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A Descriminalização do uso de drogas

Caio César Ferreira da Paixão

Resumo

O objetivo do presente artigo ao tratar do tema "A descriminalização do uso de


drogas" foi construir uma discussão, acerca de qual seria a melhor forma de se
associar a sociedade brasileira à cultura do uso de drogas. Ademais, ao longo desse
artigo foram promovidas críticas a apontamentos sobre o modo como os usuário são
vistos e tratados pela sociedade e pela justiça e vale ressaltar ainda nesse trabalho,
os apontamentos que foram realizados sobre o modo como " se encaixa " a figura do
jovem pobre e negro em meio a essa situação social. Para realizar as discussões e
apontamentos que foram feitos no decurso desse artigo, teve que ser feita uma
intensa pesquisa em obras e artigos online com o intuito de buscar opiniões e
estudos realizados especialistas, professores e juristas nessa temática, para dar
estruturação e um melhor embasamento teórico ao assunto. No decorrer desses
estudos, pode-se chegar a conclusão de que criminalizar as drogas com a intenção
de se combater o tráfico e de se proteger a saúde pública são políticas falhas, visto
que a repressão ao uso de drogas gera gastos absurdos ao estado, além de
corroborar para a manutenção da marginalização e morte da população jovem,
pobre e negra que é sempre alvo de perseguição nesse meio. Sendo assim, a
melhor ferramenta para harmonizar o convívio social, combater o tráfico de drogas e
prezar pela liberdade de escolha do indivíduo é a descriminalização do uso de
drogas.

Palavras-chave: Descriminalização, usuário,lei, drogas.

Abstract

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The purpose of this article in discussing the theme "Decriminalization of drug use"
was to construct a discussion about how best to associate Brazilian society with the
culture of drug use. In addition, throughout this article, criticisms were directed to
notes about the way in which users are viewed and treated by society and justice and
it is worth mentioning in this work the notes that were made on how the " poor and
black in the midst of this social situation. To carry out the discussions and notes that
were made in the course of this article, an intense research was done in works and
articles online in order to seek opinions and studies made by specialists, professors
and jurists in this subject, to give structure and a better foundation theoretical
approach to the subject. In the course of these studies, it can be concluded that
criminalizing drugs with the intention of combating trafficking and protecting public
health are flawed policies, since repression of drug use generates absurd
expenditures to the state, in addition to of corroborating for the maintenance of the
marginalization and death of the young, poor and black population that is always the
target of persecution in this environment. Thus, the best tool to harmonize social
interaction, combat drug trafficking and cherish the individual's freedom of choice is
the decriminalization of drug use.

Key-words: Decriminalization, user, drugs, law.

Introdução

O presente trabalho, aborda a problemática discussão acerca do tema "A


descriminalização do uso de drogas", valendo-se principalmente de questões
relacionadas ao consumo pessoal de drogas e a personificação da figura do negro
como traficante.

As causas que culminaram para retratar essa matéria foram advindas do


modo como tem se mostrado ineficiente seu objetivo e critérios perante os hábitos e
ideologias da atual sociedade. É cada vez mais comum a ocorrência da quebra de
paradigmas éticos e morais, que acarretam em um descontentamento social com
relação à leis desse formato, de cunho duvidoso e conservador. Ademais, vale
ressaltar o fato dessa Lei de drogas, no contexto geral, acarretar em um contínuo

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racismo institucional, devido a segregação de tratamento gerada pelos setores de
aplicação dessa lei no Estado.

A elaboração desse artigo teve como objetivos principais informar, apontar e


retratar aspectos jurídicos e sociais em torno da Lei de Drogas, buscando
principalmente de maneira crítica analisar como ela tem se estabelecido no contexto
atual. Ela tem se mostrado eficaz ?. Ocorre um tratamento isonômico e adequado a
cada caso concreto ou há, assim como em outras áreas, uma perseguição a uma
etnia e classe específica ? São pontos de suma importância e recorrentes no
cotidiano, que serão desenvolvidos ao longo desse artigo.

Para tratar dessa temática, foram utilizados alguns métodos de pesquisa, com
o intuito de dissertar com mais clareza sobre tal problemática. Foram eles, a
pesquisa bibliográfica através de obras literárias e artigos científicos em conjunto a
análise de casos concretos na sociedades brasileira.

Desenvolvimento

1. Criminalizar ou Descriminalizar o uso de drogas ?

A descriminalização do uso e do porte de drogas é um debate recorrente na


sociedade brasileira. Essa temática não possui fácil resolução e ainda possui um
longo caminho a ser percorrido, para se chegar a uma melhor escolha. Em torno
dessa questão, são levadas em consideração diversas opiniões, construções morais
e culturais, que fazem parte da extensa discussão histórica mundial acerca dessa
matéria. Há, além desses aspectos, a interferência também das Instituições sociais
que integram a sociedade, como família, religião e escolas. O fato é que cada um
desses grupos possui variadas ideologias e posicionamentos acerca desse
conteúdo. Em meio a tanta divergência nesse assunto, ainda sim foi estabelecida
socialmente e juridicamente a proibição do uso de drogas, ou seja, ela foi tida e
ainda se mantém como uma conduta criminosa no Brasil. Contudo, essa foi e/ou é a
melhor solução ?

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A sociedade através de sua soberania, seu poder e sua histórica construção
social escolhe quais condutas devem receber o rótulo de crime, ou seja, que serão
estabelecidas como um comportamento divergente, ilegal, ilícito, errado que se
opõe a lei e aos costumes de tal povo. As escolhas variam de acordo com a
sociedade e seu momento histórico, cada uma de acordo com seus costumes,
interesses e cultura, institui as suas regras e princípios comuns. Muitas condutas
ainda permanecem como crimes muito mais por uma tradição que por legitimidade
do controle penal. Nem sempre a melhor forma de se proteger um bem jurídico, ou
as pessoas, é através da criminalização.

O Brasil, ainda insiste e resiste em enfrentar a questão das drogas na esfera


criminal, através de suas tradicionais medidas de controle social a punição e a
criminalização. Esses métodos além de ineficientes, como pode ser observado na
atual conjuntura brasileira - índices do tráfico extremamente altos e o crescimento de
zonas como a Cracolândia, mostram como o país está atrasado nesse ponto. Há
anos, a política criminal se baseia na repressão e há anos que o estado brasileiro
gasta fortunas na manutenção dessa guerra, sem que se obtenha proveito algum. É
notório o fato de que a maioria dos governos, que usam ou usaram meios de
privação e/ou punição a esse tipo de conduta, acabam por acarretar em suas
sociedades, diversos crimes secundários, como tráfico de armas, corrupção e
homicídios, entre outros. Esses crimes derivam diretamente da proibição.

Tendo em vista a questão da descriminalização ou não do uso de drogas, é


de suma importância retratar o posicionamento e a situação de outros países com
relação a esse assunto. Alguns países da América do Sul como Argentina, Chile e
Uruguai por exemplo, têm apresentado grandes avanços positivos nesse campo,
para ilustrar tais desenvolvimentos nessa área, há como exemplo próximo, o
Uruguai.

Em 2013, o então presidente da República Representativa Uruguaia, José


Mujica sancionou em seu país, a lei 19.172 - cujo conteúdo regulamenta a produção,
distribuição e comercialização da maconha no país, sob controle do Estado. Pode-se
observar nesse território, que após a implementação da lei, houve uma intensa
redução de parte do mercado da droga, o que retirou o grande lucro da mão dos
narcotraficantes e estrangulou o mercado ilegal das drogas.
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Além desse exemplo de progressão político-social, com relação direta a
descriminalização do uso de drogas, pode-se estabelecer um paralelo também com
a situação histórica do cigarro no Brasil. Segundo O Conselho Federal de Psicologia,
em estudo sobre o projeto de Osmar Terra, expõe o caso do cigarro no Brasil. Em
1989, 35% da população fumava; atualmente, são 15,2%. Esses dados mostram
que quando há interesse do Estado no comando da situação, atuando com
fiscalizações e regulamentações desde a base de produção, é possível, assim como
tem sido com o cigarro, ter um controle para se estabelecer o uso de drogas e
apontam como políticas adversas da punição e da criminalização mostram-se mais
eficazes para controlar determinadas condutas.

2. Direitos do Usuário

Em sua obra "Direitos do Usuário - Consumo pessoal de drogas no Brasil",


Mércio Mota procura informar e auxiliar os usuários de droga, principalmente de
forma jurídica, para que esses possam pensar formas de consumo pessoal
afastadas de algumas outras práticas criminais previstas na Lei de Drogas. Por que
o autor busca realizar essa obra informativa ? Logo na introdução e ao longo do
livro, ele aponta falhas e problemáticas situadas e causadas pelos critérios confusos
e em diversos momentos, vagos, da Lei de Drogas. Além desses pontos foram
ressaltados ainda no livro questões como, os processos e condenações "injustas"
que sofreram algumas pessoas, e os perfis que acabam sendo mais vulneráveis à
esse fato.

Para realizar o ato explicativo e informativo com o qual o autor se mostrou


preocupado ao elaborar a obra, ele busca destrinchar e apontar os aspectos teóricos
construídos em torno da lei e sua aplicação prática, desde os feitos investigativos da
polícia militar, até o instante do julgamento judiciário. Com o intuito de elucidar essas
questões, Mércio, já nos pontos iniciais do livro conceitua, quem seria o consumidor
pessoal/usuário. Juridicamente, o usuário é o indivíduo que exclusivamente faz uso
da droga e que tem intenção única e exclusiva de consumi-la (artigo 28 da Lei de
Drogas). Outros tipos de comportamento adverso desse, como por exemplo, tráfico,
indução, auxílio, transporte dentre outros, não serão tipificados enquanto consumo
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pessoal e acarretarão em outros crimes.Sendo assim o indivíduo poderá ser
criminalizado enquanto traficante, o que é extremamente gravoso principalmente
para sua vida pós cumprimento da pena.

A obra, não se atém unicamente ligada à figura do usuário, mas também


procura retrata e demonstrar o processo da persecução penal que ocorre para
apurar e julgar os crimes. Com relação à esse processo, no Capítulo 3 " Noção
inicial II: Persecução Penal '' , o autor, mostra o modo de atuação da polícia militar,
da delegacia de polícia civil e do juizado especial criminal, sendo os papeis
investigativos, acusatórios e processuais ocorrendo respectivamente nesses setores
e especificamente nessa ordem. É importante, que o autor trate desse processo,
para que fique claro os direitos e deveres tanto dos usuários quanto das outras
partes. Além desse ponto visado pelo autor em um primeiro momento, há nesse
contexto da obra alguns exemplos de atuações cujo modo como ocorrem, devem ser
bem analisados criticamente. Os atos que acabam por chamar mais atenção nessas
situações são o abuso de poder por parte das três áreas responsáveis pela
persecução, o racismo institucional e a segregação social.

Ainda se tratando das questões expostas acima, vale ressaltar que o perfil
dos indivíduos aqui criminalizados e intitulados - não como usuário (punidos de
forma mais branda) mas como traficantes, é o mesmo perfil de cidadãos que mais
morrem, sofrem violência e possuem dificuldades de acesso a educação, saúde, etc.
São os negros, pobres e jovens que de forma recorrente continuam sendo a classe
mais prejudicada seja direta ou indiretamente pelo Estado. Mesmo que seja de
conhecimento geral que existam vários perfis de "consumidores de drogas", há um
grau acentuado de vulnerabilidade do jovem negro, contudo,o branco, adulto e com
poder econômico é basicamente esquecido pelas autoridades quando se trata de
qualquer uma das áreas da persecução penal. Esse fato, faz com que se concretize
a ideia de que, a lei é punitiva apenas para aqueles que não possuem condição de
se defenderem legalmente e que já possuem a sua figura estereotipada como
criminoso.

Outro aspecto trabalhado pelo autor e que possui forte relação com o que foi
exposto é a temática do tráfico privilegiado. Através do Capítulo 16: "Tráfico
privilegiado", ele salienta o significado dessa expressão e explica como é feita a sua
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aplicação, o intuito dela é realizar um redução penal para pessoas condenadas que
tenham por exemplo bons antecedentes e seja réu primário. Em um primeiro ponto
ela é realmente um bom meio para atuar a favor das pessoas condenadas,
entretanto deve-se ter um olhar crítico acerca de sua aplicação. Ela tem uma
tendência a funcionar apenas para o perfil de pessoas rotineiramente privilegiadas
na lei, são aquelas que possuem boas condições financeiras, tem um bom
advogado, dentre outros requisitos.

O que se pode concluir, tendo em vista as questões expostas ao longo da


obra, é a contínua parcialidade benéfica da lei para um lado, o lado "claro" da lei,
enquanto para o outro - a parte "obscura" da lei, haverá a incessante perseguição e
segregação judicial, pelo fato dessa parcela, não ter sequer informações quanto
meios, para conseguir no mínimo a dita diminuição condenatória, o privilégio. Fato,
que mostra os falhos e problemáticos critérios da Lei de drogas, que atua apenas
para a manutenção do racismo institucional.

3. A Lei de Drogas e suas consequências no Estado Brasileiro

A criação da lei de drogas no Brasil, teve como intuito instituir o sistema de


políticas públicas sobre drogas. Houve no ano de 2006 a sua implementação, ela
"prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de
usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção
não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes". A criação desse novo
sistema significou uma nova concepção de política sobre drogas, mais do que uma
mudança de termos.

Além disso, ao " retirar a pena " do uso individual de drogas eleva a discussão
em uma perspectiva mais ampla, provocando a formulação e o desenvolvimento de
políticas públicas de saúde. O principal avanço dessa lei é retirar do campo da
ilegalidade uma discussão que deve ser tratada como objeto de política pública, e
aos poucos é possível diminuir o estigma constituído em torno do usuário de drogas.

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Ainda se tratando do viés positivo da Lei de Drogas, acrescenta-se a ideia da
diminuição do estigma do usuário, o fato de que a mesma pode ser vista como uma
precursora da preservação da figura do consumidor de droga, ou seja, foi através
dela que pelo menos na teoria, esses passarem a ter um aparato jurídico de defesa
contra a opressão policial e dos outros setores da justiça.

Se, por um lado, a atual Lei de Drogas implicou em avanços positivos no


desenvolvimento de políticas públicas de saúde e defesa da figura de "alguns
usuários", é essa mesma lei que concede em outra perspectiva ao Estado, uma
ampliação de justificativas legais para a perpetuação de mecanismos arbitrários que
encontra como seu principal objeto a população negra. O discurso oficial de que
existe uma "guerra contra o tráfico" é na verdade, mais um dos mecanismos de
investidas e opressões do Estado a um determinado grupo de cidadãos.

Após dez anos da aplicação da atual Lei de Drogas, é possível constatar que
esta é mais um sofisticado exercício de manutenção invisível do racismo brasileiro.
O racismo não surge a partir da atual Lei de Drogas, mas a partir da observação da
mesma, é possível perceber a ação de um conjunto de instrumentos que têm como
resultado a morte de vidas negras, pois é a população negra quem compõe os
dados de homicídios e encarceramento no país. Esse revestimento de relações
históricas do corpo negro na sociedade, ainda hoje, faz com que os crimes
cometidos contra a população negra não sejam entendidos como crime, e sim como
uma ação legítima do Estado sobre esse seguimento social. Ademais, acerca desse
assunto, segundo A Mestre e Doutora em Serviço Social, Políticas Sociais e
Movimentos Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP

Descriminalizar as drogas significa, antes de tudo, resolver diversos


problemas, entre eles o poder do tráfico, bem como o encarceramento de
jovens pobres e negros que estão abandonados no sistema carcerário
brasileiro.

Nesse aspecto, faz-se necessária a elaboração de um novo modelo para


atuar na questão do tráfico de drogas e as demais consequências que o mesmo
gera. Para isso, é preciso que haja a desconstrução de paradigmas que fomentam e
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passam por soluções punitivas, essas que estão cercadas e apenas escondem o
interesse de grupos hegemônicos presentes na sociedade. Essa transformação
acontecerá conforme for mudando a mentalidade predominantemente branca, desde
a forma como acontecem as relações nos espaços privados e públicos, e até mesmo
na representatividade dessa população nos espaços em que se dão essas decisões.

4. A influência midiática na Política de Drogas

Ao se tratar do Brasil, além desses pontos apresentados acima deve-se ter


uma visão abrangente e crítica para se entender os interesses na manutenção da
criminalização das drogas e como é estabelecida a Guerra ao tráfico, principalmente
ver como a mídia tem um papel forte de manipulação nesse meio.

Em primeiro lugar, a ideia de guerra às drogas é narrada a partir de uma


perspectiva criminalizadora da periferia. Através da mídia, e a partir da construção
do senso comum, o uso de drogas ilícitas nunca é representado de maneira positiva,
dentro de um uso recreativo. A intervenção da mídia nesse contexto ajudou a na
equiparação do tráfico de drogas a crime hediondo, este que, além de equiparar
condutas cotidianas de cunho privado a crimes que atentam contra a ordem e saúde
pública e restringem liberdades individuais e também aumentam o poder de ação do
Estado perante seus cidadãos. Essa atuação corroborou para o fortalecimento do
apelo social que mantém a criminalização de territórios pobres.

A mídia tem consistentemente promovido o medo às drogas e seus usuários,


o que é um tópico político bastante seguro e cômodo para elas, já que não há
nenhum grupo político ou forte empresário suficientemente organizado e poderoso
para contra-argumentar esta mensagem de pavor. Para o advogado criminalista e
mestre em Direito Penal (UNIMEP). José Nabuco Filho. Quando a polícia invade um
morro, as TVs mostram a “mansão” do “Pé Quente”, ou seja lá qual for seu nome.
“Ele tem até uma jacuzzi”, diz o apresentador. E o que se vê é um barraco com uma
banheira". Há um claro interesse da mídia em criar um pânico social que tem guiado
as políticas públicas em relação às drogas, em detrimento da racionalidade com o
que o fenômeno deveria ser pensado

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Não se pode também deixar de apontar o fato de que há alguns
consumidores, que em razão da dependência, não têm discernimento, ou seja farão
da descriminalização das drogas um meio de sustento ao seu vicio, o que acontece
também com o alcoólatra, mas nem por isso se vê a repulsa ao dono do boteco. A
diferença entre o dono de um bar que vende cachaça e um pequeno traficante não é
natural, mas fruto de uma escolha social, equivocada, de criminalizar o vendedor de
drogas e não o de qualquer outra bebida, essa questão mostra como há um jogo de
interesses entre as grandes empresas que dominam o mercado do tabaco e do
álcool e o governo. O que ocorre é uma grande troca de favores para se chegar a
lucros absurdos.

Essa escolha deve ser mudada simplesmente porque a política antidrogas


atual é um fracasso retumbante. É preciso deixar de lado o tradicional fanatismo
proibitivista, punitivista e criminalizador e avançar rumo a outras saída, à
descriminalização das drogas. Essa é a melhor maneira de combatê-las, o usuário
não pode ser criminalizado. Isso é uma questão de saúde. A descriminalização
conduzirá a sociedade a aprender a conviver com as drogas, tal e como tem feito
com outras substâncias como o álcool e o cigarro. O processo de aprendizagem
social é extremamente valioso e implicará em romper um sistema que não tem dado
certo, ao se descriminalizar as drogas haverá a diminuição da violência e do poder
do tráfico.

Conclusão

O presente trabalho procurou apresentar a trajetória da criminalização das


drogas, sua origem histórica, desde o momento em que tal conduta foi construída
enquanto criminosa, até o contexto atual, em que retorna-se a problemática questão,
de descriminalizar ou não o uso de drogas. A partir da análise dos artigos científicos
(apresentados acima), obras literárias e tendo como base também as estatísticas
atuais, nota-se que o caminho mais viável para o combate ao tráfico de drogas é a
descriminalização do uso de drogas.

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Para realizar o desenvolvimento de tal estudo, foi preciso inicialmente
estabelecer os critérios e modo como ocorreu a criminalização de drogas na
sociedade brasileira, tanto pelo viés jurídico quanto pelo viés social. Para dar
continuidade e para dar mais credibilidade e conteúdo a discussão, foi utilizada a
opinião e a obra de diversos especialistas na área, além do próprio Estado do
Uruguai que avançou nesse meio ao legalizar a maconha e a partir de tal
implementação apresentou um aumento o combate ao tráfico. Ainda se tratando da
opinião dos estudiosos, ficou claro para muitos deles que a descriminalização seria
uma ótima ferramenta no contexto atual pois, além de combater o tráfico, iria atuar
para a diminuição do encarceramento de jovens pobres e negros que são as
principais vítimas da opressão estatal.

Ademais, ao adotar esse método na sociedade brasileira e no ordenamento


jurídico, os gestores políticos estariam corroborando para a manutenção do direito a
liberdade de escolha e a autonomia que cada indivíduo deveria ter sobre si. Usar ou
não usar droga é uma opção individual, faz parte da esfera particular de cada
cidadão. Ao querer reprimir ou criminalizar esse tipo de conduta, assim como outros
tipos de manifestações existenciais, o Estado contraria os próprios princípios
democráticos estabelecidos em sua construção cultural e acaba por se tornar um
sistema de governo retrógrado e paternalista.

Referências

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Folha de São Paulo, 2015. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/colunas/2015/11/1704175-
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<http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-06/ministro-defende-distincao-
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<https://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-rocinha-mostra-que-o-caminho-e-a-
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Diamantina: Catrumano, 2017.

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