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CRIMINOLOGIA

Vitimologia II
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VITIMOLOGIA II
Vitimização direta x indireta

Vitimização direta: a vítima direta é aquela que sofre diretamente os efeitos de um


delito. Num furto, por exemplo, a vítima direta é a proprietária do bem.
Vitimização indireta: a vítima indireta é aquela que, por ter alguma relação com a
vítima direta, acaba sofrendo indiretamente as consequências do crime. Exemplo: nos
crimes de feminicídio é muito comum que os filhos sejam vítimas indiretas, tanto pelo
fato de perderem a mãe, como pelo fato de presenciarem o crime.
A grande maioria dos crimes de feminicídio é cometida no local de residência da
mulher e, em muitos casos, o delito é praticado na presença de outros moradores do lar.
O legislador incluiu, em 2018, uma causa de aumento de pena – de 1/3 até a metade –
para o feminicídio praticado na presença física ou virtual de descendente ou ascendente
da vítima (Art. 121, §7º, inciso III, do Código Penal).

Vitimização primária, secundária, terciária e quaternária

Vitimização Primária: é aquela em que o sujeito é atingido pela prática do crime ou


de um fato traumático.

Vitimização Secundária (sobrevitimização, revitimização): é aquela em que a vítima


primária é objeto da insensibilidade, do desinteresse e da atuação meramente burocrá-
tica dos operadores do sistema criminal estatal.
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São custos adicionais impostos à vítima primária em função da atuação das instân-
cias de controle social formal: espera em delegacia, tomada de depoimento, desrespeito
à privacidade (procedimentos invasivos, perguntas sobre sua vida pessoal), compare-
cimento a inúmeros atos processuais, identificação dos suspeitos, procedimentos de
perícia etc. A vítima se sente maltratada e negligenciada pelo sistema legal, que não
dispensa um tratamento condizente com seu papel e que, por vezes, desconfia de seu
relato ou a responsabiliza pelo delito sofrido.
É também chamado de “coisificação/reificação da vítima”.

Essa é a espécie de vitimização mais cobrada nas provas de concurso público.

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A Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006) é frequentemente citada como exemplo de


ato normativo que se preocupa com a diminuição dos efeitos da vitimização secundária.
Seu art. 10-A, prevê, desde 2017, alguns dispositivos para, expressamente, evitar a
revitimização da depoente.
Existe também a previsão de que a mulher em situação de violência doméstica e
familiar tem direito ao atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e pres-
tado por servidores previamente capacitados, preferencialmente do sexo feminino.
Além disso, devem ser evitadas sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbi-
tos criminal, cível e administrativo, bem como questionamentos sobre a vida privada.
Por isso, o depoimento deve ser registrado em meio eletrônico ou magnético, e a degra-
vação e a mídia devem integrar o inquérito para evitar que a vítima tenha que reviver a
dor a cada vez que relata o caso.
ECA: determina que a revitimização da criança e do adolescente é um tipo de violên-
cia institucional que deve ser evitada.
Lei Mariana Ferrer (Lei n. 14.245/21): Nas audiências de instrução e julgamento,
na instrução em plenário do júri e nos procedimentos sumariíssimos todas as partes e
demais sujeitos processuais presentes no ato deverão zelar pela integridade física
e psicológica da vítima, sob pena de responsabilização civil, penal e administrativa,
cabendo ao juiz garantir o cumprimento do disposto neste artigo, vedadas:
I – a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto de
apuração nos autos;
II – a utilização de linguagem, de informações ou de material que ofendam a digni-
dade da vítima ou de testemunhas.
A tramitação da lei foi impulsionada pela humilhação e pelo sofrimento sofridos por
Mariana Ferrer no curso do processo em que se apurava suposta denúncia de violência
sexual por ela sofrida. Em uma das audiências de julgamento, o advogado do réu exibiu
fotos de Mariana Ferrer que não tinham qualquer conexão com os fatos discutidos nos
autos, alegando que ela estava em posições ginecológicas; disse à vítima que jamais teria
uma filha do seu nível, e que suas lágrimas naquela audiência eram dissimuladas, tudo
na tentativa de diminuir a credibilidade de suas palavras.
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Lei n. 14.321/2023 alterou a Lei dos crimes de abuso de autoridade “Violência Institucional”.
Art. 15-A. Submeter a vítima de infração penal ou a testemunha de crimes violen-
tos a procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos, que a leve a reviver, sem
estrita necessidade:
I – a situação de violência; ou
II – outras situações potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

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§ 1º Se o agente público permitir que terceiro intimide a vítima de crimes violentos,


gerando indevida revitimização, aplica-se a pena aumentada de 2/3 (dois terços).
§ 2º Se o agente público intimidar a vítima de crimes violentos, gerando indevida
revitimização, aplica-se a pena em dobro.”

Vitimização Terciária

Vitimização terciária: não há consenso.


Para alguns, ocorre quando a vítima primária do crime é abandonada ou ridiculari-
zada em seu meio social (pela comunidade, familiares, amigos etc.). Exemplo: abandono
doa familiares em razão de um estupro sofrido pela filha.

Essa é a linha de pensamento adotada pelas bancas Vunesp e FCC.

Para um outro grupo (Shecaira), a vitimização terciária não atinge a vítima primá-
ria do crime, mas sim o seu autor, que recebe um sofrimento excessivo, como tortura,
apedrejamento, linchamento, ou responde a processos que não deveriam ter sido a ele
imputados. Seria, portanto, a vitimização excessiva do vitimizador/autor do crime.

Essa é uma corrente minoritária.

Vitimização Quaternária
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É o medo irracional de se tornar vítima de um delito, que se internaliza pela falsa


percepção da realidade a partir das informações veiculadas pela mídia.
Nem sempre se teme realmente as pessoas mais perigosas, nem se tem noção dos
índices reais da criminalidade dentro do contexto de cada lugar.

Obs.: como esse conhecimento sobre a vitimologia é relativamente novo, ainda há muitas
variações no entendimento de cada classificação a depender do teórico que está
sendo adotado. Exemplo: alguns autores defendem que a vitimização quaternária
seria simplesmente o medo de ser vítima de um crime. Outros autores defendem
que é o medo decorrente de um crime que a pessoa já sofreu. Exemplo: a pessoa
foi assaltada à noite em um ponto de ônibus e então ela fica com um medo muito
significativo de passar novamente por aquilo.

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MAPA RESUMO:

Seletividade da vitimização

O risco de vitimização é seletivo e diferencial.


Alguns grupos populacionais e segmentos sociais são particularmente propensos à
vitimização, seja ela primária, secundária ou terciária.
Fatores pessoais, sociais e situacionais atuam para desenhar um maior ou menor
prognóstico de vitimização.

Obs.: algumas questões de prova questionaram se o risco de se tornar a vítima de um


crime era distribuído de forma igualitária entre os grupos populacionais.

Minorias e grupos marginalizados atraem uma parcela significativa de delitos.

Obs.: há uma forte representação de negros como maiores vítimas de todos os delitos
violentos.

No Brasil, isso é facilmente observável nos delitos violentos.


Os jovens negros são as principais vítimas de homicídio.

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Cifras da criminalidade
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Taxas de subnotificação criminal são muito significativas em uma série de delitos,


como crimes sexuais, corrupção policial, estelionato. As pessoas deixam de denunciar, de
iniciar uma persecução penal pelos mais diversos motivos, sendo possível citar: vergo-
nha, medo do autor do crime, resolução satisfatória na esfera privada etc.
Para suprir essa lacuna, uma das medidas é empregar pesquisas de vitimização feitas
com grande amostra de pessoas de um grupo social e questionando se foram vítimas de
algum delito em certo marco temporal.
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Cifra negra/obscura: diferença entre a criminalidade real – isto é, a totalidade de
delitos praticados – e a criminalidade conhecida ou revelada.
Existem alguns crimes específicos em que a subnotificação tende a 0. É o exemplo do
furto ou roubo de veículos assegurados, em que a denúncia é ato essencial para poder
acionar o seguro.
Cifra dourada: criminalidade do colarinho branco que não chega ao conhecimento
das instâncias de controle social formal. É o crime dos poderosos que fica desconhecido.

Obs.: algumas bancas, como a Vunesp, utilizam muito a cifra dourada como sinônimo
de criminalidade do colarinho branco. O candidato deve ter jogo de cintura ao
avaliar as alternativas.

Cifra cinza: crimes que são de conhecimento das instâncias policiais, mas que não
chegam a virar um processo penal.
Cifra amarela: casos em que as vítimas sofrem algum tipo de violência praticada por
servidor público e deixam, por temor, de denunciar o ilícito às unidades competentes
pela apuração.
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Cifra verde: delitos que têm por objeto o meio ambiente e que não chegam ao conhe-
cimento policial ou não são processados porque impossível tentar descobrir a autoria.
Cifra rosa: crimes de caráter homofóbico que não chegam ao conhecimento das autoridades.

Obs.: já houve menção dessa cifra rosa como sendo a “cifra arco-íris” para os crimes de
caráter homofóbico, enquanto a rosa seria os crimes contra as mulheres.

Cifra azul: crimes praticados pelas classes desfavorecidas. O azul remete às cores
dos uniformes e camisas dos trabalhadores das classes marginalizadas. É o oposto do
crime de colarinho branco.
Cifra branca: Trata-se dos crimes efetivamente solucionados, que passaram por
todas as etapas da persecução penal, independentemente de haver uma condenação.

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Cifra vermelha: homicídios praticados pelos assassinos em série, cujo modus ope-
randi se repete e funciona como assinatura do criminoso.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Concursos, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Mariana Barreiras.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do con-
teúdo ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela lei-
tura exclusiva deste material.

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