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FACULDADE VISCONDE DE CAIRU

QUEREN GOMES CARNEIRO

SELETIVIDADE PENAL E
A TEORIA DO ETIQUETAMENTO SOCIAL (LABELLING APPROACH)

SALVADOR
2024
QUEREN GOMES CARNEIRO

SELETIVIDADE PENAL E
A TEORIA DO ETIQUETAMENTO SOCIAL (LABELLING APPROACH)

Monografia apresentada à Faculdade


Visconde de Cairu como parte dos
requisitos para a avaliação do curso
de graduação em: Direito
Orientador: Jonata Wiliam

SALVADOR
2024
RESUMO

A seletividade penal e a teoria do etiquetamento social são conceitos


interligados que desempenham um papel significativo no sistema de justiça brasileiro,
influenciando desde a criminalização de certos comportamentos até o tratamento dado
aos indivíduos pelo sistema judicial.

A seletividade penal refere-se à tendência do sistema de justiça em selecionar


determinados grupos sociais para aplicação das leis penais, enquanto outros são
deixados de lado ou tratados de forma mais branda. No Brasil, isso se manifesta
através da discriminação socioeconômica, do viés racial e da militarização da
segurança pública, resultando em desigualdades no tratamento dos indivíduos perante
a lei.

Por outro lado, a teoria do etiquetamento social destaca como o comportamento


desviante é construído e perpetuado pelas reações da sociedade e do sistema de
justiça criminal a esse comportamento. Isso ocorre através da rotulação de certos
grupos como desviantes e da atribuição de rótulos estigmatizantes, o que pode levar
à internalização desse estigma pelos indivíduos e ao aumento da reincidência criminal.

Ambos os conceitos evidenciam as falhas e desigualdades presentes no


sistema de justiça brasileiro, destacando a necessidade de reformas estruturais e
políticas públicas que abordem as causas subjacentes da criminalidade, promovam a
igualdade de acesso à justiça e combatam o estigma associado ao envolvimento
criminal. Uma abordagem mais inclusiva, voltada para os direitos humanos e para a
ressocialização, é essencial para construir um sistema de justiça verdadeiramente
justo e equitativo no Brasil.
SUMÁRIO

1. SELETIVIDADE PENAL..........................................................................................5
2. A TEORIA DO ETIQUETAMENTO SOCIAL (LABELLING
APPROACH)................................................................................................................6
3. CONCLUSÃO..........................................................................................................8
4. REFERÊNCIAS........................................................................................................8
1. SELETIVIDADE PENAL
A seletividade penal é um fenômeno complexo que se refere à tendência do
sistema de justiça criminal em selecionar determinados grupos sociais para aplicação
das leis penais, enquanto outros são deixados de lado ou tratados de forma mais
branda. No contexto brasileiro, a seletividade penal é um problema significativo que
tem implicações profundas no funcionamento do sistema de justiça e na sociedade
como um todo.

Existem várias formas pelas quais a seletividade penal se manifesta no sistema


de justiça brasileiro:

• Discriminação Socioeconômica: Indivíduos de baixa renda, moradores de


áreas periféricas e minorias étnicas são frequentemente alvo preferencial do
sistema de justiça. Isso se deve, em parte, à falta de recursos para contratar
advogados competentes e à maior exposição a situações de violência e crime
em áreas carentes de políticas públicas efetivas.

• Viés Racial: A população negra e parda é desproporcionalmente representada


no sistema carcerário brasileiro. Esse viés racial reflete tanto as desigualdades
socioeconômicas históricas quanto preconceitos arraigados que influenciam a
abordagem policial, a tomada de decisões judiciais e a aplicação de penas.

• Militarização da Segurança Pública: A abordagem punitiva e militarizada


adotada em muitas operações policiais contribui para uma seletividade penal
ainda mais exacerbada. Moradores de comunidades pobres e favelas
frequentemente enfrentam violações de direitos humanos e abusos por parte
das forças policiais, enquanto os responsáveis por crimes em setores mais
privilegiados da sociedade podem ser tratados de forma mais branda.

• Criminalização da Pobreza: Atividades que são frequentemente resultado de


condições socioeconômicas desfavoráveis, como pequenos furtos para
sobrevivência ou envolvimento em tráfico de drogas por falta de oportunidades,
são alvo de punição mais severa, contribuindo para a superlotação do sistema
carcerário com indivíduos que muitas vezes não representam uma ameaça
significativa à segurança pública.

Os efeitos da seletividade penal no sistema de justiça brasileiro são diversos e


preocupantes:
• Deslegitimação do Sistema Judicial: A percepção de que o sistema de justiça
é injusto e parcial mina a confiança da população na eficácia e imparcialidade
das instituições democráticas, enfraquecendo o Estado de Direito.

• Aumento da Criminalidade e da Violência: A seletividade penal pode


alimentar um ciclo de violência e criminalidade, especialmente quando
comunidades inteiras são estigmatizadas e marginalizadas, levando a um
aumento da alienação social e do recrutamento por organizações criminosas.

• Desigualdade Social e Econômica: A concentração de punições em


determinados grupos sociais perpetua e amplia as desigualdades sociais e
econômicas, dificultando a mobilidade social e o acesso a oportunidades para
os mais vulneráveis.

Para lidar com a seletividade penal, são necessárias reformas estruturais e


políticas públicas que abordem as causas subjacentes da criminalidade e promovam
a igualdade de acesso à justiça. Isso inclui investimentos em educação, saúde,
habitação e políticas de segurança pública baseadas em direitos humanos, além da
promoção de uma cultura de respeito aos direitos individuais e à diversidade. Somente
abordando essas questões de forma abrangente e sistêmica será possível construir
um sistema de justiça verdadeiramente justo e equitativo no Brasil.

2. A TEORIA DO ETIQUETAMENTO SOCIAL (LABELLING APPROACH)

A teoria do etiquetamento social, também conhecida como abordagem do


labelling approach, é uma perspectiva criminológica que enfatiza como o
comportamento desviante é construído e perpetuado pelas reações da sociedade e do
sistema de justiça criminal a esse comportamento. Em vez de considerar o desvio
como uma característica intrínseca de certos indivíduos, essa teoria destaca o papel
das instituições sociais na rotulação de certos comportamentos como desviantes e na
atribuição de rótulos estigmatizantes aos indivíduos.

No contexto brasileiro, a teoria do etiquetamento social oferece insights valiosos


sobre o funcionamento do sistema de justiça e suas consequências:
• Criminalização de Comportamentos Marginalizados: O sistema de justiça
brasileiro muitas vezes criminaliza comportamentos associados a grupos
marginalizados, como jovens negros e moradores de comunidades periféricas.
Esses grupos são rotulados como criminosos com mais facilidade, devido a
preconceitos e estereótipos arraigados na sociedade.
• Efeito da Marcação: Uma vez rotulados como criminosos, os indivíduos podem
internalizar essa identidade e adotar comportamentos mais alinhados com as
expectativas negativas que lhes foram atribuídas. Isso pode levar a um ciclo de
reincidência criminal, à medida que as oportunidades legítimas são limitadas
pelo estigma associado ao rótulo.
• Seletividade Penal Reforçada: A teoria do etiquetamento social destaca como
a seletividade penal é exacerbada pela atribuição de rótulos estigmatizantes.
Enquanto alguns indivíduos podem receber tratamento mais brandos devido ao
seu status social ou econômico, outros são rotulados como criminosos e
enfrentam penalidades mais severas, contribuindo para as desigualdades no
sistema de justiça.
• Impacto nas Políticas Criminais: A compreensão dos processos de
etiquetamento social pode informar políticas criminais mais justas e eficazes.
Em vez de simplesmente punir indivíduos por seus comportamentos, políticas
que visam abordar as causas subjacentes do desvio e reduzir o estigma
associado ao envolvimento criminal podem ser mais eficazes na prevenção da
reincidência e na reintegração dos infratores à sociedade.

Para lidar com os efeitos negativos do etiquetamento social no sistema de


justiça brasileiro, é essencial adotar abordagens mais inclusivas e voltadas para os
direitos humanos. Isso inclui políticas que promovam a igualdade de acesso à justiça,
a reforma do sistema penitenciário para focar na ressocialização e na redução do
estigma associado ao envolvimento criminal, além de iniciativas de conscientização
pública para combater preconceitos e estereótipos relacionados à criminalidade. Ao
reconhecer e enfrentar o papel do etiquetamento social, o sistema de justiça brasileiro
pode avançar na direção de uma abordagem mais justa e compassiva para lidar com
o comportamento desviante.
3. CONCLUSÃO

Em conclusão, a seletividade penal e a teoria do etiquetamento social são conceitos


fundamentais para entender as falhas e desigualdades presentes no sistema de justiça
brasileiro. A seletividade penal destaca como certos grupos são alvo preferencial do sistema
de justiça, enquanto outros são tratados de forma mais branda, refletindo desigualdades
socioeconômicas e raciais profundamente enraizadas na sociedade. Por sua vez, a teoria do
etiquetamento social enfatiza como as reações da sociedade e do sistema de justiça à
comportamentos desviantes podem perpetuar o estigma e aumentar a reincidência criminal.

Esses dois fenômenos estão interligados e alimentam um ciclo vicioso de


criminalização e marginalização, minando a confiança na justiça e perpetuando
desigualdades sociais. Para superar esses desafios, é essencial adotar abordagens
mais inclusivas e centradas nos direitos humanos, que abordem as causas
subjacentes da criminalidade, promovam a igualdade de acesso à justiça e combatam
o estigma associado ao envolvimento criminal. Isso requer não apenas reformas
estruturais no sistema de justiça, mas também investimentos em políticas sociais que
abordem as desigualdades socioeconômicas e raciais que alimentam a seletividade
penal e o etiquetamento social.

Somente através de esforços coletivos e compromisso com a justiça social será


possível construir um sistema de justiça verdadeiramente justo e equitativo no Brasil,
onde todos os cidadãos sejam tratados com dignidade, respeito e igualdade perante a
lei.

5. REFERÊNCIAS

"A Seletividade Penal no Brasil e a Teoria do Etiquetamento": Artigo de Rafael de


Bortolli Reichel e Helena Lahude Costa Franco, disponível em:
https://jus.com.br/artigos/90282/seletividade-penal-no-brasil-e-a-teoria-do-
etiquetamento.

" A (comprovação da) seletividade penal e o princípio da insignificância ": Artigo de


Pedro Magalhães Ganem, disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/a-
comprovacao-da-seletividade-penal-e-o-principio-da-insignificancia/651323955.
" GOMES, Loiny Kévia Dias; SILVA, Marcos Antonio Duarte..O labelling approach
e a seletividade penal como consequência da falência do sistema. Boletim Jurídico,
Uberaba/MG, a. 29, nº 1540. Disponível em
https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/direito-penal/4109/o-labelling-approach-
seletividade-penal-como-consequencia-falencia-sistema.

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