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Teoria do Labelling Aproach, Interacionismo Simbólico, Rotulação Social ou Etiquetamento.

    Tal teoria representou uma profunda mudança no pensamento criminológico, descentralizando os estudos
no fenômeno delitivo em si e passando o enfoque para a reação social proveniente da ocorrência de um
determinado delito. 
    Os principais expoentes desta teoria são, Erving Goffman e Howard Becker.
  A metodologia usada por esses autores é a observação direta e o trabalho de campo, dirigem suas atenções
aos processos de criação dos desvios, a conversão do indivíduo em desviado.
    Na lição de Pablos de Molina :

"Por volta dos anos 70 ganhou grande vigor uma explicação interacionista do fato delitivo que parte dos conceitos de
"conduta desviada" e "reação social". Genuinamente norte-americana, surge com a modesta pretensão de oferecer uma
explicação científica aos processos de criminalização, às carreiras criminais e à chamada desviação secundária, adquirindo,
sem embargo, com o tempo, a natureza de mais um modelo teórico explicativo do comportamento criminal.
De acordo com esta perspectiva interacionista, não se pode compreender o crime prescindindo da própria reação social, do
processo social de definição ou seleção de certas pessoas e condutas etiquetadas como delitivas. Delito e reação social são
expressões interdependentes, recíprocas e inseparáveis. A desviação não é uma qualidade intrínseca da conduta, senão uma
qualidade que lhe é atribuída por meio de complexos processos de interação social, processos estes altamente seletivos e
discriminatórios." (MOLINA, p. 319-320)

    Podemos dizer que no processo de criminalização do indivídio existe: o desvio primário, correspondente a
primeira ação delitiva do sujeito, que geralmente tem como finalidade resolver alguma necessidade, seja ela
econômica ou para acomodar sua conduta as expectativas de um determinado grupo. O desvio secundário,
que está ligado a repetição de atos delitivos, especialmente a partir da forçada associação do indivíduo com
sujeitos delinquentes.
    O pensamento central dessa corrente é dizer que uma vez rotulado como "criminoso", o indivíduo
dificilmente voltará a se adaptar ao meio social, a prisão cumpre uma função reprodutora, ou seja, a pessoa
rotulada como delinquente assume o papel que lhe é consignado.
    A teoria traz consigo uma crítica ao aparato de repressão estatal, funcionando este na maioria das vezes
como segregador, retirando do indivíduo desviado as possibilidades de reinserção social.
    Uma vez adquirido o estigma de deliquente, podemos citar duas razões pelas quais dificilmente será
modificado tal quadro:
a)  Pela dificuldade da sociedade aceitar o individuo rotulado; 
b) Devido a experiência de ser considerado desviado, e a publicidade dada ao fato, fazem com que haja um
processo em que o próprio sujeito se concebe como tal. 
http://delicti.blogspot.com.br/2011/07/criminologia-teorias-macrossociologicas.html

3.4 – A NOVA CRIMINOLOGIA: CRIMINOLOGIA CRÍTICA, DIALÉ TICA, RADICAL, INTERACIONISTA OU


DA REAÇÃ O SOCIAL

3.4.1 – PRELIMINARES
Como já visto, a Nova Criminologia constitui uma alteração radical do paradigma científico da
pesquisa do fenô meno criminal. Implica no abandono da tese, tomada como premissa pela
Criminologia Tradicional, do crime como uma realidade ontoló gica reificada. O crime passa a ser
considerado semente dentro de seus limites de uma realidade meramente normativa, criada pelo
Sistema Social de que fazem parte as normas penais. Conseqü entemente o criminoso deixa de ser
rotulado como um “anormal” e o crime como “patoló gico” à semelhança do que já era adiantado por
Durkheim.
A compreensão da criminalidade passa a ser buscada no desvendamento da “ação do sistema penal
que a define e reage contra ela, começando pelas normas abstratas até a ação das instâncias oficiais
(polícia, juízes, instituiçõ es penitenciárias) que as aplicam.” Portanto, a atribuição do papel de
criminoso a determinada pessoa depende da atuação das “instâncias oficiais de controle social”, uma
vez que, mesmo praticando atos anti – sociais, um indivíduo não é tratado como criminoso enquanto
não é alcançado pela atuação dessas instâncias que exercem um forte papel seletivo. O fato de ser ou
não criminoso não se liga à existência ou não de uma moléstia ou anormalidade individual, mas sim a
haver ou não o sujeito sido apanhado pelas malhas das agências seletivas que atuam com base nas
pautas normativa e socialmente estabelecidas. [91]
As teorias da Criminologia Radical que se passarão a expor significam, portanto, o abandono do antigo
paradigma etioló gico para a construção de uma abordagem crítica do Sistema Penal, inclusive com o
questionamento sério de sua legitimidade.
Parte-se da idéia de que o sistema punitivo é organizado com base em uma ideologia da sociedade de
classes (matiz marxista). Assim sendo, seu objetivo primordial não seria a defesa social ou a criação
de condiçõ es para o convívio harmô nico, mas sim a proteção de “conceitos e interesses que são
pró prios da classe dominante”. O Sistema Penal e todos os demais instrumentos de controle social
não passariam de dispositivos opressivos para a consecução do domínio de umas classes sobre as
outras. “O Direito Penal é, assim, elitista e seletivo, fazendo cair fragorosamente seu peso sobre as
classes sociais mais débeis, evitando, por outro lado, atuar sobre aqueles que detêm o poder de fazer
as leis”. O sistema tem por escopo manter “a estrutura vertical de poder e dominação” existente na
sociedade, conservando as desigualdades e até mesmo alimentando-as.[92]
Essa visão impõ e a constatação da enorme diferença de intensidade do alcance do Direito Penal sobre
os setores marginalizados e inferiores da sociedade. Ao mesmo tempo, verifica-se a sua fragilidade
perante comportamentos de suma gravidade afetos às classes hegemô nicas (v.g. delitos econô micos,
ambientais etc.).
“A criminologia radical tenta demonstrar que o Direito Penal não é igualitário, nem protege o bem
como e, também que sua aplicação, (…), não é isonô mica”.[93]

3.4.2 – “LABELING APPROACH” OU TEORIA DA REAÇÃ O SOCIAL (a qual ocasiona o abandono do


modelo de pesquisa etioló gico – profilático, para investigar a criação do fenô meno criminal pela
pró pria organização social através de mecanismos estigmatizantes, seletivos e de dominação.)
A Criminologia Tradicional parte do pressuposto de que a qualidade criminal de um comportamento
existe objetivamente e, aliás, preexiste às normas que o definem como crime, as quais seriam mero
reconhecimento de sua característica negativa. E mais, entende que as normas sociais constituem um
acordo universal, um consenso “válido a nível intersubjetivo”.Para os teó ricos do “labeling approach”
ou “etiquetamento” , um fato só é considerado criminoso a partir do momento em que adquire esse
“status” por meio de uma norma criada de forma a selecionar certos comportamentos como
desviantes no interesse de um Sistema Social. Num segundo momento ainda, a atribuição da
qualidade de criminoso a um sujeito dependerá do modelo de atuação (novamente seletivo) das
instâncias de controle social (Polícia, Ministério Pú blico, Juízes etc.).Em suma, “os criminó logos
tradicionais examinam problemas do  tipo ‘quem é criminoso?’, ‘como se torna desviante?’,  ‘em quais
condiçõ es um condenado se torna reincidente?’, ‘com que meios se pode exercer controle sobre o
criminoso?’. Ao contrário, os interacionistas, como em geral os autores que se inspiram no ‘labeling
approach’, se perguntam:  ‘quem é definido como desviante?’, ‘que efeito decorre dessa definição
sobre o indivíduo?’, ‘em que condiçõ es este indivíduo pode se tornar objeto de uma definição?’ e,
enfim,  ‘quem define quem?’.”[94]
A “Teoria do Etiquetamento” leva a uma derrocada do mito do Sistema Penal enquanto recuperador
de indivíduos desviantes. Ao inverso, a conclusão é a de que a rotulação inicial de um indivíduo como
desviante tende a exercer uma pressão para  sua permanência nesse papel social, tendo em vista uma
forte estigmatização. Por isso as instituiçõ es carcerárias ou penitenciárias, ao contrário de recuperar,
somente produziriam um reforço da identidade desviante do detento, proporcionando seu “ingresso
em uma verdadeira e pró pria carreira criminosa”. O Sistema Penal em um sentido amplo pode então
ser visto como um criador e reprodutor da violência e da criminalidade. A repressão penal apenas
funciona nas aparências como contentora da criminalidade, pois sua verdadeira atuação é de
reintrodução da violência no seio social.
Por derradeiro é interessante notar que muitas vezes essa rotulação de que trata o “labeling
approach” se apresenta até mesmo previamente à atuação das instâncias de controle social, através
de conceitos anteriormente construídos em seu pró prio seio e mesmo no senso comum. Esses “pré –
conceitos” é que acabam dirigindo a atuação seletiva das agências repressivas, sempre conservando a
estrutura vertical de poder da sociedade, de modo a atingir preferencial ou exclusivamente as classes
inferiores ou marginalizadas.
É sob este prisma que Zaffaroni fala dos “estereó tipos” do criminoso:
“O sistema penal atua sempre seletivamente e seleciona de acordo com estereó tipos fabricados pelos
meios de comunicação de massa. Estes estereó tipos permitem a catalogação dos criminosos que
combinam com a imagem que corresponde à descrição fabricada, deixando de fora outros tipos de
delinqü entes (delinqü ência de colarinho branco, dourada, de trânsito etc.). Nas prisõ es encontramos
os estereotipados. Na prática, é pela observação das características comuns à população prisional que
descrevemos os estereó tipos a serem selecionados pelo sistema penal , que sai então a procura-los. E,
como a cada estereó tipo deve corresponder um papel, as pessoas assim selecionadas terminam
correspondendo e assumindo os papéis que lhes são propostos”.[95] Cabe aqui lembrar o chamado
fenô meno do “self – fullfilling profecy” (Profecia que se auto – realiza), segundo o qual “a expectativa
do ambiente circunstante determina, em medida notável, o comportamento do indivíduo”.[96]
Toda essa carga crítica tem como sua principal qualidade a condução a uma reavaliação do Sistema
Penal e, especialmente de sua falta de isonomia, apontando-se a necessidade de emprestar maior
atenção a gravíssimas condutas afetas às classes dominantes, geralmente deixadas de lado, seja pela
pró pria atuação legislativa (falha ou lacunosa), seja pela benéfica ou condescendente atuação das
agências repressivas. Além disso, conduz a uma conscientização quanto à irracionalidade do
agigantamento do Direito Penal e da constante criminalização de conflitos que se traduzem em uma
tendência a um “pampenalismo”[97] simbó lico que longe de resolver as questõ es sociais, apenas
perpetua desigualdades e reintroduz mais violência no seio da sociedade.

3.4.3 – A SOCIOLOGIA DO CONFLITO E A NOVA CRIMINOLOGIA


A Sociologia do Conflito questiona o suposto consenso acerca de certos fins e valores protegidos pelas
regras sociais. Essa concepção não passaria de uma ficção construída no intuito de legitimar a ordem
social vigente que, na verdade, seria produto do conflito de interesses de grupos antagô nicos com a
prevalência daqueles que lograram exercer a dominação. Significa a libertação do mito da “sociedade
fechada em si mesma e estática, desprovida de conflito e baseada no consenso”.[98]
No campo criminal conduz às seguintes conclusõ es:
a) os interesses que embasam a criação e aplicação das normas penais são aqueles dos grupos que
têm o poder de influir sobre os processos de criminalização. Desse modo, esses interesses não são
comuns a todos os cidadão de forma consensual.
b) como a criminalidade é criada por meio do processo social de criminalização, regido pelo embate
de diferentes interesses, toda ela e todo o Direito Penal são de natureza política.
A primeira expressão relevante de uma teoria da criminalidade, baseada na sociologia do conflito, é
atribuída a Georg D. Vold em 1958.[99] Entretanto, Baratta apresenta um escrito de Sutherland,
datado dos anos 30, que bem descreve a teoria enfocada:
“O crime é parte de um processo de conflito, de que o direito e a pena são outras partes. Este processo
começa na comunidade, antes que o direito tenha existência, e continua na comunidade e no
comportamento dos delinqü entes particulares, depois que a pena foi infligida. Este processo parece
que se desenvolve mais ou menos do seguinte modo: um certo grupo de pessoas percebe que um de
seus pró prios valores – vida, propriedade, beleza da paisagem, doutrina teoló gica – é colocado em
perigo pelo comportamento de outros. Se o grupo é politicamente influente, o valor importante e o
perigo sério, os membros do grupo promovem a emanação de uma lei e, desse modo, ganham a
cooperação do Estado no esforço de proteger o pró prio valor. O direito é o instrumento de uma das
partes em causa, pelo menos nos tempos modernos. Aqueles que fazem parte do outro grupo não
consideram tão altamente o valor que o direito foi chamado a proteger, e fazem algo que
anteriormente não era crime, mas que se tornou um crime com a colaboração do Estado. Este é a
continuação do conflito que o direito tinha sido chamado a eliminar, mas o conflito se tornou maior
no sentido de que agora envolve o Estado. A pena é um novo grau do mesmo conflito. Também ela,
por sua vez, é um instrumento usado pelo primeiro grupo no conflito com o segundo grupo, por meio
do Estado.”[100]
“O crime, neste sentido, é comportamento político e o criminoso torna-se, na realidade, um membro
de um ‘grupo minoritário’, sem a base pú blica suficiente para dominar e controlar o poder político do
Estado”.[101]
Esta explicação criminoló gica tem sido taxada de simplista, considerando a descrição do processo
pelo qual os grupos poderosos logram conduzir o processo legislativo, utilizando-se do Sistema Penal
como um instrumento para subjugar condutas inconvenientes dos grupos adversos.[102]Realmente
trazem em seu bojo tais teorias algo assemelhado a uma idéia de conspiração de classes, supondo um
liame subjetivo interno que dificilmente poderá ser empiricamente comprovado.
Não obstante, a sociologia do conflito aplicada ao âmbito jurídico (não só penal), tem a vantagem de
por a descoberto a ficção, tomada como realidade pela maioria dos juristas, acerca do suposto
consenso geral em torno de certos valores a legitimar toda a gama de normas legais reguladoras da
vida humana.

http://atualidadesdodireito.com.br/eduardocabette/2012/08/01/a-criminologia-no-seculo-
xxi/

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