela sociedade e pela
própria vítima como uma situação anormal, ele acaba gerando um processo de
desnormatização.
20

A desnormatização ocorre de forma a ocasionar uma demanda política no


sentido de reconhecer o direito da pessoa lesada e subjugada e reconhecer a
necessidade de qualificar a situação como um conflito social. Assim, as agências
políticas tentarão compor o conflito por um coerção direta, impedindo que o autor da
conduta exerça o poder arbitrário, ou por coerção indireta, através da reparação cível,
não impedindo o indivíduo de subjugar o outro, deixando-o exercer seu poder
arbitrário; no entanto, ele será obrigado a reparar civilmente a pessoa lesada.
Não havendo a possibilidade de coerção, e não conseguindo compor o conflito,
as agências políticas irão fazer uma renormatização da situação conflituosa,
realizando ato declaratório programático que irá criminalizar primariamente essa
conduta. Em suma, é quando o Estado reconhece o indivíduo como vítima e
criminaliza a conduta do sujeito que comete o ato.
Após ocorrer a seleção vitimizante primária, a seleção vitimizante secundária
ocorrerá em um contexto em que existirá uma distribuição seletiva de vitimização
secundária de acordo com a vulnerabilidade do delito. Assim, o risco de vitimização
se distribui na razão inversa ao poder social e econômico que as pessoas possuem,
na medida em que as agências, em especial, as de criminalização secundária,
acabam outorgando maior segurança e proteção a quem detém maior poder
econômico, acarretando a estratificação social da vulnerabilidade vitimizante, que
nada mais é que a situação de que os estratos econômicos inferiores da sociedade
acabam ficando mais expostos.
Por fim, tem-se a seletividade policizante, também como conhecida por
policização, que é o processo de seleção, treinamento e condicionamento
institucional, ao qual se submetem os operadores das agências policiais que tendem
a se adequar a um estereótipo, que também é baseado numa questão de
vulnerabilidade.
Os agentes policiais são recrutados nas mesmas camadas sociais com maior
incidência das seleções criminalizantes e vitimizantes, ou seja, as camadas sociais
mais vulneráveis. Existe a ideia de um estereótipo policial, tal qual o estereótipo
criminoso, que irá dar um retorno a essa vulnerabilidade. Esse grupo estratificado
acaba correndo mais riscos que os demais operadores de outras agências que
exercem o poder punitivo. O estereótipo policial se apresenta tão carregado de
racismo e preconceito da classe social quanto aqueles que compõem o estereótipo
criminal.
21

Isso vai gerar um contexto de vulnerabilidade na medida em que a policização


é um processo de assimilação institucional violador dos direitos humanos e tão
seletivo quanto a criminalização e vitimização, que recai preferentemente sobre
homens jovens das camadas mais pobres da população, os vulneráveis, e tal
seletividade está relacionada à razão direta dos índices de emprego.

3.2 Sistema penal brasileiro

A realidade do sistema prisional brasileiro é muito complexa, pois se encontra


como o terceiro país com maior número de presos no mundo, com os Estados Unidos
em primeiro lugar e a China em segundo. E, ao contrário dos outros países onde a
quantidade de presos está diminuindo, no Brasil só cresce. Os maiores problemas
encontrados são: superlotação, reincidência, facções organizadas, morosidade de
julgamentos, saúde precária, falta de apoio da sociedade civil e má administração,
tudo isso agregado a uma cultura de encarceramento.
De acordo com a INFOPEN (2019), que colhe as estatísticas do sistema
penitenciário brasileiro, e é desenvolvida pelo Ministério da Justiça, além da
precariedade do sistema prisional, as políticas de encarceramento e aumento de
penas se voltam para a população negra e pobre. De acordo com os últimos dados
divulgados em 2019 pelo Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, a
população carcerária brasileira é de 773 mil pessoas. Entre os presos, a maioria
possui apenas o ensino fundamental incompleto (53%) e está entre 18 e 29 anos de
idade (51%). E os presos são, sobretudo, negros (67%), o que, é importante ressaltar,
são a maioria da nação brasileira, representando mais de 53% da população.
O nível de aprisionamento que o Brasil possui é maior do que todos os dez
primeiros países que compõem as maiores populações carcerárias, ou seja, a taxa de
aprisionamento no Brasil e a superlotação supera todos os países que estão no
ranking dos dez com as maiores populações carcerárias do mundo.
Outro conceito importante é o da reincidência, que ocorre quando um indivíduo
que já foi preso retorna ao sistema penitenciário após uma pena ou por medida de
segurança. Se a função da cadeia é prender e a prisão serve para restituição do
indivíduo à sociedade, ou seja, criar um processo de ressocialização, os números
também preocupam. A taxa de reincidência no Brasil é assustadoramente grande.
Conforme os números dos últimos dados divulgados pela INFOPEN no ano de 2019,
22

tem-se em torno de 72% de reincidência. Isso significa que sete em cada dez pessoas
que foram presas e libertas voltam a cometer crimes. Portanto, aquilo que é função
da cadeia não está sendo cumprido.
O funcionamento interno das prisões não segue exatamente o que está
positivado no Código Penal ou na Constituição Federal; direitos básicos que são
constitucionalmente garantidos não são obedecidos. Os casos de corrupção interna
por parte da má administração acabam colaborando com as facções organizadas
dentro dos presídios e a realidade assustadora é: quem “comanda” os
estabelecimentos prisionais são as próprias facções que chefiam as mais diversas
operações criminosas diretamente de dentro da cadeia. Todos esses fatos
consequentemente levantam o questionamento: pode a superlotação ser um ponto
lucrativo e colaborar com as facções? Ao que tudo indica, a resposta é sim, porém
este não é foco do presente trabalho, portanto, não se desenvolverá aqui tal questão.
Outro grande problema do Judiciário brasileiro é a sua morosidade nos
julgamentos. Essa lentidão traz péssimos resultados e é demonstrada de forma
gravíssima: grande parte das pessoas que estão presas no Brasil ainda não sofreram
nenhuma condenação; sendo assim, são presos provisórios, gerando uma massa
gigantesca de pessoas. Cerca de 40% dos casos do Brasil aguardam julgamento,
portanto, não foram penalizados ainda. Verifica-se que se prende muito por crimes
não violentos: segundo o INFOPEN, em 2019, 31% dos presos estavam encarcerados
por tráfico ou furto.
A saúde precária dentro dos presídios é um dado também preocupante. Tal fato
é denunciado pelo médico e professor Drauzio Varella, em sua obra, Estação
Carandiru, que aponta como certas questões de saúde pública, principalmente como
algumas doenças que praticamente são controladas na sociedade civil brasileira,
dentro dos presídios são assustadoramente fortes, como por exemplo a sífilis. A
morosidade dos julgamentos contribui para o crescimento do volume de pessoas
dentro dos presídios e colabora para proliferação de doenças e contaminação em
massa. Outro exemplo explícito é a tuberculose, doença que tem cura, é controlada
na sociedade brasileira, mas que nos presídios ainda assusta muito.
Por fim, todos esses problemas são potencializados pelo fato de que é cultural
que a punição para qualquer tipo de infração seja a privação de liberdade, não
importando o grau da conduta. As penas alternativas muito raramente são usadas. O
23

quão injusto é colocar em uma mesma cela um indivíduo que cometeu uma simples
infração junto com outro que cometeu um crime grave como o de homicídio?
O Brasil possui uma das maiores taxas de encarceramento do mundo e a
maioria dos apenados é negra. É possível observar como a questão racial estrutura
as relações sociais brasileiras e afeta a construção de políticas de aprisionamento,
gerando um quadro assustador de violência contra a população negra.

Os indiciados de cor "se beneficiam" de uma vigilância particular por parte da


polícia, têm mais dificuldade de acesso a ajuda jurídica e, por um crime igual,
são punidos com penas mais pesadas que seus comparsas brancos. E, uma
vez atrás das grades, são ainda submetidos às condições de detenção mais
duras e sofrem as violências mais graves (WACQUANT, 1999, p. 32).

Segundo Foucault (1999), em sua obra “Em Defesa da Sociedade”, existe um


racismo de direitos, e que não necessariamente está ligado à condição de raça, mas
àqueles que estão à margem da sociedade. No entanto, é fácil observar que a grande
maioria dos marginalizados é justamente formada por negros de baixa renda,
residentes nas periferias, tornando-os assim alvos preferentes da ação da polícia.
24

4 RACISMO INSTITUCIONAL E A MERITOCRACIA

Meritocracia, no sentido da palavra, significa o governo daqueles que têm


mérito, dos que se destacam. As posições hierárquicas são definidas com base no
merecimento e há uma predominância de valores ligados à competência e à
educação.
A meritocracia é caracterizada como um agregado de valores que apontam no
sentido de que a ascensão do poder dentro da sociedade depende somente do
esforço individual de cada um, como obter um cargo político ou uma profissão de
prestígio, e uma elevação social e econômica. Seguindo esse raciocínio, a autora Lívia
Barbosa pontua como “um conjunto de valores que postula que as posições dos
indivíduos na sociedade devem ser consequência do mérito de cada um. Ou seja, do
reconhecimento público da qualidade das realizações individuais” (BARBOSA, 2003,
p. 22).
O sociólogo Michael Young foi pioneiro a utilizar o termo meritocracia em sua
obra, “The Rise of Meritocracy”. A fictícia história distópica retrata uma Inglaterra
futurista onde os indivíduos são classificados conforme sua quantidade de inteligência
(QI), medida por exames padronizados. Os que tiverem melhor pontuação
consequentemente recebem uma educação melhor e obtêm os empregos melhores e
os mais altos cargos dentro das associações; por sua vez, os que obtiverem uma
pontuação menor, considerados menos capazes, devem se adaptar com “as sobras”
em todos os âmbitos. Young define esse sistema como “meritocracia”, em que se pode
observar que uma dinâmica que inicialmente parece justa acaba produzindo grandes
injustiças.
Em síntese, o conceito de meritocracia nasceu de forma a representar algo
negativo, que, com o passar das décadas, foi modificado para um sentido positivo, o
que não agradou ao autor. O objetivo da obra satírica é advertir sobre um sistema que
se concentra em pessoas incluídas em um melhor complexo educacional.
O Brasil, sendo uma sociedade capitalista, possui conceitos que estão
intimamente ligados ao ideal meritocrático, uma vez que traz consigo o objetivo de
produtividade sem considerar o contexto social no qual os indivíduos estão inseridos.
A ideia da meritocracia como valor universal, fora das condições sociais e históricas
que marcam a sociedade brasileira, é um mito que serve à reprodução eterna das
25

desigualdades sociais e raciais que caracterizam a nossa sociedade (informação


verbal)2.

4.1 Como o racismo institucional atrelado à meritocracia influencia no cárcere

Inicialmente, deve-se lembrar o que preceitua o caput do artigo 5º da


Constituição Federal de 1988: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]” (BRASIL,
1988). O princípio da igualdade fundamenta que todos os cidadãos devem obter
oportunidade de igualdade em possiblidades e aptidões, ou seja, devem ser tratados
de forma isonômica pela lei. Através desse princípio, objetiva-se vedar tratamentos
diferenciados de formas arbitrárias que não são justificadas pela Constituição Federal,
assim, pondo um limite na atuação do intérprete, autoridade pública ou particular e do
legislador.

[...]o princípio democrático, fulcrado na premissa de que todos têm direito de


concorrer para ocupar as posições estatais; o princípio da isonomia,
consistente na garantia de igualdade de tratamento e vedação de privilégios
e discriminações injustificadas; e o princípio da eficiência que impõe à
Administração a seleção transparente e objetiva dos que mais atributos –
méritos, qualificações, aptidões - possuem para se adequar ao necessário
oferecimento de um serviço eficiente (MOTTA, 2007, p. 1).

A meritocracia é manifestada por meio de aparatos institucionais, como os


concursos para cargos públicos e os processos seletivos das universidades.

A literatura sobre desigualdade racial no interior do mercado de trabalho


também concede importância significativa ao papel da educação na
explicação da desigualdade racial. Portanto, os indicadores referentes aos
níveis e à qualidade da escolaridade da população brasileira são estratégicos
para a compreensão dos horizontes potenciais de redução das desigualdades
social e racial e definição das bases para o desenvolvimento sustentado do
país (HENRIQUES, 2001, p. 26).

A desigualdade racial está diretamente conectada com a disparidade na


educação, pois, quando existe uma insuficiência no desenvolvimento educacional,
esse fato afeta diretamente no crescimento e nas relações no meio social do indivíduo,

2
Fala de Sidney Chalhoub, historiador da Unicamp e de Harvard, em entrevista ao Jornal da Unicamp,
em 07 de junho de 2017
26

principalmente para a população negra, o que facilmente pode ser exemplificado pela
comparação das condições de vida dos cidadãos negros e dos cidadãos brancos, o
que, por consequência, acaba abrangendo o mercado de trabalho.
Devido a toda essa cadeia estrutural, “naturalmente” vemos
predominantemente as pessoas negras em condições de subalternidade, ou seja,
representando as classes mais desfavorecidas e destituídas de condições suficientes
para se ter uma vida digna na sociedade. Assim, o perfil dominante dos estudantes
das universidades e dos cargos mais almejados no setor público, e também em todos
os sistemas de ensino, ratifica a imagem que o coletivo tem de que a competência e
o mérito são inerentes à branquitude. Nesse sentindo, Hasenbalg (2005) sinaliza o
fato de que a discriminação e o preconceito são mecanismos que mantêm
preservados os privilégios, obtenção de bens materiais e elevado status social que os
brancos adquirem por meio da exclusão de competição dos não brancos.
Dessa forma, além de serem postos à margem da sociedade, não só por
ausência de oportunidades, resultado da falta de qualificação gerada pela carência
educacional, que é consequência da não materialização dos seus direitos, a
população negra também é criminalizada. A estrutura toda funciona de forma a
normalizar as injustiças e desigualdades, transformando-as em situações “justas”.
Assim, “raça e racismo se diluem no exercício da razão pública, onde deve imperar a
igualdade de todos perante a lei” (ALMEIDA, 2018, p. 63).
A criminalização das pessoas de pele negra, na contemporaneidade, é velada
pelo manto da guerra às drogas. Essa política social de segurança pública surgiu nos
anos 60, liderada pelo então presidente do Estados Unidos, Richard Nixon, a qual se
referia a um conjunto de políticas de proibição de drogas por meio do policiamento,
separando os países entre produtores e consumidores, direcionando a
responsabilidade da produção para a América Latina e outros países de regiões
periféricas, e assim estava criada a divisão internacional das drogas, passando a
prevalecer no imaginário social que os afro-americanos e os imigrantes mexicanos,
entre outros grupos, consumiam muitos mais drogas do que as pessoas brancas.

Os argumentos que escutamos hoje para acabar com as drogas são de que
precisamos proteger os adolescentes e prevenir a dependência geral.
Presumimos que essas deveriam ser as razões para o conflito ter começado,
mas não. Eram apenas motivos secundários. A razão principal para banir as
drogas – a obsessão dos homens que lançaram essa guerra – era que essas
substâncias estavam sendo usadas por negros, mexicanos e chineses,
27

fazendo-os esquecer qual era seu lugar; ameaçando assim, a posição dos
brancos (HARI, 2018, p. 42).

No Brasil, a primeira lei antimaconha foi criada em 1890, dois anos após a
abolição da escravatura. Essa mesma lei que proibia a canabis também proibia a
capoeira e cultos de religiões de matrizes africanas, ou seja, era uma lei racial, porque
tudo que era ligado aos escravos era mal visto, a maconha sendo uma delas, pois
chegou ao Brasil trazida pelos africanos e era chamada de fumo de Angola.
Em 2006, foi criada a Lei nº 11.343/2006 (Lei das Drogas) (BRASIL, 2006), que
em síntese dá ao Estado o poder de decidir se a quantidade de droga é para o uso
próprio ou para o tráfico, uma vez que não ficou claramente definida pela redação do
dispositivo a quantidade de droga que irá classificar em usuário ou traficante. É nesse
momento que o racismo se destaca, quando o jovem branco do bairro nobre sempre
será usuário, enquanto o jovem negro da periferia sempre será traficante.

Na falta de qualquer parâmetro objetivo, é o critério subjetivo dos policiais,


quase sempre referendado pelos juízes, que prevalece. Como consequência,
o racismo e o classismo, tão arraigados na sociedade brasileira, ficaram à
vontade para florescer. Os dados mostram claramente que brancos em
regiões mais nobres das cidades são considerados usuários, mesmo com
quantidades maiores de droga do que negros, que tendem a ser considerados
traficantes. O critério se estabeleceu na prática, e é simples: branco é usuário,
negro é traficante (ABRAMOVAY, 2017).

A proibição aumentou a guerra pelas drogas, o que faz aumentar ano a ano o
número de assassinatos registrados no Brasil. Aparentemente alguns policiais
acreditam ter o poder de executar qualquer pessoa que seja suspeita de vender
drogas, situações em que os suspeitos são em sua maioria homens, pobres,
periféricos e negros. O Estado, com sua política antidrogas, é tão problemático que
esse tipo de assassinato mata mais que as próprias drogas. De acordo com a ONU,
o índice de mortes por overdose no Brasil é de cerca de 1,2 para cada um 1 milhão
de habitantes, enquanto a secretaria de segurança pública do Rio de Janeiro registra
que 59,4% das mortes cometidas por policiais são por suspeitas de tráfico.
Existe uma abordagem repressiva e sensacionalista na questão das drogas,
fortalecendo a visão de que esse é um problema de segurança e não de saúde
pública, o que garante uma política de exclusão, combate, genocídio e
encarceramento em massa da população negra e pobre do Brasil. Isso faz com que o
Estado fuja da responsabilidade de dar suporte para que toda a população sem
28

exclusão tenha condições para uma vida digna, uma vez que a noção de cumprimento
dos deveres, obrigações e princípios iguais para todos, positivados na Carta Magna,
mantém os negros numa posição inferior, a partir do momento em que eles não
atingem um elevado status social e econômico. A justificativa é a falta de vontade e a
incapacidade, já que teoricamente todos recebem o mesmo tratamento e possuem as
mesmas condições e “não existem outros fatores” influenciando na dinâmica social de
cada indivíduo.
Um dos grandes óbices, experienciados em sociedades capitalistas,
transpassadas por antagonismos e conflitos de classes, sexuais e de raça,
compatibilizando as desigualdades com critérios culturais que têm como base
ideologias absolutas e cosmopolitas e, assim sendo, neutras e impessoais, fundadas
em uma igualdade formal, é constatado que “em um país desigual como o Brasil, a
meritocracia avaliza a desigualdade, a miséria e a violência, pois dificulta a tomada de
posições políticas efetivas contra a discriminação racial, especialmente por parte do
poder estatal” (ALMEIDA, 2018, p. 59).
29

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisar o racismo institucional dentro da instituição criminal revela os impactos


sociais, em que a consequência é uma sociedade com grandes abismos e
desigualdades sociais agressivas, que são reflexo de uma origem bastante
conturbada, gerada pela escravidão que era vista como algo natural. Tal fato é
refletido no perfil da população brasileira mais atingida pela naturalização da
normatização das disparidades entre as raças e classes sociais.
O ideal meritocrático perpetua a condição de que o pobre, predominantemente
negro, devido a todo um contexto histórico, por sua falta de esforço e de luta diária,
não consegue ascender socialmente e prefere recorrer à criminalidade, como se tal
fato fosse uma escolha feita de modo articulado, quando na verdade o que se vê é
que, devido a tradições, heranças culturais e históricas de humilhações, a dignidade
física e moral e a falta de materialidade dos direitos iguais para todos, existe um
racismo entranhado em toda a estrutura, o qual é posto em prática através das
instituições e, no caso retratado no presente trabalho, através das prisões.
Ao pobre, negro e periférico é sempre destinada a condição de inferioridade, a
não ser quando se esforça dez vezes mais que o branco privilegiado para melhorar
de vida, pois a ele é negado um ensino de qualidade, uma condição social digna a
qualquer ser humano. Não há como se empenhar em estudar para ter um futuro
melhor quando falta comida na mesa e quando não se tem acesso a condições
básicas de higiene. A meritocracia de modo positivo apenas valida os privilégios,
fazendo assim recair sobre o indivíduo o sumo das suas escolhas e ações, sem levar
em consideração condições passadas em relação ao desenvolvimento educacional,
realidade cotidiana e uma família estruturada, dentro de uma estrutura pacífica e
saudável.
A seletividade dentro das instituições que incorporam o sistema penal brasileiro
destaca ainda mais as desigualdades que existem na sociedade brasileira,
principalmente quando se coloca em relevância como é embutida de forma natural a
criminalização secundária, de modo a criar duas realidades totalmente invertidas
dentro do Brasil. Por um lado, tem-se uma sociedade mais abastada, desfrutando de
todos os privilégios e status social, na qual muitas vezes indivíduos ficam impunes por
transgredirem a lei, e não possuem preocupação nenhuma com a criminalidade,
exceto por sua segurança. Por outro lado, está a outra realidade totalmente contrária,
30

em que os indivíduos mais desfavorecidos se tornam alvos fáceis da seletividade do


sistema, sendo acusados, processados e condenados e, assim, aprisionados.
Tudo em teoria é perfeito, mas não é o que é posto em prática. Antes de discutir
sobre novas normas a serem feitas para minimizar e até mesmo erradicar os
problemas sociais que estão todos atrelados em uma cadeia estrutural, deve-se
primeiro falar em efetivação das leis, pois, enquanto princípios e direitos formais como
a dignidade da pessoa humana, a constituição de uma sociedade livre, justa e
solidária, erradicação da pobreza e da marginalização, redução da desigualdades
sociais, promovendo o bem de todos sem preconceito de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação não forem materializados, as
disparidades e injustiças entre as classes só irão aumentar.
31

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