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PROCESSOS DE VITIMIZAÇÃO

Tema sempre cobrado em concursos públicos refere-se aos processos de vitimização.


Assim como o Direito Penal se importa com as etapas percorridas pelo criminoso (iter criminis
– caminho/etapas do crime), a Vitimologia se interessa em analisar todo o processo pelo qual a
vítima percorre ou é direcionada, passando por diversas etapas distintas em que é vitimizada.
O conjunto de etapas percorridas pela vítima no processo de vitimização chamados de iter
victimae.
O processo de vitimização compreende todas as etapas em que a vítima de uma infração
penal sofre direta e indiretamente do evento delituoso, alcançando, inclusive, o sofrimento de
terceiros vinculados à vítima. A seguir, passaremos a estudar cada etapa desse processo.

Vitimização Direta

Vitimização Direta consiste no sofrimento suportado pela vítima diretamente atingida por
uma conduta criminosa/ ilegal ou de seus desdobramentos.
Trata-se de gênero, segundo a qual são espécies: vitimização primária, secundária e
terciária:

Vitimização Primária

Decorre de um delito violador de direitos da vítima, podendo causar danos de ordem


patrimonial, psicológico, físico, moral, etc. Trata-se do momento/etapa em que a vítima sofre
diretamente os impactos da conduta do delinquente.

Exemplo: Mulher estuprada por perigoso delinquente.


.
Vitimização Secundária (Sobrevitimização/Revitimização)

Etapa que decorre do Sistema Criminal de Justiça. Trata-se do constrangimento suportado


pela vítima diante dos procedimentos regulares (ou irregulares) das instâncias formais de
controle social (polícias, ministério público, poder judiciário, etc.)
No caso dos procedimentos regulares das instâncias formais de controle, basta qualquer ato
em que a vítima seja constrangida a relembrar o episódio criminoso que a vitimou.
Já na hipótese de procedimentos irregulares, podemos falar em abusos, excessos e falta de
respeito praticados por agentes públicos contra a vítima.
A Vitimização Secundária é também chamada de Sobrevitimização e de Revitimização (esta
última, inserida na Lei Maria da Penha por meio da Lei nº 13.505/2017).

Exemplo: vítima em audiência (procedimento regular) constrangida a relembrar detalhes do


crime de estupro em que foi vitimada.

Exemplo: Delegado de polícia que presta péssimo atendimento à vítima que acabou de ser
estuprada, sugerindo, inclusive, que a vítima teria se insinuado ao estuprador, tratando-a como
um objeto.

Questão:

(PC/SP – AGENTE POLICIAL – VUNESP – 2018) Assinale a alternativa correta no que diz respeito
aos estudos desenvolvidos no âmbito da vitimologia:
a) O preconceito posterior à prática do crime que recai sobre a vítima, em crimes sexuais,
por parte da sociedade em geral e que contribui para a subnotificação deste tipo de crime
é denominado de vitimização primária.
b) Pesquisas de vitimização devem, paulatinamente, substituir os indicadores criminais
baseados em registros de crimes.
c) Os estudos, as teorias e as classificações desenvolvidos no âmbito da vitimologia
demonstram que a conduta da vítima não pode ser indicada como fator que, de algum
modo, contribui para a prática do crime.
d) Uma das grandes contribuições do atual estágio de desenvolvimento da vitimologia foi
demonstrar que o fenômeno da subnotificação é um mito e praticamente insignificante
em termos quantitativos.
e) O aumento do número de crimes investigados e processados pode ocasionar uma maior
vitimização secundária.

(PC/SP – ESCRIVÃO – VUNESP – 2013) Entende-se por sobrevitimização:


a) a vitimização secundária, a qual consiste em sofrimento causado à vítima pelas instâncias
formais da justiça criminal.
b) a vitimização secundária, a qual consiste em efeitos decorrentes do crime, como, por
exemplo, o dano patrimonial, físico e moral sofridos pela vítima, como consequência do
crime.
c) a vitimização primária, a qual consiste em discriminação oriunda do círculo de
relacionamentos familiares e sociais da vítima, em razão do delito.
d) a vitimização primária, a qual consiste em efeitos decorrentes do crime, como, por
exemplo, o dano patrimonial, físico e moral sofridos pela vítima, como consequência do
crime.
e) a vitimização terciária, a qual consiste em discriminação oriunda do círculo de
relacionamentos familiares e sociais da vítima, em razão do delito.

(PC-PI – DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – NUCEPE – 2018) Sobre a Vitimologia, assinale a


alternativa CORRETA:
a) de acordo com a classificação das vítimas, formulada por mendelsohn, a vítima simuladora
é aquela que voluntária ou imprudentemente, colabora com o ânimo criminoso do
agente.
b) é denominada terciária a vitimização que corresponde aos danos causados à vítima em
decorrência do crime.
c) de acordo com a onu, apenas são consideradas vítimas as pessoas que, individual ou
coletivamente, tenham sofrido lesões físicas ou mentais, por atos ou omissões que
representem violações às leis penais, incluídas as leis referentes ao abuso criminoso do
poder.
d) o surgimento da vitimologia ocorreu no início do século xviii, com os estudos pioneiros de
hans von hentig, seguido por mendelsohn.
e) é denominada secundária a vitimização causada pelas instâncias formais de controle
social, no decorrer do processo de registro e apuração do crime.

Vitimização Terciária

A Vitimização Terciária decorre da omissão, de toda a falta de amparo, ou da humilhação por


parte de órgãos estatais e até de pessoas e grupos próximos da vítima, como a família, amigos,
colegas de trabalho, de igreja, etc., em ajudá-la.
A falta de amparo ou insinuações descabidas contra a vítima poderá fazer com que o fato
não seja registrado nos órgãos competentes (Delegacia ou MP), acarretando naquilo que se
convencionou chamar de “Cifra Negra” ou “Cifra Oculta” (crimes que não são levados ao
conhecimento dos registros oficiais).

Exemplos: após estupro, familiares incentivam a vítima a “deixar pra lá”, seja porque
acreditam que o culpado não será encontrado ou punido, seja por entenderem que a persecução
penal irá expor ainda mais a vítima; Delegado de Polícia que se nega em registrar a ocorrência
de um crime por não acreditar na vítima; “amigos” que viram as costas para a vítima após o
crime, momento em que mais carecia de amparo, etc.

Questão:

(PC/SP – INVESTIGADOR – VUNESP – 2022) A própria sociedade não acolhe a vítima e muitas
vezes a incentiva a não denunciar o delito às autoridades, ocorrendo o que se chama de cifra
negra. É correto afirmar que o enunciado refere-se à:
a) Escola positiva.
b) Escola clássica.
c) Vitimização secundária.
d) Vitimização terciária.
e) Vitimização inocente.

(PC/SP – INVESTIGADOR – VUNESP – 2014) Quando ocorre a falta de amparo da família, dos
colegas de trabalho e dos amigos, e a própria sociedade não acolhe a vítima, incentivando-a a
não denunciar o delito às autoridades, ocorrendo o que se chama de cifra negra, está-se diante
da vitimização:
a) caracterizada.
b) secundária.
c) descaracterizada.
d) primária.
e) terciária.

(PC/SP – INVESTIGADOR – VUNESP – 2013) Entende(m)-se por vitimização terciária:


a) os danos materiais e morais diretamente causados pelo delito, em face da vítima.
b) a conduta de terceiros ou de eventos oriundos da natureza.
c) o aborrecimento e o temor causados pela necessidade de comparecer aos órgãos
encarregados de persecução criminal para o formal registro da ocorrência bem como para
a indicação de seu algoz.
d) a discriminação que a vítima recebe de seus familiares, amigos e colegas de trabalho, em
forma de segregação e humilhação, por conta do delito por ela sofrido.
e) a sobrevitimização, como o suicídio ou a autolesão.

(PC/SP – ESCRIVÃO – VUNESP – 2014) Uma vítima que, ao querer registrar uma ocorrência,
encontra resistência ou desamparo da família, dos colegas de trabalho e dos amigos, resultando
num desestímulo para a formalização do registro, ocasiona o que é chamado de “cifra negra”.
Neste caso, estamos diante da vitimização:
a) primária.
b) secundária.
c) quaternária.
d) quintenária.
e) terciária.

Vitimização Quaternária

A Vitimização Quaternária é caracterizada a partir do medo e da insegurança psicológica que


alguém pode ter de se tornar vítima de crime. Mais do que um mero temor individual, a
vitimização quaternária se destaca por conta do medo generalizado na sociedade diante dos
alardes – especialmente midiáticos – da ocorrência desenfreada de crimes (por vezes, sem as
devidas explicações sobre as respectivas causas, motivações, etc.).
Logo, a vitimização quaternária pode ocorrer de duas formas:
❖ Pessoa que já foi vítima de crime ou é próxima de alguma vítima e, por conta do
episódio traumático passa a apresentar sentimento de insegurança, medo ou temor
de se tornar vítima.

Exemplo: pessoa que passa a ter medo de caminhar na rua do bairro onde mora diante do
medo de ser vítima de roubo.

❖ Insegurança gerada em parte da sociedade diante de notícias da mídia – por vezes


exageradas e sensacionalistas – de que determinada região está cada vez mais
perigosa, ou de que há cada vez mais golpes pela internet, etc.

Exemplo: Indivíduo que tem medo de realizar compras pela internet diante das inúmeras
notícias de que cada vez mais pessoas tornam-se vítimas de estelionato, de clonagem de cartões
de crédito, de subtração de informações pessoais, etc.

Vitimização Indireta

Perceba que todas as formas de vitimização direta (primária, secundária e terciária), temos
como personagem objeto de análise a pessoa que sofre diretamente da conduta do delinquente.
Ao falarmos de Vitimização Indireta, passamos a olhar as demais pessoas relacionadas por meio
de algum vínculo de afeto com a vítima do crime.
É muito comum que em determinados crimes, diante da enorme repercussão, traumas
psicológicos, dentre outras consequências suportadas pela vítima, acabe gerando sofrimento
em terceiros próximos à vítima (pais, irmãos, cônjuge, filhos, etc.).

Exemplo: pais que sofrem inconsolavelmente ao receberem a notícia de que sua filha fora
vítima de crime de estupro.

Heterovitimização

Consiste em um sentimento de culpa, de autorrecriminação, suportado pela vítima de um


crime, por acreditar que com algum comportamento negligente acabou por dar causa à
ocorrência do crime.
Ou seja, a vítima deixa em segundo plano a responsabilidade pessoal do delinquente e passa
a se culpar pelo evento criminoso sofrido, recriminando-se pelo fato de ter sido vítima.
Exemplos: vítima de furto se sente culpada por ter deixado a porta do carro aberta; vítima
de estelionato se sente culpada por ter assinado cheques em branco, vítima de assalto se sente
culpada por ter transitado com roupas caras em bairro considerado perigoso, vítima de estupro
se sente culpada por ter vestido roupas curtas na presença do estuprador, etc.

Questão:

(PC/SP – PAPILOSCOPISTA – VUNESP – 2018) A __________ é a autorrecriminação da vítima


pela ocorrência do crime contra si, buscando razões que, possivelmente, tornaram-na
responsável pelo delito:
a) vitimização terciária.
b) heterovitimização.
c) vitimização primária.
d) vitimização secundária.
e) sobrevitimização.

(PC/SP – INVESTIGADOR – VUNESP – 2014) A autorrecriminação da vítima pela ocorrência de


um crime, por meio da busca por causas que, eventualmente, tornaram-na responsável pelo
delito, é denominada:
a) homovitimização.
b) heterovitimização.
c) vitimização primária.
d) vitimização secundária.
e) vitimização terciária.

Vitimização Difusa

Esta espécie é comum em crimes que não apresentam vítimas certas e determinadas.
Temos crimes em nosso ordenamento jurídico que destacam entes coletivos como sujeitos
passivos (meio ambiente, relações de consumo, economia popular, etc.).

Exemplo: prática de propaganda enganosa, crimes ambientais, crime de prevaricação, etc.

Tendência de “criminalização da vítima”

Cediço que no dia a dia da justiça criminal, não raras vezes nos deparamos com casos em que
a linha de “defesa” mais utilizada por acusados (quando não a única) é o ataque contra a vítima,
imputando-lhe a responsabilidade do crime sofrido.
Trata-se de verdadeiro e vexatório artifício utilizado pelo acusado durante o processo penal,
visando sugerir a ideia de que a vítima teria contribuído ou seria a responsável pelo crime.

Exemplo: marido que afirma que a esposa pediu para apanhar ou mereceu por
comportamentos anteriores; estuprador diz que manteve relações sexuais com vítima que o
teria seduzido; etc.

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