Você está na página 1de 15

Vitimologia – Parte 2

Mariana Barreiras
Vitimologia – Parte 2
@profmaribarreiras
Vitimização direta x indireta
• Vitimização direta: a vítima direta é aquela que sofre diretamente os
efeitos de um delito. Num furto, por exemplo, a vítima direta é a
proprietária do bem.
• Vitimização indireta: a vítima indireta é aquela que, por ter alguma
relação com a vítima direta, acaba sofrendo indiretamente as
consequências do crime.
• Nos crimes de feminicídio é muito comum que os filhos sejam vítimas indiretas,
tanto pelo fato de perderem a mãe, como pelo fato de presenciarem o crime.
• A grande maioria dos crimes de feminicídio é cometida no local de residência da
mulher e em muitos casos o delito é praticado na presença de outros moradores
do lar.
• O legislador incluiu, em 2018, uma causa de aumento de pena – de 1/3 até a
metade – para o feminicídio praticado na presença física ou virtual de descendente
ou ascendente da vítima (Art. 121, §7º, inciso III, do Código Penal).
Vitimização 1ª, 2ª , 3ª e 4ª
• Vitimização Primária: é aquela em que o sujeito é atingido pela prática
do crime ou de um fato traumático.
• Vitimização Secundária (sobrevitimização, revitimização): é aquela em
que a vítima primária é objeto da insensibilidade, do desinteresse e da
atuação meramente burocrática dos operadores do sistema criminal
estatal.
Vitimização Secundária
• Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) é frequentemente citada como
exemplo de ato normativo que se preocupa com a diminuição dos
efeitos da vitimização secundária.
• Seu art. 10-A, prevê, desde 2017, alguns dispositivos para, expressamente, evitar
a revitimização da depoente.
• Direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento
policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores
previamente capacitados, preferencialmente do sexo feminino. Devem ser
evitadas sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e
administrativo, bem como questionamentos sobre a vida privada. Por isso, o
depoimento deve ser registrado em meio eletrônico ou magnético, e a
degravação e a mídia devem integrar o inquérito.
• ECA: revitimização da criança e do adolescente é um tipo de violência
institucional que deve ser evitada.
Vitimização Secundária
• Lei Mariana Ferrer (Lei nº 14.245/21)
• Nas audiências de instrução e julgamento, na instrução em plenário do júri e
nos procedimentos sumariíssimos:
• todas as partes e demais sujeitos processuais presentes no ato deverão zelar
pela integridade física e psicológica da vítima, sob pena de responsabilização
civil, penal e administrativa, cabendo ao juiz garantir o cumprimento do
disposto neste artigo, vedadas:
• I - a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto de apuração
nos autos;
• II - a utilização de linguagem, de informações ou de material que ofendam a dignidade da
vítima ou de testemunhas.
Vitimização Secundária
• Lei 14.321/2023 alterou a Lei dos crimes de abuso de autoridade

“Violência Institucional
Art. 15-A. Submeter a vítima de infração penal ou a testemunha de crimes
violentos a procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos, que a leve a
reviver, sem estrita necessidade:
I - a situação de violência; ou
II - outras situações potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Se o agente público permitir que terceiro intimide a vítima de crimes
violentos, gerando indevida revitimização, aplica-se a pena aumentada de 2/3
(dois terços).
§ 2º Se o agente público intimidar a vítima de crimes violentos, gerando indevida
revitimização, aplica-se a pena em dobro.”
Vitimização Terciária
• Vitimização terciária: não há consenso.
• Para alguns, ocorre quando a vítima primária do crime é abandonada ou
ridicularizada em seu meio social (Vunesp e FCC).
• Para um terceiro grupo (Shecaira), a vitimização terciária não atinge a
vítima primária do crime, mas sim o seu autor, que recebe um sofrimento
excessivo, como tortura, apedrejamento, linchamento, ou responde a
processos que não deveriam ter sido a ele imputados.
Vitimização Quaternária
• É o medo irracional de se tornar vítima de um delito, que se
internaliza pela falsa percepção da realidade a partir das
informações veiculadas pela mídia.
• Nem sempre tememos realmente as pessoas mais perigosas, nem
temos noção dos índices reais da criminalidade dentro do contexto
de cada lugar
Seletividade da vitimização
• O risco de vitimização é seletivo e diferencial.
• Alguns grupos populacionais e segmentos sociais são
particularmente propensos à vitimização, seja ela primária,
secundária ou terciária.
• Fatores pessoais, sociais e situacionais atuam para desenhar um
maior ou menor prognóstico de vitimização.
• Minorias e grupos marginalizados atraem uma parcela significativa
de delitos.
• No Brasil, isso é facilmente observável nos delitos violentos.
• Os jovens negros são as principais vítimas de homicídio.
Cifras da criminalidade
• Taxas de subnotificação criminal são muito significativas em uma série de
delitos, como crimes sexuais, corrupção policial, estelionato.
• Para suprir essa lacuna, uma das medidas é empregar pesquisas de
vitimização:
• Feitas com grande amostra de pessoas de um grupo social
• Questiona-se se foram vítimas de algum delito em certo marco temporal.
Cifras da criminalidade
• Cifra negra: diferença entre a criminalidade real – isto é, a
totalidade de delitos praticados – e a criminalidade
conhecida ou revelada.
• Cifra dourada: criminalidade do colarinho branco que não
chega ao conhecimento das instâncias de controle social
formal.
• Cifra cinza: crimes que são de conhecimento das instâncias
policiais, mas que não chegam a virar um processo penal.
• Cifra amarela: casos em que as vítimas sofrem algum tipo
de violência praticada por servidor público e deixam, por
temor, de denunciar o ilícito às unidades competentes pela
apuração.
• Cifra verde: delitos que têm por objeto o meio ambiente e
que não chegam ao conhecimento policial ou não são
processados porque impossível tentar descobrir a autoria.
• Cifra rosa: crimes de caráter homofóbico que não chegam
ao conhecimento das autoridades.
Cifras da criminalidade
• Cifra azul: crimes praticados pelas classes
desfavorecidas. O azul remete às cores dos
uniformes e camisas dos trabalhadores
das classes marginalizadas.
• Cifra branca: Trata-se dos crimes
efetivamente solucionados, que
passaram por todas as etapas da
persecução penal, independentemente de
haver uma condenação.
• Cifra vermelha: homicídios praticados
pelos assassinos em série, cujo modus
operandi se repete e funciona como
assinatura do criminoso.
@profmaribarreiras

Você também pode gostar