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Sumário
Vitimologia ................................................................................................... 4
Contribuições da vitimologia ............................................................................ 6
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NOSSA HISTÓRIA
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Direitos Humanos e Vitimologia
Dentre as ciências que orbitam o Direito Penal e, por conseguinte auxiliam sua
prática e desenvolvimento, a Vitimologia dedica-se a estudar os diversos aspectos
envolvendo os crimes e suas causas e consequências em planos diversos. Esse ramo
do conhecimento se apresentou a partir do ano de 1.947 como ciência autônoma, cujo
escopo é a busca pela compreensão do comportamento da vítima, a relação existente
entre esta e o criminoso bem como o impacto do crime em sua vida, tudo isso sob um
prisma biopsicossocial, ou seja, busca compreender a vítima nos planos biológico,
psicológico e social.
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Vitimologia
Lúcia Zedner aponta que o termo “vitimologia” foi utilizado primeiro pelo
psiquiatra americano Frederick Wertham, mas ganhou notoriedade com o trabalho de
Hans von Hentig “The Criminal an his Victim”, de 1948. Hentig propôs uma abordagem
dinâmica, interacionista, desafiando a concepção de vítima como ator passivo.
Salientou que poderia haver algumas características das vítimas que poderiam
precipitar os fatos ou condutas delituosas. Sobretudo, realçou a necessidade de
analisar as relações existentes entre vítima e agressor.
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neutralização, e redescobrimento. O protagonismo correspondeu ao período da
vingança privada, em que os danos produzidos sobre uma pessoa ou seus bens eram
reparados ou punidos pela própria pessoa.
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A vulnerabilidade da vítima decorre de diversos fatores (de ordem física,
psicológica, econômica e outras), o que faz com que o risco de vitimização seja
diferencial, para cada pessoa e delito. Nesse sentido, o exame dos recursos sociais
efetivos da vítima também deve ser levados em conta.
Contribuições da vitimologia
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O medo do delito e o medo coletivo de ser a próxima vítima são também objeto
do estudo da vitimologia. O medo, percepção e sentimento individual, mas com forte
conteúdo de objetividade, ajuda a reconhecer a presença do risco, e orientar a
conduta para minimiza-lo ou mitigar seus efeitos. Mas também o medo aprisiona, e
termina sendo, ele mesmo, fator de vitimização. A sensação de insegurança coletiva,
que enseja a adoção de políticas criminais fortemente repressoras, plenas de abusos
de direitos, e destruição de prerrogativas dos cidadãos, encontra aí sua raiz. Também
o modo como a política criminal trata a vítima é tema de relevo.
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polícia seleciona suspeitos pelos estereótipos. Isso pode implicar em procedimentos
discriminatórios por parte da polícia, desde que há grupos antecipadamente
considerados como mais propensos à prática de delitos, e outros grupos imunes à
suspeita, ou investigação.
Por outro lado, o ministério público também constrói seu perfil de vítima ideal.
Esta deve ser aquela que pode ser uma boa testemunha. Finalmente, os estudos de
vitimologia ajudam a melhor compreender a interação existente entre a vítima e justiça
penal. O modelo clássico, com efeito, tem a vítima como objeto, ou pretexto, para a
investigação. Mas ordinariamente não leva em conta seus interesses legítimos. Isso
fez com que fossem identificados fatores que pudessem contribuir para mensurar a
qualidade de uma justiça criminal.
Entre esses, são examinados como se concebe o fato delitivo e o papel dos
protagonistas; como ou se se satisfaz a expectativa dos protagonistas; qual o custo
social; qual a atitude dos usuários da justiça.
Objeto da vitimologia
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deveria ser contribuir, tanto quanto possível, para tornar a vida humana segura,
principalmente a salvo de ataque violento por outro ser humano:
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Destaca-se o seguinte trecho da apresentação do Programa Nacional de
Direitos Humanos:
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Tal iniciativa se coloca em consonância com a tendência internacional, acima
mencionada, de dedicar-se maior atenção às vicissitudes vivenciadas pelas vítimas
de delitos e de abuso de poder. Em tal sentido são as letras “a” e “b” da Ação
Programática do referido Objetivo Estratégico II da Diretriz nº 15 do Decreto nº
7.037/2.009 (PNDH-3, 2.010, p.131/132):
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Tais reformas tem por objetivo principalmente a melhoria nas condições de
trabalho do corpo profissional que opera nas forças policiais, bem como preparar
melhor os referidos policiais para que o número de violações dos Direitos Humanos
advindos da má conduta das forças de segurança pública seja reduzido. Aliadas às
Ações Programáticas acima descritas, o PNDH-3 prevê ainda a proteção aos
defensores dos Direitos Humanos no exercício de suas atividades, a erradicação da
tortura e de outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, o enfrentamento
ao tráfico de pessoas, além da redução da violência motivada por diferenças de
gênero, raça ou etnia, idade, orientação sexual e situação de vulnerabilidade.
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Os instrumentos jurídicos delineados pelo PNDH-3 em muito contribuem para
melhores resultados na área da Vitimologia, assim como de forma bastante clara
servem-se dos resultados obtidos através das pesquisas vitimológicas, fato este que
reafirma a interligação existente entre os estudos acerca dos Direitos Humanos e a
pesquisa sobre o comportamento da vítima e os impactos nela causados pela
ocorrência das situações violadoras de sua dignidade e de seus direitos. Acerca da
proteção dedicada especificamente à vítima de delitos e abuso de poder pelo texto do
Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH-3, destaca-se o Programa de
Proteção à Vítima e à Testemunha – PROVITA.
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Importante ainda ressalvar que a melhor compreensão da vítima, além de
ampliar o foco das atenções no decorrer do processo penal, já engessado e
préconcebido para a perseguição ao criminoso, auxilia na consolidação e na
consagração dos Direitos Humanos que devem ser exercidos também e
principalmente pela pessoa que vê sua dignidade violada pela conduta do autor do
crime.
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Como principal objeto, o mencionado diploma legal visa estabelecer definições
e regras procedimentais acerca da proteção, assistência e reinserção social de
vítimas e testemunhas que se encontrem ameaçadas e estão a auxiliar o Estado
durante a investigação ou o processo criminal:
Dado o sucesso atingido pelo Programa, foi criado pela União o Sistema
Nacional de Assistência a Vítimas e a Testemunhas, sendo que sua regulamentação
deu-se através do Decreto nº 3.518/00.
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Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, possuem capacidade média de
atendimento de 30 (trinta) beneficiários, entre testemunhas, vítimas e seus familiares
ou dependentes. As situações de proteção registradas em Estados que ainda não se
incorporaram ao Sistema são atendidas pelo Programa Federal. (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA, 2.011).
Para que a vítima ou testemunha que se encontra sob grave ameaça seja
incluída no programa é necessário o preenchimento de requisitos estabelecidos pela
Lei nº 9.807/99, entre eles a compatibilidade com as regras do programa de proteção,
uma vez que diversas são as privações as quais a vítima é submetida, tudo
objetivando a preservação de sua integridade física e moral, bem como de seus
familiares.
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d) Inexistência de limitações à liberdade. É necessário que a pessoa esteja
no gozo de sua liberdade, razão pela qual estão excluídos os “condenados que
estejam cumprindo pena e os indiciados ou acusados sob prisão cautelar em qualquer
de suas modalidades” (art. 2º, § 2º), cidadãos que já se encontram sob custódia do
Estado.
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O Programa de Assistência ATF „s Victim (Vítima) / Witness (Testemunha) foi
implementado em 1999. Atualmente existem 23 Victim (Vítima) / Witness
(Testemunha) coordenações localizadas em cada uma das divisões do nosso campo
em todo o país. Como uma agência de aplicação da lei federal ATF, está preocupada
com os problemas frequentemente experimentados por vítimas e testemunhas de
crimes federais. Como a vítima ou a testemunha poderá passar por períodos de raiva,
confusão, frustração ou medo. ATF está empenhada em garantir que as vítimas e
testemunhas recebam os direitos a que têm direito e assistência para ajudá-los a lidar
com o impacto do crime. Tratamento das vítimas e testemunhas com respeito e
fornecendo-lhes referências e benefícios de assistência prática (ATF, 2010, p.1).
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b) para o enquadramento do fato concreto ao descrito no art. 25 do Código
Penal, deve ser procedida uma análise do comportamento da vítima, posto que se a
conduta da vítima foi a que deu causa ao fato sob análise, não será possível o
enquadramento na excludente da ilicitude. Mas, de forma diversa, se tal não ocorreu,
haverá a legítima defesa, estando o juiz atento para análise dos fatos;
d) na parte geral do Código Penal, no artigo 65, III, se verifica que ocorrerão
atenuantes no momento da aplicação da pena, por parte do juiz, em face de ação da
vítima. Na Parte Especial o legislador agiu da mesma forma, conforme se verifica no
artigo 121, §1º do Código Penal um exemplo de que a ação procedida pelo autor do
crime teve como lastro o comportamento desenvolvido pela vítima, desencadeando a
agressão.
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f) no tipo descrito no artigo 171 do Código Penal constata-se que a ânsia
em levar vantagem em face de alguém, aparentemente um “tolo”, leva com que a
vítima seja enganada pelo suposto “tolo”. Constatando-se que a vítima interfere para
o desenvolvimento da ação criminosa, quando seu comportamento leva a uma ação
do estelionatário e ele é o causador da perda de seu patrimônio. Tem-se o
entendimento da interação da vítima com o criminoso (vitimizador), fundindo-se aos
propósitos deste;
Considerações Finais
A Vitimologia tem por escopo lançar as bases, através dos resultados de suas
pesquisas, para que haja a maior proteção aos Direitos Humanos das vítimas de
delitos de todas as naturezas. Dessa forma, é nítida a relação complementar que se
estabelece entre ambas as áreas do conhecimento, sendo indissociável ao estudo da
Vitimologia a compreensão do que é considerado pelos estudiosos das ciências
jurídicas como Direitos Humanos, assim como de fundamental importância o
aprofundamento das questões apresentadas pela Vitimologia, a fim de que o
resguardo dos Direitos Humanos se faça de maneira cada vez mais ampla.
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Em virtude de tais considerações, resta evidente a importância da
compreensão da vítima de modo mais amplo possível, pois a partir de tal
entendimento, é possível traçar políticas públicas voltadas para a seara criminal em
seus mais diversos aspectos, desde a efetiva prevenção à ocorrência dos crimes até
a forma como deve se portar o Estado, através de seus agentes, durante a
persecução penal, frente ao indivíduo vitimizado, a fim de que sua situação de vítima
não se agrave ainda mais. A ciência da Vitimologia apresenta-se como instrumento
indispensável ao Estado Democrático de Direito hoje em vigor, uma vez que auxilia
sobremaneira a realização dos direitos fundamentais, bem como reafirma os preceitos
de igualdade e dignidade insculpidos na Lei Maior de 05 de Outubro de 1988.
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REFERÊNCIAS
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