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CRIMINOLOGIA – Prof.

Rui Dissenha

10/02/2014
ASPECTOS INICIAIS
A criminologia pega o fenômeno criminal e tenta entendê-lo de maneira cientifica. Há uma série de temas
importantes teóricos e vários de ordem filosófica e moral, por exemplo, discutir a atuação da polícia, ou
mesmo o machismo, a redução da maioridade penal, etc.

Há algumas vertentes importantes da criminologia a serem estudadas, a primeira delas é a criminologia


etiológica individual, que busca a origem do crime no individuo, passando por LOMBROSO que se foca no
aspecto biológico, com Durkheim que entende o crime como um fenômeno natural e a Escola de Chicago
que analisa uma vasta gama de elementos – além da tentativa de compreensão acerca dos crimes de
colarinho branco. Depois a criminologia critica individual analisando a forma como as pessoas entendem a
criminalidade e como elas se relacionam com isso com a label approach. Com a criminologia critica sócio-
cultural na busca de um direito penal mais humanizado (tema que será mais analisado no segundo semestre
na forma de seminários + entrega de paper).
17/02/2014
SOCIEDADE E DESVIO

Na origem a forma de olhar o crime estava ligada a uma violação moral, o crime é a violação moral, com um
resquício da metafisica que vinha da Idade Médio. A seguir o positivismo vai tentar descrever o crime como
uma opção do cidadão contra a sociedade. Rompendo com esse modelo de individualismo entende-se a
sociedade como um todo, como um corpo social, as pessoas são engrenagens que desenvolvem funções.
Com a criminologia critica o crie passa a ser visto muitas vezes como uma luta social.

O desvio é comum a qualquer espécie. O crime é um desvio especialmente qualificado por conta de uma
atuação estatal que imputa uma condição peculiar, seja porque tem um substrato normativo, legal ou na
experiência (common law) que a sociedade apõe uma resposta especifica, a pena.

Trata-se de uma relação histórica que depende das relações sócio econômicas. Embora existam alguns
conceitos e embora certos países, certas sociedades entendam como comum (ex.: matar seu semelhante),
isso leva a conceitos de mala em se.

Entretanto em certas estruturas sociais, a opção do Estado por tratamento criminoso de certas condutas é
chamado de mala quia prohibita (ex.: tráfico de drogas). Alguns ilícitos só são “maus” porque proibidos pelo
Estado, diferente de certos ilícitos proibidos porque são um mau por si mesmas. Ex.: o adultério era
criminalizado isso devido a uma orientação do Estado para a preservação do casamento. Entretanto ainda
que não seja um crime pode levar a indenizações. Já na sociedade iraniana, recentemente uma iraniana
(Sakineh Ashtiani) foi condenada à morte por adultério.

I. O PODER PENAL DA SOBERANIA AO CONSENSO


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(1) RACIONALIZAÇÃO DO IUS PUNIENDI


Este perspectiva tem um marco importante nos anos 60 isto porque este poder punitivo. O exercício do
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poder punitivo está absolutamente ligado a noção de soberania. Na verdade ele cresce historicamente com
a noção de soberania, isso porque a noção de poder que a sociedade tem para resolver seus problemas. No
âmbito externo é esta soberania que autoriza o uso da força, da mesma maneira. Historicamente afirma-se
que esta estrutura de soberania se materializa no século XI, XII, XIII (depende do local e região).

BODIN, GROSSI e outros intelectuais que constituem a soberania como estrutura de poder nacional, aquilo
que caracteriza a unidade de poder e é o que dá base ao monarca de gozar de poder absoluto dentro de
suas fronteiras. No âmbito interno o Estado manifesta sua autonomia se apropriando dos conflitos penais
com a proibição da autotutela.

Isso é importante até os anos 60, o ocaso da soberania inicia-se antes, mas o golpe final da noção de
soberania vem com o fim da 2ª GM, com o massacre aos judeus promovido na Alemanha. Aqui o Estado tem
uma limitação e este poder que é o Estado de Direito e os direitos humanos. Esta crise traz uma grande
transformação no próprio direito penal começando a criticar o direito de punir do Estado que não é mais
visto como um “grande pai”, o grande protetor da sociedade.

O Estado não sendo mais o grande pai, se critica também a “vara” com que ele bate nos filhos que é o
Direito Penal. A partir disso que se reconhece o abolicionismo penal, a ideia de que o Direito Penal causa
mais mal do que bem e que, portanto, deveria ser extirpado da sociedade. Não se precisa de um Direito
Penal melhor, mas algo melhor que o Direito Penal. Por outro lado também cresceu a linha chamada de
“minimalismo Penal” que traz uma nova perspectiva que afirma que o Direito Penal deve existir, é
fundamental, mas naquilo que ele seja necessário para garantir a coexistência penal.

Assim, o Direito Penal é necessário a proteção do bem jurídico, mas também é uma proteção do cidadão
para que o Estado não vá além do que pode. Ele não é fundamento do poder punitivo, existe como limite ao
poder punitivo. O controle não é só um instrumento de controle do Estado, isso porque o Estado não é uma
estrutura independente do aporte social. O controle não é uma linha direta entre Estado e cidadão é uma
rede entre trabalho, individuo, escola individuo, etc.

Hoje, o Estado acuado (característico pós séc. XX) por uma estrutura complexa de direitos humanos, deve se
adequar a uma nova perspectiva. O sentido da coerção penal muda, não existe mais o grande pai, ele vem
muito mais da noção de coesão e consenso social. Isso não significa que o Direito Penal seja exercido de
forma democrática, mas que tem um substrato democrático. Nos anos 60 isso ganha importância, porque a
democracia acaba por se instaurar no pós-2ª GM.

21/02/2014
(2) ENTRE EXCLUSÃO E INCLUSÃO

 Até os anos 60: Estado é o “grande pai” (logo, responsável pelo controle social);
 Depois dos anos 60: processo de corrosão da soberania;
Abolicionismo e Minimalismo penal
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 Nova realidade: o controle permanece apesar da crise da soberania


O controle é social (FOUCAULT)

 Novo sentido da coerção penal: o consenso social


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 Do “grande pai” ao “consenso social” (o fundamento democrático).


 Bases teóricas:
:: O estruturalismo (DURKHEIM, PARSON e MERTON): desvio provem das condições sociais;
:: O comportamentalismo (Escola de Chicago): aprendizado social, etiquetamento, etc.

Depois da 60’s pensa-se o Estado não mais como um ‘grande pai’, mas dentro da ideia de democracia.

 Senso comum: o sistema penal é excludente (mas não só, é includente para mão-de-obra em fases
de desenvolvimento econômico)
 Raciocínio baseado na retórica da participação democrática universal;
 Quem não se ajusta, deve ser excluído.

 Nova perspectiva dos anos 60:


 Crime como resultado da crise social (MATZA) ou serve para melhoramento social (DURKHEIM);
 Pena para recuperar o indivíduo: construção de “máquinas republicanas”.

 Conclusões
 A postura social diante do crime/desvio é mutável;
:: Crime e criminalização são variáveis qualitativa e quantitativamente.
:: Em tempos de crise, o criminoso é de ser excluído (antipatia social)
:: Em tempos de desenvolvimento, o criminoso demanda recuperação (simpatia social)

(3) CONTROLLING CRIME, CONTROLLING SOCIETY

 Clara ligação entre a criminalidade e as condições econômicas e políticas (DARIO MELOSSI).


 Relação evidente entre mercado de trabalho e criminalidade (e.g. RUSCHE/KIRCHHEIMER)
 Relação cíclica: a criminalização e o encarceramento representam a relação entre o desviante e o
plano social e econômico

 Relação historicamente variável


 A resposta ao crime é uma contingência de um momento histórico-social
 Resposta decorrente das práticas sociais usadas para a construção do consenso (não são desenhadas
para o criminoso, mas para o público como um todo)
 Logo: o controle do crime é uma parte (e instrumento) do controle da sociedade

 O controle do crime é parte do controle social em geral

(4) O PLANO DE ATUAÇÃO DA CRIMINOLOGIA

Portanto:
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 Para que se entenda o que é e como se desenvolve a noção de crime, é fundamental:


 A compreensão do desvio
 A compreensão do controle social (resposta que o sistema social dá ao crime, resposta oficial ou
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não, por exemplo, o preconceito ao criminoso em geral)


 Daí os dois grandes planos de atuação da Criminologia

II. DISCIPLINAS ENVOLVIDAS


(1) DIREITO PENAL

 Penalização legal do desvio oficialmente determinado


:: Crime como definição legal do desvio
:: Pena como resposta legal ao desvio com proposta retributiva e preventiva

 Existência no mundo do “dever ser”


:: Direito Penal como “ciência cultural normativa, valorativa e finalista” (MAGALHÃES NORONHA)

 Conceito de Direito Penal (como ramo do Direito)

O Direito Penal é o setor do ordenamento jurídico que define crimes, comina penas e prevê medidas
de segurança, aplicáveis aos autores das condutas incriminadas (CIRINO DOS SANTOS).

Conjunto de normas que ligam ao crime, como fato, a pena como consequência, e disciplinam
também as relações jurídicas daí derivadas, para estabelecer a aplicabilidade de medidas de
segurança e a tutela do direito de liberdade em face do poder de punir do Estado (FREDERICO
MARQUES).

 Portanto, o cerne da definição do Direito Penal é dúplice, envolvendo: a definição normativa dos
crimes e a imposição jurídica das penas.

(2) POLÍTICA CRIMINAL

 Política pública: opções políticas nacionais em determinado campo desenhadas institucionalmente


para o cumprimento de fins constitucionalmente determinados. Necessárias em todas as áreas:
criminal, segurança, educação, cultura, meio-ambiente, direitos humanos, etc.

 Logo, a política criminal é o conjunto de opções do Estado na ‘solução’ da questão criminal.

 Políticas Públicas: transdimensionalidade das políticas públicas

Segurança Emprego
pública
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Meio
ambiente
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(3) CRIMINOLOGIA

 Plano de análise do fenômeno ‘crime’ como fato social


 Discussão no plano do ‘ser’: crime e pena como fenômenos sociais
 Ampla análise social do fenômeno ‘desvio’
 Complexidade do plano de debates:
:: Interação profunda com a Sociologia
:: Disciplina independente ou ramo da Sociologia?

SOCIOLOGIA E CRIMINOLOGIA
A sociologia jurídica ou criminal (BARATTA, “Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal”)

(1) OBJETO DA SOCIOLOGIA JURÍDICA


 A relação entre a comunidade e o seu Direito: as normas jurídicas, seus efeitos e os padrões de
comportamento que decorrem dessas normas ou que as produzem.
 Focos principais: criação da norma, conformação social à norma e de reação e desvio à norma.

(2) PLANOS DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA JURÍDICA


 Plano empírico: observação dos fenômenos
 Plano teórico: descrição de fenômenos não empiricamente observáveis

(3) DIFERENCIA-SE
 Do Direito, que tem como objeto ‘a estrutura lógico-semântica das normas, entendidas como
proposições e os problemas específicos das relações formais entre normas (...) e entre
ordenamentos’.
 Da Filosofia do Direito, que se preocupa com os ‘valores conexos aos sistemas normativos’

A Sociologia Jurídica se preocupa com as ações e comportamentos que relacionam a criação da norma e a
conformação/relação social a elas (crime/desvio).

A SOCIOLOGIA JURÍDICO-PENAL
(1) OBJETO DA SOCIOLOGIA JURÍDICO-PENAL (SJP)

 A formação e aplicação de um sistema penal


 Os efeitos desse sistema no plano da reação ‘institucional’ (controle social) ao desvio
 As reações não-institucionais ao desvio e as conexões entre o sistema penal e a estrutura
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econômico-social

(2) DIFERENÇA ENTRE SOCIOLOGIA JURÍDICO PENAL E A SOCIOLOGIA CRIMINAL


Enquanto a Sociologia Criminal se preocupa especialmente com o comportamento desviante com relevância
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penal, a Sociologia Jurídico Penal estuda a reação ao comportamento desviante e sua relação com a
estrutura social.

 Sociologia Criminal (foco no desvio): comportamento desviante com relevância penal


 Sociologia Jurídico Penal (foco na reação social): reação ao comportamento desviante e sua relação
com a estrutura social

(3) SJP E SC: CAMPOS INTER-RELACIONADOS:

A atual Sociologia Criminal não deixa de reconhecer como a reação social contra o desvio pode ter um papel
constitutivo relevante para o desvio e para o desviante e seu status.

Daí que a Sociologia Criminal amplia de forma evidente (e chega a se confundir, por vezes, dada a
superposição de campos de estudo) com a Criminologia.

24/02/2014
III. DIREITO PENAL COMO PROGRAMA DE POLÍTICA CRIMINAL

 Teorias da criminalidade (perspectiva pragmática): teorias da pena; teorias criminológicas; teorias


penais (pena e retribuição da culpabilidade; pena e prevenção especial - positiva e negativa; pena e
prevenção geral - positiva e negativa).
 Teorias criminológicas: teorias causais e criminologia tradicional; teorias atributivas e criminologia
crítica.

(1) A PENA COMO RESPOSTA PENAL

1.1. Sentido de “pena”

 Ilícitos jurídicos: fatos sociais que contrariam o ordenamento jurídico.


 Várias espécies: ilícito civil, ilícito administrativo, ilícito tributário ...

 Ilícitos que contrariem o ordenamento jurídico atingindo os bens mais importantes (portanto, os
ilícitos mais graves) são os ilícitos penais.
 Pena: “é a sanção imposta pelo Estado e consiste na perda ou restrição de bens jurídicos do autor da
infração, em retribuição à sua conduta e para prevenir novos ilícitos” (DOTTI).

1.2. História da pena

 A antiguidade
 Liberdade do poder instituído para aplicar a resposta penal;
Limites surgem aos poucos.
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 Uso comum das penas de morte, penas corporais e penas infamantes;


A prisão apenas como “prisão-custódia”.
 Fundamento da pena:
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Variável, de acordo com as sociedades em que se aplicava.


Em geral, produzia a coesão social pela confirmação do poder instituído.

 A Idade Média
 O “Direito Comum Europeu”.
 A apropriação do conflito particular: construção da soberania.
 Objetivo de provocar medo coletivo para evitação do crime; daí sua crueldade (amputações,
mutilações, torturas, etc.).
 Demonstração do poder instituído.
 Confusão com o próprio processo: ordálias, juízos de Deus, etc.

 Surgimento das prisões do Estado e a prisão eclesiástica:


:: Prisão do Estado: para os inimigos do poder; nova proposta – a prisão como pena (a Torre de
Londres, a Bastilha de Paris, etc.).
:: Prisão eclesiástica: para os religiosos pecadores – mais humana, para penitência e meditação. O
objetivo era o arrependimento, logo, uma proto-ressocialização. O indivíduo, tendo cometido um
pecado, precisa internalizar, compreender seu erro e emergir um sujeito melhor.

 A Idade Moderna
 Nova configuração social.
 Grande aumento da pobreza e da miséria – consequente aumento da criminalidade.
 Nova estrutura econômica: demanda pela inclusão da nova população presente nas cidades.
:: Surgimento de ‘casas de detenção’: as workhouses, disciplinar através de trabalho e regramento.
Produz a proposta de ‘ressocialização’. Há a criminalização da forma de viver de pessoas que moram
fora dos burgos, de forma menos favorecida.
:: Outras penas: trabalhos forçados e ‘galés’ (prisões em alto-mar), esta especialmente aplicada em
substituição à pena de morte para crimes como pirataria e lesões corporais gravíssimas.

(2) FINS DA PENA

2.1. O processo de racionalização


 Da criminalidade: a razão humana.
 Da pena: definição de fins e justificativas.

2.2. Funções para a pena


 Função retributiva.
 Função preventiva (especial e geral).

28/02/2014
(3) PENA E RETRIBUIÇÃO
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3.1. A noção de culpabilidade e matrizes teóricas (KANT; HEGEL)


 Base no idealismo alemão (Kant/Hegel)
 Segundo Kant, “a aplicação da pena decorre de simples infringência da lei penal, isto é, da simples
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prática do delito”. Para ele, a dignidade humana exige uma justiça retributiva.
 Para Hegel, “a pena é a negação da negação do Direito”. Ou seja, o crime é a negação do Direito e a
pena é a negação do crime, e, nesse sentido, é reintegrante do direito (pena retributiva).

3.2. O sentido da retribuição

 A pena é uma retaliação e a expiação:


 Exigência absoluta da justiça, com fins aflitivos.
 Necessária compensação da culpa do autor com um mal.
 Resposta fundamental à humanidade do criminoso.

 Não há qualquer finalidade utilitária da pena.

 Fundamentação no livre arbítrio (escolha justo/injusto).

A pena não tem uma finalidade – ela é um fim em si mesma e não serve a qualquer outro propósito que
não seja recompensar o mal com o mal.

 Exigência da Justiça e se funda na pura retribuição!

 Sustentação contemporânea
 A psicologia popular, que é naturalmente retributiva (“Talião”).
 A religião (a Justiça divina é sempre retributiva).
 Sistema econômico capitalista (baseado em relações de troca – retributivas).

 Críticas à retribuição (ROXIN):


 Pressupõe a necessidade da pena, não a fundamenta. Não explica o motivo da pena.
 Fundamenta-se no livre arbítrio, que é indemonstrável. É acientífica: somente se justifica por um ato
de fé.
 Direito Penal não pode ter caráter de vingança (serve a proteger o bem jurídico).

 Ponto positivo: propõe a ideia de mediação da pena e da proporcionalidade.

(4) PENA E PREVENÇÃO

4.1. Aspectos gerais

 Construção utilitarista: um sentido para a pena.


 O utilitarismo indica a necessidade de reconhecimento da periculosidade do homem e a
consequente evitação de danos futuros.
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 Construção da periculosidade do criminosos.

 Surgimento da noção de “defesa social”.


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4.2. As formas da prevenção (multiplicidade teórica)

4.2.1. Prevenção especial (positiva e negativa).

 É a prevenção do delito por atuação sobre o autor.


 Busca de uma influência inibitória: objetiva fazer com que não volte a transgredir as normas.
 Formas fundamentais:
 Prevenção especial positiva:
Ressocialização (correção) – efeito primário.
Intimidação (temor à norma) – efeito “secundário”.
 Prevenção especial negativa:
Asseguramento da evitação de crimes pelo isolamento social.

 Pontos negativos da prevenção especial:


 Submissão ilimitada do particular ao Estado.
 A pena se sustenta apenas diante do perigo de repetição. Certos crimes (ex.: passionais) não
demandariam punição.
 O sistema prisional não parece apto a cumprir esse papel.

 Pontos positivos da prevenção especial:


 Caráter humanista (põe acento no indivíduo, considera suas particularidades e individualiza a
sanção).
 Permite e valoriza a reinserção social.
 É a função reconhecida como adequada pelos instrumentos internacionais de direitos humanos.

4.2.2. Prevenção geral (positiva e negativa)

 Foco da pena: todo o corpo social (a preocupação não é com o cidadão).


 A perspectiva utilitarista e os efeitos sociais da pena: resposta penal é fenômeno social.
 A pena é ameaça e exemplo.

 Formas da prevenção geral:


 Prevenção geral negativa: coíbe a conduta pela liberdade do cidadão
O homo aeconomicus (PAVARINI/GUAZZALOCA).
A atemorização do mandado legal.
O reforçamento do Estado pela capacidade de criar efeitos a partir da ameaça.
 Prevenção geral positiva: pena como instrumento de construção de valor da norma
Grande proposta penal atual do funcionalismo (ROXIN; JAKOBS).
Proposta fundamental: afirmação da norma e estabilização de expectativas normativas.
Formas específicas:
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:: Prevenção geral positiva fundamentadora: reforço normativo.


:: Prevenção geral positiva limitadora: direcionamento social.
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 Pontos positivos da prevenção geral:


 Pode servir a desestimular a violência estatal (se mantida sob controle).
 Reforça o aparato do Estado (pois demanda eficiência).
 Pode permitir a educação democrática.

 Pontos negativos da prevenção geral:


 É uma criação de Estados de exceção. Produz a legitimação do poder penal.
 Direito Penal simbólico: permite elaboração de leis sem eficiência, mas simbolicamente atuantes.

(5) CONCLUSÕES: DIREITO PENAL COMO PROGRAMA DE POLÍTICA CRIMINAL

 Em suma:
 Uma política criminal baseada apenas em um programa de Direito Penal é muito pobre e
fundamentalmente instável.
 Constrói-se apenas sobre uma matriz meramente legalista (do “dever-ser”), tradicionalmente alheia
à realidade social.
 Permite a absoluta manutenção do status quo.

Quais os objetivos de um programa de política criminal simples como esse?

5.1. Objetivos declarados (discurso tradicional)


 Encontrados através da aplicação apenas da lei como fonte formal (lógica formal).
 Produzem uma aparente sensação de neutralidade do Direito Penal.
 Mantém as mazelas sociais (variáveis de acordo com a matriz ideológica).

5.2. Objetivos reais


 Encontrados através do estudo de outras fontes, especialmente a realidade da vida material (lógica
material) – inclusão da Criminologia e da Sociologia Jurídica.
 Propõem o repensar do crime e do controle social.
 Abrem caminho à crítica e reforma do Direito Penal.

07/03/2014
TEORIAS CRIMINOLÓGICAS SOBRE A CRIMINALIDADE

 Sentido: discutir o fenômeno “crime” para além da visão institucional; apenas da proposta estatal.
Buscar o porquê da conduta ser criminalizada e danosa.

 Compreensão social do fenômeno: a razão pela qual a sociedade criminaliza a conduta e quais os
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efeitos da conduta na sociedade.


 Compreensão individual do fenômeno
 Compreensão institucional do fenômeno
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Sentido do crime para além da visão institucional. Compreensão social, individual e institucional do
fenômeno. Por que esta conduta é criminosa, não se restringindo a resposta de que é por que o estado
determinou. Pergunta-se qual é o efeito da criminalização na sociedade, por que a sociedade reputa certas
condutas como criminosas. Qual o efeito qual a razão do sujeito praticar o crime. A criminologia estaria
dentro do carro da polícia. Deve sair deste carro e olhar o fenômeno de fora para se ver o fenômeno sob o
aspecto institucional, este aspecto institucional não é captado pelo direito penal.

 Também a vinculação com as propostas do Direito Penal para a racionalização da pena. As propostas
criminológicas penais não são adequadas. O exemplo é a pena de morte, esta sanção não reduz
necessariamente a criminalidade. Metodologicamente: lenta separação do Direito Penal e
construção de uma epistemologia própria.

(1) TEORIAS CRIMINOLÓGICAS

Resumo geral de várias teorias criminológicas (estudadas individualmente no curso).

1.1. Teorias causais

 A criminologia tradicional: etiológica (a busca das causas – crimonogênese)


 Livre arbítrio versus determinismo
 A causa biológica; a causa social. A causa psicológica; as causas funcionalistas

1.2. Teorias atributivas


 A criminologia e o atribucionismo: uma virada metodológica
 Formas: o labeling approach; as teorias conflituais da criminalidade; a criminologia crítica e
criminologia radical. O crime não tem maldade intrínseca. Na verdade, é o Estado a sociedade e etc.
que distribui a carga criminológica. O crime é realidade artificial criada pelo Estado.

(2) CRIMINOLOGIA ETIOLÓGICA SOCIAL

 Criminologia etiológica individual: objeto; busca na matriz originária do Direito penal a compreensão
do fenômeno.
 Escola Clássica e Criminologia. Principais ideias teóricas da Escola Positivista. A teoria do delinquente
nato (LOMBROSO). A concepção multifuncional da delinquência (Ferri). Teorias constitucionais,
genéticas, instintuais da agressividade.
 Programa de Política Criminal da Escola Positivista:
 Ideologia da defesa social como ideologia comum à Escola Clássica e à Escola Positivista
 Considerações críticas e repercussões atuais da teoria positivista.

2.
2.1. A escola clássica do direito penal: contrato social como concepção iluminista da ordem social
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 Iluminismo: contrato social era a solução para a demanda por justificação para a ordem social não
divina. Antes o sujeito se submete ao senhor feudal para proteção, relação de suserania e
vassalagem. Há o tratamento desigual entre nobres e plebeus pela necessidade.
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 A crise das instituições medievais


 Surgimento do conceito de “individuo” e liberação do plano “social” e do “Estado”. O sujeito não é
mais parte de um corpo maior, é um todo em si mesmo que compõe o todo maior; daí vem a noção
de igualdade e os homens que formam o Leviatã.
 Nova “desorganização moral”: implicação de novos conceitos
 Quentin SKINNER: surgimento de novo vocabulário é sinal dos novos conceitos sociais - cidadão,
Estado, etc; era necessário rever o vocabulário para explicar os conceitos – é necessário uma nova
episteme.
 Demanda por explicação de novas ideias.

2.2. A sociedade de MAQUIAVEL

 É melhor ser temido do que ser amado, pois o “amor” é uma ligação de obrigação que os homens,
porque são podres, vão quebrar sempre que eles imaginem que com isso terão vantagem; mas o
medo envolve o temor da punição, do que os homens nunca podem escapar (Maquiavel, “O
Príncipe”)
 Relação clara entre o príncipe (como empreendedor político) e a anarquia dos sujeitos (dominante
na sociedade)
 Nesse sentido a sociedade desenhada por Maquiavel é composta por homens decrépitos, não
confiáveis e egoístas. O uso do medo é necessário e constitui a virtu (a habilidade, a virtude, etc.) do
Príncipe na política, pois é a única maneira de dar a sociedade alguma forma, afastando a anarquia.
 O medo do Príncipe (da pena) é a maneira, portanto, pela qual se dá “forma” à sociedade

2.3. O homem não confiável de HOBBES

 Para HOBBES, o homem, tampouco é confiável. Consequentemente o medo em HOBBES também é


essencial para o contrato social.

 Diferença: HOBBES se move do “Estado do Príncipe” ao “Estado Leviatã”


 Constitui-se através do contrato social, um ser artificial, ao qual se dá vida como se dá a uma pessoa.
 Por isso, já que tem vida e vontade próprias, não está mais sujeito a vontade de algum senhor.
 Substituição do estado de guerra natural pela unidade e da coesão artificial dada pelo contrato
social.

2.4. O Estado é construído pelo livre arbítrio

 O comum entre MAQUIAVEL e HOBBES: o Estado é construído pelo livre arbítrio. É necessária a
razão.
 Essencialidade do livre arbítrio.
 Estado demanda racionalidade e voluntariedade.
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 Mas o Estado é justamente o responsável por fazer cidadãos livres e racionais, capazes, por sua vez,
de criar um Estado racional. Relação dialética: os indivíduos constroem o Estado; o Estado garante
que a racionalidade dos indivíduos através da imperatividade de suas leis e instituições (liberdade).
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 Um Estado racional é a maior evidencia da necessidade racional de sua existência.

2.5. A invenção da penitenciária: dos indivíduos ao penitenciarismo

 O Estado e o indivíduo: pontos de partida obrigatórios


 Fim da Idade Média: constituição de sujeitos com direitos e deveres protegidos por lei
 Reforço dos dois polos: o indivíduo e o Estado
 Se o Estado se baseava no consentimento racional do indivíduo, precisava de indivíduos racionais.

 Logo: a necessidade da racionalização dos indivíduos era imperiosa


 Demanda por instituições de racionalização, públicas ou privadas; como todas servem a
racionalização, no fim, todas são públicas.
 São as “máquinas sociais de racionalização”: o Panóptico, as Rasphuis
 Buscam o lucro, mas são desenhadas para pessoas incapazes de participar do contrato social;
transformam-se membros “perigosos’ e sujeitos racionais capazes de se compreenderem detentores
da sua força de trabalho e se negociarem-nas
 Racionalização: retirada das pessoas do estado de natureza para sua inclusão na vida civil.

 Do Estado criado pela razão para o Estado racionalizador: a racionalização do homem e da politica
 Racionalização do homem e a inversão Sociedade-Estado: o Estado, criado pela razão, é o
racionalizador da sociedade: construção do comportamento previsível, moralmente ajustado pelo
relógio. Padrão desejável: “homem branco europeu, preferencialmente protestante”
 Racionalização do sistema político: proposta democratizadora;
:: Colonização: racionalizar o externo pelo controle do mundo bárbaro; controle de culturas e
racionalidades alternativas.
:: Duplo processo de expansão da racionalização: para dentro (o doméstico: jovens, mulheres
crianças) e para fora (busca por novas economias).
:: Versão atual: a expansão econômica e seu apoio no modelo democrático; inclusão de novos povos,
estratos sociais, etc., para o que mesmo o uso militar é justificável.
:: Resultado: a exclusão social é, na verdade, a inclusão social. O sujeito é colocado na instituição
para que ele aprenda as regras e haja mais gente sob a égide do sistema:
 Por força (sanção penal para a negativa de inclusão no modelo)
 Por vontade: recompensas pela associação ao modelo

Todavia, nos dois casos, a inclusão é feita pelas instituições (as “workhouses”). Matrizes políticas
influenciaram a criminologia que nasceu naquele momento!

10/03/2014

DA PRISÃO-CUSTÓDIA À PRISÃO PENA: A MARCA DO SÉCULO XVI E XVII


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Processo de inclusão social pela inserção no cárcere:


 Racionalização pelo trabalho;
 “Ortopedia da alma”: a disciplina como base da ressocialização;
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 Construção do previsível: da rotina do campo para a rotina urbana.

Cárcere como grande determinador da inclusão social dos “desviantes”.

CAPITALISMO, PROTESTANTISMO E A “INCLUSÃO SOCIAL”

 Capitalismo + Reforma Protestante = a nova prisão (Workhouses)


 Séc. XVI adiante: nova “intervenção penitenciária”
Prisão medieval: conservação até a execução
Prisão moderna: detenção por certo período de tempo

 Apropriação da pena canônica


Vinculação do Capitalismo e a Reforma Protestante
Inspiração religiosa: isolamento em uma cela para trabalho
Primeiro em países protestantes: Holanda (Rasphuis), Alemanha (no Norte, especialmente),
Suíça, Inglaterra e, depois, suas colônias (EUA).
Depois, aos países católicos (Itália, França, Espanha, no séc. XVIII).

 Portanto:

 A modernidade se caracteriza pelo uso da prisão-pena como tratamento da insubordinação social:


Espécies particulares de crimes: em geral, os culpados por não se submeterem ao trabalho nas
condições legalmente impostas (vadiagem, mendicância, etc.) sobretudo àqueles que vinham do
campo para a cidade.

JUSTIFICATIVAS PARA O PROCESSO

a) RUSCHE/KIRCHHEIMER: punição X mercado de trabalho


 A quantidade e forma de encarceramento dependem da demanda do mercado de trabalho.
 Demanda de mão-de-obra = sistema penal menos ativo: é, quando ativo, mais humanos e
preocupado em integrar o condenado à sociedade pela educação ao trabalho, por prisões limpas e
não lotadas.
 Excesso de mão-de-obra = aumento do número de prisões: não há necessidade de poupar força de
trabalho ou motivo para “ressocialização” (prisões superlotadas e condições péssimas).

Isso explica a pouca punição na baixa idade média (e o uso de penas pecuniárias), bem como a alta
punibilidade em período de maior fartura de mão-de-obra.

b) MELOSSI e PAVARINI: punição X disciplina (FOUCAULT)


 A liberdade moderna: demanda pela prisão moderna.
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 Liberdade política (contrato social) e econômica (contrato de trabalho).


 Migração do trabalho: da servidão medieval À liberdade da urbe.
Novos crimes: vadiagem, mendicância, furto rural, banditismo, prostituição, etc.
CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

 Se é livre para o mercado de trabalho, detém o livre arbítrio (base da pena)


A privação da liberdade e a resposta ao exercício da liberdade.

 A punição: disciplina pela “individualização” para o trabalho


 Da rotina natural (estações do ano, dia/noite) à rotina urbana
:: “racionalização” do trabalhador (tornar econômico a forma de pensar): previsibilidade, leitura,
contas, horário, etc.
:: trabalho em locais fechados, autonomamente em ritmo determinado pelo empregador.

A racionalização é exercida pelas instituições penais (controle!)

 Processo de individualização: “privatização” da força de trabalho.


 Racionalização: consciência da propriedade sobre a força de trabalho.
Venda do trabalho ao empregador que, dono, pode usá-la como quer (disciplina)
 Daí o Panóptico de Bentham (“máquina para a produção do superego”)
Para injetar medo do controle: o preso é responsável pela própria vigilância.
É o mesmo modelo da fábrica!

 A “crítica” a Rusche e Kirchheimer:


 Encarceramento é multifatorial: disciplina do trabalho ético, a manufatura/produção e a disciplina e
método da Reforma Protestante.
 Não é a escassez de força de trabalho que produz o encarceramento (pois isso teria acontecido
antes), mas a exaltação da liberdade.

A coerção ao trabalho não é mais política, mas econômica (daí o efeito observado por Rusche e
Kirchheimer).

CARACERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DA “ESCOLA CLÁSSICA” DA


CRIMINOLOGIA

 Foco no delito, não do delinquente:


 O criminoso não é diferente.
 Não há determinismo: logo, não há “causa” da criminalidade (a causa seria a liberdade, o indivíduo
teve a liberdade para contrariar a norma).
 O objeto é o delito (como conceito jurídico), não o delinquente.

 Delito é a violação livre do contrato social:


 Logo, a pena não é uma intervenção sobre o sujeito (normal), mas um instrumento para defesa da
sociedade pela dissuasão (defender o contrato social).
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 Se as pessoas puderem distratar o contrato social, há um caos social.

 Inspiração fundamental: oposição ao ancién régime


 Pena como garantia da dignidade, da humanidade e utilidade.
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 Como o foco era racionalização, a “Criminologia” da época se fazia sobre os instrumentos do Direito
Penal.

Prova: 25 de abril

14/03/2014
PERÍODO HUMANITÁRIO DO DIREITO PENAL
BECCARIA
Italiano, de nome Cesare di Bonesano, ou “Marquês de Beccaria”, 1738-1774. Foi autor da importante obra
“Dei Delitti e delle pene”.

 O Homo Aeconomicus de BECCARIA e BENTHAM:


 Contratualismo (BECCARIA) + utilitarismo (BENTHAM).
 O criminoso é um “homem de negócios” (homo aeconomicus).
Cálculo racional entre custos (risco da punição) e benefícios (satisfação psicológica, econômica, etc.)

 Livre arbítrio: resultado da forma burguesa de pensar – o autogoverno


 Novo raciocínio iluminista: homem tem capacidade de autogoverno (liberdade).
 Contrariedade ao centralismo feudal/rural do Ancién Régime.

 Consequências do autogoverno: garantia de direitos e possibilidade de controle


 A capacidade de empreendimento em grupos (por exemplo, Estado).
 Faculdade de portar-se de forma madura e responsável. Consequências:
a) Garantia de direitos civis e liberdades (o lado bom).
b) Possibilidade de transformação do indivíduo através da educação e da penalização.
Justificativa do amplo apoio ao Penitenciarismo.

 Dos delitos e das penas


 Defesa da legalidade contra a arbitrariedade e irracionalidade do Direito Penal.
Legalidade como garantia da segurança e a liberdade, essencial à felicidade.
 O homem é dotado de livre arbítrio: capaz de fazer as “escolhas erradas”, merece a pena.
 Ius puniendi: decorrência do contrato social (ninguém pode distratar)

 A punição existe para evitar o retorno ao Estado de Natureza


 Preservação do equilíbrio do contrato social (que também limita a pena)
 Medida: baseada no utilitarismo – “a maior felicidade para o maior número de pessoas”.

 Gravidade do crime não é subjetiva: depende do mal social causado


 Objetivação que centraliza o Direito Penal sobre o crime, não sobre o criminoso
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 A função preventiva:
 Pena precisa ser rápida e eficiente, além de pública e simbólica
 A probabilidade da pena é que afasta o delito: a certeza da punição e não a quantidade de punição,
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é capaz de evitar o crime.

 Livre arbítrio em BECCARIA?


 O livre arbítrio em BECCARIA justifica a pena e a reforma pela penitenciária.

 Determinismo em BECCARIA?
 Prevenção: povo educado/livre se autogoverna melhor e não comete crimes.
 Logo, a pobreza e marginalidade (menos educação) são base da criminalidade.
Falta de racionalidade demanda um governo autocrático (coercitivo e repressivo).
 BECCARIA: nas classes mais baixas o uso do livre arbítrio é uma potencialidade, mais do que uma
realidade.
BECCARIA reconhece que há grupos sociais de maior risco social (devotados ao crime).
 A “escravidão forçada” necessária em BECCARIA:
Assim seria necessária uma espécie de escravidão forçada (a internação nas workhouses, por
exemplo).
... coincidentemente, construía-se uma workhouse nos arredores, à época ....

 Limites ao livre arbítrio e a “dialética iluminista”


 A cultura (educação) prepara o cidadão ao uso correto de sua liberdade (que precisa de limites).

 As críticas de SADE (MELOSSI) – BECCARIA vs. SADE


 SADE representa a crítica ao controle: oposição libertina aos que substituem o Deus medieval por
novos ídolos.
O pesadelo do iluminista: liberdade desenfreada e não constrangida.
Há razão razoável para justificar a pena, se a liberdade expressa o humano?

 As críticas a SADE: a necessidade da cultura


 “Trabalho da cultura” (FREUD): construção humana dos limites.
 A cultura cria os limites da prudência e da oportunidade que garantem a desnecessidade de uma
autoridade superiora.

 Da Filosofia do Direito Penal à fundamentação filosófica da ciência penal:


 Dei delitti e delle pene (1764): não é inovador, mas resumo do momento.

 Bases beccarianas
 Concepção liberal do Estado de Direito
 Utilitarismo
 Contratualismo (donde derivam os limites da pena): o limite essencial de legítimo sacrifício é aquele
sacrifício mínimo necessário da liberdade individual, donde se exclui a pena de morte.
 Divisão dos poderes: a pena não é a vontade do detentor do poder.
 Delito produz dano social que demanda a defesa social (realizada pela pena)
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FRANCESCO CARRARA
Estudou em Lucca e Firenze e atuou como advogado e professor, produzindo diversas obras de Direito Penal.
CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

É o grande nome técnico da Escola Clássica, reconhecido como “il Professore”.

 Nascimento da ciência do Direito Penal Italiano


 Harmonização da filosofia do Direito Penal da época.

 Visão rigorosamente jurídica


 Bases filosóficas, mas independentes: racionalizações penais

 Delito é ente jurídico:


 O delito é a violação de um direito
Violação de uma ordem natural e imutável de fundamento divino
Daí de um “direito” – não de um documento formal.
 “Mundo ideal” de justiça (contraposto ao mundo da norma positiva), a ser buscada pela ciência do
Direito Penal.
 Esfera jurídica (lei positiva) X esfera moral (verdade).

 Pena como defesa social


 Fim da pena: eliminação do perigo social que representa a impunidade (é uma matriz da prevenção
geral).
 Reeducação é desejável, mas não é a função essencial da pena (a ideia é o que ela produz na
sociedade como um todo).

GIAN DOMENICO ROMAGNOSI


1761 – 1835. Estudou em Parma e, depois vai trabalhar como juiz em Trento.

 Natureza social do homem (realização da racionalidade)


 Essência do homem: associação como fuga da dependência da natureza.

 Sociabilidade é a regra natural: não há estado de natureza ou contrato social.


 Leis sociais são leis naturais, reconhecidas através da razão.
Conservação da espécie humana e obtenção da máxima utilidade.

 Consequências:
 Direito e dever de conservação da própria existência: não ser ofendido por outro.
 Dever recíproco entre homens de não atentação à existência.

 Fim da pena: a defesa social


 A pena realiza um contra-estímulo diante do estímulo criminoso (spinta criminale e contro-spinta
penale)
 Seu limite é a necessidade de contra-estímulo.
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 Foco fundamental: a prevenção (demanda por boas condições sociais).

17/03/2014
CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

IV. CRIMINOLOGIA ETIOLÓGICA INDIVIDUAL - CRIMINOLOGIA


POSITIVISTA

 Programa de Política Criminal da Escola Positivista. Principais ideias teóricas da Escola Positiva. A
teoria do delinquente nato (LOMBROSO). A concepção multifatorial da delinquência (FERRI). Teorias
constitucionais, genéticas e instintuais da agressividade.
 A ideologia da defesa social como ideologia comum à Escola Clássica e à Escola Positivista.
 Considerações críticas e repercussões atuais da teoria positivista.

(1) A ESCOLA POSITIVA: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

1.1. Características da Europa no séc. XIX


 Agitação social e econômica
:: Amplas dificuldades econômicas
 Deslocamento social do campo para a cidade
:: Esvaziamento do campo
:: Marginalização social nas cidades
 Aumento da marginalização e da criminalidade
:: Risco ao projeto racionalista da Escola Clássica: construção exageradamente abstrata e deslocada
da realidade
:: Novo approach: demanda por soluções mais realistas e eficazes (positivismo)

1.2. A massa urbana e o “medo burguês”


 Causas da expulsão da massa do campo à cidade:
:: Demanda para a produção industrial na cidade
:: Racionalização da produção rural
 Resultado do processo: a produção da “canaglia”
:: Constituição de uma massa populacional nas cidades europeias
:: Opções para nova massa populacional
 Trabalho na fábrica (pai e mãe na fábrica, filhos nas minas de carvão)
 Conduta de vida “desviante”
 Agrupamento social assustador para a burguesia
:: O “medo da massa”
:: A “classe perigosa” e o “espectro que ronda a Europa” (Marx e Engels) à caça de nobres e
burgueses: medo que domina a burguesia, de que as massas tomem a cidade, iniciem a revolução e
comecem a caçar nobres/burgueses.

1.3. Necessidade de um novo approach: realidade em lugar da abstração


 Críticas à posição clássica:
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:: Insuficiência da fundamentação moral (livre arbítrio) para a responsabilidade penal.


:: Demanda pela análise social: alta criminalidade e reincidência
 O medo d criminalidade como impulso à Revolução Francesa
 Apesar das críticas, o modelo clássico persiste
CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

:: Os movimentos ecléticos das escolas penais


 A Terza Scuola: a crença na “aptidão para sentir a coação psicológica” – é possível punir
alguém não pelo seu livre arbítrio (porque livre ele não é), mas porque é capaz de perceber a
ameaça que recebe.
 A Escola de política criminal: a “capacidade de condução social” – o sujeito consegue
conduzir suas escolhas socialmente, não é portador de uma doença que incapacite essa
sociabilidade.
:: Escola Técnico-Jurídica do Direito Penal: o neo-classicismo (séc. XX) – recuperação quase absoluta
do classicismo. É o modelo de hoje. Um dos maiores nomes é ROCCO, autor do Código Penal
Italiano, de origem fascista, e que foi copiado pelos legisladores brasileiros.
:: Base persistente (inclusive hoje): a crença nas formas do livre arbítrio

1.4. A demanda por racionalização: aumento da complexidade social


 Novo status do camponês: livre detentor urbano da força de trabalho
:: Resultados
 Aumento da subjetividade
 Aumento da complexidade das relações sociais (que tornam-se fungíveis)
 Necessidade de um novo sistema de controle
:: Do controle cara-a-cara (modelo medieval de escravidão) ao modelo da distância (policiamento e
sistema penal)
 Consequência: aumento da racionalização social
 Alistamento obrigatório
 Recenseamentos
 Cobrança de impostos
 Surgimento da polícia
 Aumento do sistema prisional
 Surgimento do sistema de educação em massa
 Novos sistemas eleitorais e políticos

É nesse quadro, de demanda por uma nova perspectiva de controle social, que se encontra a escola positiva,
que busca a informação na sociedade (não basta dizer que crime é uma conduta típica, antijurídica, culpável)
– compreender o criminoso (conclui-se que o criminoso é diferente do “padrão”).

21/03/2014
(2) O NASCIMENTO DA PROPOSTA POSITIVA

 Crítica fundamental ao classicismo: a exagerada abstração


 Abstração clássica: herança do obscurantismo medieval
 Demanda de uma observação neutra dos fenômenos (inclusive sociais).

 O sucesso da ciência natural:


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 A luta contra o obscurantismo medieval da Escola Clássica


 O sucesso da biologia, da física, da química, etc.
 Necessidade de observação neutra: tabelas e instrumentalizações
:: A crítica futura: o cientista não é independente.
CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

 Surgimento das ciências sociais


 Espaço intermediário entre o indivíduo e o Estado
 A noção de “estruturas sociais”: “fatos sociais coletivos que recebem o indivíduo quando ele vem ao
mundo e que são reproduzidos pelas ações de cada indivíduo”.
:: Realidades independentes dos indivíduos: a sociedade é muito complexa.
:: O novo nicho das ciências sociais: se o fato social existe, usa-se o método indutivo.

 A proposta positiva e a necessidade de um programa epistemológico


 Adoção do método indutivo das ciências naturais
 Razão: o estudo de um objeto – o fato social
:: Enfim, as ciências sociais passam a adotar o método das ciências naturais

 Independência do Direito Penal (BARATTA)


 Criminologia passa a ser ciência autônoma
 Todavia: o Direito Penal (SER) se torna dependente da Criminologia (DEVER-SER)

 Nova proposta francesa: a Estatística Social


 Matriz social e sociologia da experiência francesa
 A produção pública de dados
:: A “mina de ouro” dos criminologias e sociólogos
:: Visão social da criminologia

 Adolphe Quételet (matemático francês)


 Construção do “homem médio” (padrão comparativo)
:: Características médias encontradas pela estatística
 Estudos sobre a estabilidade social (base de DURKHEIM)
 Noção de criminalidade ligada aos salários baixos, não à pobreza
 Lançamento da noção de “cifra negra” da criminalidade

 André-Michel Guerry
 Cartografia social do crime: cruzamento de dados (desenvolvimento, riqueza, crimes...)
 Conclusão: rompimento da relação crime-pobreza (na verdade, desenvolvimento social desigual e
que produzia o crime).

CARACTERÍSTICAS DA ESCOLA POSITIVA


(1) QUANTO AO CRIME
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1.1. Oposição à Escola Clássica


 Não é possível analisar o crime apenas como “ente jurídico”
 O livre arbítrio torna “cria” o crime no plano metafísico e o separa do mundo físico, objetivando-o.
CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

1.2. A “metafísica positivista”: vinculação material do crime


 Método indutivo
 Análise do crime como essência ontológica: é ente jurídico, mas ligado ao humano/natural

1.3. A crença no determinismo: a negação do livre arbítrio


 Negativa do livre arbítrio
 Vários elementos criminogênicos: individuais, físicos e sociais
 Consequências:
 Determinismo no crime
 Foco no criminosos, não mais no crime (classificação dos criminosos, não dos crimes)

MELOSSI: os autores da Escola Positiva “tratavam o crime como um fenômeno pré-constituído à realidade
social e ao direito penal, a criminalidade, portanto, podia tornar-se objeto de estudo nas suas “causas”,
independentemente do estudo das reações sociais e do Direito Penal”.

1.4. Substituição da responsabilidade moral pela social


 O delito é manifestação da personalidade do autor: substituição da responsabilidade moral pela
social

(2) QUANTO À PENA

 Pena é reação social à irresponsabilidade social: a defesa social pela prevenção


 Pena é necessária pela quebra da responsabilidade social
 Não é retributiva, pois não tem substrato ético
 Pena é meramente preventiva (proteção da sociedade)

 Formas da pena
 Fim curativo e reeducativo da segregação
 Aceitação de substitutivos penais
 Pena indeterminada: busca pela cura do criminosos

PRINCIPAIS REPRESENTANTES
CESARE LOMBROSO

 Médico veronense de origem judaica. Atuou em Turim e Pavia, especialmente sobre a Antropologia
Criminal.

 Teoria do Criminoso Nato: o criminoso já nasce assim e é determinado ao crime por esse motivo.
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 Estudos a partir da análise de cadáveres de criminosos mortos pela polícia


 Descobriu a “fosseta occipital média”, condição física que predisporia as pessoas ao crime

 Assim, o crime seria tendência do homem primitivo, fruto do atavismo (reaparecimento de


CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

características de antepassados antigos)

 Seriam características dos criminosos


 Mandíbulas largas e projetadas
 Testas grandes e com grande inclinação
 Orelhas “de abano”
 Nariz em forma de bico de falcão
 Barbas ralas e carecas proeminentes
 Insensibilidade à dor
 Braços longos

ENRICO FERRI

 “Criminologia social”
 Sistematizou juridicamente a Escola Positiva
 Classificação do criminoso: nato, louco, habitual, ocasional e passional
 Teoria multifatorial da determinação do crime (econômico, social ...)
 O louco pode cometer crime, pois não depende do livre arbítrio. Ideia de periculosidade.

RAFAEL GAROFALO

 “Temibilidade do delinquente” (cria o conceito de “periculosidade” moderna)


 Biologismo psicológico
 Principais sustentações:
 Necessidade de controle pelo Estado da criminalidade
 Penas substitutivas

24/03/2014

ANÁLISE DA ESCOLA POSITIVA ITALIANA


(1) A CRIMINOLOGIA ANTROPOLÓGICA ITALIANA

 Pretensão crítica à Escola Clássica


 Apoio evidente na proposta de CHARLES DARWIN
 Principais nomes: LOMBROSO e FERRI
 Defesa da visão científica da Criminologia
 Oposição à visão metafísica e idealista (religiosa) do crime (que animavam a construção do Direito
Penal em seu início – crença bem vs. mal, matriz contratual)
 Há outras Escolas Positivas, mas a italiana é a “grande mãe”.
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 Direito Penal e Criminologia tendem a se misturar nessa fase.

(2) LOMBROSO E A CRENÇA NO ATAVISMO


CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

 Incapacidade de evolução: retorno ao passado e à selvageria


 Condição nascida com o criminoso: “criminoso nato”
 O criminoso não escolhe o mal, tem tendência ao mal
 Era possível compreender os traços da criminalidade
 Foco na periculosidade (não no mal – conceito moral)
 Posição criticada mesmo à época

*** Estudos neuro-científicos recentes afirmam que a falta de determinadas enzimas tornam o indivíduo
mais propenso a não se submeter a regras. É o retorno do lombrosianismo!

(3) CRÍTICAS A LOMBROSO

 Esquece que o crime não é natural, mas indicado pelo poder


 Pesquisa setorizada a alguns membros da comunidade (vai na prisão medir crânio, nariz, etc.)
 A questão da dor: criminosos sentem menos dor porque habituados à vida (dolorosa) nas prisões
(conclui-se insensibilidade à dor)
 Ignora a seletividade da criminalização (na época, quem estava preso eram em sua maioria do sul da
Itália)
 Ignora elementos complexos: sociais, econômicos, desvantagens sociais, etc.
Noção errônea que se repete ainda hoje (crimes de minorias, de estrangeiros)

(4) CRÍTICAS “CONTEXTUAIS” DA ESCOLA POSITIVA: A QUESTÃO SULISTA

 No fim, LOMBROSO se afasta da Antropologia


Adoção da posição multifatorial da criminalidade (FERRI)

 A questão sulista italiana


 A unificação italiana (1861)
 A insatisfação do sul diante dos impostos, do serviço militar obrigatório e do confisco
 Lutas entre o norte (exército oficial) e a “bandidagem” sulista (milícias privadas – brigandagio)

 LOMBROSO serve na guerra como médico: daí o seu insight


 O crânio de Villella (um ladrão e brigand condenado à prisão perpétua)
 A descoberta da fosseta occiptal média

 Posição lombrosiana: resultado da racionalização das diferenças entre Norte e Sul


 O olhar civilizador do Norte sobre o Sul
 A descrição comum do “bárbaro-rural” feita pelo “civilizado-urbano”
:: Estereótipos padrão: estúpidos, preguiçosos, sujos, crime, sexo, etc.
:: O italiano do sul pelo nortista; o judeu pelos alemães e italianos (ECO e o “Cemitério de Praga”: os
camponeses do teatro elisabetano)
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 Experiência italiana: exemplo italiano do processo de racionalização capitalista


 O Norte e a antecipação do processo de racionalização da força de trabalho
CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

 O Sul e o atraso: necessidade de guerra


 Necessidade de nova explicação (não metafísica): o biologismo cientificista

(5) A CRISE DA POSIÇÃO LOMBROSIANA (BIOLOGISTA) NA VIRADA DO SÉCULO

 A crise positivista italiana: a virada do século XIX para o século XX


 Reforço dos direitos dos trabalhadores sindicalizados do Norte
 Intensa migração do sul

 Nova proposta: FERRI e a explicação social para a criminalidade


 A defesa dos trabalhadores: os criminosos heróis
 A base socialista de FERRI

28/03/2014
(6) DIFERENÇA ENTRE A CRIMINALIDADE DO NORTE E DO SUL

2.
3.
4.
5.
6.
6.1. Condições

 A condição dos trabalhadores como criminosos


 Trabalhadores do Norte: “heróis” e excluídos e prejudicados socialmente – semelhantes e
necessários como mão de obra
 Trabalhadores do sul: inimigos que lutavam pela existência. Deveriam ser presos para serem
formatados para o mercado de trabalho

 A condição da gravidade dos crimes:


 Crimes mais leves no Norte: simpatia social (mala prohibita – mal porque proibido, opção legislativa)
 Crimes mais pesados no Sul: forte reação social (mala in se)

Explicação:
 Demanda verificação no contexto social e político: sociedades igualitárias, um contrato social
inclusivo; sociedades desiguais: contrato social excludente
 FERRI analisa iguais
 LOMBROSO analisa diferentes (inimigos): explicação racial

6.2. O insucesso italiano de FERRI


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 Prestígio original das ideias de FERRI


 O projeto de Código Penal de 1921
 Aceitação mundial
CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

 Conceitos de periculosidade e defesa social


 O fascismo italiano: aceitação dos dogmas conservadores da Escola Clássica. Regimes absolutistas
buscavam no positivismo jurídico Kelseniano, separando o Direito do Social.

6.3. A modificação de LOMBROSO

 Aceitação de outras espécies de criminoso além do nato


 A questão feminina:
 Mulher como menos evoluída (mais “atávica”): espécies particulares de criminalidade – o gênero
“prostituição”; a mulher masculina
 Revelação da ambiguidade de suas ideias

(7) AS PROPOSTAS CONSEQUENTES: CRIMINALIDADE DAS MASSAS E PSICOLOGISMO

7.
7.1. A criminalidade das massas

 Grupo como libertador da besta interna: a remoção dos vínculos sociais pela massa. O sujeito é
levado pelas escolhas sociais.
 A animalidade sempre à espreita do homem (consequências do atavismo)

7.2. GAROFALO e o psicologismo

 A condição estratificada da alma: as bases para FREUD; existem níveis na alma, o nível animal, o
nível social, etc., e a criminalidade está neste limite – ela rompe com os estratos da alma.

TEORIAS CONSTITUCIONAIS, GENÉTOCAS E INSTINTUAIS DA


AGRESSIVIDADE
(1) AS TEORIAS “PSI”

 Teorias Psicanalíticas e crime: nova perspectiva de crime a partir da análise da alma humana
 Ainda um fundamento pessoal da criminalidade
 A realização do crime decorre do escape dos instintos criminosos
 Esse escape produz o sentimento de culpa (de que se libera pela confissão); ou pela repressão. A
confissão é o que inicia o processo de catarse de liberação da culpa
 Livro: A Palavra dos Mortos – ZAFFARONI

(2) FREUD E “TOTEM E TABU” (1913): NEUROSE X TABU


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 Neurose é individual, produzida pela repressão de instintos; consciência antiga reprimida pelo
processo civilizatório: relação complexa entre ID, EGO e SUPEREGO
 Tabu é social: todos tem medo da violação dos tabus – daí que, violado o tabu, é necessária a
punição social para que se evite a tentação de imitação do desviante
CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

(3) TEORIA FREUDIANA DO “DELITO POR SENTIMENTO DE CULPA” E AS TEORIAS PSICANALÍTICAS DA


SOCIEDADE PUNITIVA

1.
2.
3.
3.1. Totem e Tabu (1913) complementado por “Moisés e o Monoteísmo” (1939)

 Consciência antiga “espremida por um verniz civilizatório” – que obriga o sujeito a se adaptar (EGO,
ID e SUPEREGO)
 ID: instintos e paixões animais (paixões, libido, agressividade)
 EGO: consciência, intermedia as relações entre os instintos e as ordens superiores pela razão; é o
que tem existência, o que o sujeito é na sociedade
 SUPEREGO: regras sociais e morais aprendidas no processo civilizatório (é a presença paterna)

3.2. MITO da sociedade e Complexo de Édipo

 Sociedade composta por irmãos que matam o pais pela posse das mães
 Crimes que criam uma sociedade de iguais ligados pelo sentimento de culpa: FREUD e o mito da
sociedade primitiva de irmãos que se rebelam contra o rei (o “pai” – imagem ideal de EGO) pelo
domínio dos recursos – dos recursos, o mais precioso são as mulheres. Morto o rei-pai, os irmãos
introjetam a sua presença, tanto no plano figurativo quanto real (neste caso, pelo canibalismo). A
partir desse bárbaro crime de parricídio, os irmãos se conectam por um sentimento de culpa
condividida que se torna comum na sociedade agora civilizada.
 Crimes são praticados para que seja aplicada a pena, capaz de punir a culpa pelos grandes crimes
(parricídio e incesto). A pena é desejada pelo criminoso, pois satisfaz o sentimento de culpa do
Complexo de Édipo.

3.3. FREUD X LOMBROSO: ambos buscam justificar o crime a partir de um raciocínio inicial do homem,
sejam condições sociológicas ou psicológicas

 Em LOMBROSO, o crime decorre da inevitabilidade antropológica


 Em FREUD, o crime decorre das condições sociais de desajuste social provocadas pelas condições
individuais peculiares de relação com pai e mãe.
 IMPORTANTE: a distância ente o investigador e o objeto diferencia a posição de ambos: FREUD era
muito mais próximo do objeto de estudo (filhas da burguesia vienense) do que LOMBROSO do seu (o
criminoso de Villela). Assim FREUD e FERRI são mais próximos, vez que ambos analisavam a
burguesia da época.

(4) THEODOR REIK (1888-1969): EXPLICAÇÃO PSICANALÍTICA DA RETRIBUIÇÃO E PREVENÇÃO


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 Prevenção e retribuição são construções racionais de fenômenos conscientes


 Retribuição: pena como necessidade inconsciente de punição – a catarse do criminoso implica a
necessidade de retribuição. Mesmo processo da autopunição inconsciente dos neuróticos
CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

 Prevenção: identificação coletiva com o delinquente – pena é satisfação social

 Retribuição e prevenção são complementares: criminoso + sociedade

 Justificativa da pena: o reforço do SUPEREGO


 O EGO busca a expiação da violação do Direito, reforçando, portanto, o SUPEREGO (garantindo a
submissão a limites)
 Sem a pena, o EGO entende que as autoridades mundanas não dão razão ao SUPEREGO, o que
permite o “assalto dos impulsos”
 O reforço do SUPEREGO dado pelas autoridades mundanas permite que o EGO freie os impulsos.

(5) O ENRIQUECIMENTO DA TEORIA PSICANALÍTICA E A CRÍTICA DA JUSTIÇA PENAL POR FRANZ


ALEXANDER E HUGO STAUB

 O processo de identificação: a personalização do criminoso e da repressão


 Identificação entre delinquentes (tendências antissociais comuns); o criminoso personifica os
delinquentes
 Identificação do corpo social com o corpo penal (reconhecimento da necessidade de sanção):
produção da pena; o julgador (ou policial) personifica o corpo social

 Consequência: a construção da sociedade punitiva (identificação com o sistema penal) – não se


identifica com o criminoso e sim com o sistema punitivo
 Reforço do superego
 Legitimação da agressão institucional

 Pena é, assim, a recompensa pela renúncia ao crime


 Todavia, a racionalização e a diminuição da violência frustra as massas
 Logo, demanda-se um concomitante processo de sublimação da tendência agressiva das massas;
processo efêmero, reconhecível em certos momentos históricos como o entre-guerras; esportes
violentos, política do pão e circo na Roma antiga. Assim ou se aumenta a pena (ex.: diminuição da
maioridade penal) ou direcionamento a outras coisas (ex.: grandes eventos, Copa do Mundo, etc.)

(6) A OBRA DE PAUL REIWALD

 REIWALD e a transferência da culpa ao bode expiatório


 Em lugar da revolta contra si próprio (reconhece no outro o mal; em si, o bem). Ao ver o outro
receber a pena por um comportamento que o sujeito no fundo queria fazer mas não pode ele se
sente recompensado por não ter cometido a conduta e não ter sido punido
:: O reforço pela mass media: cinema, música, arte correspondem a essa condição
:: Em lugar de punir o cidadão comum insulta e pune o bode expiatório.
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 Risco dessa condição: a construção do inimigo comum (minorias e grupos marginais)

 ZAFFARONI e o direito penal do inimigo: os “crimenes de masa”


CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

 A explicação dos crimes (“eleição de inimigos e guerra as bruxas”)


 Criminalização das condutas (a escolha de um responsável e pela sua punição exemplar)

 A curiosa condição dos crimes universais


 A construção do inimigo contra quem se dispor (como tutsis versus hutus em Ruanda)
 A construção do bode expiatório: a condenação dos lideres

(7) LIMITES DAS TEORIAS PSICANALÍTICAS: A CONCEPÇÃO UNIVERSALISTA DO DELITO

 Dificuldades das teorias psicanalíticas


 Mesmas das escolas Clássica e Positiva
:: Busca por causas pessoais (etiologia individual)
::Não contempla as perspectivas das relações sociais e mecanismos de criminalização – acaba
eximindo o Estado neste processo

 Pretensão universalizante (ignoram as condições socioeconômicas) e a-histórica (ignoram conteúdo


especifico da criminalidade e seu significado histórico).

31/03/2014

A NOÇÃO DE DEFESA SOCIAL NAS ESCOLAS ETIOLÓGICAS INDIVIDUAIS

 Defesa social
 Escola Clássica
 Escola Positiva
 Princípios da defesa social
 Legitimação social pela defesa social

(1) IDEOLOGIA DA DEFESA SOCIAL: RACIONALIZAÇÃO COMUM ÀS ESCOLAS CLÁSSICA E POSITIVA

 Sentido da defesa social: a pena existe para proteger a sociedade dos males causados pelo
criminoso/desviante

 Escolas clássica e positiva: modelos integrados de ciência penal


 Compreensão baseada na conexão entre ciência jurídica e as concepções de homem e sociedade
 Defesa social é o “nó teórico e político” que sustenta essa conexão

 Defesa social e a sociedade burguesa


 A noção de defesa social é um construto da própria sociedade burguesa
 Predomínio ideológico absoluto no plano penal
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 Apoio doutrinário e popular

(2) PRINCÍPIOS DA NOÇÃO DE DEFESA SOCIAL


CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

4.
4.1. Princípio da legitimidade
 O Estado é legítimo para combater a criminalidade e representa a sociedade nesse papel.

4.2. Princípio do bem e do mal


 O crime é um mal social que danifica a sociedade, que representa o bem.

4.3. Princípio da finalidade preventiva


 Pena é retributiva, mas também preventiva (abstratamente, como contra-motivo ao crime;
concretamente, como permissiva da ressocialização).

4.4. Princípio da igualdade


 Lei penal é igual para todos e o crime é resultado do comportamento de uma minoria (esse princípio
é uma falácia, pois a lei formal é igual para todos, mas materialmente não há igualdade).

4.5. Princípio do interesse social e delito natural


 Crimes são sempre ofensas a interesses essenciais para a convivência social (mala in se como regra).
 Eventualmente, como exceção, os crimes são escolhas econômicas ou políticas ( mala prohibita). Por
exemplo, o uso de substâncias entorpecentes não é um mal social, faz mal para o usuário – é uma
escolha política criminalizar.

(3) IDEOLOGIA DA DEFESA SOCIAL: RACIONALIZAÇÃO COMUM ÀS ESCOLAS CLÁSSICA E POSITIVA

5.
5.1. Diferenças entre Escolas Clássica e Positiva
 Quanto à defesa social: diferença meramente metodológica
 Criminogênese: culpabilidade (demanda d retribuição pela culpabilidade revelada) X periculosidade
(personificação desviante do padrão demanda prevenção)

5.2. Em comum: a pena é explicada em defesa da sociedade


 Defesa social como argamassa racionalizante do sistema criminal (justifica a atuação do Direito Penal
– se pune para proteger a sociedade).
 Posicionamento que se mantém até hoje
Conflito: os males identificados pela crença na defesa social versus a dogmática e práxis penal
atreladas à defesa social.

(4) A FUNÇÃO LEGITIMANTE DA IDEOLOGIA DA DEFESA SOCIAL

 A função da sociologia criminal: oferecimento de instrumento para superação dos mitos da defesa
social.
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 Problema: a ciência penal está atrasada com relação à criminologia


 Razão do descompasso: substituição das escolas Positiva pela Escola Técnico-Jurídica nos anos 20/30
 Vitória de BELING na Alemanha e ROCCO na Itália
CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

 Hostilidade às ciências “para-penais” (Criminologia e a Sociologia)


 Dificuldade que persiste (não há um modelo integrado de Direito Penal e Criminologia)

 Tentativas fracassadas nesse sentido


 A “defesa social” de Fillipo GRAMMATICA e a “Nova Defesa Social” de Marc ANCEL
 Fracassaram, pois apenas adaptam a defesa social, não a substituem

04/04/2014

(5) CRÍTICAS À NOÇÃO DE DEFESA SOCIAL

 Duas perspectivas críticas fundamentais:


 Sociologia criminal liberal
 Perspectiva crítica (socialista, em geral)

 Fundamentos críticos comuns: a defesa social entende a sociedade como uma totalidade de valores
e de interesses
 Defesa social como construção a-histórica da sociedade (impressão de que a sociedade não evolui, é
parada no tempo)
 Defesa social como construção abstrata da sociedade (qual sociedade?)
 A defesa social não é portanto, real

 Solução a partir das críticas:


 Sociedade entendida como mutável e complexa
 Compreensão da sociedade dentro de seu contexto socioeconômico
:: “Sociedade” deve ser contextualizada: “sociedade capitalista”, “sociedade feudal”, “sociedade de
transição”, etc.
:: Base nos conflitos sociais e nas contradições econômico-social da realidade.

(6) ZAFFARONI: DEFESA SOCIAL OU SEGURANÇA JURÍDICA?

 Respostas usuais: o objetivo da legislação penal é a defesa social ou a segurança jurídica?


 Para defensores da defesa social: pena é prevenção especial
 Para defensores da segurança jurídica: pena é prevenção geral

 Proposta contemporânea
 O fim da pena é a retribuição (art. 59, CP)
 O fim da execução da pena é a ressocialização

Todavia, essa compreensão diferenciadora não se coaduna com a análise adequada da questão e está
vinculada com uma análise dentro do contexto de países centrais.
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A NOÇÃO DE DEFESA SOCIAL


CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

(1) SOCIEDADE

 Sociedade antropomórfica (autoritária e transpersonalista) ou sociedade de coexistência?


 A visão antropomórfica da sociedade de sustenta porque “nem a Constituição nem a ideologia dos
Direitos Humanos toleram o submetimento do homem a um ente superior, mas só a limitação do
homem por razões de coexistência o que, por certo, não é o mesmo”

 Assim, a sociedade é coexistência: o objetivo do direito é assegurar a coexistência

LOGO: se segurança jurídica é a garantia da coexistência e se a defesa social é a garantia da coexistência, as


duas coisas são, na verdade uma só.

(2) REPERCUSSÕES ATUAIS DA TEORIA POSITIVISTA

 Ainda persistem materializações da teoria positivista:


 Perspectivas preconceituosas: o juiz e o quadro mental paranoico de CORDERO
 Materializações positivistas na lei penal: o artigo 59
:: Funções da pena
Art. 59 – O juiz, atendendo à (1) culpabilidade, (2) aos antecedentes, (3) à conduta social, (4) à
personalidade do agente, (5) aos motivos, (6) às circunstâncias e (7) consequências do crime, bem
como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime:
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.

------------------------------------------------------------ primeira prova ------------------------------------------------------------

V. CRIMINOLOGIA ETIOLÓGICA SÓCIO-ESTRUTURAL

 Criminologia etiológica sócioestrutural: objeto. Teoria da anomia. Teorias ecológicas. Teoria da


associação diferencial. Teorias subculturais.
 Teoria da anomia em DURKHEIM: fato social, crime, fato social normal, fato social patológico, tipos
de pena e sua relação com tipos de solidariedades.
 Teoria da anomia em MERTON: a tipologia das adaptações, anomia, as contribuições de COHEN e de
CLOWARD-OHLIN.
 A Escola de Chicago: o legado do positivismo, aproximação ecológica do fenômeno criminal,
pesquisas sobre a delinquência juvenil (SHAW-MCKAY), a teoria da desorganização social.
 Teoria da associação diferencial (SUTHERLAND): O que se aprende? Como se aprende? White collar
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crime.
 Teoria das subculturas delitivas: subculturas expressivas (COHEN), subculturas instrumentais
(CLOWARD-OHLIN), outras concepções acerca das subculturas.
CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

 Correção da teoria das subculturas criminais: a teoria das técnicas de neutralização (SYKES e
MATZA).
 Considerações críticas e repercussões atuais.

ASPECTOS GERAIS SOBRE A NOVA CRIMINOLOGIA

 Oposição às escolas positivas: a novidade da proposta Estrutural-Funcionalista


 Ainda a vinculação etiológica (acredita que o crime tem origem, é produzido por alguma coisa)
 Negação do princípio do bem (regras sociais) e do mal (crime)

 Base das Teorias Estruturais-Funcionalistas


 Criminogênese não é biológica ou antropológica
 Crime não é uma patologia social
 Desvio é um fenômeno social normal
 Desvio só é prejudicial quando ultrapassa certos limites de aceitabilidade das taxas de crime – a
“anomia” (“estado de desorganização no qual todo o sistema de regras de conduta perde valor,
enquanto um novo sistema ainda não se afirmou”).
 O desvio dentro de certos limites é benéfico (por exemplo, permite mudança social).

07/04/2014

ÉMILE DURKHEIM: NOVAS PERSPECTIVAS PARA O CRIME


(1) A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM

 Pai da sociologia e um dos primeiros da criminologia social


 Sociólogo francês do último quarto do século XIX: produção em 1890 e seg.

 Ideia criminológica central: crime é um fenômeno social normal


 Crime é fisiológico na sociedade, não patológico
 Crime torna-se um fenômeno patológico apenas depois de certos limites
 Crime pode ser repugnante, mas é inevitável, pois decorre da “maldade humana”

 A divisão do trabalho: da solidariedade mecânica para a orgânica


 Sociedade medieval (baixa complexidade): solidariedade mecânica
:: Relações de engrenagens – trabalhos simples e pouco relacionados
:: Poucos valores e um direito penal muito forte e violento
 Sociedade moderna (alta complexidade): solidariedade orgânica (dependência é vital)
:: Relações de órgãos do corpo humano – trabalhos complexos e muito relacionados
:: Muitos valores e um direito menos violento e mais restitutivo (ex.: Direito Civil)
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 Contra-individualismo: sociedade não é resultado do individualismo (contrato social). Isso é


importante para compreender a mudança, pois tanto Escola Clássica quanto Escola Positiva são
baseadas no contrato social.
CRIMINOLOGIA – Prof. Rui Dissenha

 Vários princípios morais não provém do interesse individual, mas de interesses sociais. Ex.: mesmo a
liberdade contratual (que é individual) está limitada por uma moralidade social (de origem social,
não individual).

A complexidade social desenvolve mais as relações entre indivíduos, criando uma “argamassa” necessária
para essa inter-relação – que é, portanto, de ordem social, não individual.

 Anomia em DURKHEIM
 Anomia: inadequação de normas morais diante do desenvolvimento social
 Problema social central: falta de uma moralidade orgânica
:: Divergência entre estrutura social (orgânica) e moralidade social (mecânica). A moralidade se
desenvolve de forma mais lenta que a sociedade.
:: Evidência: abandono dos padrões morais cristãos (coesão social) na França

 Críticas de DURKHEIM
 Capitalista: mercado/contratos não bastam para a coesão social.
 Socialista: aprofundar lutas de classes rompe a coesão social.
 Nem a perspectiva capitalista nem a perspectiva socialista conseguem responder a esse equilíbrio
entre o moral e o desenvolvimento social.

 A proposta de DURKHEIM: aumento das corporações profissionais


 Consequência desejada: aumento da coesão social e facilitação da democratização. DURKHEIM
entende que isso se faz aumentando as corporações, haveria um equilíbrio na coesão social e uma
maior democratização. O que o autor não previa é que o fortalecimento das corporações aumenta
as lutas e não cria esse equilíbrio.
 Mais do que isso, há um problema não previsto: aumento da anomia e permissão ao
fascismo/nazismo

(2) A SOCIOLOGIA DO DESVIO

 O “fato social” como objeto da sociologia


 Novo campo de estudos: instituições intermediárias entre o indivíduo e o Estado
 Surgimento da sociedade civil (as organizações sociais “intermediárias”)
 LOGO, em DURKHEIM: há uma realidade social dada historicamente – o fato social existe

 Características do “fato social”: externalidade e coercitividade


 Externalidade: existe previamente ao indivíduo (ex.: linguagem)
:: Introdução do indivíduo no fato social
:: Repetição do fato social pelo indivíduo
 Coercitividade: não é possível contornar o fato social sem a sanção social
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-fim-

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