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1º Módulo: Introdução

CONSIDERAÇÕES DE ASPECTO GENÉRICO

É bíblico o ensinamento de que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança e


que, ao colocá-lo no Jardim do Éden, fez-lhe esta advertência: “De toda a árvore do
jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal não comerás,
porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”.

Houve a desobediência posterior e, por sua cobiça, o homem foi condenado a conhecer
o bem e o mal.

A conduta do homem em uma ou outra direção, ou seja, caminhando rumo ao bem ou


ao mal, por si só, determina a existência de diferenças fundamentais na forma de viver
do ser humano.

É inerente à homogênese, portanto, a desigualdade do comportamento social dos


indivíduos.

Entregue à todos os seus temores e fraquezas, o homem é sempre chamado, na


correnteza da vida, a decidir entre o bem e o mal em meio às tentações da ambição, do
poder, do “ter” ao invés do “ser”. Concomitantemente, estará ele, respirando os ares da
inveja, da ira, do orgulho, da vaidade, da prepotência, das paixões desenfreadamente
destruidoras, tudo a emaranhá-lo na possibilidade, sempre presente, do retrocesso
moral e espiritual e na própria queda ao abismo da criminalidade.

Ora, a criminalidade é considerada como um fato normal da vida em sociedade,


justamente porque a vida grupal, a existência comunitária, não implica em que cada
indivíduo aja em acordo com a vontade dos demais e, não raro, isso acarreta
divergências e choques pessoais; e se esses desacordos não são contornados pelas vias
da conciliação ou do ajuste, só restará a alternativa do conflito propriamente dito, e
este, quando não resolvido legalmente, fatalmente redundará em confronto, em
diferentes tipos de agressão, sucedendo que muitos deles vão desenbocar na sendado
crime.

Apesar da criminalidade ser reputada como um fenômeno social normal, da mesma


forma não é analisada a figura do criminoso, considerado um “fenômeno anormal”, na
expressão de Israel Drapkin (Manual de Criminologia). Contudo, os autores Newton e
Valter Fernandes (Criminologia Integrada), discordam de Drapkin, pois, se aceita a
criminalidade como um processosocial normal, porque o ato do criminoso deve ser
entendido como um fenomeno anormal? Para tais doutrinadores, tanto a criminalidade
quanto o indivíduo que a exercita não podem ser considerados normais, porque o crime
não é ato normal em sociedade e, por sua vez, as peculariedades do fenômeno da
delinquência não podem se apartar de seu agente desencadeador, intrinsicamente á ela
ligado. Outra não é a razão da Criminologia ter por escopo o estudo do fenômeno
criminal, suas causas geradoras e o conhecimento completo dos seres humanos que
exercem um papel no palco cênico do delito, ou seja, a pessoa do criminoso e, porque
não dizer, a pessoa da própria vítima.

CONSIDERAÇÕES DE ASPECTO ESPECÍFICO

Interessa-se especificamente a Criminologia em pôr a claro tudo o que contribui ou


concorre para a existência da criminalidade.

Para que o crime venha a eclodir é indispensável que ocorra uma intenção ou um ato
humano. Por isso, a par do fenômeno em si da criminalidade, o estudo do
comportamento humano deve ser basilar da Criminologia, pois, sendo o homem o
agente do ato delituoso, é principalmente sobre ele que devem ser concentradas as
pesquisas mais relevantes, já que sobre seus ombros atuam múltiplas causas, muitas
delas desconhecidas até a ocorrência do crime, mas com acentuado pesona
caracterização da origem do fato e do caráter ou da verdadeira natureza da vontade do
criminoso.

Ao longo do tempo, a Criminologia tem sido subdividida em segmentos que


compreendem a Biologia Criminal, a Sociologia Criminal, a Psicologia Criminal, a
Psiquiatria Criminal, a Endocrinologia Criminal, etc. De entender que tais repartimentos
só se prestam ao aspecto didático-pedagógico de seu ensinamento, visto que o ideal é
a fusão de todas essas partes em uma só, daí advindo uma única Criminologia, forte,
pujante, e definitiva em sua própria nomenclatura e no seu conteúdo doutrinário
(opinião de Newton e Valter Fernandes).

2º Módulo: Conceito e Definição

CONCEITO E DEFINIÇÃO

A palavra Criminologia deriva do latim “crimen” (delito) e do grego “logos” (tratado). Em


resumo, seria o “Tratado do Crime”.
Foi utilizada, pela 1ª vez, em 1885, pelo italiano Rafael Garófalo (designando-a como a
“ciência do crime”), contudo, já havia sido muito estudada e utilizada (embora não com
esta denominação) pelos igualmente italianos Cesare Lombroso e Enrico Ferri.

Para alguns, a Criminologia é o estudo do homem que delinque. Definindo a


criminologia como o tratado do delito, confundi-laemos com o Direito Penal, que trata
do delito, do delinqüente e da pena. Aliás, qualquer matéria sobre criminalidade deve
abranger esses três elementos.

A Criminologia, como não poderia deixar de ser, não é definida de maneira uniforme,
existindo muitas e variadas definições.

Nelson Hungria: “Criminologia é o estudo experimental do fenómeno crime, para


pesquisar-lhe a etiologia e tentar a sua debelação por meios preventivos ou curativos”.

Jean Merquiset: “Criminologia é o estudo do crime como fenómenos social e individual


e de suas causas e prevenção”.

Kinberg: “Criminologia é a ciência que tem por objeto não somente o fenômeno


natural da práticado crime, como também o fenômeno da luta contra o crime”.
Edwin H. Sutherland: “Criminologia é um conjunto de conhecimentos que estudam o
fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do delinqüente, sua conduta
delituosa e a maneira de ressocializá-lo”.
Trata, pois, a Criminologia, da aplicação das ciências sociais e humanas no controle e
ressocialização do criminoso, com vistas á prevenção da delinquência.

A partir dessas afirmações, é possível e verdadeiro dizer-se que o fim último da


Criminologia é a promoção do homem ou a ascenção da condição humana.
Poder-se-ia enumerar diversos outros conceitos de Criminologia que foram formulados
pelos mais variados autores.

Porém, na análise de Newton Fernandes e Valter Fernandes todos os conceitos até hoje
formulados pecam por não incluírem na Criminologia o estudo da vítima, também
denominado de vitimologia, uma vez que, a Criminologia se ocupa não apenas do crime
e do criminoso, mas, igualmente, da vítima.

Assim, na definição desses dois autores, “Criminologia é a ciência que estuda o


fenômeno criminal, a vítima, as determinantes endógenas e exógenas, que isolada ou
cumulativamente atuam sobre a pessoa e a conduta do delinquente, e os meios
laborterapêuticos ou pedagógicos de reintegrá-lo ao agrupamento social”.

Em sentido lato, a Criminologia vem a ser a pesquisa científica do fenômeno criminal,


das suas causas e características, da sua prevenção e do controle de sua incidência.

A Criminologia é a ciência que pesquisa: as causas e concausas da criminalidade; as


manifestações e os efeitos da criminalidade e da periculosidade preparatória da
criminalidade; a política a opor, assistencialmente, á etiologia da criminalidade e á
periculosidade preparatória da criminalidade.
 Em resumo: “Criminologia é o estudo do crime, do criminoso, da vítima e das causas e
fatores da criminalidade”.

3º Módulo: Objeto da Criminologia

OBJETO
Das várias colocações até agora feitas, verifica-se que a Criminologia representa:
a) o estudo dos fatores individuais (personalidade) e sociais (ambiente) básicos da
criminalidade;
b) o estudo dos fatores básicos e do fenômeno natural da luta contra o crime
(tratamento e profilaxia), objetivando a ressocialização do delinqüente e a prevenção da
criminalidade.

Assim, podemos dizer que o objecto da Criminologia é: “O estudo do fenómeno


natural, considerando os factores individuais (personalidade) e os factores sociais
(ambiente), e ao mesmo tempo, a luta contra o crime, levando em conta a
necessidade de ressocialização do delinquente (tratamento) e de prevenção do
crime (profilaxia)”.

Em resumo, o objecto da Criminologia é, pois, o crime e o criminoso, o que a confunde,


muitas vezes, com o Direito Penal, já que este também tem por objecto o crime e o
criminoso. Já chegou-se até mesmo a firmar que a Criminologia seria apenas uma parte
do Direito Penal, portanto, dependente deste.

Sabe-se, contudo, que embora o Direito Penal e a Criminologia estudem ambos o crime,
são duas ciências autônomas e independentes, e o enfoque dado por uma e por outra,
relativamente ao delito, é diferente.

O Direito Penal tem por objeto o crime como uma regra anormal de conduta, contra o
qual estabelece o gravame, o castigo, a punição. O Direito Penal é, por assim dizer, a
ciência de repressão social ao crime, através de regras punitivas que ele mesmo elabora.
O seu objeto, portanto, é o crime como um ente jurídico, e como tal, passível de
sanções.

Já a Criminologia é uma ciência que tem por objeto a incumbência de não só se


preocupar com o crime, mas também de conhecer o criminoso, montando esquemas de
combate á criminalidade, desenvolvendo meios preventivos e formulando empenhos
terapêuticos para cuidar dos delinqüentes a fim de que eles não venham a reincidir.

Enquanto o Direito Penal é uma ciência normativa, de repressão social contra o delito,
através de regras jurídicas coibitórias cuja transgressão implica em sanções, a
Criminologia é uma ciência causal-explicativa, essencialmente profilática, visando o
oferecimento de estratégicas, por intermédio de modelos operacionais, de molde a
minimizar os fatores estimulantes da criminalidade, bem como, o emprego de táticas
estribadas em fatores inibidores do conjunto do crime.

O Direito Penal se preocupa com as ações e omissões que constituem delito e á


Criminologia importa saber as causas pelas quais devam ser consideradas como delitos.

Consequentemente, a primeira diferença entre o Direito Penal e a Criminologia, é que


enquanto o primeiro nos indica que os actos merecem uma pena, a segunda nos indica
a causa desses actos.

Como segunda diferença, temos que considerar que, enquanto ambas as ciências
estudam o delinquente, o Direito Penal só indaga o grau de responsabilidade do
mesmo (autor, co-autor, participe); enquanto á Criminologia interessa conhecer o
homem delinquente, aspecto que mais tem preocupado as escolas filosóficas, ou seja,
trata de compreender a personalidade do homem delinquente.

Assim, no que se refere ao crime, a Criminologia tem toda uma inequívoca actividade de
verificação, de análise da conduta anti-social, de pesquisa das causas geradora do
delito, e do efectivo estudo e tratamento do criminoso, na expectativa de que ele não se
torne recidivista

O objecto da criminologia é o delito isolado, a criminalidade como fenómeno


comunitário, além das causas do crime como fenómeno individual e o embate contra a
delinquência. Por conseguinte, o homem somente diz respeito ao objecto da
criminologia quando é o homem delinquente, antes não.

Porque delinquente o homem e as causas porque o faz, são as matérias essenciais com
que preocupa a Criminologia.
Exacto afirmar, então, que o Direito Penal e a Criminologia trabalham em cima da
mesma matéria prima, mas a forma de operação, de elaboração do trabalho, é bem
diferenciada, o que torna legítimo concluir que o objecto de uma ciência não é o
mesmo da outra.

Estas diferenças não significam que ambas as disciplinas não possam entender-se; pelo
contrário, completam-se, pois estão unidas por uma finalidade única, que é conhecer e
estudar o delinquente.

A Criminologia não é, pois, um capítulo do Direito Penal, porque é essencialmente


biológica, experimental e dedutiva, enquanto o Direito Penal é uma ciência normativa e
valorativa.

A Criminologia vem injectando no Direito Penal um sentido biológico. A paixão


irresistível, a força coercível, a coação, o louco ou alienado, etc, são conceitos médico-
biológicos da Criminologia adotados pelo Direito Penal. É o que se tem denominado “o
sentido biológico do Direito Penal”.

Método
MÉTODO
Em seu livro Criminologia Biológica, Sociológica e Mesológica, ensina Vitorino Prata
Castelo Branco: “Em geral, método é o meio empregado pelo qual o pensamento
humano procura encontrar a explicação de um fato, seja referente á natureza, ao
homem ou á sociedade”. E prossegue:

“Só o método científico, isto o é, sistematizado, por observações e experiências,


comparadas e repetidas, pode alcançar a realidade procurada pelos pesquisadores”. Diz,
ainda, Vitorino Prata:

“O campo das pesquisas será, na Criminologia, o fenómeno do crime como acção


humana, abrangendo as forças biológicas, sociológicas e mesológicas que o induziram
ao comportamento reprovável, etc.”

Analisando-se, ainda que perfunctoriamente, as palavras deste gabarito criminólogo,


deflui, que em termos de pesquisas criminológicas, dois seriam os métodos utilizados:

a)biológico;
b) sociológico
De fato, quando o referido autor fala em forças sociológicas e mesológicas, no fundo
significam a mesma coisa, ou seja, algo ligado ao meio ambiente, ao meio social.

Abordando o assunto em sua obra Manual de Criminologia, Israel Drapkin, argumenta


dizendo, inicialmente, que a Criminologia efectivamente usa os métodos biológico e
sociológico.

E, como não poderia deixar de ser a uma disciplina que estuda o crime como um fato
biopsicosocial e o criminoso, a Criminologia não fica adstrita a um só terreno científico,
porque este não teria, por si só, o condão de conseguir explicar o fenómeno
delinquencial e a vasta caudal de causas delituógenas, dentre elas aquelas de natureza
social, biológica, psicológica, psiquiátrica, etc.

Por isso, a Criminologia constrói seus métodos, mas também, se utiliza dos métodos de
outras ciências.

Logo, a nova metodologia criminológica vai assentar-se na constituição da equipe


criminológica – “team work” – (médico, psiquiatra, psicólogo, assistente social,
educador, enfermeiro, etc., que tenham recebido treinamento criminológico).

Os métodos de análise utilizados pela Criminologia são:

a) relativamente aos fatores sociais, os da Sociologia;


b) relativamente aos fatores individuais, os da Biologia, Psicologia, Psiquiatria,
Endocrinologia,etc.

4º Módulo: Criminologia como Ciência

A CRIMINOLOGIA COMO CIÊNCIA

Genericamente, considera-se ciência o conjunto de conhecimentos relativos á um


determinado objeto, em especial os obtidos mediante a observação, a experiência dos
fatos e um método próprio.

Para os filósofos, há dificuldades e divergências acerca do que deve ser considerado


ciência. Muitos exigem que para uma disciplina de conhecimentos poder ser
considerada uma ciência, deve ter um objeto específico, seguir um método determinado
e ter uma aplicação universa.

Em decorrência disso, discute-se se a Criminologia seria ou não uma ciência, sob a


alegação de que não possui objeto, não tem um método determinado, tampouco é
universal.

Para os que não consideram a Criminologia como ciência, esta carece de objeto,
porquanto estuda o delito, que pertence ao Direito Penal. Porém, sabemos que não é
bem assim, pois como visto, ambas as disciplinas enfocam o delito de ângulos
diferentes.

Com relação ao método, os contrários afirmam não ser a Criminologia uma ciência, por
não ter um método determinado, uma vez que ela se vale de dois métodos, o biológico
e o sociológico. Abordando o assunto em sua obra Manual de Criminologia, Israel
Drapkin argumenta dizendo, inicialmente, que a Criminologia efetivamente usa os
métodos biológico e sociológico e exemplifica:

“se a Biologia é uma ciência, não há razão para que não o seja a Criminologia, que usa o
seu método”. E acresce: “A Criminologia usa o método experimental, naturalístico,
indutivo, para o estudo do delinqüente, o que não basta para conhecer as causas da
criminalidade. Por isso, recorremos aos métodos estatísticos, históricos e sociológicos”.

O fato da Criminologia usar vários métodos pode tirar-lhe a categoria de ciência? É


claro que não. A Criminologia não é um campo de conhecimento empírico, que vive a
carecer de método científico para a comprovação de suas experiências e experimentos.
Ao contrário, ao invés de um, a Criminologia possui dois métodos de trabalho: o
biológico e o sociológico.

Por último, aqueles que negam o caráter científico à Criminologia, que esta não é
universal, pois o que num país pode ser estabelecido como uma verdade incontestável,
noutro poderá ser diferente, a ponto de existirem as chamadas Criminologia nórdica,
européia, americana, etc., que guardariam aspectos diferentes entre si.

Contudo, quanto á condição de não universalidade da Criminologia, para ser


considerada uma ciência, de recordar que, em Congresso Internacional de Criminologia
realizado há menos de 20 anos em Belgrado, no país então chamado Iuguslávia,
consensuou-se o seguinte: “A delinqüência é um fenômeno social complexo que tem
suas próprias leis e que aparece num meio sociocultural determinado, não podendo ser
tratada com regras gerais, mas particulares a cada região”. Diante dessa conclusão a
que chegaram mais de 700 criminólogos, representando cerca de meia centena de
países no Congresso Internacional antes mencionado, de aceitar ser inteiramente
desnecessário o requisito da aplicação universal para erigir a Criminologia á categoria
de ciência.

A esse respeito, aliás, é oportuno citar ainda uma vez Vitorino Prata, que
reconhecendo a condição de ciência da Criminologia, sublinha:

“Embora o homem seja o mesmo em qualquer parte do mundo, os crimes têm


características diferentes em cada continente,devido á cultura e á história própria de
cada um. Há, pois, uma Criminologia brasileira, como uma Criminologia chinesa, uma
Criminologia iuguslava, enfim, uma Criminologia própria de cada raça ou
nacionalidade”.

Destarte, malgrado alguns que lhe neguem o caráter científico, aflora pacífico que a
Criminologia é ciência. Ciência que aborda o acontecimento delitivo em seus aspectos
individual e anti-social e na sua causação, inclusive destacando seus provocativos no
intento de atenuar a incidência delituosa.

Relação da Criminologia com outras Ciências

RELAÇÃO DA CRIMINOLOGIA COM OUTRAS CIÊNCIAS

Não haverá qualquer exagero em afirmar que a Criminologia praticamente se relaciona


com todas as ciências e áreas do conhecimento humano, desde que propiciadoras de
maior percepção ao fenómeno do cometimento criminal e a personalidade do
delinquente.

Verdadeiramente, a Criminologia se vincula a todas as demais ciências que se ocupam


do crime, do criminoso e da pena. Por isso, todas essas ciências, e inclusive a
Criminologia, compõem a chamada “Enciclopédia das Ciências Penais” que, consoante a
lúcida compreensão de Luis Jimenez de Asúa, subdivide-se em 4 grupos, a saber:

a) Ciências Histórico-Filosóficas:
 História do Direito Penal, Filosofia do Direito Penal e Direito Penal Comparado;
b) Ciências Causal-Explicativas: 

Criminologia, Antropologia Criminal, Sociologia Criminal, Biologia Criminal,


Psicologia Criminal e Psicanálise Criminal;

c) Ciências Jurídico-Repressivas: Direito Penal, Direito Processual Penal e Direito


Penitenciário;
d) Ciências Auxiliares e de Pesquisa:  Penologia, Política Criminal, Medicina
Legal, Psiquiatria Forense, Polícia Judiciária Científica, Criminalística, Psicologia
Judiciária e Estatística Criminal.

As disciplinas integradoras da Enciclopédia das Ciências Penais, ou “Síntese


Criminológica”, destinam-se à perquirição, enfrentamento e aplicação interativa dos
princípios e normas dos três elementos do episódio criminal propriamente dito, a saber:
o crime, o criminoso e a pena.

Não será despiciendo recordar a conceituação sucinta das ciências que integralizam a
“Síntese Criminológica”. Vejamos:

a) Ciências Histórico-Filosóficas: 

- História do Direito Penal: Vem a ser a pesquisa conexa dos fenômenos jurídico-
penais de cada povo;

- Filosofia do Direito Penal: se resuma na análise e crítica do Direito Penal naquilo


pertinente ao seus princípios, causas e modificações;

Direito Penal Comparado: é a pesquisa sistematizada e em cotejo das legislações


penais dos diversos países;

b)
b) Ciências Causal-Explicativas:

- Criminologia: é a ciência que estuda a causação do fenômeno criminal;


Antropologia Criminal: perquire as características orgânicas e biológicas do
delinqüente;
Biologia Criminal: estuda o crime como acontecimento da vida do indivíduo;
Sociologia Criminal: pesquisa o fenômeno delituoso sob o prisma da influencia
ambiental na conduta criminosa;

Psicologia Criminal: estuda os caracteres psíquicos do delinqüente que influem


na gênese do crime;

Psicanálise Criminal: atenta para a personalidade do criminoso e para os


processos íntimos que o excitam á prática delitiva.

c)
c) Ciências Jurídico-Repressivas:

- Direito Penal: é a ciência jurídica de reação social contra o crime;


Direito Processual Penal: é a atividade estatal de tutela penal através de normas
próprias;

- Direito Penitenciário: representa o compacto de regras jurídicas reguladoras da


atividade jurídico-carcerária.

d)
d) Ciências Auxiliares e de Pesquisa:

 Política Criminal:

tem por finalidade a análise e a crítica das leis penais a partir de propostas
criminológicas;

Penologia: tem por objeto o estudo da pena, das medidas de segurança e da


funcionalidade das instituições destinadas á readaptação dos egressos dos
presídios;
Medicina Legal: tem por propósito a aplicação dos conhecimentos científicos na
esfera da Justiça Criminal;

Criminalística: estuda as formas como se cometem os delitos, cuidando da


aplicação dos recursos técnicos para sua constatação e perquirição;
Psiquiatria Forense: tem por mira o estudo dos distúrbios mentais ensejadores de
problemas jurídico-penais;

Psicologia Judiciária: estuda o comportamento do indivíduo acusado da


perpetração do crime;

Polícia Judiciária Científica: se incumbe da pesquisa dos vestígios e indícios


encontradiços no palco típico;

Estatística Criminal: tem por fim a observação etiológica do delito com vistas ao
planejamento e avaliação do desempenho institucional contra a criminalidade.
Depreende-se do anteriormente explicitado, quando se fala em “Enciclopédia das
Ciências Penais”, que a expressão galardoa a própria Criminologia, naquilo que é
ela considerada uma ciência que abrange praticamente todas as disciplinas
criminais.

A Criminologia teria, por assim dizer, uma concepção enciclopédica, eis que se utiliza do
campo de labor de outras ciências criminais. Daí também ser chamada “ciência de
síntese”, porque sua base científica está fincada nas contribuições proporcionadas pelas
denominadas ciências do homem (Antropologia, Biologia, Sociologia, Psicologia,
Psiquiatria, etc.) quando voltadas para a pesquisa do delito.

Efetivamente, para atender sua finalidade, a Criminologia não pode atuar isoladamente,
havendo que recorrer ao objeto de outras ciências, mesmo porque o conhecimento não
se confina nos limitativos de uma única ciência.

Mas qual a relação da Criminologia com todas estas ciências?

a) Criminologia e Direito Penal: É ponto pacífico que a Criminologia se relaciona


fundamentalmente com o Direito Penal, eis que, embora autônomas, são ciências
acentuadamente correlatas, limítrofes e, quiçá, complementares. A par disso, é o Direito
Penal que delimita o objeto da Criminologia, fornecendolhe, até, o juízo valorativo do
fato criminoso.É a Criminologia, por outro lado, que oferta ao Direito Penal os subsídios
para o julgamento do fato criminoso. Destarte, a Criminologia é ciência propedêutica do
Direito Criminal. Não obstante, enquanto o Direito Penal tem como objeto a
culpabilidade, o objeto da Criminologia é a periculosidade. Enquanto o Direito Penal
encara o crime como fato antijurídico, a Criminologia o vê como uma conduta anti-
social. Enfim, a Direito Penal é ciência cultural, valorativa, normativa e finalista. A
Criminologia é ciência causalexplicativa, de observação, de síntese, de pesquisa teórica.

b) Criminologia e Direito Processual Penal: Tem ligação com este na medida em que ele
regulamenta a verificação do ato delituoso e faz o exame da personalidade do autor
típico.

Cesare Bonesana, o Marquês de Becaria, dizia que a Justiça para ser justa deve ser
rápida, mas quando se vê um homem chegar na penitenciária condenado há 5 anos,
depois de haver estado no cárcere no decorrer de um processo que durou 4 anos, esta
Justiça não pode ser justa.

É preciso meditar sobre a imensa injustiça que significa uma absolvição depois de
muitos anos de cárcere, pois se bem que existe uma indenização de caráter
constitucional (art. 107 da CF), na realidade esta só existe teoricamente. Embora existem
não poucos casos de prisões ilegais, raramente é requerida e concedida indenização,
como no processo dos “Irmãos Naves”, injustamente condenados por homicídio em que
a suposta vítima apareceu viva após muitos anos,tendo um dos irmãos condenados
morrido na prisão. Foi concedida a indenização,confirmada pelo STF. Mas na grande
maioria dos casos, as pessoas sofrem as injustiças sem nada pleitear.

b) Criminologia e Direito Penitenciário:  Nascido na Itália, com Giovanni Novelli,


este Direito é muito novo e refere-se à aplicação da pena. Pretende exercer todas
as medidas destinadas á aplicação individual da lei penal, a cada delinquente em
particular, objetivando a ressocialização do delinquente.

d) Criminologia e Antropologia Criminal:  Pesquisando a exigência de leis que


regem a criminalidade e também a influência de factores individuais na génese
do delito, a Criminologia obrigatoriamente tem de invocar a Antropologia
Criminal, que permite totalizar o fenómeno delinquencial em seus múltiplos
aspectos, desde os biológicos aos psicossociais, como um todo. A Antropologia é
a base da Criminologia, mormente agora que foi revigorada pela Endocrinologia
e pela Genética.

f) Criminologia e Sociologia Criminal: A Sociologia nos ensina a organização dos


grupos sociais, que são diferentes de acordo com a época e a localização, o que
também é uma fase importante para o conhecimento do homem delinquente.
Assim, a Criminologia relaciona-se com a Sociologia na medida em que aquela
demonstra que a personalidade criminosa é o somatório de fatores biológicos e
sociológicos em seu mais amplo sentido, integrados numa unidade
psicossomática.

A Sociologia Criminal é a ciência que cogita do fenômeno social da criminalidade.


Tão grande afinidade há entre a Sociologia e a Criminologia, que uma das principais
teorias criminológicas, a que busca explicar a gênese dos delitos, leva o título de Teoria
Sociológica. Entende esta teoria que as pressões e as influencias do ambiente social
geram o comportamento delinqüente. A Sociologia Criminal toma o crime como um
“fato natural da vida em sociedade”, estudandoo como expressão de certas condições
do grupamento social, ocupando-se com os fatores exógenos na causação do delito,
bem como, suas conseqüências para a coletividade.

g) Criminologia e Psicologia Criminal: A Psicologia Criminal propõe-se desvendar o


carácter e as tendências do criminoso, indicando os rumos necessários à avaliação de
sua periculosidade e estudando a incidência da fenomenologia psíquica da
Criminalidade. Como a causa dos crimes reside, grande número de vezes, em
transtornos mentais, transitórios ou permanentes, as alterações psíquicas interessam á
Criminologia (psicoses, neuroses, psicopatias, oligofrenias, etc), fornecendo á
Criminologia matéria para o estudo dos transtornos mentais dos criminosos.
h) Criminologia e Psiquiatria Criminal: A função da Psiquiatria Criminal centraliza-se
na terapia, uma vez que a profilaxia é mais cabível à Psicologia Criminal.
i) Criminologia e Endocrinologia: É de vital importância a pesquisa da interacção
endócrino criminal, permissível pela ocorrência de anomalias endócrinas dos criminosos.
j)Criminologia e Demografia: A Criminologia busca nos movimentos da massa humana
(nascimentos, casamentos, óbitos) as causas que influem sobre a personalidade do
homem delinquente.
l)Criminologia e História: A História é uma ciência que nos serve para compreender o
presente e o futuro, baseando-se no passado; através dela conhecemos o passado,
compreendemos o presente e vislumbramos o futuro.

A Sociedade e a Natureza do Delito como Fenómeno Individual e Colectivo


A SOCIEDADE A E NATUREZA DO DELITO COMO FENOMENO INDIVIDUAL E
COLETIVO

a) O aparecimento da vida e do homem


A doutrina do pecado original é um dos princípios mais poderosos da crença hebraico-
cristã. Segundo a concepção cristã, o homem era inocente e bom e o mundo um jardim
(do Éden), um paraíso. Mas o homem foi tentado, sucumbiu e nunca mais irá recuperar
sua inocência original.
São Paulo declarou que o homem é carnal e pecador, acrescentando: “em sua carne
habitam coisas ruins e o pecado habita nele”. Aliás, essa idéia da maldade como uma
das características do ser humano se encontra também no campo da Biologia com
Charles Darwin, como ainda no da Psicologia e da Psicanálise, com Sigmund Freud.

Contestando a perspectiva cristã do aparecimento da vida e do homem, e do próprio


deusismo, Darwin estabelece outra hipótese sobre a origem do homem, defendida em
suas obras On the origen of Species e The Descent of Main, escritas em 1859 e 1871,
respectivamente. Darwin entendia que o homem evoluiu a partir de animais não
humanos, sofrendo mutações e percorrendo um longo caminho até chegar ao estágio
humano. É o que prega em sua “Teoria da Evolução”, contestada veemente pelos
representantes da igreja, mas cuja influencia na classe intelectual até hoje é bastante
razoável.

Conquanto não aceita a teoria darwiniana sobre a origem do homem, também existe
uma certa controvérsia em se admitir cegamente que a espécie humana está imersa em
pecado devido á sua herança de Adão e Eva. Importa, em suma, que o universo é
resultado de uma criação de Deus com finalidade.

b) A Sociedade e o Crime

Durkhein afirmava que “os fenômenos sociais são fatos naturais e devem ser estudados
pelométodo natural, isto é, pela observação e, quando for possível, pela
experimentação”.
Ora, o crime é um fenômeno social e a criminalidade depende do estado social. Tenha o
crime na sua gênese um fator exclusivamente endógeno (biológico) ou exclusivamente
exógeno (meio ambiente), ou a combinação de ambos os fatores, é inegável que o
crime é uma manifestação de vida coletiva, não fosse a existência de apenas duas
pessoas considerada um grupo social.

Não pode existir criminalidade fora de um estado social qualquer. Sendo o homem um
animal gregário, sua vida em sociedade não implica, porém, em que não haja uma
unidade de consciência social, pois esta nada mais é que a resultante das consciências
individuais, que vão compor a maioria da unidade social.

A noção de uma igualdade humana, dentro do grupo, é radicalmente falsa. A natureza


animal não conhece a igualdade e toda filosofia zoológica repousa na desigualdade dos
seres vivos e, entre eles, as desigualdades mais acentuadas são as que se verificam no
ser humano
A desigualdade social é que induz á situações de conflitos, que podem terminar em
criminalidade, entendo-se esta como todos os actos que constituem infracção penal.

A criminalidade, que não se concebe fora da vida grupal, nasce e se desenvolve dos
interesses colidentes de seus componentes. É como se a criminalidade fosse uma
oposição do indivíduo á sociedade. Por isso que também deriva de interesses
personalíssimos.

O crime, social na sua etiologia, visto que suscitado pela existência em sociedade, é
antisocial nos seus efeitos. Distinguese, assim, a criminalidade, por firmar um conflito de
vontades: de um lado a vontade da sociedade, soma das vontades de seus integrantes
ou resultado da volição da maioria, e, de outro lado, a vontade individual de quem
perpetra o crime, ou seja o delinquente.

O crime, portanto, é o produto de dois factores: o indivíduo (criminoso) e a sociedade.


c) O Fato criminoso

E. Glover, na obra The Roots of Crime, abordando o criminoso nato, comenta: “o crime
representa uma das parcelas do preço pago pela domesticação de um animal selvagem
por natureza(o homem), ou, é o resultado de sua domesticação mal sucedida”.

Infere-se, desse conceito, que o homem, não sendo tratado como ser humano,
transforma-se no mais violento e perigoso dos animais, posto que é o único que
raciocina.

Incontestável é que o crime emana, primordialmente, de factores sociais e, como tal,


adquire a imagem de uma fenomenologia individual e colectiva.

d) O crime como fenómeno individual e colectivo

As causas imediatas do crime se resumem nas condições do meio em que ele se


verificou e na personalidade de seu autor no momento da ação.
As condições ambientais e circundantes, na ocasião do crime, abrangem as
circunstancias que permitiriam o desencadeamento do próprio ato, entre elas aquelas
que tornaram permissível o seu cometimento e, por isso, prevalentes, como também as
que teriam funcionado como inibidora do evento, mas que foram reprimidas. Assim, a
miséria (que via de regra é a responsável por grande gama de delitos, figurando quase
sempre como preponderante sobre circunstancias outras) pode, em determinada
situação, não prevalecer, como o simples fato do indivíduo que iria praticar o crime e, á
última hora, deixou de fazêlo por temor ao respectivo castigo ou pena que, uma vez
descoberto,viria a sofrer. O castigo funcionou, aí, como freio inibidor.

A outra causa do crime, ou seja, a personalidade do indivíduo na ocasião em que


comete o crime, consiste naquilo que permite uma predição de como uma pessoa agirá
em uma determinada situação. Essa personalidade do homem, com suas vivencias
atuais e, de outra forma, sempre condicionada pelo modo de ser relativamente
constante ou habitual do indivíduo, aí residindo as características dessa decantada
personalidade. No fato, por exemplo, do marido que surpreende a mulher em adultério,
a reação difere de um para outro indivíduo. Existem aqueles que reagem violentamente
(matando um ou ambos), e aqueles que enfrentam a tragédia passivamente (separação,
perdão, reconciliação).

Todos esses mais diversos comportamentos são comportamentos justificados pelas


vivências e pela forma de ser de cada um desses indivíduos, resumidas na personalidade
de cada um. Essas capacidades ou predisposições, ou tendências, denominam-se
disposições individuais. É evidente que se a disposição daquele que optou pelo crime,
no caso do adultério, por exemplo, for de tal monta que revela tendência para a prática
futura de outros delitos, ele deve ser encarado como um indivíduo perigoso para a
sociedade. Mas, nem sempre é assim, pois, o homicida por adultério, tem um
prognóstico relativamente favorável no terreno da criminalidade, visto que sua infração
resultou de um forte abalo moral que, provavelmente, não repetirse-á. O mesmo não se
pode dizer do estelionatário habitual, no qual a mentira fraudulenta praticamente
passou a fazer parte de sua segunda natureza e até de sua personalidade.

De frisar que, na eclosão do crime, a personalidade e suas disposições que conduzem á


prática do crime, são o resultado de uma evolução complexa, que vem desde o
nascimento do indivíduo, o qual passa a possuir certas disposições, chamadas de
tendências hereditárias, vindo a desenbocar na criminalidade hereditária.

Goring sustentou que o elemento herdado não é a criminalidade como tal, mas sim, a
inteligência deficiente.

Na realidade, não há provas de que exista o denominado “criminoso nato”. Ninguém


tem uma hereditariedade tal que deva ser inevitavelmente um criminoso,
independentemente das situações em que é colocado ou das influencias que sobre ele
exercem. Um temperamento fleugmático, que permite supor ser herdado, pode
preservar uma pessoa de ser criminosa num ambiente, e torná-la criminosa noutro. Na
formação da causalidade devem ser incluídos tanto o traço individual como a situação;
nem um nem outra atuam isoladamente na produção do delito. Toda pessoa é um
“criminoso potencial”, mas são imprescindíveis contatos e direção de tendências para
torná-la criminosa ou desrespeitadora da lei.

Ressalte-se, então, que as tendências hereditárias, constituídas por um mecanismo


endógeno, têm a influenciá-las, por outro lado, o meio ambiente, isso ao longo de toda
a vida do indivíduo. No campo da atuação do meio sobre as tendências hereditárias,
devem ser consideradas, principalmente, a alimentação, a educação no lar e na escola, a
influencia de parentes e outras pessoas, a convivência comunitária, a condição
econômica, etc. A par disso, de realçar as influencias cósmicas, do clima, os hábitos de
higiene e as condições de vida, as intoxicações, o alcoolismo, enfim, o chamado meio de
desenvolvimento do indivíduo.

Tratado o crime como fenômeno individual, assinale-se que a vida do homem em


grandes centros urbanos implica em que ali sejam perpetrados inúmeros crimes. Isso
demonstra, indesmentivelmente, o caráter de fenômeno coletivo da criminalidade. Isso
aponta a criminalidade como fenômeno da vida societária, pouco valendo o argumento
daqueles que, procurando combater o caráter de fenômeno coletivo da delinqüência,
aduzem que esta outra coisa não é senão a somados crimes individuais.

5º Módulo: Divisão e História da Criminologia

DIVISÃO DA CRIMINOLOGIA:

CRIMINOLOGIA TRADICIONAL:

1º - Escola Clássica

2º - Escola Positiva

3º - Escola Socialista

CRIMINOLOGIA NOVA (CRÍTICA)

1º - Microcriminalidade e Macrocriminalidade:

- Crime Organizado
- Crime do Colarinho Branco

- Crime de Lavagem de Dinheiro

2º - Teoria do Labelling Approach


3º - Teoria das Janelas Quebradas (Broken Windows Theory)

CRIMINOLOGIA TRADICIONAL:

HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA:

1º - ESCOLA CLÁSSICA:

 Vigora o Direito Natural (Jusnaturalismo), pautado na fé e na crença nos deuses. O


homem tem o livre arbítrio, ou seja, somente comete o crime se quiser. O crime atenta a
ira dos deuses e, portanto, a pena, aqui, é uma espécie de castigo, de punição, de
penalidade.

Esta Escola apresenta 2 Fases:

1ª) FASE EMPÍRICA OU MITOLÓGICA (ATÉ O SÉCULO XV):

Não pretendemos localizar a gênese da Criminologia na época pré-histórica, porque até


1875, (quando Cesare Lombroso dá início á Antropologia Criminal, publicando a famosa
obra L”Uomo Delinqüente) o seu estudo não tem importância maior. O que se tem, até
então, são idéias de pensadores, algumas válidas até os dias de hoje. (Platão, em uma
de suas obras, já se referia ao furto famélico). Este período pode subdividir-se em:

Este período pode subdividir-se em:

a) Antiguidade remota;
b) Antiguidade grega (Hipócrates, Platão e Aristóteles);
c) Idade Média. Teólogos e sacerdotes (especialmente S. Tomás de Aquino). Ciências
Ocultas.

a) Antiguidade remota
Nesta época não se encontra nada de concreto sobre Criminologia, nem entre hindus,
sírios, fenícios, hebreus, etc. Somente existem algumas normas, como os “Tabu”, que
deviam ser aplicadas para a segurança do grupo. Diante da transgressão de qualquer
dessas normas surgia a reação instintiva de defesa, que correspondia á pena atual.

Destaque deve ser dado ao famoso Código de Hamurabi (Babilônia), do Imperador


Hamurabi (1728-1686 a.C), que possuía dispositivo punindo o delito de corrupção
praticado por altos funcionários públicos.

Possuindo alguns aspectos punitivos, também destaca-se a legislação de Moisés (séc.


XVI a.C), parte integrante dos lIvros da Bíblia.

Confúcio (551-478 a.C) com a reflexão: “tem cuidado deevitar os crimes para depois
não ver-te obrigado a castigá-los”, demonstra o conhecimento da pena como gravame
á uma má ação, o que, induvidosamente, no mínimo, implica no entendimento de algo
que, bem mais tarde, viria a ser preocupação da Criminologia.

b)Antiguidade grega (ou pagã)

Entre os gregos citam-se muitos pensadores que emitiram opiniões ou conceitos de


inegável fundamento ou inspiração criminológica:

- Protágoras (485-415 a.C)

 sustentou o caráter preventivo da pena, falando no seu aspecto de servir de exemplo e


não de expiação ou castigo, opinião que faz por conferir-lhe, talvez, a condição de
precursor da Penologia, um dos ramos da Criminologia, que se ocupa com o
fundamento e aplicação das penas como medida de repressão e defesa da sociedade.

- Sócrates (470-399 a.C),

pregador e grande oráculo grego, possuvelmente o homem mais importante que o


mundo já conheceu mercê de sua sabedoria e humildade, e que, infelizmente, não legou
nenhuma obra escrita para a posteridade, disse, através de Platão, divulgador de seus
pensamentos, que “se devia ensinar aos indivíduos que se tornavam criminosos como
não reincindirem no crime, dando a eles a instrução e a formação de caráter de que
precisavam”.
Hipócrates (460-355ª.C),

conhecido como o “Pai da Medicina”, em sua obra Aforismos, emitiu conceito


irretorquivelmente criminológico, ao dizer que “todo o vício é fruto da loucura”,
afirmando, pois, que “todo o crime é fruto da loucura”. O delito, para Hipócrates, era um
desvio anormal da conduta humana.

- Platão (427-347 a.C), ao afirmar que “o ouro do homem sempre foi o motivo de seus
males”, na obra A República, também emitiu conceito criminológico, ao pretender
demonstrar que a ambição, a cobiça, a cupidez davam origem á criminalidade, ou seja,
fatores econômicos são desencadeantes de crimes. Fundamentava a criminalidade em
causas econômicas.

Apregoava, outrossim, Platão, que o meio, as más companhias, os costumes dissolutos,


podem converter as pessoas inexperientes, os jovens , em criminosos. Portanto, o
criminoso é um produto do ambiente.

Dizia que o criminoso era muito parecido com um doente, e que por isso, deveria ser
tratado a fim de ser reeducado ou curado, se possível; e eliminá-lo do pais, se não fosse
possível a cura

Platão foi o 1º a enfatizar o aspecto intimidativo da pena. Não se castiga porque alguém
delinquiu, mas para que ninguém delinqua.

- Aristóteles, em sua obra Política, tal como Platão, fundamentava a criminalidade em


causas econômicas. Também afirmava que os delitos maiores não são cometidos para
adquirir o necessário, mas o supérfluo. Isto, podemos constatar na vida diária como uma
verdade incontestável.

Em sua obra Retórica, Aristóteles estudou o caráter dos delinquentes, observando uma
freqüente tendência á reincidência.

c) Idade Média

Inicia-se com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C, quando os


denominados povos bárbaros o conquistaram, até a tomada de Constantinopla,
capital do Império Romano do Oriente, pelos turcos, em 1453, durante, portanto,
nove séculos.
Nesta época os escolásticos e os “doutores da igreja” não se preocupavam com o
problema da criminalidade, até o surgimento de São Tomás de Aquino (1226-1274),
aquele que viria a ser o grande criador da chamada “Justiça Distributiva” (que manda
dar a cada um aquilo que é seu, segundo uma certa igualdade) e que, na Summa Contra
Gentiles, afirmara que “a pobreza geralmente é uma incentivadora do roubo” e, na
Summa Theológica, defendeu o chamado “furto famélico” que, nos dias atuais, na
legislação penal brasileira, é consagrado como “estado de necessidade”, uma das quatro
excludentes de crime.

No século XIII, Afonso X, O Sábio, no Código das 7 Partidas, dá uma definição de


assassintao e fala do crimen proditorium (premeditado) e do crimen sicatorium
(mediante remuneração).

Hoje, tais circunstâncias atuam como qualificadoras do delito de homicídio ou como


agravantes: Vejamos.

Art. 121, § 2º, CP (Homicídio Qualificado) I- mediante paga ou promessa de


recompensa, ou por outro motivo torpe (crimen sicatorium)

IV- á traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificulte


ou torne impossível a defesa da vítima.

Art. 61 CP. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituírem ou
qualificarem o crime:

II. ter o agente cometido o crime:

a) por motivo fútil ou torpe;

c) á traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificulte ou


torne impossível a defesa da vítima.

- Ciências Ocultas: Durante o período de transição da Idade Média para os chamados


Tempos Modernos, ou seja, do século XIV ao século XVI, cita-se a influencia das
denominadas “ciências ocultas” sobre as concepções do que viria a ser, bem mais tarde,
conhecida como Criminologia.
Em seu livro, Manual de Criminologia, chamando-as de “pseudociências”, Israel Drapkin
relaciona as seguintes “ciências ocultas”: a Astrologia, a Oftalmoscopia, a Metoposcopia,
a Quiromancia, a Fisiognomia, a Frenologia e a Demonologia. Vejamos cada uma delas:

- Astrologia: estuda o destino e o comportamento do homem pela movimentação das


constelações localizadas na faixa do Zodíaco;

- Oftalmocospia: antecessora da Oftalmologia e da Irilogia, estuda o caráter do homem


pela íris;

- Metoposcopia: estuda o caráter do indivíduo pelo exame e observação das rugas da


fronte;

- Quiromancia: estuda o caráter do indivíduo com base na análise de seu passado, o


que é feito pela “leitura” das linhas das mãos, prevendo, então, o futuro do indivíduo.

- Fisiognomia: estuda o caráter do indivíduo pelo traços fisionômicos (rosto).

- Frenologia: Originada da Fisiognomia, estuda o caráter do indivíduo pela


conformação craneana. Recorda, á esse respeito, Israel Drapkin que, em Nápoles, o
Marquês de Moscardi decidia, em última instância, os processos que até ele chegavam;
a pena que sempre aplicava era de morte ou de prisão perpétua e terminava as
sentenças com os seguintes dizeres: “ouvidas acusação e defesa e examinada a tua face
e cabeça”, e prolatava, sem seguida, a sentença condenatória.

- Demonologia: 

estuda os indivíduos pretensamente possuídos pelo demônio. Esta ciência propiciou o


aparecimento, na Idade Média, da Psiquiatria. Naquela época, eram considerados como
possuídos pelo demônio os loucos e os portadores de alienação mental
(esquizofrênicos, epiléticos, etc), que eram sistematicamente caçados e encarcerados,
quando não sacrificados pelos terríveis Tribunais da Inquisição espalhados pelo mundo.
O mau comportamento do homem ou a sua má conduta, era interpretado como um
morbus diabolicus, uma enfermidade diabólica, e os acometidos por ela tinham por
remédio a queima pelo fogo purificador de uma fogueira humana.
2ª) FASE DOS PRECURSORES DE LOMBROSO (RENASCIMENTO ATÉ 1875)
Antes do aparecimento de Lombroso, que dá início ao período da Antropologia
Criminal, do século XV até 1875, houve uma enorme gama de autores que podem ser
considerados precursores da Criminologia. Entre eles destacam-se:

1- Filósofos e pensadores, especialmente dos séculos XVI, XVII, XVIII;

2- Penólogos e penitenciaristas;

3- Fisiognomistas;

4- Frenólogos;

5- Psiquiatras e médicos de prisões.

1- Filósofos e pensadores:

a) Thomas Morus (1478-1535): 

publicou Utopia (obra de grande importância para estudos e consultas até os


dias de hoje), onde descreve a enorme onda de criminalidade que assolava a
Inglaterra nessa época. Em sua obra, Morus imaginava uma sociedade idílica (e
essa era sua utopia), onde um governo organizado da melhor maneira
proporcionaria boas condições de vida a um povo, que assim seria equilibrado e
feliz. Morus dizia que em um país, quando o povo é miserável, a opulência e a
riqueza ficam em poder das classes superiores e essa situação economicamente
antípoda faz gerar um maior nº de crimes. Portanto, Morus já sinalizava o factor
económico como uma das causas da criminalidade. Morus propugnava por penas
menos rigorosas e que elas fossem correspondentes á natureza dos delitos. Ele
foi o 1º a expor a necessidade de graduar as penas proporcionalmente aos
delitos.

d) Martinho Lutero: influenciador de muitas revoltas camponesas na Alemanha, foi


o 1º autor a distinguir uma criminalidade rural e outra urbana.
c) Francis Bacon: admitia como causas determinantes da criminalidade,
fenômenos socioeconômicos, no que foi acompanho por René Descartes.

2-Penólogos e Penitenciaristas

No início do século XVIII, não existiam propriamente prisões e as que havia mantinham-
se em péssimas condições. Os juízes eram unilaterais e arbitrários. A confissão era a
rainha das provas (regina probatione), obtida através de torturas. Os primeiros aspectos
de prisões, que podem ser considerados como precursores das atuais, estabeleceram-se
em Amsterdam (Holanda) em 1611. Os detentos eram submetidos à trabalhos forçados
sem nenhuma utilidade prática, como moer pedras, extrair areia, etc. Contra este estado
de coisas levantaram-se filósofos e humanistas, dentre eles:

a) Montesquieu: escreveu a famosíssima obra O Espírito das Leis (L’esprit des lois),


onde proclamava que o bom legislador era aquele que se empenhava na prevenção do
delito, não aquele que simplesmente se contentasse em castigá-lo. “Ao invés de
funcionar como castigo, a pena deveria ter um sentido reeducador”, dizia ele.

b) Jean Jacques Rousseau: em sua obra de maior importância e divulgação, Contrato


Social, assevera que, se o Estado for bem organizado,existirão poucos delinquentes e na
obra Enciclopédia, diz que “a miséria é a mãe dos delitos”.

c) Voltaire: dizia que o roubo e o furto são os delitos do pobre. Foi um dos primeiros a
advogar o trabalho para os apenados.

d) Jeremias Bentham: é o criador da doutrina do “utilitarismo, cujo lema é: “o maior


bem estar para o maior número”. Nesta doutrina está envolvida a maior parte dos
princípios da profilaxia da criminalidade. Bentham foi o 1º a referir-se á certas medidas
preventivas do delito (substitutivos penais).

e) John Howard: preocupou-se com especial devoção à melhoria das prisões. Visitou


inúmeras prisões pela Europa, vindo a falecer de uma peste que adquiriu em uma delas.
Escreveu uma importante obra sobre as prisões, denominada “The state of prison”, O
Estado das Prisões. Howard é considerado o criador do sistema penitenciário.

f) César Bonesana, “Marquês de Beccaria” (1738-1794): 


Escreveu a famosa obra Dos Delitos e das penas (Dei Delliti, Delle Pene), obra clássica e
de leitura obrigatória nos dias atuais à todos aqueles que se interessam por
criminologia.

Beccaria nasceu em Milão, Itália, e teve a audácia, aos 27 anos de idade, de afrontar os
costumes penais e as arbitrariedades da Justiça Criminal de seu tempo, publicando a
obra Dos Delitos e das Penas na cidade de Livorno, de forma clandestina, temendo
possíveis represálias. Tal livro causou muito impacto, sendo veemente atacado por
todos aqueles que, de uma forma ou de outra, foram por ele atingidos ou porque não
concordassem com suas proposições.

Sua obra é um protesto contra o injusto, cruel e arbitrário procedimento da Justiça


Criminal. Em um dos capítulos finais, dizia: “Para que todo o castigo não seja um ato de
violência exercido por um só ou por muitos contra um cidadão, deve essencialmente ser
público, pronto, necessário, proporcional ao delito, ditado pelas leis e o menos rigoroso
possível, atendidas todas ascircunstancias do caso”.

Seus principais postulados são:

- A atrocidade das penas opõe-se ao bem público (Princípio da humanização das


penas);
- As acusações não podem ser secretas (Princípio da Publicidade);
- As penas devem ser proporcionais aos delitos (Princípio da Proporcionalidade das
Penas);
- As penas devem ser moderadas;
- As penas devem ser previstas em lei (Princípio da Legalidade, da Anterioridade ou da
Reserva Legal);
- Somente os magistrados é que podem julgar os acusados (Princípio da
Jurisdicionalidade);

- Não se pode admitir a tortura do acusado por ocasião do processo (Princípio da


Proibição de tortura, da Humanidade e da Dignidade);

- O réu jamais poderá ser considerado culpado antes da sentença condenatória


(Princípio da Presunção de Inocência);

- Mais útil que a repressão penal é a prevenção dos delitos;


- Não tem a sociedade o direito de aplicar a pena de morte nem de banimento.

- O objetivo da pena não é atormentar o acusado e sim impedir que ele reincida e servir
de exemplo para que os outros não venham a delinquir;

 Fisiognomistas:

Trata-se de uma ciência que procura estudar o indivíduo pela análise de suas expressões
fisionômicas, ou seja, de seu rosto. Entre os principais fisiognomistas, destaca-se Charles
Darwin (1809-1822), criador da famosa “Teoria da Evolução” (a evolução modifica o
homem), e que trouxe inegável importância no que diz respeito á origem do homem,
sendo que suas idéias foram influências para Lombroso, sobretudo quando este aborda
sobre o atavismo, o qual é um conceito darwiniano.

Frenólogos:

A Frenologia é uma ciência que estuda o indivíduo não só com base nas expressões
fisionômicas, mas, também, com base na configuração do crânio. O criador da
Frenologia tem sido Joseph Gaspard Lavater, porém, mais importante que ele para a
Frenologia, é Johan Frans Gall, que foi o 1º a relacionar a personalidade do delinquente
com a natureza do delito por ele praticado.

Psiquiatras e Médicos de Prisões:

Eles foram verdadeiros precursores de Lombroso em sua tarefa de estudar o


delinquente. Entre os psiquiatras devemos mencionar como grande figura de Felipe
Pinel (1745- 1826), criador da moderna Psiquiatria, que foi o 1º que conseguiu elevar o
alienado da situação de pátria (excluído) á categoria de doente. Antes dele, o louco era
considerado possuído pelo demónio e era acorrentado, torturado e banido do país.

2ª - ESCOLA POSITIVA: Estuda as causas do crime. Afirma que este é o resultado de


deformações e malformações congênitas, biológicas, físicas e psicológicas. O homem
delinque não porque quer e sim porque é doente. Logo, a pena, aqui, não é castigo, e
sim, tratamento. O homem é um criminoso nato, já nasce com tendência a delinquir, a
violar as leis e é identificado pelo seu perfil físicobiológico.

Este período é conhecido como Período da Antropologia Criminal ou Período de


Lombroso. Vejamos:
PERÍODO DA ANTROPOLOGIA CRIMINAL (LOMBROSO - 1875-1890)

a) LOMBROSO:

Lombroso foi o criador da chamada Antropologia Criminal (ou Biologia Criminal, como a
consideram os alemães), ciência que difere-se da Antropologia Geral, pois não estuda
apenas o ser humano, mas sim o ser humano delinquente, ou seja, o homem criminoso,
procurando analisar, também, os fatores individuais do crime (nele compreendendo os
endógenos e os exógenos).

Conhecer o homem é conhecer a razão humana, a essência dessa razão, o que o move
através da História. Afinal, como dizia Marx, “o primeiro objeto do homem é o homem”.

Lombroso preocupou-se com esses aspectos da História humana e estudou o homem,


que através de suas ações, de seu comportamento, é considerado delinquente e, a esse
homem, Lombroso conferiu caracteres morfológicos, como saliente em sua obra L’uomo
Delinqüente, onde diz: “o estudo antropológico sobre o homem criminoso deve
necessariamente basear-se nas suascaracterísticas anatômicas”.

Lombroso nasceu em 1835, em Verona. Na juventude foi estudante de Medicina,


havendo interessado-se especialmente pela Psiquiatria. Apenas formou-se em Medicina,
ingressou no exército como médico militar e ao visitar os cárceres teve o primeiro
contato com os criminosos. Depois ingressou nas prisões para criminosos alienados,
chegando a ser médico do “manicômio judiciário” de Pesaro, onde praticou a autópsia
em grandes delinquentes da Calábria e Sicília, chamados “grassatori”, tendo examinado
muitos destes. O primeiro que lhe chamou a atenção foi um tal de Vilella, em cuja
autópsia observou uma terceira fosseta occipital. Esse foi o “eureca” de Lombroso.

Essa fosseta dá origem á sua teoria do “atavismo”, porque também é encontrada em


alguns crânios de homens primitivos.

De 1871 a 1876, Lombroso continua trabalhando com esses elementos e publica uma
séria de folhetos sob o nome de “L’uomo Delinqüente”, que adquiriram tam importância
e desenvolvimento, que a 6ª edição, publicada em Turim, em 1901, compreende 4
volumes e 1 atlas.

Lombroso é considerado o “Pai da Criminologia Moderna”. Seu grande mérito foi ter
desviado a atenção da Justiça para o homem que delinqüe.
Teoria de Lombroso:

Lombroso criou a “teoria do criminoso nato”, ou seja, um indivíduo que já nasce


criminoso segundo seu aspecto físico, suas mal formações congênitas. Assim, para
Lombroso, o criminoso já nasce criminoso, ou seja, é um delinquente nato, de acordo
com sua aparência externa, biológica, antropológica. Ou seja, o criminoso, para
Lombroso, tem cara de criminoso e já nasce com essa cara.

O criminoso nato se explica, segundo esta teoria, pelo chamado “atavismo” que é o
aparecimento, em um descendente, de um caráter não presente em seus ascendentes
imediatos, mas sim em remotos, como por exemplo, se um membro de determinada
família apresente uma polidatilia, que é a anomalia congênita de possuir dedos a mais
que o normal, e não existir nessa família ninguém nas mesmas condições, dir-se-á que é
uma malformação atávica. Lombroso chegou ao atavismo após fazer a autópsia no
cadáver de Vilella, onde encontrou a terceira fosseta occipita lou média, a qual é
encontrada também, em alguns crânios de homens primitivos.

Lombroso julgou, também, ter encontrado relação entre a epilepsia e a chamada “moral
insanity” (insanidade moral), ou seja, para ele todo o epilético era um criminoso nato e,
pois, um doente mental.

Segundo Lombroso, no delito epilético há algumas características que o distingue:

- Ferocidade e multiplicidade extraordinária das lesões. O delinqüente epilético não


provoca somente um ferimento, mas muitos;
O delinquente epilético não tem cúmplices; age sozinho, pois o faz fora de si;
Perde a lembrança do ato, esquece-o; pode lembrá-lo, ás vezes, porém, com imprecisão.

Características do homem delinquente para Lombroso:

Lombroso, foi no fundo, um fisiognomista, pois imaginou ter encontrado, no criminoso,


em sentido natural-científico, uma variedade especial de homo sapiens, que seria
caracterizada por sinais (stigmata) físicos e psíquicos. Tais estigmas do criminoso nato,
foram classificados em “taras”.

Vejamos:

1-Taras Anatômicas: São estas:


Fosseta occipital mediana (um pequeno crânio e, portanto, uma cabeça igualmente
pequena).

Acreditava, Lombroso, que quanto menor o volume e o peso do cérebro menos


inteligência o indivíduo tinha e, portanto, seria um criminoso;

- Maxilar inferior procidente (mandíbula grande);

- Molares muitos grandes (dentuço);

- Orelhas de abano;

- Fartas sobrancelhas;

- Dessimetria corporal;

- Grande envergadura dos braços e dos pés, etc.

2-Taras Degenerativas Fisiológicas (funcionais) - São estas:

- Daltonismo;
- Mancinismo (surdez);
- Insensibilidade á dor (tatuagens);
- precocidade sexual, etc.

Ao observar as tatuagens, chegou á conclusão rápida de que em vista das tatuagens, os


delinquentes teriam insensibilidade á dor, já que os delinquentes seriam, em sua imensa
maioria, tatuados.

3-Taras Psicológicas – São estas:

Vaidade;
- Ações impulsivas;
- Tendências alcoólicas;
- Negligência;
- Superstições;
Uso de gírias;
- Imprevidência;
- Crueldade;
- Instabilidade;
- Indolência, etc.

Classificação do homem delinqüente para Lombroso:

Cesare Lombroso classificava os criminosos consoante se segue:

Criminoso nato: era por ele encontrado entre 30% e 35% da massa delinquente, ou
seja, num termo médio de 33%.

- Criminalóide: conceito puramente lombrosiano, que se refere ao meio delinquente,


similar ao “meio louco”. Considerava-se aqui, os pseudo-delinquentes que já tivessem
tido contato nos cárceres com os criminoso natos e que já não podiam ser considerados
pseudo-delinquentes, porque já possuíam certa malícia criminal.

Nos seus estudos para definir o criminoso nato, Lombroso primeiro o comparou á um
selgavem, por ser a conduta do criminoso nato parecida com a dos homens das
cavernas; depois comparou-o com a criança, baseado no egocentrismo desta, por sua
vaidade e egoísmo. Mais tarde, sem abandonar essas teorias, referiu-se á loucura moral
e, somente no final dos estudos, focalizou a epilepsia.

Consequências da teoria de Lombroso

As consequências da teoria lombrosiana foram, em sua época, extraordinárias. Não


houve ramo do Direito Penal onde não se fez sentir-se a influencia da teoria de
Lombroso. Estremeceu o edifício do Dto. Penal até os seus alicerces.
Sustentava que ao criminoso nato, por sua própria natureza, não cabia a aplicação de
pena, e se é encarcerado, comete-se uma injustiça, porque para Lombroso o criminoso
nato é um doente.
Foi Lombroso quem 1º falou da necessidade de segregá-lo da sociedade, isolando-o,
para que deixasse de ser perigoso, quer dizer, torná-lo inofensivo. Esta seria uma
medida preventiva, como as que agora são adotadas relativamente aos
alienados (medidas de segurança).

Lombroso recomenda certos tipos de penas para o criminoso, como duchas frias,
trabalhos pesados, exercícios exaustivos; porém, prescreve de forma categórica o uso da
tortura. Para os alienados recomendava o “manicômio judiciário”. Para os velhos,
propunha a internação em hospícios, não aceitando para eles a prisão, por considerá-los
incapazes de continuar cometendo delitos. Só aceitava a pena de morte em casos
graves, por julgála muito dolorosa.

No campo da Política Criminal, a contribuição mais importante de Lombroso, foi


recomendar a segregação do delinquente como defesa social, mesmo antes que cometa
seus delitos, quer dizer, enuncia o conceito de periculosidade pré-delituosa. Dizia
Lombroso que, diante de um delinqüente nato, não se deve esperar que este cometa
um delito, mas deve ser segregado da sociedade antes que o faça.

Críticas à teoria de Lombroso

Após um certo período de apogeu (sobretudo com a publicação de sua famosa obra O
Homem Delinquente), os adversários de suas ideias, a começar por seu sucessor na
cátedra da Universidade de Turim, Francesco Carrara e outros integrantes da chamada
Escola Clássica de Direito Penal (Filangieri, Fuerbach, etc) trouxeram à colação todos os
aspectos falhos da Antropologia Criminal, culminando, através de inúmeras pesquisas
que empreenderam, por fulminarcom a figura do criminoso nato.

Principais críticas feitas á teoria de Lombrosiana:

1ª- Avaliar a criminalidade com base na aparência física. Para Lombroso, todo o
indivíduo que tivesse as características já mencionadas era um criminoso nato. Contudo,
é certo que há delinquentes que apresentam os traços lombrosianos; mas também
encontramos esses traços em homens inteligentes não delinquentes, ou mesmo em
débeis mentais não delinquentes, como também, há criminoso que não apresentam tais
traços. As características anatómicas das anormalidades morfológicas são próprias tanto
dos delinquentes como dos não delinquentes;

2ª- Avaliar a criminalidade com base na epilepsia. Para Lombroso, todo o epilético era
um criminoso em potencial. Comprovou-se haver epiléticos delinquentes, da mesma
maneira que não delinquentes;
3ª- Avaliar a criminalidade com base em taras degenerativas (daltonismo, surdez,
precocidade sexual, tatuagens, etc.) ou taras psicológicas (vaidade, crueldade, uso de
gírias, tendências alcoólicas, etc). Se é verdade que nos criminoso observam-se muitas
destas taras, não é menosverdade que há indivíduos normais que também as
apresentam e criminosos que não apresentam nenhuma.

4ª- Declarar a incapacidade de reeducação e readaptação do homem “tarado”


(delinquente). No entanto, atualmente sabemos que quando essas “taras” são desviadas
a tempo, podem ser evitadas e é possível conseguir-se a readaptação e reeducação dos
tarados.

Não obstante as inúmeras críticas que são feitas, a teoria de Lombroso tem o mérito
extraordinário – que imortalizará seu nome- de haver desviado a atenção do fato
delituoso para o homem delinquente.

e) ENRICO FERRI (1856-1929)

Publicou sua obra Sociologia Criminal em 1914, sendo considerado o criador da


Sociologia Criminal, malgrado esteja ele incluído na Escola de Antropologia
Criminal, até porque, foi o que mais fez pelo prestígio da Antropologia Criminal.

Enrico Ferri deu relevo não só aos fatores biológicos, como também aos sociológicos,
além dos físicos. Salientou, ele, a existência do trinômio causal do delito, composto por
fatores antropológicos, sociais e físicos.

Foi também quem 1º classificou as causas dos delitos em três grupos: biológicas, físicas
e sociais:
Causas Biológicas: a herança, a constituição genética, etc;

- Causas Físicas: o meio ambiente (clima, umidade, etc);

- Causas Sociais: o ambiente social.

Agrupa, pois, os fatores mencionados em 2 grupos: endógenos e exógenos.


Endógenos: causas biológicas
- Exógenos: causas físicas e sociais.

A polêmica mais importante que se originou foi estabelecer quais os fatores que mais
influem na conduta do indivíduo criminoso: os endógenos ou os exógenos? O
criminoso nasce ou é feito? Lombroso, Ferri e Garófalo eram partidários dos fatos
endógenos (ele nascecriminoso).

Para Ferri o importante não é castigar e sim prevenir.

Ferri teria sido o criador da expressão “criminoso nato”, isto em 1881. É o que ele
próprio admite em seu livro “Os Criminosos na Arte e na Literatura”, onde, em
determinado trecho, expõe: “os delinquentes a que eu dava, em 1881, o nome de
criminosos natos”.

Classificação do homem delinquente para Ferri:

Classificou os criminoso em 5 tipos, a saber:

Nato: tipo instintivo de criminoso, descrito por Lombroso, com seus estigmas de


degeneração;

Louco: não só o alienado mental, como, também, os semiloucos, os fronteiriços;

- Ocasional: aquele que eventualmente comete um delito;

- Habitual: o indivíduo que faz do crime a sua profissão;

Passional: aquele que é levado ao crime pelo ímpeto, pelo arrebatamento. Cometem o


delito impulsionados por uma paixão que explode como cólera, em virtude de um amor
contrariado, de uma honra ofendida. Geralmente são mulheres e cometem o crime sem
premeditação. São indivíduos que têm alguma coisa de louco.

c) RAFAEL GARÓFALO (1852)

O magistrado Garófalo foi o criador do termo “Criminologia”, para quem seria a ciência
da criminalidade, do delito e da pena.
Em razão de sua orientação naturalista e evolucionista, o ponto de partida de sua
doutrina é a conceituação do que chamou de “delito natural”. Examinou em sua obra,
também, a classificação de criminosos, que acabou por formular. Seu livro data de 1884,
já com o nome de Criminologia.

Garófalo era um jurista, tendo sido ministro da Corte de Apelação de Nápoles. Elaborou
sua concepção de delito natural partindo da idéia lombrosiana do criminoso nato e,
assim sendo, afirmava que, se existia um criminoso nato, deveria, necessariamente,
existirem delitos que fossem considerados como tal, em qualquer lugar ou época.

Para chegar á definição de delito natural, Garófalo procurou a parte mais profunda e
essencial dos sentimentos humanos.

Observou que tanto Lombroso como Ferri evitaram definir o que consideravam delito.
Garófalo propôs-se a isto. Passou a observar grupos sócias de diferentes épocas e
chegou á conclusão de que o conceito de delito era completamente diferente entre
povos distintos. Assim, o fato de causar a morte de um indivíduo, que é o crime de
homicídio, em outras épocas foi somente um costume.

Em vista disto, encaminhou suas investigações em outro sentido, buscando quais


éramos sentimentos indispensáveis para a conveniência social e chegou á essa
conclusão: são indispensáveis a piedade e a probidade, definindo, então, o seu “delito
natural”:

Delito Natural: “Ofensa aos sentimentos altruístas fundamentais de piedade e


probidade, namedida média em que os possua um determinado grupo social”.

Classificação do homem delinquente para Garófalo:

Baseado nesse conceito, Garófalo fez a sua própria classificação dos delinquentes:

- aqueles que vão contra o sentimento de piedade: assassinos


. - aqueles que vão contra o sentimento de probidade: os ladrões.
- aqueles que atentam contra ambos os sentimentos: os salteadores, “grassatori”.
- aqueles que atentam contra os costumes: criminoso sexuais ou cínicos.

Para Garófalo, há duas maneiras de se tratar os delinqüentes:

- Os que cometem delitos legais, estabelecidos em textos positivos como Códigos,


regulamentos,etc: bastaria uma simples advertência e a obrigação de reparar o dano;
Os que cometem delitos naturais, ou seja, próprios de criminosos natos: pena de morte
ou expulsão do país.

Tais fatores levantaram uma onda de indignação contra ele.

4º - ESCOLA SOCIOLÓGICA (1890-1905): 

O crime é produto do meio social, sobretudo de factores económicos.


O período sociológico compreende todas as teorias que se ergueram para combater a
teoria lombrosiana, calcada nos factores endógenos como causadores de criminalidade,
ao passo que, as doutrinas sociais e do meio ambiente, sustentavam que os factores
exógenos eram efetivamente os mais importantes ocasionadores do delito.

A Sociologia Criminal surgiu em meados do século XIX e teve a influência de Augusto


Comte e Adolphe Quetelet.

a) Augusto Comte: É considerado o fundador da Sociologia Moderna (ciência abstrata


que tem por fim a investigação de leis gerais que regem os fenômenos sociais).
b) Adolphe Quetelet: Foi o criador da Estatística Científica, dando origem ao
aparecimento da Estatística Criminal.

Escreveu Física Social, em 1835, no qual formula 3 princípios:

- o delito é um fenómeno social;


- os delitos se cometem ano após ano com total precisão;
- vários fatores influenciam no cometimento do crime, como a miséria, o analfabetismo,
o clima, etc.

Fulcrado nesses 3 princípios, ele estabeleceu as chamadas “Leis Térmicas de Quetelet:

I- no inverno se cometem mais delitos contra a propriedade, donde se deduz que nesta
época do ano são maiores as necessidades para a sobrevivência do homem;
II- no verão se cometem mais crimes contra a pessoa, devido á efervescência maior das
paixões humanas, provocada pelo aquecimento pelo sol;
III- os delitos sexuais são mais freqüentes na primavera, considerando a exacerbação da
atividade sexual nessa época.

Doutrinas sociais que prevaleceram nesse período:


1º) Teorias Antropo-Sociais Pretendem relacionar, de certo modo, os princípios de
Lombroso com os sociais.

Segundo estas teorias, o meio social influi sobre o delinqüente antropologicamente


nato, predispondo-o á cometer delitos. Entendem que o criminoso pode nascer
comcerta predisposição ao crime, porém, sem chegar a aceitar o delinqüente nato,
preferindo o termo “predisposto”.

Assim, aceitam a influencia de fatores endógenos que predispõe o indivíduo a cometer


crimes.

São tais teorias sustentadas por Lacassagne e Manouvrier.

- Lacassagne , no primeiro Congresso de Antropologia Criminal de Roma, em 1885,


combateu as teorias lombrosianas. Escreveu duas obras de importância, as quais têm
repercussão, até hoje, em todo o mundo.

A primeira enunciava: “À maior desorganização social, maior criminalidade; á menor


desorganização social, menor criminalidade”.

Foi o autor dessa conhecida frase: “As sociedades têm os criminosos que merecem”.
Na segunda, comparava a sociedade com um meio de cultivo, e afirmava que “a
sociedade é um meio de cultivo que abriga em seu seio uma série de micróbios que são
os delinqüentes e que estes não desenvolverão se o meio não lhes for propício”.
Resumindo, podemos dizer que para Lacassagne, os fatos sociais atuam sobre o sujeito
“predisposto”; substituiu o conceito de nato pelo de predisposto.

- Manouvrier :

 Professor de Antropologia da Universidade de Paris, não tem outro mérito que não seja
ter sido o braço direito de Lacassagne na sua luta contra as doutrinas de Lombroso.

2ª) Teorias Sociais Propriamente Ditas

É eliminado todo o fator endógeno e se dá importância exclusiva aos fatores exógenos


(meio social), ou seja, o criminoso não nasce criminoso, mas transforma-se em um por
influencia do meio social. Dentre os vários autores destaca-se Gabriel Tarde.

- Gabriel Tarde publicou 3 obras importantíssimas: “A Criminalidade Comparada”,


publicada em 1886, “As Leis da Imitação”, publicada em 1890 e “A Filosofia Penal”,
publicada em 1890.
“A Criminalidade Comparada”: 

Tarde demonstra que há indivíduos que são inadaptáveis ao meio em que vivem e essa
inadaptação decorre de 3 causas:

A inércia (dolce far niente);

A facilidade de reacções impulsivas: por falta de convivência social;


A incapacidade para um trabalho regular e sistemático: a rotina da nossa época é algo
que destrói ao indivíduo melhor organizado. Nunca se enfatizou o quanto a rotina influi
em nós. Temos que possuir uma constituição especial, sujeita a um conceito moral e um
respeito extraordinário pela comunidade para que possamos viver neste mundo.

“As Leis da Imitação”:

Tarde diz que a delinquência é um fenómeno fundamentalmente social e que o moto


que ativa o conglomerado social é a imitação. Observou o seu mundo contemporâneo,
verificando que 90% das pessoas não possuem espírito de iniciativa. Os restantes 10%
são os que possuem alguma iniciativa e, somente 1% têm espírito verdadeiramente
inovador. O restante, ou seja, a esmagadora maioria, seja por fraqueza, seja por
incapacidade de afastar-se do meio, seja por comodismo, não é capaz de sobrepor-se
ás forças centrípedas que dominam o meio social.

“A Filosofia Penal”:

 Tarde sustenta que a responsabilidade penal baseia-se em dois elementos: a identidade


pessoal e a semelhança pessoal.

1-Identidade Pessoal – somente pode ser considerado penalmente responsável quem


guarde semelhança estreita entre o ato cometido e a sua personalidade, ou seja, quem
antes, durante ou depois do delito seja o mesmo sujeito. Se um indivíduo apresenta,
depois do delito, uma falta de similitude com a sua personalidade anterior ao delito,
não é um indivíduo normal e estaremos diante de um provável transtorno mental. Este
em sido o conceito que tem servido de base para a fixação das circunstancias
atenuantes da responsabilidade criminal que os Códigos estabelecem em favordos
alienados.
2-Semelhança Social: não pode ter responsabilidade penal o indivíduo que não tem
relação com o grupo social em que convive, como o inadaptado, que possui um instinto
impulsivo irrefreável e que não mantem nenhuma conexão com o grupo. Para o
inadaptado social propõe medidas preventivas.

 Teorias Socialistas

O século XIX caracteriza-se pelo aparecimento da mecanização (Revolução Industrial) e


começa-se a estudar a influencia das máquinas e da economia na delinquencia.
A doutrina de Lacassagne de que “cada sociedade tem os criminosos que merece”, foi
transformada pela doutrina de Karl Marx de que ”cada sistema de produção tem os
delinqüentes que merece”. É o método de produção que dá uma modalidade própria á
criminalidade.

A miséria, a pobreza, para os teóricos socialistas tem influencia na criminalidade, mas o


que lhes interessa é a influencia do sistema económico em geral, e não um aspecto
parcial.

Pregam que um sistema económico no qual houvesse uma melhor distribuição de


riqueza e um máximo de estabilidade do próprio regime, excluiria a criminalidade.

4ª) Período da Política Criminal (1905 até o dias actuais)

A característica especial desse período é uma espécie de trégua na discussão inflamada


entre as escolas italiana e francesa sobre as teorias lombrosianas.
A escola italiana (positivista) baseando o crime apenas em fatores endógenos e a escola
francesa (socialista) baseando o crime apenas em fatores exógenos.
Essa trégua se manifestou em várias escolas, tais como:

1- A Terza Scuola;

2- A Escola Espiritualista;
3- A Escola da Política Criminal, que é a que dá o nome á esse período da
Criminologia.

4- Criação dos Institutos de Criminologia e Gabinetes Penitenciários de


Antropologia

5- Criação de Organismos Internacionais

1- A Terza Scuola:

É uma escola de Direito Penal e apresenta e postulados:


Que o Dto. Penal deve manter-se como ciência independente, de vez que a teoria
lombrosiana tinha a tendência de incluí-lo dentro da Criminologia
Que o delito tem várias causas, tanto endógenas como exógenas;
Que os penalistas, junto com os sociólogos, devem fazer o possível para obter as
reformas sociais mais necessárias, tendentes a modificar as condições em que
vive a massa.

A Escola Espiritualista:

Sustenta que cada indivíduo tem o livre arbítrio de fazer o que lhe dá prazer, ou seja,
prevalece apenas a vontade própria de cada indivíduo, sem qualquer limitação.
Esse conceito não foi aceito e logo surgiu a escola NeoEspiritualista.

Escola Neo-Espiritualista: Afirma que se é verdade que o homem tem liberdade, ela não
existe no sentido amplo, mas tem certas limitações impostas pelo meio ambiente. A
liberdade é um conceito filosófico e político, que analisado com critério realista, nos
demonstra que somos escravos da hora, do dever, das conveniências sociais, da rotina,
dos comentários alheios, etc.

A Escola da Política Criminal:

A Política Criminal é de proporções tão vastas, que se pode chegar a confundi-la com a
prórpia Criminologia.
Vejamos algumas definições de Política Criminal:
Quintiliano Saldanã: “Política Criminal é o estudo científico da criminalidade, suas
causas e os meios para combatê-la”.
Manzini: “Política Criminal é o conjunto de conhecimentos que podem levar a realizar
um plano real e não utópico”. (Tratado de Direito Penal)
- Feuerbach: “ Política Criminal é o saber legislativo do Estado em matéria de
criminalidade”.
- Guillerno Portella: “Política Criminal é o conjunto de ciências que estudam o delito e
a pena, com o fim de descobrir as causas da delinqüência e determinar seus remédios”.
- Franz Von Liszt: “Política Criminal é o conjunto sistemático de princípios, segundo os
quais o Estado e a sociedade devem organizar a luta contra o crime”. Liszt é
considerado o “Pai da PolíticaCriminal”, tendo publicado importante obra (Princípios de
Política Criminal) em 1889.

Vemos, portanto, que de acordo com o exposto pelos autores:


“Política Criminal nada mais é que os princípios, produtos da investigação científica e da
experiência sobre os quais o Estado deve se basear, para prevenir e reprimir a
delinqüência”.
Há discussões á respeito da origem da Política Criminal. A tendência mais aceita é ser
atribuída á Von Liszt, por ter este determinado com maior exatidão o que é Política
Criminal; mas, a denominação “Política Criminal”, aparece escrita muito anteriormente á
Von Liszt e Feuerbach.

Diversos autores trabalharam com Política Criminal, dentre eles:

- Na Itália: Beccaria, Manzini, Filanghieri

- Na França: Voltaire

- Na Inglaterra: Jeremias Bentham

- Na Alemanha: Franz Von Liszt e Feuerbach.

Diferenças entre Política Criminal e Criminologia:

Embora ambas sejam muito parecidas, não devem, pois, serem confundidas.
- Criminologia: estuda as causas da criminalidade, o delinqüente e procura a maneira
de readaptá-lo.
- Política Criminal: é um ramo do Direito Penal. Não estuda o delinqüente, deixando
isto á cargo da Criminologia. Baseia-se nos resultados obtidos por esta para elaborar os
meios de repressão e prevenção á delinqüência. Baseia-se, também, na Antropologia
Criminal (que estuda o delinqüente) e na Estatística Criminal (que traduz em cifras os
fenômenos da criminalidade num determinado espaço de tempo). Assim, a Política
Criminal é a aplicação pelo Estado das medidas necessárias para a prevenção e
repressão da criminalidade, ou seja, a aplicação das medidas que fluem da investigação
científica do fenômeno da criminalidade. A liberdade condicional, a liberdade provisória,
a proteção á infância, etc. são resultados práticos dos princípios da Política Criminal.

Criação dos Institutos de Criminologia e Gabinetes Penitenciários de Antropologia


O 1º Instituto de Criminologia do mundo foi criado em 1906, em Buenos Aires, pelo
médico argentino José Ingenieros e pelo Diretor da Penitenciária de Buenos Aires,
Antônio Ballvé. Já o 1º Gabinete Penitenciário de Criminologia foi fundado na Bélgica,
por Luis Vervaeck.

Criação de Organismos Internacionais

União Internacional de Direito Penal: Pretendeu uma posição eclética. Aceitava o


delito como um fenómeno natural e social, admitindo a influencia dos fatores
endógenos e exógenos. Não era adepto do conceito do delinqüente nato, mas da
“predisposição”, da qual falavam os defensores da Escola Francesa.

Comissão Internacional Penal e Penitenciária: Criada em 1912, tem o mérito de haver


estabelecido uma série de normas mínimas para a melhoria dos estabelecimentos
penitenciários e o tratamento dos reclusos.

- Associação Internacional de Direito Penal: Fundada em 1924 pelo espanhol


Qunitiliano Saldanã.

- American Institute for Criminal Law: Criado nos EUA, propôs a adoção de


numerosas medidas profiláticas em muitos Estados, baseando-se, para isto, na
Estatística
- Sociedade Internacional de Criminologia: Fundada em 1953, tendo o 1º Congresso
realizado em Roma, no ano de 1938.
6º Módulo: As Causas da Criminalidade

FACTORES ENDÓGENOS
BIOTIPOLOGIA CRIMINAL
GENERALIDADES:

A Biologia é a “ciência dos seres vivos analisados sobre os prismas fisiológico,


morfológico e evolutivo”.
Compete à Biologia fixar o biótipo da pessoa.

Biótipo: é o conjunto de caracteres morfo-físico-psicológicos do indivíduo. Deflui,


portanto, que o método da Biologia é o da experimentação e seu objeto é a constelação
de indivíduos.
Referindo-se á Biologia Criminal, entende o insigne jurisconsulto Edgard Magalhães
Noronha, que ela se identifica perfeitamente com a Antropologia Criminal. Ambas
representam uma só disciplina, eis que voltadas para o estudo dos caracteres
fisiopsíquicos do delinqüente em consonância com a influencia externa, no escopo do
esclarecimento da gênese criminógena. Noronha entende que o fator biológico
instintivo é o determinante de todo o ato infracional.

A HERANÇA GENÉTICA

A herança é “a lei biológica em virtude da qual todos os seres vivos tendem a repetir-se
em seus descendentes”. Quer dizer, os pais transmitem aos filhos toda a bagagem que
receberam de seus ancestrais, ou seja, todas as características biológicas, fisiológicas e
psicológicas dos seus descendentes.

O meio ambiente, o mundo que nos rodeia, não é capaz de criar nada, apenas de
acelerar ou frear, expandir ou restringir a herança natural. A herança pode ser influída
pelo meio ambiente, mas não é capaz de criar nada.

Existem alguns aspectos ou caracteres que são essências na hereditariedade.

Vejamos quais:

1º) A herança existe para todos os caracteres, sejam eles favoráveis ou não. Assim como
se transmitem caracteres bons (a inclinação para a música, na família dos Bach, por
exemplo), também se transmitem os negativos (a hemofilia, na família dos Habsburgos,
por exemplo).

2º) A herança não é igual nem fatal para todos os descendentes do mesmo casal. Os
únicos seres considerados idênticos são os gémeos verdadeiros, ou seja, os uni vitelinos
(gémeos que nascem de 1 só ovo).

3º) A herança se manifesta simultaneamente por semelhanças e diferenças. As


semelhanças representam a herança directa de pai para filho. As diferenças se devem ao
fato de que herdam caracteres de outros ascendentes: é a herança atávica ou indirecta
(netos que herdam certos caracteres dos avós ou mesmo de ascendentes ainda mais
remotos). A herança também pode se apresentar nos colaterais, como sucede com
irmãos, tios, sobrinhos, primos, etc.

4º) Habitualmente, a herança é bilateral, isto é, os caracteres são transmitidos tanto do


pai quanto da mãe.

A HERANÇA DO HOMEM

Dividiremos o estudo da herança do homem em 3 partes:

a) Herança Normal (com todas as suas variedades);

b) Herança Anormal ou Patológica;

c) Herança do Crime

a) Herança Normal:

Já dissemos anteriormente que o meio ambiente, embora não seja capaz de criar
nada por si mesmo, é contudo uma força formidável capaz de acelerar, retardar
ou desviar a bagagem hereditária recebida de nossos ascendentes.

Quanto á herança normal cabe ressaltar os caracteres morfológicos, fisiológicos e


psicológicos.
- Caracteres Morfológicos: dizem respeito principalmente ao sexo, raça, estatura,
glândulas endócrinas, conformação da cabeça, etc. Relativamente ao sexo, geralmente o
homem é mais alto que a mulher, também devendo ser consideradas as diferenças
entre suas medidas cranianas. Com respeito ás glândulas endócrinas, temos o caso da
ação da tireóide e da hipófise que podem originar tipos tireodianos ou hipofisários. O
peso depende muito de fatores hereditários e ambientais. A disposição, a forma e o
tamanho dos órgãos internos e externos do indivíduo resultam de fatores hereditários
(orelhas, lábios, nariz, etc).

- Caracteres Fisiológicos: Podemos citar aqui o tipo de morte característico de


determinadas famílias (como os doentes cardíacos); a fecundidade (observam-se
famílias tipicamente não prolíferas); o tipo de menstruação nas mulheres; a força
muscular; a pressão arterial (famílias de hiper-tensos); atitude geral (maneira de ser, de
andar, o tom da voz, os “tiques”), etc.

- Caracteres Psicológicos: Há certas aptidões artísticas que se constatam com certa


freqüência na evolução de determinadas famílias, como a inclinação musical nas famílias
de Bach, Strauss, etc. Isto se deve á herança ou ao fato das crianças pertencentes a essas
famílias terem nascido e crescido em um ambiente musical??? Por outro lado, tivemos
grandes gênios musicais, cientistas e sábios, cuja descendência não herdou tais
características. O geneticista alemão Hoffmann sustenta que a inteligência é hereditária
e está ligada ao sexo: os filhos têm mais possibilidades de herdar ascaracterísticas de
inteligência do pai e as filhas da mãe. No que diz respeito ao caráter, os filhos herdariam
o da mãe e as filhas o do pai. Evidente, entretanto, que todos esses caracteres não
podem escapar da influencia de fatores ambientais.

b) Herança Anormal ou Patológica:

Sobre este particular aspecto devemos recordar que não devem ser confundidas as
taras hereditárias com as malformações congênitas. Nossas taras hereditárias são as que
vem nacélula germinal e não desaparecem; ao passo que as malformações congênitas
se devem a causas que intervém depois da gestação do novo ser. Um choque elétrico
sofrido pela mãe em estado de gravidez, pode influir em sua descendência; as relações
sexuais em estado de alcoolismo tem uma grande influencia pelo grande poder de
difusão do álcool através dos tecidos orgânicos; também ostraumatismos sofridos pela
mãe durante a gestação podem ter influencia.

As taras hereditárias decorrem da má conformação dos genes e são encontradas


repetidas vezes em vários membros de uma família, sendo transmitidas com certa
Constancia.
Dentre as principais taras, destacam-se:

1- Taras Morfológicas: polidastilia (6 dedos), lábios leporinos, hermafroditismo, etc;


2- Enfermidades Constitucionais: ananismo, gigantismo, sensibilidade ás intoxicações,
ou seja, alergias (como ocaso das famílias que não podem injerir aspirina sem sentir
notórios transtornos), imunidades para certas doenças ou predisposições para adquiri
outras (como a urticária – alergia resultante de certos alimentos como chocolate, ovo,
mariscos, etc.), doenças gerais (como a diabetes, a pressão alta, etc.);
3- Doenças do Sangue: como a hemofilia, por exemplo;
4 - Doenças Endócrinas: como o bócio, vulgarmente chamado de “papeira”. Há famílias
nas quais se observa a doença, porém, não há certeza da sua transmissão hereditária;
5- Doenças do Aparelho Circulatório – coração e vasos sanguíneos: Varizes, hemorragias
cerebrais (derrame cerebral), morte súbita, infarto, etc.;
6- Doenças do Aparelho Digestivo: úlceras gastroduodenais, cirrose, etc.;
7- Doenças do Aparelho Urogenital: incontinência urinária (enurese noturna);
8- Doenças do Aparelho Genital: criptorquidia (ausência de testículos no escroto, que
pode ser parcial ou total, faltando, pois, um ou ambos os testículos);
9- Doenças da Pele, Cabelos e Dentes: Parece que há uma certa influencia hereditária
com relação á algumas doenças, como eczema, urticária, edema paroxístico (inchaço
dos lábios ou pálpebras inferiores que costuma aparecer em famílias de neuróticos),
calvície, cabelos brancos, determinadas afecções dentárias (cáries, gengivites, por
exemplo, tendo-se observado famílias inteiras com má estrutura dentária);
10- Doenças do Sistema Nervoso: afetam o cérebro, o cerebelo, a medula, etc.;
11- Doenças dos Órgãos dos Sentidos: surdez, surdo-mudez, daltonismo, albinismo, etc;
12- Epilepsia: A qual pode ser de dois tipos: Essencial e Jacksoniana. Essencial é aquela
característica dos indivíduos que não tenham sofrido grandes acidentes na sua vida,
sendo, portanto, uma epilepsia sem causa justificável e explicável. A Jacksoniana (de
Jackson, que descreveu a epilepsia adquirida), é aquela explicável, tendo origem
conhecida, pois há sempre uma lesão agindo como pólo de irritação (ossos que se
desprenderam, formação de pus enquistado, etc) o que pode irritar o córtex cerebral,
provocando, assim, a crise epilética. A epilepsia Essencial é incurável; a Kacksoniana é
curável numa expressiva porcentagem, pois é muito possível localizar a causa irritativa e
eliminá-la. Quanto ás possibilidades de transmissão hereditária seria a epilepsia
Essencial a única suscetível de sê-lo, pois a Jacksoniana é adquirida e, como tal, não
transmissível hereditariamente;
13 - Doenças Mentais: Segundo pesquisa realizada por diversos autores de criminologia,
há a probabilidade 30% a 60% de transmissibilidade de doenças mentais. A herança
dessas doenças pode ser direta, quando se herda de ascendentes diretos, ou seja, de
pais para filhos (caso das famílias de esquizofrênicos), ou indireta, também chamada de
atávica, quando aparece na linha colateral (como ocaso do sobrinho que herda uma
doença mental do tio, ou doenças que vêm de gerações anteriores);
14 - Doenças do Caráter: De um modo geral, poderíamos dizer que o caráter é
constituído pelas características fundamentais de um indivíduo que pautam a sua
conduta. Não podemos, porém, negar, a influencia que o meio exerce sobre o caráter.
Geralmente podemos dividir os indivíduos segundo a sua maneira de ser em 2 grandes
grupos:
a) o indivíduo ciclotímico: é o que tem períodos variáveis de bom ou mal humor.
Quando esta característica se acentua, encontramo-nos diante da personalidade
ciclóide, que em seu mais elevado grau, gera a psicose maníaco depressiva ou psicose
circular. Neste último estado, o indivíduo passa a ser um verdadeiro doente mental;
b) o indivíduo esquizotímico: é de uma grande vida interior, fechado ao ambiente, cujas
reações aos estímulos externos são diferentes em diversas ocasiões. Assim, um
indivíduo deste caráter, diante de uma determinada brincadeira, poderá ás vezes rir
francamente e em outras permanecer indiferente. Quando esta característica se acentua,
temos a personalidade esquizóide, que, em sua fase de maior gravidade, pode dar lugar
ao aparecimento da doença chamada esquizofrenia ou demência precoce.
15 - Oligofrenias: é aquela doença que se caracteriza pela falta de inteligência no
indivíduo.

Apresenta-se em 3 estados:
a) O idiota: é o estado mais grave, pois o indivíduo não atinge idade mental superior a 3
anos; deve ser alimentado por terceiros, feita sua higiene, etc., sendo incapaz de cuidar
de si mesmo;
b) O imbecil: de idade mental superior a 3 anos e inferior a 7; fala mais corretamente,
consegue aprender a ler um pouco e a assinar o próprio nome;
c) O débil mental: idade mental superior a 7 e inferior a 14 anos.

16 - Suicídio: Apresentam-se casos de verdadeiras famílias de suicidas. Os autores


modernos consideram que o que se herda é a personalidade (ciclotímica ou
esquizotímica), ou seja, a base fundamental, que diante de um estímulo mais ou menos
violento do meio, vai determinar a conduta do suicida.

17- Alcoolismo: Acredita-se muito que o alcoolismo seja hereditário. No entanto, não
podemos saber até que ponto influi no filho o mal exemplo de seus pais, a imitação
destes, etc. Existem características alcoólicas que é possível que sejam hereditárias como
a dipsomania, que quer dizer o impulso incoercível para beber.

18- Outras Toxicomanias: Morfismo, cocainismo, etc. Nestes casos, não se herdaria uma
tendência exclusiva para usar a morfina ou ingerir a cocaína, mas apenas uma
predisposição ao uso dos tóxicos ou drogas em geral.
f) Herança do Crime:

g)
Desde do século XVIII, que são formuladas várias teorias científicas para explicar
as causas do delito. O médico alemão Franz Joseph Gall, procurou relacionar a
estrutura cerebral com as inclinações criminosas. No final do século XIX, o
criminólogo Cesare Lombroso afirmava que os delitos são cometidos por aqueles
que nascem com certos traços físicos hereditários reconhecíveis, teoria essa
refutada no começo do século XX, por Charles Goring, que efetuou um estudo
comparativo entre delinquentes encarcerados e cidadãos respeitadores da lei,
concluindo que não existem os denominados “tipos criminais” com disposição
inata para o crime. Na França, Montesquieu procurou relacionar o
comportamento criminoso com o ambiente natural e o físico.

Por outro lado, estudiosos ligados aos movimentos socialistas consideram o delito
como um efeito derivado das necessidades da pobreza. Outros teóricos relacionam a
criminalidade com o estado geral da cultura, sobretudo pelo impacto desencadeado
pelas crises econômicas, pelas guerras, pelas revoluções e pelo sentimento generalizado
de insegurança, derivado de tais fenômenos.

No século XX, psicólogos e psiquiatras desenvolvem estudos teóricos no sentido de


indicar que cerca de um quarto da população reclusa é composta por indivíduos com
comportamentos psicóticos, neuróticos ou também por indivíduos de instabilidade
emocional e o outro quarto, padecem de deficiências mentais.

Frequentemente, são mencionadas enfermidades que se herdam. Em nossos


estudos vamos tratar de ver se o crime em si tem relação com a herança.
Diversos distúrbios de conduta, e dentre eles a delinquência de adultos, a criminalidade
juvenil, a homossexualidade, etc., indicam a presença de um fator genético
predisponente, sem desprezar o fator ambiental, é claro.

Pesquisas encetadas na Dinamarca sobre a projeção dos fatores genéticos e ambientais


na tela da criminalidade relataram que, quando o pai biológico e o adotivo não eram
delinqüentes, ou quando somente o adotivo era criminoso, as taxas de criminalidade
entre os filhos eram praticamente iguais. Todavia, sendo delinquente apenas o pai
biológico, a taxa se elevava ao dobro, ascendendo ao triplo quando ambos os pais eram
criminosos. Isto quer dizer que, a criminalidade dos pais natural e adotivo e,
eventualmente, a ocorrência de moléstia mental na mãe, são fatores que chegam a
marcar presença na gênese da delinquência dos filhos.
Aliás, para as aplicações da Genética no campo da Criminologia, muitos geneticistas
vêm, procurando identificar a transmissibilidade de fatores que gerariam o crime. Tais
pesquisas têm sido realizadas de vários modos: Primeiramente foram estudados grupos
sociais, depois aglomerados étnicos e, particularmente, núcleos familiares, os quais, pela
alentada incidência de membros que se apresentaram como autores de ações
delituosas ou como indivíduos de conduta social perniciosa, viriam atestar essa
transmissibilidade.

Dugdale, por exemplo, investigou a família Juke, reconstituindo sua genealogia até
chegar ao antepassado comum: o individuo Marx Juke, nascido em 1720. Na família
aconteceram diversas uniões ilegítimas. Foram pesquisados 700 descendentes de Marx
Juke, sendo que mais da metade era constituída de criminosos, prostitutas, vadios, etc.
Verificou-se que 310 eram indigentes, 440 foram descritos como portadores de doenças
físicas graves, 50% das mulheres eram prostitutas e 130 haviam praticado diferentes
crimes, sendo que entre elas, existiram 7 homicidas. Em 1915, outro pesquisador deu
continuidade ao trabalho de Dugdale, voltando a pesquisar á Família Max Jukes, jánessa
ocasião com 2.094 descendentes. Dentre estes foram encontrados 76 desajustados
socialmente, 171 criminosos, 277 prostitutas, 282 ébrios contumazes, 323 tipicamente
degenerados e 255 mais ou menos corretos.

Outra família pesquisada foi a família francesa Chrétien, que teve 3 filhos: Píer,
assassino, teve 1 filho também assassino; Tomás teve 2 filhos assassinos e 1 neto ladrão
reincidente; Jean teve 7 filhos, sendo 4 ladrões e 2 filhas ladras, uma das quais teve 2
filhos assassinos e 4 ladrões; a terceira filha teve 1 filho assassino.

Também na família Zero, foram estudados 310 descendentes, dos quais 12% foram
criminosos, 28% imorais e indigentes, 41% vadios e somente 19% foram indivíduos tidos
como normais.

Ainda assim, indaga-se, repetidamente, da existência ou não de uma influencia genética,


inata, herdada como co-partícipe do ato criminoso. Haveria um determinismo herdado
para a prática de crimes????

Os factores, segundo os geneticistas, poderão ser divididos em genéticos e ambientais.


Os fatores genéticos são transmitidos por certos corpos especiais existentes nas células
que são conhecidos pela designação de cromossomos. Cada espécie animal tem um nº
fixo de cromossomos: o gato tem 38 cromossomos, o cavalo 60 e o homem (ser
humano) 46 (sendo 23 pares). A espécie humana tem, portanto, 23 pares de
cromossomos para o homem e 23 pares de cromossomos para a mulher, os quais se
fundem quando há a união das células masculinas(espermatozóides) e células femininas
(óvulos) e que contém milhares de pares de genes. Da fusão das duas células resulta a
célula ovo, chamada de zigoto ou gameta, que reconstitui o nº diplóide próprio de cada
espécie.

A matéria-prima da hereditariedade é o denominado DNA (Ácido Desoxirribonucléico),


molécula em dupla espiral encontradiça nas células de todos os seres vivos, das
bactérias aos homens.

Na espécie humana, o DNA possui cerca de 100 a 200 mil genes. O Gene é encontrado
no núcleo das células, comandando todos os seus processos bioquímicos. Cada gene é
responsável pela produção de uma determinada proteína, que será necessária para o
funcionamento ou para a estrutura do corpo. Um defeito no gene poderá afetar ou
impedir a síntese de uma proteína, daí promanando uma doença genética ou
deformidade.

Os tecidos humanos mais ricos em DNA são os glóbulos brancos do sangue, o esperma,
os fios de cabelo, a polpa dentária e a medula óssea. A análise do DNA começa com a
retirada de uma amostra desse material orgânico (geralmente sangue ou esperma)
através da aplicação de uma solução específica (tensoativo com enzima proteolítica)
que fragmenta a amostra. Em seguida esses fragmentos do DNA (de diversos tamanhos)
são espalhados sobre uma superfície gelatinosa e submetidos a uma corrente elétrica,
que os faz ficar em fila, em ordem crescente de tamanho. Finalmente, os fragmentos do
DNA são transferidos para uma película de “nylon” que é colocada sobre um filme de
radiografia. A radioatividade imprime no filme a seqüência de fragmentos do DNA
como em uma fotografia. A comparação das “fotos” comprova se as amostras
pertencem á mesma pessoa.

A análise do material genético fornece 100% de certeza nos casos de investigação de


paternidade. Para comprovar a paternidade, compara-se as “impressões genéticas” dos
pais e dos filhos.

O exame do material genético permite, inclusive, identificar o autor de um crime, a


partir de um fio de cabelo, de uma gota de sangue ou de um traço de esperma. Para
tanto, ter-se-á que cotejar o DNA do material encontrado no local do delito com aquele
do suspeito ou indigitado autor.
A Genética é o estudo dessa herança com a qual o homem se preocupa seriamente pelo
menos há 2 séculos. De fato, desde 1865, na Checoslováquia, o monge agostinho João
Gregório Mendel dedicava-se aos estudos do processo de hereditariedade, embora suas
experiências consistissem no cruzamento de plantas leguminosas e de flores, para
aprimorarlhes a qualidade e a cor.

Recentemente, manifestando-se sobre o mapa do código genético humano, o cientista


alemão Bernd Brinckmanns, durante congresso da Sociedade Internacional de Técnica
Genética, realizado na cidade de Munster, na Prússia, assegurou que dentro de pouco
mais de 5 anos será possível elaborar o retrato falado genético a partir do DNA das
células dos suspeitos, o que traria enorme contribuição para o campo da criminogenia.

Reforçando o que já foi explicitado, relevante enfatizar que todo o indivíduo possui um
fenótipo e um genótipo. Genótipo é o conjunto de fatores que constituem a bagagem
hereditária do indivíduo e que é recebida de seus ascendentes. Fenótipo é o que o
indivíduo aparenta ser (aspecto, cor, cabelo, funções fisiológicas, etc.).

Do ponto de vista da medicina forense é incorreto falar em herança criminal. Não está
estabelecido, de fato, que alguém possa delinquir através de sua configuração
genotípica.

Admite-se, isto sim, que um individuo mal nascido (com um legado psicopático e
educação viciosa ou submetido a fatores ambientais paratípicos) possa acabar no crime,
do mesmo modo que seus ascendentes.

Efetivamente, não há tendências criminógenas hereditárias, mas, apenas, formas


psicopáticas especiais. Uma coisa é a bagagem hereditária dos pais e, outra, as
alterações que possa sofrer o indivíduo durante sua vida e que podem influir depois
sobre os seus descendentes.

A herança poderá ser um fator predisponente ao crime, não fator de sua acção direta
que prescinde de uma base com circunstâncias favoráveis. Um paranóico homicida
quiçá transmita a seu filho uma constituição paranóica que poderá levá-lo ao homicídio,
porém, isto não é herança criminal, pois o crime é só um acidente. O importante é a
herança patológica mental. O pai pode ser um simples neuropata, tornando-se
homicida por circunstâncias totalmente eventuais, enquanto o filho pode vir a sê-lo
como consequência, por exemplo, de um delírio de perseguição.

De qualquer modo, seria assaz temerário afirmar que existe uma herança específica do
crime ou mesmo certas condições físicas ou psíquicas herdadas que levam
irreversivelmente á prática delituosa.
Carecemos, ainda, de documentos definitivos que nos permitam afirmar com segurança
que, em certos casos, a criminalidade seja manifestação directa da herança, já que o
papel desencadeador das causas criminógenas do mundo circundante não pode ser
desprezado.

Se não podemos impedir a transmissão de taras hereditárias, sempre podemos interferir


no meio ambiente para contra balancear, pelo menos em parte, as manifestações
negativas da herança, como retirar os filhos de ambiente pernicioso e colocá-los em
outro melhor; proporcionar-lhes boa orientação, orientá-los vocacionalmente, etc.

Em todo caso, a herança é um factor muito importante, porém, não de ação direta, mas
predisponente. Por outro lado, quanto mais pronunciada é a herança patológica, mais
separa o indivíduo do meio social normal, o que acentua mais ainda as suas
possibilidades negativas.

Quer dizer que, ao que parece, a maior parte dos fatores que integram a constituição, a
inteligência, o temperamento e o caráter, combinam entre si e se misturam de forma
muito variada na descendência, de maneira que jamais podemos prescindir dos fatores
do mundo circundante, já que são capazes de permitir ou não o aparecimento de um
caráter endógeno.

Não há, portanto, tendências criminais especificamente hereditárias, apenas formas


psicopáticas especiais.

Nunca será demais repetir que uma coisa é a bagagem hereditária dos pais e outra as
alterações que possa sofrer um sujeito durante a sua vida e que podem influir depois
sobre os seus descendentes.

São conhecidas com o nome de blastotoxias todas as causas alheias á herança que
influem patologicamente nas células germinais do indivíduo e, por conseguinte, na
descendência.

Vamos agora estudar essas causas de acordo com os diferentes períodos do ciclo vital.

Fatores que influem na vida intra-uterina:

Todos os fatores que podem ser nocivos para a mãe durante o período de gravidez,
também podem ser para o filho. Não esqueçamos as relações estreitas que existem
entre a mãe e o filho durante este período em que ele é alimentado através da placenta.
Todas as causas patológicas ou toxicológicas que podem afetar a mãe, podem também
afetar a criança.

As influencias que atuam durante o período de gravidez podem ser divididas em 5


grupos:

a) Influencias Mecânicas: São os traumatismos. Um golpe sofrido pela mãe pode


chegar a produzir o aborto ou a morte do feto sem expulsão, ou seja, dentro do ventre
materno.

b) Influencias de Tipo Físico: Podemos considerar a ação da luz, do calor, os raios X, o


radium, a eletricidade, etc, que podem causar anomalias no feto ou retardamento no
desenvolvimento.

c) Influencias Químicas: Podemos considerar os tóxicos, especialmente os voláteis,


como o álcool, o éter, o clorofórmio, a gasolina, etc., pois a maioria deles é transmitida
ao feto atravésda placenta.

d) Influencias Patológicas: As doenças da mãe, como as infecções, as intoxicações,


etc., influem também na vida do feto.

e) Influencias Psicológicas: As emoções violentas sofridas pela mãe na época de


gravidez podem influir na criança. Por exemplo, a morte do pai durante a gestação,
pode causar o nascimento de uma criança anormal, como conseqüência do choque
emocional sofrido pela mãe. Os vulgarmente chamados “desejos” da mãe grávida,
indicam nela um estado de desequilíbrio emocional e, portanto, durante os primeiros
meses costuma-se atender ás solicitações (caprichos) da mãe, a fim de se evitar a
influencia desse factor psicológico na futura vida do novo ser.

Factores que influem durante a 1ª e 2ª infâncias:

Considera-se a 1ª infância como os dois primeiros anos de vida da criança. A 2ª infância


compreende do terceiro ano de vida até a época da puberdade.
Nesta época, deformações corporais (defeitos físicos) podem criar um complexo de
inferioridade muito grande na criança, que a fará reagir contra seus companheiros com
ressentimento, que, mais tarde, será extensivo á sociedade. Segundo alguns
criminalistas, é possível é possível encontrar explicação para o fato de muitas destas
crianças, mais tarde, condicionadas por uma notória inferioridade física e intelectual,
seguirem o caminho do crime.
Destacam-se, nesse período, sobretudo os fatores de ordem psicológica ou emotiva.
Até o aparecimento das doutrinas e investigações de Freud, não se acreditava que a
criança pudesse sofrer os efeitos dos fatores psicológicos.

No entanto, depois dos estudos desse grande psicólogo, chegouse á conclusão que isto
era um grande erro, pois é durante a infância que o indivíduo é mais sensível á tais
fatores.

Alguns autores apresentaram trabalhos nos quais citam grande proporção de


criminosos em cujos antecedentes se observam fatos curiosos relativos á matéria em
estudo.

Comprovou-se que muitos deles haviam sido abandonados pela mãe entre os 6 e os 24


primeiros meses de vida. Estabeleceu-se que até os 6 meses a influencia da mãe não é
tão grande, porém, depois dos 6 meses, há uma vinculação muito estreita entre a mãe e
o filho. Nesta idade, a criança se vê defendida pela mãe do meio hostil que a rodeia. Se
a mãe o abandona entre os 6 meses e 2 anos de idade, a criança sofre um trauma
tremendo, primeiro elo de uma cadeia de conflitos, que, podem conduzir á geração de
um delinquente.

Os pais muito severos ou depravados também influem na psique de seus filhos, que
começam a acumular os primeiros ódios contra os pais e depois contra a sociedade.

De acordo com a análise de Freud, este período de vida é o mais importante de todos
sob o ponto de vista psicológico.

Resumindo: todos os fatores que analisamos podem determinar um retardamento ou


desvio na evolução da criança do ponto de vista orgânico, intelectual e moral,
inclinando-a, talvez, á prática de crimes.

Fatores que influem durante os períodos da adolescência e maturidade:


- Adolescência: A puberdade é a etapa da vida da pessoa que se caracteriza por uma
serie de mudanças morfológicas, funcionais e psicológicas. O período da adolescência
abrange aproximadamente a faixa etária entre os 15 e 25 anos.
Existem, nesse período, uma série de factores que podem ter importância definitiva na
vida posterior do indivíduo.

Influem, nesse período, o nascimento das tendências heterossexuais. Enquanto o


lactante encontra o prazer sexual em si mesmo, posteriormente esta etapa narcisista
passa para uma homossexualidade que é normal na criança, mormente quando vive em
um ambiente de promiscuidade. Existem também, nesse período, tendências
incestuosas que se manifestam com maior freqüência do que se supõe.

Na última etapa, em torno dos 15 anos, desaparece essa tendência homossexual ou


incestuosa e aparecem as tendências heterossexuais. No entanto, é uma etapa na qual
advém um complexo de timidez que está relacionado com outros factores, entre os
quais a moral de cada família. Em lares muito religiosos, onde os problemas sexuais são
“tabu”, o atam sexual é considerado pecaminoso, degradante, o que podem produzir
efeitos negativos na vida adulta, levando o indivíduo a cometer crimes sexuais.

Por outro lado, o deficiente ambiente moral em que se vive gera ideias erróneas no
menino, como ter atos de virilidade, conhecer o sexo precocemente, embriagar-se,
fumar, etc.

As emoções, no adolescente, são mais intensas do que em qualquer outra idade.

O adolescente, sob o aspecto social, político, etc., é extremamente impulsivo. Observa


os fenómenos sociais, políticos e outros de um ponto de vista muito especial. Trata-se
de impor as suas próprias soluções aos diversos problemas que aborda.

- Maturidade:  Terminado o período da adolescência, vem o estágio de adulto, quando


a evolução do individuo chega á sua plenitude.

O adulto não é outra coisa do que a consequência de uma luta constante entre os
factores hereditários e as exigências e imperativos do meio ambiente. Quando ambos os
factores actuam no mesmo sentido, ou seja, de forma desfavorável ou favorável,
teremos indivíduos anormais ou normais, respectivamente. Se ambos os fatores se
contrapõem, aparece o grupo dos“desorientados”, como o neuropata, o psicopata, etc.

Isto nos conduz á uma conclusão dolorosa: A humanidade está se tornando neurótica. A
civilização ocidental, com suas grandes cidades, estas com seus conglomerados de
indivíduos, acarreta uma série de consequências palpáveis nestes, sob todos os pontos
de vista.
Entretanto, tem sido muito difícil estabelecer um limite entre o normal e o anormal.
Qualquer pessoa está sujeita a sofrer transtornos mentais. Os factores exógenos influem
imponderavelmente na vida do individuo. Qualquer fato decisivo, como o falecimento
de um familiar, se nos surpreende numestado emocional de fraqueza, quer dizer, de
hipersensibilidade, pode se romper o equilíbrio das faculdades do indivíduo.

Como conclusão, temos de admitir que o homem não é só uma conseqüência da


bagagem hereditária com que chega á vida, nem da sua estrutura biológica, mas o
resultado de uma luta constante travada entre os fatores hereditários e o meio
circundante.

IDADE E SEXO

Continuando o estudo dos fatores endógenos do crime, vamos analisar a influencia que
poderiam ter na criminalidade a idade e o sexo.

Segundo Cláudio Beato, pesquisador da UFMG, “sexo e idade são os dois únicos fatores
inequivocamente relacionados á criminalidade”.

1º Idade: Estudando as estatísticas da criminalidade relativas à idade, observa-se que a


esmagadora maioria dos indivíduos relacionados com o crime são homens muito
jovens, entre 18 e 25 anos. Isso se repete em todo o mundo. Em regra, os homens
iniciam mais cedo na vida criminal, enquanto que as mulheres entram para esta vida
mais tarde (por volta dos 30 aos 40 anos).

Isso se deve a que o jovem é especialmente suscetível á influência forte de amigos, tem
grande necessidade de afirmação de valores individuais, tem necessidade de dinheiro e
geralmente não encontra empregos por não ter experiência.

Em 2000, cerca de 10% da população brasileira estava no grande grupo de risco


criminógeno: homens entre 15 e 25 anos.

Segundo dados do Censo Penitenciário de 1995, 57% dos presos brasileiros tinham
menos de 30 anos (em 2004, segundo o MJ, esse nº aumentou para 60%), e 30% deles
tinham menos de 30 anos. A taxa de mortes violentas é substancialmente maior entre
jovens até 25 anos: 39 de cada mil jovens morrem assassinados no Brasil, 61 de cada mil
só na capital paulista.

Pode-se afirmar que certos tipos de delitos têm uma idade propícia para sua
consumação, o que é de grande importância.
Observou-se que os delitos contra o patrimônio ocorrem com maior freqüência entre os
16 e os 26 anos.

Legalmente, na maioria dos lugares a idade penal se estabelece depois dos 20 anos. No
Brasil, contudo, a idade da responsabilidade penal é aos 18 anos.

Os crimes passionais têm a sua freqüência máxima entre os 30 e 40 anos, sendo pouco
freqüente antes dos 30 ou depois dos 40 anos. Um delito passional cometido antes dos
30 ou depois dos 40 anos, nos levará a deduzir a existência de uma personalidade
perturbada, sobretudo se ocorre depois dos 40 anos, quando é possível que haja a
influencia da arterioesclerose, de uma alteração endócrina, etc.

Os crimes sexuais se consumam antes de se adquirir a maturidade, ou seja, antes dos 25


anos, ou bem depois dos 45 anos. O homem na plenitude de sua capacidade,
geralmente não incorre nesse tipo de crime. Passados os 40 anos, a diminuição das
secreções hormonais e os transtornos produzidos pela arterioesclerose cerebral,
certamente terão influencia neste aspecto da criminalidade sexual.

Existe, também, o conceito de “idade antropológica”, não relativa á cronologia ou anos


de vida, mas ao desenvolvimento do individuo. Não é raro o sujeito ter a idade
cronológica da maturidade e antropologicamente ser um adolescente ou senescente
(velho).

Sob o aspecto antropológico, se um individuo se encontra na maturidade confirmada


entre 28 e 42 anos e apresenta sinais de senescência (processo de envelhecimento
natural dos seres vivos) deve haver uma razão que possa explicar essa disparidade. Em
Criminologia, todas essas disparidades podem contribuir para explicar certos fatos
gerados por uma conduta anormal.

Também devemos considerar a idade emocional, que é a mais importante de todas as


que estamos tratando.

Há pessoas que apesar de ter 30 ou 40 anos, não possuem maturidade emocional. É o


que se denomina “infantilismo emocional”. Esses tipos imaturos têm para a Criminologia
importância especial, porque outros indivíduos mais versados em crime, costumam usá-
los com freqüência como instrumentos de seus atos delituosos.

Pode haver indivíduos bem desenvolvidos fisicamente, mas não emocionalmente.

A idade senil também tem influencia dentro destes fatores endógenos. Há mulheres
honestas que depois da menopausa adquirem uma tendência libidinosa que as torna
irreconhecíveis e propensas aos maiores desatinos sexuais. Isto também acontece com
os homens. Como vemos, quando se fala em idade, isso não é em Criminologia um
conceito tão fácil de precisar.

MAPA MUNDI DA MAIORIDADE PENAL


EUROPA

- Alemanha: 14 anos
- Dinamarca: 15 anos
- Finlândia: 15 anos
- França: 13 anos
- Itália: 14 anos
- Noruega: 15 anos
- Polônia: 13 anos
- Escócia: 8 anos
- Inglaterra: 10 anos
- Rússia: 14 anos
- Suécia: 15 anos
- Ucrânia: 10 anos

ÁSIA

- Blangadesh: 7 anos
- China: 14 anos
- Coréia do Sul: 12 anos
- Filipinas: 9 anos
- Índia: 7 anos
- Indonésia: 8 anos
- Japão: 14 anos
- Maynmar: 7 anos
- Nepal: 10 anos
- Paquistão: 7 anos
- Tailândia: 7 anos
- Uzbequistão: 13 anos
- Vietnã: 14 anos
ÁFRICA

- África do Sul: 7 anos


- Argélia: 13 anos
- Egito: 15 anos
- Etiópia: 9 anos
- Marrocos: 12 anos
- Nigéria: 7 anos
- Quênia: 8 anos
- Sudão: 7 anos
- Tanzânia: 7 anos
- Uganda: 12 anos

AMÉRICA DO NORTE

- Estados Unidos: entre 6 e 18 anos, conforme a legislação estadual


- México: 11 ou 12 anos para a maioria dos estados

AMÉRICA DO SUL

- Argentina: 16 anos
- Brasil: 18 anos
- Chile: 16 anos
- Colômbia: 18 anos
- Peru: 18 anos

ORIENTAL MÉDIO

- Irã: 9 anos (mulheres) e 15 anos (homens)


- Turquia: 11 anos

2º- Sexo: Seguindo o critério estatístico, existe um axioma no sentido de que a


criminalidade feminina é extraordinariamente menor que a do homem. As estatísticas
nos revelam que a sexta parte dos crimes cometidos, o são pelas mulheres e o resto
pelos homens. Jovens do sexo masculino, por uma série de razões, são a clientela mais
comum do crime, seja como agentes, sejacomo vítimas.

Outro fato interessante é que a criminalidade feminina aumenta á medida que aumenta
a participação da mulher na vida social, política e econômica do pais. Verificou-se que a
mulher tem uma astúcia especial para lograr impunidade nos delitos nos quais incorre. É
mais astuta na elaboração do delito, em apagar ou fazer desaparecer os vestígios, etc.
Por esta razão, muitos infanticídios, abortos, envenenamentos, etc., jamais são
descobertos.

7º Módulo: Criminologia Clínica

CRIMINOLOGIA CLÍNICA
A Criminologia Clínica representa o setor de aplicação prática e reinserção social do
delinqüente, apoiando-se, para tanto, no exame de sua personalidade.
Ensina o renomado jurista e criminólogo Álvaro Mayrink da Costa: “O exame
criminológico constitui o princípio básico da Criminologia Clínica, sendo que os
métodos utilizados não variam apenas segundo sua natureza médica,psiquiátrica,
psicológica ou social, mas diferem, entre si, pelo grau de profundidade que possam ter”.

O homem criminoso haverá que ser pesquisado em todos os aspectos estruturais,


funcionais e racionais, a fim de ser descortinada a sua personalidade, mas sempre
considerando a investigação dos fatores exógenos.
A Criminologia Clínica, portanto, é o estudo científico do comportamento criminoso.
Tem por preocupação o estudo dos fatores endógenos, ou seja, as causas internas,
intrínsecas ao indivíduo na causalidade delituógena. Representa, em última análise, a
observação, interpretação e tratamento do indivíduo criminoso.

Segundo o criminalista Sturup, a Criminologia Clínica é uma parte da Criminologia que


se preocupa coma investigação e tratamento da conduta criminal, acrescentando que
sua finalidade seria sempre terapêutica.

Em relação à expressão “Criminologia Clínica”, o termo “clínica” considera não somente


o procedimento que afeta exclusivamente o indivíduo, mas a totalidade das
investigações e medidas auxiliares que hoje se impõem, nos modernos diagnósticos e
terapias clínicas, sejam de índole física, química, fisiológica, etc.

A Criminologia Clínica encontra-se intimamente ligada à Antropologia (ou Biologia)


Criminal, a qual tem por objetivo fundamental o estudo do criminoso, de seus
caracteres físicos e psíquicos, suas paixões e sentimentos, ou seja, os fatores orgânicos e
biológicos individuais do delito, fixando as anomalias apresentadas pela maior parte dos
doentes.

Após os progressos alcançados pela Psiquiatria, passou-se a admitir o criminoso como


um individuo portador de uma psicopatia ou de uma personalidade psicopática (teoria
eminentemente clínica).
Seja como for, desde a época de Lacassagne, os pioneiros da Criminologia protestavam
pela elaboração de um exame médicopsicológico-social dos delinqüentes.
Historicamente, tal premência foi invocada, pela 1ª vez, por Cesare Lombroso, quando
da realização em São Petersburgo, em 1889, do Congresso Internacional Penitenciário.

Finalmente, a meta da Criminologia Clínica é aplicar os princípios e métodos das


criminologias especializadas, comportando as seguintes operações: exame, diagnóstico,
prognóstico e tratamento.

O criminólogo clínico é geralmente um médico, um psiquiatra, ao passo que o


criminólogo geral é geralmente um sociólogo, um advogado, etc.

É evidente que existem fatores sociais patogênicos, e até uma estrutura social


delituógena, do que já falava Lacassagne, mas jamais poder-se-á deixar de lado a
análise do ingrediente endógeno, do componente biológico no comportamento
antisocial. Esse componente biológico é o equipamento genético, a bagagem
hereditária, como causalidade congênita de criminalidade, ale, é óbvio, de não se
poderem esquecer os fatores biológicos adquiridos nessa mesma causalidade.

Sem embargo do reconhecimento da enorme contribuição da Criminologia Clínica no


estudo da criminalidade, através de suas pesquisas, das leis gerais do comportamento
criminal que formula, do seu tratamento nos centros de observação, do tratamento e da
metodologia intuitiva, orientada sempre para o paciente criminal, ela não pode deixar
de considerar, por exemplo, que existem pessoas que mesmo submetidas á fatores,
presumivelmente criminogenéticos, não chegam a delinqüir, o mesmo acontece com
portadores de personalidade patológica, que igualmente podem não ser conduzidos á
prática do crime.

A explicação estaria na existência de outros fatores inibidores da criminalidade, que são


estudados pela Criminologia Sociológica.

Há necessidade, portanto, de um esforço contínuo de colaboração entre a Criminologia


Clínica, que se concentra apenas no indivíduo e a Criminologia Sociológica, que se guia
somente para os grupos.

A Criminologia Clínica é endereçada ao tratamento carcerário, através dos centros de


observação, com programas de prevenção e tendo por base, sempre, o estudo do
indivíduo singular.

CARÁTER E NARCISISMO
O caráter significa a maneira psíquica de um indivíduo reagir aos acontecimentos, o
aspecto psicológico da personalidade, mais particularmente, a nota afetivo-volitiva.
Aliás, a tentativa de estabelecimento de tipos morfológicos é antiga, tendo iniciado com
Hipócrates.

René Le Senne foi um dos primeiros criminalistas a estudar o caráter do criminoso, a


ponto de criar a chamada Escola Caracterológica Francesa que conceitua a
Caracterologia como “o conhecimento metódico dos homens desde que cada qual se
destaque por sua originalidade”. Assim, o objeto da Caracterologia é o homem
completo em sua realidade. A Caracterologia se restringe, em última análise, á
determinação de fatores de estrutura congênita e sólida do indivíduo. Visa os fatores
constitutivos do caráter (como a atividade e a emotividade, por exemplo).

Um dos distúrbios mais usuais do caráter é a chamada “perturbação narcisista”, que,


segundo alguns, teria cunho hereditário.

A perturbação narcisista é um distúrbio psicológico em que o indivíduo revela um grau


anormal de narcisismo, frequentemente manifestado por exigências excessivas de
amparo, elogio e amor.

Não é considerado um fator normal de caráter, dada sua própria excentricidade,


chegando alguns psicopatologistas a incluí-lo entre os desvios sexuais.

Efetivamente, o narcisismo é o amor da pessoa por si mesma, é a auto-adoração. Em


linguagem psicanalítica, é o produto da fixação da libido no ego da pessoa. Desde que
essa fixação persista em sucessivas fases do desenvolvimento mental, equivale a uma
regressão psicossexual, cristalizando-se no tipo caracterológico narcisista de
personalidade. Atribui-se a condição narcisista á um recurso empregado pelo ego
infantil para enfrentar a frustração (modo esse que voltará a ser usado, regressivamente,
em certos estados psicopatológicos da vida adulta).

O narcisismo pode ser considerado como uma forma de autoerotismo, sem ser
acompanhado de orgasmo sexual concreto. Entende-se, inclusive, que o narcisismo
pode levar ao orgasmo sexual. A rigor, o narcisismo implica na excitação sexual
produzida pelo próprio corpo, sendo mais comum nas mulheres. Segundo a fábula,
Narciso foi personagem que, mirando-se numa fonte, ficou de si próprio enamorado.

OS CICLOTÍMICOS E OS ESQUIZOTÍMICOS

De modo geral e segundo o respectivo modo de ser, os indivíduos são divididos em 2


grandes grupos: os ciclotímicos e os esquizotímicos.
- Ciclotímicos: São aqueles que apresentam, habitualmente, períodos variáveis de bom
ou mau humor. É uma forma de personalidade que está nos padrões de normalidade,
podendo, no entanto, a pessoa apresentar períodos alternantes de exultação e tristeza,
atividade e inatividade, excitação edepressão. As alternações não obedecem á um ciclo
regular e pode ocorrer períodos intermediários de atividade normal, quando a
depressão não se acentua. Tudo a ponto de tornar a pessoa um ciclóide (fronteiriço) ou
um psicótico-maníaco-depressivo (quando, então, já seria um doente mental, portador
de psicose). Mas, normalmente, o indivíduo ciclotímico tende a ser expansivo, mais ou
menos generoso e emocionalmente receptivo e sensível ao meio ambiente. Costumam,
ademais, exibir hiperatividade social e sexual.

- Esquizotímicos: São pessoas de grande vida interior, fechados ao ambiente, cujas


reações aos estímulos externos são diferentes em situações idênticas. O esquizotímico é
um indivíduo que, diante de certa brincadeira, poderá rir francamente em determinada
oportunidade, noutra, porém, ficar inteiramente indiferente. Quando esta característica
se acentua, pode aflorar uma personalidade esquizóide (fronteiriço) que, evoluindo para
um quadro mais grave, redunda em esquizofrenia, que já é uma doença mental,
também conhecida por demência precoce.

PERSONALIDADES PSICOPÁTICAS E DISTURBIOS DA PERSONALIDADE

Sigmund Freud define a personalidade conforme um esquema tríplice que concrega os


3 níveis da estrutura mental (inconsciente, subconsciente e consciente): “É o produto da
completaintegração do id, ego e super ego”.
Alfred Adler conceitua a personalidade como “o estilo de vidado indivíduo ou a maneira
característica de reagir aos problemas da vida, incluindo as metas vitais”.

Pode-se dizer que a personalidade é um padrão peculiar de conduta do indivíduo, que


caracteriza e garante sua identidade, abrange suas disposições orgânicas e psíquicas,
conscientes e inconscientes, manifestas e latentes. A personalidade vai se moldando e
se readaptando por força de novas experiências significativas do indivíduo e dos fatores
externos, ambientais, aos quais está sujeito.

Enfim, a grosso modo, a personalidade é a maneira estável de ser de uma pessoa, que a
distingue de outra.

Inúmeros são, por outro lado, os conceitos e definições acerca da personalidade


psicopática.

Na Idade Média, a insanidade mental era tida como resultado do pecado e de uma
existência libertina.
Em 1835, usava-se a expressão “insanidade moral” (insanity moral) para designar a
conduta anti-social e a ausência de senso ético de certos delinqüentes.
Em 1923, em sua obra Personalidades Psicopáticas, Kurt Schneider define:
“personalidades psicopáticas são as anormais, que sofrem por sua anormalidade ou
fazem sofrer a sociedade”.
Schneider assim classifica os portadores de personalidade psicopática: hipertímicos,
deprimidos, inseguros de si mesmos, fanáticos, ansiosos de valor, explosivos, atímicos
ou insensíveis, hipobúlicos e astênicos.

Para o emérito jurista e criminólogo Jason Albergaria, os psicopatas de Schneider


interessam á Criminologia. Explica Jason que os hipertímicos tendem á difamação, á
indolência e á fraude; os fanáticos praticam o delito político; os explosivos o delito
contra a pessoa; os atímicos o assassínio, o latrocínio e o terrorismo; os
supervalorizados do eu praticam a injúria, a calúnia e as fraudes; os hipobúlicos
cometem furtos, fraudes e apropriações indébitas.

Para o criminalista Kraepelin, “são personalidades psicopáticas aqueles que não se


adaptam á sociedade, vivendo em constante luta com ela: são descontentes com tudo,
por toda a parte; sentem necessidade de ser diferentes dos outros”.

Os psicopatas são indivíduos que não se comportam como a maioria de seus


semelhantes tidos por normais. Têm grande dificuldade de assimilar as noções éticas,
ou, assimilando-as, em observá-las. Seu defeito na manifesta na afetividade, não na
inteligência, que pode, ás vezes, ser brilhante.

Diz Jason que “é definitiva a prova de uma correlação hereditária entre psicopatas e
delinqüência na Criminologia Moderna, e, desta sorte, Lombroso reaparece
modernizado”.

A história registra um sem-número de homicídios perpetrados por portadores de


transtornos mentais desse porte.

Sucintamente, á guisa de exemplos mais conhecidos, pode-se citar, na Roma antiga, os


imperadores Calígula (41 a.C) e Nero (54/68 a.C). Calígula sofria de todas as taras de
seus ancestrais e, sendo portador de sensualidade perturbada e sádica fúria homicida,
entre os incontáveis assassínios que lhe são atribuídos, de referir o de seu primo, seu
cunhado e de sua avó. Nero, igualmente dotado de perversidade hereditária e louca,
assassina seu irmão, sua esposa e sua própria mãe. Ao final, culmina por mandar
incendiar, sadicamente, a cidade de Roma, que queimou durante 6 dias seguidos, dela
pouco restando. Não há como negar que a semelhança entre Calígula e Nero é
assustadora. O paralelismo entre eles é quase perfeito! Calígula foi morto á mando
deoficiais pretorianos. Nero suicidou-se.

No séc. XIX, na Inglaterra, em meados de 1888, no alegre bairro de Whitechepel, em


curto espaço de tempo, 5 prostituas foram assassinadas e mutiladas a golpes de punhal
e de instrumento cirúrgico. As mutilações do assassino, apelidado de “Jack Estripador”
concentravam--se no rosto e no ventre das meretrizes. A violência dos crimes provocou
clamor na Câmara dos Comuns e a própria rainha Vitória exigiu providencias. Contudo,
Jack Estripador nunca foi efetivamente identificado.

Em 1985, numa madrugada, na cidade de São Paulo, na moradia de seus pais situada no
bairro de Santa Catarina, o jovem Roberto Peukert Valente, com 18 anos de idade,
portador de epilepsia condutopática robustamente atestada por perícia
médicopsiquiátrica, matou a tiros e a facadas seus pais e 3 irmãos menores, sem
motivos aparentes. Em seguida, colocou os5 cadáveres no porta-malas de um veiculo
que abandonou no Jardim Marajoara. Depois voltou para sua casa para lavar a garagem.
Subseqüente, foi á padaria para comprar pão e leite para o café da manhã. Preso e
interrogado pela polícia, Roberto denotou frieza, insensibilidade e algum esquecimento
ao confessar o crime e sua execução, tudo nos moldes da teoria do “criminoso epilético”
de Lombroso. Este quíntuplo homicídio, por sua causação pouco comum, foi largamente
noticiado por emissoras deTV brasileiras e pela RAI (Televisão italiana).

Ainda que não haja um consenso amplo sobre o que seja o transtorno mental,
usualmente se caracterizam as personalidades psicopáticas por sua imaturidade
emocional e infantilismo, com acentuados defeitos de julgamento. Elas são sujeitas á
reações impulsivas, sem consideração paracom os outros. Também estão sujeitas á
instabilidade emocional, com oscilações rápidas do transtorno para a depressão por
causas banais.

Aspectos especiais dos indivíduos psicopatas são “traços criminais acentuados” (eis o
porque da importância da análise das personalidades psicopáticas em livros dessa
natureza). Neles, igualmente, são aspectos especiais a deficiência moral e a perversão
sexual. A sua inteligência, de acordo com os testes padrões, pode ser normal ou
superior.

Do ponto de vista médico-legal os indivíduos com personalidade psicopática são


conhecidosc omo fronteiriços ou limiares. Entretanto, seus impulsos criminais se
apresentam como irresistíveis e nenhum deles é capaz de distinguir o certo do errado.

Para o Direito Penal são considerados responsáveis, respondendo por seus delitos.
Os tipos de personalidades psicopatas, a grosso modo, são os abaixo elencados:

a) Instáveis: encontrados com grande freqüência na vida social. Caracteriza-se pela


dispersão de atenção, mobilidade das impressões e desejos, descontinuidade nos
pensamentos e na ação e versatilidade dos sentimentos para com as pessoas e as
coisas. O Instável é escravo das próprias tendências e das solicitações do meio
ambiente, que o incentivam á variabilidade da ação, passando incessantemente de um
objeto a outro, pois tudo o atrai com força e tudo o aborrece e cansa em seguida. Suas
decisões são bruscas e repentinas, irrefletidas e impensadas. Com certa freqüência, tem
bom êxito escolar, saindo vitorioso em eventos difíceis e não raro, perdedor nos fáceis.
Tem demasiado conhecimento da vida sexual. Pratica furtos por brincadeira, é
descarado, desavergonhado e vicioso contumaz.

b) Paranóides: têm, geralmente, padrões rígidos de comportamento; caracteriza-se por


hipersensibilidade interpessoal refletida por desconfianças injustificadas, inveja e
ciúmes. Essas suas características interferem frequentemente nas relações com outras
pessoas. Usualmente, inculpam outras pessoas e lhes atribuem motivos maldosos.
Possuem excesso de sentimento, superestima do ego. Tal desvio de lógica é relativo ao
modo de julgar-se a si mesmo e ao mundo. Julga-se possuidor de méritos. Esses
sujeitos, quando têm seus sintomas agravados, são acometidos pela paranóia,
caracterizando-se, esta, pelo orgulho, a desconfiança, a tendência á erros de
interpretação, a inadaptação, etc.

c) Hiperemotivos: Fisicamente possuem: reações motoras vivas extensas e prolongadas,


principalmente nos domínios mímico e vocal; desequilíbrio motor; palpitações; tremores
emotivos; tremulação das extremidades; calafrios; estremecimentos; ranger de dentes;
tiques; relaxamento dos esfíncteres; desequilíbrio circulatório, taquicardia ocasional,
sensações de frio e de calor, principalmente nas extremidades; desequilíbrio glandular.
Psicologicamente possuem: inquietação; ansiedade; irritabilidade.

d) Ciclóide: caracteriza-se pela alternância entre a depressão e a exaltação. Quando


exaltado, o indivíduo parece extrovertido, cordial, entusiástico, enérgico e ambicioso.
Quando o ciclo muda, mostra-se depressivo, apático e pessimista. Tem um nível baixo
de energia e a vida passa a lhe parecer inútil, não sendo raro, nessas ocasiões, a idéia de
suicídio. Há casos dedepressão ou de excitação constante e de depressão e excitação
periódicas. Podem desenvolver a psicose maníaco-depressiva.

e) Hipoemotivos: tem como característica da personalidade a timidez, o retraimento, a


fuga de relações com outras pessoas. Pode ter uma hipersensibilidade e reagir a
conflitos, desligando-se da situação. Ás vezes, são muito excêntricos, podendo entregar-
se a longas divagações, mas, ao contrário dos psicóticos, têm condições de distinguir os
sonhos da realidade. Leem muitos; não se interessam por atividades atléticas; são
idealistas; de hábitos religiosos; revelam pouco interesse pelo sexo oposto; a sua vida
amorosa é caótica, necessitando de amor; podem ser obstinados ou excessivamente
dóceis, mas nunca perversos; são altivos, sensíveis, calmos, autoconscientes, ás vezes
místicos; receiam as censuras, as derrotas, a frustração. Nesse terreno pode
desenvolver-se a esquizofrenia.

f) Mitomaníacos: Caracteriza-se pela existência de um desequilíbrio de inteligência, com


um comprometimento das faculdades de discernimento, da realidade objetiva,
induzindo o indivíduo a alterar a verdade, á mentira, á fabulação, á simular, a substituir a
realidade objetiva pela crença em acontecimentos imaginários e ás vezes impossíveis de
acontecer. Costuma-se enganar-se a si mesmo. Pode se acentuar até o estado de
devaneio.

g) Poriômanos: são subtipos dos instáveis; referem-se á indivíduos que, sob a influencia
de estados afetivos íntimos fortes, sentemse compelidos á fuga durante horas;
procuram, por assim, dizer, a terra dos seus sonhos, de seus desejos acalentados. Alguns
crimes bárbaros referidos de tempos em tempos pelos jornais, são, muitas vezes,
cometidos pelos poriômanos.

h) Obsessivos Compulsivos: caracterizam-se pela excessiva preocupação com o que é


certo e o que é errado; são muito preocupados como o cumprimento do dever;
supersticiosos e inibidos; possuem tendência para a emotividade e para a dúvida, pela
dificuldade que tem em atingir uma certeza e de tomarem decisões. São atormentados
pela eterna necessidade de verificação, que constitui-se para eles num sério problema
aos menores atos da vida cotidiana (reabrem várias vezes as mesmas cartas p. ex. para
verificar se assinaram ou não a carta; recomeçam várias vezes asa mesmas coisas).
Moralmente também são indecisos, revelando sem cessar o temor de haver cometido
uma má ação, de haver desagradado alguém e ainda são dominados por inúmeros
outros escrúpulos. São inquietos, incapazes de acalmarem-se e de permanecerem em
equilíbrio, em paz ou repouso. Eis o que se designa sob o nome de“sentimento de
incompletude” é o que Janet (referido por Baruk, Psychiatrie Médicale, Physicologique et
Experimental) estudou sob o nome de “agitações forçadas dos psicastênicos”. As
pessoas com esse tipo de personalidade psicopáticas podem desenvolver uma neurose.

i) Passionais: caracteriza-se a personalidade dos passionais e fanáticos (grupo especial


entre eles) a tendência à elaboração de estados latentes de tensão afetiva, com
intervenção preponderante de deformações catatímicas das vivências, originando-se
assim, tenazes estados de ânimo e pegajosas valências afetivas, as quais se fixam com
tal energia que a vida psíquica destes indivíduos é governada exclusivamente pelas
paixões, que alcançam extraordinário grau de exaltação logo que engendradas. As
primeiras decepções e os primeiros conflitos com a vida, os conduzem a outros novos,
que se encadeiam entre si, em interminável série, colocando constantemente os
passionais e fanáticos à beira da delinqüência, pois, as excitações passionais tendem a
estender-se em círculos cada vez mais amplos: a luta por uma idéia logo se transforma
em luta contra pessoas e grupos. Igualmente induzem à delinqüência nos passionais, a
tenacidade na elaboração interna da valência afetiva e a cadeia de conflitos
mencionados. Assim, redunda em que esses indivíduos tornam-se cada vez mais
teimosos e obstinados em suas opiniões e, quando envelhecem costumam com
freqüência, desenvolver reações paranóicas.

j) Amorais ou perversos: segundo Duprè, caracteriza-se esse tipo de personalidade por


perturbações instintivas, principalmente nas de sociabilidade, que pode revelar-se
ausente, rudimentar ou pervertida. São indivíduos maldosos, destrutivos e de
criminalidade latentemente instintiva, que acabam exercendo contra outrem ou contra a
sociedade, com o único objetivo de satisfazerem suas tendências impulsivas para o mal.
Revelam-se precocemente nasa crianças, na tendência à preguiça, inércia, indocilidade,
impulsividade,obstinação na oposição e no negativismo, indiferença afetiva,
irritabilidade, crueldade, sevícias contra animais e outros meninos, mais tarde, em
repetida delinqüência, em fugas,vagabundagem, mendicidade, roubos, criminalidade
infanto-juvenil, recedivismo incessante de faltas, freqüentemente coexistem as
perversões sexuais. Podem ser observadas mentiras, fabulações, calúnias, delações (orais
ou escritas, estas sob a forma de cartas anônimas). A inteligência desses indivíduos é, as
vezes,elevada. Entre eles se encontram incendiários, as prostitutas, os vândalos, os
vampiros, os envenenadores e sobretudo as envenenadoras. Tais anomalias são
freqüentes em filhos de alcoólatras, achando-se, muitas vezes, associados à
toxicomanias, à epilepsia, etc...

k) Instintivos (sexuais): são os portadores de perversões sexuais, entre outros,


sobressaindo-se os grupos de prostitutas congênitas e dos homossexuais, que serão
estudados em capítulos diversos.

l) Explosivos ou epiloptóides: onde prevalecem os assomos extremos de cólera que se


manifestam verbal e fisicamente. Embora esses assomos possam parecer diferentes do
comportamento usual do indivíduo, este é habitualmente visto como uma pessoa
bastante agressiva e excitável. A intensidade e a natureza “incontrolável” desses
assomos distinguem este distúrbio dos demais.

m) Histéricos: as características deste personalidade incluem o desejo de atrair as


atenções e o comportamento de sedução, imaturidade e dependência, além da vaidade
e egoísmo
Evidentemente, esses traços de personalidade psicopáticas de um ou outro tipo podem
misturar-se no mesmo indivíduo, dando o surgimento de personalidades psicopáticas
de tipos ou traços mistos. Essas pessoas em contato com a coletividade, com os
distúrbios já referidos, acabam por adquirir uma personalidade anti-social.

CLASSIFICAÇÃO DAS MOLÉSTIAS MENTAIS


Sabe-se que é a psiquiatria que interessa buscar a causa, o desenvolvimento e o trato
das perturbações funcionais da personalidade e do comportamento humano,
perturbações que atuam na vida interior da pessoa e no seu relacionamento comos
demais. À Psiquiatria incumbe, portanto o conhecimento e tratamento das doenças
mentais.

O psicopatologista e criminólogo pátrio Geraldo Majela Fortes Vasconcelos ensina que


as causas determinantes mais freqüentes dos distúrbios mentais são:

a) as doenças em geral;
b) asendo-intoxicações;
c) as exo-intoxicações;
d) as infecções, sobretudo sifilítica;
e) a herança;
f) ascrenças e superstições;
g) as causas psíquicas, sobretudo emotivas;
h) as causas mecânicas, comotraumatismos, sobretudo os cranianos;
i) as disposições individuais;
j)as causas fisiológicas.

Quando conduz seu interesse para o doente que interessa à criminologia, a Psiquiatria
passa a denominar-se Psiquiatria Forense ou Psicopatologia Forense.
Conforme esclarece Geraldo Vasconcelos, torna-se complexo apresentar uma
classificação rígida das doenças mentais, seja pelo subjetivismo de cada autor, seja pela
variedade da aferição classificadora, seja pela designação e conceituação diferentes das
enfermidades.
Flamínio Fávero, Psiquiatra Médico Legal, classificava os distúrbios psíquicos em:

a) doenças mentais ou psicoses;


b) insuficiências mentais ou oligofrenias;
c) personalidadespsicopáticas;
d) neuroses.
Vistas assim, panoramicamente, as doenças mentais, imperioso que sobre elas se
proceda uma análise, pois é sabido que umas e outras concorrem com larga parcela
para o acontecimento delitivo.

Sendo assim, importante sublinhar os quadros de morbidez mental consoante se segue.

NEUROSES
São distúrbios psicológicos menos severos do que as psicoses, mas suficientemente
graves para limitar o ajustamento social e a capacidade de trabalho do indivíduo.
Usualmente atribuída a conflitos emocionais inconscientes, a neurose, ou psiconeurose,
constitui um dos pontos de partida para a análise psíquica de Freud.

Hélio Gomes diz que “as neuroses são estados mórbidos característicos por
perturbações psíquicas e somáticas, que causam grande sofrimento íntimo,
determinadas por fatores psicológicos, embora em algumas intervenham fatores
orgânicos”

As neuroses são doenças mentais da personalidade que se destacam por conflitos


intrapsíquicos que inibem os comportamentos sociais. São desacertos incompletos da
personalidade que incomodam mais o equilíbrio interior da pessoa do que o seu
relacionamento com o mundo exterior.

Helio Gomes, esclarece: “Os sintomas neuróticos são numerosos e variados, incluindo
manifestações psíquicas, neurológicas e viscerais. Na parática esses sintomas se
apresentam associados, constituindo diversas síndrome neuróticas.

Os sintomas psíquicos mais freqüentes são a ansiedade, a angústia, a astenia, as fobias,


as compulsões, as idéias hipocondríacas, a abulia, a apatia, a dismnésia.

Entre os neurológicos ocorrem transtornos sensitivos e sensoriais, tais como algias,


hiperestesias, parestesias, anestesias, cenestopatias e transtornos menores como
tremores, tiques, espasmos, contraturas, paresias.

Os sintomas vicerais mais comuns são: transtornos do aparelho digestivo; como


anorexia, vômitos, dispepsias, diarréia; do aparelho cario-circulatório, palpitações,
arritmias, dores precordiais, lipotimias, vosoconstrição ou vasodilatação, hiper ou hipo
tensão; do aparelho respiratório, tosse, dispnéia, asma; do aparelho genito urinário,
poliúria ou polaquiúria, impotência sexual, vaginismos, dispareunia”.
Na neurose, o indivíduo reconhece que está doente e procura melhorar ou sarar; na
psicose, ao revés, o indivíduo não percebe a sua enfermidade, eis que está alterada sua
capacidade para diferenciar entre experiência subjetiva e a realidade.

Slater diz que: “tal como para as psicoses, também existe uma disposição genética para
as neuroses”.

É possível reduzir as neuroses par quatro grandes grupos, sendo:

Neurose obsessiva: Também chamada “psicose anancástica” “psicose compulsiva” e


“psicose de dúvida” enfermidade do tipo constitucional, caracterizada psicologicamente
pela presença de obsessões, fobias e tiques obsessivos. Entre suas formas de projeção
alinham-se a cleptomania, a piromania, o impulso ao suicídio e ao homicídio.

Neurose histérica: é um fenômeno de conversão inconsciente que se manifesta


somaticamente. Por isso Freud a chamou de neurose de conversão. Quando os
mecanismos instintivos possuem limiar tão baixo de excitabilidade que se põe em
marcha por causas insignificantes. Quando existe predisposição não muito acentuada,
faz-se imprescindível a atuação de importantes causas exógenas ou conflitos internos
para a produção dos sintomas histéricos. Seus sintomas são: egoísmo, labilidade afetiva,
fantasia exuberante, refúgio na enfermidade ou no grande sofrimento, exibicionismo,
coqueteria, voluptuosidade, as vezes frigidez sexual e sexualidade infantil. Caracteriza-se
por, sugestionabilidade, teatrabilidade, heperemotividade e incapacidade de enfrentar
um trauma de existência, além da tendênciapara recalca-lo. O grau de inteligência é
variável. Via de regra é enfermiço e hipocondríaco, podendo ter tendência à mitomania
e problemas de insatisfação sexual.

Neurose de ansiedade: para Duprè, favorece o surgimento desta neurose a existência de


uma personalidade psicopática emotiva. Os síndromes ansiosos agudos restam na
expressão fisionômica do angustiado, imobilidade das feições, ricto irônico, palidez na
pele, imobilidade do corpo, calafrios e frialdade nas extremidades, secura da garganta,
pulso freqüente, respiração anelante, a pele adquire o aspecto de carne de galinha,
incontinência fecal e urinária. São clássicos da ansiedade a opressão pré- cordial, os
suspiros entrecortados e umaespécie de nó na garganta. A neurose pode sobrevir
subitamente ou precedida de irritação e mau-humor; as vezes inicia durante o sono,
com pesadelos provocados pela ansiedade. Outras vezes, começa com um brusco e
violento mal estar e sensação de morte iminente. Esses sintomas não raro, se instalam
paulatinamente.Ao final da crise o indivíduo se encontra esgotado e experimenta certo
bem-estar. A duração da crise aguda é variável, sucedendo-se uma a outra, em alguns
casos. A neurose ansiosa crônica caracteriza-se por um estado quase constante ou
ininterrupto de inquietude e desassossego. Qualquer motivo põe o indivíduo em
sobressalto, temeroso e a imaginar que estejam ocorrendo desgraças a filhos ou
parentes,medo de ser despedido do emprego, temor de estar acometido de doenças
graves, queixase de inúmeros males somáticos e apresenta as mais variadas fobias.
Costuma ser chorão, pessimista, amargurado, tímido muitas vezes, egoísta quase
sempre, versátil em seus afetos, apaixonados em determinadas ocasiões, cheio de
dúvidas, colérico, com preocupações exageradas ou desmotivadas.

Neurastenia constitucional ou adquirida: refere-se ao esgotamento nervoso (que se


distingue do cansaço cerebral, podendo ser simples, crônico, incapacidade de
concentração intelectual, angústia ou ansiedade quase permanente, estado perpétuo de
sobressalto, capacidade mnemônica reduzida com facilidade de esquecer de coisas,
insônia freqüente, cefaléia e vertigens, freqüentes tremores, debilidade muscular,
transtornos digestivos e circulatórios, espermatorréia, impotência.

PSICOSES
É tradicionalmente classificada em dois grupos: psicose orgânica e psicose funcional.
Clinard entende que a psicose orgânica é doença cuja origem decorre de algum germe
patógeno, de alguma lesão no cérebro ou, então, de desordem fisiológica, tudo sem
conotação hereditária. Como exemplos de psicose orgânica podem ser citadas a
demência senil, a psicose sifilítica, a psicose alcoólica, a arteriosclerose cerebral etc...

A psicose funcional é distúrbio total da personalidade, é desordem mental, quando o


psiquismo em sua estrutura global, no seu todo, fica temporária ou permanentemente
danificado. As psicoses funcionais são aquelas que efetivamente interessam a
criminologia.

Em seu compêndio (resumo) de Medicina Legal, o ilustre criminólogo José Antônio de


Mello assim classifica as psicoses em:

a) esquizofrenia,
b) parafrenias ou paranóias,
c) psicose maníacodepressivas,
d) epilepsias,
e) oligofrenias,
f) personalidades psicopáticas,
g) sífilis cerebral e paralisiageral progressiva,
h) psicoses senis,
i) psicoses alcoólicas e por psicotrópicos.

As psicoses, de fato, são responsáveis pela desintegração da personalidade do indivíduo


e pelo seu conflito com a realidade. Trata-se de categoria de doenças caracterizadas por
desordens cognitivas mais graves, incluindo, frequentemente, delírios e alucinações,
oportunidade em que o enfermo torna impossível o convívio social ou familiar, devendo
permanecer sob vigilância médica para evitar que provoque danos físicos em si próprio
ou em terceiros. Entre as mais sérias formas psicóticas devem ser enfatizadas a psicose
maníaco-depressiva, a esquizofrenia e a paranóia.

As psicoses se apresentam em variadas formas, algumas das quais aqui serão referidas:

Paralisia geral: também chamada “demência paralítica”, é a mais grave entre as psicoses
sifilíticas. Caracteriza-se por uma demência progressiva, com acentuado
enfraquecimento do juízo, exteriorizado, via de regra, pela conduta absurda do doente,
para o que contribuem o desconhecimento da situação, a sugestibilidade exaltada, as
idéias delirantes, a ausência de qualquer idéia de enfermidade. A debilidade do juízo
acentua-se mais em consequência da memória da fixação, seguida da evocação, tudo
progressivamente mais lento e deficiente.

A paralisia geral, a efetividade chama a atenção a indiferença progressiva, a ausência de


afetos e de reações adequadas, a versatilidade afetiva por motivos insignificantes e a
intensidade e fugacidade das reações. Esses doentes ficam tranqüilos com a mesma
facilidade que se aborrecem, porque os afetos perderam tensão, carecem de energia
psíquica, perderam tenacidade. O afeto em tais indivíduos é superficial e mutável com
facilidade, podem vir alucinações acústicas e visuais. Demência senil: a deficiente
rememoração, a ponto do indivíduo sempre aludir às mesmas coisas. sua capacidade de
ajuizamento debilita e finda. Sua agilidade psíquica vai escasseando, unida à dificuldade
de adaptação ao meio ambiente, reduzindo o círculo de interesses da pessoa,
culminando exclusivamente no desejo de comer e dormir. O demente senil é bastante
sugestionável e monótono nas conversações. Afetivamente se irrita aos mais leve
motivo. Seus sentimentos éticos ficam embotados, sobretudo na vida sexual, podendo
atentar contra o pudor de menores e mulheres. O demente senil se torna avarento,
desconfiado e, as vezes, pedinte. As vezes tem idéias delirantes hipocondríacas ou
depressivas de condenação, ruína e outras semelhantes. Em alguns casos idéias
paranóides.

Psicose epiléptica: síndrome clínica cuja manifestação central é o ataque epiléptico, que
é um mero sintoma da moléstia e não a moléstia propriamente dita. O ataque epiléptico
de início é súbito, sendo seguido de perda de consciência e de queda com convulsões
generalizadas (contrações e tremores), tudo durando poucos minutos. Subseqüente
advem sono profundo ou coma. A psicose epiléptica pode ser precedida de
manifestações psíquicas. As vezes se observam pródomos, nas horas ou
dias precedentes aos ataques, referindo-se a modificações de humor ou a sintomas
físicos. Há também os ataques denominados de pequeno mal ou ausência, marcados
pela perda da memória ou da consciência do ambiente, isso por segundos ou minutos.
Há registros de perda de memórias por vários dias.

A epilepcia é um transtorno cerebral, caracterizado por uma descarga neurótica


exagerada, manifestado por episódios transitórios de disfunção motora, sensorial ou
psíquica, acompanhada ou não por inconsciência ou movimentos convulsivos, sendo
que o ataque se associa com modificações acentuadas da atividade elétrica do cérebro.

Há diversos tipos de epilepsia, mas alguns autores costuma agrupa-los em dois tipos
principais:

a) a epilepsia essencial,
b) a epilepsia jacksoniana (assim chamada por ter sido Jackson quem a descreveu,
dizendo-se adquirida e secundária, diferente da essencial ou primitiva).

A epilepsia essencial não possui uma causa justificável a explicála, já a jacksoniana é


originada em virtude de uma lesão produzida no cérebro, que age como pólo de
irritação, ossos que desprenderam, formação de pus enquisitado etc... a epilepsia
essencial é incurável, a jacksoniana é curável. Quanto a hereditariedade, só a essencial
tem essa origem, já a jacksoniana é adquirida.

Psicoses esquizofrênicas: As esquizofrenias podem dividir-se:

1) Idiopáticas: são aquelas em que não se descobrem causas somáticas que possam
causa-la;
2) Reativas: compreendem um grupo de reações e desenvolvimentos psíquicos
motivados por causas psíquicas que sobrevêm em personalidades constitucionamente
predispostas, em indivíduos esquizóides.
3) Sintomáticas: causas exógenas (infecção, intoxicação)

Sob o ponto de vista didático os sintomas psíquicos esquizofrênicos podem dividir-se


em primários e secundários.

Sintomas primários: compreendem o transtorno da associação, dissociação psíquica,


ausência de senso comum, aceleração do curso do pensamento, inibição e
interceptação do pensamento, desagregação de idéias, respostas absurdas ou
desconexas, perseveração ideativa, ambivalência, perplexidade, transtornos da iniciativa
e da expontâneidade, transtorno do plano afetivo (indiferença, rigidez),
hiperexitabilidade, maneirismos, inversão das relações afetivas, paratimia (reação afetiva
contrária ao afeto), desgoverno da afetividade, autismo (perda do contato vital com a
realidade) transtornos da percepção, atenção e consciência, alucinações, automatismo
mental, transtornos volitivos, transtornos da personalidade, etc..

Sintomas acessórios compreendem as alucinações esquizofrênicas, as idéias delirantes e


esquizofrênicas (absurdo e sem lógica), transtornos de linguagem e de escritura,
invenção voluntária ou involuntária de neologismos, repetição de palavras, esquisofasia
( salada de palavras).

Psicoses parafrênicas: constituem as parafrenias casos de esquizofrenia paranóide em


que se conserva quase integralmente a personalidade, não chegando ao estado
demencial, características que a separaram da esquizofrenia. Nas parafrenias, que
surgem após o terceiro decêncio da vida, apresenta-se de maneira insidiosa um delírio
alucinatório de fundo persecutório e evolução crônica, combinado com idéias de
grandeza, possessão e eróticas, alterações da linguagem, sem contudo ocorrer o
embrutecimento próprio dos processos esquizofrênicos.

Psicoses paranóicas: a paranóia é uma psicose caracterizada pelo desenvolvimento de


um sistema delirante crônico, imutável, resultado de causas endógenas e evolui,
conservando-se a perfeita lucidez do sensório e ordem no pensamento, vontade e
atividade. As fantasias têm para o paranóico indiscutível caráter de realidade, sejam elas
agradáveis ou desagradáveis. Por sua vez, as interpretações delirantes conduzem em
alguns casos ao verdadeiro desconhecimento das pessoas do meio ambiente, de

forma tal que amigos e inimigos podem apresentar-se doente sob variados aspectos.
Tais falsas premissas levam geralmente ao delírio de grandeza ou de perseguição
desenvolvido muito lentamente no transcurso dos anos. Particularmente chama a
atenção, a credulidade do doente no que se relacionam com suas idéias delirantes, ao
tempo em que afasta tudo que as contradizem.

O paranóico, as vezes, aparenta certa normalidade; aliás, os psiquiatras se deparam com


vários indivíduos assim, contudo, a qualquer momento, vem a baila a moléstia,
revelando o verdadeiro estado mental do paciente. Muitos dos grandes homens, que
por uma atuação ou outra deixaram seus nomes registrados na História, foram
assassinados por paranóicos, que assassinaram Abraham Lincoln (Lev Davidovitch)
Mahatama Ghandi, o assassino de John Lennon, e o que tentou matar oPapa João Paulo
II em 1981, e outros. Enfermidade rara, não chegando a constituir 1% das internações
nosocomiais, afeta de preferência o sexo masculino e se inicia tardiamente. O delírio é
interpretativo, egocêntrico, sistematizado e coerente e pode ser de prejuízo, de
perseguição ou de grandezas,com tonalidade erótica ou com idéias de invenção e de
reforma.
Psicoses maníaco-depressivas: os quadros clínicos da mania e melanconia que integram
o conceito dessa psicose (classificada entre as chamadas Psicoses Afetivas), eram já
definidos e caracterizados desde os períodos mais remotos da Medicina Mental.
Também denominada de psicose circular além de outras designações, é uma
enfermidade de caráter endógeno, hereditária, caracterizada pela anormalidade de
ânimo, anormalidade anímica, da qual surgem os restantes sintomas, sem que a doença
seja de curso progressivo, nem conduza jamais à demência, intercalando-se com os
períodos de remissão mais ou menos prolongados. Nesta afecção ocorre a
periodicidade e alternância das fases da doença – mania e melancolia – (daí o nome de
psicose circular ou periódica).Os sintomas são os seguintes num mesmo indivíduo com
alternância: disforia depressiva ou eufórica, isto é, deslocamento do afeto para um dos
extremos da afetividade; aceleração ou retardo do curso do pensamento, desde a fuga
de idéias até ao mutismo absoluto, facilitação ou inibição das funções psíquicas
centrífugas (psicomotilidade, atividade,conduta).

Na fase maníaca se observa a expressão fisionômica inconfundível de radiante


felicidade,euforia, exagerando-se os traços normais de afeto, com mobilidade
fisionômica correspondente. O maníaco não permanece quieto um instante e
independente de sua tendência impulsiva para a ocupação, levanta-se e senta-se,
infinitas vezes, durante a exploração médica, entra e sai constantemente da sala, golpeia
o solo com o pé, golpeia a mesa, ameaça com o punho. A indumentária reflete o seu
estado de ânimo, sendo comum a propensão para despirse. O tom afetivo é eufórico ou
expansivo e lábil ou extremo, tem fuga de idéias.

Apresenta conduta imoral, impulso à ocupação constante, agitação maníaca, verborréia,


idéias delirantes de grandeza, de prejuízo, alucinações, exaltação das funções somáticas,
insônia.

Na fase melancólica a fisionomia do enfermo é também inconfundível e reflete a


profunda angustia e ansiedade que o embargam, expressão de aflição suma, de
amargura, de pranto, porém sem lágrimas. Também é típica a atitude do indivíduo com
a cabeça baixa, mãos aplicadas sobre as bochechas e cotovelos nos joelhos. Quando
anda, vai com os olhos fixos no solo, sem se preocupar com as pessoas com quem
cruzar, temendo fixa-las, com vergonha ou medo de elas se apercebam do seu
desequilíbrio, caminha a passo lento, o que aparenta movimentos preguiçosos e
cansados. A gesticulação é igualmente lenta, porém exagerada nos movimentos de
tristeza,, a fala é escondida, baixa e chorosa (ao contrário de quando não está na fase
melancólica em que a fala é firme, forte e alta) recebe as fases de alento com um sorriso
irônico e amargo ou com passividade. As dificuldades se encontra para qualquer
decisão o afastam da vida social inclusive do trabalho ( pois seu grau de sociabilidade
vai a zero, passa a temer o contato com as pessoas e sua capacidade de trabalho se
anula completamente, face ao medo desse contato interpessoal e o estado de
ansiedade paroxística que o impede de coordenar-se em quase todos os sentidos).

Apresenta-se negligente na indumentária, não se interessando por trocar de roupa e,


evita o banho (nessas ocasiões reflete o seu pessimismo, a indiferença à vida, assim
como a sua humildade e modéstia).

Nos casos mais grave e em que existe ansiedade, o doente tende a movimentar-se
continuamente, passeia infatigável o dia todo de um lado para outro, chora muito e se
lamenta, arranca os cabelos ou esmurra a parede, chegando a bater com a cabeça na
parede, quebra objetos ou os atira furioso contra o solo, buscando no movimento a
descarga que o libere do sofrimento cruel que lhe provoca o intenso estado de tensão
interna.

Nos casos leves pede adotar uma atitude compensadora contrária a seu afeto.

Nesse estado de depressão, observa-se uma dificuldade em todas as funções mentais e


psicomotoras, que se produzem em ritmo retardado, lentamente. Há recusa pelo doente
para se alimentar (porque perde completamente o apetite). Os suicídios são freqüentes
e tentativas de suicídio também, por isso é preciso acompanha-lo dia e noite. Sua
conduta é retraída, tímida, às vezes de medo ou de dúvida. Pode cometer atentados
contra mulher e filhos. Raramente tem alucinações, mas as ideais delirantes são
freqüentes, idéias de culpa, de expiação e de indignidade.

Freqüentíssimas as idéias hipocondríacas e as vezes idéias paranóides. Inibição e


defeitos da palavra escrita. Numerosos sintomas somáticos. Algumas costumam dizer,
nos seus períodos de lucidez, que a depressão de que sofrem é um câncer na alma.

Psicoses carcerárias: distúrbios ligados a privação da liberdade individual, favorecidos


pela ação do ambiente psicossocial extremamente desfavorável da maioria das prisões
tradicionais ou adaptadas. (ambas com deficiência de luz, espaço, alimentação,estímulos
intelectuais, promiscuidade,o temor a lei do mais forte e os constantes incentivos a
homossexuais etc..

Dentre as formas de exteriorização sintomática, há muito registradas como pertencentes


ao grupo, se conhece como síndrome crepuscular de Ganser, caracterizadas por
estranhas alterações da conduta motora e verbal do indivíduo que, quando interrogado,
encerra-se em impenetrável mutismo ou passa a exibir para respostas, como se estivera
acometido de um estado deficitário orgânico, não raro acompanhado de sintomas
depressivos ou catatônicos.
Psicoses traumáticas: aquelas perturbações mentais agudas ou crônicas, relacionadas
direta ou indiretamente a traumatismo crânio-encefálico, lesões orgânico cerebrais,
constituídas por ação mecânica. Excluem-se desse grupo, as de base endógenas ou
exógena, como também as psicoses infecciosas

Psicoses infecciosas: são originárias de infecções agudas e subagudas febris, de certa


gravidade, principalmente de caracter neurotrópico, causados por agentes microbianos,
dotados de especial afinidade para o sistema nervoso, que não raro, se fazem
acompanhar de alterações mentais, de intensidade e duração variáveis. Ex.
meningites,encefalites.

Psicoses tóxicas: dever-se-iam incluir nesta categoria todas as desordens mentais de


feitio psicótico, prevalentemente determinadas por intoxicações, de procedência interna
ou externa. As primeiras seriam as psicoses endotóxicas e as segundas exotóxicas, isto é,
produzidas por agentes tóxicos de qualquer natureza e aqui caberiam então o álcool e
as drogas psicoativs utilizadas por toxicômanos. Do que se infere a existência da
chamada Psicose alcoólica e de um Psicose ligada as Toxicomanias, que contudo, não
seriam tratadas neste capítulo e sim à parte, sob as denominações de alcoolismo e
toxicomanias, quando se estudarão as influências do álcool e dos psicolépticos,
psicoanalépticos e psicodislépticos sobre as faculdades mentais e as reações
comportamentais do homem. Sobre Psicoses Exotóxicas, são as perturbações mentais
originárias de intoxicações exógenas de qualquer natureza, acidentais, profissionais e
mesmo intencionais e voluntárias, visando a eliminação individual ou alheia.

Entre os produtos causadores deste tipo de intoxicação e de suas decorrentes


conseqüências alinham-se aqueles feito a base de arsênico,mercúrio,sais de chumbo,
fósforo, hexaclorofeno e similares, lisol e derivados e até cianeto de potássio (formicida).

Todos podendo ser utilizados em suicídios

Podem ser citados como intoxicações exógenas: cogumelos não comestíveis, frutos
silvestres daninhos, carnes deterioradas, conservas de condicionamento inferior etc.. e
os medicamentos (ergotina, bromo, cloral, digital, barbitúricos etc..) estes de regra,
relacionados a super dosagem.

Entre as intoxicações exógenas, ainda podem citar-se as acidentais e profissionais,


sendo as mais comuns as que se processam com a inalação do monóxido de carbono
(CO) ou de sulfeto de carbono (CS) ambas de maior gravidade e me plano inferior o
manganês, benzol, chumbo, etc.. Exceção ao CO e CS que podem levar rápida ao coma
ou a morte. Os demais vão se sentindo pouco a pouco a sua presença, podendo tomar
providências.
OLIGOFRENIAS
Oligofrenia é o termo genérico para substituir a locução demasiado vaga, até então
usada: “paradas do desenvolvimento intelectual”. E, em sua concepção ampla define
todo o conjunto de estados deficitários, congênitos ou precocemente adquiridos da
atividade psíquica.

Oligofrênico ou “deficiente mental”, como preferem chamar autores anglo-saxões, é


todo indivíduo cuja inteligÊncia se mostre originalmente pequena, manifestamente
inferior à dos demais da mesma idade, vivendo idênticas condições sócioeconômicas e
culturais.

Durante algum tempo se entendia que a deficiência mental contribuía exaustivamente


na gênese do crime. Goring, ao contestar Lombroso, insistia na íntima correlação da
oligofrenia com o delito, porém atualmente é insustentável a asserção de Goring, visto
ser reconhecido que a deficiência mental é um simples estado anormal.

Hélio Gomes esclarece: “As oligofrenias são distúrbios durante a evolução cerebral
durante a gestação ou nos primeiros anos de vida, acompanhados de numerosas
anomalias e com acentuado déficit intelectual. Há uma parada, ou umatraso do
desenvolvimento mental, determinado diversos graus de deficiência mental. Várias são
as causas das oligofrenias: sífilis, alcoolismo, casamentos tardios, precoces ou
desproporcionais, abalos morais reiterados durante a gravidez, infecções, perturbações
endócrinas. Há ainda os traumatismos do nascimento, 10% dos deficientes mentais dos
hospitais apresentam sinais de parto laborioso”.

O conjunto dos oligofrênicos compreende três grupos: a idiotia, a imbecilidade e a


debilidade mental propriamente dita, que seria a forma mais acentuada.

Prossegue Helio Gomes: “ As oligofrenias obedecem a uma gradação: idiotia,


imbecilidade e debilidade mental, podendo cada espécie subdividir-se em subtipos mais
e menos intensos. A idiotia é a forma mais acentuada. O idiota é incapaz de transmitir
um recado, muitas vezes não articula palavra. Em geral vive pouco. ... O imbecil está
colocado entre o idiota e os débeis mentais. É aforma média. Distingue-se do idiota
porque pode articular a palavra. ... A debilidade mental representa uma zona limítrofe
entre a imbecilidade e a sanidade mental. O débil difere do normal em dois pontos: sua
evolução mental é muito vagarosa e nunca atinge a nível superior. ... Há vários tipos de
débeis mentais: ponderados, instáveis, pueris, emotivos, explosivos, tolos. O débil
costuma ser vaidoso.

Ainda consoante Hélio Gomes, um dos critérios para classificar os oligofrênicos é


comparara sua inteligência com as das crianças normais. Assim, o idiota atinge o nível
mental de uma criança de até 2 anos de idade; o imbecil chega ao nível mental de uma
criança de 2 a 7 anos; o débil mental alcança a mentalidade de uma criança de 7 a 12
anos.

Vale advertir, por oportuno, que tanto os imbecis quanto os idiotas podem ser dotados
de atividades automáticas espontâneas – tais como estereotipias motoras e impulsões
destrutivas e – reações peculiares às formas ditas eréticas. Em compensação, entre os
chamados apáticos, a regra é que se conservem inertes, jogados a um canto qualquer,
alheados ao ambiente-acinéticos, entregues ao marasmo, a sordície e
as automutilações.

Outrossim, ao contrário do que acontece com os débeis mentais, tanto aos imbecis,
quanto aos idiotas, jamais faltam anomalias físicas, as mais diversas (macro, micro ou
escafocefalia, anorquidia, criptorquidia, hipospadia, macraglosia, lábio leporino,
sindatilia, polidatilia, etc.)
Uma das variedades de oligofrenias que vem sendo estudada mais intensamente nos
tempos atuais é a Síndrome de Down.

Face a esses estudos, a partir de 1959 e graças aos trabalhos de J. Lejeune e outros,
tem-se hoje por assente que o mongolismo relaciona-se com uma anomalia
cromossômica especial provinda da presença de um auroissoma suplementar,
constitutivo da chamada trissomia 21.

8º Módulo: Desvios Sexuais e Criminologia

DESVIOS SEXUAIS E CRIMINOLOGIA


Definir-se um desvio sexual não é tarefa muito fácil, como à primeira vista se imagina,
isso porque o comportamento sexual anômalo em si não pe o único critério para fazer a
distinção; dado que, às vezes é difícil se estabelecer um consenso entre o
comportamento sexual normal e divergente.

Aliás, a liberalização dos costumes na modernidade, torna também difícil, dada a


regularidade com que são praticadas, catalogar certos comportamentos sexuais como
anormais ou não.

Os psicólogos e os psiquiatras, em suas clínicas, procuram freqüentemente, em suas


experiências profissionais, estabelecer o que é normal ou não nesse campo.

Tipos de transtornos sexuais


Alguns autores costumam utilizar dois critérios básicos primordiais para definir um
desvio sexual:
1) Quando o interesse sexual do indivíduo é dirigido para objetos e não para pessoas
do sexo oposto.
Exemplo: Fetichismo;
2) Quando o ato sexual é realizado de forma bizarra ou incomum. Exemplo: o sadismo
sexual ou a necrofilia.

Os tipos de transtornos sexuais mais comuns são:


Homossexualismo: é a inversão sexual ou o amor pelos indivíduos do mesmo sexo. É a
mais importante perversão ou desvio sexual. Em muitos casos o homossexualismo é
congênito e a perversão decorre certamente de uma anomalia glandular.

Sadismo: no sadismo sexual, usualmente é o homem que provoca dores, por vários
meios (tapas, socos, chicotadas e outros tipos de inflições de males físicos) à sua
companheira. Existem registros de casos em que o indivíduo chega ao orgasmo
enquanto apenas fere a vítima, sem possuí-la sexualmente. Este desvio comportamental
é muito mais freqüente nos homens.

Masoquismo: neste distúrbio, o indivíduo obtém prazer sexual quando lhe são infligidos
tratamentos dolorosos. Muitas vezes, o indivíduo exige que o parceiro sexual o
esbofeteie, arranhe, dêlhe tapas no rosto e em outras regiões do corpo, aperte-lhe o
pescoço em vias de quase esganar. Convém aduzir que, não raro, os sádicos são
também masoquistas e viceversa,encontrando-se, portanto, os dois distúrbios ao
mesmo tempo e funcionando concomitantemente na mesma pessoa, durante a relação
sexual. Essa perversão sexual é mais freqüente nas mulheres que nos homens,
contrariamente, portanto, ao que acontece como sadismo. Pedofilia: neste distúrbio, o
parceiro sexual é uma criança ou um adolescente.

Exibicionismo: satisfação sexual através da exibição do corpo, freqüentemente dos


órgãos genitais. Esse prazer sexual existe, inclusive, na exposição em público dos órgãos
genitais. O prazer derivado de olhar, ao invés de ser olhado (exibicionismo), chamase
escopofilia.

Voyeurismo: do francês “voyeur” que significa bisbilhoteiro, é uma perversão que se


caracteriza pela observação da satisfação sexual, espiando outras pessoas, enquanto se
despem ou têm relação sexual.

Fetichismo: o interesse sexual está concentrado em alguma parte do corpo ou em


objetos, como por exemplo, artigos de vestuário. Um grande número de partes
corporais ou objetos tem sido assinalados como estimuladores dos fetiches sexuais: pés,
seios, cabelos, orelhas, pêlos, roupas íntimas, meias, fitas, sapatos, lenços,
Narcisismo: em termos de perversão sexual é a fixação da libido sobre o próprio corpo,
principalmente mulheres que se desnudam completamente diante do espelho e,
seduzidas pela contemplação, chegam ao orgasmo, através da masturbação

Bestialidade: é a prática de relações sexuais com animais. Em homens é mais ou menos


freqüente esse tipo de contato com vacas, cabras, éguas e até com galinhas. Mas essa
anormalidade sexual é, igualmente, encontrada entre as mulheres que utilizam,
principalmente, cachorros para seus desígnios orgásicos.

Coprofilia: é o gosto pelos excrementos, quase sempre ligados a uma patologia mental,
também é encontrada na prática de relações sexuais.

Necrofilia: é a prática de relações sexuais com cadáveres. Há inúmeros registros policiais


de casos desta natureza, envolvendo às vezes, pessoas de bom nível social ou
profissional.

Ninfomania: refere-se ao intenso e constante desejo sexual da mulher que, na


exacerbação do seu delírio sexual, chega a ter um sem número de orgasmos contínuos
sem que, às vezes, ainda assim, se dêem por inteiramente satisfeitas.

Satiríase: é o constante e intenso desejo sexual no homem. É o correspondente


masculino da ninfomania.

Gerontofilia: é o desvio sexual que se caracteriza pela preferência por pessoa de idade
avançada. Riparofilia: é a atração por mulheres sujas, menstruadas. Travestismo: é
confundido, habitualmente, com o simples homossexualismo. Na quase totalidade, o
travesti é masculino e para obter satisfação sexual efetiva, é necessário que ele use traje
feminino.

Transexualismo: é a obsessão que domina o travesti no sentido se, transpondo o


próprio sexo, tornar-se mulher. Mas o que é o transexual? É um indivíduo, cujos
cromossomos, gônadas e hábito corporal o caracterizam como pertencente a um sexo,
mas que se sente psiquicamente do outro sexo, possuído por um desejo obsessivo e
insopitável de uma acomodação ou reajuste sexual, mediante intervenção cirúrgica e
hormonal. Tal indivíduo pode vestir-se e viver, habitualmente, como um membro do
sexo oposto. A causa do transexualismo, no entanto, não está perfeitamente definida. A
explicação mais consentânea é de que essa condição se origine do erro hormonal que
antecede o nascimento. A todos esses distúrbios sexuais vistos, damos o nome de
Parafilias.

9º Módulo: Notações sobre o Exame Criminológico


NOTAÇÕES SOBRE O EXAME CRIMINOLÓGICO
Exame criminológico propriamente dito:

O exame criminológico tem a missão de estudar a personalidade do criminoso, sua


capacidade para o delito, a medida de sua perigosidade e, ainda, sua sensibilidade à
pena e sua respectiva probabilidade de correcção.

O maior mérito do exame criminológico é aquele que permitir o conhecimento integral


do homem delinqüente. Se presta, tal exame, a ofertar á Justiça um quadro a respeito
da personalidade do autor da infração penal e, por conseqüência, os fatores principais
que influenciaram na eclosão do crime, auxiliando o julgador na concessão ou não de
benefícios legais (suspensão da pena, redução da pena, aplicação de medida de
segurança, etc.).

O exame criminológico constitui, na verdade, o princípio básico da Criminologia Clínica.

É de grande importância que os delinqüentes sejam submetidos ao exame


criminológico e que, na realização do exame, sejam seguidos os métodos adotados
pelas ciências biológicas e psicológicas ao auscultarem a personalidade humana.

Entende-se por exame criminológico o conjunto de exames e pesquisas científicas de


natureza biopsicosocial do homem que delinqüiu e para se obter o diagnóstico da
personalidade criminosa e se fazer o prognóstico; tal exame revelará, sem disfarces, a
verdadeira dimensão da personalidade do criminoso, descobrindo-se sua intimidade
psíquica.

O exame criminológico compõe-se de uma série de análises, pois através dele tem que
se chegar a uma visão pluridimensional da personalidade do autor do delito. Para tanto
participam desse exame um grupo de profissionais, (o psicólogo, o assistente social ou
um sociólogo, o médico e o advogado).

Nessa fase jurídico-penal da observação ou exame criminológico devem ser colhidas


informações sobre se o indivíduo é primário ou reincidente, se contra ele pesa medida
de segurança, se já esteve preso, por quais estabelecimentos de reeducação passou, por
quantas vezes e por quanto tempo. Se ele agiu só ou em bando na prática do crime, se
o delito foi simples ou qualificado, se houve agravantes ou atenuantes, se foi infrator
quando menor de 18 anos, em caso positivo se foi menor institucionalizado e
estruturado na prática do ato anti-social etc.
Pode-se dizer que o exame criminológico subdivide-se em exame morfológico, exame
funcional, exame psicológico, exame psiquiátrico, exame moral, exame social e exame
histórico.

Exame Morfológico

É também conhecido como exame somático e tem por objetivo avaliar todos os


segmentos do corpo humano, determinando suas medidas e proporções, a massa
corpórea, óssea e muscular.

Evidente que, nesse exame, se atenta para o físico em geral do periciado, verificando-se
seusas pectos neurológicos, patológicos e endocrinológicos, a parte das perícias
radiológicas e eletroencefalográficas que nele devem ser procedidas. Tudo para
registrar as particularidades ou peculiaridades que ensejam estabelecer caracteres
individuais, anormalidades, formações patológicas, malformações congênitas, caracteres
herdados,etc.

- Exame Funcional

Importa verificar a possível existência, no delinqüente, de sinais de imaturidade, de


fraqueza vital hereditária, de atrofias constitucionais, de síndromes de crescimento
(neuropatias e psicopatias, que poderão surgir no período), sintomas de modificação do
equilíbrio neuro-vegetativo, etc.

No estudo da personalidade do indivíduo delinqüente, o exame do sistema nervoso


deve ter em conta, especialmente: a mobilidade (não só dos órgãos de locomoção, mas
de outros órgãos, como por exemplo, dos olhos, das pálpebras, da língua, do pescoço,
etc); o reflexo (que pode estar exagerado, irregular ou anormal); a sensibilidade geral e
específica (dores, principalmente de cabeça); linguagem (capacidade de ler e escrever);
hábitos (ex: estar acostumado com a boemia e a vida noturna), etc.

Tais investigações devem ser completadas pelo exame de sangue (procurando a


presença de drogas, infecções ou alterações bioquímicas).

Exame Psicológico

Tem por objetivo apreender e descrever o perfil psicológico da pessoa examinada,


independentemente da existência ou não de suspeita de que ela seja portadora de uma
doença mental. A avaliação psíquica do criminosa é que trará os esclarecimentos:
conhecer os diferentes aspectos de sua personalidade, suas características fundamentais
que, como são variáveis de uma pessoa para outra, são de capital importância para se
saber sobre a gênese e a dinâmica do eventodelituoso.

O exame psicológico deve ser amplo e ao menos aferir três aspectos fundamentais ao
interesse criminológico, quais sejam:

1- nível mental do criminoso;


2- traços característicos de sua personalidade;
3- seu grau de agressividade.

Exame Psiquiátrico

Leva em consideração as doenças mentais que possam existir ou terem aflorado no


criminoso após a prática delituosa. O exame psiquiátrico é, por assim dizer, o centro, o
âmago da observação criminosa, mesmo porque é ele que interferirá na inflição ou não,
de pena (face a imputabilidade ou não do acusado), na possível redução do
apenamento (nos casos de semi-imputabilidade), na aplicação da medida de segurança
(pela periculosidade do delinqüente), ou no tratamento do condenado, visando o seu
retorno ao convívio social, após o cumprimento da pena.

É o exame psiquiátrico que vai dizer se o delinqüente é ou não mentalmente são.


Os itens que mais interessam no exame psiquiátricocriminológico são os seguintes:

1- Psicoevolutivos: referem-se ás morbosidades infanto-juvenis com conseqüências


graves para o desenvolvimento psicossomático. E dentre elas:

a) o desmantelamento do lar;
b) a falta de escolarização ou profissionalização; a institucionalização em casas de
reeducação da criança (creches, abrigos, orfanatos, etc.);
c) distúrbios precoces de comportamento;
d) desvios de conduta;
e) fugas do lar;
f) perturbações psíquicas da mais variada natureza.
2- Jurídico-penais: Entre eles:

a) a natureza do delito praticado (patrimonial, contra os costumes, contra a pessoa, etc.);


b) início da criminalidade: se antes ou depois de completar 18 anos (se com menos de
18 anos, perquerir-se-á se é menor estruturado, ou seja, habituado á prática de ato
infracional e se tem passagens por Institutos de Reeducação);
c) a quantos Inquéritos Policiais ou Processos Criminais respondeu;
d) se é reincidente;
e) a criminalidade no espaço (locais onde foram praticados os delitos, na mesma cidade,
em cidades diferentes, em estados diversos, etc.);
f) a participação em bandos ou quadrilha para a prática do crime;
g) qual a sua efetiva participação no bando (se em posição de chefia ou liderança ou
não, etc.).

Exame Moral

O acervo moral da personalidade humana constitui o patrimônio do homem, definindo-


o como criatura humana, acima de todas as demais criaturas viventes.

Existem pessoas que, por alterações de diversas naturezas, apresentam-se num patamar
muito baixo de condições instintosensitivas, que constituem o alicerce do
desenvolvimento da efetividade moral. Fala-se numa agenesia (falta ou
desenvolvimento incompleto ou defeituoso) do sentimento moral, da imoralidade
constitucional, de uma diátese moral delinquencial (tendência hereditária para o crime),
para indicar que a pessoa, mesmo tendo moral teórica, como conseqüência da
aprendizagem teórica, não é capaz de senti-la e muito menos vivêla.

Esse sentimento moral compreende uma tripartição de condutas, a saber:

- Morais: são os indivíduos que assimilaram através do binômio ensino-aprendizagem,


os ensinamentos éticos e que, em virtude da própria índole tem tendências para seguir
e obedecer normas dessa natureza ética e que, ás vezes, como exceção, vem afrontá-las,
chegando até ao cometimento do delito.

-Imorais: são os indivíduos que, embora conheçam suficientemente normas ético-


morais, habitualmente não as obedecem, por razões que a própria análise criminológica
se encarrega de apurar.

- Amorais: são aqueles que jamais foram capazes de assimilar princípios ético-morais.
Estes constituem a maioria dos delinqüentes e caracterizam-se pelo embotamento
afetivo. São indivíduos desprovidos de piedade, de compaixão, de vergonha, de pudor.
Em regra, são raivosos, frios, calculistas, insensatos, traiçoeiros, egoístas, incapazes de
arrependimento, enfim, moralmente impuros.

Exame Social
Por este exame busca-se conhecer as condições que poderiam ter influenciado a
conduta anti-social do agente da ação, principalmente se decorrentes do meio social
em que nasceu, cresceu e viveu. Interessa a este exame o tipo de vida levada pelo
criminoso, o meio familiar, a sua situação econômica, a roda de amigos, etc.

O exame social se consubstancia, via de regra, em uma entrevista com o assistente


social, que é parte integrante da equipe de examinadores criminológicos.

Exame Histórico

Tem por finalidade precípua reconstruir o passado do criminoso, o que, habitualmente


se chama em Medicina de anamnese. Assim, são coletados dados referentes á evolução
social do indivíduo, a situação econômica do delinqüente, seu modo de vida, seus
gostos, suas atividades, enfim, o seu viver pregresso. Os dados sobre primariedade ou
reincidência criminal, se genérica, ou específica, etc. No exame histórico se devem
colher, também, informações minuciosas sobre o crime praticado, as circunstancias em
que o crime ocorreu; o estudo da conduta do delinqüente antes, durante e depois do
ato praticado; se apresentou-se espontaneamente á prisão, ou se foragido foi
capturado; se resistiu á prisão; se empreendeu fuga após o crime e por que lugares
passou; os contatos que manteve nesse tempo

e com quais pessoas; se foi ajudado por alguém e de que forma; se prestou ou não
socorro ou auxílio á vítima, etc.

Tratamento Delinquencial

Em seu livro Psicologia do Crime, falando sobre a personalidade, o prof. Odon Ramos
Maranhão, atribui-lhe natureza “normal”, “mórbida” e “defeituosa”.

Tal divisão tríplice dos indivíduos, sob o ponto de vista jurídico, obedeceria o
seguinteesquema:

I – Indivíduos Imputáveis (“normais”);


II – Indivíduos Imputáveis (com “defeito” de personalidade);
III – Indivíduos Semi-Imputáveis (com perturbação da saúde mental, também chamados
de fronteiriços);
IV – Indivíduos Inimputáveis (acometidos de doença mental).

Para o delinquente de personalidade normal, que quase sempre é um criminoso


ocasional, as medidas terapêuticas devem ser de caráter corretivo-pedagógico (medidas
reeducativas) e o estabelecimento onde a pena será cumprida pode ser de segurança
mínima e até prisão albergue.

Os delinqüentes com defeito de personalidade constituem a grande maioria da


população prisional (principalmente nos países do 3º mundo). Tais criminosos
habitualmente são oriundos de ambientes deficitários, seja sob o prisma moral, familiar,
ou comunitário. Todos os tipos de assistência (médica, psiquiátrica, psicológica,
odontológica, religiosa, profissionalizante, ressocializante) são indicados para esses
tipos de delinqüentes, embora seja utópico pensar que isso vai acontecer.

Os delinqüentes com perturbação da saúde mental são indivíduos que se encontram na


zona limítrofe ou fronteiriça entre a normalidade psíquica e a doença mental ou a
oligofrenia. Não se trata propriamente de doentes, mas de indivíduos cuja constituição
é originariamente formada de modo diverso daquele que corresponde ao homo
medius.

Sob o ponto de vista do tratamento penitenciário a ser dado a esses indivíduos, é


evidente que, em virtude do grau de perigosidade que apresentam, devem sofrer as
restrições que a defesa social impõe, pois, se eles são capazes de satisfazer as exigências
médias da ordem jurídica, deixando de empregar, na medida do possível, uma
resistência mais forte em relação á inclinação para o crime, não é admissível que fiquem
á margem da reação punitivo-corretiva. A capacidade de entendimento e autodireção,
na verdade, não lhe estão completamente anuladas, como ocorre com os doentes
mentais. Pelo seu notável grau de periculosidade (são os reincidentes por excelência),
não basta a imposição da pena: durante e após o cumprimento desta devem sofrer um
regime de tratamento adequado á reeducação e ressocialização.

Os delinqüentes portadores de moléstias mentais são aqueles que foram acometidos


por alguma psicose, ou seja, por loucura ou insanidade mental. È a categoria das
doenças mentais caracterizada por desordens cognitivas tão graves que o ajustamento
social se torna impossível e o paciente precisa ficar sob vigilância médica, a fim de não
causar danos em si próprio ou em terceiro.

Com relação aos portadores de psicoses, as terapêuticas dependem de cada quadro


particularmente considerado. Entre as terapias que vêm sendo empregadas podem ser
enumeradas: a terapia de choque por insulina (TCI), a terapia eletroconvulsiva, a
psicoterapia individual ou de grupo, a psicoterapia psicanalista de Freud, etc.

10º Módulo: Caracterologia e Vitimologia


A Caracterologia é o ramo da Psicologia que estuda, pesquisa e investiga a
personalidade e o conjunto de traços psicológicos que definem o caráter mental e o
comportamento do homem.

De salientar que entre as ciências de que se vale a Criminologia para a investigação do


crime, avulta a Psicologia e, dentro desta, ganha posição a Caracterologia que, embora
sendo uma corrente antiga e polemica, modernamente voltou a despertar
grande interesse.

Existem, em regra, 8 tipos de caracteres, assim denominados, segundo Newton e Valter


Fernandes:

1- Nervosos: Mudam com o instante. Podem sofrer vivamente, mas se consolam


rapidamente. Suas simpatias são pouco constantes. Têm necessidade de novas
emoções, precisam de excitação. Às vezes amam o macabro. Têm tendência para a arte,
o jornalismo, o comércio ambulante, etc.
2- Sentimentais: São sensíveis aos acontecimentos exteriores, mas amam a solidão.
Voltados para o passado, são meditativos e desajeitados na vida prática. São tímidos,
vulneráveis, e amantes da natureza. Têm tendência para o magistério, para a literatura,
para a contabilidade, para a função pública e para ofícios em locais pacíficos e que
reclamam certa concentração individual.
3- Coléricos: São móveis, excitáveis, cordiais, rápidos ma reação, otimistas e
exuberantes. Têm tendência para a engenharia, política e empresariado. Preferem os
ofícios que demandam movimentação.
4- Apaixonados: São dominadores, ambiciosos e realizadores. São amantes da
sociedade, da família, da pátria, e da religião. Têm tendência para chefiar, para as
carreiras diplomáticas, para as artes e ofícios construtivos.
5- Sanguíneos: São assíduos ao trabalho, sendo objetivos e práticos. São decididos,
liberais e esportivos,rápidos na concepção e imediatistas. Têm tendência para a
advocacia, para as línguas, para a agricultura, para o empresariado, etc.
6- Fleugmáticos: São perseverantes, ponderados, simples e pontuais. São amantes da
ordem e da lei. Têm tendência para a magistratura, para a medicina, para a
administração, para a filosofia, para a matemática, etc.
7- Amorfos: São displicentes, disponíveis, conciliadores, tolerantes e amantes da “boa
vida”. Têm tendência para o teatro, execução musical, comércio ambulante, etc.
8- Apáticos: São fechados, persistentes, solitários, honestos e vorazes. Representam uma
mistura do sentimental e do amorfo. Têm inclinação para veterinária, funções públicas,
etc.

Segundo dados colhidos, observou-se que os tipos caracterológicos que oferecem o


maior nº de criminosos são: o nervoso (31,5%), o apático (22,5%), o colérico e o amorfo
(16%). Os sentimentais, apaixonados e fleugmáticos são os que delinquem menos.
Afastadas, por carentes de fundamentação racional, o “biologismo determinista” que
fala do “criminoso nato” (Cesare Lombroso); o “psiquiatrismo”, que acena com a figura
do “criminoso louco” e o “sociologismo” (que tanto encantou Gabriel Tarde) com as
teorias dos fatores exógenos como únicos responsáveis pela verificação de crimes;
outrossim, de se condenar, definitivamente, a hereditariedade como fator determinante
de crime (Lombroso, Ferri, Garófalo) ou predisponente de crime (Lacassagne,
Manouvrier, etc.), isto porque, dos ensinamentos cristalinos do célebre psiquiatra de
Barcelona, Mira Y Lopes, e de outros, se deflui o nítido e transparente entendimento de
que não existe fator hereditário ou genético, que possam determinar que o indivíduo
seja criminoso; aliás, segundo os mesmos ensinamentos, o homem sequer traria em sua
bagagem hereditária qualquer determinação ou predisposição para a prática do mal.

Mas, então, porque o crime acontece?

O criminalista Cooley vincula qualquer influencia hereditária ao processo de


aprendizagem, este claramente jungido ao meio ambiente, ao convívio social. E afirma:
“Ninguém tem uma hereditariedade tal, que deva ser inevitavelmente um criminoso,
independentemente das situações em que é colocado ou das influencias que sobre ele
se exercem. Um temperamento fleugmático, que permite supor ser herdado, pode
preservar uma pessoa de ser criminosa num ambiente, e torná-la criminosa noutro”.

Mas, então, porque o crime acontece?

Os juristas falam do “iter criminis, ou seja, o caminho do crime, que compreende 4


etapas:
a) Cogitação
 b) Preparação;
c) Execução;
d) Consumação.

Os psicólogos e psiquiatras, por sua vez, dizem da existência do que denominam fases
intrapsíquicas do crime e que seriam:

Intelecção ou“gnosia”;
a) Desejo ou tendência;
b) Deliberação ou dúvida;
c) Intenção;
d) Decisão;
e) Execução ou realização.
Por tudo o que foi dito, de se trazer ao palco da colação criminal mais um personagem:
o “criminoso social”. Dito isso, forçoso concluir que o homem criminoso haverá sim de
ser analisado e pesquisado sob todos esses matizes, ou seja, em todos os seus aspectos
estruturais, funcionais, racionais ou psíquicos, psiquiátricos, sociais e, através disso tudo,
se possa descortinar a sua personalidade, pois sem sombra de dúvida, é da forma como
ela reage, quer aos estímulos internos (ou endógenos), quer aos externos (exógenos),
na antecâmara da ação delituosa, que o crime virá ou não a acontecer.

Logo: Porque o crime acontece?

Por influencia dos fatores endógenos e exógenos.


O crime é definido sob o prisma jurídico e o prisma biopsicológico. Vejamos:
- No aspecto jurídico: Crime é o fato social anti-jurídico, tipificado pela lei penal, punível
á título de dolo ou culpa, se inexistentes excludentes e inimputabilidades.
- No aspecto jurídico e biopsicológico: Crime é um ato biopsiquico ou biopsicológico,
contrário á lei, decorrente de decisão livre da personalidade individual, punível á título
de dolo ou culpa, se inexistentes as excludentes de legítima defesa, estado de
necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de um direito, e
desde que, dita decisão da personalidade não esteja desconfigurada pela existência de
inimputabilidade (total ou parcial), consistente em psicopatias ou desordens mentias, ou
em razão do agente ser menor de 18 anos.

Criminalidade: Fatores Exógenos Gerais


CRIMINALIDADE
FATORES EXÓGENOS GERAIS
Meteorologia Criminal

O entendimento que se tem sobre meteorologia criminal conduz à ilação que


determinados fatores chamados cosmotelúricos (calor, frio, pressão atmosférica, ventos,
tensão eleétrica do ar, chuva, luminosidade, irradiação solar, etc) exerceriam influência
quando do cometimento de crime. Até hoje, verdadeiramente, não se sabe explicar de
que forma esses fatores inspirariam o fenômeno criminal. Presume-se que tais
influências seriam meramente indiretas.

Para Lombroso, não padecia dúvida que o calor influi sobre a criminalidade e, disto, cita
exemplos o brilhante e controvertido médico italiano.

Em seu livro Principles of Criminology, Edwin Sutherland vai mais longe, afirmando que
no verão são mais numerosos não apenas os crimes contra a pessoa, mas, também, os
delitos contra a moral.
Tendo em mira que o crime é determinado pelo comportamento do indivíduo, supõe-se
que os fatores cosmotelúricos, tendo a capacidade de atuar sobre o sistema nervoso e o
psiquismo da pessoa, poderiam, então, influenciar a conduta humana a ponto de levá-la
á prática delitiva, mas sempre de modo indireto.

O assunto foi pesquisado por Adolphe Quetelet, que formulou suas conhecidas “Leis
Térmicas”, estabelecendo certa relação entre as diversas estações do ano e um
determinado número e tipo de delitos.

A 1ª lei de Quetelet baseia-se nos delitos contra a propriedade, os quais, segundo ele,
são mais freqüentes no inverno; a 2ª lei refere-se aos delitos contra a pessoa, que
observou serem mais cometidos no verão; e a 3ª lei refere-se aos crimes sexuais, cuja
freqüência mais corrente é na primavera e no início do verão.

No Brasil, os delitos contra a pessoa são cometidos mais no verão, pois há mais
ajuntamento de pessoas nas ruas e nos estabelecimentos comerciais, dorme-se mais
tarde, bebe-se mais, discute-se mais, etc. Os crimes sexuais são mais praticados durante
o período de carnaval, onde o sexo está mais liberado. Os crimes contra o patrimônio
são cometidos mais no verão do que no inverno, pois, no verão as pessoas ficam mais á
vontade e se descuidam de seus valores pessoais (bolsas, pacotes no interior do veículo,
etc), sendo vítimas fáceis de larápios que também se aproveitam das aglomerações
próprias do verão.

Teoricamente, parece irretorquível que os fenômenos cosmotelúricos tenham influência


quando se dá um enfoque geral sobre a matéria, mas os casuísmos, ou seja nos casos
concretos, um a um, é impossível estabelecer essa comprovação. Por via de
conseqüência, tudo que se afirme a respeito cai no campo da teoria, como matéria de
especulação científica.

Higiene

É notório que a falta de higiene é uma das características das moradias dos pobres e
miseráveis, que se acotovelam na promiscuidade dos cortiços, das casas de cômodos e
das favelas. Aí falta tudo: espaço físico vital, luz ou luminosidade adequadas, instalações
sanitárias, condições de oxigenação ambiental, etc. O que não falta é o cheiro
desagregador da dramaticidade vil e cruel da injustiça social, provinda da má
distribuição de riquezas, que impera nas camadas sociais não privilegiadasdos países do
epitetado Terceiro Mundo.

Coloquem-se ratos amontoados em exíguo espaço físico, sem ventilação e com


alimentação reduzida: em pouco tempo uns investirão contra os outros e matar-se-ão
reciprocamente. Com o homem, as coisas não são e nem poderiam ser diferentes, em
virtude de sua idêntica condição animal.

Ademais, o morar promíscuo permite que as crianças assistam cenas de violências ou de


sexo entre seus pais ou outras pessoas, com graves conseqüências para elas.

Registre-se, também, que habitações pouco arejadas, sem sol e sem luz, favorecem
enormemente a propagação de doenças infecto-contagiosas entre as pessoas que ali
coabitam.

Ponderações também podem ser feitas relativamente à vida no campo e na cidade


grande, esta submetida a todos os deletérios efeitos da loucura acústica dos ruídos, da
poluição de toda ordem, da densidade e dos inchaços demográficos, evidentemente
influenciadores de certos desequilíbrios do organismo e do psiquismo humano.

Merece consignação, aqui, as condições particularíssimas do Brasil e, como exemplo, o


flagelo das secas intermináveis de sua região Nordeste. Tal estiagem, verdadeiramente
endêmica e com seríssimas conseqüências no plano sócio-econômico brasileiro, enseja
o desespero da miséria, do desemprego, do desajuste familiar, da migração para áreas
hostis, tudo estimulando, induvidosamente, a modificação da conduta desses
atormentados e, inclusive, a probabilidade de sua relação com a criminalidade.

Nutrição

De início, parece difícil estabelecer qualquer liame entre a nutrição e a criminalidade,


mas, indiretamente, é possível fazê-lo.,

Tanto assim é que, a falta de alimentação adequada ou razoavelmente balanceada, de


molde a vigorar os órgãos dos nutrientes de que necessita o organismo humano, é
fator predisponente de criminalidade, sem que se chegue ao exagero da menção ao
furto famélico, juridicamente descriminalizado em razão da sua etiologia.

De distinguir, no que concerne à subalimentação, o estado agudo do crônico, pois o


primeiro não oferece importância maior, a não ser de poder levar o indivíduo ao furto
famélico. O estado crônico de desnutrição, porém, transforma o indivíduo em presa fácil
de sentimentos associais como o ressentimento, a irritabilidade, a revolta e o ódio,
todos geradores de uma condição de antisociabilidadee predisponentes do ato
delinqüencial.
Por igual, a ingestão abusiva do álcool, pelo desequilíbrio orgânico e psíquico que às
vezes provoca, pode ter o condão de funcionar como fator predisponente à
criminalidade.

Sistema econômico

Não resta dúvida que as condições econômicas exercem marcante influência na vida em
sociedade.

A situação econômica é um dos fenômenos mais comuns na influência da criminalidade,


via de regra decorrendo: de contendas suscitadas pela arbitrária política salarial; do
fechamento de grandes indústrias em momentos de crise; da não expansão da atividade
comercial; do desemprego e da dificuldade de achar colocação; do baixo poder
aquisitivo popular que é arrostado pela inflação e pela especulação; do egoísmo
imperante na própria economia, onde os que acumulam riqueza contribuem cada vez
mais para o empobrecimento da grande maioria.

Todo transtorno operado nas condições de vida do povo desloca, violentamente, uma
parte de seus membros do ambiente normal de existência para uma outra vereda da
vida social, que pode vir a ser o caminho do crime.

Mas, para a eclosão do delito, também contribuem outras camadas do estamento social,
situadas na esfera dos socialmente mais desenvolvidos. Esses tipos de delitos
correspondem às cifras douradas da criminalidade, também chamados de “crimes do
colarinho branco” (white collar crime) ou seja, aqueles cujos criminosos possuem poder
político, econômico ou social e que, por isso, suas atuações criminosas, na absoluta
maioria dos casos, permanecem impunes, quase que representando uma condição de
inimputabilidade situacional.

A criminalidade política por parte de governantes (peculato, emprego irregular de


verbas, etc) foge á toda espécie de repressão, jamais tornando-os réus de processo
judicial com a condenação severa, que inegavelmente mereceriam pelo uso desvirtuado
e desonesto do encargo que o povo lhes confiou.

Pobreza

É evidente que há uma relação estreita entre a pobreza e o crime. De enfatizar que os
assaltantes, em sua quase totalidade, são indivíduos rudes, semi-analfabetos e pobres,
quando não miseráveis. Sem formação moral adequada, eles são párias da sociedade,
nutrindo indisfarçável raiva e aversão, quando não ódio, por todos aqueles que
possuem bens de certo modo ostensivos, especialmente automóveis de luxo e mansões,
símbolos inquestionáveis de um status econômico superior.

Esse ódio ou aversão contra os possuidores de bens age como verdadeiro fermento,
fazendo crescer o bolo da insatisfação, do inconformismo e da revolta das classes mais
pobres da sociedade, e essa violência e agressividade, infalivelmente, as levarão ao
cometimento de alentado número de atos anti-sociais, desde a destruição de uma
simples cabine telefônica até à perpetração dos crimes mais bárbaros, dando números
maiores às altas taxas de criminalidade.

Miséria

A miséria é a pobreza elevada ao extremo. É o estado daqueles que tem muito pouco
ou não tem mais nada. A estes falecem, mais ainda que aos pobres, todas aquelas
condições mínimas de sobrevivência com um resquício de dignidade. Essa miséria
debilita centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, tornando-as, como os
pobres, presas fáceis da senda do crime.

É sabido que avaliações recentes da ONU revelam que, a par da alarmante mortalidade
infantil existente no Terceiro Mundo, a quantificação da miserabilidade nos países
pobres da América Latina, África e Ásia já atinge a cifra de 1 bilhão e quase 300 mil
pessoas! Em levantamento complementar ao de 1994 que registrava, nas nações
subdesenvolvidas, a morte anual de 500 mil crianças em razão da miséria, a informação
atual da Unicef é de que não menos de 700 mil infantes morrem anualmente nesses
países. No Brasil, por exemplo, a miséria e a fome matam mais de 300 mil pessoas
anualmente, entre adultos e crianças.

Não há como negar, entretanto, que a situação de miséria representa mais que
considerável ingrediente no poder de decisão do indivíduo que tende para o
comportamento criminoso

Mal-vivência

Geralmente fruto de condições biopsíquicas defeituosas ou doentes, mas também por


motivos mesológicos, os mal-viventes arrastam sua existência em todas as épocas da
história. Na dependência da legislação dos diversos países, ao invés de terem o
tratamento de um sociopata ou um biosociopata, eles são incriminados por
vagabundagem, sob a nomenclatura de vadiagem, que se pode aplicar a muitos, menos
eles que, em última análise, não passam de subproduto das sociedades brutais e
desumanas em que vivem. Analisados, eles, clinica e psicologicamente, não passam, na
imensa maioria, de pessoas fisiologicamente doentes, senão também mentalmente
anormais ou perturbados.

Contribuem para esse estado, como dito, fatores biológicos e mesológicos.

Existe aquele grupo de mal-viventes que procede de famílias de alcoólatras. Existe,


outrossim, uma mal-vivência orgânicaconstitucional, onde o indivíduo possui uma
impulsão à instabilidade, encontrada em andarilhos, tropeiros, ciganos, etc.

De referir, ainda, a mal-vivência de epilépticos neuróticos, paranóicos, oligofrênicos,


místicos, etc., quando, abandonando a família, saem pelo mundo sem nenhuma
perspectiva e levando aos parentes o sofrimento e a aflição. Fala-se, ainda, na epitetada
“idade do diabo”, em que os jovens, acometidos pela “claustrofobia” do lar, vão em
busca de novas experiências e acabam, geralmente, na marginalização, quando não no
crime.

Mencione-se, também, a mal-vivência que acomete a infância abandonada, fruto de


lares desfeitos ou mesmo dos chamado ’’órfãos de pais vivos”, conduzindo ao completo
abandono um grande número de crianças na faixa etária em que necessitariam de
cuidados afetivos, morais e materiais.

O desemprego, o subemprego, a falta de moradia etc., são outros fatores que impelem
o indivíduo a assumir a condição de malvivente mesológico.

É característico dessa categoria o cometimento de pequenos delitos, de bagatelas


delituosas, como o desacato à autoridade, as injúrias, os furtos de ocasião ou a
mendicidade (vadiagem )reincidente.

Civilização, cultura, educação, escola e analfabetismo

Tradicionalmente, as classes sociais se dividem em 3 grupos: classe baixa, classe média


eclasse alta.

A classe baixa, ou inferior, é aquela caracterizada por carências de toda ordem,


sobretudo aquelas de natureza econômica e cultural. A classe média, também chamada
de burguesia e que serve como verdadeiro amortecedor das outras duas, é constituída
por operários como pequenos comerciantes, microempresários, profissionais liberais,
etc. A classe alta, ou superior, que de um modo ou de outro manipula as demais, é
composta, a grosso modo, pela aristocracia de linhagem e pela aristocracia do dinheiro,
ainda que desonesto.
Dessas classes, a inferior é a que contribui mais para a criminalidade. Basta que se
verifique o seu enorme contingente nos presídios. Isto não significa, porém, que as
outras duas classes não tenham os seus criminosos. A classe alta, inclusive, tem um dos
piores criminosos, aquele denominado de “colarinho branco”, que dificilmente vai ter às
barras dos tribunais, mas que é profundamente nocivo para a coletividade, e também
para os órgãos públicos, por sua força corruptora. 

Sobre a influência da educação na prática do evento delituoso, é bom lembrar,


inicialmente, que a educação teria uma importância relevante para a Criminologia se o
ensino, por si só, tivesse a capacidade de moldar o caráter de alguém. Contudo, o que
se identifica inconteste é ser a educação apenas um entre inúmeros outros fatores, que
atuam sobre a infância primeira, no que diz respeito a formação do caráter de uma
criança, sem se falar na hereditariedade e em situações outras adjacentemente
circunstantes, em que a criança assiste cenas e participa de atos que fazem com que ela,
quase inconscientemente, assuma determinada conduta conjuntural, ou não. Acresça-
se, a isso, as situações de família que, muito mais que o ensino, atuam sobre o seu
espírito, sua sensibilidade e seu intelecto. Não se deve, portanto, assumir nenhuma
posição de convicção inabalável e definitiva sobre os verdadeiros efeitos da educação
sobre a conduta da criança, especialmente no que diz respeito a um possível
comportamento anti-social.

Sutherland indica que o Estado deve olhar com mais carinho a criança na escola,
preservando-a contra os perigos de seu ingresso na criminalidade, para tanto,
preparando adequadamente os professores. Certa feita, afirmou Vitor Hugo, que “Abrir
uma escola, eqüivale a fechar uma prisão”.

Ninguém ignora que nos países com grande número de analfabetos, de que é exemplo
o Brasil (cerca de 29 milhões de analfabetos, conforme último senso) é grande o
contingente de analfabetos entre os criminosos (de 15,1 milhões de analfabetos,
inseridos em um total de 875 milhões no mundo).

Casa

Oque dizer da moradia, da casa onde a pessoa vive com sua família? O que ela pode
representar em termos de oferecer condições de predisposição à criminalidade?

O lar, nem sempre oferece o remansoso aconchego de delícias; completamente ao


contrário, muitas vezes ele é o paradigma da infância, o cadinho da impudicícia e o
exemplo da maldade humana. As crianças pagam caro os desastres ocorridos no lar. E o
que dizer-se quando a família se desintegra? Quando os lares se desmantelam?
Grande, também, é o número de jovens autores de atos antisociais oriundos de lares
desfeitos, como ocorre com filhos de pais divorciados.

As condições desfavoráveis de moradia, como acontece, por exemplo, nos países


subdesenvolvidos, onde proliferam as favelas, os cortiços, as taperas, as casas de
cômodos, com a natural promiscuidade disso decorrente, em que os valores morais
desaparecem, onde o número de analfabetos ou subaculturados é muito grande,
induvidosamente propiciam, nas camadas sociais que assim vivem, a existência de um
contingente muito grande de prostitutas, viciados e traficantes de droga, ladrões,
assaltantes, homicidas etc. Lares inseridos nessas condições, não há que se contestar,
são verdadeiras forja de marginais.

Rua

Arua, com toda a espécie de maus exemplos que pode oferecer, inclui-se no crime.
Diga-se que à rua acorrem, igualmente, as infelizes crianças de lares desmantelados,
onde se iniciam cheirando cola (os “drogaditos”) e terminam assaltando e matando, não
raro, cruelmente.

A rua é a própria matriz a forjar modelos de associais. Dela resultam vadios,


contraventores, meninas precocemente prostituídas, toxicômanos, rufiões, ladrões
(infanto-juvenis ou adultos) etc., e tudo o que de pior possa existir.

Desemprego e Subemprego

Quando os níveis de ocupação profissional permanecem estagnados, impedindo que


novos contingentes populacionais ingressem no mercado de trabalho, é evidente que
essa situação se torna uma verdadeira “bola de neve”, aumentando o número de
desempregados. Daí à prática de ações anti-sociais o pulo é muito pequeno.

Mas, a par do desemprego, que indubitavelmente é um dos fatores diretos da


criminalidade, há também um outro fator, a ele intimamente relacionado, que é o
subemprego.

Hoje, é freqüente que as camadas de baixa renda aumentem seus ganhos com a prática
de atividades que, não raro, invadem a área de criminalidade como, por exemplo, o que
ocorre comos chamados “trabalhadores de fronteira”, que através de pequenos
contrabandos objetivam aumentar sua renda mensal.

Profissão
A atividade profissional do indivíduo, desde que se trate de um predisposto, poderá
incliná-lo à prática de determinado delito. Assim acontece com certos empregados
domésticos que, em virtude da própria facilidade que encontram e possuindo tendência
para tal, passam a cometer pequenos furtos domésticos, prática que pode, com o
tempo, adquirir aspectos de maior gravidade. É comum, por exemplo, a doméstica
conluiar-se com um elemento de fora (quase sempre um namorado) e oferecer-lhe a
chave da residência para que ele, isoladamente ou com parceiros, subtraia os objetos de
valor ali existentes.

Empregados de prostíbulos, bordéis, boates, casas de jogos, etc., costumam ser


traficantes de drogas.

Médicos e dentistas envolvem-se, às vezes, em estupros e outros abusos sexuais.


Advogados podem cometer fraudes ou apropriações indébitas. Não é incomum que
Engenheiros e construtores pratiquem fraudes consistentes na qualidade inferior do
material empregado. Gerentes de bancos podem cometer desvios de dinheiro e
empréstimos com vantagenspessoais. Comerciantes podem incorrer em crimes contra a
economia popular. Os professores, não raro, cometem abusos sexuais contra alunas.

Guerra

A guerra, por si mesma, exerce uma grande influência no crescimento da criminalidade.


Os jovens são subitamente arrancados de uma vida normal e atirados aos horrores da
belicosidade, participando de manobras e combates destruidores e sangrentos. Inclusive
os valores morais adquirem feições diferentes: se na paz matar é crime, na guerra é ato
de heroísmo.

Na guerra, ensina-se aos jovens o manejo de armas de fogo e a utilização de engenhos


de destruição, em circunstâncias antes por eles desconhecidas. É incontestável que isso
vai ter influência nas suas condutas futuras.

Finda a guerra e desmobilizada a tropa, exige-se dessa juventude que rapidamente


retorne suas atividades normais da época de paz. Sucede, contudo, que as
desagradáveis experiências por que esses jovens deixam-lhes, não raro, cicatrizes
cruentas, capazes de acionarem instintos primitivos de agressividade e, daí ao crime, a
distância é curta. Sem contar nas seqüelas que geralmente acarretam, ao plano orgânico
e psíquico, perturbações e neuropsicoses e todo o seu caudal de conseqüências
funestas, com prováveis tendências à delituosidade.

Industrialização
O excesso da industrialização num país, via de regra eleva a criminalidade, e a razão
principal disso parece residir na aglomeração forçada de elementos de condições
pessoais diferentes, principalmente se encarados sob os prismas racial, educacional e
econômico.

Nas regiões industrializadas sempre existem indivíduos que, não reunindo condições de
emprego por não integrarem o contingente de mão de obra especializada, ou por não
possuírem condições intrínsecas de adaptação às novas exigências do progresso do
sistema de produção, passam a viver à margem do industrialismo mais sofisticado e,
não encontrando uma ocupação, tendem a engrossar as fileiras do crime.

Urbanização e Densidade Demográfica

Estudos feitos em diversos países a respeito de taxas criminais por áreas geográficas e o


tamanho e a densidade demográfica das cidades, têm revelado uma correlação positiva
entre o índice de criminalidade per capita e a população, principalmente para os delitos
patrimoniais. A significância da incidências de delitos dessa natureza em áreas
concentradoras de população possibilita a definição de uma categoria, chamada de
“criminalidade urbana”, composta por tipos de delitos que se apresentem como
fenômenos sociológicos que trazem em si especificidades necessárias e exclusivamente
urbanas.

Evidências mais ou menos definidas, atribuem essa relação “crime-urbanização-


densidade demográfica”, nas áreas urbanas, à concentração de riqueza nas mãos de
alguns e à pobreza e miséria de muitos ou da grande maioria.

Estatísticas criminais revelam que a grande maioria dos crimes são economicamente
motivados pela “aquisição” de algum bem, dinheiro ou algo nele conversível. Em razão
disso, em todas as cidades com grandes índices de criminalidade, os delitos contra o
patrimônio ocupam a cifra de mais de 50% do total de todos os delitos.

Por outro lado, tem-se verificado que nos crimes contra o patrimônio localiza-se não só
a forma mais acentuada de criminalidade, mas também de violência, fundamentalmente
quando observados os comportamentos do furto qualificado, do roubo, do latrocínio,
da extorsão mediante seqüestro, do cárcere privado, etc.

O estudo do crime correlacionado aos aspectos econômicos, mostra que sua tendência
de crescimento é maior quanto maior for o número de desempregados nas grandes
cidades. Quanto mais fermento (pobreza), maior o tamanho do bolo (criminalidade),
resultado de “fermentação social da criminalidade”.
A violência urbana pode ser vista como uma atividade de pequeno risco, principalmente
se o infrator é membro de uma quadrilha bem organizada, como sói acontecer com
“gangs” de seqüestradores, assaltos a bancos, de tráfico internacional de drogas, etc.,
que apenas vez ou outra são alcançados pela repressão.

Migração e Imigração

Migração: quando o deslocamento humano é um local para outro local, dentro do


mesmo país.
Imigração: quando o deslocamento humano é de um país para outro.

A migração e imigração sempre trazem conseqüências para o convívio social, não só


para os que chegam, mas também para aqueles já sediados no lugar eleito pelos
emigrados.
É previsível que esse novo convívio social pode suscitar situações de conflitos
individuais e até coletivos, permitindo, desde logo, o surgimento de condições que
podem ensejar o fenômeno social do crime.
Atente-se, aliás, para a existência de “gangs” internacionais, que atuam despontando a
máfia.
Sabe-se que determinados estados e regiões, por relacionados ao clima, ao solo, à falta
de industrialização e, conseqüente a tudo isso, a ausência de um mercado regular de
trabalho, obriga um enorme contingente de brasileiros a migrarem para os centros mais
adiantados e desenvolvidos (São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, etc) em busca de
melhores condições de vida e de trabalho.
Ocorre, porém, que quando não encontram trabalho nas grandes cidades (geralmente
são famílias com muitos filhos), acontece, também, com uma incidência apreciável,
começarem a viver de expedientes. Os filhos do sexo masculino, ainda na infância,
passam a limpar pára-brisas de automóvel, para ganhar uns “trocados”, ao depois,
vendendo flores, balas, doces, frutas na rua e, de repente, são lançados ao mundo do
crime com o cometimento, de início, de pequenos furtos, e daí até o roubo, culminando
com o latrocínio, é uma questão de tempo. As meninas partem para as concessões
sexuais, ou seja, caem na prostituição.

Política

A organização política dos países, sem sombra de dúvida, exerce grande influência
sobre a vida dos componentes dos diversos grupos sociais que neles estão inseridos e,
conseqüentemente, isso terá reflexos no fenômeno criminal

A forma de governo, democrático, totalitário, etc..., determina tipos de comportamentos


diferentes do povo, e a criminalidade, igualmente, tende a ter tipos diferenciados, na
proporção exata em que o povo goze de maior ou menor liberdade. Assim, nos regimes
totalitários, além dos crimes comuns praticados, outros tendem a acontecer, como atos
de terrorismo, seqüestros políticos, homicídios contra políticos, etc. Esses são os delitos
que os integrantes do povo praticam contra opressores, os ditadores. Mas, também, os
donos do poder totalitário costumam praticar crimes contra o povo oprimido, que via
de regra, são os de tortura, para obter as informações que lhes interessam; de
execuções sumárias, mandando matar, simplesmente, os que insurgem contra o poder;
prisões arbitrárias com torturas, que podem acabar em homicídios oficiais; atentados
contra autoridades, que culminam em mortes, etc. Os integrantes dos altos escalões do
governo acumulam fortunas, que não podem explicar pela honradez e, ainda assim, não
são pegos pelas malhas da lei. Aliás, a corrupção governamental não é fato moderno, já
apontava Aristóteles em seu tempo. Se a lei não é aplicada e permanece como letra
morta, que temor pode inspirar no cidadão? Se os culpados maiores não são
responsabilizados, de nada adianta a ira popular desorganizada e a indignação existente
no fundo do coração dos cidadãos honrados. Tudo isso pode resultar em outros delitos,
resultantes do relaxamento da vida moral, com a conseqüente estimulação de instintos
criminosos, vindo, então, a ocorrer as falsificações, os furtos, as apropriações, os roubos,
as falências fraudulentas, os estelionatos, etc.

Ademais, as paixões políticas fomentam as injúrias, as difamações, as calúnias, chegando


certos indivíduos a viver desse “ofício”, enlameando a honra de qualquer cidadão que
ocupa alguma posição elevada nas atividades públicas.

11º Módulo: Causas Institucionais de Criminalidade

Polícia
A Polícia é um órgão vitalmente necessário à manutenção da ordem, à obediência às
leis, à segurança civil, à permanência do Estado. Sua tarefa mais relevante é a prevenção
do crime, sua característica deve ser a vigilância constante. Todavia, pode a Polícia,
através de maus elementos que venham integrar seus quadros, favorecer a prática de
crime, por via de ações delituosas individuais e até coletivas de seus membros (abuso
de poder, violência arbitrária, condescendência criminosa, corrupção passiva, peculato,
concussão, etc). A Polícia até pode pactuar com o crime (acobertando criminosos ou
operando junto com eles; participando dos lucros da jogatina proibida; protegendo e
cobrando “taxas” de motéis, hotéis, casas de massagem e locais onde se explora a
prostituição; conluiando-se com narcotraficantes e seqüestradores e deles auferindo
numerários etc.).}

Justiça
Afigura-se verdadeiro paradoxo supor que a Justiça pode favorecer o crime. Nada mais
certo, entretanto, e pelas seguintes razões: os ricos podem contratar qualquer
advogado; a demora no julgamento importa num contato maior, dentro da prisão, de
criminosos e não–criminosos, por vezes resultando na perversão destes; os delinqüentes
recebem tratamento diferenciado por força de suas posses e a prisão, inclusive, parece
não comportar infratores de terno, colarinho e gravata.

A Justiça, não sendo urgente, deixa de ser justa, pois posterga direitos e procrastina
obrigações. A Justiça deve ater-se, sempre, ao império da lei e da ordem constitucional
vigente, ou seja, à Constituição.

Infelizmente, em alguns países, a estrutura do judiciário é, inquestionavelmente, arcaica,


ensejando, por via de conseqüência, a que não se tenha uma justiça efetivamente
eficiente, até porque essa eficiência talvez não corresponda aos desejos dos estamentos
sociais mais privilegiados e por isso, muitas vezes, ela deixa de atender os mais lídimos
interesses das camadas sociais menos favorecidas, quando não passa ao largo de
direitos individuais, que de forma alguma, poderiam ser postergados ou procrastinados,
sendo, neste último caso, uma Justiça injusta, porque não se faz urgente.

O Judiciário perde a sua legitimidade, pois deixa de cumprir a vontade do povo, do qual
emana todo o poder, inviabilizando, assim, o bem estar social. Vale mencionar, também,
a existência de leis que absolutamente não são cumpridas, que representam “letra
morta”, que parecem inexistirem. Trata-se de “anomia” encontrada em zonas periféricas
e não-periféricas de cidades com São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, onde armas
são portadas irregularmente e mercadorias contrabandeadas são adquiridas em
estabelecimentos com registro comercial. O mesmo se diga, relativamente, à exploração
desenfreada de jogos de azar (corridas de cavalos, jogo do bicho, loterias esportivas,
bingos beneficentes, etc.) e aos anúncios, dissimulados ou não, favorecedores da
prostituição, inseridos em jornais de larga circulação.

Prisão

A forma de cumprimento da pena na maioria das prisões, dadas as particularidades que


as cercam, não contribuem, de maneira alguma, para a reeducação ou recuperação do
preso. Apenas servem para que novos crimes sejam ali aprendidos, planejados para o
futuro e arquitetados. A cadeia, então, ao invés de instrumento de custódia para
recuperação de presos, passa a ser verdadeira escola de graduação e, não raro, pós-
graduação, para o cometimento de toda espécie de delituosidade.

Inúmeras prisões, na quase totalidade dos estados brasileiros, estão, por assim dizes,
formando mestres e doutores em crimes.
Todos os governantes até aqui passados sabem que o sistema prisional brasileiro está
em falência absoluta, mas pouco ou nada fazem para solucionar o problema. Milhares
de mandados de prisão não são cumpridos por falta de ter onde colocar aqueles contra
quem pesam esses mandados.

A conclusão a que se chega é de lógica irretorquível: esse tipo de clausura funciona


como fator de reincidência criminal, contribuindo vigorosamente para o aumento da
criminalidade.

Raça

Estatísticas realizadas nos Estados Unidos, comparando a criminalidade entre as raças


negra e branca, dão como resultado um delinqüencial bastante alarmante em relação
aos negros, apresentados como muito mais criminosos que os brancos. Assim, com
referência a delitos violentos, a proporção é de 7 negros por 1 branco; no alusivo aos
crimes contra a propriedade, a proporção é de 3 ou 4 por 1; já com relação à fraude e
falsificações, as cifras entre eles se equivalem; no que se refere a crimes sexuais, a
proporção é de 3 negros por 1 branco.

Não seria o caso de se relacionar esse quadro estatístico com os aspectos da


discriminação, preconceito racial sofrido pelo negro, e também com as condições
econômicas e sociais vividas por ele? Certamente que sim.
A causa da existência de um maior número de criminosos negros deve ser procurada na
sua miséria, na falta de educação e no tratamento, geralmente violento, que lhes
dispensa a Polícia.
No Brasil, onde crimes praticados por negros e mulatos são bem maiores do que os
imputados aos brancos, provavelmente também não é pelo problema racial e, sim, pelas
mesmas razões apontadas com relação aos negros nos Estados Unidos.
E quem é tão cego a ponto de não enxergar, que os negros e mulatos brasileiros vivem
em condições econômicas, sociais e de educação, acentuadamente inferiores aos
brancos.

Sexo

De qualquer levantamento que se faça em todos os presídios do mundo, uma verdade


aflorará inconteste: o homem seguramente pratica muito mais crimes que a mulher e a
diferença entre a criminalidade masculina e feminina é assustadora e significativamente
bastante grande. Deve-se enxergar nesse fato maior tendência do homem para o crime,
ou tudo não passa, como diz Edwin Sutherland, do resultado de uma diferença na
natureza do trabalho de um e do outro ou das condições diversas, de um modo geral,
nos hábitos e métodos da vida de ambos?
O modo de agir e sentir difere muito entre o homem e a mulher, devendo-se creditar a
esta, inclusive, uma característica maior de nobreza de sentimentos; a mulher tem um
sentimento de honradez muito mais acentuado que o homem.
No que refere ao cometimento das infrações penais, também existem diferenças entre o
homem e a mulher. Ao elemento feminino, como que repugna a prática de certos
crimes: assalto a mão armada, por exemplo. O mesmo já não se nota relativamente ao
furto em supermercados, casas de moda, etc..., que contam com a preferência feminina.

Existem delitos exclusivamente masculinos (no Brasil, por exemplo, o estupro, o


atentado violento ao pudor, a posse sexual mediante fraude, etc.). Existem outros delitos
que quase sempre são cometidos por homens (assaltos à mão armada, latrocínios,
seqüestros, etc.). Por outro lado, há delitos que são praticados exclusivamente por
mulheres (infanticídios, abortos); outros cometidosmais pelas mulheres do que pelos
homens (os furtos com abuso de confiança, a prostituição, etc.). E finalmente, há crimes
para cuja prática nenhum significado maior tem o sexo, ou seja, a maioria dos delitos,
ressalvando-se, porém, que aqueles em que se emprega a violência e a força física são
mais comuns aos homens, sem sombra de dúvida (homicídios, roubos, prática de
torturas, etc.).

Dizem, algumas estatísticas, que a proporção existente entre delitos cometidos por
homens e mulheres é de 6 para os primeiros contra 1 para as segundas. Observando-se,
ainda, que a proporção da criminalidade feminina aumenta à medida que aumenta a
participação da mulher na vida social, política e econômica do país em que vive.

Idade

O crime varia de acordo com a idade e nada é mais natural. Assinalam, alguns autores,
que delitos de determinadas naturezas são praticados em certas faixas etárias, por
exemplo, entre 21 e 24 anos seriam mais comuns os delitos de homicídio e a prática da
prostituição e da vadiagem. Segundo Sutherland, a idade máxima da criminalidade está
no período jovem da vida, apresentando um decréscimo a começar dos 30 anos. Entre
homens com mais de 70 anos é grande a média de crimes sexuais. Seja um menino, um
adulto de 25 anos ou um homem de 100 anos, há que se ter em conta o meio em que
vive.

Drapkin observou que entre 18 e 25 anos para os homens, e 30 a 40 anos para as


mulheres, são os índices de criminalidade mais acentuados.

Pesquisas recentes feitas no Brasil, mais especificamente em São Paulo, em Distritos


Policiais da capital, mostram que o tráfico de drogas, os roubos e os furtos são
praticados por jovens. A maior parte dos crimes contra o patrimônio e de tráfico de
drogas são praticados por homens entre 16 e 25 anos. A conclusão faz parte da
pesquisa sobre a política estadual para a segurança pública, coordenada pela socióloga
Célia Soibelmann Melhem, da Unicamp. Ainda, segundo a pesquisa, 60,98% dos
criminosos nasceram no Estado de São Paulo; Minas gerais, Bahia, Pernambuco, Paraná
e Ceará vêm a seguir, com 22,49% juntos.

A socióloga conclui que a maioria dos delinqüentes incluídos na pesquisa é pobre, de


baixa escolaridade e com saúde precária. Os delitos contra a propriedade ocorrem com
mais freqüência entre os 16 e 20 anos. Os crimes passionais têm sua freqüência maior
entre 30 e 40 anos. Os crimes sexuais costumam acontecer antes dos 25 anos ou depois
dos 45 anos.

Meios de Comunicação: Contágio moral

É incontestável que os meios de comunicação de massa, preferencialmente os jornais e


a televisão, projetando exaustiva e abusivamente notícias, imagens e filmes relativos á
violência e aos crimes, quando não ensinam ou aprimoram delinqüentes, induzem
muitas pessoas á desvios de conduta cujo climas é a prática delituosa, isto para a
satisfação imediata de seus instintos ou interesses ou mesmo por simples anseio
imitativo.

Todos os dias os noticiários de jornais, rádio, televisão ou as representações


cinematográficas ou teatrais estão levando inúmeras pessoas á imitação. É o suicídio por
amor, o seqüestro para auferir alto lucro, etc. A imprensa noticia certos crimes com
riqueza de detalhes, impressionando, assim, o público que assiste ou lê e isso influencia
as pessoas. Quantas mortes violentas, estupros, relações sexuais implícitas ou explícitas,
palavrões, cenas torpes e noticiários detalhados sobre seqüestros (quase elevando os
seqüestradores á categoria de heróis), assaltos á bancos (com o “modus operandi” dos
delinqüentes detalhadamente explicado), todas as sutilezas dos adultérios
minuciosamente relatados...a televisão divulga como se tais fatos não chocassem o
comum das pessoas, e não tivessem, em seu bojo, um alto componente associal, capaz,
por imitação, de estimular nos mais fracos o cometimento de atos idênticos ou
assemelhados. Essa imitação (ou mimetismo) chama-se “contágio moral”.

Criminosos por contágio moral não só se deixam conduzir pelos outros, como são
levados por eles para a criminalidade. São uma espécie de papel carbono.

Na Inglaterra, em 1888, os 5 bárbaros homicídios perpetrados no bairro londrino de


Wintechapel, por Jack, o “Estripador”, ganharam tamanha notoriedade que, longe de se
desfazerem nas brumas do esquecimento, até hoje suscitam um número impressionante
de artigos, livros e filmes!
Na verdade, a notícia sensacionalista sobre um crime não raro deflagra o cometimento
de outros da mesma natureza.

As maiores vítimas da mídia são, sem sombra de dúvidas, as crianças e, sobretudo, os


adolescentes, os quais costumam sempre imitar os grandes vilões criminosos dos filmes
e novelas. Os filmes de TV, por exemplo, visualizam como “heróicas” as ações violentas
dos vilões e dos “gangsters”. Crianças, após assistirem filmes de “gangsters”, passam a
imita-los, porque estes aparecem, quase sempre, nas histórias, como protetores do
povo. O delito passa a ser visto, então, como um fenômeno comum, praticamente
norma!

Inúmeros programas de TV fazem apologia á violência, ao crime, ao criminoso e ao sexo


explícito, em horários acessíveis ás crianças e adolescentes.

Igualmente as revistas e os jornais também passam a veicular noticiários e registros


fotográficos deletérios, não se lhes retirando, por isso, uma condição de influenciar
negativamente as pessoas, chegando mesmo, como acontece com alguns jornais, a
servirem de intermediários á prostituição. E não se diga que o nu que se estampa nas
capas de revistas é nu artístico!.

Jogo

Quando não se reveste de ilicitude penal, por ser proibido, o que o definiria como vício
criminoso, pode ser considerado como fator de criminalidade (cheques sem fundo,
agressões e até homicídios são cometidos em virtude do jogo).

Religião

Há que se evitar o perigo representado pela crença, por vezes extremamente absurda,
sobre o que o vulgo denomina de “misericórdia divina”. São religiões, seitas ou
doutrinas, umas que levam, pelo fanatismo, seus adeptos ao suicídio; outras se prestam
á que determinados religiosos pratiquem todas as espécies de violações sexuais contra
mulheres incautas e culturalmente despreparadas, como acontece em certos rincões do
Brasil e possivelmente de outros países subdesenvolvidos.

Prostituição

Certas mulheres, num verdadeiro paroxismo de devassidão, prodigalizam seus favores


sexuais á vários homens e inclusive, de uma só vez.
O comércio sexual, seja qual for a razão que o determine, geralmente não é punível.
Não obstante, independentemente dos aspectos histórico-social e sanitário-moral, a
prostituição merece particular interesse por parte da Psicologia Criminal.

Na obra “La donna delinquente, la donna prostituta e la donna normale”, elaborada em


conjunto com seu genro Ferrero, Lombroso descreve a prostituta como uma pessoa
mentalmente débil e com um acumulado de contradições. Ressalta Lombroso que “a
razão última do comércio da prostituição é o idiotismo moral”.

Segundo Lombroso, existem determinadas mulheres que já nascem com a tendência á


prostituição: seriam as “prostitutas natas”, tal qual existem os “criminosos natos”. Ao
lado dessas “prostitutas natas”, desponta o grupo das “prostitutas de ocasião”, ou seja,
aquelas que partem á prostituição por condições socioeconômicas. Segundo pesquisa
realizada por criminólogos, o fator econômico é o que mais influencia a prostituição, já
que as causas psico-orgânicas (biológicas) representariam apenas 10% a 15%.

A pobreza geral, a promiscuidade das habitações como as favelas, as moradias coletivas


(cortiços e pensões), a falta de educação profissional e de trabalho honesto e
contraprestado com dignidade, os lares desfeitos ou viciosos, o alcoolismo paterno
principalmente, a ausência de amparo material e afetivo á infância, tudo isso, que no
fundo, representa a mi´seria material e moral, constitui causa vigorosa da prostituição.

No Brasil, por exemplo, são numerosíssimas as vítimas de estupro, atentado violento ao


pudor, corrupção de menores etc., que, abandonadas por seus violadores e
desamparadas pela família e pelo Estado, procuram o caminho fácil da prostituição.

Modernamente, a exploração do lenocínio é promovida por motéis, hotéis de alta


rotatividade e por agencias especializadas, onde o freguês escolhe a mulher através de
álbuns de fotografias.

Microcriminalidade e Macrocriminalidade

Microcriminalidade: é representada por atos anti-sociais episódicos indicativos da


criminalidade em pequena escala. Diz respeito aos delitos correntios, violentos ou não,
que, isoladamente, em todas as camadas sociais, acontecem de dia e de noite, durante
todas as horas (latrocínio, homicídio, furto, roubo, estupro, lesão corporal, ameaça,
estelionato, calúnia, etc.). Constitui a soma dos delitos individuais. O microcriminoso é
encarado como um indivíduo á parte, um marginal da vida societária.

Macrocriminalidade: é a delinqüência em bloco conexo e compacto, incluída no


contexto social de modo pouco transparente (crime organizado) ou sob a rotulagem
econômica ilícita (crime de colarinho branco). Alicerçada na certeza ou quase certeza da
impunidade, a macrocriminalidade visa exclusivamente o lucro. Via de regra, o
macrocriminoso lucra e fica impune. São dois, portanto, os fatores da
macrocriminalidade: o lucro e a impunidade.

A macrocriminalidade compreende, a rigor, 2 espécies: - Crime de Colarinho Branco


(White Collar Crime) - Crime Organizado

Crime de Colarinho Branco: É a violação da lei penal por pessoas de elevado padrão
socioeconômico, no exercício abusivo de uma profissão ilícita. É a delinqüência
econômica. É o crime daqueles indivíduos de alto ou significativo status
socioeconômico, que tranqüilamente ignoram as leis para aumentar os lucros de suas
atividades ocupacionais, principalmente aquelas relativas ao gerenciamento de negócios
e empresas.

Nesta espécie de crime a violência praticamente inexiste, pois que seus promovedores
atingem os propósitos colimados através da astúcia e da fraude. Respaldando
fundamentalmente em seu poderio econômico, o criminoso de colarinho branco
desfruta de ampla impunidade, de respeitabilidade social e até de intangibilidade!

O Conselho da Europa, órgão colaborados do Conselho Econômico e Social da ONU,


divulgou um elenco dos considerados delitos econômicos, a saber: formação de cartéis;
abuso de poder econômico das multinacionais; obtenção fraudulenta de fundo do
Estado; criação de sociedades fictícias; fraudes em prejuízo dos credores; falsificação de
balanços; fraudes sobre o capital de sociedades; concorrência desleal e publicidade
enganosa; infrações alfandegárias; infrações cambiárias; infrações da bolsa etc.

No Brasil, intenta-se, diga-se assim, combater o “crime de colarinho branco” com a Lei
7.492, de 16 de junho de 1986, coadjuvada pela Lei 8.884, de 11 de novembro de 1994.
a Lei 7.492/86 ironicamente é epitetada por muitos de “Lei de Regência”. A Lei 8.884/94
é a chamada “Lei Antitruste” que, alterando dispositivos do Código Penal Brasileiro,
possibilita a prisão preventiva com garantia de “ordem econômica”.

No Brasil, exemplo perfeito de delito de “colarinho branco” foi aquele emaranhado


criminoso que suscitou, há poucos anos, no Congresso Nacional, a cognominada “CPI
dos Anões do Orçamento”, sobre grandes desvios na peça orçamentária. Mais
recentemente, tivemos vários exemplos, como o “Escândalo do Mensalão””, e
atualmente, temos tidos diversas operações, como “Operação Navalha”, “Operação
Furacão”, Operação Anaconda”, e tantas outras, clássicas sobre corrupção e desvios de
verbas públicas.
Crime Organizado: O crime organizado surgiu na região italiana de Sicília, com a
denominação “Máfia” ou La Cosa Nostra, de lá vindo aportar nos E.U.A através da
imigração, na segunda metade do século XIX e início do século XX. Nos EUA a máfia
também é conhecida por “Sindicato do Crime” e por “Organização”. É certo, porém, que
os mafiosos italianos e norte americanosintegram grupos de uma organização criminosa
coesa, uniforme e com objetivos bem definidos.

Inquestionável, por outro lado, que hoje a atuação do crime organizado é praticamente
universal. A máfia tende a crescer ainda mais, e assim também aquelas organizações
menores, algumas das quais lhe são aparentadas como a “Camorra” de Nápoles, a
“Sacra Corono Unita” de Púglia e a “N’drangueta” da Calábria. E igualmente se
expandem as Tríades Chinesas e a Yakuza japonesa.

A máfia japonesa tem como principal fonte de renda o tráfico de drogas, a exploração
da prostituição, a venda de armas, a extorsão através de “taxas de proteção”, os jogos e
as apostas, etc.

É sabido que em outros países operam associações criminosas nos moldes da máfia,
embora em proporções menores. É o que acontece na França, Inglaterra, Alemanha,
Turquia, Peru, Bolívia, Paraguai, Colômbia, Brasil, etc.

Na Colômbia, aliás, impressiona por sua força e influencia política o chamado Cartel de
Medelin, chefiado até fins de novembro de 1993 por Pablo Escobar Gaviria e que
chegou a responder por 75% do comércio mundial de cocaína, obtendo uma fortuna
calculada em US$ 3 bilhões!

Não obstante, em pleno século XXI, os cartéis de cocaína da Colômbia, agora com
dezenas de chefes e centenas de subchefes.

Vitimologia

Desde a Escola Clássica, impulsionada por Beccaria, passando pela Escola Positiva de
Lombroso, Ferri e Garófalo, o Direito Penal praticamente teve como meta a tríade
delito-delinquente pena.O outro componente do contexto criminal, a vítima, jamais foi
levado em consideração. Isto apenas passou a ocorrer quando outras ciências, e
principalmente a Criminologia, tiveram que vir em auxílio do Direito Penal para a análise
aprofundada do crime, do criminoso e da pena.

As primeiras manifestações formais sobre a vítima, sua tragédia e a desdita de seus


dependentes ou familiares, foram levantadas por Etiene de Greef e Wilhelm Saver.
Todavia, somente a partir de 1956, com o advogado de origem israelita Benjamin
Mendelsohn dando forma definitiva ás suas idéias e estudos antes publicados sobre a
vítima, é que a Vitimologia aflorou com essa denominação e com contexto de disciplina
criminológica.

Em síntese, a Vitimologia busca indicar o posicionamento biopsicossocial da vítima


diante do drama criminal, fazendo-o, inclusive, sob os ângulos do Direito Penal, da
Psicologia e da Psiquiatria.

Benjamin Mendelsohn situa a Vitimologia como uma ciência que ele entende distinta da
Criminologia. Outros criminalistas, porém, negam que a Vitimologia seja mesmo uma
ciência. Contudo, irrelevante que a Vitimologia seja, ou não, uma ciência. Na realidade,
ela desponta como um dos ramos da Criminologia, ramo que, sob a filtragem do Direito
Penal e da Psiquiatria, tem por escopo a observação biológica, psicológica e social da
vítima em face do fenômeno criminal.

Assim, Vitimologia é a ciência que procura estudar a personalidade da vítima sob os


pontos de vista psicológico e sociológico na busca do diagnóstico e da terapêutica do
crime e da proteção individual e geral da vítima.

Atualmente, a relevância da Vitimologia também dimana da realidade da participação


da vítima na gênese de muitos crimes. É imperativo que a ligação entre delinqüente e
vítima seja objeto de análise. O grau de inocência da vítima em cotejo com o grau de
culpa do criminoso propõe precisamente os aspectos que têm sido negligenciados e
que podem contribuir para o entendimento de numerosas ocorrências delinquenciais.

No contexto delituoso a vítima pode ser inteiramente passiva ou, ao contrário, pode ser
ativa e concorrente. Crimes há, em sua gênese, onde não se vislumbra nem ação nem
omissão da vítima, como o aborto consensual, por exemplo. O caso, é o nascituro quem
se transforma em vítima. Aausência da pessoa a ser vitimada também será suficiente
estímulo para que ocorra furto ou furto qualificado em sua residência. Da mesma forma,
poderá servir de estímulo á prática de roubo e até de latrocínio, o fato da pessoa se
expor em locais inidôneos ou suspeitos exibindo dinheiro, jóias ou valores. De
mencionar, ainda, certas modalidades de estelionato nos quais a participação da vítima
é fator primordial para o desenlace anti-social, eis que, nessas infrações, ao contrário de
estar em oposição, a vítima está psicologicamente solidária com o delinqüente.
Incontáveis, ademais, os episódios criminais em que a vítima é a causa eficiente do
delito que, sem ela, sem a sua ocorrência ativa, jamais teria ocorrido. É o que ocorre em
muitos crimes sexuais, como, por exemplo, o estupro, pois não são raros os caso em
que, em última análise, a maior vítima dos crimes sexuais é o acusado e não a “pobre e
infeliz” ofendida.
As Vítimas Autênticas

Como há criminosos que são recidivantes, é positivamente certa a existência de vítimas


latentes,isto é, de pessoas que padecem de um impulso fatalístico para serem vítimas
dos mesmos crimes, para reincidirem e se vitimarem em idênticos eventos lesivos.
Seriam verdadeiras vítimas natas! EX: vigias de baços e supermercados, médicos, que no
exercício da profissão estão a todo tempo sujeitos a uma grande variedade de
imputações e denunciações, os policiais, sempre á beira de riscos iminentes, etc.

Tipos de Vítimas e sua Classificação

Mendelsohn sintetiza 3 grupos de vítimas, a saber:

a) vítima inocente, que não concorreu a qualquer título para o evento criminoso;
b) vítima provocadora que, voluntária ou imprudentemente, colabora com os fins
pretendidos pelo delinqüente;
c) vítima agressora, simuladora ou imaginária, que não passa de suposta vítima (ou
pseudovítima) e, por isso, propicia a justificativa de legítima defesa de seu “atacante”.

Compensação á Vítima do Dano Decorrente do Delito

O regramento jurídico penal brasileiro não estabelece a reparação dos danos sofridos
pela vítima. Enquanto se tem batalhado por uma ampla “humanização da pena”, nada
se faz, entre nós, no sentido da “humanização das vítimas dos delitos”, até agora
inteiramente esquecidas, não obstante no 1º Congresso Internacional de Vitimologia,
realizado em Jerusalém, tenha sido recomendado que as nações criem um instrumento
oficial de compensação ás vítimas do crime, independentemente de possível reparação
material por conta do próprio criminoso, na área cível.

O atual Código Penal Brasileiro, de 1940, praticamente silencia no que concerne á


pessoa da vítima, preceituando, no seu art. 42, que “compete ao juiz, atendendo aos
antecedentes e á personalidade do agente, á intenção do dolo ou grau de culpa, aos
motivos, ás circunstancias e conseqüências do crime”:

I – determinar a pena aplicável, dentre as cominadas alternativamente;


II – fixar, dentro dos limites legais, a quantidade da pena aplicável;

A rigor, nada além disso!. Enfim, a respeito da reparação, presentemente vige um


princípio resultante de normas codificadoras do Direito Civil, do Direito Processual Civil
e mesmo do Direito Processual Penal, pois que, em princípio, a obrigação de reparar o
dano também decorre da condenação criminal, mas haverá que ser demandada no juízo
cível. A condenação penal é, assim, um fato jurídico que traz imanente a obrigação de
indenizar.

12° Módulo: Bibliografia/Links Recomendados

Introdução Crítica ao Direito Penal – Nilo Batista


Direito Penal Brasileiro – Nilo Batista e Eugênio Raul Zaffaroni
Mídia e Sistema Penal no Capitalismo Tardio – Nilo Batista
Penas Perdidas – Louk Hulsman
Em Busca das Penas Perdidas – Eugênio Raul Zaffaroni
O Inimigo do Direito Penal – Eugênio Raul Zaffaroni
Criminologia – Eugênio Raul Zaffaroni
Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal – Alessandro Baratta
Difíceis Ganhos Fáceis – Vera Malagui Medo na Cidade do Rio de Janeiro
– Vera Malaguti Vigiar e Punir
– Michel Foucault Microfísica do Poder
– Michel Foucault ( Capítulo III – Sobre a JustiçaPopular) Punição e Estrutura Social
– Georg Rusche e Otto Kirchheimer Punir os Pobres
– Loïc Wacquant Cárcere e Fábrica
– Dario Melossi e Massimo Pavarini A América Latina e Sua Criminologia
– Rosa Del Olmo O Olho da Barbárie
– Marildo Menegat Homo Saccer
– Giorgio Aganbem Estado de Exceção
– Giorgio Aganbem Zygmund Bauman
– O Mau-Estar da Pós Modernidade

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