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Universidade do Sul de Santa Catarina

Descriminalização das Drogas Para Consumo Próprio

Curso: Teoria Geral do Direito


Docentes: Murilo Zanotelli e Wilson Demo
Discentes: Amanda Eufrazio Machado, Gabriela Guedes Nascimento,
Kaylane Dourado Scremin de Oliveira, Kayllane Soterio de Oliveira,
Nicole Dias Bernardes e Thayana Lourega de Souza.
Período: 1° Semestre de 2023

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SUMÁRIO

Petição______________________________________________03, 04, 05
Diferença da Descriminalização e Legalização_______________06
Distinção entre drogas lícitas e ilícitas, preconceito e proibição de
Determinadas drogas em detrimento de outras________________06, 07
Pessoas marginalizadas socialmente________________________07, 08
Usuários presos como traficantes___________________________08, 09
Superlotação de presídios e a diminuição da criminalidade com
A descriminalização_____________________________________09, 10, 11, 12
Princípio da intimidade e vida privada_______________________13
Uso de droga como problema de saúde pública e não como natureza
Criminal______________________________________________13, 14, 15
Garantir aos dependentes tratamentos e rede de apoio___________15, 16
Limite para Usuários_____________________________________16, 17
Exemplos de Países que Descriminalizaram as Drogas__________17, 18, 19, 20
Cannabis e seu uso Medicinal_____________________________20, 21
Anexo_______________________________________________22

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Tubarão, Santa Catarina, 88705651
 
Data: 03/06/2023
 
Autoridades Competentes: Maurício Zanotelli e Wilson Demo
 
Assunto: Petição para a Descriminalização das Drogas no Brasil
 
Prezados (as): Maurício Zanotelli e Wilson Demo
 
Nós, estudantes de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), por
meio desta petição, viemos expressar nosso apoio à descriminalização das drogas no Brasil.
Acreditamos que a política atual de criminalização das drogas tem sido bastante ineficaz e
prejudicial à sociedade, e gostaríamos de apresentar argumentos convincentes em favor de
uma mudança neste paradigma para uma melhora na presente sociedade.
 
Primeiro, é de extremo meritório ressaltar que a criminalização das drogas não tem
sido efetiva na luta contra o tráfico e ao consumo. Apesar das rebarbativas penas e das ações
severas exercidas pelo Estado Brasileiro, o tráfico de drogas continua e continuará
prosperando em todo o território brasileiro, alimentando cada dia mais a violência, a
corrupção e o crime organizado. Os meios de abordagem feita tanto pelo Estado quanto por
órgãos públicos de segurança estão cada dia menos eficientes e mais contraproducentes.
 
 
Por conseguinte, a criminalização das drogas está afetando especificamente e em
conseqüências descomunais aos grupos que mais são vulneráveis em nossa sociedade, usando
como um grande exemplar modelo os usuários de baixa renda e minorias sociais, que por sua
vez, são os principais afetados hoje, e com as penas mais severas comparadas á outros grupos
socialmente mais elitistas.
 

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As penas que ]são colocadas sobre essas pessoas resultam em superlotação nos
ambientes carcerários, violando e estigmatizando seus direitos básicos humanos. A
descriminalização permitiria a inserção de políticas de saúde públicas mais eficazes, focadas
totalmente no tratamento de usuários, na prevenção e redução de danos, ao contrario de
criminalizar e punir os usuários tratando os mesmos como traficantes, quando os principais
culpados são os menos prejudicados socialmente; a elite compra e ajuda a financiar os crimes
nas periferias.
 
Além disso, ao legalizar e taxar a venda de drogas, o Estado teria a oportunidade de
gerar receitas adicionais, que poderiam ser direcionadas para programas de prevenção,
tratamento e reinserção social. A regulamentação nos proporcionaria um maior e mais eficaz
controle sobre a qualidade dos produtos a serem vendidos, eliminando assim grande maioria
dos riscos mais benéficos a saúde, como é atualmente com substancias adulteradas vendidas
sem qualquer vigilância.
 
Outro ponto importante a ser considerado é a experiência de outros países que
adotaram políticas de descriminalização das drogas. Países como Portugal, Holanda e Uruguai
programaram medidas mais progressistas nesse sentido, obtendo resultados positivos. Em
Portugal, por exemplo, a descriminalização resultou na diminuição do consumo problemático,
na redução dos índices de HIV relacionados ao uso de drogas e no aumento do número de
pessoas em tratamento. 
 
Fora os pontos e argumentos usados neste documento são de extrema transcendência
ressaltar alguns pontos: a descriminalização das drogas não induz em aprovar ou estimular o
uso e consumo destas substancias, mas sim reconhecer que esta problemática se refere a uma
questão de saúde publica e humanitária dos indivíduos mais afetados, usufruindo de
evidencias cientificas e de meios que possam melhorar a vivencia dessas pessoas como
pacientes, conscientizando e instruindo os mesmos para que possam viver em sociedade.
 
Por todas essas razões, solicito que Vossa Excelência considere a proposta de
descriminalização das drogas no Brasil.
 

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 Acreditamos que ao acrescentar políticas mais humanitárias e baseadas em evidências
científicas trará auxílio e benefícios significativos para a sociedade como um todo, e não
apenas para um grupo de indivíduos.
 
Por fim, peço que seja realizada uma revisão do atual posicionamento legal
relacionado às drogas, com o propósito de cogitar atenciosamente e delicadamente uma
política de descriminalização responsável e embasada em estudos e boas práticas
internacionais.
 
Agradecemos antecipadamente pela atenção dedicada ao presente assunto e pela honra
de poder debater abertamente sobre o mesmo, e aguardamos ansiosamente uma resposta que
reflita o compromisso do Estado em promover políticas mais justas, humanas e eficazes,
voltadas para a proteção e bem-estar dos cidadãos brasileiros.
 
Atenciosamente, estudantes de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina
(UNISUL):
 
Amanda Eufrazio Machado, Gabriela Guedes Nascimento, Kaylane Dourado Scremin
de Oliveira, Kayllane Soterio de Oliveira, Nicole Dias Bernardes e Thayana Lourega de
Souza.

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 Diferença da Descriminalização e Legalização

Descriminalização significa que o ato ou conduta deixou de ser crime, ou seja, não há
mais punição no âmbito penal, mas ainda pode ser considerada como ilícito civil ou
administrativo, e pode sofrer sanções como multas, prestação de serviços ou frequência em
cursos de reeducação. Por exemplo, a Lei n. 12.408/11 alterou a redação do artigo 65 da Lei
n. 9.605/98 e acrescentou um novo parágrafo no dispositivo com a expressa intenção de
descriminalizar o ato de grafitar, que era uma conduta considerada como crime.

Na legalização, todas as possíveis sanções são eliminadas, enquanto na


descriminalização o ato deixa de ser ilícito apenas do ponto de vista penal. Ou seja, ainda
pode haver punições administrativas. A pessoa não é presa, mas pode pagar multas, fazer
serviços comunitários ou frequentar cursos oferecidos pelo Estado, diz Marco Aurélio
Florêncio Filho, professor de direito penal da Universidade Mackenzie, de São Paulo. O
aborto de feto anencefálico e o grafite foram descriminalizados no Brasil. Já o consumo de
álcool é legalizado, por exemplo. Não há punição pelo consumo, apenas restrições, como a
menores de idade. É o mesmo que ocorre com remédios que só podem ser comprados com
receitas específicas ou com a maconha no Uruguai, que é um produto legalizado e submetido
a uma série de regulamentações, tributos e fiscalizações.

 Distinção entre drogas lícitas e ilícitas, preconceito e proibição de


determinadas drogas em detrimento de outras

A distinção entre drogas lícitas e ilícitas geralmente é baseada nas políticas e leis de
cada país. No entanto, as definições podem variar. Em termos gerais, as drogas lícitas são
aquelas que são legalmente produzidas, distribuídas e consumidas sob determinadas
regulamentações, como álcool, tabaco e medicamentos prescritos. Por outro lado, as drogas
ilícitas são substâncias cuja produção, distribuição e consumo são considerados ilegais, como
a maconha, a cocaína e a heroína.

A distinção entre drogas lícitas e ilícitas muitas vezes é arbitrária e pode ser
influenciada por fatores históricos, culturais e políticos. A proibição de certas drogas e a
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permissão de outras nem sempre se baseiam em critérios objetivos de saúde ou segurança
pública. Muitas vezes, as políticas de drogas refletem preconceitos sociais, interesses
econômicos e pressões políticas.

O preconceito também desempenha um papel importante nas políticas de drogas.


Certas drogas são estigmatizadas e associadas a determinados grupos sociais, o que pode levar
à discriminação e à criminalização desses grupos. Por exemplo, a guerra às drogas em muitos
países resultou em um número desproporcional de prisões e encarceramentos de pessoas de
comunidades marginalizadas, especialmente minorias étnicas.

Além disso, as políticas de drogas também podem ser influenciadas por considerações
econômicas. Por exemplo, a indústria do álcool e do tabaco muitas vezes tem um poderoso
lobby e interesses financeiros em jogo, o que pode afetar a regulação e a percepção dessas
substâncias. Ao mesmo tempo, outras drogas consideradas ilícitas podem ter aplicações
medicinais e potencial econômico, mas são proibidas devido a questões políticas e culturais.

É importante destacar que as políticas de drogas estão evoluindo em diferentes partes


do mundo. Algumas jurisdições estão adotando abordagens mais progressistas, como a
descriminalização ou legalização do uso de certas drogas, com o objetivo de reduzir os danos
sociais, diminuir o encarceramento em massa e focar em estratégias de redução de danos e
saúde pública. No entanto, ainda há muito debate e controvérsia em torno desse assunto
complexo.

 Pessoas Marginalizadas Socialmente 

   Discriminação é ação de distinguir ou diferenciar com o intuito de inferiorizar


tratando um indivíduo de maneira diferente por determinados motivos tal como diferença de
raça, diferentes classes sociais, diferença sexual. Surge a partir do preconceito e algumas
delas são consideradas crime podendo haver punição, e existem diversos tipos de
discriminação.

   A discriminação apesar de ter o mesmo conceito e estar relacionada ao preconceito


são termos diferentes, elas infelizmente ainda acontecem devido a desigualdade social que

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estamos inseridos onde algumas pessoas são mais valorizadas por determinados motivos e
outras são inferiorizadas pelo mesmo motivo entrei outros, como problemas históricos,
nacionais, culturais, econômicos, falta de conhecimento e assim por diante.
    
   A minoria social é uma parcela da população que se encontra marginalizada, muitas
vezes são a maioria em números, mas são excluídos por não se encaixarem no padrão elitista
da sociedade, isso é claramente uma forma de manter a divisão de classe na sociedade.

   A falta de informação gera uma discriminação contra os usuários de drogas, que,
muitas vezes, são considerados mau-caráter, perigosos e violentos. Dessa forma, sofrem com
a perda da autoestima e restrição das interações sociais. Esse sistema de preconceitos faz com
que o indivíduo torne essas visões, de fato, sua realidade, tornando-os o que dizem ser.

   Em muitos casos, usuários de drogas são marginalizados por serem considerados o
principal problema social, o que não é verdade, pois existe um sistema muito mais complexo e
problemático do que aqueles que apenas utilizam substâncias para fins de consumo pessoal.

   A discriminação dos usuários de drogas é evidente e necessária para que o tema não
se torne mais uma questão de superstições, mas sim comece a ser discutido de forma correta,
beneficiando assim a sociedade como um todo.

 Usuários Presos como Traficantes 

O art. 33 da Lei de Drogas dificulta o enquadramento correto da conduta praticada


pelo agente delituoso em qualquer das hipóteses (uso ou tráfico), prestando um desfavor à
sociedade como um todo, uma vez que milhares de usuários de drogas são encarcerados
equivocadamente como se traficantes fossem.

Um exemplo disso, é a Lei Antidrogas (Lei 11.343, de 2006), apesar de não prever a
prisão para quem fuma maconha, permite que a pessoa seja presa pela posse da substância.
Como consequência, milhares de pessoas que são apenas usuárias da droga são presos

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anualmente, ajudando na superlotação do sistema carcerário brasileiro. Mais de 40% dos 730
mil presos no Brasil estão envolvidos em crimes relacionados às drogas.

Para o professor Luís Flavio Sapori, da PUC de Minas Gerais, diante dessa realidade,
a lei precisa mudar.

— A política pública de enfrentamento ao tráfico está equivocada. A Lei de Tóxicos


precisa ser repensada para distinguir melhor usuário de traficante — afirmou Sapori à Rádio
Senado.

Da mesma forma, Andrea Gallassi questiona penalizar consumidores de maconha. Ela


avalia que ao permitir a prisão do usuário, geralmente um detento primário, a Lei de
Antidrogas manda pessoas de baixa periculosidade para as penitenciárias, que, em geral, são
ambientes violentos.

 Superlotação de Presídios 

Uma análise do sistema prisional brasileiro: problemas e soluções

Ainda que bem amparado na legislação, o sistema prisional brasileiro


enfrenta graves problemas estruturais desde a sua fundação, como a superlotação das celas, o
domínio do sistema por facções criminosas, bem como a insalubridade, a proliferação de
epidemias e o consumo de drogas nas unidades.  

Conforme informações do banco de dados “World  Prison  Brief”, o Brasil comporta a


terceira maior população prisional do mundo,
com índice superado somente pelos Estados Unidos (2,1 milhões de presos) e China (1,6
milhões de presos). Em 2021, a população carcerária brasileira registrou a sua primeira
diminuição desde 2014, e ainda assim, as penitenciárias estão cerca de 54,9% acima da sua
capacidade.

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Entre as diversas mudanças que o sistema prisional brasileiro passou, destacam-se o
Código Penitenciário da República de 1935, Código Penal Brasileiro de 1940, Lei de
Execução Penal (Lei N° 7.210/1984) e a própria Constituição Federal de 1988,
que incorporou aspectos ligados aos direitos humanos. Sempre se adaptando às mudanças da
sociedade com o passar do tempo.

Por mais que exista uma lei, os presídios atualmente proporcionam um ambiente
degradante e desumano ao preso, tendo em vista, a superlotação, a ausência de assistência
médica, a precariedade na alimentação e a falta de higiene que desencadeiam diversas
doenças. Esse descaso com o sistema prisional não atinge somente aos presos encarcerados,
mas também as pessoas ligadas diretamente ou indiretamente aos mesmos. O sistema
prisional, por consequência de sua realidade, acaba acarretando a reincidência dos presos,
porém, se os mesmos fossem tratados com dignidade, ambos iriam se reintegrar de forma
adequada na sociedade com base na garantia constitucional do princípio da dignidade da
pessoa humana. 

“Em relação ao princípio da dignidade da pessoa humana, este previsto no artigo 1°,
III, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988*, enfatiza que todos devem
ser tratados de maneira igualitária e de forma digna, conforme dispõe a lei.

Entretanto, muitos apenados acabam esquecidos nos presídios, em virtude do


abandono familiar, não tendo assim, um alicerce. E como já vivem em um ambiente, no qual
o tratamento é desumano e ainda sem ajuda da família, acabam estes muitas vezes se tornando
pessoas piores do que já eram antes mesmo de estarem presos. Por isso, a importância da
ressocialização do preso.

Evandro Lins e Silva, um dos juristas mais renomados do país, morto em 2002,
sempre defendeu a descriminalização das drogas. Aos 90 anos, numa entrevista concedida à
revista “Época”, dizia que a droga só gerava violência por ser crime. “Combater [o tráfico] à
força é bobagem. O tráfico se tornou a oportunidade de emprego de muitas pessoas. É
decorrente dos problemas socioeconômicos do país”.

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“Existe um determinado poder que foge ao controle das autoridades e é localizado
nas favelas: a disputa pelo comércio da droga. Com a falta de emprego e oportunidades na
vida, as pessoas acabam aderindo a esse estilo de vida, se tornando parte disso, seja
ativamente, seja por omissão. O traficante, por ganhar muito dinheiro, ganha o poder de
corromper e cria uma teia de força muito grande. “O mais importante é focar no que
realmente interessa, que é educar e dar oportunidade de emprego às pessoas. Isso, sim,
reduziria todo tipo de crime. A solução, a longo prazo, é de natureza social. Mas, por ora,
descriminalizar é um passo importante”, defendia.

Existem exemplos de países que adotaram políticas de descriminalização ou


legalização de drogas, como Portugal e Uruguai, e que relataram uma redução dos índices
de criminalidade relacionados ao tráfico de drogas e uma diminuição do número de mortes
por overdose. Além disso, a descriminalização pode levar a uma redução do encarceramento
em massa de usuários de drogas e uma economia de recursos públicos. No entanto, é
importante ressaltar que a simples descriminalização ou legalização das drogas não é uma
solução imediata para a questão da criminalidade. É necessário um conjunto de políticas
públicas e investimentos em saúde e educação para prevenir o uso abusivo de drogas e
minimizar os impactos negativos que o consumo pode ter na sociedade.

Em resumo, a relação entre a criminalidade e a descriminalização das drogas é


complexa e depende de uma série de fatores. 

Nessa toada, de acordo com dados levantados pelo Departamento


Penitenciário Nacional (2021), em junho de 2021 a população carcerária do Brasil já
havia atingido a quantidade total de 681.747 pessoas em celas físicas, sendo esse número
distribuído da seguinte maneira

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Gráfico - Total de Presos em Celas Físicas de âmbito federal e estadual:

Esse crescimento decorre, principalmente, das modificações introduzidas pela


Nova Lei de Drogas - a Lei 11.343/06. Com efeito, existem, atualmente, 206.359
pessoas privadas de liberdade com base na referida legislação, correspondendo a 30% da
população atualmente encarcerada no país. Segundo um estudo levantado por Jesus (2016,
p. 14):

•…na tina de 200o. O sistema penitenciário brasileiro contava com 47.472


Pessoas presas por tráfico no país. Em 2010. Quatro anos após a Lei de Drogas,
registrou-se o número de 106.491 pessoas presas pelo mesmo motivo - trata-se de um
crescimento de 124%

Tal fato se deve, como mencionado, às inovações introduzidas pelo referido diploma
legal, tendo destaque os artigos 28 e 33, os quais dispõem sobre o consumo próprio e crime
de tráfico de drogas, respectivamente. Nesse contexto, Seibel (2012) afirma que não há nessa
legislação objetividade e clareza, de modo que esse fato "está levando à prisão de milhares
de pessoas que não são traficantes, mas sim usuárias", visto que:

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A maioria desses presos nunca cometeu outros delitos, não sendo criminosos a priori,
não tendo relação com o crime assim chamado
"organizado e portava pequenas quantidades da droga no ato da detenção para
consumo próprio.

 Princípio da Intimidade e Vida Privada 

Os fundamentos para o questionamento da constitucionalidade são os direitos


fundamentais à intimidade e à vida privada, previstos no inciso X do artigo 5º da
Constituição. [2] De acordo com notícia publicada pelo site do STF, para o recorrente, o
dispositivo contraria o princípio da intimidade e vida privada, pois a conduta de portar drogas
para uso próprio não implica lesividade, princípio básico do direito penal, uma vez que não
causa lesão a bens jurídicos alheios.

A Defensoria Pública argumenta que “o porte de drogas para uso próprio não afronta a
chamada ‘saúde pública’ (objeto jurídico do delito de tráfico de drogas), mas apenas, e
quando muito, a saúde pessoal do próprio usuário

 Uso de Droga como problema de Saúde Pública não como Natureza


Criminal

O uso de drogas como um problema de saúde pública, em vez de uma questão


criminal, é um tema cada vez mais debatido no Brasil e em muitos outros países. Essa
abordagem enfatiza a necessidade de tratar o uso de drogas como uma questão de saúde,
oferecendo assistência, prevenção e tratamento adequados para os indivíduos afetados, em vez
de criminalizá-los e impor penalidades legais.

Existem várias razões pelas quais essa perspectiva está ganhando força. Em primeiro
lugar, há evidências crescentes de que a criminalização do uso de drogas não tem sido eficaz
em reduzir o consumo ou os danos associados a ele. Pelo contrário, a abordagem punitiva
muitas vezes leva a consequências negativas, como superlotação de prisões, estigmatização
dos usuários de drogas e um maior envolvimento com o mercado ilegal de drogas.
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Além disso, o enfoque na saúde pública reconhece que o uso de drogas é
frequentemente um sintoma de problemas subjacentes, como questões de saúde mental,
vulnerabilidades sociais, pobreza e exclusão. 

Portanto, trata-se de abordar essas questões mais amplas, oferecendo apoio e


tratamento holístico aos usuários de drogas, em vez de simplesmente puni-los.

Essa abordagem também leva em consideração os princípios de redução de danos, que


se concentram em minimizar os danos associados ao uso de drogas, em vez de simplesmente
exigir a abstinência total. Isso inclui o fornecimento de programas de troca de seringas para
reduzir a transmissão de doenças, a promoção do acesso a tratamentos de substituição de
opióides, como a metadona, e a educação em saúde para usuários de drogas.

No Brasil, embora a legislação ainda criminalize o uso de drogas, tem havido avanços
no sentido de adotar uma abordagem mais centrada na saúde pública. Por exemplo, em 2006,
foi aprovada a Lei de Drogas, que introduziu medidas de redução de danos e permitiu a
substituição da pena de prisão por medidas educativas ou terapêuticas para usuários de drogas
não violentas.

Além disso, em 2019, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o porte de drogas para
uso pessoal não pode ser considerado crime, e sim uma questão de saúde individual. Essa
decisão abriu caminho para uma maior discussão sobre a descriminalização do uso de drogas
e uma abordagem mais centrada na saúde.

Apesar desses avanços, ainda há um longo caminho a percorrer para que a abordagem
de saúde pública seja plenamente implementada no Brasil. São necessários investimentos em
programas de prevenção, tratamento e reinserção social, bem como uma mudança cultural que
enfrente o estigma associado ao uso de drogas.

8-No Brasil, existem políticas e programas voltados para garantir tratamentos e uma
rede de apoio aos dependentes de drogas. No entanto, é importante ressaltar que ainda há

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desafios significativos a serem superados para garantir que esses serviços sejam acessíveis e
efetivos para todos que deles necessitam. Algumas das iniciativas existentes incluem:

1. Rede de Atenção Psicossocial (RAPS): A RAPS é uma estratégia do Sistema Único


de Saúde (SUS) que busca promover a assistência integral às pessoas com transtornos
mentais, incluindo a dependência química. A rede oferece serviços de saúde mental, como
CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) e residências terapêuticas, que oferecem
acolhimento e tratamento para os dependentes.

2. CAPS-AD: Os CAPS-AD são unidades especializadas dos Centros de Atenção


Psicossocial que se dedicam ao atendimento de pessoas com dependência química. Esses
centros oferecem acolhimento, atendimento ambulatorial, acompanhamento psicossocial,
tratamento medicamentoso, terapia individual e em grupo, além de atividades de reintegração
social.

3. Comunidades Terapêuticas: As comunidades terapêuticas são instituições da


sociedade civil que oferecem tratamento e acolhimento para pessoas com dependência
química. Elas funcionam como espaços residenciais, proporcionando um ambiente terapêutico
e apoio para a recuperação dos dependentes.

4. Programa Nacional de Prevenção e Controle do Uso de Crack e outras Drogas: O


programa tem como objetivo promover ações de prevenção ao uso de drogas, tratamento e
reinserção social dos usuários, além de capacitar profissionais da saúde e assistência social.
Ele busca articular diferentes setores e níveis de governo na implementação de políticas
integradas.

 Garantir aos dependentes tratamentos e rede de apoio 

Serviços de Saúde Mental e Atenção Básica: Os serviços de saúde mental e atenção


básica são fundamentais na identificação precoce e no encaminhamento adequado dos
dependentes de drogas. Esses serviços devem ser capazes de oferecer apoio, tratamento e
acompanhamento aos usuários, além de promover ações de prevenção.

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Apesar dessas iniciativas, existem desafios significativos na implementação efetiva
desses programas em todo o país. Isso inclui a necessidade de aumentar o financiamento para
ampliar a capacidade de atendimento, melhorar a formação dos profissionais de saúde,
promover campanhas de conscientização e combater o estigma em relação à dependência
química.

Além disso, é importante destacar que o tratamento da dependência química deve ser
abordado de maneira multidisciplinar, considerando a complexidade da questão. Isso significa
combinar abordagens médicas, psicológicas, sociais e de reintegração para fornecer um
suporte completo aos dependentes em sua jornada de recuperação.

 Limite de Drogas para Usuários 

É importante observar que as leis relacionadas ao porte de drogas e ao tráfico podem


variar de um país para outro e até mesmo dentro de diferentes jurisdições dentro de um
mesmo país.

No entanto, posso fornecer informações gerais sobre o assunto. Em muitos sistemas


legais, o porte de drogas para consumo pessoal é considerado um delito menos grave em
comparação com o tráfico. Para determinar a quantidade específica que define o limite entre
porte para consumo e tráfico, as autoridades costumam levar em consideração vários fatores,
incluindo:

1. Quantidade de droga: Em alguns lugares, existe um limite quantitativo específico


para cada tipo de droga, e se você estiver com uma quantidade abaixo desse limite, pode ser
considerado porte para consumo. Acima desse limite, pode ser interpretado como tráfico.

2. Forma de acondicionamento: A forma como as drogas estão embaladas ou


fracionadas também pode ser um fator importante. Se a droga estiver embalada de forma a
indicar a intenção de venda ou distribuição, isso pode ser considerado como indício de tráfico.

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3. Outros indícios de tráfico: Além da quantidade e da forma de acondicionamento, as
autoridades também podem levar em conta outros elementos, como a presença de balanças de
precisão, dinheiro em grande quantidade, embalagens vazias ou qualquer outro elemento que
sugira atividade relacionada ao tráfico.
 
No Brasil, a quantidade específica de drogas que define o limite entre porte para
consumo e tráfico é estabelecida pela Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006) e pode variar de
acordo com o tipo de substância. É importante ressaltar que essas quantidades podem sofrer
alterações ao longo do tempo devido a mudanças na legislação.

De acordo com a Lei de Drogas brasileira, o porte de drogas para consumo pessoal é
tipicamente tratado como um delito de menor gravidade em comparação ao tráfico. No
entanto, não há uma quantidade específica estabelecida pela lei que defina claramente o limite
entre porte para consumo e tráfico para todas as substâncias.

Em vez disso, o artigo 28 da Lei de Drogas prevê que a posse de drogas para uso
pessoal não será considerada crime se for de pequena quantidade e destinada ao consumo
próprio, levando em consideração a natureza e a quantidade da substância apreendida. Essa
avaliação é feita caso a caso pelas autoridades responsáveis, como policiais e juízes,
considerando elementos como a quantidade de droga, a forma de acondicionamento, a
presença de objetos e indícios que possam indicar tráfico, entre outros.

Cabe ressaltar que a interpretação e aplicação da lei podem variar entre diferentes
jurisdições e também dependem da apreciação dos fatos e das circunstâncias específicas de
cada caso pelas autoridades competentes.

Para obter informações atualizadas e precisas sobre a legislação de drogas no Brasil e


o limite quantitativo entre porte para consumo e tráfico, é recomendado consultar a Lei de
Drogas vigente e buscar orientação jurídica especializada.

 Exemplos de Países que Descriminalizaram as Drogas 

O sistema de Portugal na descriminalização das drogas.

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Portugal há 22 anos descriminalizou as drogas no seu país. Ao fim da ditadura,
Portugal sofreu com uma entrada de drogas no país muito forte, de acordo com o diretor do
Serviço de Intervenção de Comportamentos Aditivos e Dependências (SICAD), não havia
uma família sem algum viciado. Após o início dessa crise social, a solução dos portugueses
foi rebater com tolerância zero com traficantes e os consumidores, acarretando um sistema
prisional superlotado e o consumo dos entorpecentes só aumentava. Em decorrência dos
problemas citados, Portugal vendo que seus métodos não estavam surtindo uma melhora na
crise, resolveu implementar uma nova estratégia, depois de dois anos de debates com a
sociedade civil e o Parlamento, o Governo do país implantou a descriminalização do consumo
daqueles que portassem no máximo 10 doses de uma determinada substância ilícita. O
objetivo era fazer com que viciados deixassem de serem tratados como criminosos e serem
inseridos em sistemas de saúde para tratarem suas doenças.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que 40 mil toxicodependentes


estavam em tratamento e estima que o sistema de Portugal tenha atendido mais de 400 mil
pessoas desde a descriminalização das drogas para consumo, isso foi divulgado em 2015. Os
resultados: as taxas de contaminação de HIV caíram pela metade em pouco tempo e a morte
por overdose reduziu também, o consumo de cocaína e heroína passou a afetar de 1% da
população para 0,3%, diminuição do número de presidiários e tirou dos policiais a
preocupação de ir atrás de usuários podendo assim, focarem em traficantes e produtores.
Lembrando que, a droga continua criminalizada em Portugal, portanto, pessoas ao
serem flagradas pela polícia portando drogas, serão encaminhadas para a Comissão de
Dissuasão da Toxicodependência (IDT), sendo o papel da comissão recomendar o tratamento,
mostrar ao usuário as opções se ele quiser largar o vício, mas jamais serão punidos por
estarem portando no máximo dez doses diárias da droga que este consome. 
 
 Drogas raramente matam alguém em Portugal:

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Drogas - morte induzida

Como a Alemanha acabou com sua “Cracolândia”

O maior ponto de drogas a céu aberto da Alemanha, no fim da década de 1980, ficava
em Frankfurt em um parque e próximo à uma estação ferroviária, no local viviam cerca de 1,5
mil dependentes. Aos alemães, isto era um problema de saúde pública, visto que, cerca de 150
viciados morriam de overdose por ano, e também, havia grandes concentrações de usuários
em locais públicos, sem falar na contaminação por HIV com grandes taxas no país. 

Em decorrência dos problemas citados, Frankfurt iniciou em 1988 buscar por uma
solução para o consumo exacerbado de heroína no país, após várias reuniões com

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especialistas e organizações, uma revolução política foi adotada, com o objetivo de perceber o
vício como uma doença, possibilitando a descriminalização do dependente químico. Essa
mudança gerou diversos impactos, entre eles, as ações policiais passaram a se concentrar em
combater o tráfico e não o usuário, e medidas de saúde pública foram implantadas oferecendo
alternativas para tirar os dependentes das ruas. 

Entre as alternativas propostas, estavam o oferecimento amplo de terapias de


substituição e a criação de salas supervisionadas para o consumo de drogas. A terapia de
substituição era uma forma de oferecer aos usuários a troca da heroína por opioides, como a
metadona, com uma quantidade e o uso monitorados por um médico, objetivando controlar o
vício e reduzir o consumo aos poucos, possibilitando a reintegração social. Cerca de 77 mil
dependentes químicos participam desse tipo de tratamento. Já as salas supervisionadas para o
uso de drogas, funcionam disponibilizando seringas e todo material esterilizado para o uso da
substância, e também, acompanhamento médico para evitar overdoses, ainda oferecem
assistência social para apresentar às dependentes opções de tratamento do vício.

 Cannabis e seu uso Medicinal

A Cannabis medicinal refere-se ao uso terapêutico de compostos encontrados na


planta Cannabis sativa ou seus derivados, para tratar uma variedade de condições médicas.
Existem evidências científicas crescentes que sustentam o uso da Cannabis medicinal em
diferentes contextos, e vou apresentar alguns pontos-chave para defender seu uso no Brasil.

1. Eficácia no tratamento de doenças: A Cannabis medicinal tem demonstrado eficácia


no tratamento de diversas condições médicas, como epilepsia refratária, dor crônica,
espasticidade muscular associada à esclerose múltipla, náuseas e vômitos relacionados à
quimioterapia, entre outras. Estudos e relatos de pacientes evidenciam melhorias
significativas na qualidade de vida e no alívio dos sintomas após o uso da Cannabis
medicinal.

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2. Segurança comprovada: Quando usada adequadamente e sob supervisão médica, a
Cannabis medicinal é considerada segura para a maioria dos pacientes. Comparada a outros
medicamentos, como opioides, a Cannabis medicinal apresenta menos efeitos colaterais e
menor potencial de dependência. Além disso, a planta possui um perfil de toxicidade baixo
em comparação com muitos medicamentos farmacêuticos convencionais.

3. Suporte científico: Estudos clínicos e pesquisas científicas têm demonstrado


consistentemente os efeitos terapêuticos da Cannabis medicinal. Substâncias como o
canabidiol (CBD) e o delta-9-tetra-hidrocanabinol (THC) têm sido objeto de investigação
científica rigorosa, fornecendo evidências sólidas de seus benefícios terapêuticos.

4. Benefícios econômicos: A legalização e regulamentação do uso da Cannabis


medicinal podem trazer benefícios econômicos significativos para o Brasil. Isso inclui a
criação de empregos na indústria do Cannabis medicinal, a geração de receita fiscal e o
estímulo à pesquisa científica e ao desenvolvimento de produtos farmacêuticos à base de
Cannabis.

5. Acesso à saúde e direitos dos pacientes: Permitir o uso da Cannabis medicinal no


Brasil significa garantir o acesso a opções terapêuticas eficazes para pacientes que sofrem de
condições médicas graves. Ao negar o acesso à Cannabis medicinal, os pacientes podem ser
privados de tratamentos que poderiam melhorar sua qualidade de vida. É importante respeitar
o direito dos pacientes de buscar alternativas terapêuticas seguras e eficazes.

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ANEXO

 https://www.conectas.org/noticias/5-motivos-descriminalizar-drogas-uso-
pessoal/#:~:text=A%20ideia%20%C3%A9%20deixar%20de,de%20ir
%20para%20ª20cadeia.
 https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/
direito-facil/edicao-semanal/descriminalizacao-x-legalizacao
 https://canalcienciascriminais.com.br/teses-defesa-usuario-parte-2/
 https://diariodopoder.com.br/brasil-e-regioes/ttc-brasil/ministro-de-lula-
reitera-defesa-da-descriminalizacao-das-drogas
 https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaoaudiencia?id=2161
 https://www.conjur.com.br/2021-out-13/dario-descriminalizacao-porte-
drogas-consumo-pessoal
 https://www.conjur.com.br/2011-dez-30/lei-drogas-viola-intimidade-vida-
privada-dependente-quimico
 https://www1.folha.uol.com.br/asmais/2015/09/1671352-conheca-os-paises-
onde-o-porte-de-drogas-e-liberado-para-uso-pessoal.shtml

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 https://www.poder360.com.br/governo/silvio-almeida-defende-tratar-
drogas-como-questao-de-saude-publica/#:~:text=%E2%80%9CA
%20quest%C3%A3o%20das%20drogas%20%C3%A9,e%20Combate
%20ao%20Crime%20Organizado.&text=concordo%20com%20os
%20termos%20da%20LGPD%20

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