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Teoria da aprendizagem social

Desenvolvida por Edwin Sutherland, na década de 30, também chamada de


Teoria da Associação Diferencial ou ainda de Social Learning, visa buscar uma forma
de explicar os motivos pelos quais as pessoas envolviam-se com o crime. A premissa
básica dessa teoria assevera que o comportamento desviante era aprendido por
associação assim como qualquer comportamento humano, indo contra a ideia de que se
tratava de algo hereditário. Ou seja se um determinado indivíduo conviver em um
ambiente hostil ou estiver exposto a uma atmosfera tendenciosa às práticas de ações
ilícitas, é provável que ele venha a delinquir. O homem aprende a conduta desviada e
associa-se com referência nela, da mesma forma que o indivíduo desenvolve o
comportamento legal. Cabe apontar que não se trata de um fator determinante.

“A função social do crime é de mostrar as


fraquezas da desorganização social. Ao mesmo
tempo que a dor revela que o corpo vai mal, o
crime revela um vício da estrutura social,
sobretudo quando ele tende a predominar. O
crime é um sintoma da desorganização social e
pode sem dúvida ser reduzido em proporções
consideráveis, simplesmente por uma reforma da
estrutura social” (SUTHERLAND, 1939).

Entendendo o crime como um fenômeno social multifatorial, tais como classe


social, instabilidade familiar localização urbana ou rural, idade, raça, distúrbios
psicológicos, uma das contribuições de Edwin foi o rompimento da ideia de que
criminalidade estava exclusivamente ligada à classe menos favorecida – ideia sustentada
pela Escola Positiva-, que só essa parcela da população praticava crime. Sutherland foi
o primeiro a utilizar a expressão “Crimes de colarinho branco” ao se referir ao crimes
cometido pela classe social mais alta, dos mais ricos que estão no poder da sociedade,
estando esses propensos a cometer o crime de corrupção enquanto a classe mais pobre
vindo a cometer o crime de furto.

Na ideia de Edwin Sutherland o prejuízo financeiro desses crimes cometidos


pelo alto escalão são superiores aos prejuízos do “delito comum”, mas são inferiores,
menos importantes, no que diz respeito à descrença da sociedade, que estes crimes
trazem, às instituições no âmbito social, produzindo uma desorganização social.

Sutherland desenvolve essa teoria com base em nove proposições:

1) Comportamento criminoso é aprendido – afasta questões biológicas e


genéticas;

2) Comportamento criminoso é aprendido pela interação com outras pessoas em


um processo de comunicação – incluindo a comunicação por gestos, além da
verbal;

3) A principal parte da aprendizagem do comportamento criminoso ocorre


dentro de grupos íntimos e pessoais – Nesse ponto ele quis reforçar que a
parte decisiva do aprendizado ocorre nas relações mais íntimas o que exclui
de certa forma a responsabilidade da grande massa (TV, rádios) na influência
de um sujeito.

4) Quando um comportamento criminoso é aprendido, a aprendizagem inclui:


a) as técnicas de prática de crimes, simples ou sofisticadas (aspecto objetivo)
e b) a assimilação dos motivos, razões, impulsos, racionalizações e atitudes
(aspecto subjetivo).

5) Uma pessoa se converte em delinquente quando as definições favoráveis à


violação da lei superam as desfavoráveis, o que leva a sexta proposição;

6) A pessoa torna-se delinquente pelo excesso de definições favoráveis ao


crime ou seja, existem mais definições favoráveis à violação da lei do que
definições desfavoráveis. – esse é ponto central do princípio da Associação
Diferencial. O autor, aqui, faz referência aos padrões de comportamento
criminosos e não às pessoas criminosas ao qual um indivíduo está exposto.

7) A associação diferencial pode variar em frequência, duração, prioridade e


intensidade:

8) O processo de aprendizagem criminosa por associação, que possui padrões


criminosos e não criminosos, envolve os mesmos métodos da aprendizagem
de comportamentos lícitos. Essa proposição mostra que a aprendizagem de
um comportamento é bem mais amplo que uma simples imitação.

9) Percebe-se que as necessidades e os valores gerais podem ser as reais


motivações existentes por trás do crime, mas também são as motivações por
trás do comportamento convencional.

Em resumo O homem, segundo esta explicação, atua de acordo com as reações


que sua própria conduta recebe dos demais, de modo que o comportamento individual
acha-se permanentemente modelado pelas experiências da vida cotidiana. O crime não é
algo anormal nem sinal de uma personalidade imatura, senão um comportamento ou
hábito adquirido, isto é, uma resposta a situações reais que o sujeito aprende.

Algumas críticas tecidas a esta teoria dizem a respeito da mesma não se aplicar a
criminosos eventuais. Outra forte crítica que a teoria recebeu refere-se à
desconsideração da personalidade do indivíduo, ou das variáveis psicológicas que
poderiam influenciar na gênese do comportamento criminoso. Sutherland respondeu a
essas críticas com o argumento de que “personalidade é um termo que se refere apenas a
uma condição” e, assim, não consegue explicar as especificidades do motivo de um
indivíduo tornar-se criminoso. Joana Maltez e José Cruz contrastam ainda, no que se
refere aos crimes de colarinho branco, a teoria da associação diferencial com as
modernas teorias da escolha racional. Sutherland não explicaria a razão de um grande
número de indivíduos em um mesmo ambiente respeitar a lei, enquanto outros não o
fazem, razão pela qual a escolha racional se apresentaria, para estes autores, uma teoria
mais adequada para explicar os crimes praticados em contextos empresariais.

Teoria da Subcultura
As subculturas correspondem a subdivisões da cultura dominante que a ela se
opõem. Coexistem na mesma sociedade ainda que em oposição. Na sociedade moderna
existem diversas subculturas. O termo subcultura tem sido utilizado em sociologia
sobretudo no estudo da juventude e do desvio. O conceito de subcultura comporta dois
problemas de difícil resolução analítica. Por um lado, é um conceito de difícil definição
pois as suas características determinantes nunca foram encontradas com clareza. Daqui
deriva que seja por vezes complicado distinguir uma subcultura de uma manifestação
que se afaste dos parâmetros da classe dominante. Ou seja, ao falar em subcultura corre-
se o risco de se estar a adotar um ponto de vista minado por preconceitos de classe. Por
outro lado, o conceito de subcultura supõe que seja possível identificar com clareza a
cultura dominante. Antônio García-Pablos de Molina aponta três ideias fundamentais da
subcultura: caráter pluralista e atomizado da ordem social, cada subgrupo possuem seu
próprio código de valores, que nem sempre coincidem com os valores majoritários e
oficiais; cobertura normativa da conduta desviada a conduta delitiva não é produto da
desorganização, mas um reflexo de outros sistemas de normas e valores distinto; e a
semelhança estrutural em sua gênese, do comportamento regular e irregular.

No campo da criminologia, a Teoria da subcultura do delinquente teve seu berço


no pós guerra, onde os Estados Unidos ascendiam financeiramente o que aumentou a
erosão social, onde os mais ricos ascendiam e os mais pobres não entravam nessa conta,
empobrecendo cada vez mais, isso, combinado com o aumento da criminalidade.
Durante essa fase, o “American Dream” (Sonho Americano), que podemos considerar
como a cultura hegemônica, ou seja, aqueles que estavam em busco desse ideal de vida,
integravam essa cultura. No entanto, é preciso necessário verificar que a pra uma parte
da sociedade, grande parte negra, esse modelo de vida era inalcançável e não obstante, a
cobrança para estes era igual a daqueles que tinham a possibilidade de alcançar tal
sonho. Com isso, acabou por se estabelecer um sentimento de desilusão entre esse
grupo, que logo mais iria ser denominado como uma “subcultura”, que passou a
contestar todo o sistema hegemônico na época, e então é o período que ficou marcado
como a falência do american dream. Assim, a explicação da formação de subculturas
criminais, delinquente, representaria a reação necessário do grupo menos favorecido,
que se viam perdidos dentro da estrutura predominante buscando assim uma maneira de
sobreviver.

Esta teoria foi desenvolvida Albert K. Cohen, que define a sociedade como
sendo dividida entre dominantes e dominados, e dentro dessa classe dominada a
existência de uma subcultura da violência, que faz com que alguns grupos passem a
aceitar a violência como um modo normal de resolver os conflitos sociais. Como dito
anteriormente grande parte dos integrantes dessa subcultura são pessoas que não
integram a classe “W.A.S.P” que, traduzindo para o português seria a sigla para
sociedade Branca, Anglo-Saxã e Protestante. O estudo de Cohen, mostrava que os
integrantes eram em sua maioria jovens.

O que marca essa subcultura, é a dimensão coletiva, não se trata de uma


manifestação isolada, ou seja, esse grupo rejeita a cultura dominante e ao se unir
acabam criando uma outra cultura com regras, valores e ideias próprios e todo o modo
de viver é baseado nesses valores impostos. E, então, toda ação era em nome desse
grupo, motivado pelos seus integrantes sendo através desses atos que os mesmos serão
reconhecidos.

No Brasil um exemplo de subcultura seria os poderes paralelos em determinadas


comunidades que se instalam como uma fonte de “segurança” para esses cidadãos e
como detentores de certos serviços como gás, televisão etc. que vão em contrário ao
modelo de sociedade majoritário no resto do país.

No que diz respeito aos crimes nesta teoria, ao contrário do que diz as outras
teorias e correntes da criminologia, estes aqui, não possuem motivação racional que os
justifiquem. Albert Cohen apontava três principais características para esses crimes: 1)
não utilitarismo da ação: Alguns furtam coisas porque precisam delas, elas podem ser
comidas, colocadas como ornamentos, utilizadas de qualquer forma ou mesmo vendidas
para obtenção de dinheiro. De acordo com a Subcultura Delinquente, a intenção com
esse furto não era o aproveitamento material e sim a contestação do modelo de
sociedade que valoriza sobremaneira o “ter”; 2) Malícia da conduta: prazer em
prejudicar o outro, um sadismo. O exemplo dado por autores seria o furto da bolsa de
uma velhinha só pelo prazer e, por último, 3) Negativismo: a subcultura representa a
subversão total e a inversão de valores da cultura dominante. Como um grupo de jovens
pichadores que escrevem em edifícios e monumentos da cidade, é uma contraposição à
ordem majoritária. Cabe ainda citar três outras características citadas por Cohen que são
a versatilidade, hedonismo-imediatista e a autonomia.

A teoria da subcultura delinquente, é criticada por não ter uma explicação


generalizada da criminalidade e sim, tratar apenas de uma criminalidade específica e
restrita de grandes centros urbanos. No entanto, é consenso que o caminho para
combater essa criminalidade foge ao tradicional, que seria a repressão. É necessário
cooptar esses jovens através da reinserção desses jovens na sociedade através de
oportunidade de trabalho. Se fossemos tratar por exemplo de uma gangue de pichadores,
seria a valorização da arte desse grupo aproveitando a ação que antes era vista como
subversiva, como bagunça, envolvendo-os com o acesso à sociedade produtiva.

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