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 Vítima:

Benjamin Mendelsohn: 1º vitimólogo – Professor da Universidade


Hebraica de Jerusalém – “Um horizonte novo na ciência
biopsicossocial: a vitimologia” (1947). Livro escrito após a Segunda
Guerra.
Pesquisas de vitimização: essas pesquisas tentam fazer frente a
algo que é o principal entrave metodológico à pesquisa científica no
âmbito criminológico, que é a “cifra negra/obscura”. Cifra negra é a
diferença entre os crimes efetivamente ocorridos e aqueles
comunicados às instâncias responsáveis pela sua apuração. As
pessoas dificilmente fazem B.O. de furtos, por exemplo. Mesmo no
caso do homicídio, que é o crime com menor cifra negra, não quer
dizer que os dados não sejam maquiados (quando provocados pela
própria polícia, é comum que seja registrado como “autos de
resistência”, “morte a esclarecer”).
Exemplo
ocorrido
em Rio Branco -
REFORÇANDO O CONCEITO DE CIFRA NEGRA:
Significa o número obscuro ou desconhecido de delitos praticados
todos os dias em diversos lugares, que não chegam nem mesmo
ao conhecimento das autoridades policiais; por vezes, os que
chegam, podem ser registrados, mas as apurações não
encontram o culpado; mesmo achando o suspeito, pode ser que
não seja processado por insuficiência de provas; caso seja levado
a juízo, também é viável que não seja condenado, por razões
variadas; enfim, de inúmeras infrações penais cometidas todos os
dias, somente um percentual mínimo termina em condenação e
cumprimento de pena. Essa abordagem não é específica de uma
só região ou país; a faixa obscura de crimes abrange o mundo
inteiro. (Nucci)
Então, como é possível estimar o tamanho dessa cifra negra
em determinado delito?
Ao invés de estudar os boletins de ocorrência nas delegacias,
pergunta-se às pessoas se elas já foram vítimas de
determinados crimes. Isso é a pesquisa de vitimização.

A vitimização pode ser:


 Primária: a pessoa se torna vítima a partir do momento da
prática do crime;
 Secundária: são os detrimentos impostos à pessoa pelo
sistema de justiça. É o calvário que é imposto à vítima por
conta da estrutura da justiça criminal.
 Terciária: é a estigmatização social daquela pessoa por ter
A vitimização primária seria o primeiro contato da vítima com
o cri-me, em que ela sofre a violação direta ao seu bem jurídico,
que pode ser a dignidade sexual, como exemplo no crime de
estupro, e o patrimônio, nos casos de roubo. Quando a vítima é
forçada a manter relação sexual com outra pessoa, ocorre o
crime de estupro e o bem jurídico dignidade sexual é
destroçado. Diante disso, desencadeia uma série de violações
ao patrimônio da pessoa, de ordem material, moral, física, entre
outras. Essa espécie de violação traz para a vítima os mais
variados transtornos e faz-se presente em qualquer crime, pois
todo tipo penal tutela um determinado bem jurídico. É mais
comum as vitimizações serem percebidas em crimes como os
citados acima (estupro e roubo), pois há um ataque severo ao
bem jurídico tutelado e as consequências nas demais
vitimizações são mais nítidas. (Christiano Gonzaga)
A vitimização secundária, notoriamente sentida pela atuação
das instituições estatais (controles sociais formais) ante um
crime, ocorre quando a vítima vai procurar ajuda estatal diante da
prática da infração penal sofrida por ela. Ao chegar a uma
Delegacia de Polícia em que os agentes públicos, em certos
casos, não possuem o necessário preparo para o seu
acolhimento, ela é novamente vitimizada, o que é chamado
também de sobrevitimização.
Toma-se por exemplo o crime de estupro, em que a vítima que
acabou de sofrer esse ataque brutal ao seu bem jurídico vai até
uma Autoridade Policial pedir ajuda. Todavia, como se estivesse
lidando com mais um crime qualquer, manda, de forma ríspida,
que ela vá até o Instituto Médico-Legal fazer o exame de corpo
de delito para comprovar a prática do crime em tela.
Muitas vezes são Delegados de Polícia que não entendem a natureza
feminina que fora despedaçada e, em vez de fazer uma acolhida inicial,
tratam a vítima como um pedaço de carne, ou seja, coisificam a sua
pessoa.

É nesse sentido que Rio Branco-AC, por exemplo, priorizou dentro da


estrutura das delegacias, que as Delegacias de Atendimento à Mulher e à
criança e adolescente ficassem sob a coordenação de delegadas mulheres.

Da mesma forma, perceber através da análise empírica da Criminologia a


existência da vitimização secundária, permite que o Legislador aprimore as
leis, adequando-as aos anseios atuais da sociedade.

Ex.: LEI N. 13.431/2017 - DA ESCUTA ESPECIALIZADA E DO


DEPOIMENTO ESPECIAL
A vitimização terciária consiste no isolamento que a
sociedade impõe à vítima diante da prática do crime a que
ela foi submetida, como o estupro. Nesse tipo de infração
penal, é comum a vítima ser tratada com preconceito e ser
alijada do convívio social, uma vez que muitas pessoas
tendem a comentar o crime ocorrido e chegam até mesmo a
atribuir parce-la de culpa à vítima.
A fim de ilustrar tal espécie de vitimização, cumpre ressaltar
o episódio ocorrido no Rio de Janeiro, em que uma garota
foi vítima do chamado “estupro coletivo”, onde vários
homens revezaram entre si durante alguns dias mantendo
relações sexuais forçadas com ela, em típico caso de
estupro coletivo de vulnerável, eis que a vítima contava com
apenas 12 (doze) anos.
Após o ocorrido, foi comentário geral nas redes sociais e na
comunidade em que a vítima morava de que ela teria sido
parcialmente culpada pelo ocorrido, uma vez que já teria feito
tal prática anteriormente e não tinha reclamado na Polícia.
Ademais, ela também mantinha relacionamento amoroso com um
dos envolvidos e de forma sistemática frequentava bailes funk
em que tal prática era corriqueira.
Para pensar: como a sociedade que culpabiliza a vítima, menor
de idade, assume/assente, que uma criança de 12 (doze) anos é
capaz de manter um relacionamento amoroso?
A imprensa também tem sua parcela de culpa na estigmatização das
vítimas ou autores de delitos.
 Controle social
O controle social não se resume à repressão penal (prisão e
polícia), podendo ser:
 Informal: fonte não estatal (família, escola igreja, local de
trabalho).
 Formal: proveniente de fonte estatal (Polícia, Ministério
Público e o Poder Judiciário);
 Formal não violento: iluminação pública, patrulha amiga
Teoria do etiquetamento social ou labelling approach
O crime e o criminoso surgem dessa relação social em que se
etiquetam as mais variadas classes sociais, é um tipo de
rotulagem contribui também para a formação de uma
seletividade e estigmatização da classe criminosa.
A seletividade do sistema penal ocorre em relação aos pobres
porque a sociedade é preconceituosa e, principalmente, por
causa da vulnerabilidade social.
É nesse contexto de etiquetamento e interacionismo que surge o
estudo dos chamados controles sociais formais e informais.
Existem certos padrões sociais considerados corretos ou
de acordo com as expectativas sociais. Tudo aquilo que é
contrário às expectativas sociais pode ser conceituado
como conduta desviada, uma vez que sairia do padrão
imposto pelos controles sociais.
O complexo é apenas definir o que vem a ser o
“comportamento adequado” num dado momento
histórico, pois ele pode variar de acordo com os anseios
sociais.
Os controles sociais podem gerar uma insatisfação de
algum integrante da sociedade, que entende como errôneos
os papéis sociais impostos a ele.
Daí, pode surgir o crime, que é a forma mais grave de
alguém rebelar-se contra o sistema social.
Existem outras formas de insatisfação com o sistema consideradas mais
brandas.
Essas não geram consequências gravosas, mas são formas, sim, de
insatisfação com o sistema, ainda que ocorram de forma corriqueira,
automatizada. Muitas vezes pode ser confundida apenas com mera falta de
educação.
Exemplo: não respeitar fila de caixa de supermercado; estacionar em vaga
exclusiva para idoso ou pessoa com deficiência.
O importante é saber que todos estão sujeitos aos controles sociais
existentes, devendo a obediência ser a regra, sob pena de restar
impossível a coexistência numa sociedade organizada.
O controle social informal explica o comportamento delinquente de acordo
com as regras sociais, sem a intervenção do Estado.
São espécies de controles sociais informais a escola, a família, a
igreja, a opinião pública, local de trabalho. Normalmente estão
relacionados a um sentimento de vida em comunidade.

Escola X bulling
Quem não se encaixa no grupo dominante sofre as mais variadas
discriminações, ocorrendo o fenômeno mais atual nas escolas, que é o
bullying, conceituado como atos de violência física ou psicológica
intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de
indivíduos, causando dor e angústia e sendo executados dentro de uma
relação desigual de poder.
Situações em que o bulling é desencandeador de práticas delitivas graves:
- Massacres em escolas: Columbine (EUA) e Realengo/RJ.
Esse tipo de relação está intimamente ligado ao labelling approach ou
teoria do etiquetamento, em que se rotula a pessoa como o “popular” ou
“impopular”, desencadeando péssimos conflitos psicológicos e até
mesmo casos de depressão em jovens que buscam a todo custo pertencer
ao chamado grupo dominante.

Uma vez inseridos no círculo dos mais populares, passam a subjugar,


humilhar e discriminar os que ficaram foram do aludido círculo e, por fim,
chegam até mesmo a cometerem crimes ou serem vítimas de massacres
como já exposto acima.

A Criminologia explica que esse tipo de comportamento deve ser


evitado e vigiado desde cedo.
Igreja

Os comportamentos tidos como corretos são salutares e permitem que as


pessoas sigam práticas virtuosas. Todavia, alguns desvios e abusos são
cometidos dentro do próprio local onde se exerce a liberdade de culto e de
religião, o que torna o exemplo bem negativo, podendo influenciar o
comportamento futuro daqueles que foram abusados.

Crimes sexuais cometidos por líderes religiosos

Indicação de podcast:
O abuso da fé, com Cristina Fibe. Autora do livro: João de Deus: O
abuso da fé.
Opinião pública (imprensa)

Muitos programas jornalísticos, notadamente os de cunho policial, tacham


as pessoas de delinquentes conforme as condutas praticadas, muitas
vezes antes mesmo de qualquer processo criminal com trânsito em
julgado.
A opinião pública exerce papel fundamental na formação da convicção
acerca do comportamento do indivíduo, o que é perigoso, pois uma análise
malfeita ou incompleta pode gerar danos permanentes na vida de uma
pessoa, sendo praticamente impossível restaurar sua condição anterior.
Esse tipo de situação cria um criminoso sem que ele de fato o seja, o
que constitui uma importante ferramenta de análise para a Criminologia,
que deve fazer as devidas críticas sobre esses comportamentos
considerados desviados pela opinião pública.  
Controles sociais formais - Exercidos sob a influência e a coordenação
do Estado. São, em suma, repressivos.

Os principais estudados na área da Criminologia são a Polícia, o


Ministério Público e o Poder Judiciário, inclusive em inúmeros
concursos para Promotor de Justiça, Defensor Público e Delegados
Federal e Civil tal tópico está previsto nos editais de ingresso.

Polícia – primeira fonte de definição de quem é o criminoso. Também


reconhecida por ser a PRIMEIRA SELEÇÃO DO CONTROLE SOCIAL
REPRESSIVO
Polícia Militar faz as abordagens e a Polícia Civil (Judiciária) é responsável
por fazer as investigações: ouvir vítimas, testemunhas, o acusado e toda a
condução do Inquérito Policial.
Discriminação e preconceito nas abordagens policiais – diferença no
trato da abordagem entre brancos e pretos/pardos, por exemplo.
Diferença na forma que se adentra numa comunidade em
comparação à chegada num condomínio de luxo. Há estigmatização e
preconceito a todo momento.

Neste ponto é importante destacar a divulgação que a mídia faz das


operações policiais, notadamente aqueles jornais televisivos de cunho
apelativo, em que se acompanham de perto e ao vivo as diligências
policiais. A sociedade passa a rotular aquela pessoa pega na
diligência como sendo um marginal, expressão esta curiosa e que
representa aquele que está fora das condutas tidas como corretas
pelo controle social, ou seja, vive às margens daquilo que é tido
como correto pelo senso comum
Ministério Público – atualmente, se evita carregar nos pareceres
ministeriais expressões preconceituosas. O Promotor de justiça, sobretudo
aquele que atua na seara criminal, incluindo o Tribunal do Júri, deve atuar
nos limites estreitos da lei, sob pena de incorrer nas condutas da nova Lei
de Abuso de Autoridade (Lei n. 13.869/2019).

Exemplo de conduta:
Art. 28.  Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a
prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida
privada ou ferindo a honra ou a imagem do investigado ou acusado:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Art. 30.  Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou
administrativa sem justa causa fundamentada ou contra quem sabe
inocente: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Poder Judiciário – o Juiz deve procurar sempre proferir suas decisões de
forma objetiva, nos ditames do que diz a lei, para evitar rotular alguém
como criminoso ou marginal (à margem).

Ainda assim, as sentenças criminais condenatórias, mesmo após o seu


cumprimento integral, deixam o seu rastro na pessoa do condenado, pois
este será conhecido e reconhecido nas ruas pelo crime que praticou e foi
condenado.

Os chamados controles sociais formais e informais criam e rotulam


os criminosos, pois são eles que capitulam quem são as pessoas que
estão tendo comportamentos desviados dos padrões sociais
adequados, sendo tal objeto da Criminologia bastante estudado para
uma perfeita compreensão do fenômeno da criminalidade

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